SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA
w w w . r b o . o r g . b r
Artigo
Original
Tratamento
cirúrgico
das
fraturas
intra-articulares
do
calcâneo:
comparac¸ão
dos
resultados
entre
placa
reta
e
placa
própria
para
calcâneo
夽
Luiz
Carlos
Almeida
da
Silva
∗,
João
Mendonc¸a
de
Lima
Heck
e
Marcelo
Teodoro
Ezequiel
Guerra
UniversidadeLuteranadoBrasil(Ulbra),HospitalUniversitário,Canoas,RS,Brasil
informações
sobre
o
artigo
Históricodoartigo:
Recebidoem16defevereirode2016 Aceitoem2demaiode2016 On-lineem11deagostode2016
Palavras-chave: Calcâneo/lesões Calcâneo/cirurgia Fraturasósseas/cirurgia Fixac¸ãointernadefraturas
r
e
s
u
m
o
Objetivo:Avaliarosresultadosclínicosdotratamentocirúrgicodasfraturasintra-articulares docalcâneo(TCFIAC)ecompararousodeplacaprópriaparacalcâneo(PPC)eplacareta(PR). Métodos:Estudoretrospectivoqueavaliouoresultadopós-operatóriode25pacientesentre 2013e2015.Foramincluídos pacientessubmetidosaoTCFIACequenãoapresentavam lesõescirúrgicasconcomitantes.Pacientesquenãoforamdevidamenteacompanhadosno pós-operatórioforamexcluídosdaanálise.
Resultados: AindisponibilidadedaPPCemservic¸oscomrecursoslimitados,associadaà dis-ponibilidadeeaomenorcustodaPR,podetersidofatordeconfusãonopresenteestudo. Contudo,nãohouvediferenc¸aestatísticaentreosresultadosdasfraturastratadascomPPC ouPR.
Conclusão:Ainferênciaestatísticapermiteconcluirque,naausênciadaPPC,épossívelusar aPRcomdesfechosclínicossemelhantes.
©2016PublicadoporElsevierEditoraLtda.emnomedeSociedadeBrasileirade OrtopediaeTraumatologia.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Surgical
treatment
of
intraarticular
fractures
of
the
calcaneus:
comparison
between
flat
plate
and
calcaneal
plate
Keywords:
Calcaneus/injuries Calcaneus/surgery Fractures,bone/surgery Fracturefixation,internal
a
b
s
t
r
a
c
t
Objective:Toevaluatetheclinicalresultsofsurgicaltreatmentofintraarticularfracturesof thecalcaneus,comparingtheuseofcalcanealplateandflatplate.
Methods:Thiswasaretrospectivestudyassessingthepostoperativeresultsof25patients between2013and2015.Patientsundergoingsurgicaltreatmentofintraarticularfractures ofthecalcaneuswithoutconcomitantsurgicallesionswereincluded.Patientswhodidnot completeappropriatefollow-upaftersurgerywereexcludedfromthestudy.
夽
TrabalhodesenvolvidonoDepartamentodeOrtopediaeTraumatologia,HospitalUniversitário,UniversidadeLuteranadoBrasil(Ulbra), Canoas,RS,Brasil.
∗ Autorparacorrespondência.
E-mail:luizcarlosmedicina@gmail.com(L.C.Silva). http://dx.doi.org/10.1016/j.rbo.2016.05.003
Results: Theunavailabilityofcalcanealplatesatresource-limitedsettings,associatedwith theavailabilityandlowercostofflatplates,mayhavebeenaconfoundingfactorinthe pre-sentstudy.However,therewasnostatisticaldifferencebetweentheoutcomesoffractures treatedwithcalcanealplatesorflatplates.
Conclusion: Statisticalinferenceshowsthat,whencalcanealplatesarenotavailable,itis possibletouseflatplateswithsimilarclinicaloutcomes.
