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Ensino jurídico, mediação e a experiência dos núcleos de prática jurídica de FortalezaCeará: escritório de prática jurídica (EPJ) Unisidade de Fortaleza (UNIFOR); núcleo de prática jurídica (NPJ) Faculdade Farias Brito (FFB); núcleo de prática jurídica

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Graduação em Direito

AYRTON DE ARAÚJO DAMASCENO

ENSINO JURÍDICO, MEDIAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DOS NÚCLEOS DE PRÁTICA JURÍDICA DE FORTALEZA – CEARÁ:

ESCRITÓRIO DE PRÁTICA JURÍDICA (EPJ) – UNIVERSIDADE DE FORTALEZA (UNIFOR)

NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA (NPJ) – FACULDADE FARIAS BRITO (FFB)

NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC)

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AYRTON DE ARAÚJO DAMASCENO

ENSINO JURÍDICO, MEDIAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DOS NÚCLEOS DE PRÁTICA JURÍDICA DE FORTALEZA – CEARÁ:

ESCRITÓRIO DE PRÁTICA JURÍDICA (EPJ) – UNIVERSIDADE DE FORTALEZA (UNIFOR)

NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA (NPJ) – FACULDADE FARIAS BRITO (FFB)

NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para aprovação na disciplina de Defesa de Monografia Jurídica do Curso em Direito.

Orientadora: Professora Mestra Gabriela Gomes Costa

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AYRTON DE ARAÚJO DAMASCENO

ENSINO JURÍDICO, MEDIAÇÃO E A EXPERIÊNCIA DOS NÚCLEOS DE PRÁTICA JURÍDICA DE FORTALEZA – CEARÁ:

ESCRITÓRIO DE PRÁTICA JURÍDICA – UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – FACULDADE FARIAS BRITO

NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará como requisito parcial para aprovação na disciplina de Defesa de Monografia Jurídica do Curso em Direito.

Orientadora: Professora Mestra Gabriela Gomes Costa

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________

Profª. Msª. Gabriela Gomes Costa (Orientadora) ______________________________________________

Profª. Drª. Beatriz Rego Xavier (UFC)

______________________________________________

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente e acima de tudo à Deus, pelo dom da vida, por todas as oportunidades, pelo amor e fidelidade presentes em todos os momentos.

À Virgem Maria, pela intercessão, proteção e por me guiar em todos os momentos.

À meus pais, Edson Alves Damasceno e Maria da Graça Meneses Araújo, por estarem sempre presentes e pelo apoio incondicional em todos os momentos.

Aos meus irmãos, Emerson, Vanessa e seus cônjuges, Beatriz e Fábio, por, apesar das diferenças, sempre proporcionarem um ambiente familiar e por todo o carinho ao longo dos anos e enfim, à toda a família.

À minha amada, Samara, pelo amor, paciência, compreensão e dedicação, sempre cuidando e incentivando o melhor que há em mim, quando muitas vezes eu não podia ver.

Aos amigos Anderson, Alan, Bernardo, Tainã, por uma vida de amizade, crescimento mútuo e sabendo, apesar das diferenças, distâncias e momentos de dificuldade, cultivar uma amizade.

Às amigas Bia, Carol, Laís, Lia, Lília, Natália, Paula, Sara, Thaís e Xuxu e ao amigo Eduardo, pelo acolhimento, estima e companheirismo em tantas vivências.

Ao amigo e colega Jordano, por uma amizade construída dentro da faculdade, mas que se projeta para a vida e pelo aprendizado e conselhos oportunamente sensatos em tantos momentos.

Aos amigos Armando e Márcia, por uma amizade enraizada na fé.

À professora e mestra Gabriela, pelos ensinamentos, pelo incentivo e pela disponibilidade, que culminaram no crescente interesse pela mediação e em uma excelente orientação.

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Ó, Minha Senhora e também minha mãe

Eu me ofereço, inteiramente todo a vós.

E em prova da minha devoção

Eu hoje vos dou meu coração.

Consagro a vós meus olhos, meus ouvidos, minha boca.

Tudo o que sou, desejo que a vós pertença.

Incomparável mãe, guardai-me e defendei-me,

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RESUMO

O presente trabalho caracteriza-se como um Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará, baseado no objetivo de analisar por meio da bibliografia e da legislação, os fatores relacionados ao aprimoramento das sessões de mediação que ocorrem nos Núcleos de Prática Jurídica de algumas universidades da cidade de Fortaleza - Ceará, uma vez que, de forma crescente, a mediação vem ganhando força como método adequado para a resolução de conflitos não-violentos, principalmente com o advento da Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, a Lei Federal nº 13.140/2015 e o Novo Código de Processo Civil de 2015, devendo ser estimulada nos métodos e locais de ensino jurídico, práticos ou teóricos. A revisão bibliográfica foi feita por meio das bases de pesquisas com intuito de buscar respostas para o problema de pesquisa: como as sessões de mediação que ocorrem nos Núcleos de Prática Jurídica das universidades de Fortaleza -Ceará analisadas podem ser aperfeiçoadas tanto na sua condução quanto estruturalmente, de forma a serem conduzidas de forma mais eficiente, tanto para os usuários do sistema de mediação quanto para os mediadores – alunos, em sua maioria -, que buscam sempre aprimorar seus conhecimentos e técnicas com o intuito de elevar o nível do serviço prestado.

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ABSTRACT

The present academic work, featured as a completion of course work from the Law school of Universidade Federal do Ceará (UFC), is based on the objective of bibliographic and legislative analysis of the factors related to the enhancement of mediation sessions that occur at the practical forensic lab of some universities at the city of Fortaleza – Ceará. Mediation is a growing practice as an appropriate method to resolve non-violent conflicts, mainly because of the upcoming legislative support, led by Resolution nº 125 of the National Justice Council, Federal Law nº 13.140/2015 and the New Civil Lawsuit Code of Procedures from 2015, and because of that, it should be encouraged at the existing places for Law teaching and practice. The bibliographic and legislative analysis will be made based on the research sources, seeking to find answers to this works question: how the mediation sessions that occur at the practical forensic labs of some universities at Fortaleza – Ceará can be enhanced as regarded their physical structure and conduction, in a way that them can be made more efficient, not only for the users of the service but also for the students that work as mediators.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...12

2 MEDIAÇÃO E CONFLITO...14

2.1 Breve notícia histórica...14

2.2 Estado Democrático de Direito e o Conflito...15

2.3A relação da sociedade e os conflitos contemporâneos...17

2.4 Mediação e seus contextos...18

2.4.1 Mediação, conflito e comunicação...20

2.5 A mediação e o Direito...23

2.6A interdisciplinaridade e a mediação...25

2.7. A mediação enquanto solução adequada ao conflito não-violento...26

2.7.1 O perfil do mediador...26

3. ENSINO JURÍDICO E MEDIAÇÃO...27

3.1 Análise e embasamento histórico...29

3.1.1 Período Imperial (1827 1889)...30

3.1.2 Período Republicano (1889 2016)...30

3.1.3 Promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (Constituição Cidadã)...31

3.1.4 A crise dos cursos de Direito...31

3.2 Portaria nº 1.886 de 1994, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e Resolução 9 de 2004 e seus reflexos na reformulação do ensino jurídico nacional...32

