CRIMES CONTRA
A FÉ PÚBLICA
FÉ PÚBLICA
REQUISITOS: ALTERAÇÃO DA VERDADE SOBRE FATO JURIDICAMENTE RELEVANTE, POTENCIALIDADE DE DANO,
DOLO
FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA
SUJEITO PASSIVO
DA MOEDA FALSA
→ ARTIGOS 289 A 292, CP
DA FALSIFICAÇÃO DE TÍTULO E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS
→ ARTIGOS 293 A 295, CP
DA FALSIDADE DOCUMENTAL
→ ARTIGOS 296 A 305, CP
DE OUTRAS FALSIDADES
→ ARTIGOS 306 A 311, CP
DAS FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO
→ ARTIGO 311-A, CP
MOEDA FALSA
Art. 289 - Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: MOEDA METÁLICA OU PAPEL-MOEDA
DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
SÚMUAL 73, DO STJ
PRIVILÉGIO
FALSIFICAÇÃO FUNCIONAL
Formação de moeda inexistente: contrafação
Alteração da moeda
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, MONOSSUBJETIVO, COMISSIVO, INSTANTÂNEO,
PLURISSUBSISTENTE, ADMITE-SE A TENTATIVA
CRIMES ASSIMLIADOS AO DE MOEDA FALSA
Art. 290 - Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
OBJETO MATERIAL:
FRAGMENTO DE CÉDULA, NOTA OU BILHETE VERDADEIRO OU MOEDA RECOLHIDA
CLASSIFICAÇÃO:
COMUM, MONOSSUBJETIVO, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE,
ADMITE-SE A TENTATIVA
PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: MAQUINISMO, APARELHO, INSTRUMENTO OU OBJETO QUE TEM POR FINALIDADE A FALSIFICAÇÃO DE MOEDA
A QUESTÃO DA TENTATIVA
ARTIGO 291 X 289
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, MONOSSUBJETIVO, COMISSIVO, INSTANTÂNEO,
PLURISSUBSISTENTE
EMISSÃO DE TÍTULO AO PORTADOR SEM PERMISSÃO LEGAL Art. 292 - Emitir, sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou a que falte indicação do nome da pessoa a quem deva ser pago:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
OBJETO MATERIAL: NOTA, BILHETE, FICHA VALE OU TÍTULO QUE CONTENHA PROMESSA DE PAGAMENTO EM DINHEIRO
TENTATIVA
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, MONOSSUBJETIVO, COMISSIVO,
INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE
Questões interessantes:
Falsificação de moedas que não estão mais em circulação – artigo 171
Recusa de receber moedas de curso legal – artigo 43 da LCP
Conduta deve visar à modificação para maior valor do objeto, sob pena de inexistir crime
Desconhecimento da falsidade pode ser – erro de tipo
Competência da Justiça Federal – artigo 109, VI, da CF
Artigo 290, CP – exemplo criação de uma cédula com fragmentos de outra já sem valor
Artigo 290, CP – competência da Justiça Federal
Objetos que não são exclusivamente destinados a falsificação – exemplo
impressora programadas para tal finalidade
FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS
Art. 293 -
Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:I – selo destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de tributo; (Redação dada pela Lei nº 11.035, de 2004)
II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal;
III - vale postal;
IV - cautela de penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de direito público;
V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável;
VI - bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou por Município:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: PAPÉIS PÚBLICOS
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE
A TENTATIVA
FORMA EQUIPARADA – 293, PARÁGRAFO 1º,
Aquele que falsifica e utiliza o mesmo papel falsificado,
qual o enquadramento penal?
