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Empresas juniores: sua regulamentação e influência na educação jurídica

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

PEDRO TELES QUINDERÉ RIBEIRO

EMPRESAS JUNIORES: SUA REGULAMENTAÇÃO E INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO JURÍDICA

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EMPRESAS JUNIORES: SUA REGULAMENTAÇÃO E INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO JURÍDICA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Direito Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Ensino Jurídico; Direito Empresarial.

Orientador: Prof. Me. William Paiva Marques Júnior.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca da Faculdade de Direito

R484e Ribeiro, Pedro Teles Quinderé.

Empresas juniores: sua regulamentação e influência na educação jurídica / Pedro Teles Quinderé Ribeiro. – 2016.

56 f.: il. color. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2016.

Orientação: Prof. Me. William Paiva Marques Júnior.

1. Direito empresarial. 2. Empresa júnior – Regulamentação. 3. Direito – Estudo e ensino. I. Título.

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EMPRESAS JUNIORES: SUA REGULAMENTAÇÃO E INFLUÊNCIA NA EDUCAÇÃO JURÍDICA

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito. Área de concentração: Ensino Jurídico; Direito Empresarial.

Aprovada em: 17/12/2015.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Me. William Paiva Marques Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Ma. Janaína Sena Taleires

Faculdade Nordeste (FANOR)

_________________________________________ Prof. Ma. Ana Carolina Barbosa Pereira Matos

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Ao Professor Me. William Paiva Marques Júnior, por ter sido um ótimo orientador, paciente, zeloso e sempre esforçado em ajudar. Agradeço também pela sua presença cativa durante toda a minha graduação. Por ter feito a diferença na Faculdade de Direito, transformando positivamente a coordenação de graduação.

À Paula e Joaquim, meus irmãos, que, antes disso, são meus melhores amigos. Aos meus pais, Paulo e Lúcia, por todo o apoio e amor que sempre demonstraram para mim.

À Larissa, pelo seu amor, apoio, dedicação, virtude e paciência durante esses cinco anos de graduação.

À Empresa Júnior de Direito da UFC (EJUDI), que me proporcionou aprendizados valiosos e a certeza de que podemos ser agentes ativos na melhora e no desenvolvimento do Brasil.

Aos colegas e amigos da minha turma, da EJUDI e da Simulação da Organização das Nações Unidas (SONU), pela oportunidade de caminhar lado a lado com vocês e aprender diariamente.

À Catarina Ferreira Almeida, pela inspiração no tema desta monografia.

Ao Banco Santander que oportunizou minha mobilidade acadêmica à Universidade de Coimbra.

Ao Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, pela oportunidade de participar do programa Study of the United States Institute.

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Investiga as iniciativas de atividade complementar de graduação conhecidas como empresas juniores, abordando sua regulamentação e o impacto gerado no ensino jurídico. Objetiva analisar a adequação desse tipo de atividade aos currículos dos cursos jurídicos, analisando os possíveis benefícios gerados e a sua proteção e delimitação por meio de um marco legal. Inicia analisando a correlação entre as empresas juniores e o ensino jurídico, comparando essas iniciativas com os Núcleos de Prática Jurídica e investigando a adequação delas com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito. Na sequência, aprofunda a delimitação conceitual de empresa júnior, apresentando a construção histórica. Além disso, como forma de mostrar a relevância da discussão sobre a regulamentação das empresas juniores, apresenta dois relatos de casos nos quais empresas juniores enfrentaram problemas com um conselho profissional e com uma Universidade pública que resultou na proibição de criação de qualquer empresa júnior no Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina. No último capítulo, trata da regulamentação das empresas juniores, analisando o Projeto de Lei do Senado nº 431 de 2012. Utiliza a análise bibliográfica e legislativa para discutir as relações entre as EJs e o ensino jurídico, pontuando os aspectos que as diferenciam dos NPJs. Do mesmo modo, para melhor conceituar as EJs e pontuar alguns dos benefícios experimentados pelos estudantes que participam desse tipo de iniciativa empreendedora, pesquisa na literatura e nos regulamentos existentes. Por meio de pesquisa jurisprudencial, analisa a existência de posicionamento do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB, secção São Paulo, e do Conselho Federal da OAB a respeito do assunto.

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This monograph research the extracurricular activities know as junior enterprise. It analyzes their regulation and the impact caused by their existence on the law education. It evaluates the correlation between the junior enterprises and the law education, while it compares these initiatives to the Centers for Juridical Practice. It also investigates the adequacy of the junior enterprises when compared to Brazil’s National Curriculum Guidelines of Law Undergraduate Courses. Later, the monograph goes on the task of presenting a better conceptual delimitation of a junior enterprise and its history. Besides that, as a way of showing the pertinence of the creation of a regulation on the subject, it is portrayed two cases where junior enterprises had problems with the bar association and with a political group that had an agenda for the prohibition of the creation of any junior enterprise on campus. On the last chapter, the bill of the Senate that regulates the junior enterprises (PLS nº 431 of 2012) is analyzed.

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Figura 1 Alguns estudantes contrários à existência das EJs, presentes na reunião

do Conselho do CFH que tratou do

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CCJC Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados CCJ-Senado Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania

CE-CD Comissão de Educação da Câmara dos Deputados CE-Senado Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado CFH Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC CNE Conselho Nacional de Educação

CNE/CES Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação CNEJ Conceito Nacional de Empresa Júnior

EJ Empresas Juniores

EJFGV Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo EJUDI Empresa Júnior de Direito da UFC

ENEJ Encontro Nacional de Empresas Juniores

ESSEC École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciale FEJECE Federação Cearense das Empresas Juniores

FGV Fundação Getúlio Vargas IES Instituições de Ensino Superior

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC Ministério da Educação e Cultura

MEJ Movimento Empresa Júnior NPJ Núcleos de Prática Jurídica OAB Ordem dos Advogados do Brasil

PL Projeto de Lei

PLS Projeto de Lei do Senado TED Tribunal de Ética e Disciplina

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1 INTRODUÇÃO ... 11

2 O ENSINO JURÍDICO E AS EMPRESAS JUNIORES ... 14

2.1. Os Núcleos de Prática Jurídica ... 15

2.1.1 A obrigatoriedade do estágio supervisionado por meio dos NPJ ... 17

2.2 As empresas juniores de Direito ... 18

2.3 Diferenciação entre empresa júnior e NPJ... 20

3. O MOVIMENTO EMPRESA JÚNIOR ... 23

3.1 Construção histórica das Empresas Juniores ... 24

3.2 A delimitação conceitual de empresa júnior ... 25

3.3 Pontos Contraditórios na Existência das Empresas Juniores ... 26

3.3.1 Embates com os Conselhos Profissionais ... 27

3.3.2 O caso da Universidade Federal de Santa Catarina ... 30

3.3.2.1 Argumentos levantados pelo grupo contrário às EJs ... 32

3.3.2.2 Defesa da existência das EJs ... 34

3.3.2.3 Ocorrências posteriores ... 35

4. A REGULAMENTAÇÃO DAS EMPRESAS JUNIORES ... 37

4.1 O Projeto de Lei de regulamentação das empresas juniores ... 38

4.1.1 Análise da proposta original do PLS nº 431 de 2012 e comparação com o CNEJ ... 38

4.1.2 Tramitação do Projeto de Lei e emendas ... 40

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45

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1 INTRODUÇÃO

Nascida da necessidade de aliar o conhecimento prático ao ensino universitário, as empresas juniores (EJ) têm se destacado como importante mecanismo de interseção entre o conhecimento universitário e o desenvolvimento dos conhecimentos práticos necessários à formação profissional de um estudante.

Muito embora a participação em EJs seja prática estabelecida e, relativamente, tradicional em diversos cursos, principalmente naqueles voltados à área tecnológica, ainda não há uma forte cultura de empresários juniores nos cursos jurídicos. Em muitos estados brasileiros ainda não há sequer uma única empresa júnior de Direito.