3.2.1 Portaria nº 1.886 de 1994...32

3.2.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996...34

3.2.3 Resolução 9 de 2004...34

3.3 O Ensino Jurídico na Atualidade...35

3.3.1 Dificuldades e problemas...35

3.3.2 Cultura do litígio...37

3.3.3 O despreparo dos cursos de graduação em Direito para promover os métodos adequados de solução de conflitos não-violentos...38

3.4 Possíveis Soluções...38

4 A MEDIAÇÃO NOS NÚCLEOS DE PRÁTICA JURÍDICA DE FORTALEZA CEARÁ...40

4.1 Da importância dos Núcleos de Prática Jurídica e do Atendimento ao assistido...40

4.2 A mediação e os Núcleos de Prática Jurídica de Fortaleza Ceará...43

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4.2.2 Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito da Universidade

Federal do Ceará...48

4.2.3 O Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade Farias Brito...50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...51

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1 INTRODUÇÃO

A mediação é um método para resolução de conflitos que tem como objetivo primordial o restabelecimento do diálogo como forma de solução democrática e consensual de conflitos e busca como finalidade a pacificação das relações sociais. É uma das melhores propostas para reformular o sistema jurídico, suas práticas e o ensino jurídico, que necessitam de alterações estruturais, curriculares e até mesmo culturais, uma vez que não mais atendem aos anseios sociais, por agilidade, justiça e resoluções mais benéficas de conflitos e algumas de suas funções originárias, de tutelar a vida em coletividade e os conflitos de seus representados.

Uma das principais diferenças entre a mediação e o método judicial litigioso de resolução de conflitos é o fato de a primeira permitir às partes envolvidas darem os rumos que desejem aos próprios litígios, podendo compor uma solução por meio do diálogo entre si, aonde todos saem vencedores. A mediação é uma técnica de auto composição e se contrapõe fortemente ao modelo judicial ganha-perde - onde há necessariamente um vencedor e um perdedor -, oferecendo uma dinâmica onde todos os envolvidos ganham realizando um acordo desenvolvido a partir do diálogo.

Desse modo, almeja-se, por meio deste Trabalho de Conclusão de Curso, relacionar os conflitos da sociedade atual com a mediação, enquanto método de resolução de conflitos não-violentos, procurando olhar para o ensino jurídico enquanto um dos principais agentes interventores nesse processo, culminando com a experiência de alguns dos Núcleos de Prática Jurídica de Fortaleza – Ceará, que são o reflexo dessa análise e aonde é possível identificar pontos positivos, negativos e de potencial aprimoramento.

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No primeiro capítulo, busca-se compreender as noções de mediação e conflito na atualidade, seus papéis e como conceitos e cultura estão mudando dentro da sociedade e do universo jurídico existente. O conflito, tão essencial à natureza humana, é intrínseco as relações dos indivíduos, sendo necessário para seu desenvolvimento. No entanto, a forma como se lida com ele pode produzir diferentes resultados e ter maior – ou menor – aproveitamento e a mediação é capaz de tutelar da melhor forma os litígios da sociedade.

Investiga-se, ao segundo capítulo, o ensino jurídico no Brasil, suas origens e transformações até chegar a sua forma atual. Também é destacada sua importância determinante para a difusão da teoria e prática da mediação, uma vez que forma os profissionais que entrarão em contato com esse método e serão seus aplicadores no futuro, cabendo ao ensino jurídico nacional, sua estrutura, seu currículo, suas disciplinas e seus agentes, formar cidadãos e profissionais capazes e que busquem tratar, da melhor forma, os conflitos sociais.

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2. MEDIAÇÃO E CONFLITO

A mediação, sendo um método adequado para a resolução consensual de conflitos não-violentos, está diretamente em contato com o conflito, que precisa ser analisado –principalmente quanto à suas causas e consequências -, afim da melhor compreensão da importância da mediação.

2.1 Breve notícia histórica

No Brasil desde o século XIX se tem notícia que são utilizados métodos adequados para a solução de conflitos não-violentos, como a mediação, embora nunca antes prevista em nenhuma legislação.

No decorrer do período monárquico e nos primórdios da República, o direito brasileiro conheceu, pois, a busca da prévia conciliação entre as partes, visando a preservação da paz e o afastamento da eternização das lides judiciais. (CUNHA, 1997, p. 640)

Durante muito tempo, a mediação ficou sendo tratada na informalidade, uma vez que não havia real suporte legislativo ou doutrinário para seu reconhecimento e formalização.

Demorou certo tempo para que a mediação fosse eficazmente aplicada em território nacional, pois, de início, alguns projetos surgiram, mas a difusão da real teoria foi lenta, vagarosa e, com o passar do tempo, foi sendo renovada ao entrar em contato com a cultura do País. É importante destacar que as práticas mais antigas da mediação no Brasil estão no âmbito do direito do trabalho, principalmente na seara dos acordos coletivos, onde era altamente eficaz na solução pacífica desses conflitos.

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de interesse coletivo (art. 10) e podiam pleitear a proteção de direitos ao Ministério do Trabalho, órgão responsável pelas questões referentes às relações entre empregados e empregadores. O artigo 6º do Decreto 19.770 previa expressamente o dever de colaboração dos sindicatos na aplicação de normas referentes à solução de conflitos trabalhistas, pela instituição de conselhos mistos e permanentes de conciliação e julgamento. (DEMARCHI, 2007, p.63)

Ao fim do século XX os métodos de resolução de conflitos não-violentos eram bastante discutidos, com destaque para a conciliação que durante muito tempo foi utilizada por órgãos do Poder Judiciário – e que, de certo modo, abriu portas para uma posterior aplicação mais efetiva da mediação. Cabe destacar a Lei nº 9.099/95, que traz várias referências ao método conciliativo.

A mediação ganha força no século atual, principalmente com o importante respaldo legislativo da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o marco legal da mediação – Lei Federal nº 13.140/2015 – e o advento do Novo Código de Processo Civil, principal expoente legal da mediação no ordenamento jurídico brasileiro.

2.2 Estado Democrático de Direito e o conflito

Para que possamos analisar a necessidade da mediação perante a sociedade e o ensino jurídico, se faz imprescindível analisar pontos importantes da história do Estado Democrático de Direito e entender como ele se comporta na atualidade, especialmente no que diz respeito a sua relação com o conflito.

O Estado é uma instituição criada para estar no papel de representante da sociedade, possuindo o regime democrático e, ainda, se baseando por um sistema jurídico, assim o Brasil é um Estado democrático de direito que tem como uma das principais características assegurar os direitos fundamentais da sociedade, como liberdade, segurança, justiça, dentre outros.

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Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte. (BRASIL,1988).