PETRECHOS DE FALSIFICAÇÃO
Art. 294 -
Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior:Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: OBJETOS DESTINADOS A FALSIFICAÇÃO
A QUESTÃO DA TENTATIVA
ARTIGO 294 X 293
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, MONOSSUBJETIVO, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE
CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA – ARTIGO 295
DA FALSIDADE DOCUMENTAL
FALSIFICAÇÃO DE SELO OU SINAL PÚBLICO
Art. 296 - Falsificar, fabricando-os ou alterando-os:
I - selo público destinado a autenticar atos oficiais da União, de Estado ou de Município;
II - selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou sinal público de tabelião:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: SELO OU SINAL
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, MONOSSUBJETIVO, COMISSIVO, INSTANTÂNEO,
PLURISSUBSISTENTE
FALSO MATERIAL
FALSO IDEAL
FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTOS
DOCUMENTOS PÚBLICO OU PARTICULAR
A QUESTÃO DO CHEQUE
Substituição da fotografia na carteira de identidade – conflito entre o artigo 297 e artigo 307
Falsificação seguida de uso de documento falso
Cópia – não constitui documento à luz do artigo 232 do CPP
HC 226128 / TO
HABEAS CORPUS
2011/0281839-2
6. O
usode
documentopúblico
falsopelo próprio autor da falsificação configura crime
único, qual seja, o delito descrito no art. 297 do Código Penal (falsificação de
documentopúblico), porquanto o posterior
usodo
falso documentoconfigura mero exaurimento do
crime de falsum. Vale dizer, o
usode
documentofalsificado, pelo próprio falsário,
caracteriza
post factum impunível,de modo que deve o agente responder apenas por
um delito: ou pelo de falsificação de
documentopúblico (art. 297) ou pelo de falsificação
de
documentoparticular (art. 298). 7. O paciente falsificou e alterou
documentopúblico
verdadeiro, qual seja, uma carteira de identidade e, na sequência, fez
usodesse
documentofalsificado nos seguintes contextos: a) atribui-se falsa identidade em diversas
ocasiões perante estabelecimentos comerciais e órgãos públicos; b) utilizou esse
documentofalsificado (carteira de identidade) em procedimento administrativo para
obtenção de nova carteira nacional de habilitação. Assim, as condutas revelam a prática
de um único crime de falsificação de
documentopúblico (art. 297 do Código Penal), qual
seja, a falsificação de uma carteira de identidade, de modo que os usos que o paciente fez
posteriormente desse
documentofalsificado constituem exaurimento do crime de falsum.
Superior Tribunal de Justiça
HC 107103 / GO
HABEAS CORPUS
2008/0112771-3
HABEAS CORPUS. FALSIFICAÇÃO E USO DE DOCUMENTO FALSO PRATICADOS PELO PRÓPRIO AGENTE. CRIME ÚNICO. OFENSA À FÉ PÚBLICA CONSUBSTANCIADA NO MOMENTO DA FALSIFICAÇÃO. USO.
POST FACTUM IMPUNÍVEL. SUBSTITUIÇÃO DA SANÇÃO CORPORAL POR MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITO.
1. É pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial no sentido de que o agente que pratica as condutas de falsificar e de usar o documento falsificado deve responder apenas por um delito.
2. Segundo jurisprudência desta Corte, se o mesmo sujeito falsifica e, em seguida, usa o documento falsificado, responde apenas pela falsificação.
.
3. Em que pese a reprovabilidade do comportamento do paciente, já que
apreendidos em sua residência carteiras de habilitação, certificados de
dispensa de incorporação, carteiras da Ordem dos Advogados do Brasil e
cédulas de identidade, todos falsificados, a condenação pelo falso (art. 297,
CP) e pelo uso de documento falso (art. 304, CP) traduz ofensa ao princípio
que veda o bis in idem, já que a utilização, pelo próprio agente, do
documento que anteriormente falsificara, constitui fato posterior impunível.