©2016PublishedbyElsevierEditoraLtda.onbehalfofSociedadeBrasileirade OrtopediaeTraumatologia.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense (http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Afraturadocalcâneocorrespondea2%dasfraturasdo esque-letoecercade60%dasfraturasdosossosdotarso.1,2Apesar dograndedesenvolvimentodatraumatologiaortopédicano últimoséculo,otratamentodessasfraturasaindaé contro-versoeosresultadosmuitasvezessãoinsatisfatórios,devido àcomplexa forma anatômica do calcâneo,à suaestrutura esponjosaeaofatodeserumossosubmetidoaconstante cargadepeso.3–6 Dessaforma,essa lesãocausaimportante prejuízosocioeconômicoefuncionalaospacienteseaos sis-temasprevidenciáriospúblicoseprivados.1
Nasúltimasdécadas,comaevoluc¸ãodosexamesde ima-gem,omelhorentendimentodomecanismodetraumaeo seguimentodosprincípiosdereduc¸ãoanatômicae estabili-dadeabsolutaparafraturasarticulares,foipossívelmelhorar odesfechoclínicodessafratura.Paratanto,estãodisponíveis diversostiposdeimplantes,entreosquaisasplacaspróprias paracalcâneo(PPC)easplacasretas(PR).7
Portanto,oobjetivodesteestudofoiavaliarosresultados clínicosdotratamentocirúrgicodasfraturasintra-articulares docalcâneo(TCFIAC)ecompararousodePPCePR.
Material
e
métodos
Estudodecoorteretrospectivo,queavaliouosresultados pós--operatóriostardiosde25 pacientesoperadosentrejaneiro de 2013 e janeiro de 2015. O estudo foi aprovado por ComitêdeÉticaemPesquisasoboregistro117817/2014/CAAE 40266114.9.0000.5328.
Oscritériosdeinclusãoconsistiramdepacientes submeti-dosatratamentocirúrgicoporreduc¸ãoabertaefixac¸ãointerna (RAFI)de fratura fechada intra-articularde calcâneo unila-teral, sem outras fraturas associadas, que fizeram exames pré-operatóriosdetomografiacomputadorizadaeradiografias dopé,dotornozeloedocalcâneo,alémdeterassinadootermo deconsentimentolivreeesclarecido.
Oscritérios de exclusão foram:pacientes operadospela técnica de Essex-Loprest; cirurgia minimamente invasiva; fraturas tratadas conservadoramente por motivos próprios do paciente ou por não haver indicac¸ão cirúrgica; fratu-rasassociadas;faltade condic¸ãoadequadade pele,edema e flictena na região lateral do pé, sem resoluc¸ão até o momentodaoperac¸ão;ausênciadecondic¸ãoclínicadevido a vasculopatias, cardiopatias ou diabetes descompensada; traumatismo cranioencefálico grave;problemapsicossocial; tabagismo pesado; recusa a submeter-se ao tratamento
cirúrgico;fraturasbilaterais;erecusaemassinarotermode consentimento.
Nesseperíodo,64pésde52pacientesforamsubmetidos aotratamentocirúrgicopelomesmocirurgião.Todosforam convocados para reavaliac¸ão e25 pacientes submetidos ao TCFIACpreencheramoscritériosdeinclusãoefizeramparte doestudo.
Todosospacientesforamavaliadospelomesmocirurgião quefezascirurgias.Usaram-seasescalasdeavaliac¸ãoda Ame-ricanOrthopaedicFootandAnkleSociety(Aofas),degraduac¸ão subjetivadesatisfac¸ãodaadaptac¸ão(GSFS),analógicavisual (EVA)edoMedicalOutcomesStudy36(SF-36).8
Clinicamente, foram analisados os seguintes aspectos: articulac¸ãosubtalaremortostaseenaposic¸ãoemdecúbito dorsal;desvioemvaroeemvalgodoretropé;abduc¸ão;aduc¸ão; pronac¸ãoesupinac¸ãodoantepé;amplitudedotornozelona flexão enaextensão; aparênciada cicatrizcirúrgica;euso demuleta.Paraaclassificac¸ãodasfraturas,foramusadasas classificac¸õesdeSanders9eEssex-Lopresti.10
Damesmaforma,todosospacientesforamsubmetidosa análisepós-operatóriatardiacomavaliac¸õesradiográficasnas incidênciasde Bröden,radiografiasdocalcâneoemperfile axial,avaliac¸ãoradiográficadospésbilateralmentecomapoio monopodal, avaliac¸ãoradiográficadostornozelosemperfil, emposic¸ãoanteroposterior,comrotac¸ãointernade15◦,além deavaliac¸ãotomográficabilateralcomcortesaxial,coronale sagitalde5mmdeespessura.
Aamostrafoidivididaemdoisgruposdeacordocomotipo deRAFIfeita.OGrupoIfoicompostoporpacientestratados comPRterc¸otubular3,5mm.OGrupoIIabrangeuospacientes submetidosatratamentocomPPC.