A relativa pouca expressividade do Movimento Empresa Júnior (MEJ) no âmbito dos cursos jurídicos se relaciona com o fato de que esse tipo de iniciativa é tenro nos cursos jurídicos. Há relatos de que a primeira empresa júnior de Direito do mundo foi criada na década de 1990.

Malgrado ainda carecer de maior estruturação, o MEJ jurídico representa interessante oportunidade de agregar à formação em Direito uma prática judiciária fundada em ótica diferenciada daquela experimentada nos Núcleos de Prática Jurídica (NPJ), por meio dos estágios supervisionados atualmente existentes nas Instituições de Ensino Superior (IES).

As EJs de Direito têm o potencial de fomentarem o acesso à justiça enquanto permitem aos estudantes de graduação praticarem o conhecimento teórico adquirido nas disciplinas expositivas, atuando como fator de consolidação do conhecimento dos estudantes. Além disso, funcionam como uma iniciativa que promove aos graduandos acesso a uma série de conhecimentos que, em geral, não são discutidos normalmente nos cursos jurídicos.

Conquanto os egressos de EJs experimentem benefícios, inclusive na sua empregabilidade, ao longo da existência do MEJ no Brasil, houve alguns percalços no desenvolvimento do movimento.

Alguns gestores de IES públicas não se sentiram resguardados legalmente para apoiar esse tipo de iniciativa, o que atrapalhou, de certo modo, o desenvolvimento de EJs nessas instituições.

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Diante disso, as discussões acerca da possível aprovação do Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 437, de 2012, de autoria do Senador José Agripino, posteriormente transformado no Projeto de Lei (PL) nº 8.084/2014 na Câmara dos Deputados, traz potencialmente maior segurança jurídica para a prática dos empresários juniores, mostrando-se relevante para o fortalecimento do MEJ jurídico e para a consolidação dos benefícios trazidos por esse tipo de atividade aos discentes.

Essa obra justifica-se, portanto, pela importância da análise da necessidade da adoção de possíveis regulamentações que sirvam para proteger a experiência que as EJs podem proporcionar na formação acadêmica e profissional dos estudantes,

Para se analisar o assunto, o presente trabalho está dividido em três capítulos. O inaugural trata sobre ensino jurídico, abordando um pouco as transformações ocorridas ao longo das últimas décadas. Além disso, mostra a correlação entre as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito, as EJs e os NPJs.

Ainda no capítulo primo, faz-se uma breve explanação sobre o que são os NPJs, como se dá o funcionamento deles e sua obrigatoriedade. Além disso, explana-se, de modo exordial, sobre as EJs, para que se possa analisar as semelhanças e as diferenças entre esse tipo de atividade e os NPJs.

No próximo capítulo, aborda-se o MEJ, demonstrando-se a amplitude desse movimento e a sua construção histórica. Em seguida, delimita-se conceitualmente uma EJ, focalizando-se no Conceito Nacional de Empresas Juniores (CNEJ), que é a definição atualmente utilizada pelas EJs brasileiras filiadas à Confederação Brasileira de Empresas Juniores (Brasil Júnior).

O segundo capítulo também versa os pontos contraditórios sobre as EJs, apresentando-os por meio do relato de dois casos nos quais empresas juniores enfrentaram algum problema. Assim, serão tratados de eventos que envolveram atritos nos relacionamentos entre EJs e Conselhos Profissionais e entre EJs e IES.

Demonstrada a importância da existência de regras gerais para as EJs por meio dos casos apresentados, o último capítulo trata da regulamentação das EJs, analisando o PLS nº 431, bem como o comparando ao CNEJ.

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2 O ENSINO JURÍDICO E AS EMPRESAS JUNIORES

Não são poucas as vozes que defendem a existência de uma crise no ensino jurídico.1 A própria Comissão de Ensino Jurídico da OAB Federal alertou, em diversas publicações, acerca dos problemas no ensino jurídico.2

Apesar de haver certa dissonância na enumeração dos fatores que demonstram a existência dessa crise, há uma citação recorrente acerca da insuficiência do ensino jurídico tradicional para o preparo dos bacharéis para o mercado de trabalho, bem como para a preparação dos mesmos para atuarem como agentes ativos de modificação da sociedade.3

Com o processo de redemocratização da década de 1980, as tentativas de reforma do ensino jurídico, que já vinham ocorrendo, começaram a se tornar mais bem-sucedidas, implicando em uma série de alterações nas faculdades de direito brasileira.

Algumas das principais inovações foram trazidas, inicialmente, por meio da edição da Portaria nº 1.886/1994, do Ministério da Educação e Cultura (MEC), que trouxe grandes novidades nas diretrizes curriculares dos cursos jurídicos, tal como a exigência de realização de trabalho de término de curso como requisito para a obtenção do título de bacharel em Direito.4

1 Nesse sentido, pode-se apontar a crítica feita por Marques Júnior à abordagem predominantemente positivista ainda existe no ensino jurídico atual. Outro crítico, Rodrigues, afirma que os projetos pedagógicos tradicionais não têm sucesso em interligar os diferentes eixos da formação do estudante, fundamental, profissional e prático, criticando também o que considera ser a pulverização do projeto pedagógico, materializada na realidade de que cada professor tem o seu próprio projeto pedagógico. Por outro lado, Rodrigues critica o uso da expressão “crise no ensino jurídico”, uma vez que para que atualmente existisse uma crise no ensino, seria necessário que anteriormente tivesse existido um bom ensino jurídico, o que não corresponde à realidade, segundo o autor. Cf. MARQUES JÚNIOR, William Paiva. Diretrizes do Ensino Jurídico na Intercomunicação com a Compulsoriedade do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Revista da Faculdade de Direito, Fortaleza,

v. 34, n. 1, p.587-629, jun. 2013. Disponível em:

<http://www.revistadireito.ufc.br/index.php/revdir/article/view/48/54>. Acesso em: 22 out. 2015. Cf. também RODRIGUES, Horácio Wanderlei. POPPER E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM PELA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS. Revista Direito GV, São Paulo, v. 6, n. 1, p.39-58, jun. 2010. Disponível em: <http://direitosp.fgv.br/sites/direitosp.fgv.br/files/03_1.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2015. Pág. 50.

2 João Virgílio Taglivini aponta que embora a Comissão de Ensino Jurídico da OAB tenha alertado acerca dos problemas no ensino jurídico, propondo um modelo de ensino que desenvolvesse a capacidade crítica e de questionamento do estudante, a própria OAB nunca utilizou essa abordagem para fazer uma reformulação radical nos Exames da Ordem. Cf. TAGLIAVINI, João Virgílio. Aprender e Ensinar Direito: para além do direito que se ensina errado. São Carlos: edição do autor, 2013.

3Rodrigues aponta que a aula expositiva, por si só, não prepararia o aluno para as “necessidades do mundo contemporâneo”, explicando que a utilização de apenas esse método de ensino das aulas expositivas seria muito perigoso, pois “centraliza o conhecimento na figura do professor, possibilita o ensino dogmático [...] [e] reduz a possibilidade de análise crítica e da participação ativa”. Cf. RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Idem.

4

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Conquanto ainda haja, atualmente, muitas discussões sobre alterações que precisam ser feitas no ensino jurídico, não se pode negar que houve mudanças notáveis nas estruturas dos cursos durante a década de 1990 e de 2000. Dentre as modificações, pode-se citar as diversas alterações nas diretrizes curriculares dos cursos de graduação em Direito.5

Uma das mais significativas mudanças nas Universidades brasileiras nesse período foi o grande fortalecimento das atividades de extensão, ensino e pesquisa. Com a consolidação das atividades complementares nesse período, as empresas juniores, atividade de extensão, também foram roboradas.6

Outra mudança notável, ao longo da década de 1990 e de 2000, foi a criação da obrigatoriedade da prática de estágio supervisionado na graduação em Direito, por meio dos NPJs.

Essas iniciativas têm ajudado a modificar, de certo modo, o perfil do aluno graduado em Direito, permitindo-o ter experiências práticas dentro do contexto universitário, as quais complementam e solidificam a formação teórica.