4. Bem jurídico tutelado, ou seja, a fé pública, que foi malferida no
momento em que se constituiu a falsificação. Posterior utilização
do documento, pelo próprio autor do falso, consubstancia, em si,
desdobramento dos efeitos da infração anterior
CARTÃO DE CRÉDITO OU DÉBITO
DOCUMENTO IDENTIDADE VERDADEIRO
USO DE DOCUMENTO FALSO
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
OBJETO MATERIAL:
DOCUMENTO PÚBLICO
CLASSIFICAÇÃO:
CRIME COMUM, DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL, COMISSIVO,
INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
OBJETO MATERIAL – DOCUMENTO PARTICULAR
CARTÃO DE CRÉDITO
CLASSIFICAÇÃO: CRIME COMUM, DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FALSIDADE IDEOLÓGICA
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular.
OBJETO MATERIAL– DOCUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR
CLASSIFICAÇÃO: CRIME COMUM, DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL, OMISSIVO E COMISSIVO, INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE E PLURISSUBSISTENTE, ADMITE OU NÃO A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Abuso no preenchimento de folha em branco
Folha obtida licitamente/ folha obtida ilicitamente
Inserção de dados falsos em documento de natureza fiscal – artigo 2º, inciso I, da Lei 8.137/90
Falsificação e uso
FALSO RECONHECIMENTO DE FIRMA OU LETRA
Art. 300 - Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que o não seja:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público; e de um a três anos, e multa, se o documento é particular.
OBJETO MATERIAL: FIRMA OU LETRA RECONHECIDA COMO AUTÊNTICA
CLASSIFICAÇÃO: CRIME PRÓPRIO DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE, NÃO ADMITE A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO
Art. 301 - Atestar ou certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
OBJETO MATERIAL – CERTIDÃO OU ATESTADO
CLASSIFICAÇÃO: CRIME PRÓPRIO DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
Artigo 301, §1º, CP – falso material ou ideal?
Falsificação de Diploma de conclusão de curso
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FALSIFICAÇÃO DE ATESTADO MÉDICO
Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:
Pena - detenção, de um mês a um ano.
OBJETO MATERIAL : ATESTADO MÉDICO
CLASSIFICAÇÃO: CRIME PRÓPRIO, DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMA, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, PLURISUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
Falsificação de atestado de dentista
Uso do atestado falsificado
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Médico – artigo 302
Paciente – artigo 304
Particular que falsifica o atestado do médico – artigo 301, parágrafo 1º, do CP
REPRODUÇÃO OU ALTERAÇÃO DE SELO OU PEÇA FILATÉLICA
Art. 303 - Reproduzir ou alterar selo ou peça filatélica que tenha valor para coleção, salvo quando a reprodução ou a alteração está visivelmente anotada na face ou no verso do selo ou peça:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa
REVOGADO – ARTIGO 39, LEI 6.538/78
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
USO DE DOCUMENTO FALSO
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
OBJETO MATERIAL : DOCUMENTOS FALSIFICADOS OU ALTERADOS
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL,
COMISSIVO, INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE OU PLURISSUBSISTENTE, ADMITE OU NÃO A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Simples porte do documento – fato atípico, salvo se o documento for de porte obrigatório
Uso reiterado do mesmo documento – artigo 71
Utilização simultânea de vários documentos falsos – crime único
Uso com o fim de obter vantagem ilícita – artigo 171
Uso pelo falsário
Uso de documento verdadeiro
Súmula 104 do STJ:
Comete à justiça estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino
Súmula 200 do STJ – O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou
Súmula 546 do STJ – A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi
apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.
Súmula vinculante 36: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela
Marinha do Brasil
USO DE DOCUMENTO FALSO (continuação)
Apresentação espontânea do documento falsificado
Concurso de delitos no caso do autor da falsificação que fizer uso do documento
O uso de vários documentos
SUPRESSÃO DE DOCUMENTO
Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é particular.
