1 LIÇÃO 04 - 2° TRIMESTRE DE 2021
O AMOR DE DEUS
TEXTO ÁUREO: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Jo 3.16
INTRODUÇÃO
Eis nosso assunto de hoje: o amor sobre o qual não se pode chegar ao pleno entendimento. Assim como algumas virtudes cristãs são vistas e estudadas de diferentes modos, o amor é também algo que permite diferentes formas de avaliações, por suas múltiplas manifestações, todavia, interessa-nos nessa lição chegarmos até a fonte, de onde emana o amor verdadeiro, genuíno, puro, original, que é a base e a sustentação de toda expressão de amor do qual se tem conhecimento. Estudar o amor divino é algo muito valioso. Conhecê- lo e nos apropriarmos dele nos introduzirá em outro nível de vida, em um vida plena que somente o Senhor, nosso Deus, pode nos proporcionar.
Ao que conhecemos como sendo “amor” não é um produto da literatura sagrada, está para além dela, mas, se apresentará nela de um modo bem abrangente para que, pelo menos, cheguemos perto de uma delimitação aproximada. Não é um termo que se possa definir com precisão, as descrições acerca dessa palavra vão assumindo diferentes formas dependendo da necessidade do seu uso e das circunstâncias onde é empregada. Um estudo mais aprofundado desse tema exige um conhecimento mínimo do que a Bíblia Sagrada afirma e defende sobre sua abrangência, necessidade e possibilidade de aplicação no exercício prático do Evangelho. E para se ter uma visão, pelo menos, mais próxima dele precisaremos começar, sobretudo, com um estudo mais aprofundado a respeito do amor de Deus.
No antigo Israel amor e ódio eram considerados polaridades básicas da vida e força espontânea que impele alguém a uma coisa ou pessoa, em contraste consigo mesmo. No Antigo Testamento não há, inicialmente, uma preocupação maior por parte dos escritores em desenvolver esse tema, uma vez que “não há somente um Deus que ama, como também o Deus que elege e cria fatos mediante a Sua ação direta na natureza e com os homens”
1. Foram os profetas que se aventuraram a desenvolver a temática do amor de Deus como tema principal da Sua obra. Já no Novo Testamento o amor é uma das ideias centrais que expressam o conteúdo total da fé cristã, daí nosso texto áureo em Jo 3.16.
Vamos nos permitir, através desta lição, a nos abrirmos ao entendimento do amor de Deus, em Deus, por Deus e para Deus. Por isso vamos iniciar explanando sobre essa “virtude” como parte ativa da “substância”
de Deus, um atributo divino que precisa ser conhecido para ser melhor aproveitado.
Rm 5.5 - E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
2Co 13.14 - A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.
2Ts 3.5 - Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo.
1Jo 2.5 - Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado;
nisto conhecemos que estamos nele.
1Jo 4.8,9 - Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos.
1
COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2. Ed. V.1. São Paulo: Edições
Vida Nova, p. 115.
2 1. O AMOR É A ESSÊNCIA DA NATUREZA DE DEUS
Os comentários nesta lição estão abrangentes e muito bem explicados. Nossa função ao produzir estes subsídios é “esticar a conversa”, agregar conhecimento e permitir o alargamento da nossa visão dentro de cada ponto relevante.
Quando faz a introdução deste primeiro tópico, por exemplo, o comentarista nos explica que nenhum palavra seria suficiente para descrever o amor de Deus, e que ele é conhecido no idioma grego por amor
“ágape”. Então começaremos por aqui, fazendo uma breve revisão daquilo que já estudamos em outros momentos a respeito dos termos que os gregos utilizam para a palavra “amor”. Os gregos foram os primeiros a estudar o comportamento humano e a questão da afetividade, e, graças à riqueza da língua grega, com sua inigualável capacidade de expressão, chegou até nós a possibilidade de se falar e se pensar em distintas palavras, mas que ao fim tudo se traduz em AMOR. A Bíblia se utiliza dessa variedade:
1. Agapaō, “amar” e agapē, “amor” é o amor em sua expressão mais elevada. Antonio Gilberto traduz o termo grego agapē, como AMOR DIVINO, segundo ele as demais formas de amor são imanentes em nós desde o berço, mas o agapē, não, pois passa a operar em nós a partir da habitação do Espírito Santo em nosso ser
2. A palavra agapē ficou sendo o conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o homem e vice-versa. Mas a grande novidade do Cristianismo é o amor que ultrapassa os limites do próprio eu e do amor ao próximo e atinge também o inimigo sendo direcionado a ele como uma exigência do ideal cristão. Isso não era desenvolvido nem no judaísmo e nem nas outras formas de religiosidade oriental. Portanto, emanado de Deus e de grande abrangências o amor agapē é possuidor de um caráter geral como pode ser visto nas referências que se seguem. É o amor inexplicável entre um homem e uma mulher que os leva a unirem-se nos laços matrimoniais - Ef 5.25,28; o amor ao próximo - Mt 5.43; o amor de uns pelos outros - Rm 13.8; bem como pelos nossos irmãos - I Jo 2.10; 3.10; 4.20 e seguintes. É o amor que os que foram gerados de novo tem pelo Senhor Jesus - 1Pe 1.8; a Deus - Rm 8.37 e 9.13; é o amor que Deus Pai tem por Cristo - Jo 3.35; 10.17; 17.26. É o amor de Jesus a Deus Pai - Jo 14.31; é o amor de Deus pelo homem - Dt 32.15; 33.5,26; Is 44.2; é o amor pelas coisas na busca ansiosa por elas - Lc 11.43;
Jo 17.26; é fruto do Espírito - Gl 5.22
3.
