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Arq. Bras. Oftalmol. vol.68 número4

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Academic year: 2018

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Arq Bras Oftalmol. 2005;68(4):421

Harley E. A. Bicas

Em ciência, a duração de uma vida ou de uma atuação profissional sempre foi considerada quase nada. Hoje em dia, pela velocidade com que os conhecimentos se renovam e pela grandeza das transformações produzidas, esse intervalo de tempo é perturbador. Mudam hábitos, alteram-se conceitos e até princípios se modificam.

Em Oftalmologia, por exemplo, no pequeno período de uma geração, o que era virtude, retirar um cristalino por inteiro, não rompendo sua cápsula, deixou de sê-lo; e o que era erro (tal rompimento da cápsula e a fragmentação do cristalino) virou recomendação, congressos discutindo a melhor forma de fazê-lo. Retina, então, mal se tocava nela, seu descolamento exigin-do repousos prolongaexigin-dos, na esperança de que ela pudesse voltar ao lugar antes de cirurgia, e quase sempre (ou talvez por isso) significando cegueira. Hoje a moçada toma a cirurgia de retina quase como coisa de principiante e já faz, em ambulató-rios, vitrectomias, um procedimento impensável quando fiz minha Residência em Oftalmologia. Pois isso foi há mais de quarenta anos. E translocações de retina! A córnea era tratada com venerável respeito, o que de certo modo chega a chocar um mais velho, quando ele a vê retalhada, queimada, reposta, para a correção de uma simples miopia.

E (espanto) em pouquíssimos minutos e (mais ainda) satis-fatoriamente. Para o glaucoma, havia a pilocarpina (e a eseri-na) ou a cirurgia. No estrabismo usava-se o catgut 4-0, a abertura conjuntival distante do limbo, um recuo de reto me-dial nos estrabismos infantis não excedia a 4 mm, as correções eram programadas em duas (ou mais) intervenções cirúrgicas e investia-se, demais, no tratamento ortóptico.

O instrumental de consultórios era relativamente pouco e convencional comparado ao de hoje, e as novas tecnologias não apareciam a cada ano, obrigando a contínuas atualiza-ções. Os Congressos, ou reuniões, e cursos eram raros e as comunicações difíceis. Alguém acredita que para se fazer um telefonema (esse nome ainda era usado) interurbano requeria-se o concurso de uma telefonista e demoras de quatro a cinco horas para que a ligação pudesse se completar? E dependendo das distâncias, muito mais...

Não havia planos de saúde. Todos os pacientes, eles pró-prios, pagavam consultas e os que não podiam pagar recor-riam aos hospitais públicos, ou de caridade, como “indigen-tes”. Médicos trabalhavam em seus consultórios, não tinham patrões, nem intermediários, não faziam greve, nem reivindica-ções, não eram processados.

Tempos e costumes

EDITO RIA L

Talvez se possa dizer que a vida era doce e franca, sem que se soubesse disso...

Além de todas as transformações — não apenas quanto a conhecimentos e procedimentos oftalmológicos, mas também sobre as incríveis e caras “tecnologias de ponta” que nos são quase diariamente apresentadas (e, ainda mais surpreendente-mente, logo se mostram obsoletas), a exigibilidade de uma cons-tante atualização (e aí estão os congressos e reuniões pratica-mente semanais, em todos os cantos do Brasil e do mundo), os convênios e as discussões sobre UCOs, a CBHPM, tabelas e bandas, a ameaça de que a optometria possa ser aceita como atividade independente — essa nossa era da comunicação e de sua velocidade vertiginosa nos traz a novidade da informação dos pacientes.

Esse é um fenômeno diretamente originado da rede mun-dial de comunicação por computadores, disponibilizando bus-cas e textos, agilizando interações, facilitando acesso a infor-mações técnicas. E mais, como resultado disso, pacientes chegam a se organizar em comunidades “virtuais” para trocar impressões sobre seus males, discutir tratamentos, apresentar soluções criativas a problemas cotidianos que os afligem, relacionados à doença e que, eventualmente, não ocorrem aos médicos que deles cuidam. Daí podem emergir não só apoios psicológicos na aceitação de dificuldades da doença, como orientações vivenciais e de ordem prática em seus enfrenta-mentos. Em certos casos, os grupos de discussão ganham estrutura própria, transformando-se em verdadeiras “ongs”.

Parece legítimo crer que, como parte das prescrições mé-dicas originadas de uma consulta, também se deva dar ao paciente o acesso a tais informações, como forma de enrique-cê-lo com conhecimentos sobre suas afecções e até promover-lhe outros tipos de auxílio para enfrentá-las. Uma proposta muito pouco por nós debatida ou explorada. Há endereços eletrônicos para informações, por exemplo, sobre olho seco (www.lagrima-brasil.org.br), doenças degenerativas da retina (retina@caixapostal.com.br) e outras, que podem ser uti-líssimas.

Nessa linha de prováveis conveniências mútuas, na reci-procidade de intercâmbios já antecipada e exigida pelos pró-prios tempos, a abertura de sessões específicas sobre tais interações modernizaria nossos congressos, abrindo-os às comunidades das que devemos ser guias e guardiões.

Tudo tem um começo. Por que não tentar?

Referências

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