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Acordam na 1ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Guimarães. I - Nos presentes autos em que é requerente A, Ldª foi proferido o seguinte despacho:

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 284/13.4TBEPS-A.G1 Relator: CONCEIÇÃO BUCHO

Sessão: 16 Maio 2013 Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

INSOLVÊNCIA PROCESSO ESPECIAL DE REVITALIZAÇÃO

Sumário

Apresentado o requerimento inicial pelo devedor nos termos do artigo 17º- C do CIRE, ao juiz compete averiguar se o mesmo foi apresentado em

conformidade com o disposto nos artigos 17º-A e B, e proferir o despacho a que alude o n.º 3 do citado artigo 17º-C, não lhe competindo averiguar se materialmente se verificam os requisitos de que depende o procedimento.

Texto Integral

Acordam na 1ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Guimarães.

I - Nos presentes autos em que é requerente A…, Ldª foi proferido o seguinte despacho:

Ao abrigo do disposto no art. 17.º-C, n.º 3, al. a) do C.I.R.E. nomeio, para desempenhar a cargo de Administrador Judicial Provisório, o Sr. Dr. F…, melhor identificado a fls. 5.

*

Notifique e publicite, dando-se cumprimento ao preceituado no art. 17.º-C, n.º 4, do C.I.R.E..

Inconformada a credora B…, Ldª interpôs recurso, cujas alegações, terminam com as seguintes conclusões:

I. A empresa “A…, Lda.”, intentou junto do Tribunal Judicial da Comarca de Esposende processo especial de revitalização em 02.03.2013, apresentando,

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para o efeito, o petitório inicial acompanhado de documentos que, na tese do aí requerente, ora recorrido, consubstanciam e são elementos bastante para a propositura de um processo de tal égide. Por douto despacho datado de

11.03.2013 o Meritíssimo Juiz “a quo” decreta o início das negociações, dando assim impulso ao processo de revitalização cuja tramitação se inicia após a homologação daquele despacho, tal qual decorre do estatuído no nº 1 do artigo 17-D do CIRE. Deste mesmo despacho, que a recorrente interpõe recurso por considerar que o mesmo está ferido de nulidade por violação do disposto nos artigos 17 -A, 17-B, 17-C, 17-D e 17-E do CIRE, porquanto na óptica da recorrente não se encontram preenchidos os requisitos legais exigidos para o decretamento de tal despacho que inicia, como se disse, o processo de revitalização.

II. É certo que inexiste, neste processo especial e, em geral, no de insolvência, previsão expressa onde tal recorribilidade assente (nem que a exclua). E

nenhuma também que, ao contrário do invocado, mande aplicar o artº 42, do CIRE, “com as necessárias adaptações”.

Ill. Ora, no caso, há toda uma actividade extrajudicial, gerada, desenvolvida e porventura concluída fora dele, decorrente da sua aceitação e nomeação de administrador, mas projectada na pessoa do devedor, do administrador, dos credores, por estes protagonizada sem tutela judicial e materializada nas negociações encetadas, mormente com a disponibilização e pagamento de inerentes meios (até periciais, como a lei prevê - art° 17°-D) que uma anulação a final não repararia) com prejuízo dos direitos e dos interesses daqueles

afectados.

IV. Além de que, como decorre dos artºs 17°-E, nºs 1 e 2, CIRE, há efeitos para o devedor e para outros processos e pessoas) a final irrecuperáveis.

V. Por isso, e porque mesmo que dúvidas subsistissem, sempre deveria operar o princípio da máxima recorribilidade, entendemos que o recurso deve ser admitido.

