• Nenhum resultado encontrado

Ana Carolina Rocha Vaz

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "Ana Carolina Rocha Vaz"

Copied!
86
0
0

Texto

(1)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Ana Carolina Rocha Vaz

O celular e os novos modos de socialização

MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DIGITAL

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Ana Carolina Rocha Vaz

O celular e os novos modos de socialização

MESTRADO EM TECNOLOGIAS DA INTELIGÊNCIA E DESIGN DIGITAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação do Professor Doutor Nelson Brissac Peixoto.

(3)

Banca Examinadora

_____________________________________

_____________________________________

(4)

AGRADECIMENTOS

Meus pais, Paulo e Esther, por terem me dado a base material e espiritual para que eu pudesse me desenvolver.

Meu marido, Fábio, que me indicou o curso e sempre me incentiva a melhorar. Ao professor Nelson Brissac, por sua generosidade e pelo apoio ao meu trabalho desde o início.

(5)

VAZ, Ana Carolina Rocha. O celular e os novos modos de socialização. 2010. xx p. Dissertação (Mestrado em Tecnologias da Inteligência e Design Digital) - Pontifícia Universidade de São Paulo – PUC-SP.

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apontar e analisar os impactos do uso do

telefone celular na vida em sociedade. Observou-se que o uso desse aparelho pode fortalecer relacionamentos através da troca de informações entre os usuários por meio de fotos, vídeos, mensagens de texto e chamadas de voz. O celular mostrou ser o elemento central da computação ubíqua e o que o diferencia dos outros dispositivos móveis é o fato de poder reunir uma série de recursos dentro de um equipamento superportátil.

O telefone móvel é uma ferramenta eficiente para a coordenação de atividades e a possibilidade de reagendamento de compromissos em tempo real, nos intervalos entre uma atividade e outra, pode transformar a experiência do tempo, segundo estudiosos da área. A inserção de sistemas de localização nesse dispositivo permitiu novas formas de apropriação do espaço físico, sobretudo nos centros urbanos.

As conseqüências de se estar acessível o tempo todo, de qualquer lugar, também foram discutidas. Há dois movimentos ocorrendo em sentidos opostos: ao mesmo tempo em que temos ao nosso alcance nossa rede de contatos, também ficamos vulneráveis para quem quiser nos encontrar.

Essa pesquisa é resultado da leitura do trabalho de autores que analisam as mudanças sociais que ocorreram com o avanço no desenvolvimento das tecnologias da inteligência, como Pierre Levy e Manuel Castells. A questão do impacto do uso do telefone celular foi discutida a partir de pesquisas de Lucia Santaella, André Lemos, Adriana Souza e Silva, Richard Ling e Howard Rheingold.

(6)

ABSTRACT

The aim of this project is to identify and analyze the impacts of mobile

telephone use in society. It was observed that use of this device can strengthen relationships through the exchange of information between users by means of photos, videos, text messages and phone calls.

The mobile phone has proven to be a key element in ubiquitous computing and what differentiates it from other mobile devices is the fact that it can combine a number of features in one super-portable piece of equipment.

Mobile phones are an efficient tool for coordinating activities. The possibility of rescheduling commitments in real-time, during breaks between one activity and another, can transform the experience of time according to researchers. The addition of localization systems to this device allowed new methods of

appropriating physical space, especially in urban centers.

The consequences of being available any time, any place, were also discussed. There are two movements going in opposite direction: although we have our entire social network available, at the same time, we become more vulnerable to those who wish to find us.

This study is the result of reading the work of authors who analyzed the social changes occurring due to the advances in the development of smart

technologies such as Pierre Levy and Manuel Castells. The issue of the impact caused by the use of mobile phones was discussed based on the research by Lucia Santaella, André Lemos, Adriana Souza e Silva, Richard Ling and Howard Rheingold.

(7)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – iPhone: o primeiro celular com tela sensível ao toque 13

Figura 2 – Tela do Whereabouts Clock 32

Figura 3 – Protótipo da Wearable Key 33

Figura 4 – Tela de simulação do Mscape 36

Figura 5 – Tela do projeto MARA 39

Figura 6 – Locast: mapa de Veneza e as tags de informação 41

(8)

SUMÁRIO

1 Introdução 1

1.1 Objetivos 4

1.2 Recorte do objeto 7

1.3 Fundamentação teórica 8

1.4 Estrutura do trabalho 9

2 O impacto dos telefones celulares nas nossas vidas 11

2.1 A era da computação ubíqua 15

2.2 Finalmente, a mobilidade 18

2.3 O telefone celular no Brasil 19

2.4 Conseqüências da conexão permanente 25

2.5 Público x privado 28

3 Reapropriação do espaço urbano 31

3.1 Mídias locativas 37

3.1.1 Realidade aumentada 38

3.1.2 Mapeamento e monitoramento do movimento 39

3.1.3 Geotags 40

3.1.4 Anotações urbanas 43

3.1.5 Wireless mobile games 44

4 Mais proximidade nos relacionamentos 47

4.1 A cultura das imagens instantâneas 51

4.2 O poder das mensagens de texto 55

(9)

4.4 Coordenação de atividades 63

4.4.1 Tempo mais flexível 67

5 Considerações finais 69

(10)

1 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

Desde o início deste século vivemos intensamente uma nova migração tecnológica. Estamos deixando as telas estáticas de nossos computadores de mesa (os desktops) e temos a possibilidade de fazer todas as nossas atividades remotamente. Não há mais a limitação que representa a obrigação de ter que parar na frente do computador (ou da TV, ou do rádio) para se informar, trabalhar, conversar com alguém ou se divertir. Quando se tem um telefone celular à mão, “não só a cidade, mas qualquer parte do mundo se tornou acessível ao toque de minúsculos dígitos de um pequeno aparelho”

(SANTAELLA, 2007, p. 231).

O avanço da tecnologia para promover a mobilidade no processo de comunicação e na transferência de dados pode alterar nossa relação com o mundo. A possibilidade de se estar conectado 24 horas por dia e, o melhor, em movimento, é uma mudança radical na forma de se pensar em tempo e espaço. Dessa nova relação surgem novas formas de relacionamento.

Com todas as funcionalidades do telefone celular (disponibilidade de conexão constante e mobilidade, por exemplo) ao alcance das mãos, o usuário se torna livre para interagir com suas diversas redes sociais (sejam elas físicas ou virtuais), tendo como limite apenas a infra-estrutura tecnológica de seu equipamento e da localidade em que está. Com isso ele “aumenta seu controle sobre o processo de comunicação” (CASTELLS et al., 2004, p. 238, tradução

(11)

2 maneira de fazer coisas que antes eram impossíveis” (RHEINGOLD, 2002, p.20, tradução nossa).

Pode-se dizer que uma das grandes vantagens que os dispositivos móveis nos trazem é a “capacidade do indivíduo de estar simultaneamente

consigo mesmo e em rede” (CASTELLS et al., 2004, p. 239, tradução nossa).

Essa disponibilidade pode resultar em novas práticas sociais: “As inúmeras formas de interação entre os usuários e o ciberespaço criam uma grande quantidade de comportamentos inovadores, cujas conseqüências sociais e culturais estão começando a ser estudadas” (SANTAELLA, 2007, p. 126).

O telefone celular se tornou um equipamento importante nas atividades cotidianas e sua relevância aparece nos resultados de algumas pesquisas. É possível dizer, por exemplo, que o telefone celular está se tornando a

ferramenta central de conexão à Internet. De acordo com o relatório

Convergence Mobile Devices, elaborado pelo instituto de pesquisa IDC (2008), a previsão é de que, em 2009, existam no mundo 1,9 bilhão de usuários que acessam a Internet através de um computador comum e 3 bilhões de usuários que se conectam à web por meio do telefone celular.

