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New Dubliners: análise de uma tradução literária e a intertextualidade na mesma língua

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Academic year: 2020

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N ew Du bl in er s: A n á lis e d e U m a Tr ad ã o Lit erá ria e a I n te rt ex tu al id ad e n a M es m a n gu a Dia na C ar oli na Carv al ho M arti ns ho | 2017

Universidade do Minho

Instituto de Letras e Ciências Humanas

Diana Carolina Carvalho Martins

New Dubliners

: Análise de Uma

Tradução Literária e a

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Universidade do Minho

Instituto de Letras e Ciências Humanas

Diana Carolina Carvalho Martins

New Dubliners

: Análise de Uma

Tradução Literária e a

Intertextualidade na Mesma

Língua

Relatório de Projeto

Mestrado em Tradução e Comunicação Multilingue

Trabalho efetuado sob a orientação da

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DECLARAÇÃO

Nome: Diana Carolina Carvalho Martins

Endereço eletrónico: stardustlettersdccm@gmail.com Telefone: 913921582 Cartão do Cidadão: 14400342

Título da dissertação: New Dubliners: Análise de Uma Tradução Literária e a Intertextualidade na Mesma Língua

Orientadora:

Professora Doutora Maria Filomena Louro

Ano de conclusão: 2017

Mestrado em Tradução e Comunicação Multilingue

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, ___/___/______

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AGRADECIMENTOS

À Doutora Maria Filomena Louro, que me deu a oportunidade de expandir os meus horizontes literários e pela valiosa ajuda que proporcionou nesta última etapa da minha vida académica.

A todos os meus professores, de licenciatura e mestrado, por tudo o que me ensinaram ao longo destes anos.

Aos meus colegas, pelo espírito de companheirismo e simpatia que demonstraram nesta jornada.

À Tatiana, por tudo. Muita coisa não teria sido possível sem o seu apoio, amizade e paciência.

À Diana Carvalho, por todas as experiências de vida partilhadas e por ser uma presença constante desde o início desta aventura.

Ao Patric, por me ter ajudado a ver novos caminhos quando tanto as janelas como as portas pareciam fechadas.

Aos meus amigos, pelos sorrisos, apoio e sessões extremamente competitivas de UNO para descontrair.

À minha mãe, por todos os sacrifícios, apoio e ajuda, por aturar dúvidas estranhas e por simplesmente estar lá quando mais precisava.

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New Dubliners: Análise de Uma Tradução Literária e a Intertextualidade na Mesma Língua

RESUMO

O seguinte relatório é um trabalho de investigação no âmbito de tradução literária e intertextualidade. O principal objeto de estudo é New Dubliners, uma coletânea de contos de celebração de 100 anos de Dubliners de James Joyce, sendo esta última obra um objeto de estudo complementar.

Como ponto inicial, é fornecida uma breve explicação da metodologia de trabalho, bem como a apresentação da obra traduzida, seguida de pequenos resumos dos contos traduzidos pela aluna, com o objetivo de fornecer contexto necessário para os segmentos posteriores. Segue-se a análise da tradução, na qual os problemas encontrados são divididos por categorias, incluindo as soluções e explicação para a escolha destas. É também feita uma breve documentação do percurso percorrido desde a fase preparatória até à fase de revisão e edição. Posteriormente, é feita uma introdução ao conceito de intertextualidade, servindo esta de introdução ao estudo da intertextualidade entre textos na mesma língua, sendo as obras usadas para este efeito New Dubliners e Dubliners. Por fim, é explicada sumariamente a importância do conhecimento sobre a cultura do texto de partida para realizar uma tradução competente.

Uma análise detalhada de uma tradução tem o benefício acrescido de servir como referência para futuros trabalhos, facilitando a resolução de alguns problemas através da consulta do registo de obstáculos previamente encontrados.

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New Dubliners: Analysis of a Literary Translation and Intertextuality in the Same Language

ABSTRACT

The following report consists in investigative work in the context of literary translation and intertextuality. The main focus of study is New Dubliners, a collection of short stories celebrating 100 years of James Joyce’s Dubliners, the latter being a supplementary focus of study.

As a starting point, a brief explanation of the working methods is provided, as well as the introduction of the translated work, followed by small summaries of the short stories translated by the student, for the purpose of providing necessary context for later segments. This is followed by an analysis of the translation, in which problems found will be divided by categories, including solutions and their explanations. A brief documentation of the journey is also made, from the preparatory stage to the proofreading and editing. Subsequently, an introduction to the concept of intertextuality is made, serving as an introduction to the study of intertextuality between texts in the same language, the works used for this purpose being New Dubliners and Dubliners. Finally, the importance of the knowledge about the source text’s culture to do an appropriate translation is briefly explained.

A detailed analysis of a translation has the added benefit of serving as reference for future works by helping solving some problems through consultation of records of previously found obstacles.

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ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ... 1 2. NEW DUBLINERS ... 3 3. CONTOS TRADUZIDOS ... 4 4. METODOLOGIA DE TRABALHO ... 8 5. ANÁLISE DA TRADUÇÃO ... 11 5.1. Adaptação de medidas ... 11 5.2. Adaptação geral ... 13 5.3. Calão ... 14 5.4. Gralhas ... 18 5.5. Gíria ... 18 5.6. Exceções ... 19 5.7. Expressões idiomáticas ... 20 5.8. Locais ... 21 5.9. Omissão ... 21 5.10. Onomatopeias ... 23 5.11. Problemas Básicos ... 23 5.11.1 Estrutura ... 23 5.11.2 Dificuldade de compreensão ... 24

5.12. Referências desnecessárias ao sujeito ... 25

5.13. Significado depende de contexto posterior ... 26

6. INTERTEXTUALIDADE NA MESMA LÍNGUA ... 30

7. CONCLUSÃO ... 35

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1- Gírias "Duas Pequenas Nuvens" ... 19 Tabela 2- Gírias "Recuperação" ... 19 Tabela 3- Gírias "Imagens" ... 19

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1. INTRODUÇÃO

O presente projeto consiste numa abordagem prática ao estudo de uma tradução literária, seguido de uma secção teórica sobre intertextualidade. O objetivo deste é salientar os potenciais problemas encontrados ao longo da tradução de prosa e fornecer sugestões de soluções para estes com base na experiência obtida ao longo da tradução dos contos. Uma tradução pode variar consoante as circunstâncias, principalmente as culturais e históricas. Apesar das várias teorias existentes sobre vários aspetos da tradução, sendo alguns exemplos de contribuidores Anthony Pym, Mona Baker e Peter Newmark, a única coisa na qual se concorda é que não é possível afirmar que existe apenas uma só forma de traduzir algo, isto é, não se pode afirmar que uma tradução está errada simplesmente porque o tradutor fez escolhas diferentes das que outra pessoa faria.

Atualmente, é dada maior importância às áreas científicas, tendo a tradução literária ficado em segundo plano. No entanto, segundo Cohen, a própria tradução teve o seu início com o aparecimento da literatura escrita1. Holman e Boase-Beier complementam a declaração ao afirmar que a manipulação criativa da língua de partida pode ser observada desde a tradução das versões grega, hebraica e aramaica da Bíblia para latim e na tradução dos clássicos gregos de, por exemplo, Homero e Platão2.

A queda do Império Romano do Ocidente causou um declínio no conhecimento da língua grega e vários documentos não tiveram a oportunidade de serem traduzidos para latim. No entanto, após a “Quarta Cruzada”, os eruditos finalmente ganharam acesso aos textos de vários cientistas e filósofos como Aristóteles e começaram a traduzi-los para latim juntamente com os restantes clássicos gregos para os tornar mais fáceis de compreender para os estudiosos. Os tradutores são vistos como pontes entre diferentes culturas que permitem aos leitores, tal como os estudiosos previamente mencionados, acesso a novos horizontes. No entanto, é necessário ter consciência de que são horizontes diferentes ao recriar o mundo criado pelo autor. É o que Peter Newmark3 inclui na sua

1J. M. Cohen, “Translation”. Encyclopedia Americana, Vol. 27 (New York: Grolier, 1986), p.12.

