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O ESTUDO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS PRESENTES EM SALA DE AULA THE STUDY OF LINGUISTIC VARIATIONS PRESENT IN THE ROOM OF CLASS

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O ESTUDO DAS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS PRESENTES EM SALA DE AULA

THE STUDY OF LINGUISTIC VARIATIONS PRESENT IN THE ROOM OF CLASS

LIMA, Ana Claudia Santo1 RESUMO

Este trabalho propõe o estudo da variação linguística em sala de aula, embasada na linha de pesquisa sociolinguística, que tem como objeto de estudo a própria variação. Apresentando como base fundamental, a pesquisa bibliográfica centrada em Bortoni-Ricardo que configurou quais as principais atitudes dos professores em sala de aula diante de situações em que a variedade linguística não padrão aparece. Uma concepção errônea e preconceituosa de enxergar a língua está intimamente ligada à noção de certo e errado, a linguagem padrão é a única forma correta de falar, enquanto que a variedade não padrão pressupõe erro. Embora se tenha conhecimento de que essa classificação nada mais é do que a ação do preconceito linguístico, não existe certo ou errado dentro da língua, tendo em vista que o mais importante é a comunicação entre os falantes.

Palavras-Chave: variação, sociolinguística, padrão e não padrão, preconceito linguístico e comunicação.

ABSTRACT

Este trabajo propone como temática central el estudo de la variación lingüística presente durante las clases de los maestros, siendo así, para esta pesquisa adoptamos el abordaje sociolingüística que presenta el objeto de estudo la propia variación. Presentamos como base fundamental, las pesquisas bibliograficas centradas en Bortoni-Ricardo que expone las principales atitudes de los profesores durante sus clases delante de las variantes lingüísticas. Una concepción errada y preconceituosa de ver la lengua está intimamente relacionada a noción de cierto o errado, el lenguaje normativo no es la única manera correcta de hablar, mientras las variantes son consideradas incorrectas. Aun que se tenga conocimiento que esa clasificación es basada en una acción preconceituosa, no existe cierto o errado, pues lo más importante es la comunicación entre los hablantes.

Keywords: variación, sociolinguística, padrón y no padrón, preconceito linguístico y comunicación.

INTRODUÇÃO

Sabemos da grande importância do ensino de língua materna na escola, uma vez que esta tem como objetivo proporcionar um conhecimento profundo da língua, para que o falante tenha possibilidade de adequar sua linguagem às mais diferentes ocasiões de comunicação. Percebe-se que há uma carga preconceituosa para com aqueles que, segundo a sociedade falam incorretamente, apesar de que não há falares certos ou errados, o que existe são várias formas de se expressar, de partilhar informações.

O presente texto tem como finalidade precípua contribuir para esclarecimentos de

1 Graduada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão-UEMA,2013;

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V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 professores, alunos do curso de letras, bem como de outras áreas afins, atentando para a variação linguística presente na língua portuguesa, concebendo-as como uma adequação e ajuste no contexto social, e não como erro decorrente da gramática normativa.

Numa segunda instância, busca-se explanar sobre a formação do preconceito linguístico, sua mitologia que está enraizada na cultura brasileira, tomando como princípio a heterogeneidade linguística.

O método de investigação utilizado para a realização deste trabalho deu-se por meio de pesquisas bibliográficas, de autores renomados como Marcos Bagno, BortoniRicardo, Fernando Tarallo entre outros que sempre buscaram conscientizar através de suas obras sobre a existência da diversidade linguística e o estudo desta para uma maior compreensão e expressão da linguagem.

E, por fim este texto propõe-se esclarecer como é feito o estudo da variação linguística em sala de aula, qual a postura empregada pelos professores diante de uma situação em que são usadas variedades não padrão.