Ocritérioparaaescolhadomaterialfoialeatórioe base-adonapossibilidadedeusodaPPC,quenemsempreestava disponível.Comocritériodefixac¸ão,foramusadasPRisoladas ouduasPRcombinadas,noscasosemquenãosedispunha dePPC,ePCC,semprequedisponível.
Tabela1–Característicasdemográficaseclínicasdaamostra
Tipodeplaca
PPC(n10-08-2016=14) PR(n=11) pa
Idade 47,7 10,04 45,5 11,29 0,617a
Sexo 0,230
Feminino 3 21,4% 0 0,0%
Masculino 11 78,6% 11 100,0%
Mecanismodotrauma 1,000
Colisãobicicletaxmoto 1 7,1% 0 0,0%
Quedadealtura 13 92,9% 11 100,0%
Ladooperado 0,414
Direito 7 50% 8 72,7%
Esquerdo 7 50% 3 27,3%
Posic¸ãoretropéemortostase 0,695
Neutro 8 57,1% 5 45,5%
Valgo 6 42,9% 6 54,5%
Artrosesubtalar 1,000
Não 5 35,7% 3 27,3%
Sim 9 64,3% 8 72,7%
PPC,placasprópriasparacalcâneo;PR,placasretas.
a ValordepparaotesteexatodeFisher.
gessadaporquatrosemanas.Acarga parcialfoi liberada a partirdasextasemana.Nãocolocamosenxertoautólogopara preenchimentodoespac¸ocriadonointeriordocalcâneo.
Asvariáveisquantitativasforamdescritascomomédiae desvio-padrão;asvariáveiscategóricasforamdescritascomo frequênciassimples(n)erelativas(%).Paraavaliaradiferenc¸a de médias entre os tipos de material, foi usado o teste t paraamostrasindependentes.Paraverificaraexistênciade associac¸ãoentreostiposdematerialeasvariáveis categóri-cas,foiusadootesteexatodeFisher.Oníveldesignificância adotadofoide5%.TodasasanálisesforamfeitascomSPSS, versão18.0.
Resultados
Quantoaosexo,entreospacientessubmetidosaotratamento comPPC,11(78,6%)eramhomensetrês(21,4%)eram mulhe-res.Entreospacientesqueforamsubmetidosatratamento comPR,11(100%)eramhomens.
Noque serefere ao tipo de trauma, entreos pacientes submetidos a tratamento com PPC, um (7,1%) apresentou traumadecorrentedecolisãodebicicletacommotocicletae 13sofreramquedadealtura;enquanto11(100%)dospacientes tratadoscomPRsofreramquedadealtura(tabela1).
Quantoaoladooperado,dospacientestratadoscomPPC, sete(50%)tiveramoladodireitooperadoesete(50%)olado esquerdo.Entreospacientessubmetidosatratamentocom PR,oito(72,7%)tiveramoladodireitooperadoetrês(27,3%) tiveramoladoesquerdo.
Quantoàposic¸ãopós-operatóriadoretropéemortostase, entreos pacientessubmetidos a tratamentocom PPC, oito (57,1%)apresentaramretropéneutroeseis(42,9%)retropéem valgo;enquantoentreospacientessubmetidosatratamento comPR,cinco(45,5%)apresentaramretropéemposic¸ãoneutra eseis(54,5%)emvalgo.
Comrelac¸ãoàartrosesubtalar,entreospacientes subme-tidos aotratamento comPPC, cinco (35,7%)evoluíramsem artrosesubtalarenove(64,3%)apresentaramartrosesubtalar. Entreospacientesqueforamsubmetidosaotratamentocom PR,três(27,3%)nãoapresentaramartrosesubtalar,enquanto oito(72,7%)evoluíramparaartrosesubtalar(tabela1).
Quanto à classificac¸ão das fraturas, 19 pacientes (76%) apresentaramfraturadotipodepressãoarticulareseis(24%) dotipolíngua.Quantoàclassificac¸ãodeSanders,oito(32%) pacientesapresentavamfraturadotipo2A,dois(8%)dotipo 2B,seis(24%)dotipo3AB,três(12%)dotipo3AC,dois(8%)do tipo3BCequatro(16%)dotipo4(tabela2).