É importante observar, que apesar de tanto as EJs quanto os NPJs permitirem o aprendizado de conhecimento prático e possuam algumas semelhanças, não há uma identidade completa entre essas duas atividades. Conforme se discutirá a seguir, há diferenças importantes entre essas duas práticas.

2.1. Os Núcleos de Prática Jurídica

Os Núcleos de Prática Jurídica são uma estrutura existente dentro das faculdades de Direito, por meio da qual se realiza o componente curricular obrigatório do estágio

In: Direito, Educação, Ensino e Metodologia Jurídicos. 01ed. Florianópolis: CONPEDI, 2014. v. 01, p. 520 -

546. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=742d3c2a7ceaa614>. Acesso em: 28 nov. 2015. Cf. também DIONÍSIO, Cristiano. CULTURA JURÍDICA BRASILEIRA E CURRÍCULO DOS CURSOS DE DIREITO: APONTAMENTOS SOBRE A EFETIVIDADE DA RESOLUÇÃO Nº. 09/2004 DA CÂMARA DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. In: Congresso Nacional De Educação - EDUCERE, 9. Curitiba: EDUCERE, 2009. p. 3187 - 3200. Disponível em: <http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3040_1384.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2015. 5 Nesse sentido, pode-se exemplificar as alterações trazidas pela Portaria n. 1.886, de 30 de dezembro de 1994, do Conselho Nacional de Educação (CNE) e, posteriormente, a Resolução nº 9/2004, da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE/CES).

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supervisionado.7 Coadunam-se com a previsão, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de que o ensino superior deve “estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, [...] prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade”,8

Por meio da prática do estágio supervisionado, oportuniza-se à Universidade contribuir com a sociedade. É interessante observar, todavia, que o benefício gerado nesse processo é dialético. A partir do atendimento realizado no NPJ, o estudante e o seu orientador, além de ajudarem ao assistido, têm a chance de aprender, tanto no aspecto científico, quanto no humano.9

Cada IES deve aprovar seu próprio regulamento de estágio supervisionado, indicando o modo de funcionamento das atividades do NPJ.10

De um modo geral, de acordo com a previsão do §1º, do artigo 7º, da Resolução nº 9/2014 do CNE/CES, que dispõe sobre as diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Direito, as atividades do NPJ consistem na prestação de serviços de assistência judiciária pelos alunos de graduação, os quais devem ser supervisionados por um docente orientador e devem elaborar relatórios de atendimento.

O professor supervisor deve ajudar o aluno-estagiário a analisar qual a medida cabível para solucionar o problema apresentado pelo assistido. Após a conclusão sobre qual a solução adequada para o caso atendido, os discentes podem redigir, sempre supervisionados pelo docente, o documento jurídico que, porventura, a solução pensada exija.

É comum que os núcleos celebrem acordos com as Defensorias Públicas estaduais para atuarem como postos de atendimento conveniados. Há, inclusive, previsão nesse sentido no §1º do artigo 7º da Resolução CNE/CES nº 9/2014.

7 A Resolução nº 9/2004, da CNE/CES, em seu artigo 7º aponta que o estágio supervisionado é componente curricular obrigatório, devendo ser realizado na própria instituição por meio do NPJ. Cf. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 9/2004, de 29 de setembro de 2014. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces09_04.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015.

8 BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 27 nov. 2015. Art. 43, VI.

9

Nesse sentido, Colombari e Cunha defendem que “o ensino jurídico quando conjuga prática e teoria propicia a aproximação dos alunos com a realidade, formando assim, juristas mais humanos e conscientes”. Cf. COLOMBARI, Graziela; CUNHA, Helvécio Damis de Oliveira. Núcleos de Prática jurídica como instrumentos de acesso à justiça, promoção da cidadania e transformação da sociedade. In: Direito, Educação, Ensino e Metodologia Jurídicos. 01ed. Florianópolis: CONPEDI, 2014. v. 01, p. 405 - 422. Disponível em: <http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=0d056cb657299810>. Acesso em: 22 out. 2015. P. 412.

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Nesses casos, o orientador dos alunos continua sendo um professor da IES, não um defensor. Ainda assim, em tese, os defensores públicos também conferem o material produzido nos NPJs porventura enviados para eles, uma vez que serão eles quem assinará a peça. Desse modo, teoricamente, há um duplo controle de qualidade nos NPJ que possuem esse tipo de convênio.

Em geral, os NPJs não atuam em todas as áreas do Direito, como na seara criminal. Ademais alguns NPJs são criteriosos na análise dos casos que serão atendidos, evitando-se aqueles que envolvam tutela de urgência ou demasiada complexidade. Tal posição relaciona-se com o fato de que, em função da dinâmica própria de supervisão dos trabalhos dos alunos feita em um NPJ, o desfecho de um caso pode se tornar mais lento, o que atrapalharia a análise de um caso com essas características.

Ainda que os NPJs tenham o potencial de enriquecer a formação do bacharel em Direito, nem sempre o estágio supervisionado por meio dos núcleos foi obrigatório. Houve época na qual não havia obrigatoriedade nem mesmo de apresentação de trabalho de conclusão de curso para a obtenção do título de bacharel em Direito.

2.1.1 A obrigatoriedade do estágio supervisionado por meio dos NPJ

As diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em Direito nem sempre estabeleceram a obrigatoriedade do estágio supervisionado. A Portaria nº 1.886/1994, do MEC, por exemplo, que disciplinava as diretrizes curriculares e o conteúdo mínimo das graduações em Direito até a entrada em vigor da Resolução nº 9/2004 do CNE/CES, apesar de fazer referência ao estágio supervisionado no seu artigo 11, não o impunha.11

O que a Portaria nº 1.886/1994 indicava como obrigatório era o “estágio de prática jurídica”, que envolvia atividades práticas simuladas e reais.12 A portaria mencionava que esse estágio de prática jurídica seria realizado em um núcleo de prática jurídica.

Posteriormente, no ano de 2004, a Resolução nº 9/2004, do CNE/CES substituiu a Portaria nº 1.886/1994, estabelecendo a obrigatoriedade do estágio supervisionado curricular,

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bem como sua realização por meio “do Núcleo de Prática Jurídica de cada instituição de ensino jurídico (art. 7º, § 1º) ”. 13

2.2 As empresas juniores de Direito

Comparadas às EJs de cursos de graduação que possuem uma maior tradição no empreendedorismo, as empresas juniores jurídicas representam, relativamente, uma novidade. Recentemente, todavia, tem-se observado uma tendência de fortalecimento desse tipo de iniciativa em diversos cursos que não costumavam ter muitas EJs, dentre os quais, o Direito.14

Paradoxalmente, o início do MEJ jurídico brasileiro se deu apenas seis anos após a criação da primeira EJ do Brasil, em 1994.15 A EJUR, Empresa Júnior Jurídica, vinculada à Universidade Estadual Paulista (UNESP) foi criada, curiosamente, no mesmo ano da edição da Portaria nº 1.886, do CNE.16

Desde então, a quantidade de EJs jurídicas foi aumentando paulatinamente. Hoje, há registro de pelo menos quinze empresas juniores de Direito em funcionamento no Brasil.17 Dentre essas, encontra-se a Empresa Júnior de Direito da Universidade Federal do Ceará, fundada no ano de 2013 por alunos da instituição.18

Com certa identidade com os NPJs, as EJs de Direito permitem aos estudantes de graduação vivenciar experiências práticas no âmbito universitário, funcionando como

13

Esse é o ensinamento de Sousa e Feitosa. Cf. SOUSA, Kelly Cristina Vieira de; FEITOSA, Gustavo Raposo Pereira. Op. Cit.

14 GUTIERREZ, Felipe. Cursos sem tradição em negócios aderem ao modelo de empresa júnior. Folha de São Paulo. São Paulo, 18 nov. 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/11/1372720-cursos-sem-tradicao-em-negocios-aderem-ao-modelo-de-empresa-junior.shtml>. Acesso em: 29 nov. 2015. 15 CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. DNA JÚNIOR: Conhecendo o MEJ - Livro I. São Paulo: Brasil Júnior, 2015. Disponível em: <http://brasiljunior.org.br/files/[DNAJúnior] Livro I - Conhecendo o MEJ.rar>. Acesso em: 7 nov. 2015.