1 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

1.1 Definição

Na sociedade encontram-se muitos estereótipos diferenciados vivendo em concordância, sabe-se que não há nenhuma pessoa que seja exatamente igual à outra, pois apesar de pertencer a uma mesma comunidade, cada ser humano possui características exclusivas. Na língua também acontece a mesma coisa subjacente às experiências particulares vividas por cada usuário, este usa a língua de maneira completamente diferente daquele, pois seu conhecimento empírico e o meio social o condicionam a um estilo específico.

A Constituição Brasileira em seu art.13 determina que o idioma a ser falado em todo o território nacional, seja a língua portuguesa. Somos conhecedores de que não existe a menor possibilidade por mais remota que seja de falantes de um mesmo idioma utilizarem a mesma maneira de falar, pois apesar de desfrutarem de uma única língua estes

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V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 não são detentores de igual conhecimento linguístico, então fica evidente a existência da variação, confirmando a heterogeneidade linguística.

Ratificando a ideia apresentada, Hudson (1984) aput MONTEIRO (2000 p. 57,58) diz que estar “absolutamente seguro de que não há sequer dois falantes que tenham a mesma linguagem, porque é impossível haver duas pessoas que tenham a mesma experiência linguística”.

A sociolinguística vem comprovar a variação demonstrando que esta não é um erro, mas uma forma diferente de falar que é inerente a todos os idiomas e além do mais que ocorre organizadamente. Há vários vocábulos que estão à disposição de um determinado falante, cabe a este selecionar termos que manifestem de maneira coesa e precisa o seu enunciado. Tendo em mente que o emissor usará de palavras que fazem parte de sua realidade social, pondo em evidência a comprovação de que os fatores externos como idade, grau de escolarização, sexo entre outros influenciam os léxicos a serem utilizados.

O contexto também influencia diretamente na seleção dos vocábulos, uma vez que a partir deste, o falante irá determinar quais as palavras mais propícias para a ocasião.

A variação acontece porque existe a necessidade de modificação na própria língua, para que a mesma consiga ser eficaz e acompanhe as mudanças eminentes e constantes da sociedade. “Mudança implica variação: mudança é variação”! (TARALLO, 1999 p. 83) Com essa definição, percebe-se que tudo o que foge dos padrões gramaticais, tudo o que é diferente dessas regras é variação. Mas não podemos apenas classificá-las como erro, já que a variação é inerente da língua portuguesa, e todos os seus falantes desfrutam dessas transformações, alguns em maior e outros em menor grau.

Marcos Bagno, (2007, p.61, grifos do autor) afirma que:

Todas as classificações sociais e culturais de “certo” e “errado” são resultantes de visões de mundo, de juízos de valor, de crenças, culturas, de ideologias e, exatamente por isso, estão sujeitas a mudar com o tempo.

Com base nesta afirmação, entende-se que erro e acerto foram criados por homens, e que futuramente o que é determinado de erro poderá ser acerto ou que o certo poderá ser erro. As modificações são necessárias e imprevisíveis, portanto não podemos nos apegar totalmente a noção de certo e errado.

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1.2 As variáveis linguísticas e as variáveis sociais

A heterogeneidade linguística acontece ordenadamente, a qual proporciona aos falantes de um dado idioma a comunicação livre e com encadeamentos lógicos consistindo numa interação social. Até aqueles que não dominam os padrões gramaticais, como os analfabetos e crianças entre quatro e cinco anos que não tenham frequentado a escola, formam sequências bem elaboradas que qualquer falante nativo é capaz de entender perfeitamente.

Bagno (2007, pág. 43) afirma que:

A heterogeneidade ordenada tem a ver, então, com essa característica fascinante da língua: o fato dela ser altamente estruturada, de ser um sistema organizado e, sobretudo, um sistema que possibilita a expressão de um mesmo conteúdo informacional através de regras diferentes, todas igualmente lógicas e com coerência funcional.

A partir desta afirmação, entende-se que a língua em si possui um sistema organizado, que permite ao falante se expressar de maneiras diversas, usando regras diferentes das apresentadas pela gramática normativa, e continuar a ser entendido pelos outros.