Levantamentos mostram que, na hora de se escolher uma assinatura de serviço de telefonia, a preferência é pelo celular. No Brasil, por exemplo, quem compra novas linhas de telefone tende a optar por um aparelho móvel: “De

2007 para 2008, mais 4,4 milhões de domicílios passaram a ter algum tipo de telefone, dos quais 3,98 milhões adquiriram somente celular” (INSTITUTO

(12)

3 mobilidade oferecida pelo celular. A falta de infra-estrutura para a telefonia fixa e o custo mais baixo dos portáteis somam pontos positivos para a escolha por um telefone móvel.

A partir do momento em que se torna possível conectar a Internet a partir do celular, a relação entre o usuário e o dispositivo móvel fica mais estreita, devido às possibilidades de acesso através da conexão sem fio, o que dá um novo significado para essas ferramentas de comunicação. “Os telefones

celulares permitem que as pessoas não apenas troquem informações de forma mais rápida e economizem tempo, mas também entrem em contato com outras pessoas enquanto se está fazendo alguma outra coisa” (YANG et. al, 2008, tradução nossa).

Kristóf Nyíri (2009) entende que, com o avanço da tecnologia, o celular será a principal interface com que vamos interagir com os mundos real e virtual:

Ao combinar as opções de chamadas de voz com mensagens de texto e multimídia e, também, com o envio de e-mails, o celular se tornará a interface natural através da qual o usuário poderá fazer compras, operações bancárias, agendar vôos (...). É óbvio que o celular está se tornando um instrumento único para a comunicação mediada por computadores, fazendo a intermediação não apenas entre pessoas, mas entre pessoas e instituições e até mesmo entre pessoas e o mundo dos objetos inanimados (NYÍRI, 2009, tradução nossa)

Os celulares estão sempre conosco, geralmente colocados em bolsos, cintos, mochilas e bolsas, “tornando-se um acessório indispensável para a vida

(13)

4 com 4 mil pessoas nos Estados Unidos e no Reino Unido. O levantamento mostrou que 82% das pessoas têm medo de perder seus celulares e que 40% das pessoas têm mais receio de perder o telefone móvel do que a própria carteira (MFORMATION, 2009).

Em movimento pelo espaço físico, a maneira pela qual nos comunicamos pode se dar de formas até então impossíveis e isso traz efeitos para muitos aspectos de nossas vidas, o que resulta em impactos na sociedade como um todo. “Uma modificação técnica é uma modificação da coletividade cognitiva, implicando novas analogias e classificações, novos mundos práticos, sociais e cognitivos” (LÉVY, 1996, p. 145). Aqui, a

modificação técnica é a mobilidade permitida pelo telefone celular. O objetivo desse trabalho, como veremos a seguir, é tratar dessas mudanças na forma de nos socializarmos, que estão emergindo a partir do momento em que a possibilidade de conexão contínua do telefone celular a redes sociais passou a fazer parte de nossas vidas.

1.1 - Objetivos

O objetivo desse trabalho de pesquisa é apontar modos de socialização que surgem da interação dos humanos com dispositivos eletrônicos móveis e validá-los, através de conceitos encontrados a partir da leitura de autores que estão estudando o impacto dos telefones celulares nas pessoas e na vida em sociedade.

(14)

5 irmãos menores, os netbooks), também permitem a conexão móvel à Internet e até mesmo chamadas telefônicas (que podem ser feitas por meio de softwares, que permitem esse tipo de ligação, como o Skype1), mas esses computadores não oferecem a mesma portabilidade que o telefone celular, que pode ser transportado a qualquer lugar devido ao seu tamanho.

Essa dissertação de mestrado representa o início de uma pesquisa mais profunda que pode continuar no doutorado sobre quem é este novo homem, que pode realmente voltar a ter um estilo de vida nômade, como no início de sua evolução, graças aos avanços das tecnologias móveis de comunicação e transferência de dados.

Uma das formas de identificar essas novas práticas sociais é analisar como os telefones celulares têm sido usados. Estudei a questão em minha monografia de conclusão do curso de pós-graduação em Mídias Interativas do Centro Universitário Senac, de São Paulo. A pesquisa foi desenvolvida a partir da análise de protótipos elaborados para serem ferramentas que poderiam ser adotadas no contexto das redes móveis (VAZ, 2008).

Os novos modos de socialização que emergem da comunicação móvel podem ser indicados a partir da identificação de tendências de uso. Na primeira pesquisa (VAZ, 2008), apontei cinco delas:

Computação por contexto: as informações sobre o ambiente onde o computador está inserido são fundamentais para que a máquina atenda precisamente as demandas de seu usuário. Através da computação por

1

(15)

6 contexto, o dispositivo móvel pode, antes que o usuário peça, carregar sua configuração pessoal a partir de mecanismos de identificação sem fio.

Realidade aumentada: A sobreposição de elementos virtuais sobre a paisagem real, seja por projeções diretamente sobre os objetos ou pela mistura de elementos virtuais e reais diretamente na tela do dispositivo móvel, pode ser utilizada para diversas aplicações de serviço ao usuário, publicidade e entretenimento.

Computadores de vestir: da expressão em inglês wearable computer, são máquinas que se acoplam ao corpo ou às roupas do usuário para atender suas necessidades de conexão e compartilhamento de

informações. Neste caso, os dispositivos computacionais podem até ser interpretados como extensões do corpo humano.

Localização: A disponibilidade de recursos que indicam onde está o usuário, como o Sistema de Posicionamento Global por satélite (conhecido pela sigla GPS, de Global Positioning System), e a mobilidade permitida pelo uso desses dispositivos destacam a importância da localização do usuário para diversas aplicações.

(16)

7 podem tornar muito mais dinâmica a participação em comunidades virtuais.

Todas essas tendências acabam se combinando, porque muitas aplicações utilizam mais de uma delas. Portanto, nos exemplos citados na monografia (VAZ, 2008), procurei aplicações em que uma das tendências tinha mais destaque e podia ser melhor explicada.

Com o avanço das leituras durante o andamento do mestrado, inseri outras tendências de uso como a coordenação de atividades e a troca de mensagens de texto.

1.2 – Recorte do objeto

A tecnologia de comunicação sem fio engloba uma variedade imensa de questões e há diferentes abordagens para cada uma delas. Para definir o tema desta dissertação foi preciso escolher, entre diversos aspectos relacionados ao uso dos dispositivos móveis, o que poderia ser mais um passo em minha trajetória acadêmica e que estimulasse novas pesquisas. Além disso, a dissertação também poderia reunir pensamentos de diversos autores e, dessa forma, ajudar outras pessoas que estão começando a estudar o assunto.

(17)

8 1.3 Fundamentação teórica

Para entender as mudanças provenientes do emprego dos telefones móveis na comunicação interpessoal, nas relações de trabalho e no entretenimento, busquei autores que vêm discutindo o assunto tanto no Brasil como em outros países.

Entre eles estão Lucia Santaella, autora do livro Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade, que foi a principal contribuição para essa dissertação; e Pierre Lévy, que analisa a evolução do que ele chama de “tecnologias da inteligência”. A leitura de suas obras, nem todas citadas aqui, foi fundamental

para a reflexão sobre o impacto dos telefones celulares na sociedade. Howard Rheingold também foi importante, porque ele tratou da interação humana nas redes sociais na Internet e, posteriormente, também passou a discutir os efeitos da conexão móvel nos relacionamentos (analisando profundamente a coordenação de atividades através dos celulares). Manuel Castells, pesquisador do impacto das redes, e Paul Levinson, autor de um livro que trata dos efeitos do telefone celular em nossas vidas, foram autores fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa.

(18)

9 1.4 Estrutura do trabalho

Após essa introdução, o capítulo 2 traz o resultado das leituras feitas sobre os impactos do uso do telefone celular em nossas vidas, mostrando como grandes pesquisadores da área estão vendo as mudanças na sociedade causadas pela computação ubíqua. O capítulo traz a evolução do celular no Brasil e sugere algumas conseqüências da conexão permanente permitida por esses equipamentos.