2 Jean Boase-Beier e Michael Holman, “Introduction: Writing, Rewriting and Translation Through Constraint to Creativity”. The

Practices of Literary Translation: Constraints and Creativity (New York: Routledge, 2014), pp.30-31.

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definição de tradução ao afirmar que é a transferência do significado de um texto para outra língua desde que este esteja de acordo com as intenções originais do tradutor.

Para traduzir corretamente é necessário conhecer a cultura do texto de partida e do texto de chegada, de modo a permitir que os leitores das duas culturas tenham a mesma experiência. Michel Riffaterre4 chega mesmo a considerar o texto literário como um artefacto cultural, afirmando que a tradução deve imitar/refletir os detalhes do original. Para tal, é necessário estar bem versado nos detalhes em questão. Clifford Landers reforça esta ideia ao afirmar: “(…) all facets of the work, ideally, are reproduced in such a manner as to create in the TL reader the same emotional and psychological effect experienced by the original SL reader.”5 Tal significa que o tradutor deve considerar todos os detalhes na

obra, desde o estilo à parte lexical, gramatical e fonológica.

A prosa fornece uma vasta gama de problemas aos seus tradutores, principalmente quando as culturas da língua de partida e da língua de chegada são diferentes; nesta situação o tradutor tem que encontrar uma solução para permanecer fiel ao texto original enquanto fornece aos leitores da tradução uma experiência igual ou, pelo menos, semelhante à dos leitores da versão original. Tais problemas são abordados no capítulo 5 do presente trabalho deviamente exemplificados.

O conceito de intertextualidade é apresentado tendo como exemplo a comparação entre New Dubliners e Dubliners, obras que partilham mais do que o nome da cidade. No capítulo 6, é feita uma análise das duas obras e o conceito de intertextualidade é explorado com base na comparação feita entre estas. É também discutido o grau de fidelidade da homenagem à obra original e como mesmo o detalhe que partilha menos semelhança nas obras é um exemplo de intertextualidade.

Em geral, é feita uma análise da obra traduzida do ponto de vista da parte prática da tradução e do ponto de vista de intertextualidade, demonstrando a importância do estudo de ambas para a obtenção de um conhecimento mais aprofundado que resulta na melhoria da qualidade. Esse conhecimento é crucial para uma tradução fiel ao significado pretendido pelo autor que fornece simultaneamente a mesma experiência aos leitores da língua de chegada que os leitores da língua de partida tiveram.

4Michel Riffaterre apud Sachin Ketkar, Literary Translation: Recent Theoretical Developments

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2. NEW DUBLINERS

Em 1905, James Joyce tencionava ver a sua obra sobre o povo de Dublin publicada. Quis o destino que tal não acontecesse, obrigando o autor a enviar o livro 18 vezes a 15 editoras entre a data original e 1914, data em que a obra foi finalmente publicada.6Um retrato de Dublin, Joyce pintava nos seus contos as vidas dos habitantes da capital irlandesa, que enfrentavam na altura uma crise de identidade cultural. Os tópicos abordados por Joyce eram considerados controversos, ao ponto que lhe foi pedido que alterasse excertos e de recusarem a impressão de um dos contos (“Dois Galantes”)7.

Para celebrar um século de existência da obra, Oona Frawley deu vida a New

Dubliners, uma coletânea de 11 contos de vários autores irlandeses. Com um total de 11

contos, a obra foi publicada em 2005, celebrando cem anos desde a data original que James Joyce tinha em mente para a publicação da sua própria coletânea.

Nesta homenagem, os contos reutilizam o tema original ao retratar a vida da geração atual de dublinenses, colocando em perspetiva as diferenças entre as duas épocas. No entanto, ao contrário de Gente de Dublin, cujos contos estavam organizados de forma a representar a infância, adolescência e maturidade, não existe nenhuma ordem específica na distribuição. Apenas o conto de Joseph O’Connor (“Duas Pequenas Nuvens”) tem uma ligação direta a Joyce, homenageando o conto “Uma Pequena Nuvem”. Os restantes autores renovaram o legado de Joyce, seja com um estilo de escrita digno de Joyce ou com uma exposição da realidade dublinense atual que rivaliza com a original.

6Lee Spinks, “Life and Contexts”. James Joyce: A Critical Guide. (Edinburgh: Edinburgh University Press Ltd, 2009), p.25 7William York Tindall, “Dubliners”. A Reader’s Guide to James Joyce. (New York: The Noonday Press, Inc., 1959), p.4

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3. CONTOS TRADUZIDOS

Como mencionado previamente, os contos incluídos no presente trabalho são apenas parte da obra completa. Assim sendo, apenas os contos traduzidos pela aluna estarão presentes neste segmento.

Duas pequenas nuvens:

Escrito por Joseph O’Connor, este é o primeiro conto da coletânea e uma homenagem direta a um dos contos encontrados na obra Dubliners, “A Pequena Nuvem”. A história é contada do ponto de vista de um emigrante que regressa temporariamente a Dublin e relata um encontro acidental com um velho conhecido. O nome da personagem principal é Victor Mature, tendo sido o primeiro nome que Eddie usou para o cumprimentar. Tal como no conto “A Pequena nuvem”, grande parte da história passa-se num bar, onde os dois homens trocam impressões sobre as suas vidas e Dublin. A conversa foi praticamente unilateral, a tal ponto que Victor chega a comentar que parecia que Eddie estava a falar para ele como se estivesse a ser entrevistado. Depois de se despedirem, Victor encontra Audrey, a suposta ex-esposa de Eddie, apenas para descobrir que tudo o que o seu velho conhecido lhe tinha dito era mentira.

Recuperação:

O conto de Roddy Doyle foca-se numa das caminhadas de Hanahoe e nas suas reflexões internas. Hanahoe, um homem de meia-idade ou possivelmente até idoso, caminha todos os dias, seguindo a sugestão dos vários médicos consultados. Ao longo da caminhada, Hanahoe recorda vários momentos da sua vida, pintando um quadro sobre a sua vida em Dublin ao longo dos anos. No entanto, parece apresentar algumas dificuldades em lembrar-se e insegurança nas suas próprias opiniões, acrescentando “acho” a várias afirmações que faz. Ao longo da reflexão é possível ver-se um progresso desde a infância dos filhos à situação atual, intercalado por alguns momentos que consistem em relembrar conversas com os médicos e até mesmo a sua própria infância. Por fim, Hanahoe parece conformar-se com a sua solidão mas exprime alguma esperança de que os netos façam algo. Contudo, acrescenta que não sabe se esses netos existem, acentuando ainda mais a sua vida solitária.

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A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras:

O conto de Ivy Bannister tem como personagem principal a Sra Hyde, uma dona de casa de Dublin que lida com os seus problemas ao fazer compras excessivas, chegando a afirmar que ao espalhar a dor por vários pares de sapatos, esta é mais suportável. O conto começa com uma das suas maratonas de compras, cujo ponto principal é uma echarpe azinhavre que a Sra Hyde compra por capricho, apenas porque outra cliente comentou que a cor era peculiar.

O filho mais novo, Danny é apresentado como um jovem mimado que acha que pode fazer o que quer sem sofrer qualquer consequência, algo demonstrado pelo facto de ter saído da escola sem autorização para ir comprar batatas fritas e quando envenena o gato após ler um livro sobre o venenos.

Carrie, a filha mais velha na fase de rebeldia, ressente a atitude passiva da mãe, bem como o seu hábito de gastar dinheiro em roupas para evitar confrontar problemas; tem problemas com o pai, pois este quer obrigá-la a seguir um curso que ela não quer; e, por fim, os irmãos estão sempre em conflito.

