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Apresentação. Edson Rosa de Souza

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Academic year: 2021

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Edson Rosa de Souza

Esta obra, composta por dois volumes, sendo o primeiro de natureza teórica e o segundo de base descritiva, apresenta ao leitor um conjunto de textos sobre o funcionalismo linguístico, com discussões voltadas para questões de gramática, texto e discurso, em especial para os possíveis diálogos que podemos estabelecer entre as referidas dimensões da linguagem, no português e em outras línguas, a partir de diferentes perspectivas teóricas: o funcionalismo norte-americano, a Teoria de Gramaticalização, a Sociolinguística, a Gramática Discursivo-Funcional, o cognitivismo e a Gramática Textual-Interativa. Os autores são especialistas em estudos da linguagem de universidades do Brasil e do exterior.

A obra destina-se tanto a alunos de graduação, pós-graduação e professores-pesquisadores dos cursos de Letras quanto a estudantes e profissionais de outras áreas correlatas que tomam a linguagem como objeto de estudo e reflexão.

Além de contribuir para o debate sempre profícuo e necessário nas áreas de Letras e Linguística, no que tange à discussão sobre linguagem, o volume 1 (Novas tendências teóricas) trata de algumas das atuais tendências do funciona-lismo, considerado uma das correntes teóricas mais influentes da Linguística, devendo, portanto, constituir material de interesse para a comunidade acadêmi-ca. Em resumo, o objetivo do livro é apresentar os novos desenvolvimentos do funcionalismo linguístico e, ao mesmo tempo, divulgar os estudos de descrição funcionalista desenvolvidos por pesquisadores da área funcionalista em circuito nacional/internacional, possibilitando, com isso, um maior intercâmbio entre os pesquisadores brasileiros e estrangeiros.

Apesar de utilizarem metodologias distintas e abordarem diferentes fe-nômenos linguísticos, os textos que apresentamos aqui partem sempre de uma

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concepção funcionalista de linguagem, que se diferencia das abordagens teóricas formais exatamente por considerar a linguagem sob uma perspectiva interacional e incorporar, dessa forma, as intenções comunicativas dos interlocutores às des-crições. Assim, por conceber a linguagem como instrumento de interação verbal, as discussões apresentadas pelos autores dialogam produtivamente com outros modelos teóricos, que também consideram a atuação conjunta dos componentes sintático, semântico e pragmático da linguagem como um fator importante para uma análise mais embasada e detalhada dos diferentes objetos de pesquisa.

O volume 1 apresenta oito capítulos que discutem, com base em abordagens teóricas funcionalistas, questões de gramática, mudança linguística, texto, contexto e níveis de organização da linguagem, bem como as relações dessas abordagens funcionalistas com outras teorias linguísticas, tais como o Cognitivismo e a Teoria da Gramaticalização.

No capítulo “Funcionalismo e gramáticas do português brasileiro”, Ataliba Teixeira de Castilho faz uma exposição dos princípios teóricos do funcionalismo e de sua importância para a composição de gramáticas funcionalistas sobre a língua portuguesa no Brasil. Em seu texto, o autor apresenta algumas gramáti-cas de referência do português, como a de Evanildo Bechara, Maria Helena de Moura Neves e Ataliba Teixeira de Castilho, bem como os principais motivos que levaram vários pesquisadores brasileiros a pensar em gramáticas da língua portu-guesa baseadas no uso da linguagem e a mostrar em que medida se diferenciam daquelas consideradas tradicionalistas. Por fim, Castilho discorre sobre os novos desdobramentos teóricos da Linguística funcionalista e de sua aproximação com a Linguística cognitiva, incluindo, aqui, as novas perspectivas de análise propostas pela Teoria da Complexidade.

No capítulo subsequente, Kees Hengeveld e J. Lachlan Mackenzie fa-zem uma apresentação do modelo da Gramática Discursivo-Funcional (gdf),

classificada como a nova versão da Gramática Funcional de orientação holandesa. Os autores definem a gdf como uma teoria estrutural-funcional da linguagem,

tipologicamente baseada, que apresenta “uma organização descendente para al-cançar adequação psicológica e que toma o ato discursivo como unidade básica de análise para alcançar adequação pragmática”. Caracterizada como um modelo de gramática, a gdf é, segundo Hengeveld e Mackenzie, arquitetada “para interagir

com os componentes conceitual, contextual e de saída” da língua, de modo que essas intra/inter-relações entre os níveis e seus componentes possam ampliar a sua forma de operar e, assim, “aumentar sua compatibilidade com uma teoria mais ampla da interação verbal”.