No capítulo 3, começamos a tratar dos modos de socialização que são resultado do uso desses aparelhos. O primeiro a ser abordado é a apropriação do espaço urbano pelos usuários de telefones celulares, que tem como principal estímulo as ferramentas que apontam o posicionamento do usuário enquanto ele se desloca. Com base no trabalho de André Lemos, é feito um panorama do que são mídias locativas.

(19)
(20)

11 Capítulo 2 - O impacto dos telefones celulares nas nossas vidas

É possível dizer que a criação dos telefones celulares e demais dispositivos móveis, definidos por Lucia Santaella (2007, p.199) como "tecnologias da conexão contínua”, foi incentivada a partir das necessidades de

trabalho, comunicação e lazer das pessoas, que passaram a estar cada vez mais em trânsito, fora de sua base (seja ela a casa, o local de estudo ou o de trabalho). E, em movimento, essas pessoas precisavam continuar acessíveis aos seus contatos. Era preciso criar uma ferramenta que permitisse o acesso a pessoas, a execução de tarefas e a coordenação de atividades sem a necessidade de uma estação fixa (como um computador de mesa) para trocar informações.

Quando foi iniciada a comercialização dos primeiros aparelhos do gênero no mundo, durante a década de 1980, os telefones portáteis eram muito caros e a conexão, ainda analógica, era instável e restrita a certas regiões (RAPPAPORT, 2001, p. 7-10). Porém, os avanços tecnológicos da comunicação sem fio que surgiram gradualmente fizeram com que o telefone celular se tornasse uma ferramenta quase obrigatória para uma série de atividades, profissionais ou particulares. A partir do momento em que o telefone celular se popularizou, ele se tornou “a tecnologia pessoal mais disseminada no planeta, com a estimativa de 4,6 bilhões de assinaturas em todo o mundo no final de 2009” (INTERNATIONAL TELECOMMUNICATION UNION, 2009,

tradução nossa).

(21)

12 áudio em MP3, fizeram com que o telefone celular passasse a oferecer diversas outras funcionalidades que fossem não apenas as chamadas telefônicas. Para definir o telefone celular da atualidade, André Lemos (2007) utiliza o termo Dispositivos Híbridos Móveis de Conexão Multirredes (DHMCMs):

O que chamamos de telefone celular é um Dispositivo (um artefato, uma tecnologia de comunicação); Híbrido, já que congrega funções de telefone, computador, máquina fotográfica, câmera de vídeo, processador de texto, GPS, entre outras; Móvel, isto é, portátil e conectado em mobilidade funcionando por redes sem fio digitais, ou seja, de Conexão; e Multirredes, já que pode empregar diversas redes. (LEMOS, 2007)

Os DHMCMs de Lemos são conhecidos no mercado de telefonia como smartphones (em uma tradução literal, “telefones inteligentes”). São produtos

que reúnem diversas funções em um só aparelho. A diferença básica entre o telefone celular convencional e um smartphone é que o segundo é capaz de rodar um sistema operacional próprio, como um computador comum, e tem capacidade maior de armazenamento de dados. Isso os torna legítimos computadores de bolso com um diferencial: são capazes de se conectar à Internet por rede sem fio a partir de qualquer lugar em que a conexão wireless (sem fio) esteja disponível.

(22)

13 móveis com telefonia, pois a telefonia é apenas um dos serviços de comunicação disponível” (SILVA, 2005).

Em 2007 foi lançado o mais famoso entre os smartphones: o iPhone, da Apple. Ele trouxe uma nova forma de acoplamento do usuário com seu telefone celular porque disponibiliza recursos que não eram inéditos, mas que pela primeira vez foram usados juntos em um só aparelho de telefonia móvel: as funções de telefone celular, computador de bolso, MP3 player e uma tela sensível ao toque (touch screen). O iPhone também oferece outros recursos que se tornaram “itens de fábrica”, ou seja, básicos para um telefone celular:

navegador GPS e câmera digital.

O grande chamariz do produto é a tela sensível ao toque, a interface a partir da qual todas as funcionalidades estão acessíveis.

Figura 1 – iPhone: o primeiro celular com tela sensível ao toque

Fonte: (ROSA, 2008)

(23)

14

Deixamos de lado o teclado, o mouse, os botões e as canetas stylus, que serviam como condutores passivos na nossa integração com as interfaces, e vivenciamos uma nova era de educação táctil, em que nossos dedos interagem diretamente com o sistema e seus objetos, tocando aquilo que antes era apenas uma representação visual, marcando um envolvimento sensorial maior no processo da comunicação. (ERTHAL, 2008)

Apesar de toda a ansiedade que o lançamento da Apple causou no mundo todo - foram 1 milhão de aparelhos vendidos em menos de três meses após o lançamento (APPLE, 2007), o primeiro iPhone não era perfeito. Faltavam-lhe alguns recursos presentes na maioria dos celulares, tais como um bom suporte para a tecnologia de transmissão de dados sem fio Bluetooth e compatibilidade com o padrão de tecnologia de telefonia móvel 3G (TURRETINE, 2007), que permite acesso à Internet em alta velocidade (um problema que foi sanado com o lançamento do iPhone 3G, em julho de 2008). Com o tempo, outras empresas lançaram telefones com touch screen e hoje o consumidor tem diversas opções a escolher para acessar diversos recursos, inclusive a Internet pelo celular.

Para Souza e Silva (2006), até mesmo a forma como entendemos a Internet muda quando podemos conectá-la a partir do telefone portátil:

Com a adição de recursos de localização ao telefone celular, a web estará cada vez mais conectada aos lugares físicos e, de forma progressiva, distante a noção de ser um “não-lugar”. Além disso, a idéia de “entrar na Internet” deve desaparecer, uma vez que os celulares 3G estão sempre conectados à rede. (SOUZA E SILVA, 2006, tradução nossa)

(24)

15 comunicação móvel”, capazes de acessar quem e o que precisamos a qualquer

momento, ficando também disponíveis para quem precisar nos encontrar . “Tão logo o telefone celular se conectou à Internet ou passou a oferecer alguns de seus recursos (...), ele se tornou um lar fora de casa para os meios de comunicação, uma casa móvel ou um lar de bolso” (LEVINSON, 2004, p.53,

tradução nossa).

2.1 - A era da computação ubíqua

O número cada vez maior de usuários de telefones celulares e demais dispositivos computacionais móveis (como notebooks e câmeras digitais) traz para a realidade o conceito de computação ubíqua introduzido por Mark Weiser e John Seely Brown (1997). Os pesquisadores definiram três passos na evolução da relação entre homens e computadores, utilizando como base a relação entre o número de máquinas e o de usuários (VASSÃO, 2008).

Estamos hoje na era da conexão em que a „Ubicomp‟ profetizada por Weiser torna-se uma realidade. Esta é, verdadeiramente, a computação do século XXI, da era da conexão. Trata-se de colocar as máquinas e objetos computacionais imersos no quotidiano de forma onipresente. (LEMOS, 2004)

A era da computação ubíqua é precedida de duas etapas importantes. O primeiro momento é chamado de “Era dos Mainframes”, situado entre as

(25)

16 O lançamento dos primeiros computadores pessoais em 1981 marca o início da “Era do PC”, quando se tornou possível ter um equipamento próprio

dentro de casa. Dessa forma, a relação entre número de computadores e número de pessoas começava a ficar mais parelha, mas ainda havia um longo caminho pela frente para que cada pessoa tivesse seu próprio dispositivo computacional.

Finalmente, a terceira era é chamada por Weiser e Brown de “Computação Ubíqua”. O conceito traduz a idéia de computadores inseridos em

praticamente todas as nossas atividades cotidianas.