As variáveis sociais também chamadas de fatores extralinguísticos exercem sobre

as variações linguísticas uma forte influência. Dentre os muitos fatores possíveis, Bagno (2007, p.43,44) define-os da seguinte forma:

Origem Geográfica: a língua varia de um lugar para outro, com este fator fica bem mais simples investigar a fala característica de diferentes regiões, levando sempre em consideração a origem rural ou urbana da pessoa.

Status Socioeconômico: As pessoas que têm um nível de renda muito baixo não falam do mesmo modo das que têm um nível de renda médio ou muito mais alto, e vice versa.

Grau de escolarização: O acesso maior ou menor à educação formal e, com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita, é um fator muito importante na configuração dos usos linguísticos dos diferentes indivíduos.

Idade: Os adolescentes não falam do mesmo modo como seus pais, nem estes pais falam do mesmo modo como as pessoas das gerações anteriores.

Sexo: Homens e mulheres fazem usos diferenciados dos recursos que a língua oferece.

Mercado de trabalho: o vínculo da pessoa com determinadas profissões e ofícios incide na sua atividade linguística.

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Redes Sociais: cada pessoa adota comportamentos semelhantes aos das pessoas com quem convive em sua rede social, entre esses comportamentos está também o comportamento linguístico.

Nota-se que o uso de determinada variação está diretamente influenciado pelos fatores sociais, uns sobrepondo-se aos outros. Esse fenômeno explica a íntima ligação existente entre língua e sociedade, demonstrando que uma necessita da outra para sua existência.

2 FORMAÇÃO DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO

O preconceito infelizmente ainda faz parte da sociedade, que apesar de evoluída traz consigo esse fenômeno destrutivo. Sucessivamente ouve-se dizer que brasileiros não sabem português, por isso é necessário frequentar as aulas de língua portuguesa, para que possam aprender o seu próprio idioma. Entretanto, vários autores tentam desconstruir esse preconceito que com o passar do tempo se compôs na mente das pessoas, Bagno lista oito mitos sobre o preconceito linguístico, os quais veremos abaixo:

Mito 01-A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente.

Estamos cientes de que na língua portuguesa falada no Brasil há uma diversidade muito grande e isso se apresenta nas características particulares que cada região possui, manifestando-se em falares distintivos. Apesar de no Brasil apresentar apenas um idioma, esse mesmo idioma mostrar-se com grande heterogeneidade e variabilidade. Algumas palavras que possuem um significado em uma determinada região pode ter um sentido completamente diferente para outra, ou mesmo a criação de neologismos que são criados segundo a necessidade de cada comunidade ou grupo social.

Marcos Bagno (2007, p.15) ainda diz:

Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma linguística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua situação econômica, de seu grau de escolarização etc.

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V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 Com essa atitude inerte da escola, aquele que possui uma variedade linguística estigmatizada infelizmente sofrerá preconceito, pois sempre dirão que sua linguagem está errada que é necessário falar de forma correta, que é preciso seguir as regras ditadas pela gramática normativa. Em consequência causando um constrangimento e inibição, ao impregnar na mente do falante de que realmente não sabe falar sua língua materna.

Mito 02- Brasileiros não sabe português/ Só em Portugal se fala bem português.

A língua portuguesa falada no Brasil, só poderia mesmo ser diferente da língua portuguesa falada em Portugal, pois são países com culturas diferentes com modos de viver distintos, não temos de ser um país que simplesmente deve falar como em Portugal.

Somos um povo com nossas próprias qualidades, então por que imitar um português que não faz nenhum sentido para nós, brasileiros?

Marcos Bagno (2007, p. 23) grifo do autor afirma que:

E essa história de dizer que “brasileiro não sabe português” e que “só em Portugal se fala bem português”? Trata-te de uma grande bobagem, infelizmente transmitida de geração a geração pelo ensino tradicional da gramática na escola.

O Brasileiro sabe português, sim. O que acontece é que nosso português é diferente do português falado em Portugal.

