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3. ENSINO JURÍDICO E MEDIAÇÃO

4.1 Da importância dos Núcleos de Prática Jurídica e do Atendimento ao

Os núcleos de prática jurídica, como citado anteriormente, são importantes instrumentos para a concretização do ensino jurídico nacional, uma vez que permitem pôr em prática a teoria vista em anos de curso.

A Resolução n. 9/2004 trouxe ainda no art. 5º, inciso III, que o eixo de formação prática, o qual dispõe que o Projeto Pedagógico do Curso de Direito, em sua organização curricular, precisaria atentar para os eixos interligados de formação. Dessa forma, o eixo de formação prática deveria promover uma integração entre a prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nos eixos de formação fundamental (Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia) e na formação profissional (Direito do Consumidor, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito Internacional e Direito Processual). A previsão de Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), para a promoção do estágio curricular obrigatório, levou à busca nos núcleos por uma interação entre a teoria e a prática das disciplinas ofertadas na matriz curricular de cada instituição de ensino, preparando o aluno para as diversas áreas de atuação do Direito, e não apenas para a advocacia. (SOUSA; FEITOSA, 2014, p. 17)

Todavia, é possível afirmar que, por si só, embora ofereça uma gama de oportunidades e possua outros objetivos, um Núcleo de Prática Jurídica não consegue fornecer toda a experiência prática que um aluno graduando em Direito necessita, uma vez que o mercado de trabalho se especializa constantemente, havendo a necessidade de outras disciplinas na graduação que trabalham com atuação prática jurídica.

Muitos estudantes buscam um estágio extracurricular no contra turno de suas aulas para complementar a experiência prática da faculdade, tal quesito fica no livre discernimento de cada um, o que, definitivamente,

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compromete a experiência de faculdade de muitos alunos, que deveriam ter, no currículo, as oportunidades de estágio que lhe permitem pôr em prática a teoria que aprenderam ao longo de toda a faculdade – as quais poderiam ser, inclusive, no próprio Núcleo de Prática Jurídica, como está começando a ocorrer, recentemente, em algumas universidades -, em diversas disciplinas, como é possível observar em tantos outros cursos, principalmente da área de humanas.

Contudo, o Núcleo de Prática Jurídica possui muitas funções que podem garantir ao aluno de Direito uma experiência enriquecedora, caso esse possua um padrão de qualidade nas suas atribuições e uma estrutura à altura de suas atividades.

Também cumpre destacar a importância da existência do Núcleo de Prática Jurídica para a sociedade, uma vez que seus atendimentos aos assistidos, muitas vezes, ou auxiliam a solucionar completamente um litígio – possivelmente, por meio da mediação e da conciliação -, ou podem dar fornecer suporte jurídico por meio da entrada de uma ação judicial ou aconselhamento jurídico. Podendo, ainda, fornecer importantes encaminhamentos aqueles que o procuram, principalmente quando vinculado à outras ciências, como à Psicologia e o Serviço Social, utilizando-se da interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade e a humanização, juntamente com a prática jurídica quando atingidas pela maior parte dos estudantes dos cursos de Direito, irão operar uma transformação de grande valia nos operadores do Direito, no sentido de exercerem uma profissão de maneira ética, humana, colocando em evidência seu papel de cidadão e, acima de tudo, a valorização do ser humano. (ALVES, 2008, p.45)

Nesta toada, é um dos objetivos do Núcleo de Prática Jurídica e uma de suas vantagens a interação com outros cursos e ciências, conforme supracitado. É necessário perceber a importância fundamental desse ponto e raciocinar no sentido de que, uma vez que mais recursos de diferentes áreas do conhecimento estão sendo empregados para o atendimento de um indivíduo e resolução de seus conflitos, melhor será essa resolutividade e mais enriquecedora a experiência dos profissionais envolvidos, tornando-os mais

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capacitados para um futuro mercado de trabalho e para responder os anseios da sociedade.

O Direito, para cumprir seu verdadeiro papel na sociedade, deve ser estudado e interpretado juntamente com outras ciências, com a utilização da interdisciplinaridade, isto é, a necessária conexão do estudo e da interpretação do Direito com outras disciplinas, como Sociologia, Psicologia, Antropologia, Pedagogia. (ALVES, 2008, p. 48)

A interdisciplinaridade é citada, inclusive, nas legislações que modificaram os cursos de graduação em direito nas últimas décadas, como a portaria 1.886 de 1994, que a afirma por meio das alterações curriculares. Segundo Alves (2008), ela assinalou que a visão do curso de Direito não deve ser isoladamente um conjunto de disciplinas e atividades, mas deve envolver conteúdo, que se transforma e evolui por meio de disciplinas e atividades diversas. Ela tem uma proposta curricular que já é essencialmente interdisciplinar, é aberta a novos ramos do conhecimento, como requisito para a formação do raciocínio jurídico, e a formação prática.

A Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, também contribui para esta pauta quando concretiza a autonomia da Universidade e do professor, elementos fundamentais para que haja uma constante reformulação do ensino nacional.

A Constituição Federal resguarda a autonomia das universidades, sem aberturas para avaliações corporativas, fato que prevaleceu com a promulgação na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9394/96. (ALVES, 2008, p.38)

Por fim, a Resolução nº 9 de 2004 – que também procura valorizar a interação de outras ciências com o Direito –, vem para aperfeiçoar iniciativas iniciadas nos projetos de lei anteriores e para inovar no quesito estrutura, almejando construir um ambiente adequado para a aprendizagem, aperfeiçoamento da relação docente-discente e construção de um curso de graduação em Direito melhor.

A tentativa é de superar a crise no Direito, nas universidades e no setor docente, fazendo com que o estudante aprenda de maneira interdisciplinar e, acima de tudo, humanizada. Esse é o objetivo da Resolução nº 09/04: organizar o ambiente acadêmico, oferecendo um ensino jurídico de qualidade e com uma metodologia adequada para a valorização do ser humano. (ALVES, 2008, p.46)

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4.2 A mediação e os Núcleos de Prática Jurídica de Fortaleza –