16

Cf. EJUR, Empresa Júnior Jurídica. Nossa História. Disponível em: <http://ejur.com.br/?page_id=36>. Acesso em: 14 nov. 2015.

17 LIGA DAS EMPRESAS JUNIORES DE DIREITO: LEJUD. Disponível em: <https://www.facebook.com/notes/liga-da-justiça/lejud/259283330837758>. Acesso em: 30 nov. 2015. Cf. também LIGA DAS EMPRESAS JUNIORES DE DIREITO: LEJUD. Quem somos. Disponível em: <http://www.lejud.com/quem-somos>. Acesso em: 30 nov. 2015.

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importante mecanismo de alinhamento do conhecimento prático-profissional ao conhecimento teórico.

Nesse sentido, as EJ jurídicas revelam-se como uma iniciativa que executa várias instruções das Diretrizes Curriculares Nacionais de Graduação em Direito. Primordialmente, pelo fato de serem uma atividade que atende ao Eixo de Formação Prática, previsto para a graduação em Direito, ao mesmo tempo que consolida o conhecimento adquirido no Eixo de Formação Profissional.19

Art. 5º O curso de graduação em Direito deverá contemplar, em seu Projeto Pedagógico e em sua Organização Curricular, conteúdos e atividades que atendam aos seguintes eixos interligados de formação:

I - Eixo de Formação Fundamental, tem por objetivo integrar o estudante no campo, estabelecendo as relações do Direito com outras áreas do saber, abrangendo dentre outros, estudos que envolvam conteúdos essenciais sobre Antropologia, Ciência Política, Economia, Ética, Filosofia, História, Psicologia e Sociologia.

II - Eixo de Formação Profissional, abrangendo, além do enfoque dogmático, o conhecimento e a aplicação, observadas as peculiaridades dos diversos ramos do Direito, de qualquer natureza, estudados sistematicamente e contextualizados segundo a evolução da Ciência do Direito e sua aplicação às mudanças sociais, econômicas, políticas e culturais do Brasil e suas relações internacionais, incluindo-se necessariamente, dentre outros condizentes com o projeto pedagógico, conteúdos essenciais sobre Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito Penal, Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Trabalho, Direito Internacional e Direito Processual; e

III - Eixo de Formação Prática, objetiva a integração entre a prática e os conteúdos teóricos desenvolvidos nos demais Eixos, especialmente nas atividades relacionadas com o Estágio Curricular Supervisionado, Trabalho de Curso e Atividades Complementares.

(Grifou-se)

Do mesmo modo, em razão da gestão autônoma e horizontal das empresas juniores20 e em virtude do forte proselitismo, existente no MEJ, à proatividade e ao posicionamento de seus membros como agentes ativos da transformação do Brasil,21 a

19 BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 9/2004, de 29 de setembro de 2014. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces09_04.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015. Artigo 5º.

20 As EJs devem ser constituídas como associações civis, conforme o artigo 8º, inciso I, do Conceito Nacional de Empresa Júnior, tendo uma gestão autônoma da IES e da coordenação do curso às quais são vinculadas, salvo raras exceções. Essa é a realidade constatada no Censo EJ 2014, que observou que dentre as 427 EJs que responderam à pesquisa, apenas três não tinham sua autonomia respeitada pela IES, que ditavam os caminhos que a empresa júnior deveria seguir. Cf. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. CNEJ: Conceito Nacional de Empresa Júnior. São Paulo: Brasil Júnior, 2003. Disponível em: <http://brasiljunior.org.br/download?file=CNEJ.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2015. Cf. também: CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. Censo EJ e Identidade. Brasília: Brasil Júnior, 2014. Disponível em: <http://brasiljunior.org.br/download?file=Censo+&+Identidade+2014+-+VF.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2015. P. 14.

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participação em uma EJ tende a gerar em seus membros “uma postura reflexiva e de visão crítica que fomente a capacidade e a aptidão para a aprendizagem autônoma e dinâmica”22

O direito fundamental de acesso à justiça também é fortalecido por meio das atividades exercidas pelos discentes nas EJs. Como se sabe, esse direito não deve ser interpretado de maneira restritiva, como a mera possibilidade de pleitear em juízo. O acesso à justiça envolve também a oportunidade de ter acesso a orientações jurídicas corretas, de cunho preventivo, por meio da consultoria ou assessoria jurídica.23

Assim, em razão das EJ terem como finalidade primordial o atendimento preferencial para micro e pequenas empresas, para o terceiro setor e para pessoas físicas,24 que, normalmente, não teriam acesso nem a uma orientação advocatícia, nem a um atendimento pela defensoria pública, pode-se afirmar que elas consistem em mecanismo realizador do acesso à justiça.

2.3 Diferenciação entre empresa júnior e NPJ

Ao se comparar as empresas juniores e os NPJs, alguns pontos de semelhança ficam evidentes. O mais cediço é que tanto as empresas juniores de Direito quanto os NPJs são iniciativas que prezam, na sua essência, permitir aos graduandos de Direito experiência de prática jurídica.

Outro ponto de convergência entre as duas atividades é que, em ambas, os trabalhos desenvolvidos pelos discentes devem ser supervisionados por um professor orientador da IES. O objetivo da supervisão, em ambas, é permitir o aprendizado correto do aluno e a prestação de um serviço de qualidade ao terceiro.

Ainda que tanto as EJs de Direito quanto os NPJs tenham algumas semelhanças, não se deve desconsiderar que eles se diferenciam em aspectos importantes. De fato, as

empresarial, empreendedores comprometidos e capazes de transformar o Brasil”. Cf. CONFEDERAÇÃO

BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. Idem 22

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução nº 9/2004, de 29 de setembro de 2014. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces09_04.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015. Artigo 3º.

23 Colombari e Cunha defendem que uma das formas do acesso à justiça é, justamente a transmissão de conhecimento à sociedade sobre seus direitos. Afirmam ainda que o “[...] princípio [do acesso à justiça] não é satisfeito somente quando ingressa-se (sic) com a demanda em um Tribunal, o litígio não é o único caminho para a realização e efetividade do direito, outras alternativas existem fora do judiciário que permitem o acesso à justiça”. Cf. COLOMBARI, Graziela; CUNHA, Helvécio Damis de Oliveira. Idem.

(23)

empresas juniores permitem uma série de experiências pouco evidentes na prática desenvolvida nos NPJs.

Em função dos empresários juniores gerirem e decidirem, por conta própria, os rumos de sua EJ, eles têm a oportunidade de aprender importantes conhecimentos de gestão organizacional, aos quais, provavelmente, nunca teriam acesso no eixo teórico da graduação. Afinal, na maior parte dos cursos jurídicos nacionais, inexiste a oferta de qualquer disciplina voltada para a administração.

Outro aspecto que diferencia a experiência de um discente em uma EJ daquela em um NPJ é que, na empresa júnior, o aluno, por ter muito mais autonomia e liberdade de decisão do que em um núcleo, tem a possibilidade de desenvolver melhor sua capacidade decisória e analítica da situação a ser superada.

Uma diferença primordial entre os NPJs e as EJs é que, enquanto aqueles atendem gratuitamente os assistidos, as EJ, normalmente, cobram pelo serviço prestado. Tal fato, entretanto, não descaracteriza o importante papel de fomentador de acesso à justiça das empresas juniores, porquanto, ainda que cobrem pelo serviço prestado, essas associações não têm por objetivo principal auferir lucro, motivo pelo qual cobram um valor módico, bem abaixo do que costuma ser cobrado no mercado.25

Outro diferencial entre as empresas juniores e os NPJs é que, inobstante o atendimento nos núcleos costumar ocorrer em dupla, é natural que nas empresas juniores haja um maior desenvolvimento das habilidades dos membros de trabalhar em equipes. Isso advém da própria dinâmica de uma EJ, uma vez que, nelas, os discentes, além de estruturarem a EJ em equipes, sempre têm de decidir coletivamente e por conta própria os rumos da empresa júnior, tendo de convencer uns aos outros sobre qual o rumo certo a ser tomado.