OBJETO MATERIAL: DOCUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, DOLOSO, MONOSSUBJETIVO, FORMAL, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Artigo 305/ artigo 314/ artigo 337/ artigo 356 – dispositivos semelhantes
FALSIFICAÇÃO DO SINAL EMPREGADO NO CONTRASTE PRECIOSO OU NA FISCALIZAÇÃO ALFANDEGÁRIA, OU PARA OUTROS FINS
Art. 306 - Falsificar, fabricando-o ou alterando-o, marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de metal precioso ou na fiscalização alfandegária, ou usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: MARCA OU SINAL UTILIZADO PARA CONTRASTE DE MATERIAL OU PARA FISCALIZAÇÃO ALFANDEGÁRIA
CLASSIFICAÇÃO: CRIME COMUM, DOLOSO, COMISSIVO, INSTANTÂNEO, MONOSSUBJETIVO, PLURISSUBSISTENTE OU UNISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FALSA IDENTIDADE
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
OBJETO MATERIAL – IDENTIDADE
AGENTE QUE FALSEIA A IDENTIDADE COM INTENÇÃO DEFENSIVA
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, FORMAL, DOLOSO, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
A questão da Súmula do STJ no artigo 307 do CP
“A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é
típica, ainda que em situação de alegada autodefesa”. Súmula 522 do STJ
FALSA IDENTIDADE
Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem, para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
OBJETO MATERIAL: DOCUMENTO DE IDENTIFICAÇÃO
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, FORMAL, DOLOSO, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO, INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE OU PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA CONFORME O CASO
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FRAUDE DE LEI SOBRE ESTRANGEIRO
Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território nacional, nome que não é o seu:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: FALSO NOME OU QUALIDADE
CLASSIFICAÇÃO: PRÓPRIO, FORMAL, DOLOSO, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO, INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE OU PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA CONFORME O CASO
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FRAUDE DE LEI SOBRE ESTRANGEIRO
Art. 310 - Prestar-se a figurar como proprietário ou possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos casos em que a este é vedada por lei a propriedade ou a posse de tais bens: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: AÇÃO, TÍTULO OU VALOR
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, FORMAL, DOLOSO, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO, INSTANTÂNEO, UNISSUBSISTENTE OU PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA CONFORME O CASO
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR
Art. 311 - Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
OBJETO MATERIAL: NÚMERO CHASSI OU OUTRO SINAL IDENTIFICADOR, COMPONENTE OU EQUIPAMENTO DE VEÍCULO
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, FORMAL, DOLOSO, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO, INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
Colocação de fita adesiva na placa do carro
“A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça firmou-se no sentido de que a norma contida no art. 311 do Código Penal busca resguardar a
autenticidade dos sinais identificadores dos veículos automotores, sendo, pois, típica, a simples conduta de alterar, com fita adesiva, a placa do
automóvel, ainda que não caracterizada a finalidade específica de fraudar a
fé pública.”. (AgRg no REsp 1327888/SP)
FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO
Art. 311-A - Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de:
I - concurso público;
II - avaliação ou exame públicos;
III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou IV - exame ou processo seletivo previstos em lei:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA
FRAUDES EM CERTAMES DE INTERESSE PÚBLICO (continuação)
OBJETO MATERIAL: CONTEÚDO SIGILOSO DO CERTAME (PROVAS, GABARITOS, QUESTÕES...)