2. A palavra phileō é a mais usada para “amar” ou “considerar com afeição” sendo seu significado principal o amor para com os parentes e amigos. Denota principalmente a atração de pessoas entre si quando estão estreitamente ligadas dentro e fora da família, inclui preocupação, cuidado e hospitalidade. As ideias que se vinculam com phileō não tem ênfase claramente religiosa
4. É o amor social, humanitário, patriótico, generoso, cívico e comunitário, também conhecido como AMOR FRATERNAL. A ênfase principal de phileō é o amor por pessoas que tem vínculos estreitos, ou de sangue ou de religião, ex.: Jo 15.19; 11.36; 16.27.
3. Stergō ou storge significa “amar”, “sentir afeição”. Pode referir-se ao amor entre pais e filhos, como também ao amor de um povo pelo seu soberano, e até mesmo de um cão por seu dono. Não aparece no Novo Testamento senão em associações como é o caso de Rm 12.10; Rm 1.31 e 2Tm
2
Segundo esse autor o amor sob suas diferentes formas é a maior necessidade do ser humano. Ao tipo de amor agapē ele denomina amor divino; ao eros: amor instintivo; storge: amor afetivo e phileo: amor fraternal. GILBERTO, Antonio. A família cristã. Rio de Janeiro: CPAD, p. 35-41
3
CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. n.4, v.5. São Paulo: Milenium, p. 203.
4
Cf. COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Op. cit. p. 113.
3 3.3
5. Antonio Gilberto o aponta como AMOR AFETIVO, trata-se de um amor objetivo que se comunica ao ser amado, é sacrificial e desinteressado, envolve respeito, honra dignidade e admiração.
4. O verbo eraō e o substantivo erōs denotam o amor entre um homem e uma mulher abrangendo sentidos como “anseio”, “anelo”, “desejo”. Esse tipo de AMOR INSTITIVO tem origem no instinto sexual e é centrado no corpo. É um tipo de amor instável e inseguro porque depende das emoções. É uma forma de amor legítima quando mantida dentro dos seus limites. É o que mais comumente se encontra no mundo atual. É ilustrado na Bíblia em textos como 2Sm 13.1,14,15;
1Rs 11.1; Gn 39.7-20.
Quanto mais um ser humano se torna parecido com Deus, em sua natureza moral, tanto mais ama, à semelhança do Senhor Deus, e, somente o Espírito Santo pode realizar isso em nós. A fonte de onde emana o amor é Deus. A essência do amor é Deus. O amor é um atributo divino de primeira grandeza. E se diferentes palavras são utilizadas pala expressá-lo, a aplicação de todas elas irá manifestar-se em plenitude na vida dos seres humanos, em equilíbrio e graça, quando este estiver aliançado com Deus.
1.1. Deus é o próprio amor
1Jo 4.7-9,16 - Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. Nisto se manifesta o amor de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos. [...]
E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.
Um dado importante que o comentarista coloca neste primeiro item é que não é possível estabelecer uma separação entre Deus e o amor, porque este é a Sua própria essência, Sua substância, Seu caráter, Sua natureza. Sendo assim Deus não se separa do seu amor porque que lhe é próprio. Como ninguém consegue esgotar uma explicação sobre o amor de Deus, mesmo o comentarista tendo explicado tão bem esta questão, certamente, há muito que pode ser dito e nós vamos apenas agregar alguns poucos informes a este respeito.
O amor de Deus é anterior e é a base de tudo. Toda a Sua atividade de redenção está ancorada nele, assim como o derramamento da Sua graça e a causa que move todos os Seus atos de misericórdia. Trata-se daquele atributo pelo qual Ele se move pelos interesses de Suas criaturas. Esse imenso e inescrutável amor de Deus é como uma ponte, que permanece firme, ligando o ser humano a Deus, ainda que sob as mais pesadas pressões causadas pelo peso do pecado. Seu amor é longânimo, legítimo, único, eterno e não depende de obra alguma de nossa parte.
Jó 41.11- Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu.
O amor de Deus é o responsável pela restauração da comunhão do homem com Deus. Pode não ser reconhecido como o atributo mais importante de Deus, mesmo porque a Palavra de Deus não faz essa diferenciação, nestes termos, ainda assim ele é basilar, fundamental e indispensável. Negligenciar esse atributo é deixar de conhecer o próprio Deus. O amor de Deus pertence a Sua essência. O ser humano só pode amar verdadeiramente se receber o amor de Deus. Se Deus é amor em essência, podemos entender que o amor de Deus nasce em Si mesmo. Deus não nos ama “por causa de”, e sim “apesar de”, Deus não nos ama como consequência de nossas atitudes. O amor como essência de Deus é a causa de sermos amados por Ele.
5
Idem, também na p. 117.