Todos os brasileiros sabem falar o português, só não conseguem empregar todas as regras ditadas pela gramática normativa, regras, aliás, que mesmo os chamados cultos não as empregam constantemente. Existem momentos em que os próprios gramáticos, usam incorretamente essas regras.

Mito 03- Português é muito difícil

Afirmação que continuamente é ouvida por professores de língua portuguesa, pois seu corpo alunado não consegue empreender as regras atribuídas pela gramática normativa, e tudo o que foge a essas regras é considerado erro, por isso é tão cansativo e frustrante. Os professores lecionam regras que sumariamente não usam e os alunos não conseguem aprender, porque essas regras não fazem parte do cotidiano no português brasileiro.

Marcos Bagno (2007, p. 35), enfatiza que:

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O nosso ensino de língua portuguesa sempre se baseou na norma gramatical de Portugal, as regras que aprendemos na escola em boa parte não correspondem à língua que realmente falamos e escrevemos no Brasil.

Mito 04- As pessoas sem instrução falam tudo errado

Acima, ficou-nos explicado que não existe uma forma única de falar, mas que os fatores externos influenciam e caracterizam a língua, priorizando essas diversidades em função da necessidade de compartilhamento de informação e inserção social.

Não se pode comparar e além do mais usar de preconceito para com uma pessoa que não tem instrução, dizendo que esta fala tudo errado e aquela porque estudou fala corretamente, não existe certo ou errado, apenas diferentes maneiras de se expressar e isso será de acordo com a bagagem cultural que determinado falante tenha adquirido em seu meio social. Somos todos detentores de um único idioma, e mesmo quem nunca frequentou a escola possui uma capacidade imensa de se expressar logicamente e ser entendido por qualquer usuário nativo de língua portuguesa.

Mito 05- Lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão

As variedades existentes em todas as regiões do Brasil, não podem ser classificadas de melhores ou piores. Cada região tem seu estilo diferenciado, e isso é cultura, transformando a língua portuguesa em um idioma rico.

Bagno (2007, p. 47) grifo do autor explica que:

Não existe nenhuma variedade nacional, regional ou local que seja intrinsecamente “melhor”, “mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” que outra.

Toda variedade linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam.

Quando a sociedade perceber que não há mais necessidade para determinada variedade, naturalmente esta será substituída por outra que terá a função que aquela não mais estava conseguindo suprir. Demonstrando que a língua se auto constrói em função da necessidade humana de proporcionar ao homem uma comunicação eficiente.

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Mito 06- O certo é falar assim porque se escreve assim

A ortografia é imprescindível para todo idioma, pois ela permite uma regularidade na escrita de cada língua. A língua falada implica uma pronunciação diferente que dependendo da origem geográfica, do grau de escolarização, da idade, entre outros fatores as palavras podem ser pronunciadas diferentes. Temos como exemplo a palavra bonito, que na maioria das vezes é pronunciada bunito, que mesmo com essa pronúncia a maneira correta, segundo a ortografia oficial é escrever bonito. Marcos Bagno (2007, p. 55)

A mera forma escrita não é capaz de traduzir as inflexões e as intenções pretendidas pelo falante [...].

A importância da língua falada para o estudo científico está principalmente no fato de ser nessa língua falada que ocorrem as mudanças e as variações que incessantemente vão transformando a língua.

É importante que se tenha conhecimento da ortografia nacional, para que se possa escrever corretamente. Embora a forma escrita não seja capaz de manifestar todas as entonações e sentimentos expressados em um discurso, tornando a linguagem falada uma fonte de riqueza inesgotável.

Mito 07- É preciso saber gramática para falar e escrever bem

Não necessariamente precisa-se saber as regras da gramática normativa para se expressar coerentemente, muitas pessoas que nunca tiveram contato com a gramática conseguem se expressar bem e se fazem entendidas em seus enunciados. Grandes autores não eram inteirados da gramática, como Machado de Assis, que se constituiu em um dos autores brasileiros mais renomados. Se este mito fosse verdadeiro todos os gramáticos seriam ótimos escritos, bem sabemos que isto não é verdade.