Os NPJs e as empresas juniores ainda se diferenciam, também, quanto à experiência que permitem no que se refere ao atendimento ao cliente. Nos núcleos, o contato dos alunos com os assistidos costuma se restringir ao atendimento inicial, quando se coleta as informações acerca da problemática trazida pelo cliente e, algumas vezes, a um contato posterior para coleta de algum documento faltante.

Nas EJs, por outro lado, os alunos costumam se relacionar com os clientes em diversos momentos. O contato com o cliente acontece, em geral, desde a captação inicial,

25

(24)

passando pelas negociações dos termos dos serviços a serem prestados e pela coleta dos dados da problemática. Além disso, o contato continua até a entrega do produto final e a coleta do nível de satisfação do cliente com o serviço por meio de uma pesquisa.

(25)

3. O MOVIMENTO EMPRESA JÚNIOR

Nascidas na França durante a década de 1960, as empresas juniores espalharam-se por diversos países europeus, recebendo forte aceitação nesse continente ao longo de sua existência. No ano de 1992, o movimento europeu de empresas juniores chegou a tal nível de maturidade que se criou uma confederação continental, a JADE, da qual fazem parte, atualmente, 14 confederações nacionais e membros consultivos.26

Não obstante só ter chegado ao Brasil no final da década de 1980, o MEJ brasileiro tem uma dimensão considerável. São confederadas à Brasil Júnior, a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, atualmente, 236 EJs e 17 federações estaduais,27 que envolvem por volta de onze mil empresários juniores por ano e têm um faturamento anual conjunto de cerca de treze milhões de reais. Essas organizações realizam por volta de 2.500 projetos ao ano.28

A título de comparação, após 23 anos de atividade, a JADE possui, atualmente, por volta de 280 EJs confederadas,29 as quais envolvem por volta de vinte mil empresários juniores e arrecadam mais de dezesseis milhões de euros anualmente.30

Ainda que o MEJ tenha uma magnitude impressionante na Europa e no Brasil, ele ainda não é um movimento forte em todas as partes do mundo. A primeira associação estudantil no modelo de empresa júnior com sede na América do Norte, por exemplo, só foi fundada no ano de 2012.31

Ainda assim, há um prognóstico de expansão internacional do MEJ. Nos últimos três anos foram criadas mais duas confederações nacionais a Junior Enterprises of Tunisia –

26 EUROPEAN CONFEDERATION OF JUNIOR ENTERPRISES. What is JADE? Disponível em: <http://www.jadenet.org/about/what-is-jade/>. Acesso em: 1 dez. 2015.

27

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. O MEJ. Disponível em: <http://brasiljunior.org.br/>. Acesso em: 1 dez. 2015.

28Idem. Relatório Legado da Gestão 2014. Disponível em:

<http://issuu.com/brasiljunior/docs/relatorio_legado_ppt_v8>. Acesso em: 1 dez. 2015. P. 19. 29

EUROPEAN CONFEDERATION OF JUNIOR ENTERPRISES. Idem.

30 Idem. Home. Disponível em: <http://www.jadenet.org/>. Acesso em: 1 dez. 2015.

(26)

JET, em 2012,32 e a Junior Consulting Confederation of Canada, em 2014.33 Com esse crescimento, o MEJ já se encontra presente em 26 países.34

3.1 Construção histórica das Empresas Juniores

A primeira EJ criada no mundo foi a Junior ESSEC Conseil, vinculada à IES francesa École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciale (ESSEC), no ano de 1967. Sua criação teve como mote o estabelecimento de uma organização, gerida pelos próprios estudantes, por meio da qual eles pudessem praticar seus conhecimentos, oferecendo serviços para empresas.35

No Brasil, a primeira EJ foi criada por alunos do curso de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, no ano de 1987, por influência de João Carlos Chaves que, à época, era Diretor da Câmara de Comércio Franco-Brasileira. Tratava-se da Empresa Júnior da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (EJFGV).36

Posteriormente, novas empresas juniores começaram a ser criadas por todo o país. No Estado do Ceará, a primeira entidade desse tipo foi a ADM Soluções, da Universidade Estadual do Ceará, cuja fundação ocorreu no ano de 1992.37 No ano de 2002, por sua vez, foi criada a Federação Cearense das Empresas Juniores (FEJECE).38

No ano de 2003, no XI Encontro Nacional de Empresas Juniores (ENEJ), foi criada a Confederação Brasileira de Empresas Juniores, a Brasil Júnior.39 A missão da

32 JUNIOR ENTERPRISES OF TUNISIA - JET. À propôs. Disponível em: <https://www.facebook.com/JuniorEnterprisesOfTunisia/info/?tab=page_info>. Acesso em: 01 dez. 2015. 33 JUNIOR CONSULTING CONFEDERATION OF CANADA. Home. Disponível em: <http://www.junior-consulting-canada.com/>. Acesso em: 1 dez. 2015.

34 CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. Loc. cit.

35 Desde sua criação, em 1967, a Junior ESSEC já realizou mais de 9.000 projetos. No biênio 2012-2013, o volume de negócios dessa empresa júnior envolveu recursos da monta de 1,6 milhões de euros. Cf. JUNIOR ESSEC CONSEIL. Junior ESSEC dans l’histoire. Disponível em: <http://www.junioressec.com/presentation-2/junior-essec-dans-lhistoire/>. Acesso em: 01 dez. 2015. Cf. também idem. Études de marché et conseils aux entreprises. Disponível em: <http://www.junioressec.com/wp-content/uploads/2014/02/Junior-ESSEC-Plaquette-de-présentation.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2015.

36

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. DNA JÚNIOR: Conhecendo o MEJ - Livro I. São Paulo: Brasil Júnior, 2015. Disponível em: <http://brasiljunior.org.br/files/[DNAJúnior] Livro I - Conhecendo o MEJ.rar>. Acesso em: 7 nov. 2015. P.4.

37 ADM SOLUÇÕES. Sobre a ADM Soluções. Disponível em:

<http://www.admsolucoes.com.br/?page_id=85>. Acesso em: 01 dez. 2015.

(27)

confederação é “representar o movimento empresa júnior e potencializá-lo como agente de formação de empreendedores capazes de transformar o Brasil”.

A Brasil Júnior funcionou como um importante mecanismo para estabelecer diretrizes e planos comuns entre as empresas juniores nacionais.40

Um marco atual na história do MEJ brasileiro foi a proposição do Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 437/2012, de autoria do Senador José Agripino, do Democratas do Rio Grande do Norte, que trata da regulamentação das empresas juniores no Brasil.

No ano de 2013, o MEJ completou 25 anos de existência no Brasil, no mesmo ano no qual a Brasil Júnior completou aniversário de uma década de existência.

3.2 A delimitação conceitual de empresa júnior

Com a criação da Brasil Júnior, Confederação Brasileira de Empresas Juniores, procedeu-se à elaboração de um documento que representasse as características mínimas esperadas de uma empresa júnior para que ela fosse confederada. Esse documento ficou conhecido como o Conceito Nacional de Empresa Júnior (CNEJ).41

As disposições presentes no CNEJ já eram características de grande parte do MEJ, ainda assim, a criação do CNEJ e o fortalecimento da rede por meio da confederação representaram fatores importantes para a uniformidades das EJs e para a garantia da confiabilidade dos serviços prestados por elas.

Quanto às formalidades constitutivas de uma empresa júnior, estabeleceu-se que elas devem ser criadas na forma de uma associação civil, conforme todos os trâmites legais e com todos os seus registros em dia. Foi definido também que os estatutos das EJs não podem prever como sua finalidade a geração de receita para a IES a que ela estiver vinculada.42

Do mesmo modo, acordou-se que os associados das EJs atuam como voluntários, não recebendo, portanto, prestação pecuniária por participarem da EJ, por prestarem serviços ou por realizarem projetos.43

40 Conforme será explicado a seguir, foi com a criação da Brasil Júnior que foi criada o Conceito Nacional de Empresa Júnior (CNEJ). Cf. Ibid.. P. 15.

