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Terminado o trabalho, pode concluir-se que a análise da parte prática de uma tradução é vital para a melhoria da qualidade dos trabalhos de um tradutor. Ao fazer esta análise, refletimos sobre o seu desempenho e tem a possibilidade de evitar erros que, de outra forma, teria continuado a repetir em trabalhos futuros. No livro Arte da Guerra, Sun Tzu13 menciona o ditado: “Aquele que conhece o inimigo e se conhece a si próprio sairá vitorioso de cem batalhas (…)”. Uma tradução não é um inimigo mas se o tradutor se conhecer a ele próprio, conseguirá obter melhores resultados nos seus trabalhos.

Os contos “Recuperação” e “A Avaliação” não apresentaram problemas que fossem um impedimento para a tradução total destes e, de forma geral, os problemas encontrados foram facilmente resolvidos através de revisão feita pela Diana Carvalho, na revisão inicial, e pela docente, na revisão final. Seria também este o caso do conto “A Sra Hyde Brinca no Ninho de Cobras”, mas, visto que “pease porridge hot” se tornou numa dúvida sem resposta, a finalização da tradução ficou estagnada até à tomada da decisão de omitir a expressão.

Um dos contos mais problemáticos, “Duas Pequenas Nuvens” de Joseph O’Connor, viu o seu problema personificado na forma de Eddie, o conhecido da personagem principal, que possui um vocabulário vulgar usado sem reservas e o talento de tornar a mais inocente das coisas em algo perverso. As expressões idiomáticas personalizadas pelo humor vulgar de Eddie, as gírias e o vocabulário vulgar foram a principal fonte de problemas ao traduzir este conto, pois aumentaram o tempo de pesquisa. No caso de “Como se Houvesse Árvores”, o principal problema foi a compreensão da situação de Jamie. Visto que o contexto estava espalhado pelo conto, como explicado na análise, foi necessário traduzir o conto na sua totalidade e fazer trabalho de investigação para perceber qual tinha sido a razão do despedimento de Jamie, pois era um ponto crucial na história e não podia ser omitido.

Sobra, então, o conto de Desmond Hogan, “Imagens”. O primeiro problema a mencionar é a quantidade absurda de vestuário que é descrito de forma extremamente detalhada ao longo do conto. É mencionada a peça de roupa, a cor (tons extremamente específicos muitas vezes sem tradução), a marca, o tecido, o padrão (uma vez mais, muitas vezes sem tradução ou até inexistentes). O problema agrava-se quando se aplica a

descrição detalhada a tudo o estão a usar, desde roupa a acessórios, e quando as personagens descritas incluem todo o tipo de ser humano cujos olhos da personagem principal veem. A existência de uma frase em irlandês num excerto de uma música, foi um problema temporário, tendo sido decidido que essa frase não seria traduzida. Por fim, o conto contém o mesmo problema que o de Ivy Bannister, isto é, uma expressão cujo significado é um mistério e acabou por ter que ser omitida.

Este projeto, no entanto, providenciou uma oportunidade de expansão de horizontes literários e de tradução. Um tradutor literário, quanto mais conhecer sobre o mundo da literatura, melhor. As obras lidas na fase preparatória mostraram uma faceta da história irlandesa até agora desconhecida pela aluna. Strumpet City foi uma referência de grande utilidade e uma excelente obra em igual medida. A sua representação detalhada da vida dos vários estratos sociais e das circunstâncias vividas na altura forneceram contexto necessário para a compreensão do povo irlandês no formato de algo agradável de ler.

O projeto permitiu ver em primeira mão todo o trabalho investido numa tradução de prosa. Devido à sua natureza relativa e sem estrutura fixa, provou ser mais complexa que a tradução científica. Os problemas encontrados foram colocados em categorias para facilitar a consulta mas foram encontrados vários exemplos de situações diferentes dentro do mesmo problema geral. A análise da tradução feita salientou a importância da compreensão profunda da língua e cultura de partida e chegada, demonstrando o quanto uma falha de conhecimento num desses aspetos pode afetar a qualidade da tradução, como comprovado em vários pontos da análise.

Para complementar o estudo do povo irlandês, foram lidas obras dos autores dos contos traduzidos para interiorizar as características do estilo de escrita de cada um com o objetivo de as manter ao traduzir. O uso de pontuação, formatação de diálogo e até o tamanho das frases foram os principais pontos de foco, tendo sido necessário contrariar o instinto, isto é, evitar acrescentar pontuação de modo excessivo e juntar frases para evitar ter várias frases curtas seguidas, por exemplo.

O estudo de intertextualidade focou-se nos contos como histórias, revelando ligações entre obras através das personagens e das suas circunstâncias e analisando os paralelos encontrados. Os exemplos de intertextualidade que envolviam, por exemplo, poemas e músicas permitiram um aprofundamento do conhecimento da história do povo irlandês. Mesmo quando algo parece não ter qualquer relação, é possível encontrar algo que une duas histórias, seja esse algo o estilo de escrita ou o facto de se tratar de uma homenagem, por si só um exemplo de intertextualidade. A noção de intertextualidade dá

aos textos uma ideia de continuidade, o que permite apreciar ainda mais o conteúdo das histórias. Ao analisar as obras com o intuito de as ver do ponto de vista da intertextualidade, foi possível ver a influência de Joyce, bem como a influência da história do povo irlandês, mesmo onde previamente se pensava não haver alguma.

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