A língua está acima da gramática, constituindo-se dinâmica, com transformações constantes ao passo que a gramática é estática, inerte, ou seja, a gramática é apenas mais uma variedade da língua portuguesa. E as variedades é que devem ser subjugadas pela língua e não o contrário.

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Mito 08- O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social.

A ascensão social não está meramente ligada ao conhecimento da norma culta propagada pela escola, não adianta ter um saber exorbitante sobre essa variedade

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V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 linguística, se este falante vive à margem da sociedade, sem desfrutar de uma saúde de qualidade, das novas tecnologias etc. Não é pelo simples fato de alguém ter conhecimento das regras da gramática padrão que automaticamente passará de empregado a patrão.

Marcos Bagno (2007, p. 69) expõe:

Ora, se o domínio da norma culta fosse realmente um instrumento de ascensão na sociedade, os professores de português ocupariam o topo da pirâmide social, econômica e política do país, não é mesmo? Afinal, supostamente, ninguém melhor do que eles domina a norma culta.

A partir do conhecimento desses oito mitos, é importante descaracterizá-los no dia a dia, tomar como princípio a premissa de que todos os brasileiros conhecem seu idioma, e se expressam conforme conhecimento apreendido pelas experiências e ou conhecimentos apreendidos pela escola. Não existe falares errados, o que existe é uma diversidade surpreendente, o que torna a língua portuguesa no Brasil, essa preciosidade.

Legitimando a ideia de que a língua está em constante transformação Marcos Bagno (2007,p.117 grifo do autor), ainda expõe:

A gramática normativa tenta nos mostrar a língua como um pacote fechado, um embrulho pronto e acabado. Mas não é assim. A língua é viva, dinâmica, está em constante movimento-toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição, em permanente transformação.

3 A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO

A variação linguística está presente em todas as instâncias da língua portuguesa. E que a mesma se apresenta distintamente, então como compreender a variação linguística dentro da língua portuguesa?

Bortoni- Ricardo (2004) desenvolveu um sistema que proporciona o entendimento da variação da língua portuguesa falada no Brasil. Ela propõe que as variações sejam estudadas por meio de contínuos, ou seja, linhas imaginárias em que o falante é posicionado levando em sua consideração sua origem, a situação de comunicação e o estilo usado dentro de uma dada ocasião, esse estudo é avaliado sob três pontos que são:

contínuo de urbanização, contínuo de oralidade-letramento e contínuo de monitoração estilística.

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Contínuo de urbanização

De um lado estão os falantes de origem urbana, estes foram influenciados pelo padrão de escrita e fala correta, constantemente são cobrados pela impressa, pelo rádio na busca incansável da melhor expressão e de uma escrita mais erudita.

Do outro lado estão os falantes de origem rural, os quais são isolados, na maioria dos casos pela dificuldade geográfica, vivendo em uma comunidade completamente diferenciada da primeira, onde o importante é entender e ser entendido.

Bortoni- Ricardo (2004, p.52) apresenta o contínuo de urbanização da seguinte maneira:

...

variedades área variedades rurais isoladas rurbana urbanas padronizadas

Em um dos polos do contínuo, estão as variedades usadas pelo falante da zona rural, aquele que não teve contato com a forma padronizada da língua portuguesa. Na outra extremidade estão aqueles falantes que continuamente estão rodeados por regras para bem se falar e escrever.

Bortoni- Ricardo (2004, p.52) afirma que:

Os grupos da zona rurbana são formados pelos migrantes de origem rural que preservam muito de seus antecedentes culturais, principalmente no seu repertório linguístico, e as comunidades interioranas residentes em distritos ou núcleos semirurais, que estão submetidas à influência urbana, seja pela mídia, seja pela absorção de tecnologia agropecuária.