CLASSIFICAÇÃO: COMUM, FORMAL, DOLOSO, COMISSIVO, MONOSSUBJETIVO,
INSTANTÂNEO, PLURISSUBSISTENTE, ADMITE A TENTATIVA
INFORMATIVO Nº 453
Cola Eletrônica e Tipificação Penal - 4
PROCESSO ARTIGO
Em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, rejeitou denúncia apresentada contra Deputado Federal, em razão de ter despendido quantia em dinheiro na tentativa de obter, por intermédio de cola eletrônica, a aprovação de sua filha e amigos dela no vestibular de universidade federal, conduta essa tipificada pelo Ministério Público Federal como crime de estelionato (CP, art. 171), e posteriormente alterada para falsidade ideológica (CP, art. 299) — v. Informativos 306, 395 e 448. Entendeu-se que o fato narrado não constituiria crime ante a ausência das elementares objetivas do tipo, porquanto, na espécie, a fraude não estaria na veracidade do conteúdo do documento, mas sim na utilização de terceiros na formulação das respostas aos quesitos. Salientou- se, ainda, que, apesar de seu grau de reprovação social, tal conduta não se enquadraria nos tipos penais em vigor, em face do princípio da reserva legal e da proibição de aplicação da analogia in malam partem. Vencidos os Ministros Carlos Britto, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que recebiam a denúncia. Inq 1145/PB, rel. orig. Min. Maurício Corrêa, rel. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
19.12.2006. (Inq-1145)
INFORMATIVO Nº 448
Cola Eletrônica
e Tipificação Penal - 3
PROCESSO Inq - 1145 ARTIGO
O Tribunal retomou julgamento de denúncia apresentada contra deputado federal, em razão de ter despendido
quantia em dinheiro na tentativa de obter, por intermédio de
cola eletrônica,a aprovação de sua filha e
amigos dela no vestibular de universidade federal, conduta essa tipificada pelo Ministério Público Federal
como crime de estelionato (CP, art. 171), e posteriormente alterada para falsidade ideológica (CP, art. 299) —
v. Informativos 306 e 395. O Min. Carlos Britto, em voto-vista, divergiu do relator, para receber a denúncia,
por entender que os fatos nela descritos amoldam-se tanto ao tipo penal do estelionato quanto da falsidade
ideológica. Relativamente ao estelionato, asseverou que a vantagem ilícita consistiria na obtenção de vaga, por
meio fraudulento, em instituição pública federal, e o prejuízo alheio, nos ônus suportados pela própria
universidade federal, em face do custeio dos estudos dos alunos fraudadores, bem como pelos candidatos que
foram injustamente excluídos das vagas por estes preenchidas, que perderam suas taxas de inscrição no
certame e ainda assumiram outras despesas com a preparação para o vestibular, todos induzidos a erro quanto
à lisura da competição. No que tange à falsidade ideológica, tendo em conta o princípio da eventualidade,
considerou que a operação de compra e venda de antecipação das respostas corretas em vestibular significaria
fazer inserir em documento particular declaração diversa da que devia ser escrita, pois o que devia ser escrito
seria o entendimento pessoal do candidato, e não o de um cúmplice, transmitido por meio eletrônico com a
finalidade de alterar a verdade de um fato juridicamente relevante, qual seja, o real conhecimento do
candidato fraudador. Após o voto da Min. Cármen Lúcia, que acompanhava o voto do relator, e dos votos do
Min. Ricardo Lewandowski, que acompanhava a divergência, e do Min. Joaquim Barbosa, que, reformulando
seu voto, também o fazia, pediu vista dos autos o Min. Cezar Peluso. Inq 1145/PB, rel. Min. Maurício Corrêa,
16.11.2006. (Inq-1145
)
Supremo Tribunal Federal no Inquérito Policial 1.145/PB.
Durante o julgamento, surgiram duas teses entre os Ministros: para uns, a
“cola eletrônica”seria estelionato; para outros, essa conduta não atenderia aos requisitos do art. 171 do CP. Prevaleceu a segunda posição, isto é, entendeu-se que: a) não seria estelionato porque não haveria obtenção de vantagem patrimonial (econômica); b) também não seria falsidade ideológica porque as respostas dadas pelos candidatos, por mais que obtidas fraudulentamente, corresponderiam à realidade.
Enfim, o STF entendeu que a conduta descrita nos autos como
“cola eletrônica”era atípica e que não haveria nenhum tipo penal no direito brasileiro incriminando esse
procedimento.
(Inq 1145, Relator(a): Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 19/12/2006,
DJe-060 DIVULG 03-04-2008)
Pena restritiva de direitos
Artigo 47, V do CP
Questões Polêmicas
1. competência para julgar o artigo 297. parágrafo 4º, CP
Informativo nº 0554
Período: 25 de fevereiro de 2015.