Ao analisar o raciocínio de Weiser e Brown e a disseminação dos telefones celulares, Souza e Silva (2006) conclui que:

Aplicar o conceito de computação ubíqua aos telefones celulares não significa apenas perceber a característica pervasiva da tecnologia, mas também ver o telefone celular como um tipo de computador que inclui conexão à Internet, agenda pessoal, capacidade de receber e enviar e-mails e mensagens instantâneas e que nos ajuda na formação de comunidades. (SOUZA E SILVA, 2006, tradução nossa)

Nesse cenário “os dispositivos conectados não são apenas variados em

(26)

17 A partir da leitura de autores que estudam o tema (LEMOS, 2007; SOUZA E SILVA, 2006; LEVINSON, 2004; SANTAELLA, 2007; CASTELLS et al., 2004; RHEINGOLD, 2002) é possível sugerir também que o telefone celular é, hoje, o dispositivo móvel mais importante na comunicação sem fio. O grande trunfo do telefone celular sobre outros dispositivos móveis seria o fato de que, além das chamadas, ele é capaz de oferecer muitos outros recursos dentro de um aparelho superportátil.

O desenvolvimento das tecnologias que proporcionam a conexão móvel permitiu, além da transmissão de volumes maiores de dados, que os telefones celulares fossem se tornando cada vez mais acessíveis para todas as classes sociais e faixas etárias. Estão disponíveis para compra, como alternativa aos modelos de ponta, que sempre serão mais caros, celulares a preços mais baixos, que permitem a disseminação do uso das tecnologias de comunicação móvel: “a queda dos preços dos serviços móveis tem tornado a tecnologia cada

vez mais acessível e, como resultado, com maior poder para atrair usuários diversos” (CASTELLS et al., 2004, p. 42, tradução nossa).

Vivemos hoje em uma sociedade que está adaptando suas práticas a esses dispositivos móveis que, pelos recursos disponibilizados, incentivam novas formas de interação e relacionamento. Pierre Lévy entende que “o

aspecto da informática mais determinante para a evolução cultural e as atividades cognitivas é sempre o mais recente, relaciona-se com o último envoltório técnico” (LÉVY, 1997, p. 102). Nos dias de hoje, esse “envoltório

técnico” é a conexão sem fio e todas as ferramentas tecnológicas que a tornam

(27)

18

A possibilidade de que milhões de pessoas tenham sistemas de comunicação „permanente‟ em casa e no trabalho expões questões profundas sobre a qualidade e o significado da vida. Como as comunicações móveis vão influir na vida familiar e social? (RHEINGOLD, 2002, p.27, tradução nossa)

Trata-se de uma mudança social profunda, porque “a comunicação é um processo fundamental da atividade humana e a modificação dos processos de interação entre a estrutura e a prática sociais e uma nova variedade de tecnologias de comunicação trazem grandes transformações” (CASTELLS et al., 2004, p. 238, tradução nossa). Analisar essas mudanças é o objetivo deste trabalho.

2.2 Finalmente, a mobilidade

Para Levinson (2004, p. 13, tradução nossa), o sucesso do telefone celular é resultado de "uma necessidade tão antiga quanto a espécie humana: a necessidade de andar e falar, ou seja, de se comunicar e se mover ao mesmo tempo". Pode-se dizer que o fato do celular ter finalmente resolvido a questão da mobilidade da comunicação causou uma verdadeira revolução na forma como vivemos.

O telefone celular é o primeiro equipamento que, se for de nosso desejo, nos permite estar disponíveis durante todo o tempo. E, quando optamos por isso, passamos a participar de múltiplos processos que se interconectam e Santaella (2007, p.187) utiliza o termo “hipermobilidade” para caracterizar esse fenômeno. Trata-se da fusão entre as diversas redes virtuais e o espaço físico, das ligações entre o “espaço de fluxos”, ou seja, onde se dá a interação dos

(28)

19 o “espaço de lugar”, onde está toda a infra-estrutura física necessária para o trânsito das informações digitais.

Lemos (2008) define esse “espaço movente, híbrido, formado pela

relação entre o espaço eletrônico e o espaço físico” como território informacional. O autor afirma que, com o uso do telefone celular “emergem formas de contato permanente e contínuo, em mobilidade, propiciando novas vivências do espaço e do tempo das (ciber) cidades” (LEMOS, 2007).

Ou seja, não é apenas o espaço que se amplia, ao se desdobrar em muitos outros que estão ao alcance de uma chamada ou de uma mensagem instantânea enviada pelo celular, mas as 24 horas do dia também podem não ser mais percebidas como eram anteriormente, porque somos capazes de reagendar compromissos com muito mais facilidade, como se fôssemos capazes de alterar nosso futuro continuamente. Este assunto será discutido no capítulo 4, quando a questão da coordenação de atividades pelo celular for tratada.

2.3 O telefone celular no Brasil

(29)

20 No Brasil, o primeiro dispositivo de comunicação móvel que ganhou popularidade foi o pager, conhecido popularmente como “bip”, um pequeno aparelho que funcionava com pilhas comuns e recebia mensagens de texto por uma tela de cristal líquido. Sucesso na década de 90, com mais de 1 milhão de usuários no país (AVRUCH, 2000), o serviço de paging foi arrasado pelo surgimento dos celulares pré-pagos, mais acessíveis para o grande público do que as assinaturas pós-pagas de telefonia celular, e pelas mensagens de texto via SMS, sigla em inglês para Serviço de Mensagens Curtas (AVRUCH, 2000).

O primeiro telefone celular do Brasil custou 22 mil dólares e foi comprado em 1990 (PEREIRA; GUEDES, 2004). Cinco anos depois, havia 1,2 milhões de aparelhos em uso. Quase 20 anos depois, há 166 milhões de assinaturas no país. Ao observar o ocaso do pager, sugere-se que a substituição do rudimentar aparelho de recebimento de mensagens, o “bip”, pelo telefone celular é compreensível e algo até esperado, uma vez que a comunicação no pager é de mão única, porque o contato entre as duas partes não era simultâneo. Se fosse necessário responder à mensagem recebida, o assinante do serviço precisaria encontrar um telefone fixo para retornar a ligação e torcer para que a pessoa que enviou o texto também estivesse próxima de um, o que nem sempre acontecia.

(30)

21 Das 166 milhões de assinatura de serviços de telefonia celular no Brasil, 82,21% são serviços pré-pagos (AGÊNCIA NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES, 2009). O celular pré-pago é “um dos principais fatores

para a popularidade da comunicação sem fio no país” (PELLANDA, 2009, tradução nossa). Isso ocorre porque, apesar de ter uma tarifa mais alta por minuto do que o serviço pós-pago, o pré-pago dá uma grande flexibilidade ao usuário, que continua recebendo chamadas (e, portanto, conectado à sua rede de contatos) mesmo quando seus créditos de ligação acabam.

Em comunidades de baixa renda, como as favelas no Rio de Janeiro, o celular é compartilhado e usado como um telefone público comum. “Como

muitos não têm telefone em casa, o telefone celular „público‟ se torna a

principal tecnologia de conexão para membros da comunidade que trabalham remotamente” (SOUZA E SILVA, 2007, tradução nossa). A autora destaca que é interessante notar que uma tecnologia como o telefone celular, que tinha todas as características de ser uma ferramenta individual e privada, passa a ter uma função coletiva em regiões de baixa renda.

Não é possível generalizar a forma de utilização do telefone celular no Brasil porque “as diferenças econômicas são enormes e o uso da tecnologia

varia de acordo com a posição socioeconômica” (SOUZA E SILVA, 2007,

tradução nossa) e para se estudar os efeitos do telefone celular na sociedade “deve se levar em conta os contextos sociais, econômicos e psicológicos das

culturas observadas” (RHEINGOLD, 2002, p.52, tradução nossa). No Brasil,

(31)

22 marcantes e impedem que se generalize a forma como a comunicação sem fio foi apropriada.

Para Eduardo Pellanda (2009), devido a essas grandes diferenças, o Brasil reúne os dois lados da disseminação da telefonia celular no mundo. Por um lado, nos assemelhamos a regiões da África em que a conexão móvel foi a solução onde a infra-estrutura de telefonia fixa não podia chegar e, por outro, nos grandes centros urbanos, o nível de desenvolvimento tecnológico é parecido com o dos países mais ricos do mundo, onde a teledensidade se aproxima de 100%, como é o caso da Noruega. Voltando ao raciocínio de Souza e Silva (2007), é possível dizer que mesmo dentro dos grandes centros urbanos encontramos as duas formas de uso: o compartilhamento de um mesmo telefone em comunidades pobres e mais de um celular de última geração por pessoa entre os mais ricos.