O Brasil é uma república presidencialista formada por diversos entes federativos, dentre eles estados, municípios e distrito federal, com fundamentos de cidadania e de dignidade, considerando como valor o fato de ser humano, tem como objetivos a fomentação da justiça, liberdade e solidariedade, assim essa cidadania é considerada “um sistema e mecanismo de relações dos indivíduos com o Estado e dos indivíduos entre si em um marco de direitos e deveres compartilhados” (BARATA et. al, 1997, p. 42), como consta no primeiro e terceiro artigos da Constituição Brasileira.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: - a cidadania e a dignidade da pessoa humana. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988)

Contudo, no contexto atual o Estado perdeu a habilidade de tornar efetivos vários direitos. Cumpre destacar aqui a falta de interesse dos que estão a frente do Estado de buscar medidas que efetivem tais direitos, uma vez que, culturalmente, a jovem democracia brasileira foi fundada sob uma crise ética, a qual baseou a maior parte dos episódios de instabilidade pela qual passou a democracia desde a Carta Magna, desse modo, há um abandono por parte do ente estatal no que diz respeito à tutela do conflito na sociedade pós moderna, o que abriu espaço para atitudes individuais ou coletivas de buscar uma solução alternativa para os conflitos que, aparentemente, só poderiam ser solucionados litigiosamente por meio do Poder Judiciário.

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Desse modo, os indivíduos buscam solucionar o conflito que prejudica sua rotina. O conflito se faz necessário para o progresso e desenvolvimento da sociedade, assim sendo o mesmo inevitável para que haja uma cooperação social em torno da sua resolução, de acordo com o Instituto de Tecnologia Social do Brasil (ITS) e a Secretaria dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República (2007), os conflitos fazem parte da evolução e são necessários para o crescimento, podendo ser resolvidos, dentre outras formas, através do diálogo e de práticas adequadas, como a mediação.

O conflito, então é considerado de forma mais ampla, de modo a abarcar os indivíduos envolvidos e suas especificidades. Neste ponto, é preciso também destacar a percepção de que o conflito é algo que afeta a individualidade dos conflitantes, suas preocupações, suas necessidades³³² e sua forma de se relacionar. É preciso ter em mente, ainda, que o conflito é situação inerente a qualquer inter-relação, ainda que momentânea. A Organização do ser humano em sociedade pressupõe a existência de conflitos, o que aliás, demonstra a necessidade utilidade do próprio direito. Ocorre, contudo, que conflito não é ontologicamente negativo. É parte das relações sociais e constitui fator importante para a realização de mudanças, individual e coletivamente. (DEMARCHI, 2007, p.97)

Desse modo, todo ser humano tem suas necessidades e sua forma individual de compreender a vida e seus atos. Contudo, ao longo da vida diversas formas de conflito surgem – até mesmo para expandir essa compreensão – e esse conflito necessita ser tratado de forma adequada.

2.3 A relação da sociedade e os conflitos contemporâneos

Os conflitos são intrínsecos aos indivíduos e podem servir de base para a evolução desses ou não, dependendo da forma que forem tratados e com que se lida com eles, assim “a forma como enfrentamos ou encaramos os conflitos que os torna negativos ou positivos.” (BRASIL, 2007, p. 11), desse modo pela mediação é possível solucionar o conflito de forma pacífica, democrática e, principalmente, própria, uma vez que o indivíduo impõe sua percepção e opinião na solução daquela lide.

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permitir aos seus portadores aprender com ele e evoluir. Outro quesito essencial reside na forma que se encaram os conflitos e na maneira que se procura solucioná-los, uma vez que o diálogo – principalmente quando utilizado na mediação - se mostra a via ideal para o enfrentamento dos conflitos

Entre os benefícios do conflito, podemos citar: a) estimulam o pensamento crítico e criativo; b) melhoram a capacidade de tomar decisões; c) nos lembram de que sempre existem opções; d) incentivam formas diferentes de encarar problemas e situações; e) melhoram relacionamentos e o respeito pelas diferenças; f) promovem auto compreensão. (BRASIL, 2007, p. 11)

Para que esses benefícios possam ser usufruídos é necessária anteriormente à escolha de como solucionar o conflito haver reconhecimento dele, uma vez que sempre existiram e vão continuar a existir.

Contudo, o que se faz mediante a eles é que faz verdadeiramente a diferença e segundo o ITS Brasil e a SEDH da Presidência da República (2007), negar a existência do conflito também é uma forma de violência, então o primeiro passo para resolvê-los é reconhecê-los.

Portanto, observa-se que é necessário conviver com o conflito e abordá-lo da melhor forma, de modo a reorganizar sua presença na sociedade e a buscar a solução mais benéfica para todos por meios adequados de sua resolução, como a mediação.

É imprescindível destacar que a mediação não pode ser utilizada para a resolução de conflitos que envolvam qualquer tipo de violência, visto que, nesse caso – devido ao fato de que a violência desequilibra a relação entre as partes -, não há como equiparar as partes em termos de poder para colocarem seus pontos de vista e, assim, resolverem o conflito da forma que acharem adequada.

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2.4 Mediação e seus contextos

A mediação pode ser aplicada em diversos contextos: mediação judicial, mediação no Direito do Trabalho, no Direito Familiar, na escola, dentre outros. Uma vez que possui como base o princípio de religar aquilo que se rompeu, restabelecendo uma relação para, na continuidade, tratar o conflito que deu origem ao rompimento.

A principal busca da mediação se centra em recriar um elo de comunicação; de diálogo que havia sido perdido, para posteriormente trabalhar o conflito, objeto daquela ruptura e suas causas. Isso torna a mediação uma prática que, conforme supracitado, pode ser utilizada em diversas áreas e situações, inclusive do cotidiano.

Nesse contexto, a mediação é considerada atualmente como maneira “ecológica de resolução dos conflitos sociais e jurídicos, uma forma na qual o intuito de satisfação do desejo substitui a aplicação coercitiva e terceirizada de uma sanção legal” (WARAT, 2001, p. 5). Diz-se dela uma forma consensual de tratamento do litígio, uma vez que o terceiro mediador tem um poder de decisão limitado e auxilia as partes a alcançarem um denominador comum. Por isso, não se pode perder de vista a importância dessa prática em uma sociedade cada vez mais complexa, plural e multifacetada, produtora de demandas que a cada dia se superam qualitativa e quantitativamente.

É nessa linha que a mediação, como ética da alteridade, reivindica a recuperação do respeito e do reconhecimento da integridade e da totalidade dos espaços de privacidade do outro, repudiando o mínimo de movimento invasor e dominador, buscando, assim a recriação do diálogo perdido. Olhar o conflito por meio da mediação é procurar vê-lo sob um novo prisma, que propõe uma nova análise sob todas as suas características, trazendo novas variáveis para a resolução do conflito. As divergências passam a ser vistas como oportunidades alquímicas, as energias antagônicas como complementares, e o Direito como solidariedade.

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condição para essa. O fim da mediação é precisamente responsabilizar aqueles que estão em conflito pelo tratamento do litígio que os une a partir da ética e do olhar sob o outro, encontrar, com o auxílio de um mediador, uma garantia de sucesso, ultrapassando as barreiras e divergências, compreendendo como diz Torres (2005), as emoções que estão por trás e envolvem o conflito ali estabelecido e buscando uma solução consensual que atenda aos interesses de ambas as partes e conduza à paz social. Para que seja bem sucedido o procedimento de mediação, é indispensável a existência de equilíbrio nas relações das partes: não conseguirá êxito a mediação cujas partes estiverem em desequilíbrio de atuação.

É essencial que seja garantida a todos a oportunidade de manifestação e garantida a compreensão das ações que estão sendo desenvolvidas. A mediação tem como principal fim a restauração da harmonia perdida entre as partes, segundo Morais (2008) esta pode ser alcançada através do favorecimento das trocas entre ambas, utilizando-se de um método conciliatório.