4 Precisamos ainda destacar que não é o amor que é Deus e sim que Deus é amor. A questão não é “Se você ama, você é filho de Deus” e sim “ Se você é filho de Deus, necessariamente você precisa amar”.
O amor de Deus pelos seres humanos está associado com a salvação deles (Rm 5.5-8).
Rm 5.5-8 - E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
O amor agapē não é um amor de recompensa, não espera nada em troca. Deus não tem necessidade de amar alguém e nem de ser correspondido, pois não precisa do ser humano. Deus é completamente independente e basta a si mesmo. O homem é diferente, por amar a Deus entende que precisa lhe oferecer alguma coisa, sem se recordar, todavia, que não há nada que possamos oferecer que não tenhamos recebido primeiro, dEle mesmo. Nada que façamos fará Deus nos amar mais ou menos. As nossas atitudes podem nos aproximar ou afastar desse amor. Mas em Deus não há mudança ou sombra de variação. E porque Ele não muda podemos continuar confiando em seu grande e inesgotável amor por nós e apesar de nós.
Lv 26.45 - Antes por amor deles me lembrarei da aliança com os seus antepassados, que tirei da terra do Egito perante os olhos dos gentios, para lhes ser por Deus. Eu sou o Senhor.
Sl 109.21 - Mas tu, ó Deus o Senhor, trata comigo por amor do teu nome, porque a tua misericórdia é boa, livra-me,
Dn 9.19 - Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome.
1.2. Deus é a fonte inesgotável de amor
Rm 12.9 - O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem.
De Deus jorra o amor agapē que transcende tudo. Ele se revela com muita propriedade na graça e na misericórdia, que serão os assuntos seguintes em nossas aulas. E supera todas as nossas expectativas, porque um amor assim, total, absoluto e incondicional, também é incompreensível. E permanecerá incompreensível para muitos.
Há um dado importante neste comentário: por causa do egoísmo o ser humano não alcança e não consegue mergulhar por completo nessa fonte chamada amor de Deus. O egoísmo tem imperado na humanidade desde o princípio e por causa dele é muito difícil crer e viver um amor desinteressado, altruísta, que existe por si só e não espera recompensa. Geralmente o amor humano busca algo em troca. Todos nós, em maior ou menor medida sofremos deste mal. Todas as pessoas, no seu estado natural, são pecadoras. A totalidade do seu ser é afetada negativamente pelo pecado, sendo também propensas a conformar-se com o mundo. Todos são culpados de desviar-se do caminho da piedade para o caminho do egoísmo.
O dicionário da língua portuguesa define egoísmo com sendo amor exagerado aos próprios interesses a despeito dos de outrem. Exclusivismo que leva uma pessoa a se tomar como referência a tudo. Falta de altruísmo; apego excessivo aos próprios interesses; comportamento da pessoa que não tem em consideração os interesses dos outros. ainda, presunção; tendência a excluir os outros, tornando-se a única referência sobre tudo. “uma presunção irracional de superioridade”, uma “opinião arrogante das qualidades de si mesmo”
(Dicionário Inglês de Oxford). Na Filosofia este termo é entendido como a tendência individual de ter em conta os próprios interesses em detrimento da submissão aos compromissos morais com os demais.
São considerados como sinônimos de orgulho: egoísmo, presunção, arrogância, insolência, vaidade,
altivez, soberba, jactância, obstinação, satisfação própria, egocentrismo e ainda outros. Certo é que egoísmo
não combina com amor, Pode tornar-se se mais ferrenho inimigo e por fim pode “matar” o amor. Os Guiness
(esse é o nome do autor) escreveu que do ponto de vista bíblico o comportamento egoísta é a desordem
5 fundamental do amor, pois põe o amor próprio à frente do amor de Deus. Ele quebra o primeiro grande mandamento: Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento, Mc 12.30, e, inevitavelmente, quebra o segundo grande mandamento: Ame a o seu próximo como a si mesmo, Mc 12.31. A diferença entre esses dois grandes mandamentos nos serve de muita instrução.
Enquanto nos é pedido para amar o próximo como a nós mesmos, ressalta-se que o amor que é devido a Deus está em outra categoria, somos chamados a amá-lo pelo que Ele é, com tudo que há em nós
6. Se pudéssemos quantificar e estabelecer um juízo de valor em relação aos pecados e afirmar qual seria o maior deles, colocaríamos o egoísmo [orgulho] como o primeiro da lista, e que serve de base para todos os outros.
A falta de amor resultante de sua prevalência é geradora de todo tipo de conduta desviante. Muitas vezes se externaliza em atos extremos de ofensa ao outro. Daí o seu avanço histórico varrendo com sua loucura indivíduos e nações. Não amar o outro conforme o mandamento é a maior ofensa que alguém pode praticar em relação ao seu semelhante.
Mt 22.37-40 - E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
Deus é a fonte inesgotável de amor e, certamente, o diabo é a fonte de todas as outras invirtudes que contribuem para a falta dele. E o homem em sua natureza humana caída continua fazendo o que os israelitas fizeram no passado, deixando o Senhor, a fonte de água viva, desviaram-se após outros deuses por causa de sua dura cerviz e seu coração obstinado, por isso seu referencial de amor está ofuscado com agua barrenta das cisternas rasas e contaminadas deste mundo, onde está buscando água para matar sua sede. Nestes reservatórios impuros matam mais do que a sede, matam a capacidade de amar, ter compaixão, ser generoso, ser misericordioso, entre outros, mas, estão tão cheios de si mesmo que nem conseguem enxergar isto.