Em outras palavras, os que compõem a zona rurbana são oriundos da zona rural, mas que tem contato com a variedade urbana, contudo não conseguem deixar a sua variedade de origem e usam de ambas em sua convivência diária.

Esse método de análise permite configurar com exatidão as características dos falantes do português brasileiro, já que é possível “situar qualquer falante do português brasileiro em um determinado ponto desse contínuo, levando em conta a região onde ele nasceu e vive” (BORTONI-RICARDO, 2004, p.52).

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Contínuo de Oralidade-Letramento

Este contínuo trata das situações de comunicação, as quais são classificadas como eventos de oralidade, onde se usa apenas a língua falada e eventos de letramento, momento em que se estar lendo um texto, ou recitando algo que já foi lido em algum livro.

O mesmo pode ser imaginado assim, Bortoni- Ricardo (2004, p. 62):

...

Eventos de Eventos de Oralidade Letramento

Bortoni- Ricardo (2004, p.62 ) atenta para a distinção entre os eventos:

Para fazermos a distinção entre eventos de letramento e oralidade, vamos lembrar que, nos primeiros, os integrantes se apoiam em um texto escrito, que funciona como uma pauta de partitura musical.

Esse texto pode estar presente no ambiente da interação ou pode ter sido estudado ou lido previamente [...]

Uma conversa à mesa de bar é um evento de oralidade, mas, se um dos participantes começa a declamar um poema que ele recolheu em suas leituras, o evento passa a ter influências de letramento.

Em uma única situação podemos obter os dois contínuos de comunicação, que podem ou não ficar intercalando-se. De antemão, compreende-se que nos eventos de letramento a linguagem utilizada pelo emissor imediatamente sofre uma modificação, já que o mesmo irá fazer uma leitura ou citar algo que antecipadamente leu, sabe-se que a linguagem escrita segue um padrão completamente diferenciado da língua falada, é uma linguagem mais lúdica que em suma apresenta-se segundo a regras gramaticais básicas. A linguagem dos eventos de oralidade, em sua grande maioria é o próprio vernáculo, onde não há uma preocupação de seleção de palavras, apenas uma fala espontânea.

Contínuo de Monitoração- Estilística

As interações são o objeto de análise deste terceiro contínuo, sejam interações espontâneas, ou aquelas que foram planejadas antecipadamente e que é necessário muita atenção do falante:

....

...

- monitoração + monitoração

(BORTONI- RICARDO, 2004, p.62)

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V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 Os falantes podem alternar seu estilo de acordo com a situação e o papel dentro de uma ocasião. Em um instante pode-se ter uma situação em que é exigido uma melhor postura do falante, em outros, esse mesmo falante pode está relaxado sem a necessidade de empregar um estilo mais monitorado.

Por exemplo, quando encontramos com um amigo, o vernáculo mais que depressa domina a situação e não precisamos monitorar o estilo que estamos usando. Embora quando nos encontramos em uma entrevista de emprego, logo modificamos a maneira de nos comunicar, pois a situação exige que usemos de um estilo ponderado e rigorosamente monitorado.

Bortoni- Ricardo (2004, p.62) classifica três fatores gerais que nos levam a monitorar o nosso estilo: o ambiente, o interlocutor e o tópico da conversa. O ambiente permite ou repudia determinado estilo de conversação, enquanto que o interlocutor vai exigir ou não uma postura mais rigorosa e uma linguagem cabível para com ele. A conversa permite que o falante se situe e possa usar de uma variedade adequada dentro daquela situação.

3.1 A variação linguística e o ensino de língua: a doutrina do erro

O ensino de língua materna veiculado pela escola está centrado na educação prescritiva, a qual visa à alfabetização da população e a transmissão de conhecimentos, tendo como objetivo principal capacitar os indivíduos a assumir o funcionamento ativo da comunicação. Embora se compreenda que o desconhecimento das outras variedades linguísticas, e a imposição das regras gramaticais enfraquece o potencial dos alunos, que se tornam frustrados por não conseguirem aplicar essas regras em seu dia a dia.