2.4.1 Mediação, conflito e comunicação

Outra razão pela qual a mediação é um instituto em alta discussão no momento é um problema paradoxal que permeia a sociedade do século XXI: uma enorme dificuldade de se comunicar; dificuldade presente justamente em uma época na qual a mídia perpassa um extremo desenvolvimento em todos os seus setores.

Nesse contexto, em que a necessidade de se comunicar é constantemente presente, protagonizada por indivíduos que não conseguem restabelecer o diálogo perdido, rompido pelo conflito, o qual a consequência é a necessidade de uma comunicação “mediada”, aparece a mediação como uma solução consensual de conflitos que possa responder adequadamente a tal demanda, gerando assim uma série de benefícios não somente ao poder judiciário, mas à sociedade em geral.

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e prover destrezas para a resolução de situações conflitivas. No curso do processo resultante, os sujeitos comprometidos têm a possibilidade de adquirir habilidades necessárias para resolver por si mesmos as diferenças que podem, eventualmente, ser suscitadas no futuro com seus pares, familiares e colaboradores, ou em sua comunidade. (SCHNITAM, 1999 apud COSTA, 2015, p.120)

Ora, se a comunicação é imprescindível para o convívio dos indivíduos em sociedade, ela com certeza o é para a solução de qualquer conflito. Ocorre que, no litigio judicial, as partes não mais suportam se comunicar e assim está caracterizado o rompimento do diálogo, o que desemboca no acionamento de um terceiro – poder judiciário, no papel de estado – para solucionar o conflito de forma imparcial, restando as partes acatar sua decisão, quer lhes tenha sido favorável ou não.

Nesse contexto, é importante salientar que a mediação confere poder as partes envolvidas em seu processo para tomar as próprias decisões e escolher a forma que acreditam ser a mais pertinente para solucionar o conflito que enfrentam. Isso permite uma maior assertividade e eficiência na hora de definir os termos do acordo e cumpri-los na prática, respectivamente.

Contudo, para que tal artifício seja utilizado de forma correta e responsável, se faz necessária uma coerente condução do processo de mediação, sob pena de restarem prejudicados os resultados e as partes, frustradas. Nesse âmbito, posiciona-se Costa (2015):

A atribuição da responsabilidade para as próprias partes para decidirem acerca do conflito é, sem dúvida, o grande diferencial da mediação. Quando se fala em responsabilidade das partes, refere-se a todas as decisões que devem ser tomadas em todo o processo mediatório, desde a escolha por optar pela mediação ao invés de outro meio de resolução de conflitos, até a escolha do mediador e todas as decisões que forem tomadas acerca do problema que levou as partes à mediação. É do mediador esse importante papel de manter o equilíbrio da mediação para que um dos participantes não se imponha ou, mesmo, que um dos participantes não se subordine ao outro por medo, por exemplo. A condução da mediação não é tarefa fácil, incentivar a reconstrução do diálogo e encaminhar as partes para a resolução autônoma da controvérsia requer conhecimento acerca do instituto. (COSTA, 2015, p.121)

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e todos saem ganhando, visto que não lidarão mais com aquele conflito e não empregarão mais recursos para solucioná-lo. Além do que, o Estado também poupa recursos no que seria outro conflito litigioso.

Nota-se mais claramente o resultado desse fenômeno quando observamos os núcleos de mediação comunitária, onde há um constante encorajamento da mediação, estimulando as partes a disporem de ânimo para dialogar e dirimir seus conflitos de forma consensual, solucionando diversas questões sociais. Nesse sentido, também se pronuncia Gabriela Gomes Costa (2015):

Alguns projetos merecem destaque por terem levado a mediação ao alcance da população. Cita-se, como exemplo dos Tribunais de Justiça do Mato Grosso do Sul e do Distrito Federal, que implementaram programas de justiça comunitária nos quais são indicados pessoas dos bairros escolhidos pelo programa para atuar como mediadores perante os demais moradores. No Mato Grosso do Sul o trabalho ocorre em conjunto com lideranças dos bairros da periferia de Campo Grande, como presidentes de associação de moradores, padres, pastores e diretores de escolas, que ajudam a indicar pessoas para serem mediadores comunitários. O programa de justiça comunitária do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por sua vez, se dá através de parcerias com a Defensoria Pública, o Ministério Público, a OAB/DF e a Universidade de Brasília (UnB)3. Ainda no que diz respeito ao Poder Judiciário, destaca-se o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que desde do ano de 2009 trabalha com um núcleo de mediação de conflitos, podendo ser agendado um encontro para o núcleo de mediação pelo próprio site do TJRJ4. Outro exemplo de como a mediação vem sendo colocada em prática no Brasil é o do projeto Mulheres da Paz, que foi implementado pelo Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania – PRONASCI, que consistia num mecanismo de capacitação de mulheres, líderes comunitárias em sua maioria, voltado à promoção de valores como ética e cidadania. (COSTA, 2015, p.127)

Atualmente, a sociedade está permeada de conflitos em todos os âmbitos e classes sociais, conflitos esses que englobam todas as searas da vida, da familiar ao penal, perpassando pelo econômico e tantos outros. Devido a tantos níveis e variações de conflitos, é necessário uma instituição que possa, com garantia e segurança, se propor a solucioná-los, não deixando nenhuma pessoa, física ou jurídica, individual ou em grupo desamparada, procurando garantir o direito à justiça.

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tradicionalista se encontra sobrecarregado e as pessoas que ele tutela, insatisfeitas, situação que clama por novos métodos e técnicas para resolução de conflitos, devendo resolve-los de forma rápido, eficiente e justa, onde todas as partes possam sair satisfeitas e o estado possa cumprir o papel a que se propõe.

Cabe aqui uma crítica ao Estado, que durante anos estimulou a judicialização do conflito – nesse sentido, pode-se citar os Juizado Especial Criminal e Cível (JECC) -, instigando as pessoas a acreditar ser a melhor solução para suas demandas.

É nesse contexto, de grande necessidade de difusão de soluções alternativas para conflitos, que surgiu a mediação aplicada, principalmente, à realidade dos núcleos de prática jurídica nas faculdades de direito, uma vez que, as instituições de ensino regularizadas representam um sério e determinante papel para a sociedade, pois são elas que preparam e capacitam os profissionais que atuarão em quase todas as searas da vida cotidiana no futuro, não sendo diferente a profissão do advogado e dos outros aplicadores e interpretadores do direito.

Cumpre destacar aqui o papel essencial da mediação e do ensino jurídico para que se inicie e se expanda – como pretende, também, o novo Código de Processo Civil de 2015 - o projeto futuro da implantação de métodos e soluções consensuais pacíficas dos conflitos e demandas apresentados pela sociedade. Assim, mesmo os núcleos de prática jurídica compondo um papel estratégico e fundamental de fornecerem os serviços de seus próprios núcleos de mediação, essa deve ser apresentada, debatida e incentivada desde o início dos cursos de graduação, uma vez que se mostra como futuro para atender as demandas sociais.