41 Cf. Idem. CNEJ: Conceito Nacional de Empresa Júnior. São Paulo: Brasil Júnior, 2003. Disponível em: <http://brasiljunior.org.br/download?file=CNEJ.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2015. Preâmbulo e Art. 1º.

42 Deve-se salientar, também, que, conforme previsão do caput artigo 4º do CNEJ, a empresa júnior deve estar obrigatoriamente vinculada a uma IES e a pelo menos um curso de graduação. Ibid., art. 4º e 3º, §2º.

(28)

O objetivo principal das EJs evidencia-se, por meio do artigo 3º do CNEJ, como claramente educacional. Esse artigo estabelece que o estatuto de uma empresa júnior deve descrever como finalidade dela o fomento ao empreendedorismo de seus membros e o desenvolvimento profissional deles por meio da vivência empresarial, enquanto presta “projetos e serviços na área de atuação do(s) curso(s) de graduação ao(s) qual(is) a empresa júnior for vinculada”44.

Também é descrito, no CNEJ, como finalidade de uma empresa júnior o desenvolvimento da sociedade, por meio de prestação de seus serviços e projetos, que devem ser dirigidos, preferencialmente, para micro e pequenas empresas, para o terceiro setor ou para pessoas físicas.45 Essa previsão demonstra, no caso das empresas juniores de Direito, como as EJs jurídicas podem servir como instrumento de acesso à justiça.

Em relação à abrangência dos projetos e serviços que podem ser realizados pela EJ, o CNEJ prevê que ela é definida com base no conteúdo programático dos cursos de graduação aos quais a associação for vinculada, bem como nas competências ou nas qualificações advindas dele. Além disso, também poderão ser realizados serviços típicos da categoria de profissionais que o curso ao qual a empresa júnior é vinculada forma. Isso é o que se extrai do previsto no CNEJ.46

Artigo 9º - O estatuto da empresa júnior deverá determinar que somente possam ser realizados projetos e serviços que cumpram, ao menos, uma das seguintes características:

I - Estejam inseridos no conteúdo programático do(s) curso(s) de graduação a que ela for vinculada;

II – Sejam fruto de competências ou qualificações decorrentes do conteúdo programático do(s) curso(s) de graduação a que ela for vinculada; III – Sejam atribuições da categoria de profissionais, determinados por lei regulamentadora das categorias profissionais, à qual os alunos de graduação do(s) curso(s) de graduação a que ela for vinculada fizerem parte.

(Grifou-se)

A abrangência dos serviços que uma empresa júnior pode prestar é um dos pontos nos quais existe polêmica. Essa contrariedade é mais evidente em relação às empresas juniores que são vinculadas a cursos que formam profissionais cuja sua atividade é regulamentada por lei. Esse é o caso da advocacia.

3.3 Pontos Contraditórios na Existência das Empresas Juniores

44 Ibid., Art. 3º.

(29)

Defendida pelos membros do MEJ como iniciativa benéfica para a formação acadêmico-profissional, gerando, dentre outras vantagens, até mesmo o aumento da empregabilidade de seus egressos após a formatura, as EJs, ainda assim, enfrentam a resistência de alguns grupos.

Os casos mais famosos de oposição à EJs são de dois tipos. Os primeiros são aqueles nos quais um conselho de classe ou grupo de interesse de determinada profissão se posiciona contra a realização de projetos ou a prestação de serviços pela EJ, mas não se posicionam contrariamente a sua existência em si, considerando-as, inclusive, como uma iniciativa interessante para o desenvolvimento dos estudantes.

Outros grupos posicionam-se contra as EJs de modo ideológico. Não se posicionam contra apenas certas atividades desenvolvidas ou a favor da imposição de limites à atuação das EJs. Esses grupos, na realidade, são contra a mera existência das empresas juniores, sob o argumento de que elas não se coadunam com a finalidade que o ensino superior deve ter na visão deles.

O certo é que os argumentos contrários às EJ variam conforme o grupo de interesse que se posiciona contrário a elas. Analisar-se-á, a seguir, os casos mais conhecidos de embate contra empresas juniores.

3.3.1 Embates com os Conselhos Profissionais

A ocorrência mais emblemática de embate entre um conselho profissional e uma empresa júnior ocorreu, interessantemente, na seara jurídica, envolvendo a OAB e algumas EJs. Trata-se do choque ocorrido entre a seccional paulista da Ordem e as EJs de Direito de São Paulo.

Na década de noventa, conforme mencionado, a primeira empresa júnior jurídica surgiu no Estado de São Paulo, vinculada à UNESP. Após alguns anos, no início da década de 2000, o MEJ jurídico paulista já estava se expandindo, inclusive com a criação da EJ da tradicional Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, a SanFran Jr, no ano de 2003.47 Ocorre que, no ano de 2000, o Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da seccional paulista da OAB exarado o parecer transcrito abaixo.

(30)

EMPRESA JÚNIOR DE CONSULTORIA - ENTIDADES CIVIS INSTITUÍDAS POR ACADÊMICOS - FUNCIONAMENTO JUNTO A FACULDADE DE DIREITO

A lei não veda a fundação de entidades civis para o exercício de atividades com fins educativos e de aperfeiçoamento do futuro bacharel. As finalidades estatutárias descritas não se confundem com assistência judiciária gratuita, ou prática de estagiários em escritórios de advocacia. Não obstante, devem constar dos estatutos sociais proibições de exercício de quaisquer atividades próprias da advocacia (postulação em juízo, consultoria, assessoria e direção jurídicas - art. 1º, I e II, do EAOAB), incluindo assistência judiciária gratuita ou demais atos que impliquem captação de clientela e causas, bem como deve constar, explicitamente, no título da empresa e nos artigos do estatuto a expressão "assessoria acadêmica". Encaminhamento ao Presidente do TED com sugestão para eventuais providências das Comissões de Estágio e Exame de Ordem e Prerrogativas do Advogado.

Proc. E-2.264/00 - v.u. em 14/12/00 do parecer e ementa do Rel. Dr. CARLOS AURÉLIO MOTA DE SOUZA - Rev. Dr. LICÍNIO DOS SANTOS SILVA FILHO - Presidente Dr. ROBISON BARONI.48

(Grifou-se)

Conforme visualiza-se na ementa acima, o entendimento do TED da OAB-SP tolheu totalmente a liberdade das EJs paulistas de exercerem qualquer atividade típica de advogados, por entender que a prática, por uma EJ, desse tipo de atividade consistiria, indubitavelmente, em uma forma de captação de clientela para os membros da EJ após o término da graduação.

Desse modo, o TED, malgrado não considerar ilegal a constituição de uma empresa júnior jurídica, afirmou que uma EJ formada por graduandos em Direito não poderia prestar assessoria ou consultoria jurídica preventiva, mesmo que a título gratuito. Assim, com esse entendimento, essas EJs ficaram impedidas de se firmarem como instrumento de interseção entre os eixos teórico e prático da graduação.

Conforme se mencionou em tópico supra, o entendimento da ementa transcrita vai de encontro ao próprio Conceito Nacional de Empresas Juniores, formulado pela Brasil Júnior, que, no inciso III do artigo 9º, aponta que as EJs poderão prestar serviços ou desenvolver projetos que configurem atribuição “da categoria de profissionais, determinados por lei regulamentadora das categorias profissionais, à qual os alunos de graduação do(s) curso(s) de graduação a que ela for vinculada fizerem parte”.49

(31)

Analisando-se as áreas de atuação da SanFran Jr., pode-se concluir que o posicionamento do TED da OAB-SP, gerou efeitos nefastos na experiência que essa empresa júnior pode oferecer aos seus membros. De acordo com essa EJ, ela não atua na área de consultoria, agindo apenas como intermediário entre escritórios conveniados e entidades que por ventura a procurem interessadas em consultoria jurídica.50

É interessante observar que esse não se tratou do único caso no qual uma seccional entendeu que uma iniciativa educacional voltada para alunos da graduação representaria um desrespeito ao Estatuto da Advocacia ou uma ameaça aos advogados. Na época da criação dos Núcleos de Prática Jurídica, alguns advogados chegaram a se posicionar contrariamente, alegando que os mesmos praticavam atividades exclusivas da advocacia. Obviamente, tal posicionamento restou totalmente vencido.51

Levando-se em consideração as atividades dos NPJs, um argumento em defesa das EJs é que, diferentemente dos núcleos de prática, as empresas juniores limitam sua atividade ao âmbito preventivo da assessoria e consultoria jurídica, não atuando no contencioso.