O impacto dos telefones celulares não se restringe às inovações tecnológicas resultantes de seu uso. A forma como nos relacionamos uns com os outros a partir dessa ferramenta também foi afetada. “O celular se insinuou nas capilaridades da vida cotidiana, alternando nossas formas de viver ao propiciar possibilidades de comunicação antes inexistentes” (SANTAELLA, 2007, p. 233) e são justamente esses novos modos de socialização que estão sendo discutidos neste trabalho.

(32)

23 pessoas que até então não tinham acesso a ferramentas tecnológicas de comunicação passaram a integrar uma grande rede de usuários.

O telefone portátil passa a ser o primeiro computador para muita gente: “os celulares são muito mais baratos do que os laptops e computadores de mão e, portanto, acessíveis para um número maior de usuários” (SOUZA E

SILVA, 2007, tradução nossa)

Dado o potencial do telefone celular como uma ferramenta social e de cidadania, Caio Vassão (2008) sugere que

A questão da telecomunicação deixou de ser item de consumo de luxo há muito tempo, e poderíamos argumentar que a telefonia celular fosse incluída no rol em que encontra-se o fornecimento de água, energia elétrica, esgotos e vias públicas. (VASSÃO, 2008)

A popularização da telefonia celular está levando essa tecnologia para um público totalmente novo e essa apropriação “é ainda mais significativa (do

que a disseminação da Internet), porque os primeiros usuários da Internet tinham grande conhecimento de tecnologia, enquanto o grupo de novos usuários das ferramentas de comunicação sem fio são jovens sem habilidades técnicas especiais” (CASTELLS et al., 2004, p. 244, tradução nossa). Sem a

experiência da Internet no desktop, os novatos da rede, com seus celulares à mão, estão intensificando ou inventando práticas sociais.

(33)

24 instantâneas e dos sites de relacionamento. Outro exemplo é a coordenação de atividades, que também vamos discutir e ocorre de uma forma diferente nas redes móveis, porque a conexão sem fio faz toda a diferença na mobilização de um grupo de pessoas para diferentes fins. Por outro lado, a intromissão causada pelo uso dos telefones celulares em qualquer lugar está obrigando todos nós a nos adaptarmos e revermos questões relacionadas à privacidade.

Assim como precisamos respeitar leis de trânsito e um código de conduta informal para dirigir, também estamos aprendendo a lidar com a conectividade contínua propiciada pelo telefone celular. Alguns livros sobre “etiqueta móvel” ou, em inglês, m-etiquette, já foram publicados, mas há regras

não escritas que estão em transformação. Estudos sobre o assunto (CASTELLS et al., 2004, p. 230) mostram que já há algumas regras, todas atreladas ao bom senso do usuário, mas que nem sempre são seguidas: por exemplo, falar baixo ao celular em locais públicos e deixar o telefone no modo silencioso no local de trabalho.

Pode-se falar de um processo de aprendizado social sobre como lidar com a disponibilidade permanente, que tem um importante componente aleatório, porque parte das interações são inesperadas (por exemplo, quando se recebe uma ligação). (CASTELLS et al., 2004, p. 230, tradução nossa)

Estudos feitos na Inglaterra (CAMPBELL, RUSSO; 2003) constataram que as pessoas utilizam gestos e desviam o olhar na hora de se “negociar” o

(34)

25 2.4 Conseqüências da conexão permanente

A conexão permanente, “always on”, de quem transita com um telefone

celular em mãos traz mudanças em nossa forma de conviver em grupo. O fato de se estar fazendo duas coisas ao mesmo tempo, como receber chamadas quando se está em locais públicos ou rodeado de conhecidos, é tema de discussão para muitos pesquisadores.

Santaella (2007, p. 233-245) entende que a conexão permanente permitida pelo celular cria espaços de presença-ausência. Todos nós já passamos por isso uma série de vezes: pode ser a interrupção de uma conversa com alguém que está ao seu lado para atender uma ligação ou ler e responder uma mensagem de texto no celular. Isso acontece durante encontros de todos os níveis: de reuniões no escritório a almoços de família.

Assim como a Internet compete com a televisão e as comunicações face a face em casa e no local de trabalho, as tecnologias móveis competem com a atenção dada a outras pessoas que estão presentes em espaços públicos e com o próprio tempo livre dos usuários entre a casa e o trabalho. (RHEINGOLD, 2002, p. 219, tradução nossa)

Ao mesmo tempo em que a pessoa está inserida em um determinado local físico, cercada de pessoas conhecidas ou não, com as quais interage, mesmo sem palavras, ela se ausenta temporariamente para outro encontro, pelo celular. Neste período de tempo, ela continua participando da ação física apenas com a presença de seu corpo, porque sua atenção está voltada para o interlocutor que a chama pelo telefone.

(35)

26 imediatamente do círculo social no momento da ligação; “suspensão”, quando

quem recebe a ligação continua em seu lugar, mas para o que estiver fazendo durante o tempo da chamada e “efetivamente se desliga do ambiente em que

está”; e “persistência”, na qual os usuários permanecem no lugar e tentam fazer, na medida do possível, o mesmo que faziam antes da chamada ocorrer.

Como a comunicação via telefone celular se dá tanto em ambientes privados como em locais públicos, a fronteira entre o que é pessoal e o contexto social praticamente desaparece e os usuários tentam remediar isso da melhor forma possível. Ao falar no telefone celular em público, “as pessoas

criam seu espaço privado simplesmente ignorando os que estão a sua volta”

(CASTELLS et al., 2004, p. 242, tradução nossa). Para Santaella (2007, p. 246-247), isso acontece porque há uma necessidade de se criar “uma ilha de

intimidade no oceano dos ambientes públicos”.

O sentido de ver e ser visto muda com a tecnologia móvel. Delimitar o que é público e o que é privado fica ainda mais difícil quando não é possível dizer “você pode vir apenas até aqui”. A intromissão de uma chamada pode

acontecer a qualquer momento. A única forma de se evitar totalmente que isso aconteça é desligar o aparelho ou não atender.

Quando faz uma chamada pelo celular, o usuário é identificado imediatamente, a não ser que ele proteja seu próprio número e opte por aparecer como “anônimo” para seu interlocutor. Portanto, é possível dizer que a parte em que se pergunta “quem é?” já pode ser suprimida das conversas.

(36)

27 aquele que originou a ligação. “Algumas vezes é fundamental informar o autor da chamada sobre o contexto, devido à intromissão que o telefonema pode causar” (CASTELLS et al., p. 229, tradução nossa). A “invasão” sentida a partir

de uma chamada pode fazer com que a pessoa não atenda ou simplesmente desligue o telefone quando ele tocar, o que pode ter diversos significados para quem está fazendo a ligação.

Ao analisar a maneira como os usuários de telefones celulares lidam com o fato de se estar sempre on-line, Howard Rheingold (2002) acredita que impor limites para a intrusão causada pela conexão permanente será uma tarefa de cada um de nós: “No futuro, o uso sensato da tecnologia vai exigir

que cada pessoa e cada família decidam em que circunstâncias e ocasiões devem ficar longe do alcance dos meios de comunicação” (RHEINGOLD, 2002,

p. 210, tradução nossa)

Para Rheingold, a possibilidade de se estar continuamente conectado de forma remota a redes sociais virtuais é “ao mesmo tempo, o elemento que o isola dos demais que estão presentes no espaço público” (RHEINGOLD, 2002,

(37)

28 Por permitir a interação entre pessoas que estão em lugares diferentes, os espaços em que a comunicação via celular se dá podem ser chamados híbridos, porque são formados “pela comunicação transmitida de forma

múltipla, por indivíduos que estão se movendo simultaneamente através de espaços físicos e virtuais, utilizando tecnologias móveis como interfaces de conexão” (SOUZA E SILVA, 2006, tradução nossa).