Osresultadosdosdoisgruposdetratamentodasfraturas emrelac¸ãoaotempodeesperaparacirurgiaeàsaferic¸ões doexamefísicosãoapresentadosnatabela3.Com relac¸ão àsescalasdeavaliac¸ãoclínica,astabelas4e5mostramos
Tabela2–Classificac¸ãodasfraturas
Tipodeplaca
PPC(n=14) PR(n=11) pa
Classificac¸ãodeEssex-Lopresti 0,350
Depressãoarticular 12 85,7% 7 63,6%
Língua 2 14,3% 4 36,4%
Classificac¸ãodeSanders 0,655
2A 5 35,7% 3 27,3%
2B 1 7,1% 1 9,1%
3AB 2 14,3% 4 36,4%
3AC 3 21,4% 0 0%
3BC 1 7,1% 1 9,1%
4 2 14,3% 2 18,2%
PPC,placasprópriasparacalcâneo;PR,placasretas.
Tabela3–Resultadosdosgruposemrelac¸ãoaotempodeesperaparacirurgiaeàsaferic¸õesdoexamefísico
Tipodeplaca
PPC(n=14) PR(n=11)
Média DP Média DP p
Diasdeesperaparacirurgia 23,1 17,28 19,5 6,67 0,913a
Diferenc¸adiâmetrodapanturrilha 1,9 0,53 1,5 1,35 0,308a
Larguradoretropé 6,7 0,71 7,1 0,82 0,270b
Extensãodotornozelo 11,5 10,41 11,8 7,17 0,676a
Flexãodotornozelo 24,6 9,90 27,2 9,87 0,519b
Supinac¸ãodoantepé 13 12,88 20,7 11,19 0,084a
Pronac¸ãodoantepé 13,4 9,81 11,1 9,97 0,359a
Supinac¸ãosubtalar 7,6 6,12 4 7,75 0,057a
Pronac¸ãosubtalar 1 6,06 0,1 1,58 0,240a
Dadosapresentadoscomomédiaedesvio-padrão(DP).PPC,placasprópriasparacalcâneo;PR,placasretas.
a ValordepparaotestedeMann-Whitney.
b Valordepparaotestetparaamostrasindependentes.
Tabela4–Resultadosconformeasescalasdeavaliac¸ãoclínica
Tipodeplaca
PPC(n=14) PR(n=11)
Média DP Média DP p
PF-SF36ScaleScores 52,9 36,15 52,3 28,84 0,912a
RP-SF36ScaleScores 25,0 39,22 25,0 35,36 0,804a
BP-SF36ScaleScores 47,0 34,90 54,3 27,67 0,578b
GH-SF36ScaleScores 74,6 27,77 74,7 25,41 0,889a
VT-SF36ScaleScores 65,7 20,27 71,8 24,52 0,502b
SF-SF36ScaleScores 63,4 36,51 63,9 36,43 0,846a
RE-SF36ScaleScores 38,1 43,08 36,4 43,35 0,907a
MH-SF36ScaleScores 69,1 20,12 68,7 25,85 0,964b
PF-SF36Norm-basedScaleScores 37,4 15,15 37,1 12,10 0,967b
RP-SF36Norm-basedScaleScores 35,1 11,07 35,0 9,98 0,804a
BP-SF36Norm-basedScaleScores 40,0 14,94 43,2 11,85 0,575b
GH-SF36Norm-basedScaleScores 52,1 13,01 52,2 11,89 0,889a
VT-SF36Norm-basedScaleScores 54,1 9,61 57,0 11,62 0,502b
SF-SF36Norm-basedScaleScores 41,2 15,85 41,3 15,80 0,868a
RE-SF36Norm-basedScaleScores 35,8 13,61 35,2 13,70 0,907a
MH-SF36Norm-basedScaleScores 46,6 11,43 46,3 14,70 0,962b
PCS-SF36 38,1 13,37 39,2 9,47 0,817b
MCS-SF36 47,3 10,09 47,4 13,92 0,975b
Dadosapresentadoscomomédiaedesvio-padrão(DP).PPC,placasprópriasparacalcâneo;PR,placasretas.
a ValordepparaotestedeMann-Whitney.
b Valordepparaotestetparaamostrasindependentes.
Tabela5–Resultadosconformeasescalasdeavaliac¸ão
Tipodeplaca
PPC(n=14) PR(n=11)
Média DP Média DP pa
EVA 4,6 2,73 3,6 2,38 0,344
Aofas 66,1 26,37 52 20,64 0,160
Larguraradiológicadoretropé 4,7 0,38 4,4 0,60 0,217
Ângulodopitchdocalcâneo 21 5,88 16,6 5,66 0,074
Ângulodedeclinac¸ãoTálus 18 4,79 18,9 2,95 0,587
Dadosapresentadoscomomédiaedesviopadrão(DP).PPC,placasprópriasparacalcâneo;PR,placasretas.
resultados semdiferenc¸a estatística entreos dois tipos de placas.Portanto,nãohouvediferenc¸anosresultadosclínicos entreoTCFIACnacomparac¸ãocomousodePPCePR.