De qualquer modo, não se deve considerar que o posicionamento da OAB-SP represente a visão de todas as seccionais da OAB, uma vez que não há uma posição nacional e uniforme.

A inexistência de unicidade na abordagem da OAB em relação às EJs fica evidente pelo fato de que várias seccionais respaldaram e entenderam que as EJs desempenham um importante papel educacional, devendo ser apoiadas na sua empreitada por não colidirem com o exercício da advocacia. Esse é o caso das seccionais do Ceará, de Minas Gerais, da Bahia, de Goiás e do Distrito Federal.

Essa divergência de posicionamento entre as diferentes seccionais da OAB é possível pelo fato de que inexiste uma apreciação do Conselho Federal da OAB acerca das EJs e dos supostos limites que devam ser impostos a sua atuação.

Diante disso, a situação jurídica atual das EJs pode trazer insegurança jurídica para os empresários juniores de Direito em alguns estados.

50 SANFRAN JR. Projetos. Disponível em: < http://www.sanfranjr.org/#!projetos/c7bk >. Acesso em: 01 dez. 2015.

(32)

3.3.2 O caso da Universidade Federal de Santa Catarina

Um episódio que ficou muito conhecido pelos membros do MEJ, relacionou-se à resistência de alguns grupos políticos ao pedido de criação de uma EJ de psicologia no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Esse caso, classificado por alguns como um episódio fruto de intolerância e de ignorância, gerou indignação na comunidade de empresários juniores de outros estados, pois, posteriormente, foi proibida a existência de qualquer EJ no CFH.52

O imbróglio começou com a tentativa de fundação da EJ Persona, por um grupo de alunos do curso de graduação em Psicologia da UFSC no ano de 2011. A iniciativa desses discentes deu origem ao processo administrativo nº 23080.0150001/2011-72, que se iniciou na Coordenadoria do Curso de Graduação em Psicologia, sendo, posteriormente, remetido para análise do Conselho da Unidade CFH.

Na primeira reunião ordinária do Conselho do CFH que iria analisar a demanda da EJ, o professor relator do processo apresentou seu parecer, todavia não houve votação acerca do mesmo porque o representante discente da graduação em Psicologia pediu vistas do processo.53

Na reunião seguinte, o representante discente, Allan Kenji Senki,54 apresentou um parecer contrário à criação da EJ, que acabou sendo aprovado pela maioria dos professores presentes, ainda que com ressalvas. Registrou-se em ata, apesar disso, posicionamentos de docentes favoráveis à aprovação do projeto de criação da EJ.

Um dos pontos levantados nessa reunião é que o Conselho Universitário da UFSC, órgão de deliberação de mais alto nível da Universidade,55 já havia criado uma regulamentação interna para as EJs, autorizando seu funcionamento. O parecer do Discente

52 CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS JUNIORES. Nota Oficial Sobre as Últimas Decisões

do “Centro de Filosofia e Ciências Humanas Da UFSC”. Disponível em: <

http://mejcomigo.brasiljunior.org.br/nota-oficial-sobre-as-ultimas-decisoes-do-centro-de-filosofia-e-ciencias-humanas-da-ufsc/>. Acesso em: 1 dez. 2015.

53

No âmbito de um órgão colegiado universitário, o representante discente em geral é um representante do Centro Acadêmico do curso. Cf. CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS UFSC. Ata da 5a.

Reunião Ordinária do Conselho da Unidade de 2011. Disponível em: <

http://portalcfh.ufsc.br/files/2011/11/Ata-Ordinaria-005-2011.pdf>. Acesso em: 02 dez. 2015

54 É interessante perceber que o aluno que na época era o representante discente do curso de Psicologia da UFSC nessa instância tinha uma posição contrária às EJs. Posteriormente, esse estudante liderou um movimento contra a existência de EJs na UFSC. Publicou também um artigo no qual defende sua posição.

55

SAITO, Erika Saito et al. PROCESSO DECISÓRIO NA UFSC: UMA ANÁLISE POR MEIO DO ORGANOGRAMA INSTITUCIONAL. In: XI Colóquio Internacional Sobre Gestão Universitária na

América do Sul. 01ed. Florianópolis: IGLU, 2011. v. 01. Disponível em:

(33)

tratava dessa regulamentação, posicionando-se contrário a ela, sob o argumento de que ela feriria “os princípios da administração pública, como a impessoalidade e o interesse público”, desse modo, não seria, portanto, “razoável a aprovação da criação [da EJ] até que a resolução [fosse] revista”.56

Uma das ressalvas quando da aprovação do parecer do discente consistiu na formulação de consulta à procuradoria da Universidade para que fosse analisada a licitude da referida Resolução Normativa n° 08/CUn/2010, de 30 de novembro de 2010, do Conselho Universitário da UFSC.57

É importante ressaltar, que, do exame das discussões registradas na ata da reunião, percebe-se que houve confusão dos presentes com o conceito de empresa, bem como desconhecimento sobre o funcionamento das EJs. Afinal, a diretora do CFH afirmou que, quando da discussão sobre a aprovação da Resolução nº 08/CUn/2010, ela, representando o CFH, pediu vistas do processo pois a proposta de resolução “apresentava-se idêntica à resolução da empresa Brasil Júnior”. Além disso, informou que solicitara, para a aprovação da resolução, que houvesse prioridade de atividades das EJs para empresas públicas. 58

Conforme mencionado anteriormente, a Brasil Júnior é a Confederação Brasileira de Empresas Juniores. Essa organização é uma associação civil, não se tratando de sociedade empresária. Ademais, a Brasil Júnior tampouco se adequa ao conceito de empresa, seja do ponto de vista econômico, seja do jurídico.59 Assim, a tentativa da docente de tentativa de desqualificação da resolução em função de uma pretensa semelhança àquela proposta por uma

56 CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS UFSC. Ata da 6a. Reunião Ordinária do Conselho da Unidade de 2011. Disponível em: < http://portalcfh.ufsc.br/files/2011/11/Ata-Ordinaria-006-2011.pdf>. Acesso em: 02 dez. 2015.

57

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Conselho Universitário. Resolução Normativa n.°

08/CUn/2010, de 30 de novembro de 2010. Disponível em: <

http://orgaosdeliberativos.ufsc.br/files/2011/08/ResolucaoNormativa08CUn2010_empresasjuniores.pdf>. Acesso em: 25 out. 2015.

58 CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS UFSC. Idem. 59

(34)

empresa, além de tratar-se de uma falácia ad hominem, não procede pelo simples fato de que a Brasil Júnior não faz parte dessa categoria.60

Outro ponto abordado pela diretora do CFH, a limitação dos clientes das EJs, vai diretamente de encontro ao eixo de aprendizagem das EJs por meio da prática em gestão e aprendizado prático em negócios.

Após a decisão emanada pelo Conselho de Unidade do CFH, iniciou-se um debate sobre se as EJs deveriam ter sua criação liberada ou não no âmbito do Centro de Filosofia e Humanidades. Houve a montagem de dois grupos de discentes, o Grupo dos Pró-EJs e o Grupo dos Contra-EJs.

3.3.2.1 Argumentos levantados pelo grupo contrário às EJs

Os argumentos centrais levantados pelo grupo contrário à existência de EJs fundamentaram-se na alegação de que as empresas juniores são uma iniciativa de extensão que contraria a finalidade das Universidades públicas, pois elas representariam o “empresariamento” da educação universitária, entendido como a penetração da lógica da iniciativa privada nos ambientes públicos ou estatais.61

Isto que distinguimos como Empresariamento, que é necessário enfatizar: é apenas outra face da privatização, tão grave quanto, mas muito mais perversa. A isso chamamos de processo de inculcação da lógica privada nos setores públicos, submetendo seus serviços ao atendimento das demandas do capital privado. Ou seja, pervertendo a lógica de funcionamento do serviço público.