TERCEIRA SEÇÃO
DIREITO PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR CRIME PREVISTO NO ART. 297, § 4º, DO CP.
Compete à Justiça Federal - e não à Justiça Estadual - processar e julgar o crime caracterizado pela omissão de anotação de vínculo empregatício na CTPS (art. 297, § 4º, do CP). A Terceira Seção do STJ modificou o entendimento a respeito da matéria, posicionando-se no sentido de que, no delito tipificado no art. 297, § 4º, do CP - figura típica equiparada à falsificação de documento público -, o sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, de forma secundária, o particular - terceiro prejudicado com a omissão das informações -, circunstância que atrai a competência da Justiça Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da CF (CC 127.706-RS, Terceira Seção, DJe 3/9/2014).
Precedente citado: AgRg no CC 131.442-RS, Terceira Seção, DJe 19/12/2014. CC
135.200-SP , Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 22/10/2014, DJe 2/2/2015.
2.Falsificação de doc. Público por omissão na CTPS – intervenção mínima
Informativo nº 0539
Período: 15 de maio de 2014.
QUINTA TURMA
DIREITO PENAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO POR OMISSÃO DE ANOTAÇÃO NA CTPS.
A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) não configura, por si só, o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º, do CP). Isso porque é imprescindível que a conduta do agente preencha não apenas a tipicidade formal, mas antes e principalmente a tipicidade material, ou seja, deve ser demonstrado o dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública. Com efeito, o crime
de falsificação de documento público trata-se de crime contra a fé pública, cujo tipo penal depende da verificação do dolo, consistente na vontade de falsificar ou alterar o documento público, sabendo o agente que o faz ilicitamente. Além disso, a omissão ou alteração deve ter concreta potencialidade lesiva, isto é, deve ser capaz de iludir a percepção daquele que se depare com o documento supostamente falsificado. Ademais, pelo princípio da intervenção mínima, o Direito Penal só deve ser invocado quando os demais ramos do Direito forem insuficientes para proteger os bens considerados importantes para a vida em sociedade. Como corolário, o princípio da fragmentariedade elucida que não são todos os bens que têm a proteção do Direito Penal, mas apenas alguns, que são os de maior importância para a vida em sociedade. Assim, uma vez verificado que a conduta do agente é suficientemente reprimida na esfera administrativa, de acordo com o art. 47 da CLT, a simples omissão de anotação não gera consequências que exijam repressão pelo Direito Penal. REsp 1.252.635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/4/2014.
3. falso e uso
Informativo nº 0452
Período: 18 a 22 de outubro de 2010.
SEXTA TURMA
USO. DOCUMENTO FALSO. FALSIFICAÇÃO. CRIME ÚNICO.
Na hipótese, o ora paciente foi condenado a dois anos e seis meses de reclusão e 90 dias-multa por falsificação de documento público e a dois anos e três meses de reclusão e 80 dias-multa por uso de documento falso, totalizando quatro anos e nove meses de reclusão no regime semiaberto e 170 dias-multa. Em sede de apelação, o tribunal a quo manteve a sentença. Ao apreciar o writ, inicialmente,
observou o Min. Relator ser pacífico o entendimento doutrinário e jurisprudencial de que o agente que pratica as condutas de falsificar documento e de usá-lo deve responder por apenas um delito. Assim, a questão consistiria em saber em que tipo penal, se falsificação de documento público ou uso de documento falso, estaria incurso o paciente. Para o Min. Relator, seguindo entendimento do STF, se o mesmo sujeito falsifica documento e, em seguida, faz uso dele, responde apenas pela falsificação. Destarte, impõe-se o afastamento da condenação do ora paciente pelo crime de uso de documento falso, remanescendo a imputação de falsificação de documento público. Registrou que, apesar de seu comportamento reprovável, a condenação pelo falso (art. 297 do CP) e pelo uso de documento falso (art. 304 do CP) traduz ofensa ao princípio que veda o bis in idem, já que a utilização pelo próprio agente do documento que anteriormente falsificara constitui fato posterior impunível, principalmente porque o bem jurídico tutelado, ou seja, a fé pública, foi malferido no momento em que se constituiu a falsificação. Significa, portanto, que a posterior utilização dodocumentopelo próprio autor do falso consubstancia, em si, desdobramento
dos efeitos da infração anterior. Diante dessas considerações, entre outras, a Turma concedeu a
ordem para excluir da condenação o crime de uso de
documentofalso e reduzir as penas
impostas ao paciente a dois anos e seis meses de reclusão no regime semiaberto e 90 dias-multa,
substituída a sanção corporal por prestação de serviços à comunidade e limitação de fim de
semana. Precedentes citados do STF: HC 84.533-9-MG, DJe 30/6/2004; HC 58.611-2-RJ, DJ
8/5/1981; HC 60.716-RJ, DJ 2/12/1983; do STJ: REsp 166.888-SC, DJ 16/11/1998, e HC 10.447-
MG, DJ 1º/7/2002.