2.5 A mediação e o Direito

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A diferença da mediação quanto ao direito nasce dos fins e dos princípios que a inspiram, de uma modalidade diversa de entendimento das relações interpessoais. Nestes termos, Cosi (2003) afirma que a mediação e direito propõem dois modelos diversos na forma, na estrutura de decisão e, principalmente, nos princípios inspiradores. Mas, não obstante as vantagens oferecidas pela mediação, ela não possui só adeptos.

Muitas críticas são tecidas especialmente quanto a um dos seus aspectos principais: a informalidade que, segundo os críticos, gera a insegurança e a incerteza jurídica. A tão almejada certeza jurídica e seus critérios de previsibilidade são apontados como uma falha nos procedimentos de mediação, se comparada ao tratamento judicial dos conflitos, uma vez que, na segunda hipótese, a autonomia privada é substituída por uma autoridade que impede a prevaricação de uma parte sobre a outra.

Essa afirmativa divide-se em dois pontos principais: a) a assimetria do poder, segundo a qual o fato de confiar o tratamento do conflito a uma figura portadora de autoridade pode depender da presença de uma assimetria de poder na relação. A parte em desvantagem sabe que, se a resolução depende da autonomia, é possível que o acordo final requeira grandes concessões suas. Nessa seara é que se deve haver muito cuidado e observação, para que os mediadores estejam efetivamente preparados para lidar com tais conflitos.

Contudo, de acordo com Soler (2004), mediante a intervenção de uma autoridade que estabeleça a solução, a princípio, existe a confiança de não ocorrer pressões para que estas concessões aconteçam; b) a preservação das relações futuras, uma vez que se uma das partes impõe sua posição ao outro, provavelmente prejudica a sua relação futura.

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autoridade de um terceiro. Ao contrário, as partes buscam o tratamento adequado de seu conflito. Nesses termos, afirma Soler (2004) que a mediação corresponde a um jogo sem árbitro e sem pontuação: são sempre os jogadores que controlam a partida.

De fato, o que a mediação propõe é um modelo de justiça que foge da determinação rigorosa das regras jurídicas, abrindo-se à participação e à liberdade de decisão entre as partes, à comunicação de necessidades e de sentimentos, à reparação do mal mais que a punição de quem o praticou.

Contudo, esse modelo diferenciado que propõe outra forma de tratar os conflitos, buscando não só uma solução para o Poder Judiciário, cujo modelo de jurisdição se encontra esgotado, mas também a autonomia das partes, possui - na falta de previsibilidade - baseada nas regras e nos procedimentos, uma causa de vantagem e outra de desvantagem.

A vantagem fundamental é a não submissão a uma lex previa, o que permitirá um grau maior de atenção ao caso concreto, favorecendo a identificação de uma pluralidade de caminhos condizentes com as características de cada conflito. Ao criticar a mediação como meio de tratamento de conflitos, argumentando também em torno da falta de certeza e de previsão legal, Taruffo (2004) salienta temas aos quais dá especial atenção.

O primeiro deles está ligado à figura do mediador que, segundo a autora, deveria apresentar ao menos duas ordens de características: uma adequada preparação profissional, inclua não só competências jurídicas, mas também um específico conhecimento das técnicas de mediação; o segundo diz respeito à independência e imparcialidade quanto às partes e ao objeto do litígio, uma vez que, não observados tais critérios, poderia favorecer um dos lados em detrimento do outro, alcançando um tratamento não satisfativo do conflito.

2.6 A interdisciplinaridade e a mediação

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É importante salientar o papel fundamental do estudo interdisciplinar da mediação, que, como método adequado para resolução consensual de conflitos, tem bastante espaço disponível para ser abordada e estudada por outras áreas do conhecimento, como a Sociologia, Pedagogia, Psicologia e Serviço Social, que procuram, muitas vezes, estudar o conflito, suas causas e artifícios para sua melhor solução, em todos as esferas da sociedade.

Quando se trata, contudo, de meios consensuais de solução de conflitos, ou seja, de métodos utilizados para auxiliar a estimular as partes a alcançarem uma solução consensual, há espaço para abordar de forma mais ampla os aspectos sócio-psicológicos que interferem nas inter-relações e fazem parte dos conflitos. (DEMARCHI, 2007, p.96)

Nesta toada, é imprescindível que o mediador, terceiro sujeito da relação, se utilize e apoie em outras ciências para melhor complementar a sua função, uma vez que os sujeitos que estão envolvidos naquele conflito devem ser considerados como um todo, havendo questões da ordem social, psicológica e econômica a lhe influenciar antes, durante e futuramente no que diz respeito ao conflito que se buscar solucionar.

Essa abordagem permite a ampliação do profissional de solução de conflito, que deve considerar a existência de valores próprios dos indivíduos em conflito que são inerentes a suas concepções da realidade, seus paradigmas sociais, seus estereótipos, suas ideologias, enfim, o contexto psicossocial em que estão inseridos os conflitantes. Estes valores influenciam na conduta e nas escolhas das pessoas, devendo o profissional de solução de conflitos observar e respeitar os limites próprios das pessoas em suas diversas inter-relações sem pretender impor os seus próprios modelos de conduta e possíveis soluções do conflito. (DEMARCHI, 2007, p.96)

2.7 A mediação enquanto solução adequada ao conflito não-violento

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2.7.1 O perfil do mediador

Um dos elementos mais importantes no método da mediação é a figura do mediador, que consiste em um terceiro sujeito que procura entrar na relação de conflito entre as partes e se pôr em um mesmo patamar que elas, buscando equilibrar e capacitar os envolvidos para que se estabeleça um plano comum entre todos e, a partir daí, seja retomado o diálogo, a harmonia e se busque uma solução para o conflito e suas causas. Isto, posto, é fundamental que se faça uma análise do perfil do mediador.

Alguns princípios devem ser seguidos pelo mediador para que o procedimento conduzido alcance os objetivos almejados. Desse modo, é importante salientar a auto composição da mediação, que confere unicamente as partes a legitimidade para solucionar o conflito apresentado da melhor forma que acharem; a autodeterminação das partes, visto que, uma vez que são elas as legitimadas para decidirem sobre aquele objeto, são elas que devem determinar os termos, meios e formas em que isso se dará, cabendo ao mediador apenas guiar o procedimento, estimular as partes e, quiçá, oferecer sugestões que não induzam os sujeitos envolvidos; a imparcialidade do mediador, que, estando ali como terceiro sujeito da relação, deve se impor neutralmente frente aos fatos e argumentos expostos pelas partes e a confidencialidade do procedimento, que confere segurança e credibilidade à mediação.

O papel do mediador consiste, basicamente, em estimular a participação colaborativa das partes a fim de identificar os seus reais interesses e possíveis soluções de ganhos mútuos para se alcançar um acordo satisfatório. Sua função principal é a de conduzir a mediação zelando pela qualidade do procedimento e propiciando o trabalho adequado para auxiliar as partes na tomada de decisões livres e responsáveis. Para desenvolver essa missão o mediador deverá desempenhar vários papeis, utilizando-se de técnicas específicas (DEMARCHI, 2007, p.142)

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Cabe aqui questionar a necessidade de um ensino formal para que se exerça o papel de mediador. Embora seja um ofício que exija preparo e capacitação, hoje não há nenhum requisito formal para que se exerça esse papel. Embora isso facilite a difusão da mediação, não se pode permitir que isso aconteça em detrimento da qualidade das sessões de mediação conduzidas, visto que essas requerem estrutura e atenção aos princípios e técnicas utilizados.