2.5 Público x privado

Nesses espaços híbridos, as mesmas tecnologias que permitem ao usuário estar permanentemente conectado e informado, também representam uma ameaça à sua privacidade.

Para Bruno (2009), a distribuição das tecnologias de comunicação móvel, a computação ubíqua e os sistemas de localização por satélite são razões centrais para a crescente ligação entre monitoramento e mobilidade

uma vez que essas tecnologias – apesar de não terem sido projetadas especificamente para desempenhar tarefas de vigilância – incluem sistemas de monitoramento para ações, informação, comportamento e comunicação de seus usuários dentro de seu próprio mecanismo. (BRUNO, 2009, tradução nossa).

Para Rheingold (2002, p. 211), há pelo menos três tipos de ameaça potencial ao usuário provenientes das tecnologias da comunicação. São elas a ameaça à liberdade, uma vez que a distribuição generalizada de informação está ligada à vigilância ubíqua; a ameaça à qualidade de vida, uma vez que o excesso de informações pode criar angústia e ansiedade; e, em terceiro lugar, ameaças à própria dignidade humana “na medida em que deixamos mais

(38)

29 máquinas, nos convertemos em seres mais mecânicos do que humanos” (RHEINGOLD, 2002, p. 211, tradução nossa). Nesta investigação, trataremos apenas da primeira delas, que reside na vigilância permanente atrelada à conexão sem fio. Ao mesmo tempo em que queremos ter acesso a tudo por meio de nossos celulares, também ficamos vulneráveis.

Rheingold (2002) alerta para a distribuição de dados pessoais sem consentimento dos usuários e do recebimento massivo de informações (como no caso dos spams, que já começam a chegar a nossos telefones portáteis, por exemplo, através de mensagens de texto envias até mesmo pelas próprias operadoras de serviços de telefonia).

Ainda que a vigilância promovida pelo Estado e grande parte da compilação de dados para fins comerciais sejam feitas, geralmente, sem o consentimento ou o conhecimento do vigiado, as questões de privacidade se complicam ainda mais pela adoção voluntária de tecnologias que revelam informações particulares a outras pessoas. (RHEINGOLD, 2002, p. 212, tradução nossa).

O fato de que, para encontrar um telefone celular, não é preciso fazer uma chamada, basta que o aparelho a ser encontrado esteja ligado, é um exemplo usado por Rheingold (2002) para mostrar como nossa privacidade é vulnerável quando estamos conectados às diversas redes sem fio disponíveis.

Além da detecção da localização que, como veremos nos próximos capítulos, pode ter grande utilidade na coordenação de atividades, o telefone celular provoca outras discussões quando se trata de preservar espaço público e espaço privado. Pode-se dizer que há dois movimentos ocorrendo em direções contrárias: “se o espaço privado está sendo erodido na proporção do

(39)

30 inverso também é verdadeiro: com o celular, a vida privada invade o espaço público” (SANTAELLA, 2007, p. 246).

Os exemplos da invasão da vida privada no espaço público pelo uso de telefones portáteis são inúmeros: ouvir a conversa de um desconhecido que está ao seu lado dentro do ônibus e saber detalhes de um encontro que não lhe diz respeito; perder a concentração na história de um filme quando o telefone de alguém toca dentro da sala de cinema.

Apesar de os telefones celulares serem usados de formas diferentes em diversas partes do mundo, eles promovem um enfraquecimento das fronteiras entre os espaços público e privado: envolvendo o privado dentro do público, trazendo o público para o privado e criando ilhas móveis público/privadas. (SOUZA E SILVA, 2006, tradução nossa)

(40)

31 Capítulo 3 - Reapropriação do espaço urbano

Com um telefone celular, podemos realizar diversas atividades em movimento, nos deslocando pelo espaço físico. O mapeamento do mundo real a partir do telefone celular, que pode ser feito a partir de sistemas de localização, dá um novo sentido a cidades e bairros que já conhecemos há anos. A reapropriação dos espaços físicos, principalmente dos centros urbanos, a partir da comunicação móvel tem sido tão marcante que “talvez o conhecimento da localização seja o recurso mais importante do telefone celular para se definir como as interfaces móveis podem influenciar nossa interação com outros usuários e com o espaço em que vivemos” (SOUZA E SILVA, 2008,

tradução nossa). Para Howard Rheingold, “conhecer nossa localização

geográfica exata é uma forma de sensibilidade ao contexto em que as máquinas melhoram os humanos” (RHEINGOLD, 2002, p. 123, tradução

nossa).

O uso do telefone celular permitiu novas formas de se perceber o mundo físico e interagir com ele. Pode-se dizer que isso é evidente onde estão concentrados a disponibilidade de infra-estrutura de comunicação sem fio e um alto número de usuários: os grandes centros urbanos. Lemos (2007) vê as práticas de apropriação do espaço urbano a partir de aplicações desenvolvidas para telefones celulares como “formas emergentes de leitura e escrita das

cidades por meio dos dispositivos móveis digitais”.

(41)

32 está. Também é possível, por meio deste sistema, “navegar” pela cidade através dos dados de localização como endereços e marcos como monumentos e prédios.

Outra maneira de se obter a localização de um indivíduo através do telefone celular é detectar por qual célula de transmissão de serviço de telefonia ele está passando naquele momento. Os dados não são tão aproximados quanto os do GPS, mas é possível detectar a região em que o

usuário se encontra. Um exemplo de aplicação desse tipo de tecnologia é o Whereabouts Clock (VAZ, 2008). A partir de um display de cristal líquido, exibe-se o local em que está cada membro de um determinado grupo (uma família ou uma equipe de trabalho, por exemplo), utilizando como referência a torre de transmissão de telefonia celular que está mais próxima de cada usuário. As regiões podem ser “marcadas” previamente como “escritório”, “casa” ou “escola” e, ao passar por uma delas, o usuário deixa, a partir de seu celular,

uma pista de seu paradeiro, que ficará exposta na tela do Whereabouts Clock.

Em uma escala de menor alcance, um usuário pode ser detectado a partir da tecnologia de conexão sem fio via Bluetooth, presente comumente em celulares e computadores. No Brasil, o Bluetooth é muito utilizado para ações

(42)

33 de marketing, como o recebimento de uma mensagem comercial quando se passa próximo de um ponto de transmissão de dados que utiliza essa tecnologia. Por exemplo, o usuário entra em uma concessionária de veículos e recebe informações sobre os lançamentos de uma determinada montadora. Também é possível detectar celulares e notebooks próximos, que estão habilitados com a mesma tecnologia e enviar dados e arquivos a outros usuários que também tenham ativado a conexão em seus dispositivos móveis.

A tecnologia RFID (sigla em inglês para Identificação por Rádio Freqüência) também permite detectar a aproximação do usuário. Um exemplo de aplicação é um protótipo desenvolvido pela Sony chamado Wereable Key (VAZ, 2008). O dispositivo, preso a uma pulseira, permite a identificação do usuário

quando ele se aproxima de um computador ou de um celular compatíveis com a tecnologia, fazendo com que a máquina carregue automaticamente suas configurações, que estão presentes em sua identificação transmitida via rádio.

Howard Rheingold (2002) sugere usos diferentes para essas tecnologias de conexão sem fio:

Por meio do Bluetooth e de outras tecnologias sem fio de curto alcance, como o rádio de banda larga com potência muito baixa, os membros individuais da comunidade poderiam realizar trocas de informações de forma mais íntima e pontual nos encontros face a face, enquanto que as tecnologias WiFi ofereceriam a infra-estrutura para a comunicação no bairro e na Internet. (RHEINGOLD, 2002, p. 197, tradução nossa)

Figura 3 – Protótipo da Wearable Key Fonte: (MATSUSHITA et al, 2000 apud

(43)

34 A possibilidade de se detectar a localização do usuário a partir do telefone celular pode mudar a forma como ele é tratado dentro de suas redes sociais. Atualmente, quando recebemos uma ligação, a primeira pergunta feita é “Onde você está?”, porque a informação da localização faz toda a diferença quando você pode ser acessado de qualquer lugar. O local onde o usuário está pode, inclusive, determinar se a conversa irá adiante ou não.