HC 107.103-GO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/10/2010.
Cartão de Crédito – documento particular. Reflexões.
Informativo nº 0591
Período: 4 a 18 de outubro de 2016.
SEXTA TURMA
DIREITO PENAL. CLONAGEM DE CARTÃO DE CRÉDITO OU DÉBITO ANTES DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI N. 12.737/2012.
Ainda que praticada antes da entrada em vigor da Lei n. 12.737/2012, é típica (art. 298 do CP) a conduta de falsificar, no todo ou em parte, cartão de crédito ou débito. De fato, o caput do art. 298 do CP ("Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro") descreve o elemento normativo: "documento". Segundo doutrina, "os elementos normativos são aqueles para cuja compreensão é insuficiente desenvolver uma atividade meramente cognitiva, devendo-se realizar uma atividade valorativa." Assim, o elemento normativo implica uma
atitude especial do intérprete, a exigir um pouco mais que a simples percepção de sentidos, delimitando-se o alcance e o sentido do texto legal existente. Por conseguinte, no processo hermenêutico que subjaz à atividade do julgador, o elemento normativo em questão prescinde de integração, especialmente da utilização de analogia. Ao avançar na compreensão ou na valoração do significado do elemento normativo "documento", poder-se-ia extrair, de acordo com os escólios de doutrina, a ideia de que seria "todo escrito especialmente destinado a servir ou eventualmente utilizável como meio de prova de fato juridicamente relevante" e, acerca da falsidade documental: "imitação ou deformação fraudulenta da verdade em um papel escrito, no sentido de conculcar uma relação jurídica ou causar um prejuízo juridicamente apreciável." Aliás, a própria Lei de Acesso à Informação (art. 4º, II) define documento como "unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato". Nessa perspectiva, não há como perder de vista que o "cartão de crédito", embora não seja tão recente, passou a ter utilização propagada de forma exponencial no final do século passado, notadamente pela facilidade de se estabelecer, com ele, uma gama de relações jurídicas relevantes para o cenário econômico. Tal importância, fruto da própria dinâmica tecnológica, culminou
com a necessidade de se estabelecer uma proteção penal mais significativa para essas relações. Nesse ponto, o elemento normativo previsto no art. 298 do CP assumiu especial relevo, porque a maleabilidade valorativa que lhe é inerente permitiu a sua adaptação aos anseios e às necessidades provenientes da existência de novas relações jurídicas advindas da evolução tecnológica. De acordo com doutrina, há uma vinculação entre esse conteúdo e a interpretação valorativa, que sempre será determinada pelo julgador de acordo com a cultura da época. Em virtude disso, a jurisprudência, antes da entrada em vigor da Lei n. 12.737/2012, passou ao largo de discutir se afalsificação decartão de créditopoderia se enquadrar comofalsificação de documento particular.