Tudo o que foge as essas regras é meramente erro, não existe uma conscientização de que esse erro é inexistente, e o que é apontado de erro são mudanças, são variações e estão presentes dentro da língua portuguesa.

É necessário que a escola seja transformada e cause transformação, para isso é preciso ter uma nova visão pedagógica para aceitação das variedades chamadas não- padrão, tendo como base esse conhecimento que os alunos já possuem para um desenvolvimento linguístico mais eficiente.

Soares (2001, p.74) aponta duas características para uma escola transformadora:

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Em primeiro lugar, uma escola transformadora não aceita a rejeição dos dialetos dos alunos pertencentes às camadas populares, não apenas por eles serem tão expressivos e lógicos quanto o dialeto de prestígio, mas também, e sobretudo, porque essa rejeição teria um caráter político inaceitável, pois significaria uma rejeição de sua linguagem.

Nesta perspectiva é verificado que não é atribuído uma classificação de melhor ou pior para as variação linguísticas, sejam estas padrão e não-padrão todas são concebidas de igual modo, sem constrangimento ou preconceitos.

Em segundo lugar, uma escola transformadora atribui ao bidialetalismo a função não de adaptação do aluno às exigências da estrutura social [...] mas a de instrumentalização do aluno, para que adquira condições de participação na luta contra as desigualdades inerentes a essa estrutura.

Quanto à segunda característica, é fundamental que a escola transformadora tenha uma visão de inserção dos falantes no meio social, para que estes possam usufruir de todas as variedades linguísticas, podendo ter o domínio da comunicação nas mais diversas situações, diminuindo as desigualdades que estão em nossa sociedade.

Ao professor de Língua Portuguesa é encarregado de mostrar o valor de cada variedade linguística, e explicar que a gramática não está acima da língua portuguesa, esta é subjacente à língua. Esclarecer que é indispensável o conhecimento da gramática normativa, tanto quanto ter o conhecimento das outras variedades, uma vez que mediante isso o aluno saberá usá-las eficientemente.

Bagno (2002, p.75 grifo do autor) enfatiza que uma das tarefas do ensino da língua portuguesa:

Discutir os valores sociais atribuídos a cada variante linguística, enfatizando a carga de discriminação que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que sua produção linguística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação social, positiva ou negativa.

3.2 A variação linguística em sala de aula

O comportamento do professor quando se depara com uma situação de variedade não padrão dentro da sala de aula, vai nortear o aprendizado do aluno. Já que este possui ou deveria possuir conhecimento suficiente para direcionar o corpo discente ao um nível crítico da linguagem.

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V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 Pesquisas em sala de aula desenvolvidas por Bortoni- Ricardo (2004, p. 38) identificaram alguns padrões principais na conduta do professor, quanto à realização de regras não-padrão pelos alunos:

O professor identifica “erros de leitura”, isto é, erros na decodificação do material que está sendo lido, mas não faz distinção entre diferenças dialetais e erros de decodificação na leitura, tratando-os todos da mesma forma.

O professor não percebe uso de regras não-padrão. Isto se dá por duas razões: ou o professor não está atento ou o professor não identifica naquela regra uma transgressão porque ele próprio a tem em seu repertório. A regra é, pois, “invisível” para ele;

O professor percebe o uso de regras não-padrão e prefere não intervir para não constranger o aluno;

O professor percebe o uso de regras não-padrão, não intervém, e apresenta logo em seguida, o modelo da variante-padrão.

Esses são os principais comportamentos empregados pelos professores quando se deparam com uma variedade não padrão da língua portuguesa, essa conduta depende basicamente do evento em que essas regras ocorrem, sejam eventos de oralidade ou letramento. Em geral os “professores não intervêm para corrigir os alunos durante uma realização de oralidade”( Bortoni- Ricardo)

Os docentes não identificam ou não retificam os erros nos eventos de oralidade, pois eles também fazem uso dessa variedade. Embora seja indispensável esclarecer para o alunado, sobre as variações linguísticas sempre que houver oportunidade para isso.