Ao trafegar nos ambientes urbanos com seus telefones celulares à mão

Os usuários podem reconhecer outros usuários, anotar eletronicamente um espaço (deixando sua marca com um texto, uma foto, um som ou um vídeo), localizar ou mapear lugares ou objetos urbanos, ou mesmo jogar, tendo como pano de fundo ruas, praças e monumentos. (LEMOS, 2007).

Além da capacidade de poder dar um novo sentido a paisagens já conhecidas, a conexão sem fio em movimento oferecida pelos celulares pode incentivar seus usuários a participarem de redes sociais móveis. Em linhas gerais, as redes sociais que têm por principal atrativo a localização dos usuários indicam quando a aproximação entre dois integrantes, mesmo que eles não se conheçam pessoalmente. Neste caso, um encontro real pode acontecer. “Por criar e potencializar redes de sociabilidade, esses projetos

buscam significar o espaço urbano por meio do reforço comunitário” (LEMOS, 2007).

(44)

35 conclusão da pós-graduação em Mídias Interativas no Centro Universitário Senac (VAZ, 2008), analisei o aplicativo Mscape, desenvolvido nos laboratórios da HP, que tem como principal atrativo uma ferramenta com a qual é possível fazer “anotações virtuais” sobre um determinado local, utilizando como ponto de referência as coordenadas geográficas. É como deixar um recado que pode ser acessado por outros usuários que também tenham instalado o aplicativo em seus telefones celulares.

Em texto, som e imagem, as indicações de um usuário para um determinado passeio (por exemplo, as anotações feitas em pontos diversos de um grande parque) ficam disponíveis no site do projeto2 e recebem avaliações de quem experimentou o roteiro proposto. Qualquer pessoa que tenha um celular equipado com GPS pode baixar um roteiro pelo site e integrá-lo ao passeio que fará por um determinado local. Ao passar pelas coordenadas geográficas pré-definidas pelo autor do roteiro, as anotações feitas aparecem na tela do celular.

Depois de experimentar um dos roteiros disponíveis, o usuário também pode fazer a sua própria narrativa, que os autores do projeto chamam de mediascapes, e deixar disponível para download no site.

É possível dizer que os jogos têm funcionado muito bem como mediascapes. Um deles é um caça-fantasmas virtual dentro da Torre de Londres. A partir de pistas deixadas em determinados pontos dentro da construção, o usuário precisa encontrar fantasmas que lhe contarão uma história sobre o lugar.

2

(45)

36 Figura 4 – Tela de simulação do Mscape (VAZ, 2008)

Lemos (2007) vê essas manifestações como uma forma de vermos o mesmo espaço urbano pelo qual passamos diariamente “como se fôssemos

estrangeiros em nossas próprias cidades”. O pesquisador também chama a atenção para a desconstrução de um espaço virtual, sem ligação com o real, que supunha-se que surgiria com a intensificação da presença de ferramentas digitais no cotidiano:

Na medida em que vamos „desplugando‟ nossas máquinas de fios e cabos, à medida que redes de telefonia celular, Bluetooth, RFID ou Wi-Fi fazem das nossas cidades máquinas comunicantes „desplugadas‟ e sem fio, paradoxalmente vamos criando projetos que buscam exatamente o contrário, territorialização, ancoragem no espaço físico, acoplagem a coisas, lugares, objetos, pessoas. (LEMOS, 2007).

No final de 2007, o site do aplicativo Mscape tinha uma dezena de

mediascapes disponívels para download. Quase dois anos depois, há mais de

(46)

37 têm trilhas sonoras para serem usadas durante o passeio ou imagens que são exibidas quando se está em uma determinada localização.

Há muitos jogos e roteiros de passeios, como um que sugere ao usuário circular pela região de Bristol, no Reino Unido, e encontrar construções e monumentos da década de 1950 que foram substituídos com o passar do tempo. As aplicações são tão variadas que até a reprodução do caminho feito durante o primeiro encontro de um casal pode ser acessado através de um mediascape.

“As diversas formas de interação possíveis a partir das redes móveis que utilizam como diferencial a localização do usuário criam “um „lugar‟, algo

dotado de sentido, na indiferenciação dos espaços urbanos” (LEMOS, 2007).

Essas aplicações também costumam ser chamadas de mídias locativas.

3.1 – Mídias locativas

André Lemos (2008) define mídias locativas como “um conjunto de

(47)

38 3.1.1 Realidade aumentada

Pode-se chamar de realidade aumentada a sobreposição de elementos virtuais sobre a paisagem real, seja por projeções feitas diretamente sobre os objetos do mundo real ou pela mistura de elementos virtuais e reais diretamente na tela do dispositivo computacional, fixo ou móvel. Ronald Azuma (1997), estudioso do assunto, afirma que aplicações que utilizam a realidade aumentada deixam o mundo real mais rico, ao invés de simplesmente substituí-lo por conteúdo digital. “A Realidade Aumentada enriquece a percepção do usuário e sua interação com o mundo real. Os objetos virtuais exibem informações que o usuário não pode detectar diretamente com seus próprios sentidos” (AZUMA, 1997, tradução nossa).

“As mídias locativas permitem que informações sobre uma determinada

(48)

39 Figura 5 – Telas do MARA, da Nokia

Fonte: (KÄHÄRI; MURPHY, 2006 apud VAZ, 2008)

O projeto obedece três requisitos básicos idealizados por Azuma (1997) para definir uma aplicação de realidade aumentada: o MARA mistura o real e o virtual dentro de um ambiente físico (o que é feito através das imagens captadas pela câmera do celular), sua interação acontece em tempo real (a partir do servidor central que responde aos dados do GPS) e a aplicação, por ocorrer no mundo físico e não em uma tela estática, ocorre em 3D.

3.1.2 Mapeamento e monitoramento do movimento

Lemos (2008) define essa categoria como “funções locativas aplicadas a

formas de mapeamento (mapping) e de monitoramento do movimento (tracing) do espaço urbano através de dispositivos móveis”. Um exemplo desse tipo de aplicação é o Whereabouts Clock, que já foi apresentado anteriormente e permite supervisionar o movimento de um determinado usuário, ou de um grupo, dentro de uma região específica.

(49)

40

Com freqüência, estar em movimento é estar sujeito a vigilância e monitoramento, uma vez que não há mais uma distância material, espacial, temporal ou informacional entre o sistema de vigilância/monitoramento e o objeto/sujeito que está sendo observado. (BRUNO, 2009, tradução nossa)

O telefone celular nos permite ficar conectados e acessíveis durante as 24 horas do dia, mas a conexão permanente tem seu preço: “O celular não nos

deixou um só lugar onde podemos estar sozinhos, seja no carro, no parque ou no topo de uma montanha” (LEVINSON, 2004, p. 63, tradução nossa). Por um lado, temos à nossa disposição as informações e as pessoas de que precisamos ao alcance dos dedos, porém, por outro, também estamos à disposição de todos os nossos contatos, sejam eles nossos familiares e amigos ou os colegas de trabalho. Além disso, o usuário comum pode não ter conhecimento tecnológico suficiente para saber se seu telefone celular está sendo monitorado remotamente.

3.1.3 –Geotags

Nesses tipos de mídias locativas, o objetivo é agregar informação digital a mapas, colocando tags (etiquetas) repletas de informação sobre um determinado ponto indicado por coordenadas geográficas, que estão acessíveis a partir de um clique.

(50)

41 que combina a criação e o compartilhamento de conteúdo feito pelo usuário, combinado ao acervo multimídia do canal de TV RAI. Esses arquivos em vídeo estão sendo ligados a locações físicas em Veneza, por meio de pontos de transmissão por Bluetooth instalados em locais estratégicos, enriquecendo a experiência dos turistas que visitam a região, que podem assistir os vídeos pelo celular.