VI. O despacho em causa não é de mero expediente (como se dirá a seguir) nem emana de mero poder discricionário (artº 156, nº 4), pois não se limita a prover a prover ao andamento regular do processo (repercute-se e afecta interesses divergentes das partes convocadas) nem está confiado somente ao prudente arbítrio (pressupõe a verificação de requisitos legais). A

recorribilidade não está, portanto, vedada por efeito do artº 679°, CPC, antes possibilitada pelos artºs 676° e 678º e demais normas aplicáveis. VII. De acordo com a alínea b), do nº 3, do art° 17º-C, e nº 1, in fine, do artº 17-D, as cópias dos documentos elencados no nº 1, do artº 24°, do CIRE, são remetidas ao tribunal mas nem sequer a este destinadas — muito menos para análise pelo respectivo juiz! - pois “ficam patentes na secretaria para consulta dos

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credores durante todo o processo”, o que, aliás, se harmoniza com a preconizada e privilegiada negociação extrajudicial a cujos pressupostos, termos e desfecho o tribunal é alheio (cfr., quanto a isso, os nºs 8 e 9, do artº 17º-D), limitando-se a sua intervenção à decisão de impugnações de

reclamações de créditos, a julgar a acção referida no nº. 11 do mesmo artigo, homologação ou recusa do plano (artº 17º-F, nº 1, ou a decretar a insolvência após a conclusão do “processo negocial” sem a aprovação de qualquer plano de recuperação (artº 17º-G).

VIII. É verdade que, no artº 17º-E, nº 1, se alude a uma “decisão”, aí

especificada como aquela “a que se refere a alínea a), do n°3, do artigo 17-C”.

IX. Embora sem se desejar e sem se prever uma apreciação e decisão liminar, ao legislador é impossível, de todo, evitar que o juiz se confronte com

situações do tipo das que, revestindo-se daquela natureza e impondo uma tomada de posição, por vezes se colocam no momento do “despacho” inicial e a que, por implicarem algum espaço de possível controvérsia, não convém fechar as portas do recurso, pelo que o despacho em crise se apresenta como recorrível.

x. Pugna o recorrente pela aplicação de efeitos suspensivo ao presente

recurso, e fá-lo por aplicação analógica às regras estatuídas no artigo 40º n.º 3 do CIRE ex vi artigo 17º, 17º-A do CIRE e 692º n.º 3 al. f) do CPC.

XI. Com efeito, o despacho que ordena o início das negociações, e aqui em crise, tem implicações imediatas quer na esfera jurídica do seu requerente, quer na dos credores, quer nas demais pessoas ou entidades que com o mesmo se relacionam

XII, Como se verificará infra, o recorrido não está em condições materiais, factuais e de direito, de se apresentar a recuperação porquanto a sai situações é obviamente de insolvência técnica como a recorrente se propõe demonstrar.

XIII. O recurso a que alude o artigo 40º nº 3 do CIRE, designadamente o recurso da sentença declaratória de insolvência suspende imediatamente a liquidação.

XIV. Ora, pese embora a jurisprudência não tenha tido oportunidade de se pronunciar quanto a isto, dado o estado embrionário que esta figura

processual apresenta no nosso ordenamento jurídico, o facto é que não faria qualquer sentido que o efeito a atribuir ao recurso do despacho em crise não seja outro que não o efeito suspensivo, tudo com vista a acautelar interesses maiores do que aqueles que o seu requerente pretende ver acautelados.

XV. O primado da atribuição de efeito suspensivo aos recursos aponta na salvaguarda de interesses de tal ordem relevantes, que extravasam muitas vezes os interesses das próprias partes e que a tutela jurídica visa proteger lançando mão de um mecanismo, de manifesta protecção do ordenamento

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jurídico, ou seja, o efeito suspensivo.

XVI. No caso em apreço não se trata de uma qualquer questão menor, ao invés, estamos na presença de matéria que entronca quer na esfera jurídica dos seus intervenientes, quer no domínio público, no que concerne à

protecção do comércio jurídico, pelo que, sem prejuízo de melhor e douto entendimento ao recurso de tal decisão (a ora em crise) não poderá ser atribuído outro efeito que não o suspensivo, por aplicação analógica do

deposto nos artigos 692º nº 3 alínea f) do CPC e artigo 40º nº 3 do CIRE ex-vi artigo 17º do CRE.