Michael é um homem de sucesso que não investe muito tempo na família. Segundo as memórias nostálgicas da Sra Hyde, após ter criado fortuna, Michael mudou drasticamente. É possível que tenha uma amante, visto que a esposa encontrou um recibo de um hotel e, mais tarde, a Sra Hyde ouve Carrie ameaçar o pai, dizendo que se não lhe desse o que queria, contava tudo.

O conto foca-se no dia-a-dia desta família disfuncional, contado do ponto de vista da dona de casa, seguindo a interação entre os membros da família e as tarefas da Sra Hyde, que incluem um gato desaparecido e uma torneira por consertar. Ao longo do conto, várias coisas têm desaparecido, entre estas dinheiro, um par de sapatos e o gato. Eventualmente, a Sra Hyde descobre o paradeiro destes, juntamente com as causas do desaparecimento. O conto acaba com a dona de casa, que toda a família considera inútil, a consertar a torneira, demonstrando uma possível mudança de atitude na Sra Hyde.

Imagens:

Desmond Hogan brinca com o conceito do termo “pictures”, aplicando os vários significados da palavra ao longo do conto. Contado do ponto de vista da personagem principal, com descrições detalhadas e vívidas que fornecem ao leitor uma visão mental do que a personagem está a ver. Este conto pinta um lado mais culto e refinado de Dublin,

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com várias menções a artes e de roupas elegantes, dando uma ideia de que a personagem principal faz parte de uma família abastada, que vive relativamente afastada do lado menos requintado de Dublin. Apesar de serem mencionados membros da família e alguns eventos específicos, o conto parece focar-se mais no estilo de vida e a forma como a personagem vê o mundo.

Como se Houvesse Árvores:

A personagem principal do conto de Colum McCann é Mary, uma empregada no The Well que serve de narradora da história. Quando estava a caminho de casa, no fim do seu turno, Mary repara em Jamie, um jovem de dezassete anos que vive no mesmo complexo de apartamentos. Tendo sido apanhado a drogar-se no local de trabalho, Jamie foi despedido e, apesar de ter pedido ajuda à Comissão de Moradores, sendo o único dos apartamentos a trabalhar na passagem superior, não o puderam ajudar. Paralelamente aos problemas dos próprios nativos de Dublin, existe uma certa animosidade dirigida aos emigrantes, visto que muitos moradores acreditam que estes lhes roubaram os empregos, ao ponto de lhes ser recusada a prestação de serviços.

Mary observa Jamie, que se dirige a cavalo em direção à passagem superior onde este tinha trabalhado, temendo que o jovem fizesse algo grave, principalmente depois de ter visto a faca que Jamie tinha consigo. Inicialmente casual, Jamie pediu um cigarro ao romeno que estava na corda a verificar os parafusos da passagem antes de o atacar. Devido à animosidade sentida, os moradores tiraram um certo prazer macabro da ação, observando os eventos das varandas e, de certo modo, apoiando Jamie. Mary, apesar de concordar até certo ponto, sente-se relativamente culpada por o fazer.

A Avaliação:

No conto de Bernard MacLaverty, a história é contada do ponto de vista de Cassie Quinn, uma senhora da Irlanda do Norte que sofre de Alzheimer. Cassie sente que está a ser observada e que a sua estadia na clínica é um teste constante para a impedirem de voltar para casa. Ao longo do conto manifestam-se vários sintomas da doença, tais como esquecer-se de eventos recentes, dificuldades em reconhecer o filho e confusão. Cassie coloca ênfase no quão útil e eficiente consegue ser, tentando provar que consegue ser independente mas percebe-se que foi internada devido ao facto de começar a esquecer-se de comer e por quase ter causado um incêndio. O seu plano de fuga inclui a ajuda do seu

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irmão, Paul, que Christopher revela que já morreu há um ano e que Cassie foi informada desse facto várias vezes. A narração divide-se entre o presente e o passado, alternado entre as suas memórias do passado e o presente na instituição. Quando lhe é apresentada a sugestão de entrar para o sistema de cuidados residenciais, Cassie concorda verbalmente, questionado interiormente o porquê de estar a dizer palavras que não quer dizer. No fim, volta a repetir a ideia de voltar para casa com a ajuda de Paul.

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4. METODOLOGIA DE TRABALHO

Para a elaboração do presente trabalho de investigação, foi feita a tradução da obra

New Dubliners em colaboração com uma colega, Diana Carvalho, aluna do mestrado em

Tradução e Comunicação Multilingue. A obra foi escolhida com o auxílio da Professora Doutora Maria Filomena Louro.

A divisão do conteúdo pelas alunas foi feita com base no número de contos incluídos na coletânea. Uma vez que o número era ímpar, foi usado o número de páginas em cada conto para fazer uma divisão justa. Assim sendo, a aluna Diana Martins ficou com os seis primeiros contos e a aluna Diana Carvalho ficou com os cinco restantes. Para compensar a diferença de páginas restante, a tradução da introdução de Oona Frawley foi atribuída à aluna Diana Carvalho.

Os contos foram convertidos de formato jpg para formato de texto editável através do uso de um programa online de reconhecimento ótico de caracteres (onlineocr.net). Visto que cada conto tinha vários ficheiros jpg, foi necessário converter os ficheiros separadamente e juntá-los num só documento Word, tendo sido depois feita a revisão dos textos para corrigir palavras cujos caracteres foram convertidos incorretamente.

Como preparação para a tradução dos contos, foram escolhidas duas obras de cada autor para serem lidas, com o intuito de estudar o estilo de escrita destes. No entanto, não foi possível aplicar o plano a todos os autores, sendo que muitas das obras não se encontravam disponíveis. Assim sendo, não foi possível ler obras de Ivy Bannister e Bernard McLaverty. Para melhor compreensão da obra a ser traduzida, foi lida a obra homenageada (Gente de Dublin), bem como Strumpet City de James Plunkett para estudar a história de Dublin.

Após a fase de recolha de informação, os contos foram traduzidos. O programa utilizado para a tradução foi o MemoQ, pois a divisão do texto em segmentos alinhados facilitou o processo de tradução ao cortar o tempo de consulta do excerto que estava a ser traduzido. A função de gravação automática diminuiu a perda de trabalho feita caso o programa deixasse de responder ou o houvesse algum problema com o computador que

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impedisse a oportunidade de guardar o progresso feito. Para auxiliar o processo de tradução, foram usados dicionários online e em formato de papel.

Uma vez traduzidos, eram adicionados comentários onde existissem dúvidas antes do documento ser enviado à colega, Diana Carvalho, para revisão. Devido ao facto de ser um projeto conjunto, também foi necessário rever os contos da colega. Numa fase inicial, foi feita a revisão dos comentários a responder a dúvidas da colega e, quando estes não existiam, eram acrescentados comentários a assinalar problemas encontrados. O processo repetia-se até que não restassem comentários no documento. Nesta fase inicial, o foco era obter um documento totalmente traduzido antes de fazer uma revisão aprofundada.

Foi feita uma revisão aprofundada dos contos, após a revisão dos primeiros por parte da orientadora. Com base nas instruções dadas, foi possível corrigir detalhes previamente ignorados a fim de obter uma versão completamente traduzida. Assim sendo, foi feita a revisão dos restantes contos, utilizando uma vez mais o processo usado na revisão inicial.

Uma vez que o processo de tradução dos contos e o processo de revisão estavam a ocorrer ao mesmo tempo, foram também aplicadas as instruções dadas para a revisão aos contos que estavam a ser traduzidos. Tal resultou numa diminuição de ocorrências de, por exemplo, pronomes pessoais desnecessários quando o conto chegava a fase de revisão.