Jr 2.13 - Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm águas.
1.3. Modos de Deus demonstrar o Seu amor
Vamos pensar neste item na diversidade do amor divino, demonstrável de muitas formas. De Deus emana um tipo de amor que muitos de nós considera impossível desenvolver e até certo ponto é mesmo.
Em 1Coríntios 13.4-7, a Bíblia nos fala sobre o amor divino que precisa ser implantado em nós. Ela diz que: O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Este capítulo 13 da 1ª carta de Paulo aos crentes de Corinto é um chamado para entender as dimensões do amor de Deus e os diferentes modos de Deus demonstrar o Seu amor, que precisa ser encontrada naqueles que o amam e o servem.
Em três versículos, do 1 ao 3, a intenção de Paulo é colocar o zelo dos Coríntios pelos dons, dentro de um contexto ético mais abrangente. Este novo contexto é o amor pelos outros, em oposição ao egoísmo expresso em buscar os próprios interesses. O amor ao qual Paulo se refere é aquele que edifica a Igreja. É o amor ensinado por Jesus - ver João 13.34-35. É o que emana da fonte original que é Deus. É o único amor verdadeiro porque é o próprio amor de Deus. O que está em disputa aqui são duas visões de espiritualidade:
(1) Eles falavam em línguas, e Paulo não está questionamento se as mesmas são ou não uma manifestação genuína do Espírito Santo.
6
GUINESS, Os. Sete pecados capitais: navegando através do caos em uma era de confusão moral. São Paulo: Shedd Publicações,
2006, p. 40-41.
6 (2) Mas ao mesmo tempo, eles toleravam ou aceitavam um comportamento sexual ilícito, a avareza e a idolatria, e julgavam poder edificar um irmão destruindo-o.
Paulo vai no começo do capítulo 13, alistar uma série de atividades religiosas, tiradas de 1 Coríntios 12.8-10, que não beneficiam quem as pratica, a menos que a pessoa tenha o amor como característica ou intenção principal, ao praticar tais atos. Paulo apresenta uma definição de amor que se adapta bem à situação em Corinto. O objetivo maior do apóstolo é ajudar os Coríntios a entender que os Dons são úteis somente nesta vida, ao passo que o amor perdura pela eternidade
7.
Apenas com uma visão exata do amor de Deus pode-se desenvolver a capacidade de perceber os diferentes modos através dos quais Deus manifesta o Seu amor a nós e através de nós. Isto porque, mesmo percebendo o enfoque do comentarista, que nos levou a pensar como Deus ama e demonstra esse amor, ainda podemos perceber como esse atributo comunicável do nosso Deus – o Amor - nos permite reproduzir suas atitudes ao despendermos, com liberalidade, um amor altruísta aos pais, aos filhos, aos irmãos, aos cônjuges, aos amigos, aos companheiros de trabalho tanto secular quanto na obra do Senhor; aos de perto; aos de longe;
aos que nos amam, aos que não nos amam e, até mesmo aos nossos inimigos.
Amor ao próximo é o mandamento supremo para o judeu piedoso e no judaísmo helenístico e rabínico a palavra agapē ficou sendo o conceito central para descrever o relacionamento de Deus com o homem e vice- versa. Mas a grande novidade do Cristianismo é o amor que ultrapassa os limites do próprio eu e do amor ao próximo e atinge também o inimigo sendo direcionado a ele como uma exigência do ideal cristão. Isso não era desenvolvido nem no judaísmo e nem nas outras formas de religiosidade oriental.
Mt 5.4 4- Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus.
Em relação ao amor devido ao próximo um filho de Deus deve amar a todos (Gl 6.10; 1Ts 3.12), inclusive seus inimigos (Mt 5.44). Deve amar também de modo especial a todos os verdadeiros cristãos, nascidos de novo (ver Jo 13.34; Gl 6.10; cf. 1Ts 3.12; 1Jo 3.11). O amor do crente por seu irmão em Cristo, por seu próximo e por seu inimigo, deve ser subordinado, controlado e dirigido pelo seu amor e devoção a Deus. O amor a Deus é o primeiro e grande mandamento (Mt 22.37,38). Por isso, a santidade de Deus, seu desejo de pureza, sua vontade e seu padrão revelados nas Escrituras nunca devem ser prejudicados por nossa falta de amor para com todos. (Bíblia de Estudo Pentecostal) .
2. O AMOR DE DEUS SE REVELOU NO FILHO
Jesus Cristo é a manifestação suprema do amor de Deus por nós. Aliás, nós sabemos o que é o amor por causa disto. A cruz é a expressão maior do que o agapē significa. Deus entregou o Seu Filho sem que nada lhe houvesse sido oferecido. Não foi o amor de troca e sim o amor que se doa.
Rm 8.32: Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?
Ef 2.1-5 - E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus,
7 MEIMARIDIS, Alexandros. 1 Coríntios 13: Uma Exposição Bíblica do Amor. Disponível em:
<http://ograndedialogo.blogspot.com.br/2011/12/1-corintios-13-parte-1-uma-exposicao.html>. Acesso em: 02/11/2016.