XVII. O PER destina-se, apenas e só, aos casos em que o devedor não se encontra ainda em situação de insolvência.

XVIII. No caso em apreço é manifesto que a situação do recorrido é de insolvência.

XIX. O juiz “a quo” ao proferir o despacho que nomeia o administrador judicial provisório e dá continuidade ao processo está também a fazer uma apreciação sobre os requisitos de admissibilidade do PER e a sancionar — mal ou bem — a sua verificação, o que no caso em apreço, manifestamente, não ocorreu.

XX. Esta apreciação liminar deve acontecer entre a apresentação do

requerimento e a prolação do referido despacho a que alude a al. a), do n.º 3, do artigo 17º-C.

XXI. Tal interpretação do regime do PER é, aliás, a única que se enquadra nos princípios enformadores do Direito Falimentar e do Direito Processual, e isto sob pena, como está bom de ver, de o regime do PER ser totalmente

permeável ao seu uso abusivo por devedores insolventes.

XXII. Nestas situações, em que o devedor se encontra insolvente, o Tribunal não deve admitir o uso do PER pelo devedor.

XXIII. No caso dos autos, o Tribunal “a quo” incumpriu o seu poder/dever de rejeitar o requerimento para instauração do PER apresentado pelo requerente

“A…, LDA”, com fundamento no uso abusivo do procedimento, o que por via do presente recurso expressamente se pugna e requer.

XXIV. A empresa “A…, Lda.” não é elegível para recorrer ao PER, na medida em que a mesma se encontra em situação de insolvência actual, estando já verificada esta situação quando) em Março de 2013, apresentou o seu requerimento com vista à instauração do PER.

XXV. Errou o Tribunal “a quo” ao não proferir despacho de rejeição do requerimento apresentado pelo devedor, com fundamento na não

admissibilidade do uso deste procedimento pelo Requerente por falta de preenchimento dos requisitos legais exigidos, pelo que o Tribunal “a quo”

violou o disposto nos artigos 17º-A, 17º-B, 17º-C, 17º-D e 17º-E do CIRE.

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A recorrida apresentou contra-alegações, nas quais pugna pela manutenção do decidido.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

II – É pelas conclusões do recurso que se refere e delimita o objecto do mesmo, ressalvadas aquelas questões que sejam do conhecimento oficioso – artigos 684º e 685-A Código de Processo Civil -.

Insurge-se a recorrente por o recurso não ter sido admitido com efeito suspensivo.

O regime de subida dos recursos no processo de insolvência, está regulado nos n.ºs 5 e 6 do artigo 14º do CIRE.

Em regra, a subida dos recursos é feita em separado e o efeito é meramente devolutivo.

O n.º 6 enumera algumas excepções quanto ao modo de subida.

Também, e tendo em conta que de acordo com o disposto no artigo 17º do CIRE, “o processo de insolvência rege-se pelo Código de Processo civil em tudo o que não contrarie as disposições do presente código, vejamos se nos termos deste código deveria ter sido atribuído o efeito suspensivo.

De acordo com o disposto no artigo 692º do Código de Processo Civil a apelação tem efeito suspensivo do processo nos casos previstos na lei.

E o n.º 3 do artigo enumera as situações cujo recurso tem efeito suspensivo.

Ora, a situação dos autos não se subsume a qualquer das situações aí

descritas, pelo que o efeito do recurso deve manter-se nos precisos termos do despacho que o admitiu.

Dispõe o artigo 17º- A do CIRE , na redacção da Lei n.º 16/12 de 20 de Abril, sobre a epígrafe “Finalidade e natureza do processo especial de revitalização”

que:

1 - O processo especial de revitalização destina-se a permitir ao devedor que, comprovadamente, se encontre em situação económica difícil ou em situação de insolvência meramente iminente, mas que ainda seja susceptível de

recuperação, estabelecer negociações com os respectivos credores de modo a concluir com estes acordo conducente à sua revitalização.