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Mário Eduardo Martelotta e Karen Sampaio Alonso apresentam, no ca-pítulo intitulado “Funcionalismo, cognitivismo e a dinamicidade da língua”, os questionamentos relativos à proposta de aproximação entre as abordagens teórico-metodológicas da Linguística Cognitiva e do funcionalismo. As questões levantadas pelos autores são discutidas com base na Linguística do uso e têm como propósito mais específico “avaliar a aplicabilidade da proposta, em termos da capacidade de harmonização entre as análises cognitivista e funcionalista que vêm sendo tradicionalmente desenvolvidas dentro de cada um desses arcabouços teóricos”. Para alcançar seus objetivos, Martelotta e Alonso elencam “os pressu-postos epistemológicos que fundamentam as duas teorias, bem como a dimensão cognitiva e o tratamento da gramática encontrados nas respectivas abordagens”. Conjugando as análises desenvolvidas nos estudos de gramaticalização, de um lado, e da gramática das construções, de outro, os autores classificam como po-sitiva e satisfatória a “proposta de harmonização teórica entre funcionalismo e cognitivismo, reforçando, desse modo, tudo aquilo que vem sendo proposto na Linguística baseada no uso da linguagem”.

Ao discutir, no capítulo “A Gramática Discursivo-Funcional e o contexto”, a noção de contexto na Gramática Discursivo-Funcional, Erotilde Goreti Pezatti destaca que o tratamento de questões textuais-discursivas e expressão morfossin-tática em modelos teóricos que não trabalham especificamente com a relação entre discurso, texto e contexto é bastante “delicado”. Segundo a autora, este é o caso da gdf, que, apesar de procurar entender os enunciados em seu contexto de uso,

não tem “a pretensão de oferecer uma descrição completa do contexto discursivo como um todo e nem é de modo algum um modelo de análise do discurso”. No entanto, como Pezatti assinala, um aspecto importante da gdf é o entendimento de

que os enunciados são produzidos e interpretados no contexto, fato que evidencia a sua importância no processo de descrição linguística. Com base no trabalho de Cornish (2009), sobre a anáfora discursiva e o componente contextual, a autora mostra que, sem observar o contexto situacional, textual ou discursivo seria difícil oferecer uma descrição completa da referência anafórica e a ordem de palavras, que, para Pezatti, estão diretamente ligadas às intenções comunicativas do falante.

Mariangela Rios de Oliveira, no capítulo seguinte, discute três tendências recentes que têm permeado a pesquisa funcionalista de orientação norte-americana, representada aqui por Elizabeth Traugott, Bernard Heine, Paul Hopper, Talmy Givón, Joan Bybee, dentre outros. A primeira tendência discutida pela autora diz respeito à interface lexicalização x gramaticalização, com atenção especial “para os pontos de interseção verificados entre os dois domínios e o caráter relativamente

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fluido da referida distinção”. A segunda faz menção à relevância dos fatores de ordem pragmático-discursiva que contingenciam “os usos linguísticos, configu-rando-os de modo específico, como o gênero discursivo e a sequência tipológica, instâncias intermediárias entre o nível do discurso e o da gramática”. A terceira tendência é relativa à gramaticalização de construções, em que se verifica uma nítida aproximação com a Linguística Cognitiva, no que tange à elucidação dos processos de metonimização (estratégias e dispositivos) e de vinculação sintático-semântica. Rios de Oliveira mostra, pois, “como as referidas tendências têm atuado, no sentido de redimensionar e reorientar os atuais estudos desenvolvidos no âmbito do grupo Discurso & Gramática, com apontamento de novos rumos e perspectivas que se vislumbram a partir desse cenário”.