Cumpre destacar o déficit de experiência encontrado nesse perfil, uma vez que um método atual, com muitos benefícios, de relativamente fácil aplicação e que há tempos vem sendo motivado na seara judiciária, que lida constantemente com o conflito, não é apresentado ou discutido ao longo da grade universitária dos alunos, uma vez que é perceptível que muitos entram em contato pela primeira vez nas palestras da disciplina de Estágio II, uma das últimas cursadas na faculdade.

Outro ponto importante a ser levantado acerca dessa questão é a supervisão prática desses mediadores, enquanto atuantes pelo projeto DIALOGAR, pois ainda que haja a capacitação – que, na medida do possível, deve ser sempre alvo de melhoramentos -, a teoria não sustenta sozinha uma boa atuação prática desses mediadores, que precisam da supervisão e análise da mediação feita por um professor da área em pelo menos três sessões, sendo a última realizada por eles, tendo o professor como observador, para que possam, aí sim, serem mediadores independentes nas sessões do projeto, podendo o professor ficar apenas de sobreaviso. É oportuno citar aqui, por exemplo, o anexo I, da Resolução nº 125 do CNJ de 2010, que estabelece parâmetros para o curso de capacitação de mediadores e conciliadores.

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3 ENSINO JURÍDICO E MEDIAÇÃO

O papel do ensino jurídico para a difusão da prática da mediação é fundamental. Desse modo, se faz fundamental compreender aonde se encontra o ensino jurídico nacional atualmente, seus precedentes e suas interações com a mediação.

3.1 Análise e embasamento histórico

É pertinente fazer um apanhado histórico extenso, visto que o ensino jurídico nacional, até os dias de hoje, carrega traços de suas origens, tendo herdado muitas derivações de ideologias de uma época colonial, excludente e totalitária. O ensino jurídico brasileiro herdou suas raízes, fundamentalmente, de Portugal, tendo em vistas as relações coloniais que se precederam durante o desenvolvimento do Brasil.

3.1.1 Período Imperial (1827 – 1889)

Após haver sido decretada a independência nacional, muitos estudantes brasileiros que iam estudar na Faculdade de Direito de Coimbra trouxeram consigo um aprendizado que envolvia transformação e liberalismo, seguindo o ritmo ditado na universidade portuguesa.

Assim, em 1827, foram fundadas, por lei e decreto imperial, duas faculdades de Direito no país: a Faculdade de Direito de Olinda e a Faculdade de Direito de São Paulo, com sede nas cidades homônimas, abrigando os primeiros cursos do Brasil.

O intuito de formar esses bacharéis seria, basicamente, atrelado ao da economia latifundiária e oligárquica que predominava na época, uma vez que a profissão de advogado era símbolo de status e poder, os herdeiros dos latifundiários poderiam manter a tradição escravocrata nacional, permanecendo as famílias nobres e abastadas como centro da sociedade.

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da pequena metrópole. O ensino jurídico no Brasil é chamado assim porque seguiu o modelo português de exclusão. (MOSSINI, 2010, p.77)

Tal período inicial merece destaque, uma vez que ditou os rumos do ensino jurídico brasileiro durante mais de um século, como se verá a seguir.

3.1.2 Período Republicano (1889 – 2016)

Durante todo o império e a maior parte da república – a qual perdura até a atualidade -, o ensino tradicionalista prevaleceu nos cursos de Direito. Merece destaque, entretanto, a Resolução 3, editada em 1972 pelo Conselho Federal de Educação (BRASIL, 1972), ao tentar modificar os rumos e a essência dos cursos de Direito por meio da alteração da grade curricular, concretizando o ensino introdutório interdisciplinar e introduzindo disciplinas relacionadas a prática forense. Esforço que, apesar de ineficaz – muitas faculdades apenas seguiram com seu currículo tradicional -, mostra uma alteração na consciência da sociedade de que o Direito, há muito tempo, não atendia os anseios e as necessidades do País.

A manutenção da ideia de reforma, pela simples modificação da grade curricular, novamente voltou a ser indicada como a solução para a crise em 1972, quando os cursos de Direito receberam nova modificação curricular por determinação da Resolução 3 do Conselho Federal de Educação. Um dos fundamentos da reformulação curricular de 1972 consistia em que o obstáculo à implantação de “soluções inovadoras” na metodologia do ensino jurídico decorria da “dilatada extensão” do currículo mínimo dos cursos de Direito. (MOSSINI, 2010, p. 98)

É necessário destacar um importante ponto: é possível, de certo modo, fazer analogia ao momento de crise institucional e política enfrentado pelo Brasil na atualidade, onde, mais uma vez, muitos órgãos e instituições do Direito e seus aplicadores – como a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e órgãos do Poder Executivo, além do Poder Judiciário -, democraticamente consagrados, não conseguem atender aos anseios da sociedade, que clama por fiscalização, honestidade e uma atualização para um sistema jurídico mais eficaz, que tanto previna e solucione dificuldades e problemas enfrentados desde a base social até os grandes nomes que governam a nação.

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Assim, houve a proclamação da CF/88 e foi inaugurada uma nova ordem jurídica, centrada na democracia, poder que emana do povo, demonstrado na extensa e ousada Carta Magna, que desde o começo se propõe a inovar e se transformar para encabeçar um ordenamento jurídico que esteja a par da sociedade brasileira.

A Constituição de 1988 inaugura uma nova ordem jurídica no Brasil, devendo ser destacado o amplo processo de democratização iniciado em nosso País. Como resultado de todo esse processo participativo, a Constituição Federal de 1988 apresenta com um dos seus marcos o caráter analítico, na medida em que se dispõe a enfrentar e disciplinar os mais variados temas, muito além dos elementos anteriormente tratados em um documento constitucional brasileiro.

A promulgação da CF/88, a “Constituição Cidadã”, possibilitou transformações importantes no ensino jurídico brasileiro, devido à introdução de direitos e garantias em nosso ordenamento jurídico que demandavam um enfoque mais humanístico e social. Com ela, surgiu a liberdade de expressão, o que possibilitou o questionamento e o debate acerca das dificuldades e problemas relacionados ao ensino jurídico brasileiro, bem como sobre a formação profissional limitada dos bacharéis e, sobretudo, sobre o Direito e a Justiça. (MORAES, 2014, p. 9)

3.1.4 A crise dos cursos de Direito

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É notória, nesse ponto, a negligência dos estudiosos e aplicadores da ciência do Direito com a sociedade, que ainda amarga as consequências de um longo período sem regulamentação ou com regulamentação insuficiente do ensino superior jurídico.

Eis que surgem, na era da Constituição de 1988, três importantes documentos que orientaram as mudanças no ensino jurídico brasileiro nas últimas décadas: a portaria 1.886 de 1994, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996 e a resolução 9 de 2004, as quais serão discutidas em tópico específico.

3.2 Portaria nº 1.886 de 1994, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 e Resolução 9 de 2004 e seus reflexos na reformulação do ensino jurídico nacional

3.2.1 Portaria nº 1.886 de 1994

Destinada a fixar diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo dos cursos jurídicos (BRASIL, 1994), esta portaria representou um avanço no sentido de adequar os cursos jurídicos a um formato mais moderno e coerente com a situação sócio-política que vivia o país.