7 que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),
Em alguns momentos já estudamos que a questão do amor não traz consigo apenas a idéia de deleite e bons sentimentos, mas que também evoca as possibilidades de dificuldades e sofrimento por parte daquele que decide viver uma existência permeada pelo amor e entregar-se a si mesmo motivado por este amor, como aconteceu um dos mais famosos seguidores do Senhor Jesus Cristo, nos tempos do Novo Testamento:
2Co 12.15 - Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas vossas almas, ainda que, amando- vos cada vez mais, seja menos amado.
No Sermão do Monte Jesus deixa claro ser ele o primeiro a cumprir as radicais exigências do discipulado [da vida como discípulo de Jesus]. O amor de Jesus Cristo plantado nos nossos corações nos permite enxergar que o discipulado inclui dificuldades e que essa exigência indica fatos que o amor tem que enfrentar, ou seja, “não pode ser bem-sucedido nesse mundo a não ser pelo caminho do sofrimento. Se o amor custou a Deus o que lhe era mais caro, o mesmo certamente se aplicará ao discípulo”
8. Daí a firmação de que é o amor de Deus que cria novas realidades entre a humanidade, e que é, por si mesmo, a base a motivação para o amor entre as pessoas. O sacrifício de Cristo na cruz do calvário é a maior prova de que o amor de Deus é incomparável. Essa é a proposta deste tópico, esmiuçarmos o amor de Deus a este ponto máximo.
Jo 13.1 - Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.
Jo 15.9 - Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.
Rm 8.37 - Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou.
Gl 2.20 - Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
Ef 5.2,25 - E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave. [...]Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.
2Ts 2.16 ,17- E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança, Console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra.
1Jo 4.10,11, 19 - Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. [...] Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. [...] Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro.
Ap 1.5 - E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados,
2.1. Deus doou o seu filho unigênito
O Cristianismo é uma forma religiosa que se fundamenta no AMOR, no grande amor de Deus que enviou seu filho à terra:
Jo 3.16 - Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
No amor do filho:
Gl 2.20 - Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim.
Que nos ordena a agir de igual forma
8
COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Op. cit. 118.
8 Rm 12.10 - Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros;
1Jo 4.21 - E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu irmão.
Essa imagem de uma analise estendida de Jo 3.16 tem sido compartilhada, e realmente nos ajuda entender algumas minúcias deste versículo e sua magnitude, que nem sempre temos diante de nós ao lê-lo.
O comentarista chama atenção para algo de grande importância: o amor não é só sentimento. Se assim fosse nós estaríamos em grandes apuros. Sentimentos mudam, enfraquecem, acabam, podem ser distorcidos pelas circunstâncias. Sentimentos são frágeis e inconstantes. Mas o amor não. Ainda que sua expressão seja através dos sentimentos ele é bem mais do que isto. O amor nos leva a ação e nossas tomadas de atitude movidas pelo amor produzem vida. Ao enviar seu filho ao mundo para morrer pelos nossos pecados Deus estava se revelando à humanidade como um Pai amoroso que salva e restaura. Se apenas tivesse bons sentimentos e não fizesse nada a respeito disto continuaríamos perdidos em nossos delitos e pecados, incapacitados de viver na luz do Senhor, excluídos da comunhão da Trindade.
Essa prática de se viver o amor através de atitudes que Deus aprova deve ser aplicada em todas as dimensões da nossa vida. Estudamos recentemente na lição 05 de 01/11/2020, com o título: Mente, vontade e emoções restauradas pelo Senhor, que desde a antiga aliança a segurança do sacerdote no ofício das coisas santas não estava em seus sentimentos, bem como, a nossa segurança não está no que achamos ou pensamos ou sentimos, mas em obedecer. Havia uma prescrição divina para cada atitude, cada movimento, cada trabalho, cada comportamento, cada palavra que deveria ser proferida, cada relacionamento estabelecido, tudo, absolutamente tudo, era regido pela Palavra de Deus.
Tal comentário me recorda um artigo recentemente lido, publicado no último número da Revista Ultimato em circulação (Ano LI, nº 370), em que Guilherme de Carvalho
9reflete sobre duas categorias de homens identificados na contemporaneidade: O homo sentimentalis e o novo homem em Cristo. Mas observe este parágrafo com atenção:
9
CARVALHO, Guilherme de. O homo sentimentalis e o novo homem em Cristo Ultimato. Viçosa, MG, Ano LI, nº 370, 2018, p.
28-29
9 O homo sentimentalis é o ser humano moderno regido por seus sentimentos, que faz da afetividade a chave mestra de sua auto compreensão e visão de mundo, e isso chegou a tal ponto que o “sentimento” passou a mover o mundo e o “direito afetivo” vem ditando leis e controlando as políticas públicas, voltadas para um novo ideal moral de ser humano que, com as transformações recentes, faz com que todo campo social o promova, como a uma religião secular, com modificações profundas no imaginário coletivo [na imaginação de todas as pessoas], como também, no próprio tecido social.