Discussão
Asfraturasarticularesdocalcâneosãolesõesgravesepodem causarsequelaspermanenteseincapacitantes. Geralmente acometemindivíduosjovens,homenseeconomicamente ati-vos,oquepodedeterminargrandeprejuízosocioeconômico. Napresenteamostra,verificou-seque88%dospacientes eramdosexomasculinoetinham47,6anosemmédia.De acordocomaliteratura,oagentecausalmaisfrequentedas fraturasintra-articularesdocalcâneoéaquedadedesnível,1 oqueseconfirmounestelevantamento,noqualessacausa foiresponsávelpor96%dasfraturas.
Aclassificac¸ãoradiológicadeEssex-Lopresti10 éclássica. Determinaalinha defratura epermiteo planejamentodo tratamento.Aclassificac¸ãotomográficaauxilianaavaliac¸ão dagravidade edoprognósticoda lesãoeaclassificac¸ãode Sanderséamaisusada.9Entretanto,asclassificac¸ões tomo-gráficasnão sãouniformes ecada grupoprocura criar sua própriaclassificac¸ão,oquedificultaacomparac¸ãode resul-tados, bem como o reconhecimento do tipo de lesão que descrevem.Reconhece-sequeatomografiaéumexcelente exameparaaidentificac¸ãodosdetalhesdefragmentosedo comprometimento da articulac¸ão; porém,esse exame não estádisponívelemtodos osservic¸os.Tallimitac¸ãojustifica ousodaclassificac¸ãoradiológica.
Deacordocomaclassificac¸ãodeEssex-Lopresti,as fratu-rasintra-articularespodemseremlínguaoucomdepressão articular. Na maioria das casuísticas, as fraturas do tipo depressãoarticularsãoasmaisincidentes,contribuemcom 43a61%dasfraturasintra-articulares.11,12Nopresenteestudo, encontraram-se76%defraturasdotipodepressãoarticulare 24%dotipolíngua.
Paraotratamentocirúrgicoaberto, existeoconsensode aguardarentre7e14diasentreotraumaeaoperac¸ão,para quehajadiminuic¸ãodoedemaeparaaprevenc¸ãodaformac¸ão deflictenas,exceto nasfraturas expostas,quedevem rece-bertratamento cirúrgico imediato, ou quando forindicada afixac¸ãopercutânea.7,13 Nonossoestudo,otempoentreo traumaeaoperac¸ãodas25fraturasfoide23,1dias(DP17,28) emmédiaparaPPCe19,5diasparaPR(DP6,67).
A via de acesso lateral em L estendido tem sido muito usada, pois permite melhor visibilidade da fratura, reduc¸ãodosfragmentosefixac¸ãointerna.7,13Nesteestudo,o acessolateralemLestendidomostrou-seeficienteefoiusado comotécnicapadrãoparatodososcasos.
Anecrosedaferidaoperatóriaégeralmenteoresultadode incisãoimprópriaeexposic¸ãooulongotempodecirurgia.14 Anecroseémaisfrequentementeobservadanaextremidade daincisãolateralemformadeL.15 Nanossacasuística,um pacientetratadocomPPCtevedesersubmetidoa desbrida-mentocirúrgico,pornecrosedapele,oqualfoiresolutivo,não foinecessárioenxertodepele.
Ossintomasassociadoscomproblemasdeimplantes,que raramentesãorelatadosnaliteratura,incluemimplante pro-eminente,irritac¸ãodapeleedornocalcanhar.Osproblemas
geralmente surgemporque aplaca e osparafusos causam irritac¸ão na pele, nos tendões ou nervos ou porque um parafusopenetraafacetaarticular.16,17 Oacometimentodos tendõespelosimplantespoderesultaremtendiniteou rup-turaelevaratendiniteedorsecundária.18Nonossoestudo, umpacientefoisubmetidoaretiradadaPPCporirritac¸ãoda peleedor.Alémdisso,trêspacientesqueforamtratadoscom PRforam submetidosa retiradadomaterialdesíntesepor proeminênciadosparafusosedaPR.