Ao usar o sistema de comentários na revisão, foi possível obter várias versões do mesmo conto, tendo os comentários servido como anotações a ser usadas na análise da tradução feita. A comparação entre versões permitiu também encontrar detalhes adicionais dignos de nota com base em alterações que tiveram que ser aplicadas após a revisão da mentora.

Por fim, para a realização da análise de tradução, foi feito um inventário de problemas e questões a mencionar que foram divididos em categorias com base nos apontamentos feitos nos comentários das revisões. Foi considerada a opção de organizar a análise por conto mas a hipótese de usar categorias é mais prática. Ao escolher a organização por conto, a análise tornar-se-ia repetitiva e desnecessariamente longa, pois vários problemas seriam reiterados várias vezes. Em cada categoria são mencionadas as

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ocorrências encontradas em cada conto, juntamente com uma explicação do problema e a respetiva solução. São também fornecidos exemplos de situações específicas. No entanto, não foram documentadas todas as ocorrências, pois existem categorias que teriam vários exemplos cuja situação é exatamente a mesma.

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5. ANÁLISE DA TRADUÇÃO

Todas as áreas de trabalho têm os seus problemas, sejam estes comuns ou específicos. A tradução literária não é uma exceção a esta afirmação, compartilhando problemas com os outros tipos de tradução mas apresentando alguns problemas que são encontrados com mais frequência nesta.

Este segmento do projeto de investigação tem como objetivo destacar as peculiaridades encontradas ao longo do processo de tradução, bem como fornecer as soluções encontradas para lidar com estas.

5.1. Adaptação de medidas

Com o mundo dividido entre o sistema imperial e o sistema métrico, nem todos compreendem as mesmas unidades. Assim sendo, é necessário fazer conversão dos valores apresentados para a unidade usada na cultura da língua de chegada de forma a facultar ao leitor da tradução a mesma experiência que um leitor do texto de partida teria.

Contudo, é raro obter uma conversão que não resulte em casas decimais, levando à necessidade de arredondar para um número inteiro. Por vezes, é necessário arredondar o número inteiro, sendo um exemplo disto as estimativas.

Tal é o caso do conto “Duas Pequenas Nuvens” de Joseph O’Connor:

Original: “Forty pounds heavier and just about bald, but it was him right enough.”

Tradução: “Vinte quilos mais pesado e praticamente careca, mas era ele, sem

dúvida.”

Ao converter o peso em questão, o valor obtido é cerca de 18,1437 quilos. Para usar um número inteiro correspondente ao original, o valor seria arredondado para 18. No entanto, usar o resultado obtido na conversão seria incorreto, pois é demasiado específico para ser uma estimativa visual por parte da personagem. Assim sendo, o número é uma vez mais arredondado para algo que acabe em 0 ou 5, sendo estes considerados mais vagos.

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Nos contos traduzidos, foi possível encontrar mais ocorrências nas quais foi necessário aplicar a solução previamente fornecida. Para converter as unidades encontradas, foram utilizados conversores online.

Conto “Como se Houvesse Árvores” de Colum McCann:

Original: “You could have stepped off it and fell forty feet.”

Tradução: “Podia-se dar um passo fora e cair dez metros.”

Conto “A Avaliação” de Bernard MacLaverty:

Original: “You weren’t looking after yourself at home. That’s why you were down

to six stone.”

Tradução: “Não estava a olhar por si em casa. Por isso é que só pesava quarenta

quilos.”

No conto “Recuperação” de Roddy Doyle, o exemplo encontrado continha uma unidade de medida que foi convertida mas, ao contrário dos outros casos, fez apenas parte de uma expressão:

Original: “There’s an inch of sudden water.”

Tradução: “De repente há alguns centímetros de água.”

O presente caso difere dos restantes na aplicação da medida. Enquanto os restantes exemplos visam fornecer informação sobre objetos, atribuindo altitude ou peso, o uso de “inch” neste conto é apenas simbólico. O seu uso limita-se a salientar a chuva repentina e abundante, sendo que não representa uma quantidade real. Apesar de uma polegada corresponder a 2,5 centímetros, a quantidade foi ocultada para manter o sentido original.

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Original: “He expired a few yards out at sea.”

Tradução: “Desfaleceu alguns metros dentro do mar.”

Neste caso, apesar de não ser apenas simbólico, é uma informação vaga, isto é, apenas se sabe que foram alguns metros. O número de metros concreto é desconhecido e é desnecessário fazer uma estimativa. Assim sendo, foi apenas adaptada a unidade de medida.

5.2. Adaptação geral

Para que um leitor de uma tradução tenha a mesma experiência que o leitor da obra original, às vezes é necessário fazer adaptações. Tais adaptações seguem o mesmo princípio de, por exemplo, expressões idiomáticas mas tratam-se de improvisações.

No conto de Joseph O’Connor, “Duas Pequenas Nuvens”, é possível encontrar dois tipos de adaptações:

Original: “Once bitten, twice bite — that’s young Edward’s motto now.”

Tradução: “Gato escaldado, arranha a dobrar — é esse agora o lema do jovem

Edward.”

Para traduzir este excerto, a expressão idiomática original foi traduzida, obtendo “gato escaldado de água fria tem medo”. Porém, visto que a intenção do autor era usar a expressão para um aumento de agressão e defesa, alterou-se a segunda parte para algo que um gato fizesse quando se sentisse ameaçado.

Original: “How could such a tiny being produce this Croagh Patrick of shit?”

Tradução: “Como é que um ser tão pequeno conseguia produzir esta montanha de

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No presente caso, simplificou-se o conteúdo original para “montanha” devido ao facto da intenção ser simplesmente comparar a quantidade de “merda” a uma montanha.

“A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras” de Ivy Bannister também contém um

exemplo relevante:

Original: “When you don’t eat, you don’t shit.”

Tradução: “Quando não tragas, não cagas.”

Devido à aliteração no texto de partida, foi necessário adaptar os termos usados no texto de chegada de forma a obter uma frase que fica no ouvido e contém aliteração. Tendo em conta que Carrie está no fim da sua adolescência, os termos usados são também apropriados para o tipo de linguagem que usa.

No conto “Como se Houvesse Árvores”, os jovens que estavam a jogar futebol mostraram ao Jamie “two fingers”. O “two finger salute” é uma variante usada no Reino Unido do gesto ofensivo que consiste em mostrar apenas o dedo médio. Foi também necessário uniformizar o uso do género atribuído ao cavalo. O autor refere-se ao cavalo como tal, ao usar “horse” em vez de “mare”, mas usa o pronome “she”, o que explicita que se trata de uma égua. Visto que o género do cavalo não é relevante para a história, sendo que só se sabe o género devido ao uso do pronome, o género foi uniformizado para o masculino.

5.3. Calão

Quando se trata de calão, existe o perpétuo debate sobre a devida forma de o traduzir. Para além do facto do inglês ser mais versátil, tende-se a suavizar o calão em português quando escrito. Assim sendo, em geral, evita-se o uso de terminologia mais vernácula.

Tal é o caso do conto “Recuperação” de Roddy Doyle:

Original: “A gang of young guys. Fuckin’ this, fuckin’ that. Rough kids.”

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E o mesmo se passa no conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras” de Ivy Bannister:

Original: “I’ll throw my fucking shoes if I want to throw them.”

Tradução: “Atiro a merda dos sapatos se me apetecer atirá-los.”

Os dois contos têm apenas um único exemplo de uso de calão. Como o conto em geral não tem conteúdos vulgares ou chocantes, não se justifica o uso de linguagem mais forte na tradução. Ao traduzir, por exemplo, “fucking shoes” como “caralho dos sapatos”, está-se a atribuir uma intensidade que parece fora de lugar em comparação ao resto do texto. Assim sendo, a suavização da terminologia é praticamente obrigatória.

No conto de Colum McCann, “Como se Houvesse Árvores”, é possível encontrar três exemplos diferentes:

Original: “I said, Fuck, and began running out from the lifts through the car park

into the field towards the overpass.”