Por sua vez o seu n.º 2 dispõe que: O processo referido no número anterior pode ser utilizado por todo o devedor que, mediante declaração escrita e assinada, ateste que reúne as condições necessárias para a sua recuperação.

Temos assim que para se iniciar o processo, a lei exige apenas a declaração

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escrita e assinada do devedor onde o mesmo alegue que enfrenta dificuldade séria para cumprir pontualmente as suas obrigações, designadamente por falta de liquidez ou por falta de conseguir obter crédito.

Destas normas concluímos que a lei se basta com o atestado por parte do devedor de que a sua situação se integra dentro dos pressupostos de que a lei faz depender o respectivo processo, nomeadamente os requisitos a que alude o artigo 17º- B do CIRE.

Conforme decorre do disposto no artigo 17º-C do CIRE, o processo especial de revitalização inicia-se pela manifestação de vontade do devedor e de, pelo menos, um dos seus credores, por meio de declaração escrita, de encetarem negociações conducentes à revitalização daquele por meio da aprovação de um plano de recuperação.

A declaração referida no número anterior deve ser assinada por todos os declarantes, da mesma constando a data da assinatura (n.º 2).

E como se refere no n.º 3 do artigo, munido da declaração a que se referem os números anteriores, o devedor deve, de imediato, adoptar os seguintes

procedimentos:

a) Comunicar que pretende dar início às negociações conducentes à sua recuperação ao juiz do tribunal competente para declarar a sua insolvência, devendo este nomear, de imediato, por despacho, administrador judicial

provisório, aplicando-se o disposto nos artigos 32.º a 34.º, com as necessárias adaptações;

b) Remeter ao tribunal cópias dos documentos elencados no n.º 1 do artigo 24.º, as quais ficam patentes na secretaria para consulta dos credores durante todo o processo.

O despacho a que se refere a alínea a) do número anterior é de imediato notificado ao devedor, sendo-lhe aplicável o disposto nos artigos 37.º e 38.º (n.º 4)

A recorrente alega que não se verificam os requisitos materiais do

procedimento, mas antes a requerente está já numa situação de insolvência.

A nosso ver não é no momento do despacho liminar que o Juiz terá de averiguar em profundidade qual a verdadeira situação da requerente.

À lei basta que a requerente o certifique.

Após o despacho e a notificação dos credores, e com o prosseguimento do processo, tanto podem as negociações chegar à elaboração de um plano de recuperação, ( e o juiz decide se deve homologar o referido plano ou recusar a sua homologação) - (artigo 17.º-F, n.ºs 3 e 5 – ou, quando no processo não se chegue à aprovação de um plano de recuperação, e o mesmo seja encerrado, cabe ao juiz a declaração de insolvência do devedor, quando seja o caso (artigo 17.º-G) .

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Assim, não compete ao Juiz a quem é comunicada a pretensão do devedor averiguar (liminarmente) se materialmente se verificam os requisitos previstos no artigo 17º B, bastando que o devedor declare e ateste que se encontra numa situação económica difícil, e invoque os pressupostos referidos na lei para dar início ao processo (neste sentido Ac. da Rel. do Porto, de 15/11/12, disponível em www.dgsi.pt).

Em síntese, apresentado o requerimento inicial pelo devedor nos termos do artigo 17º- C do CIRE, ao juiz compete averiguar se o mesmo foi apresentado em conformidade com o disposto nos artigos 17º-A e B, e proferir o despacho a que alude o n.º 3 do citado artigo 17º-C, não lhe competindo averiguar se

materialmente se verificam os requisitos de que depende o procedimento.

**

III – Pelo exposto, acordam os Juízes desta Secção em julgar a apelação improcedente e, em consequência, confirmam a decisão recorrida.

Custas pela apelante.

Guimarães, 16 de Maio de 2013 Conceição Bucho

Antero Veiga

Maria Luísa Ramos

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