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Inovou tanto em conteúdo quanto estrutura dos cursos, currículos e grades, trazendo exigências que elevariam o padrão dos cursos jurídicos ministrados, elevando o padrão nacional que há algum tempo já vinha em decadência, principalmente com a crise dos cursos jurídicos, onde houve uma expansão desenfreada de faculdades de direito pelo País.

Art. 4º Independentemente do regime acadêmico que adotar o curso (seriado, crédito ou outro), serão destinados cinco a dez por cento da carga horária total para atividades complementares ajustadas entre o aluno e a direção ou coordenação do curso, incluindo pesquisa, extensão, seminários, simpósios, congressos, conferências, monitoria, iniciação científica e disciplinas não previstas no currículo pleno. Art. 5º Cada curso jurídico manterá um acervo bibliográfico atualizado de no mínimo dez mil volumes de obras jurídicas e de referências as matérias do curso, além de periódicos de jurisprudência, doutrina e legislação. (BRASIL, 1994)

Apesar de, por si só, não revolucionar o sistema de ensino vigente à época, suas mudanças foram marco inicial para as inovações que viriam posteriormente, criando importantes instrumentos para a aproximação dos bacharéis em direito da população, e da ciência do direito em atuar, cotidianamente, com aqueles que dela necessitavam e a utilizavam constantemente. Dentre esses instrumentos, o importantíssimo Núcleo de Prática Jurídica, regulamentado pelo artigo 10º, que versa:

Art. 10. O estágio de prática jurídica, supervisionado pela instituição de ensino superior, será obrigatório e integrante do currículo pleno, em um total de 300 horas de atividades práticas simuladas e reais desenvolvidas pelo aluno sob controle e orientação do núcleo correspondente. § 1º O núcleo de prática jurídica, coordenado por professores do curso, disporá instalações adequadas para treinamento das atividades de advocacia, magistratura, Ministério Público, demais profissões jurídicas e para atendimento ao público. § 2º As atividades de prática jurídica poderão ser complementadas mediante convênios com a Defensoria Pública outras entidades públicas judiciárias empresariais, comunitárias e sindicais que possibilitem a participação dos alunos na prestação de serviços jurídicos e em assistência jurídica, ou em juizados especiais que venham a ser instalados em dependência da própria instituição de ensino superior. (BRASIL, 1994)

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3.2.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi promulgada com o intuito de renovar a educação nacional, provendo-lhe rumo que antes não possuía, estabelecendo os princípios e características basilares para que a educação, como um todo, pudesse se desenvolver e estabelecer metas e objetivos para o futuro.

A Lei de Diretrizes e Bases Lei 9.394 de 1996 (BRASIL, 1996) representou um grande marco no Direito Educacional Brasileiro e passou a ser a grande referência em matéria de organização na educação brasileira. Ao longo de mais de noventa artigos, a Lei base da educação brasileira disciplina diversos assuntos, entre os quais podemos destacar os princípios e finalidades da Educação nacional, os deveres do Estado na esfera educacional, as formas de organização do sistema educacional, com a repartição de competências entre os entes da federação e a colaboração entre todos. (BRASIL, 1996)

Assim, sua regulamentação é essencial não somente para o Ensino Jurídico nacional, que muito se aproveitou e se aperfeiçoou de seus artigos e determinações, mas para a educação, em todos os seus níveis, como um todo.

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1996)

3.2.3 Resolução nº 9 de 2004

Esta resolução se apresenta como um instrumento mais moderno para instituir as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Direito, em comparação com a portaria de 1.886 de 1994.

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aplicadoras do Direito, como Órgãos do Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública.

Art. 7º O Estágio Supervisionado é componente curricular obrigatório, indispensável à consolidação dos desempenhos profissionais desejados, inerentes ao perfil do formando, devendo cada instituição, por seus colegiados próprios, aprovar o correspondente regulamento, com suas diferentes modalidades de operacionalização. § 1º O Estágio de que trata este artigo será realizado na própria instituição, através do Núcleo de Prática Jurídica, que deverá estar estruturado e operacionalizado de acordo com regulamentação própria, aprovada pelo conselho competente, podendo, em parte, contemplar convênios com outras entidades ou instituições e escritórios de advocacia; em serviços de assistência judiciária implantados na instituição, nos órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública ou ainda em departamentos jurídicos oficiais, importando, em qualquer caso, na supervisão das atividades e na elaboração de relatórios que deverão ser encaminhados à Coordenação de Estágio das IES, para a avaliação pertinente. (BRASIL, 2004)

Em especial, traz como novidade a exigência de um projeto pedagógico para o curso de graduação direito, de forma a abranger perfil, competências e habilidades do aluno e o conteúdo, sistema de avaliação, estágio e duração da Instituição de Ensino Superior.

A Resolução 9 de 2004 (BRASIL, 2004) surge dez anos após a Portaria 1.886, o novo instrumento normativo aborda o ensino jurídico no Brasil, dentro do cenário constitucional de 1988 e da Lei de diretrizes e Bases de 1996. A Resolução em seus treze artigos parte de uma grande novidade que representará um marco importante nos curso jurídicos, com a obrigatoriedade de um projeto pedagógico em que devem constar o perfil do formando, as competências, habilidades, conteúdos, estágios, atividades complementares e outros elementos da instituição que se proponha a oferecer os cursos jurídicos. (MOSSINI, 2010, p.99)

3.3 O Ensino Jurídico na Atualidade

3.3.1 Dificuldades e problemas

Atualmente, os cursos de graduação em Direito, apesar de terem passado por significativas mudanças, ainda herdam resquícios históricos de um ensino que muitas vezes passa por relações de poder, primeiramente, dos professores para os alunos e em seguida destes em relação a sociedade em geral – quando, em diversas ocasiões, sentem-se e atuam com ar de superioridade devido ao seu conhecimento científico e legislativo.

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educação fundamental e média na maior parte das escolas públicas, em comparação com o ensino privado, problema esse que foi parcialmente solucionado com a implantação do sistema de cotas, mas, na verdade, exige uma concreta melhoria da educação fundamental e média.

A indiferença social, que consiste na negligência das necessidades sociais frente a ciência do Direito e seus estudiosos e aplicadores acaba por gerar uma falta de crença por parte da sociedade em órgãos e instituições tipicamente consagrados como defensores da justiça e da equidade, nos quais a população deveria poder confiar e receber, necessariamente, uma resposta justa e à altura dos problemas enfrentados ao longo da vida.

A prática pedagógica encontra-se centrada exclusivamente no método lógico-formal, que proporciona ao bacharel em Direito um conhecimento meramente descritivo, e não especulativo ou crítico-reflexivo, da ordem jurídica. Ora, a apreensão do fenômeno jurídico segundo um método lógico-formal e a prática legal transmitida por essa didática gravitam apenas em torno do problema da decidibilidade e concebem o Direito, ou a dogmática jurídica, como mero instrumento de controle e organização, bloqueando, por conseguinte, qualquer concepção do Direito e da dogmática jurídica como instrumentos de promoção ou de mudança social. (MOSSINI, 2010, p. 52)

O despreparo científico/teórico e técnico/profissional do bacharel em direito, muitas vezes nem incitado a pensar de forma crítica e construtiva e tampouco estimulado a buscar resolver os problemas apresentados pelos usuários do Direito, gerando uma série de estudantes sem preocupação com o social, enclausurados apenas no estudo positivista da legislação e entregues a decorar mais e mais o sistema jurídico – ultrapassado – vigente.