Tradução: “Eu disse, Merda, e comecei a correr, através do parque de

estacionamento, pelo campo em direção à passagem superior.”

Este exemplo segue a mesma lógica aplicada ao conto de Roddy Doyle e Ivy Bannister. De modo geral, o conto não requer que seja usado calão que atribua uma maior intensidade. A exclamação tem o mesmo sentido com um termo mais suave.

Original: “(…) and – like it was a joke – a big soft shite coming from the horse as

she walked.”

Tradução: “(…) e – como se fosse uma piada – um grande pedaço de merda mole

a sair do cavalo enquanto andava.”

Neste caso, o uso de “merda” deve-se ao termo original usado, “shite”, a variante irlandesa. A nível de necessidades fisiológicas, não existem muitos termos que se possa

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usar para evitar usar calão sem alterar o registo usado. Assim sendo, é necessário traduzir literalmente.

Original: “Tommy said they were lucky to walk, let alone drink, taking our jobs

like that, fucking Romanians.”

Tradução: “O Tommy disse que tinham sorte em andar, quanto mais beber, a

roubar os nossos trabalhos daquela maneira, romenos do caralho.”

Ao contrário dos outros exemplos, foi necessário ter em conta o contexto e a personagem. Tendo em conta que se trata de uma personagem de classe média-baixa e o facto de que não tem uma opinião favorável dos emigrantes, deve-se traduzir com termos mais enfáticos. Ao não suavizar o calão usado, o sentido de animosidade é devidamente representado na tradução.

O conto de Joseph O’Connor, “Duas Pequenas Nuvens”, é o que contém mais exemplos. Assim sendo, os casos de tradução literal ou atenuada como nos exemplos anteriores não serão incluídos.

Original: “Working his langer to the bone.”

Tradução: “A matar-se a trabalhar.”

A personagem Eddie tende a tornar tudo o que diz em algo obsceno. Porém, enquanto o inglês é versátil a nível de calão, o português não é. Este tipo de diferença entre línguas leva à perda de vulgaridade na tradução, pois a frase corre o risco de não fazer sentido ao tentar manter o calão.

Original: “The old liposuction, is it? Course I wouldn’t mind gettin it all sucked

out myself. Dependin on who was doin the suckin, says you.”

Tradução: “A velha lipoaspiração? Claro que eu próprio não me importaria de

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Neste caso, apesar de ter sido possível traduzir o conteúdo tal como estava no original, é um exemplo crucial para tradução de humor vulgar. O “dizes tu” pode causar algum confusão mas, quando se tem em conta a linguagem de Eddie, chega-se com relativa facilidade à conclusão que a personagem está a acrescentar aquela parte como se fosse dita pela pessoa com quem está a falar.

Original: “Fuck off.”

Tradução: “Vai-te foder.”

Original: “I’d ride you meself.”

Tradução: “Eu mesmo fodia-te.”

Original: “I’d happily shag your brains out.”

Tradução: “Teria todo o prazer em foder-te até te sairem os miolos.”

Tal como no conto de Colum McCann, foi necessário ter em conta o contexto e a personagem. Foi previamente determinado que Eddie tinha um vocabulário vulgar utilizado sem reservas, o que implicou que os segmentos como os três exemplos fornecidos não podiam ser atenuados.

Original: “And every time he forgot, she spread his balls on toast.”

Tradução: “E sempre que se esquecia, espremia-lhe os tomates.”

Original: “Afraid of their clits they might have a good time.”

Tradução: “Com um cagaço de que possam divertir-se.”

Por vezes, o problema principal com o calão não é a intensidade usada mas sim o facto de ser uma expressão fixa. Nesse caso, a expressão é tratada como uma expressão idiomática e propõe-se uma expressão equivalente na língua de chegada.

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5.4. Gralhas

Como o ser humano não é infalível, é seguro dizer que até os autores e os personagens cometem erros. Assim sendo, é necessário prestar atenção ao texto de partida e confirmar detalhes ou palavras que possam parecer errados.

É este o caso do conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras”, de Ivy Bannister:

Original: “At dinner, the mystery of the missing Manuelos was solved.”

Neste caso, parece ser uma piada intencional com o nome dos sapatos e não uma gralha. No entanto, visto que não é dado qualquer contexto óbvio que indique tal coisa, este exemplo pode ser facilmente confundido com uma gralha. Assim sendo, a sua documentação neste ponto foi considerada apropriada.

Já no conto “Como se Houvesse Árvores” de Colum McCann:

Original: “(...) and, in his loneliness, Tommy was crushing the Romanian’s balls

and he was kicking the Romanian’s head in and he was rifling the Romanians pockets and (...)”

Apesar de ser possível ver que se trata de uma gralha através da repetição existente, a falta de apóstrofe no último “Romanian’s” induz em erro e alarga a informação dada. Enquanto os outros dois casos implicam que é “do romeno”, a falta de apóstrofo altera a informação para o plural, o que no caso da descrição de uma ação não faz sentido que inclua um grupo de pessoas.

5.5. Gíria

Todas as línguas têm termos que lhes são específicos. Todavia, os termos às vezes são obscuros o suficiente para serem considerados um problema de tradução. Felizmente, devido ao aparecimento de sites e dicionários específicos que se dedicam a calão ou jargão, é mais fácil encontrar o significado de certos termos.

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Sovs Libras

Yo-yos Oiros

Bog-gallopers Daqui da terra

Rasher and a ride Casos de uma noite com pequeno-almoço

“Pure knack-eragua” “Tão classe operária”

Tabela 1- Gírias "Duas Pequenas Nuvens"

Conto “Recuperação” de Roddy Doyle:

Chipper Loja de “Fish and chips”

Tabela 2- Gírias "Recuperação"

Conto “Imagens” de Desmond Hogan:

Silver-Dollar crewcuts Cortes à escovinha de um dólar

Tabela 3- Gírias "Imagens"

5.6. Exceções

Toda a regra tem a sua exceção, o que leva à necessidade de saber quando é que tal se justifica. Neste segmento serão mencionados alguns casos específicos que não se inseriram nas restantes categorias.

O primeiro exemplo pode ser encontrado no conto de Colum McCann, “Como se

Houvesse Árvores”:

Original: “The sun was going down and everywhere was getting red. There was

red on the towers and there was red on the clinic and there was red on the windows of the cars that were burned out and there was red on the overpass at the end of the field..”

Tradução: “O sol estava a pôr-se e estava tudo a ficar vermelho. Havia vermelho

nas torres e havia vermelho na clínica e havia vermelho nas janelas dos carros que estavam queimados e havia vermelho na passagem superior no fundo do campo.”

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A repetição é um fenómeno frequente no conto de Colum McCann ao ponto de se tornar parte do estilo de escrita e, consequentemente, algo que não se pode omitir. Ao retirar a repetição no texto de chegada, o estilo de escrita do autor está a ser alterado. Assim sendo, é necessário considerar a frequência e o potencial significado de uma repetição antes de recorrer à omissão.

O segundo ponto nesta categoria é a importância da personagem para a tradução de diálogo ou narração. No conto “A Avaliação” de Bernard MacLaverty, a personagem principal é uma senhora idosa que sofre de Alzheimer. A certo ponto, Cassie menciona que lhe removeram uma “rodent ulcer” e que lhe fizeram algo estranho aos ouvidos. Em português não existe nenhuma denominação simplificada. Assim sendo, foi necessário traduzir apenas como “úlcera”, pois terminologia específica de medicina não seria conhecimento geral de Cassie.