Hoje, tudo se apoia nos sentimentos, mas biblicamente, o novo homem em Cristo reconhece que sua base é a Palavra de Deus. Não o que ele quer, pensa ou sente, mas o que Deus quer para sua vida. O amor de Cristo pelas nossas vidas foi tamanho que nos leva a refletir no que ganhamos com essas atitudes redentivas sem as quais estaríamos perdidos sem a mínima possibilidade de restauração. Os sentimentos das pessoas são importantes, isto não está em questão, bem como suas histórias, mas temos que examinar as Escrituras para saber o que é mais importante, e onde e como cada um deve ser considerado. Onde predomina o emocional a virtude e o compromisso perdem terreno, pois, o bem-estar emocional e as relações afetivas se colocam acima de tudo. Por isso tanta propagação da autoestima como o maior bem do indivíduo na atualidade.
Só um novo homem em Cristo pode obedecer ao que o Senhor estabelece para ser feito através da Sua bendita Palavra. A relação de Deus com seu povo dependerá da qualidade de vida que esse povo apresentar e o que o Senhor espera é obediência e fidelidade. O problema não para por aí: a qualidade de vida da geração futura, segundo Dt 6.1-3, dependerá em grande parte da vida presente. Como Jesus Cristo precisamos de atitudes que confirmem nosso amor e não somente amar da “boca para fora”. O amor não se expressa com palavras, mas com cuidado e doação. Isto fará uma diferença enorme, tanto no dia de hoje quanto na influência das próximas gerações.
1Ts 1.5 - Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza, como bem sabeis quais fomos entre vós, por amor de vós.
2.2. Deus nos amou primeiro
Neste item nós temos a transcrição de alguns versículos: 1Jo 4.19; 1Jo 4.10; Ef 2.4-5. Seria importante meditarmos cuidadosamente nestes versículos. E ao final do item duas frases, sobre as quais iremos refletir:
“O Evangelho de Jesus está todo baseado e fundamentado no amor. O amor é o maior princípio e a maior base de sustentação da salvação”.
O versículo chave deste item está em 1Jo 4.19 - Nós o amamos a ele porque ele nos amou primeiro.
Matthew Henry escrevendo sobre este versículo afirmou:
O seu amor é o incentivo, o motivo e a causa moral do nosso amor. É impossível deixar de amar um Deus tão bom que iniciou o ato e a obra do amor, que nos amou quanto éramos indignos desse amor e pouco atraentes. Ele nos amou mesmo que isso envolvesse um preço tão grande. Ele nos amou, buscando e requerendo o nosso amor mesmo que isso custasse o sangue do seu Filho e dignou-se em suplicar que fossemos reconciliados com Ele. Que o céu e o inferno fiquem maravilhados diante de um amor tão singular! O seu amor é a causa geradora do nosso [...] O amor divino gravou amor em nossa alma. Que o Senhor possa continuar encaminhando o nosso coração no amor de Deus (2Ts 3.5)
10.
A mesma leitura em Champlin nos oferece este assunto de forma mais abrangente. Nos explica por que nós o amamos, através de quatro pontos fundamentais:
1) Porque esse é o resultado natural da natureza divina que foi em nós implantada
10
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse, edição completa. Rio de Janeiro, 2010, p. 930.
10 2) Devido à gratidão: somos motivados a amar, devido ao exemplo divino
3) Amamos por obrigação, porque fomos exortados a amar, 1Jo 4.21 4) A influência do Espírito Santo nos leva a amar, 1Jo 3.24
Champlin utiliza a citação de vários autores, onde estes concordam que nosso amor é a reação ao Seu amor por nós. Que nosso amor não tem origem em nós, tem origem divina e aparece em reação favorável àquilo que Deus no tem dado. Começa explicando que o autor sagrado já havia demonstrado amplamente que Deus é a origem de todo verdadeiro amor, conforme:
1Jo 3.1,2,16,24 - Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus.
Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a ele.[...] 2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos. [...] Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. [...] E aquele que guarda os seus mandamentos nele está, e ele nele. E nisto conhecemos que ele está em nós, pelo Espírito que nos tem dado.
1Jo 4.7,8,16 - Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. [...] Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor. [...] E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.
E que a comunhão “mística” com Deus (no sentido de ocupação contínua da mente nas doutrinas e práticas religiosas) “nos transmite o amor de tal modo que nos tornamos agentes de sua expressão”
11. Para então afirmar que: “Sermos capazes de ‘amar’ de maneira real e natural resulta do termos ‘nascidos de Deus’, ou seja, de termos vindo a compartilhar de sua própria natureza moral”
12, 1Jo 4.7. O que leva a constatação de que é impossível que o homem pudesse ser a fonte do amor, por si memo, chegando a amar a Deus somente porque já era amado. Tendo em Deus recebido a capacidade de amar tanto a Deus como a seu semelhante.
Mesmo aplicada em outro contexto a afirmativa de Paulo aos Coríntios ilustra bem esta questão:
2Co 3.4,5 - E é por Cristo que temos tal confiança em Deus; não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus.
A nossa capacidade a amar, tanto quanto nossa capacidade de fazermos ou sermos qualquer coisa vem de Deus, a recebemos graciosamente por meio de Jesus Cristo e na instrumentalidade do Espírito Santo que habita me nós.