A crise no ensino jurídico e o sentimento de frustração dela decorrentes manifestavam-se com toda a intensidade. O mercado não dava conta de absorver todos os profissionais do Direito, justamente por causa da formação unicamente técnica e restrita que detinham. Nesse momento, o mercado precisava de profissionais do Direito com qualificação muito superior, capazes de enfrentar e resolver os conflitos, até então contidos pelo autoritarismo. (MARTINEZ, 2003, p.8)

3.3.2 Cultura do litígio

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na valorização do conflito judicial em detrimento da busca por melhores soluções para os problemas das partes envolvidas naquele litígio.

Qualquer estudante ou Bacharel em Direito no Brasil sabe que temos — e sempre tivemos — uma formação jurídica baseada na cultura do litígio. Não somos capacitados para a solução pacífica ou democrática de controvérsias. Quando se usa o termo “pacífica”, aqui, se quer enfatizar que a solução judicial não deixa de ser, como se sabe, uma solução violenta, a violência monopolizada e institucionalizada pelo Estado. Trata-se sempre de uma solução autoritária, já que imposta e não resultante da vontade das partes. (SOUZA, 2006, p. 72)

A formação encontrada no ensino jurídico incentiva os estudantes a litigar, estabelecendo que, necessariamente, deve haver alguém que perde e alguém que ganha como resultado de um litígio judicial.

Nós, operadores jurídicos, somos formados predominantemente para litigar, temos a cultura adversarial, do enfrentamento, não somos treinados para ouvir, para dialogar, para identificar as prioridades e os reais interesses. Somos acostumados a pensar que, necessariamente, alguém vai ganhar e alguém vai perder (SOUZA, 2006, p. 72)

Essa cultura tradicionalista e retrógrada vai de encontro aos anseios sociais por agilidade, justiça e resolução dos conflitos da maneira mais benéfica possível e, pode-se dizer, de encontro a real essência do Direito enquanto ciência, que está aí para tutelar a vida em sociedade, garantir direitos aos seus representados e, desse modo, tutelar seus conflitos da maneira mais benéfica possível.

Os métodos adequados para a resolução de conflitos não-violentos – em especial a mediação – se encontram hoje na posição de melhor resolução possível para a maior parte dos conflitos. Nesse sentido, há de se estabelecer, urgentemente, uma nova cultura para lidar com o conflito, que consiste na percepção geral de que é possível que todos saiam ganhando na resolução de um conflito, ambos cedem para que um denominador comum seja encontrado, e não, necessariamente, um tem de sair ganhando e outro perdendo.

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3.3.3 O despreparo dos cursos de graduação em Direito para promover os métodos adequados de solução de conflitos não-violentos

Assim, falta preparo dos cursos de graduação em direito para formar profissionais aptos e que busquem, efetivamente, lidar e tutelar o conflito de seus clientes da melhor forma.

É necessário investimento no currículo, quanto a implantação de disciplinas sobre métodos adequados para a resolução de conflitos não-violentos e suas práticas, investimento na capacitação de docentes, para que estejam aptos a transmitir conhecimento, vivências e os benefícios da cultura em que todos ganham e investimento na aplicação e desenvolvimento de tais métodos adequados – destaca-se, mais uma vez a mediação – para que possa ser do conhecimento de todos, e assim pouco a pouco haja uma mudança cultural – a sua existência e porque são a melhor opção, na maioria das vezes.

Para que a atividade efetivamente se expanda e produza os frutos que a população brasileira, tão carente de justiça, necessita, será preciso, ainda, que seja revisto o currículo mínimo dos cursos jurídicos, incluindo-se estas temáticas como conteúdo obrigatório, a nível teórico e prático. Naturalmente, depende também de nós, sobretudo os professores de Direito e operadores jurídicos, procurar nos inteirar desse novo assunto e contribuir para a realização dos seus objetivos, já que é nosso dever contribuir — seja implementando, seja criticando e aperfeiçoando a proposta — com a realização de mecanismos mais eficazes de acesso à resolução de conflitos (SOUZA, 2006, p. 73)

3.4 Possíveis Soluções

Os problemas expostos são de várias ordens: administrativas, educacionais, pedagógicas, entre outros, porém, eles estão interligados e existem alternativas e ferramentas para reduzir e até mesmo, em longo prazo, sanar algumas das dificuldades que encontramos atualmente.

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categorias responsáveis por uma eventual melhora no ensino pátrio -, e levando consigo a sociedade, em especial a família, que é a primeira escola.

Tal instituição – a familiar – tem fundamental importância para o saudável desenvolvimento da educação nacional, uma vez que é com as bases que se faz dentro de casa que o aluno pode aprender, construir um pensamento crítico, formar opiniões sobre os mais diversos temas e amadurecer enquanto sujeito e aluno.

Futuramente, um estudante com boas bases na educação infantil, fundamental e média e com amparo familiar irá, provavelmente, se tornar o profissional que corresponde ética, técnica, científica e adequadamente os anseios da sociedade, sanando, nesse movimento, boa parte dos problemas encontrados atualmente, como a democratização de acesso ao ensino.

Faz-se necessário também elevar o nível de qualidade das Instituições de Ensino Superior do Brasil, já que de nada adianta formar milhares de profissionais todos os semestres que não estão capacitados para responder cientificamente e tecnicamente à altura das necessidades da sociedade, o que, inclusive, termina por gerar mais gastos para o próprio estado, que acaba por ser aquele que absorve as consequências das ações de profissionais insuficientes.

Nesta toada, é urgente mudar o olhar e a forma com que se ensina Direito hoje, tendo em vista que é precisa uma maior interação e aproximação entre docente e discente, que, juntos, possam construir uma percepção investigativa e crítica dos padrões sociais com se vive hoje, afinal, aonde está e para quem está servindo o Direito?

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meta e o que se pode fazer para liberar essa orientação. (MOSSINI, 2010, p.54)

Vários métodos de melhoramento qualitativo – tanto estrutural quanto curricular - existem e devem ser utilizados para tal fim, como Avaliações Institucionais Externas, reestruturação, adequação e supervisão da grande curricular e conteúdo, ressocialização de egressos no sistema educacional e muitos outros, que, se investidos e aplicados adequadamente, irão proporcionar resultados determinantes e definitivos para a melhoria da qualidade do ensino jurídico nacional.

A gestão educacional deveria não se ater a recursos, caixa, financiamentos e investimentos, mas a desenvolver um conjunto de procedimentos para medir, corrigir e induzir a qualidade dos cursos. Isso implica analise e monitoramento de conteúdos, processos pedagógicos, instalações, motivação de alunos e professores, formação complementar, avaliação da qualidade e inserção dos egressos, biblioteca, publicações, grupos de pesquisa, núcleos de prática jurídica dentre outros. (MOSSINI, 2010, p.189)

Desse modo, é perceptível que o ensino jurídico nacional – apesar de ter passado por algumas modificações positivas - tem muito a melhorar, estando em falta com várias áreas de sua alçada.

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