O último tópico é uma mistura dos dois anteriores, referindo-se à variação da estrutura dos diálogos de conto para conto. No caso dos contos traduzidos, a apresentação dos diálogos variou devido aos diferentes estilos de estruturação. As regras gerais devem ser seguidas mas é necessário manter a estrutura imposta pelo autor de forma a manter um estilo variado de escrita. É preciso ter em conta que, neste caso, são vários autores numa só obra, isto é, ao contrário de um livro de um só autor, não se justifica a uniformização da apresentação dos diálogos.

5.7. Expressões idiomáticas

A presença de expressões idiomáticas num texto literário não é surpreendente. De modo geral, têm expressões equivalentes na língua de chegada e uma simples pesquisa oferece tais respostas. Porém, podem ser um obstáculo demorado quando não existem opções equivalentes.

Tal é o caso do conto “Duas Pequenas Nuvens” de Joseph O’Connor:

Original: “And a neck like a jockey’s bollocks.”

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Ao pesquisar a expressão irlandesa, os poucos resultados obtidos explicavam o significado desta. Não existia qualquer tradução ou expressão equivalente, levando à necessidade de traduzir através do significado com a ajuda da docente.

No mesmo conto “Imagens” de Desmond Hogan, é possível encontrar um exemplo de uma expressão idiomática:

Original: “I’m so hungry I could eat a nun’s backside through a convent

railing.”

Tradução: “Tenho tanta fome que era capaz de comer um cavalo.”

Neste caso, a personagem está a dar uma ideia exagerada da fome ao afirmar que seria capaz de fazer algo impossível ou extremista. Assim sendo, foi feita a tradução equivalente da expressão.

5.8. Locais

Nos contos traduzidos para a presente análise, os locais não são fictícios. Porém, a existência destes foi confirmada sempre que mencionados. Os estabelecimentos mantiveram o nome original e os nomes das ilhas foram traduzidos quando existia uma tradução oficial.

É, no entanto, necessário escolher devidamente as fontes de informação e confirmar que o resultado obtido corresponde ao que está a ser procurado. Usando os contos traduzidos como exemplo, é necessário pesquisar o nome juntamente com “Dublin”, de forma que os primeiros resultados de pesquisa não digam respeito a um outro estabelecimento com o mesmo nome mas noutro país, por exemplo.

5.9. Omissão

Um tradutor deve fazer o seu trabalho de forma a ser fiel ao significado que o autor pretende. No entanto, por vezes não existe contexto suficiente para determinar tal coisa e é necessário avaliar a importância do excerto em questão para a história.

Tal acontece no conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras” de Ivy Bannister com “pease porridge hot”:

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Original: “The Shelbourne Hotel, it read, with a date only a few days old. Pease

porridge hot, I thought. He was home that night, as always.”

Tradução: “O Shelbourne Hotel, dizia, com a data de apenas alguns dias atrás.

Ele estava em casa nessa noite, como sempre.”

Esta expressão é usada quando a Sra Hyde encontra, na caixa que usam para guardar os recibos da família, um recibo de um hotel, o único do Sr Hyde. Após dizer “pease porridge hot”, a Sra Hyde simplesmente comenta que o marido tinha chegado tarde mas que tinha estado em casa nessa noite.

No entanto, não é possível perceber qual era a ideia exata que a autora, Ivy Bannister, pretendia passar ao usar a expressão, que além de ser um verso de uma cantiga infantil é um prato de comida tradicional. Tendo em conta o contexto, a expressão, ao ser vista como cantiga infantil, poderia ser uma negação da possibilidade do marido ter uma amante, afirmando que se tratavam de “histórias da carochinha”, uma expressão de infantilidade que retira credibilidade à sugestão. Poderia também significar que se trata de algo que ela já sabia e que não era nada de novo. Existe também a possibilidade das duas sugestões estarem completamente erradas, o que implica que, ao usá-las, se estaria a atribuir um significado errado à expressão. Assim sendo, uma vez que não se sabe qual a intenção da autora ou como a personagem Sra Hyde reagiria neste tipo de situação e, visto que não influenciava a compreensão do conto, a expressão foi omitida.

No conto “Imagens” de Desmond Hogan, é possível encontrar um outro exemplo:

Exemplo: “(…) which was a walnut on a biscuit base buried under marshmallow

sealed with twisted and peaked chocolate, and I clutched the canary’s leg in a cage.”

Tradução: “(…) que era uma noz numa base de biscoito enterrada debaixo de

marshmallow e selada com chocolate torcido e repuxado.”

No presente caso, a expressão é completamente desconhecida, não tendo sido encontrado qualquer resultado nos motores de busca e dicionários. Devido à falta de

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resultados, exatos ou aproximados, supõe-se que se trate de algo inventado pelo autor. Os resultados obtidos durante a pesquisa variavam entre tratamento de canários e metáforas sobre relações. A possibilidade de se tratar do nome do biscoito foi excluída, pois, ao pesquisar como tal, os resultados obtidos eram sobre comida para canários.

Existem algumas sugestões com base no contexto mas, tal como no caso de “pease porridge hot”, é impossível saber qual o verdadeiro significado ou intenção do autor. Seria possível que significasse que se agarrou “de unhas e dentes” ao biscoito ou que o devorou mas, uma vez mais, as sugestões são meras especulações sem contexto que permita afirmar de forma segura que a tradução está correta. Assim sendo, tal como no exemplo do conto de Ivy Bannister, a expressão foi omitida, pois não se sabia o significado desta e a sua omissão não influencia a compreensão do conto.

5.10. Onomatopeias

Dependendo do tipo de texto que está a ser traduzido, as onomatopeias podem ser comuns ou raras. Nos contos traduzidos para a presente análise, só existem dois exemplos, no conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras” (“Plop, plop, plop” que foi traduzido como “Plim, Plim, Plim”) e no conto “A Avaliação” (“Tip-tip-tip” que foi traduzido como “Toc, toc, toc”).

Para a tradução de onomatopeias foram consultados alguns blogs que compilaram listas de onomatopeias e os seus correspondentes em português, bem como listas de onomatopeias com a descrição do uso.

5.11. Problemas Básicos

Muitas vezes os erros desta categoria são causados por lapso mas existem casos em que a causa é negligência.

5.11.1 Estrutura

Exemplo retirado do conto “Recuperação” de Roddy Doyle.

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Tradução sem revisão: “(…) mas não o suficiente para sair à chuva e cavar a

cova.”

Tradução com revisão: “(...) mas não o suficiente para ir lá para fora cavar-lhe a

cova à chuva.”

No presente exemplo, a primeira versão da tradução manteve uma estrutura próxima do inglês. Neste caso, a frase não soa bem ao manter a estrutura semelhante à inglesa e necessário corrigir de forma a ter uma estrutura correta. Foi dada prioridade à tradução em si, tendo este tipo de lapsos ficado em segundo plano para que fossem corrigidos ao rever.

5.11.2 Dificuldade de compreensão

Alguns excertos dos textos causam, por vezes, confusão ao serem lidos. Tal pode ser causado por uma falta de compreensão por parte do tradutor ou devido a uma escolha de palavras pouco frequente por parte do autor.

No conto “Recuperação” encontra-se o seguinte exemplo:

Original: “No one played away from home.”

Tradução sem revisão: “Ninguém disputou a casa.”

Tradução com revisão: “Ninguém traiu ninguém.”

Neste caso, a aluna leu mal a frase, levando a que a tradução estivesse errada. No entanto, no conto “Duas Pequenas Nuvens” de Joseph O’Connor, o exemplo existente é confuso devido à forma como foi escrito.

Original: “Yer man out of Boyzone.”

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O resto do parágrafo listava pessoas que estariam presentes numa festa, o que deu contexto ao significado. No entanto, esta frase em particular dava a entender que era um membro específico da banda Boyzone, talvez um que tivesse tido mais sucesso que os colegas, e não apenas um membro qualquer da banda.

No conto “Imagens” de Desmond Hogan, o autor entra várias vezes em detalhe sobre as roupas usadas pelos personagens mencionados. As descrições são extremamente específicas e, muitas vezes, não têm tradução.