Figura 6 – O mapa de Veneza e as tags de informação

Os vídeos de arquivo e os que são feitos pelos turistas podem ser acessados pelo site do projeto3, onde um mapa de Veneza está repleto de pontos de visita clicáveis. O objetivo é que quem está em casa também tenha acesso os vídeos pelo computador. Pode-se dizer que essas aplicações são, efetivamente, “uma reconfiguração do urbano, uma nova relação entre a esfera mídiatica e o espaço urbano” (LEMOS, 2008).

O serviço Google Maps concentra uma série de aplicações de geotagging e permite que sejam criados roteiros sobre os mapas virtuais disponibilizados para usuários de todo o mundo. Essas aplicações baseadas

3

(51)

42 na marcação em mapas se tornaram tão populares que, no início de julho de 2009, o Google fez um movimento reverso: trouxe sua aplicação para celulares chamada My Location, que marca a posição do usuário de celular dentro da interface do Google Maps, para o desktop e o laptop (BLOCK, HAIM; 2009).

Quando o usuário de um PC visita a página do Google Maps com um dos browsers que suportam o recurso (como o Firefox 3.5 e o Chrome 2.0), um botão exibido na tela do My Location convida o usuário a detectar sua localização no mapa e, por meio do rastreamento do IP de sua rede ou da rede Wi-Fi que ele estiver utilizando, o círculo azul conhecido dos usuários móveis vai dar a localização do seu desktop.

Figura 7 - O My Location detecta onde está o computador, dentro da casa do usuário

(52)

43 3.1.4 Anotações urbanas

“A anotação digital dos lugares e objetos físicos poderia favorecer a interconexão entre grupos de pessoas dentro de uma localidade”

(RHEINGOLD, 2002, p. 128, tradução nossa). As mídias locativas permitem a utilização de celulares, palms, etiquetas RFID ou redes Bluetooth para indexar mensagens (SMS, vídeo, foto) a lugares, como “recados” deixados para quem

passar pelo mesmo local posteriormente. Além do Mscape, que vimos anteriormente, muitos projetos têm sido desenvolvidos nesse sentido e grande parte deles é colaborativa.

São inúmeras as aplicações que utilizam o sistema de Posicionamento Global por Satélite presente em um número cada vez maior de modelos de telefones celulares. Um exemplo recente é o filme feito com base em coordenadas GPS chamado Nine Lives4, lançado em setembro de 2008. Realizado por Scott Hessels e estudantes de arte e engenharia da Nanyang Technological University, o filme transforma a cidade de Cingapura no cenário de uma trama. O interator (que, aqui, não pode mais ser chamado simplesmente de espectador) precisa de um dispositivo móvel com GPS por meio do qual, de acordo com suas coordenadas geográficas (latitude e longitude), consegue baixar uma parte do filme. São pequenas histórias que se cruzam, como uma espécie de jogo pra encontrar pistas, em que o participante percorre a cidade em busca de novas informações para entender todo o filme.

A interação com o espaço urbano é uma forte característica do filme GPS. Cingapura pode ser considerada o principal personagem da trama,

4

(53)

44 porque é através da cidade real que o interator vive a história. Quando ele conhece a cidade e assiste aos trechos do filme nos locais em que eles podem ser baixados, a percepção da história pode ser diferente da de quem recebeu os arquivos com todos os trechos do filme e está em São Paulo, por exemplo. São tipos diferentes de experimentar a mesma narrativa. “A familiaridade com as ruas, os prédios, os parques - com a experiência urbana local – enriquecem a trama narrativa” (FIORELLI, BRUNET, 2008).

O Nine Lives proporciona a experiência de se assistir um filme em movimento, no qual é possível, inclusive, que o interator escolha a ordem em que quer ver os trechos do filme. Em entrevista, o criador do filme, Scott Hessels, afirma: “A idéia de que o cinema é algo visto enquanto sentado e

parado não é uma característica formal do meio (cinema), é uma limitação da tecnologia”. (FIORELLI, BRUNET, 2008).

3.1.5 Wireless mobile games

Os wireless mobile games são jogos realizados nos espaços urbanos que agregam várias funções das mídias locativas. O primeiro jogo para celular baseado na localização do usuário (em inglês location-based mobile games, ou LBMGs) lançado comercialmente no Brasil foi o Alien Revolt (SOUZA E SILVA, 2008). O jogo transformou a cidade do Rio de Janeiro em um campo de batalha restrito para os usuários de celulares compatíveis com aplicações na linguagem Java.

Os LBMGs são um bom exemplo para mostrar que “os telefones

(54)

45 aparelhos passam a ser usados como ferramentas de comunicação coletivas”

(SOUZA E SILVA, 2008, tradução nossa). E não é apenas a interação com o espaço físico que esses jogos proporcionam, eles também incentivam a colaboração entre os usuários, provocando a criação de uma rede virtual que pode extrapolar para o mundo físico, uma vez que os participantes do jogo podem promover encontros face a face para se conhecerem pessoalmente.

Entre 2005 e 2007, o jogo Alien Revolt serviu como uma ferramenta para compreender as diferenças existentes entre os usuários de celular no Brasil, que são grandes quando se leva em conta o poder aquisitivo de cada um. O game só funcionava para quem tinha um determinado modelo de celular fabricado pela Nokia, de preço mais alto do que a média, capaz de rodar a aplicação em Java desenvolvida para o jogo. Além de ter um telefone mais caro, os interessados ainda tinham que pagar pelas mensagens SMS geradas de acordo com o andamento do jogo e pela transmissão de dados pela Internet sem fio.

(55)

46 Em resumo, o estudo de caso concluiu que, apesar de serviços de ponta como o jogo Alien Revolt estarem disponíveis para os modelos pré-pagos, a maioria dos usuários não quer pagar por eles “porque sua principal

preocupação é controlar seus custos” (SOUZA E SILVA, 2008, tradução nossa) com o aparelho. Usuários entrevistados para a pesquisa disseram que haviam desistido de participar do jogo porque “ele estava se tornando muito caro”.

Como já dissemos anteriormente, Lemos (2008) define “áreas de

controle do fluxo informacional digital em uma zona de intersecção entre o ciberespaço e o espaço urbano” como territórios informacionais. Esses

territórios “estão vinculados aos demais territórios, sejam eles culturais,

Imagem

Figura 1  –  iPhone: o primeiro celular com tela  sensível ao toque
Figura 2  –  Protótipo do Whereabouts Clock  Fonte: (SELLEN et al, 2006 apud VAZ, 2008)
Figura 3  –  Protótipo da Wearable Key  Fonte: (MATSUSHITA et al, 2000 apud
Figura 6  –   O mapa de Veneza e as tags de informação
+2

Referências

Documentos relacionados

Se a unidade interior que está definida para a Definição de Comparti- mento Prioritário estiver a funcionar a alta potência, as capacidades das outras unidades interiores serão

As traçadeiras de bancada PRECISIO serram até uma altura de corte de 70 mm: basta comutar o batente angular de corte chanfrado para corte longitudinal para-graças ao pára-farpas,

Isso pode indicar aumento relativo da capacidade de pesquisa, gerando maior procura pelo CT-Hidro e por recursos de outros fundos para essa área (por exemplo, em 2008 foram

Conclui-se que a Diabetes Melittus Tipo II é uma enfermidade crônica que aparece quando o pâncreas não produz insulina suficiente ou quando o organismo não utiliza

Mas, se a experiência não tiver, além do seu caráter subjetivo, uma natureza objetiva que possa ser apreendida de diversos pontos de vista, então como se poderia supor que um

Mas se a experiência não tem, além do seu carácter subjectivo, uma natureza objectiva que possa ser apreendida de muitos pontos de vista diferentes, como se poderá

estatuto dos factos acerca de como é ser um humano, ou um morcego, ou um marciano, parece que estes são factos que corporizam um ponto de vista particular. O ponto

Evaporação: mais moléculas deixa a superfície água do que aderem Condensação: mais moléculas aderem a superfície água do que deixam Pressão de vapor (e): pressão exercida