O uso de enxerto ósseo é controverso, existem os que oconsideramosteoindutoreosteocondutor,alémdosqueo consideramdesnecessário.7,19Éprecisolembrarqueousode enxertoósseoelevaaincidênciademorbidades,poisexiste maisumaincisãoearetiradadeenxerto.Nopresenteestudo, oenxertoósseo,obtidodoilíaco,nãofoiaplicadonas cirur-gias.Usamos,nanossacasuística,enxertoretiradodaparede lateraldocalcâneoparapreencherafalhaóssearemanescente apósareduc¸ãodafratura.
Naavaliac¸ãodosresultadospelaescalaAofas, encontra-mos,naliteratura,índicesquevariamentre42,22e62%de resultadosexcelentes.20–22Nesteestudo,osresultadosforam consideradosbonseexcelentesem47,6%.Nãosepode afir-mar,comcerteza,queotipodefraturapossaterinfluenciado apontuac¸ão,poisnossaamostra defraturastipolínguafoi pequenasecomparadacomadotipodepressãoarticular.
A artrose pós-traumática ocorre geralmente nas articulac¸ões subtalar e calcaneocuboide.23 A literatura reportaumataxadeincidênciade1,2%nosestudosdelongo seguimento.6,16 Quando adorintratável nãopode ser con-troladapormedicamentosanalgésicos,aartrodesesubtalar podeseramelhorescolha.16Nonossoestudo,umpaciente tratadocomPR,comumafraturaclassificadacomoSanders 4, apresentou dor intratável e foi submetido a artrodese subtalar,commelhoriadossintomas.
Muitas controvérsias existem em relac¸ão ao tipo de implanteeseuscritériosdeescolha.ParaaRAFI,éaplicada placanaparedelateraldocalcâneonamaioriadosestudos.24 Quantoaosparafusosdeestabilizac¸ãodosustentáculo, tam-bémhácontrovérsiassobresedevemserfixadosatravésda placa.Quantoàforma daplaca usadaparaaRAFIdas fra-turas decalcâneo,dispomos deumaampladiversidade de formas,sãodefendidosdiferentestiposdematerialdesíntese pordiferentesautores.24–30
As placasmodernas têm perfilmaisbaixo, oque resol-veuosproblemasrelacionadosaoexcessodetensãodapele, proeminênciadoimplantesobapeleesubsequente deiscên-ciadaferidaoperatória.24Aescolhadaplacalateraldepende dagravidadedafraturadocalcâneoedaqualidadedoosso. Padrõesdesimplesfraturaemossodeboaqualidadeparecem seprestarbemàfixac¸ãocomPR,enquantopadrõesde fratu-rascomplexascomcominuic¸ãopodemexigirPPCoumesmo placasbloqueadas.24
AsPRforamusadaspormuitosanos.Noiníciodosanos 1990,devidoàscomplicac¸õespós-operatóriasdaépoca,foram desenvolvidastécnicasdeRAFIcomconfigurac¸õesdefixac¸ão comduasPR.Iniciou-se,então,odesenvolvimentodeplacas únicas,emconfigurac¸õesnaformaHeY.30
fraturasdocalcâneo,que,paraocirurgiãobrasileiro,aindaé umarealidade,devidoaonossosistemadesaúde.
Apesardeesteestudotersido retrospectivo,serviupara quesepudessereconheceraevoluc¸ãodospacientes. Conclui--sequeosresultadosforammuitosemelhantesaosrelatados naliteratura. Nossoestudo sugereainda anecessidade do desenvolvimento de protocolos de tratamento que possi-bilitem estudos prospectivos, os quais poderiam fornecer informac¸ões mais fidedignas, tanto das fraturas no pré--operatórioquantodesuasevoluc¸ões.
Outrofatorimportantebaseia-senofatodequeaPPCnem sempreestá disponível, principalmente emservic¸os públi-coscomdificuldadefinanceira.JáasPRsãomaisfacilmente disponíveisetêmcustomenor.Essesfatoresimpactamo tra-tamentocirúrgico. Aindisponibilidade da PPCem servic¸os públicos,associadaàdisponibilidadeeaomenorcustodaPR, podetersidofatordeconfusãononossoestudo.Noentanto, opresenteestudodemonstraqueparecenãohaverprejuízo significativonotratamentodasfraturasdocalcâneoquando nãoháplacaprópriadisponível.
Conclusão
Ainferênciaestatísticapermiteconcluirque,naausênciada PPC,épossívelusaraPRcomdesfechosclínicossemelhantes.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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n
c
i
a
s
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