Original: “Women would go to a church in Dublin to see him walking to Holy

Communion in glen tweed suits, houndstooth cheviot jackets, rosewood flannel trousers, enlarge check trousers, Edelweiss jerseys, Boivin, batiste, taffeta shirts, black and tan shoes, button Oxford shoes.”

Tradução: “As mulheres iam a uma igreja em Dublin para o ver ir à Eucaristia

com fatos tweed glen, casacos cheviot de padrão houndstooth, calças de flanela mogno, calças longas de padrão xadrez, camisolas com padrão edelvais, camisas Boivin, batista, tafetá, sapatos pretos e castanhos, sapatos Oxford com botões.”

Existem, como mencionado, vários exemplos como o escolhido mas foi usado este devido aos padrões. Vários padrões não têm tradução e, tal como acontece no caso de “gameplumage”, padrão usado no primeiro parágrafo do conto, o padrão parece nem existir e tratar-se de algo que o autor inventou.

5.12. Referências desnecessárias ao sujeito

Ao fazer revisão de uma tradução literária, é possível encontrar vários artigos, pronomes e determinantes desnecessários que ficaram nas primeiras versões do texto traduzido. Este problema é particularmente relevante quando se trata de tradutores inexperientes. Devido à falta de experiência, o tradutor foca-se mais no significado do texto, desleixando-se quando traduz para a língua de chegada.

No entanto, existem casos específicos que ajudam a perceber quando o uso é justificado.

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Original: “My name is on my door to remind me which room is mine.”

Tradução: “O meu nome está na minha porta para me lembrar qual é o meu

quarto.”

Este caso faz um uso excessivo de determinantes possessivos no texto de partida mas, normalmente, seriam retirados alguns ao traduzir. Todavia, tendo o contexto da história em conta, é necessário mantê-los todos. O uso excessivo de palavras relacionadas com o sujeito, neste caso, serve para salientar a presença de Alzheimer na vida da personagem.

A regra geral é que se deve retirar qualquer pronome, determinante ou artigo que seja redundante. Ao contrário do que acontece em inglês, é possível ter sujeito sem acompanhamento numa frase, o que faz com que o uso excessivo de, por exemplo, pronomes pessoais torne o texto menos fluído.

Exemplo: “Eddie, novamente em Dublin, a vender apartamentos para ganhar a

vida. Ele sorriu-me e formou com a boca o meu nome ao ver-me através da janela.”

O uso do pronome é desnecessário no presente exemplo. Uma vez que o sujeito foi mencionado previamente e não se falou de outra personagem, sabe-se que foi o Eddie que sorriu. Assim sendo, o “ele” pode ser omitido. Note-se, no entanto, que, tal como no caso do conto “A Avaliação”, é possível que a presença destas marcas seja simbólica.

Deve-se também usar marcas de identificação de sujeito quando a forma verbal é ambígua, isto é, quando a forma verbal é comum a várias pessoas. Nos contos, isto aplica-se mais ao verbo “dizer”, aplica-sendo necessário acrescentar o devido pronome pessoal após a forma verbal “disse”.

5.13. Significado depende de contexto posterior

O problema em questão é relevante para a tradução de prosa. Ao tentar dividir um texto em vários segmentos, é possível que um excerto do texto não faça sentido ou que

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seja traduzido incorretamente devido à falta de contexto. Quando tal acontece, o contexto em falta é geralmente encontrado num excerto que se encontra mais à frente.

Ao traduzir prosa, é importante ler o texto para se ter uma ideia geral do que está a ser traduzido, tomando nota de pontos que possam parecer estranhos. Mesmo que o texto seja lido, não é garantido que seja possível fazer ligação entre os segmentos problemáticos imediatamente.

Tal é o caso do conto “Como se Houvesse Árvores” de Colum McCann:

Exemplo: “Jamie used to work on the overpass until he got fired. They caught him

with a works when he was on the job. He complained to the Residents Committee because he was the only one from the flats on the overpass but there was no go.”

O segmento sublinhado não faz sentido ao tentar aplicar o contexto dado. O facto da estrutura usada ser “with a works” dificulta a situação, levando a que se considere a hipótese de que seja um erro da parte do autor, pois os resultados encontrados eram “with

the works”.

Exemplo: “Jamie used to work on the overpass until he got fired. They caught him

with a works when he was on the job. He complained to the Residents Committee because he was the only one from the flats on the overpass but there was no go. They couldn’t help him because of the junk. They wanted to but they couldn’t.”

O resto do parágrafo oferece mais informações relativas ao segmento cujo contexto é desconhecido. Sabe-se que foi apanhado com algo que era considerado “junk” e que era grave o suficiente para a Comissão de Moradores não poder ajudar Jamie. No entanto, continua a ser informação insuficiente para traduzir o segmento “caught him with a

works”.

Exemplo: “We were surprised when we heard about him shooting up on the

building site though.”

Esta informação é fornecida cerca de meia página depois do segmento sem o contexto necessário. Ao traduzir o texto parágrafo a parágrafo, esta frase passou

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despercebida. Porém, mesmo ao reler o texto para rever a tradução, não parecia estar relacionada com frase sem tradução.

Exemplo: “Not that Jamie was ever trouble. Jamie, when he came to The Well, sat

in the corner and sometimes even read a book, he was that quiet. He drank a lot of water sometimes I think I know why but I don’t make judgements. We were surprised when we heard about him shooting up on the building site though. Jamie never seemed like the sort, you know. Jamie was a good young fella. He was seventeen.”

Após reler o conto várias vezes à procura de uma resposta para o segmento “with a

works”, este parágrafo forneceu as pistas necessárias para resolver o mistério. “Shooting up” tinha sido inicialmente traduzido como “disparar” com base no facto do Jamie ter

feito algo grave. No entanto, como não se sabia qual era o significado daquela primeira parte, o significado foi alterado.

Ao ver o texto como um todo do ponto de vista do que faltava, em vez de focar a atenção no que já tinha resposta, foi possível ver as várias pistas que levariam a outro significado de “shooting up” e, consequentemente, dos outros dois segmentos. Quando esse método foi aplicado, a possibilidade do significado ser “injetar-se”, apareceu.

Relendo o texto supondo que Jamie estava a drogar-se, os segmentos que estavam a causar confusão passaram a encaixar devidamente. No início do texto a personagem principal, Mary, explica que o cavalo que Jamie estava a montar não era dele, afirmando que o cavalo de Jamie foi vendido. Fora de contexto, a impressão seria que o cavalo tinha sido vendido por causa da falta de dinheiro devido ao facto de Jamie ter sido despedido. Mas tal não resolvia a questão do segmento por traduzir.

Exemplo: “O Jamie costumava trabalhar na passagem superior até ser despedido.

Apanharam-no com o material quando estava a trabalhar. Ele queixou-se à Comissão de Moradores porque era o único dos apartamentos na passagem superior, mas não deu em nada. Não o podiam ajudar por causa da droga. Queriam mas não podiam.”

Ao supor que o problema de Jamie estava relacionado com drogas, obtém-se uma situação grave o suficiente para o Comissão de Moradores não poder ajudar, uma explicação para o choque de Mary ao descobrir o que aconteceu e a estrutura “with a

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No conto “Imagens” de Desmond Hogan, o próprio género da personagem nunca é mencionado e supõe-se que se trate de uma rapariga devido às atividades e roupas descritas. O interesse demonstrado pelas artes e a atenção excessivamente detalhada prestada às roupas sugerem que seja esse o caso. É também mencionado que a personagem principal, quando estava de férias no inverno, às vezes tomava chá e bolinhos com o pai na Casa de Chá Lydon. São mencionados doces noutras ocasiões, reforçando a ideia de que se trata de uma rapariga devido às tendências femininas.