A presença do elemento normativo "documento" possibilitou ao aplicador da lei compreender que o cartão de crédito ou bancário enquadrar-se-ia no conceito de documento particular, para fins de tipificação da conduta, principalmente porque dele constam dados pessoais do titular e da própria instituição financeira (inclusive na tarja magnética) e que são passíveis de falsificação.Isso pode ser constatado pelo fato de que os inúmeros processos que aportaram no STJ antes da edição da referida lei e que tratavam de falsificação de documento particular em casos de "clonagem"
de cartão de crédito não reconheceram a atipicidade da conduta (HC 43.952-RJ, Quinta Turma, DJ 11/9/2006;
HC 116.356-GO, Quinta Turma, DJe 6/4/2009; RHC 19.936-RJ, Quinta Turma, DJ 11/12/2006; RHC 13.415-CE, Quinta Turma, DJ 3/2/2003; HC 27.520-GO, Sexta Turma, DJ 15/9/2003; entre outros). No mesmo sentido, citam-se precedentes do STF: HC 102.971-RJ, Segunda Turma, DJe 5/5/2011; e HC 82.582-RJ, Segunda Turma, DJ 4/4/2003; entre outros. Assim, a inserção do parágrafo único no art. 298 do CP apenas ratificou e tornou explícito o entendimento jurisprudencial da época, relativamente ao alcance do elemento normativo
"documento", clarificando quecartão decréditoé considerado documento. Não houve, portanto, uma ruptura conceitual que justificasse considerar, somente a partir da edição da Lei n. 12.737/2012, cartão de crédito ou de débito como documento. Inclusive, seria incongruente, a prevalecer a tese da atipicidade anterior à referida lei, reconhecer que todos os casos antes assim definidos pela jurisprudência, por meio de legítima valoração de elemento normativo, devam ser desconstituídos justamente em virtude da edição de uma lei interpretativa que veio em apoio à própria jurisprudência já então dominante. Acrescenta-se, ainda, não prosperar o argumento de que é sempre inviável a retroatividade de uma lei penal
interpretativa (se não favorável ao réu), esta compreendida como norma que não altera o conteúdo ou o elemento da norma interpretada, mas, apenas, traduz o seu significado. Esse raciocínio, se considerado isoladamente, conduziria à ideia de que a previsão contida no parágrafo único do art. 298 do CP não poderia retroagir e, por esse ângulo, surgiria um imbróglio, na medida em que a jurisprudência nunca oscilou quanto ao reconhecimento de que cartão de crédito é documento para fins do caput do referido artigo. Nesse contexto, há vertente doutrinária no viés de que: "se o sentido fixado pela lei interpretativa é diferente do atribuído à norma por uma corrente jurisprudencial uniforme, então a lei nova [...] já não pode ser considerada realmente interpretativa, mas inovadora." Isso sugere, a contrario sensu, que o sentido atribuído à norma interpretativa que estivesse em consonância com a jurisprudência não se caracterizaria como lei inovadora, no sentido substancial. Na hipótese, repita-se, a jurisprudência era uníssona em reconhecer que cartão de crédito era documento para fins do caput do art. 298 do CP, o que implica dizer que a Lei n. 12.737/2012 apenas reproduziu, com palavras mais inequívocas, a jurisprudência daquela época, tratando-se, desse modo, de lei interpretativa exemplificativa, porquanto o conceito de "documento" previsto
nocaputnão deixou de conter outras interpretações possíveis. Por fim, não é possível deixar de salientar que, a não se compreender assim, todos os casos anteriores à edição da referida lei e que culminaram em condenação, ou mesmo aqueles que ainda se encontram em andamento, deveriam ser revistos, embora não tenha ocorrido qualquer ruptura na interpretação dada pela jurisprudência ao elemento normativo do tipo antes ou após a inserção do parágrafo único no art. 298 do CP.REsp 1.578.479-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2/8/2016, DJe 3/10/2016.