O texto de Vânia Casseb-Galvão e Maria Célia Lima-Hernandes trata do aspecto da gradualidade do processo de gramaticalização, a partir da proposta givoniana sobre o equilíbrio gramatical e discursivo no processo de mudança linguística. De acordo com as autoras, o modelo de gramática de interação social de Givón recupera o conceito de gramática da comunicação interpessoal e mos-tra que a dinâmica da interação social reflete, de algum modo, as necessidades comunicativas de uma comunidade de fala, tendo como pressuposto a ideia de que procedimentos individuais manifestam-se na gramática geral. Na discussão, Casseb-Galvão e Lima-Hernandes observam “fenômenos de mudança envolvendo a trajetória de elementos do domínio mais concreto para os domínios mais abstra-tos a partir de dados interlinguísticos” oriundos, principalmente, do português do Brasil e do crioulo cabo-verdiano. As autoras concluem o texto posicionando-se a favor de “uma proposta teórico-descritiva não reducionista nos estudos da gra-maticalização, mas que contemple as multifacetas desse processo” de mudança numa análise que verifica não somente as forças favoráveis como também as forças contrárias ao surgimento de velhas formas com novas funções.

No capítulo denominado “Construções relativas sob uma perspectiva discursivo-funcional”, Roberto Gomes Camacho apresenta um estudo das estra-tégias de relativização (relativas padrão, copiadora e cortadora) nas variedades lusófonas do português com base em uma perspectiva teórica da Gramática Discursivo-Funcional de Hengeveld e Mackenzie (2008), que considera relevan-tes as motivações pragmáticas e semânticas para a composição da gramática de uma língua. Dentre os resultados do trabalho, Camacho observa que “a opção do falante por uma estratégia padrão implica simultaneamente a escolha de uma função semântica para o constituinte na oração relativa e a retomada anafórica do constituinte antecedente contido na oração principal, o que corresponde, no nível morfossintático, à seleção de um pronome relativo como conectivo”. Por outro

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lado, o autor acrescenta que a opção do falante por “uma estratégia cortadora ou copiadora implica simultaneamente a escolha de um sintagma preposicionado ou de um zero anafórico na posição pós-verbal do predicado da relativa”, sendo esse constituinte o responsável por estabelecer a relação anafórica com o antecedente, o que corresponde, no nível morfossintático, à seleção de “um marcador de rela-tivização como conectivo”. Nesse contexto, o autor ressalta que o estudo sobre as relativas permitiu identificar o conectivo como “um marcador de relativização nos casos em que se empregam as estratégias copiadora e cortadora e como um pronome relativo, nos casos em que se emprega a variedade padrão”.

Com base na Gramática Textual-Interativa, que também considera a língua em uso, Eduardo Penhavel e Alessandra Regina Guerra discutem, no capítulo “A distinção entre sequenciamento tópico e sequenciamento frasal na Gramática Textual-Interativa”, a distinção entre as noções de sequenciamento tópico e

se-quenciamento frasal. Mais especificamente, os autores procuram definir “quais

situações de sequenciamento linguístico podem ser consideradas sequenciamento tópico no plano da estruturação interna de segmentos tópicos mínimos”. Nesse contexto, num primeiro momento, ao analisar o gênero textual “relato de opinião”, Penhavel e Guerra apresentam uma análise de como esses segmentos estruturam-se em partes e subpartes de natureza e propõem que “os pontos de transição entre essas (sub)partes sejam considerados pontos de sequenciamento tópico”. Em se-guida, assumindo “a hipótese da existência de sequenciamento tópico também no nível da organização interna das subpartes tópicas mínimas”, os autores sugerem ainda a utilização de critérios de distinção entre sequenciamento tópico e frasal para esse nível de análise.

Na expectativa de que este volume seja efetivamente útil para os profissio-nais e acadêmicos de Letras, Linguística e de áreas afins, gostaria de agradecer a todos os autores e colegas que aceitaram prontamente o convite para fazer parte do livro. Da mesma forma, quero agradecer à profa. dra. Marize Mattos Dall’Aglio-Hattnher, por quem tenho grande admiração, pelo cuidadoso prefácio a esta obra. Agradeço também aos membros e amigos de longas datas do Grupo de Pesquisa em Gramática Funcional (gpgf), da Unesp de São José do Rio Preto-sp, e aos

in-tegrantes do recente Grupo de Pesquisa de Estudos Sociofuncionalistas (gpes), da

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul-ms, pelas discussões funcionalistas

sempre muito proveitosas. Por fim, gostaria de registrar ainda o meu agradecimento ao Programa de Pós-Graduação em Letras, da ufms/campus de Três Lagoas, na

pessoa da profa. dra. Kelcilene Grácia-Rodrigues, pelo apoio sempre constante, e ao bolsista de iniciação científica Paulo Henrique da Silva Pereira (ufms/cptl),

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