As demandas do setor privado, e que tem sua expressão cabal no empresariado, são muitas e distintas. Mas, há algo que as conecta e que se faz mais grave na própria Educação: a demanda por uma sociabilidade ―empresarial‖. Uma nova forma de que a classe dominante exerça seu poder através da produção de consenso. Ou seja, uma nova forma de domesticar as amplas massas do povo trabalhador desse país.62

(Grifou-se)

60 Salienta-se que o simples fato de uma regulamentação de uma universidade se assemelhar ao modo como uma outra organização entende que seria correto não deslegitima ou torna a priori o âmago da regulamentação algo ruim. Ao admitir a desqualificação de um conteúdo em função de quem seja seu autor, estar-se-á incorrendo em uma falácia ad hominem. Cf. SCHOPENHAUER, Arthur. Como vencer um debate sem precisar ter razão: Em 38 estratagemas (dialética erística). Rio de Janeiro: Topbooks, 1997. P. 148 e 149.

61 Aldo Ambrózio, partindo do pensamento de Foucault, afirma que o mundo contemporâneo estaria experimentando um “empresariamento da vida”, buscando criticar o “neoliberalismo”. Cf. AMBRÓZIO, Aldo. GOVERNAMENTALIDADE NEOLIBERAL: DISCIPLINA, BIOPOLÍTICA E EMPRESARIAMENTO DA VIDA. Kínesis, Marília, v. 4, n. 8, p.40-60, dez. 2012. Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/aldoambrosio_4.pdf>. Acesso em: 01 dez. 2015.

(35)

Para o referido grupo, a finalidade da Universidade pública seria a produção de “conhecimento [...] voltado aos grandes dilemas da maioria da população brasileira [e sua disponibilização] à sociedade”.63 Ocorre que essa finalidade, todavia, necessitaria que a Universidade promovesse “o pensamento crítico, a formação crítica e um conhecimento à (sic) serviço da sociedade”64

.

O pensamento “crítico” promovido pela Universidade, segundo o grupo, deveria ser entendido como a habilidade de revelar possíveis contradições na sociedade “capitalista”.

Figura 1: Alguns estudantes contrários à existência das EJs, presentes na reunião do Conselho do CFH que tratou do tema.65

A partir dessas premissas, o grupo se posicionou contra “a ideologia empreendedora” das EJs, pois, ela representaria a submissão da Universidade a um projeto de poder e a “um novo perfil de profissional exigido pelo mercado”.

Em síntese: Somos contrários as EJ’s pois elas representam um projeto de subordinação da universidade ao empresariado – em suas demandas por mão de obra subordinada ao seu projeto de poder. Somos contrários as EJ’s pois defendemos uma Universidade que promova o pensamento crítico, a formação crítica e um conhecimento à serviço da sociedade.66

63 Ibid. P. 3

64 Op. cit.

65 Movimento Contra as EJ's no CFH. Florianópolis. 2013. Disponível em: <http://on.fb.me/1SW7Ft8>. Acesso em: 03 dez. 2015.

(36)

Em outro momento, os idealizadores do grupo contrário às EJs afirmam que elas atrapalhariam a Universidade na realização de críticas ao mercado de trabalho, motivo pelo qual esse tipo de iniciativa deve ser proibido.

[...] ao incluir as empresas juniores em seu rol de instrumentos pedagógicos, a universidade se dispersa de seu importante papel de questionar crítica e duramente o mercado de trabalho: ele demanda muito pouco dos trabalhadores, pois o tipo de mercado capitalista-dependente brasileiro não é capaz de oferecer projetos de vida que realmente envolvam um engajamento criativo, espontâneo e autônomo por parte dos trabalhadores.67

(Grifou-se)

De qualquer modo, a partir da análise dos argumentos apresentados pelo grupo contrário às EJs, vê-se que eles partem de premissas enviesadas, sob uma ótica marxista e gramcista. Ademais, percebe-se que muitas competências importantes que, segundo eles, seriam aleijadas do ensino universitário pela mera existência das EJs, são, na realidade, fortalecidas de algum modo por esse tipo de iniciativa.

Assim, percebe-se que o posicionamento tomado por esse grupo foi majoritariamente ideológico, atacando as EJs por, supostamente, elas não fortalecerem sua estreita visão de mundo.

3.3.2.2 Defesa da existência das EJs

As justificativas levantadas para defender a proibição da criação de EJs em uma Universidade pública fundamentaram-se em premissas marxistas, citadas como se fossem uma espécie de axioma pelos autores. Não se mostra razoável, todavia, reduzir a finalidade das Universidades públicas em função de dogmas, estreitando-se o ensino a apenas uma visão de mundo, sob pena de uma incongruência com o próprio conceito de Universidade.68

Ademais, sob o ponto de vista da LDB, a educação superior tem, dentre outras finalidades, o objetivo de “formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da

67 SEKI, Allan Kenji e SIMAO, Caio Ragazzi Pauli. Por que "não" a uma EJ: o que é inconciliável entre a universidade pública e as empresas júniores?. Rev. Psicol., Organ. Trab. [online]. 2014, vol.14, n.4, pp. 475-480. ISSN 1984-6657.

68

(37)

sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua”.69 Assim, visualiza-se que a finalidade do ensino superior não está adstrita àquela pontuada pelo grupo contrário às EJs.

É importante mencionar o caráter emancipatório do ensino empreendedor, na medida em que ele empodera os indivíduos, fazendo-os entender que eles podem ser agentes ativos da transformação do mundo ao seu redor. Ele influencia o indivíduo a se emancipar, ao incentivá-lo a tornar-se proativo e a tomar para a si a atitude de que ele é diretamente responsável pelo seu futuro.

Deve-se observar, por outro lado, que a existência de uma iniciativa como uma EJ não impossibilita a reflexão ou a crítica sobre o status quo. Ao contrário, o empreendedorismo pode ajudar um indivíduo desenvolver seu senso crítico, pois incentiva a inovação, sendo um exemplo disso, os negócios de impacto social.70

3.3.2.3 Ocorrências posteriores

Em função das polêmicas geradas pela negativa do Conselho de Unidade do CFH em autorizar a criação da EJ de Psicologia, o Colegiado do Curso requereu ao Conselho do CFH a realização de debates acerca do tema empresa júnior, para que se chegasse a uma solução.

Diante disso, em uma reunião do Conselho de Unidade, decidiu-se que seria realizada uma consulta à comunidade acadêmica do CFH para se decidir sobre a aceitação do funcionamento ou não de EJs nesse centro.

Houve vários debates e a organização de movimentos contra e a favor das EJs, mobilizando, inclusive, estudantes de outros centros da UFSC e até mesmo de outras Universidades, no caso do grupo a favor.71

Apesar disso, ocorreu uma polêmica quanto à forma como se daria a consulta à comunidade acadêmica. O Conselho do CFH marcou uma assembleia geral consultiva para o dia 13 de novembro de 2013, às 16:30, todavia o grupo a favor das EJs requereu que a consulta fosse feita por meio de uma votação por urna, permitindo que uma quantidade maior

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BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 27 nov. 2015. Art. 43, II.

70 Exemplo disso são as iniciativas apoiadas pela ARTEMISIA. Negócios de Impacto Social: Nosso Conceito. Disponível em: < http://artemisia.org.br/conteudo/negocios/nosso-conceito.aspx >. Acesso em: 10 dez. 2015. 71

PERSONA (MOVIMENTO DE CRIAÇÃO DA EMPRESA JÚNIOR DE PSICOLOGIA). Nota de

esclarecimento do recurso sobre as empresas juniores no CFH. Disponível em:

Imagem

Figura 1: Alguns estudantes contrários à existência das EJs, presentes na reunião do Conselho do CFH que tratou  do tema

Referências

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