Os casos mais comuns de falta de contexto são encontrados ao traduzir títulos. Dos seis contos traduzidos pela aluna, três dependeram do contexto encontrado no texto para serem traduzidos.

No conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras” de Ivy Bannister, foi necessário conhecer a família para perceber o significado de “eel pit”. Visto que todos os membros da família são desagradáveis, o título refere-se ao facto da Sra Hyde viver com um “bando de cobras” ou “eels”.

Já o caso de “Imagens” de Desmond Hogan, o título original é vago, dando várias escolhas de tradução. No entanto, como a história menciona vários tipos de “imagens”, foi decidido que seria melhor deixar uma opção igualmente vaga para o título “Pictures”.

O conto “Como se Houvesse Árvores”, apesar de ter sido traduzido literalmente, também só encontra o seu contexto no conto. Assim sendo, apesar de não ter sido um problema, é incluído nesta categoria.

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6. INTERTEXTUALIDADE NA MESMA LÍNGUA

Antes de estudar a relação de intertextualidade entre as duas obras estudadas, é necessário saber o que é intertextualidade e a sua origem. A definição encontrada na obra

The Norton Anthology of Theory and Criticism é a seguinte:

(...) a text's dependence on prior words, concepts, connotations, codes, conventions, unconscious practices, and texts. Every text is an intertext that borrows, knowingly or not, from the immense archive of previous culture.8

Já o Dictionary of Literary Terms & Literary Theory oferece resumidamente a explicação da origem do termo:

A term coined by Julia Kristeva in 1966 to denote the interdependence of literary texts, the interdependence of any one literary text with all those that have gone before it. Her contention was that a literary text is not an isolated phenomenon but is made up of a mosaic of quotations, and that any text is the 'absorption and transformation of another'. She challenges traditional notions of literary influence, saying that intertextuality denotes a transposition of one or several sign systems into another or others. But this is not connected with the study of sources. 'Transposition' is a Freudian term, and Kristeva is pointing not merely to the way texts echo each other but to the way that discourses or sign systems are transposed into one another - so that meanings in one kind of discourse are overlaid with meanings from another kind of discourse. It is a kind of 'new articulation'.9

Assim sendo, intertextualidade consiste na inter-relação entre textos no sentido em que todos os textos estão relacionados. Cada texto é influenciado por outro texto e, mesmo que sejam diferentes, a influência liga os dois textos. Muitas vezes existe uma inter-relação mais óbvia, sendo quase considerada plágio. Ao dizer que todos os textos são intertextos que estão a emprestar partes de outros textos, quer-se então dizer que o autor é

8Vincent B. Leitch, “Introduction to Theory and Criticism,”, The Norton Anthology of Theory and Criticism, p.21 9J. A. Cuddon, M. A. R. Habib, “Intertextuality”, Dictionary of Literary Terms & Literary Theory, p.367

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influenciado pelos textos que leu, repetindo o processo ao longo de vários autores. Um exemplo é a comunidade de jogos que, apesar de não se tratar de textos, acaba por demonstrar o processo de intertextualidade. Sempre que é criado um novo tipo de jogo e este ganha popularidade, os fãs tendem a criar o que são conhecidos como “fan games”. A maior parte usa as mesmas mecânicas de jogo que o original, alterando apenas o cenário ao ponto de ser quase considerado plágio. Existem também casos que usam mecânicas de jogo diferentes mas estão relacionados à história original, isto é, a expandir o universo.

O mesmo se aplica à obra de James Joyce e à obra traduzida para o presente trabalho. New Dubliners é uma homenagem à obra Dubliners, representando um exemplo de intertextualidade que requer a leitura da obra precedente para melhor compreensão do tema. O próprio título representa uma inter-relação entre as obras, no sentido que se trata de uma geração mais recente da Gente de Dublin de Joyce, uma sequela, por assim dizer, que não foi escrita pelo autor original.

Na obra de 2005, os contos em si estão vagamente interligados aos de Joyce, a maioria retratando apenas a vida da Gente de Dublin em vez de reescrever os contos de James Joyce de forma a adaptar-se à realidade do mundo atual como é o caso da obra

Dubliners 10010. No entanto, podem ser traçados paralelos entre estes, como é o caso do

conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras”, um conto sobre uma dona de casa e a sua vida em Dublin. Apesar de não poder ser uma continuação direta do conto de Joyce “A pensão”, devido a detalhes fornecidos no conto de Ivy Bannister, é possível ver o conto sobre a Sra Hyde como um resultado hipotético da vida de Polly após se ter casado com Sr Doran.

No conto “A pensão”, a dona de uma pensão, Sra Mooney, descobre que a filha tem um caso amoroso com o Sr Doran, um hóspede, e usa a situação para o obrigar a casar sob o pretexto de que ele tinha abusado da sua hospitalidade uma vez que ela tinha suposto que ele era um homem de honra. A Sra Mooney afirma que ele já tem idade suficiente para não usar juventude como desculpa e que se tinha aproveitado do facto de Polly ser inexperiente e jovem. O Sr Doran tem dinheiro suficiente para ser considerado um bom partido, comentando que tinha dinheiro suficiente para casar. Porém, o estatuto social de Polly incomoda-o, desde a reputação do pai dela ao facto de ela ser um pouco vulgar.

10Obra publicada em 2014, uma homenagem com base na data de publicação final de Gente de Dublin, na qual o editor Thomas Morris

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O conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras” começa com uma dona de casa viciada em compras. Resumindo o seu relato, casou-se com um homem que fez a sua fortuna algures depois do início da relação e este não quer saber daquilo que ela faz com o dinheiro desde que ela pareça elegante. Ao longo do conto é possível notar um distanciamento óbvio entre os dois, ao ponto de ser sugerido que o Sr Hyde está a ter um caso extraconjugal.

Ao ler os dois resumos da relação entre os casais, é possível ver algumas ligações. Quando se diz que o conto de Ivy Bannister pode ser uma continuação alternativa, é no sentido que a mãe de Polly obrigou o Sr Doran a casar-se com a filha como compensação e a Sra Hyde, apesar de não ter sido obrigada a casar e o marido ter ficado rico após o início da relação, admite que o marido ganha bem, demonstrando algum interesse a nível financeiro na altura em que o conto se passa. Outra ligação é o caso amoroso, isto é, o conto de Joyce foca-se no caso secreto, enquanto o conto de Bannister dá apenas a entender que o Sr Hyde, tal com o Sr Doran, tem um caso secreto. A diferença encontra-se no estado civil os dois homens. Ambos os homens demonstram preocupação com a imagem, estando o Sr Doran preocupado com a impressão que o estatuto social de Polly vai passar, enquanto o Sr Hyde não se importa com os gastos extremos da esposa desde que pareça elegante.

O conto de Joseph O’Connor é uma clara referência ao conto de Joyce ao atualizar o nome do conto e reescrever o conteúdo com base na geração atual. Dois velhos amigos encontram-se após vários anos sem se verem (no original foi combinado; na homenagem foi acidental). Um deles é jornalista e o outro trabalha num escritório (no original a personagem principal trabalha num escritório; na homenagem é jornalista). Conversam num bar sobre as suas vidas, sendo que o amigo entra em grande detalhe na sua vida enquanto a personagem principal contribui pouco para a conversa. A personagem principal tem que voltar para casa para tomar conta de um bebé. O amigo é visto como uma pessoa “fixe” cuja vida é mais satisfatória (no original a personagem principal considera o amigo superior a ele; na homenagem, parece considerar esse lado do amigo uma velha glória). São estes os detalhes que se destacam como comuns aos dois ao ler as duas obras.

O estilo de escrita de Joyce é encontrado no conto “Imagens” de Desmond Hogan, apresentando outro exemplo de intertextualidade. A personagem no conto de Hogan narra

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Tabela 1- Gírias "Duas Pequenas Nuvens"

Referências

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