Mas voltemos as frases do comentarista: “O Evangelho de Jesus está todo baseado e fundamentado no amor. O amor é o maior princípio e a maior base de sustentação da salvação”. Evangelho sem amor não é Evangelho. Não se trata só de algo muito importante; trata-se do essencial. Sem amor, não há vida cristã. E isso será colocado para nós de muitas maneiras nas Escrituras.
Jo 13.35 - Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.
Através do grande e inexplicável amor com que nos amou, Deus veio ao nosso encontro e nos introduziu no movimento de sua própria Vida. Viemos de Deus, vivemos em Deus e voltamos para Deus. Em At 17.28 lemos: Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Por este motivo estamos postos no centro do grande mistério da Criação e a mercê do misterioso e providente Deus Criador, que “dá a Vida”, que sustenta a vida na terra, que cuida do universo, da qual tudo procede e para quem tudo retorna; esse é o grande mistério do Amor que está na base de tudo que existe. Com o sabemos disto? Pelo Evangelho eterno que tem sido pregado desde o início.
11
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. 1ª Edição, 4ª reimpressão. v.6. São Paulo: Milenium, 1983, p. 285.
12
Idem.
11 Gl 3.8 - Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.
Em princípio, o próprio Deus anunciou o Evangelho a Abraão, fazendo com que sua mensagem salvífica tivesse seu lugar, desde as origens da nação que Deus estava trazendo a existência através dele, para ser luz para todas as nações, e para que a salvação dos gentios fosse uma realidade já no nosso pai Abraão, os que desde então são da fé são benditos com o crente Abraão, v.9. Em vindo a plenitude do tempo o amor de Deus se fez carne e sangue, passando a habitar entre os homens. As boas novas trazidas por Jesus (o Evangelho vivo) nada mais é do que o transbordamento deste amor divino. Tudo, absolutamente tudo, está fundamentado no amor de Deus.
O conhecimento do Evangelho nos leva a adotar um posição de firmeza ética, desenvolver uma prática de oração que ande junto com a adoção de um estilo de vida transformada, priorizar a evangelização, exercer o ministério profético preparando-se e entregando mensagens bíblicas ungidas, tudo isso faz parte do projeto de Deus para o seu povo e encabeça a lista das prioridades dos que querem fazer parte de uma igreja viva e relevante, mas acima de tudo a exigência suprema continua sendo retornar ao primeiro amor. É o grande amor de Cristo plantado em nossos corações que nos constrange a buscar por uma vida de excelência e amando incondicionalmente nós obedecemos por amor, trabalhamos por amor, respeitamos por amor, nos doamos por amor e a necessidade da obra é colocada acima dos meus interesses pessoais.
Hb 6.10- porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra e do trabalho de amor que, para com o seu nome mostraste, enquanto servistes aos santos e ainda servis.
2.3. Deus nos amou incondicionalmente
1Co 13.8 - O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;
Rm 5.8 - Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.
Somos amados com um amor “indescritível, indestrutível, amor infinito que ninguém tira, ninguém apaga, jamais acaba ou falha” diz o comentarista. Por isso a vida devotada a Deus exige renúncia, disciplina, entrega incondicional e amor divino plantado no mais íntimo do ser. O Sangue de Cristo, a Santíssima Palavra e o amor de Deus, desenvolvido em nós, como fruto espiritual, são as causas primárias e essenciais da nossa vitória. Por termos sido amados incondicionalmente somos ensinados a amar a Deus acima de todas as coisas.
Mt 22.37 - E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.
Dt 6.5 - Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder.
Dt 10.12 - Agora, pois, ó Israel, que é o que o Senhor, teu Deus, pede de ti, senão que temas o Senhor, teu Deus, e que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma,
Dt 30.6 - E o Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua semente, para amares ao Senhor, teu Deus, com todo o coração e com toda a tua alma, para que vivas.
Lc 10.27 - E, respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo.
Se formos fiéis, e amarmos o Senhor, a providência divina jamais nos faltará. Por isso precisamos viver uma vida de princípios, tanto quanto, uma vida de amor a Deus que se manifestará em: (a) Renúncia da vontade própria; (b) Abandono cotidiano do pecado; (c) Obediência irrestrita às leis de Deus. Este é o estilo de vida cristã aprovada.
Deus demonstrou seu amor incondicional por todos, até mesmo pelos seus “inimigos”, providenciando,
através de sua morte agonizante, completo perdão reconciliação. Em Cristo, experimenta-se definitivamente
12 quem é Deus para a humanidade. O mistério é desvelado, Deus é amor incondicional. Compreende-se, assim, o sentido fundamental do caminho a seguir, no mundo e com o próximo diante de Deus. E por falar em caminho voltamos a 1Coríntios 13. Observe:
1Co 13.11 - Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
O apóstolo se refere ao amor como sendo um caminho. O amor é um caminho, e isto indica uma de suas características: aprende-se a amar. Nenhum de nós sabe amar. No versículo 11, o apóstolo nos lembra que, quando crianças, só sabíamos ser amados; quando adultos, devemos saber amar. O natural é ser amado;
amar é um dos sinais da espiritualidade cristã. Não por acaso o apóstolo Paulo relaciona o amor como um fruto do espírito (Gl 5.22-23).