Ao fazer a distinção das variedades linguísticas e tendo como base essa pedagogia que desmistifica o preconceito linguístico, o educador será capaz de proporcionar aos alunos uma visão crítica e bem elaborada sobre os diversos falares. Marcos Bagno (2002, p.78,79) define alguns requisitos que são imprescindíveis para a formação do professor de língua portuguesa.

I Deve deixar de se concentrar na transmissão estática da norma padrão e da gramática normativa para estimular o conhecimento dinâmico da língua em toda a sua diversidade.

II Contribuir para dissipação de toda uma série de mitos e preconceitos sobre a língua.

III Conhecimento mais detalhado da variação linguística e das consequências sociais desta variação.

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IV A prática pedagógica deve-se concentrar no conceito de letramento, reformular o ensino de gramática em seus moldes tradicionais através de atividades de leitura.

Empregando esses requisitos como base para o ensino de língua portuguesa, certamente os alunos serão mais motivados e terão mais confiança, quando forem se expressar, seja essa expressão escrita ou oral.

A preocupação principal que os professores deveriam está ligada quanto a formação moral e crítica dos se alunos, lecionar não significa apenas impor regras, mas conscientizar de que o uso adequado da linguagem, permite uma interação social mais harmoniosa e que o conhecimento de sua língua o torna sabedor, modificador e construtor de sua história. Ratificando a ideia e a necessidade do estudo da variação linguística presente em sala de aula, Marcos Bagno afirma (2002, p. 80) grifo do autor que:

O objetivo da escola, no que diz respeito a língua, é formar cidadãos capazes de se exprimir de modo adequado e competente, oralmente e por escrito, para que possam se inserir de pleno direito na sociedade ajudar na construção e na transformação dessa sociedade – é oferecer a eles uma verdadeira educação linguística.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem e a sociedade possuem uma relação de construção e reciprocidade, para que exista uma sociedade é indispensável que se tenha um código para efetivar a comunicação, para que a comunicação tenha sua devida importância é preciso que existam pessoas que tenham a necessidade de compartilhar informações.

A sociolinguística é a ciência que busca compreender a formação das variações linguísticas e suas características dentro de um grupo social; para que a pesquisa sociolinguística obtenha sucesso, é necessário associar características da sociedade e interligálas a maneira de expressão dos falantes.

As variações da língua estão relacionadas a diversos fatores como: faixa etária, gênero, status socioeconômico, grau de escolaridade, mercado de trabalho, entre outros.

Existem inúmeras situações de fala, onde é indispensável saber diferenciar qual o estilo mais propício para uma dada ocasião, e os indivíduos devem se sentir preparados para interagir nas mais variadas situações interacionais.

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REVISTA BRASILEIRA DE ASSUNTOS INTERDISCIPLINARES – REBAI

V. 1, n.1, Jan/Jul, 2017 O estudo da variação linguística em sala de aula não acontece eficientemente, porquanto no geral os professores não apresentam preocupação em esclarecer para o corpo docente de que além da variedade padrão, há outras tantas maneiras de se falar a mesma coisa, e que nenhuma variedade é superior ou inferior à outra, mas é mister que se conheçam todas e façam uso adequado de acordo com a necessidade da circunstância.

REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Gilles Gagné. Michael Stubbs. Língua Materna: letramento, variação e ensino. São Paulo: Parábola Editoral, 2002.

_______. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

_______. Preconceito Linguístico: o que é, e como se faz. 49ª ed. São Paulo: Loyola, 2007.

BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguís- tica na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

MONTEIRO, José Lemos. Para Compreender Labov. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

SOARES, Magda. Linguagem e Escola: Uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 2001.

TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolinguística. 6ª ed. São Paulo: Ática, 1999.

Referências

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