Já vimos então que amor é atitude, mais que sentimento, e que também é um aprendizado adquirido.
Para amar de fato, sendo partícipes deste amor incondicional que Deus nos oferta, precisamos de pelo menos duas atitudes:
1) A primeira é reconhecer que somos amados por Deus. Deus nos ama, mas seu amor universal (expresso na criação e na encarnação) pode se tornar pessoal, quando nos sentimos, particularmente, queridos por Ele. A vida cristã, que produz amor, começa com a experiência da cruz e da ressurreição de Cristo, que nos coloca inteiramente no Reino do Pai.
2) A segunda atitude é amar a Deus. Se amamos a Deus, então amaremos ao outro. Quem não ama o próximo pode até cantar louvores a Deus, mas não ama a Deus, antes, torna-se mentiroso. Como diz João, amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e praticamos seus mandamentos (1Jo 5.2). Aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê (1Jo 4.20).
Quando você ama a Deus, você é capacitado a amar as pessoas. Quando você ama a Deus, Ele lhe ensina a amar. Por isto, qualquer tentativa de amar sem a presença do Espírito de Deus resulta em eros e philia, nunca em agapē (citados no início).
Deus nos ama incondicionalmente e nos chama à mesma atitude. Leia o livro do Profeta Oséias e ele lhe mostrará facetas deste Deus que ama incondicionalmente, como nenhum outro livro das Sagradas Escrituras. Mas trata-se de algo que somente é conseguido mediante ajuda do alto. É parte da natureza humana amar quem lhe ama e desprezar quem lhe odeia, amar quem lhe serve e ter menor valia por aqueles que não acrescentam nada em sua vida. Ou seja, é praticamente impossível de conseguir chegar a este ponto da vida cristã, de semelhança com Cristo. Com a Imago Dei deformada pela queda, somente Deus pode realizar tão grande obra em nós.
3. O AMOR DE DEUS É SINGULAR
Deus é singular, em sua essência, em seus atributos, em seu amor - o atributo comunicável de maior relevância em nossas vidas.
Podemos observar a singularidade do amor divino através de diferentes modos pelos quais Ele se relaciona conosco. Ele ama a todos, mas ama a cada um particularmente. Ele cuida de todos, mas cuida de cada um de nós. Sua voz brada dos altos céus e Ele se comunica com todos, de muitas formas diferentes, mas também fala conosco, suas criaturas, pessoalmente, na intimidade, como se no mundo só existisse nós e Ele.
A singularidade do amor de Deus reside no fato de que Ele não faz distinção entre as pessoas. Não
escolhe a quem vai amar, mas ama a todos. Por seu amor obtivemos a salvação, como um favor que não
merecíamos. A salvação alcança a todos as pessoas, sem acepção. Mas para que isso aconteça é necessário
que se creia em Jesus, o amado do Pai, e o receba como salvador.
13 Dt 10.17 - Pois o Senhor vosso Deus é o Deus dos deuses, e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita recompensas;
At 10.34 - E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas;
1Pe 1.17 - E, se invocais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor, durante o tempo da vossa peregrinação,
Por sua singularidade o amor de Deus é o cumprimento de toda a lei (Rm 13.10).
Rm 13.8-10 - A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei. Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor.
Como também o vínculo da perfeição:
Cl 3.12-14- Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade; suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.
O capítulo 3 de Colossenses nos apresenta as evidências da verdadeira santificação e exatamente no trecho que vai dos versos 12 ao 14 temos uma exposição das vestimentas espirituais providenciadas por Deus, com as quais se adornam os santificados. Observe que o amor é colocado em último lugar, não por ser inferior aos outros, muito pelo contrário, é o que estará ligando todas as outras peças do vestuário espiritual. Por isto o versículo começa com a expressão: E, sobre tudo isso...
Em seu comentário da Carta aos Colossenses, Lopes
13levanta e responde algumas questões, quando avalia este versículo 14:
▪ O que é a ortodoxia sem amor? Legalismo frio e repulsivo!
▪ O que é a santidade sem amor? Farisaísmo reprovado por Jesus!
▪ O que é a beneficência sem amor? Exibicionismo egoísta!
▪ O que é o culto sem amor? Formalismo abominável aos olhos de Deus!
▪ O que é a pregação sem amor? Apenas um discurso vazio!
Eis a singularidade do amor de Deus!
3.1. O amor é real, transformador e está disponível
“O amor precisa ser cultivado para o seu pleno desenvolvimento”. Ele é real, transformador, está disponível, mas sem cuidado não sobrevive.
Lemos em Rm 5.5 - E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Veja que ele foi derramado sobre nós, não há como comprar, negociar, trocar, nem tomar a força. É o Espírito Santo que concede. Mas, há como rejeitar, desprezar, esfriar e morrer. Mt 24.12 registra: E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará .
Lc 11.42 - Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.
Diferente do amor de Deus que não muda, não sofre variação, não aumenta nem diminui, e está sempre disponível, o amor no qual os seres humanos são dotados, inclusive pelo agir de Deus em suas vidas, precisa ser conservado. Fomos criados como seres racionais e com capacidade de fazer escolhas, e, as decisões humanas muitas vezes conduzem a caminhos que afastam do ideal divino. Diz-se que o oposto do amor não é
13