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Open Body Building e a confiança e medo no uso dos esteroides anabolizantes: uma análise sociológica

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA

FABIANO ALMEIDA DA SILVA

Body- Building e a confiança e medo no uso dos

esteroides anabolizantes: uma análise sociológica

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Body- Building e a confiança e medo no uso dos

esteroides anabolizantes: uma análise sociológica

FABIANO ALMEIDA DA SILVA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Sociologia sob a orientação da professora Marcela Zamboni Lucena.

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S586b Silva, Fabiano Almeida da.

Body- Building e a confiança e medo no uso dos esteroides anabolizantes: uma análise sociológica / Fabiano Almeida da Silva.- João Pessoa, 2012.

115f.

Orientadora: Marcela Zamboni Lucena Dissertação (Mestrado) – UFPB/CCHLA

1.Sociologia. 2.Esteroides anabolizantes – uso – problemas. 3. Transformação do corpo. 4. Hormônios – uso – confiança – medo – análise sociológica.

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AGRADECIMENTOS

Escrever uma dissertação apesar de parecer uma produção individual ela envolve a participação direta ou indireta de muitas pessoas. Mesmo sendo impossível destacar todas agradeço especialmente:

A minha orientadora Prof. Dr. Marcela Zamboni Lucena, pela paciência em administrar meus erros, ansiedades e inseguranças, além da sua importante orientação que caso contrário a conclusão do trabalho seria impossível.

A toda minha família pelo apoio e confiança que depositaram em mim e ainda, por suportar minha ausência em muitas ocasiões durante a elaboração do presente trabalho.

À Universidade Federal da Paraíba pela disponibilidade da sua estrutura de ensino e qualidade.

Ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia em especial a excelência do corpo docente.

Aos professores; Dr. Anderson Moebus Retondar; Dr. Mauro Guilherme Pinheiro Koury e Drª. Simone Magalhães Brito, pelas preciosas sugestões apontadas durante a qualificação, que possibilitou uma nova organização do trabalho, ampliando assim a própria qualidade do mesmo.

À CAPES agradeço a bolsa concedida, ao qual foi vital para a realização da pesquisa.

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“O corpo é o vetor semântico pelo qual a evidência da relação com o mundo é construída...”

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RESUMO

O presente trabalho versa sobre o problema do uso intensivo dos hormônios esteroides anabólicos androgênicos (EAAs), também conhecidos popularmente como esteroides anabolizantes, por homens frequentadores de academia de ginástica de um bairro popular na cidade de João Pessoa. Esta pesquisa tem como objetivo, compreender, dentro de uma perspectiva sociológica, a relação de confiança e medo nos usos dos hormônios esteroides anabolizantes, bem como, as próprias motivações para a prática da musculação e a utilização destas drogas masculinizantes. Diante do exposto, percebe-se que na sociedade contemporânea, o corpo tornou-se elemento central na vida de muitos indivíduos, realidade esta, fruto do fenômeno do culto ao corpo que nas últimas décadas tomou formas radicalizadas. Neste contexto, ao mesmo tempo em que a corpolatria se intensifica, paradoxalmente cresce, nas mesmas proporções, a insatisfação das pessoas com sua imagem corporal, principalmente quando comparados aos ideais corpóreos amplamente valorizados socialmente. Esta realidade se agrava em uma sociedade em que somos cobrados, julgados, classificados e identificados pela imagem corporal. Assim, a supervalorização da imagem corporal está fazendo com que muitas pessoas cometam excessos na utilização dos mais diferentes meios na busca pelo corpo esteticamente “perfeito”. Estes excessos estão cada vez mais “cegos”, sintoma da cultura do presenteísmo, onde sustenta o “agora”, como tempo mais importante para os que procuram a transformação da forma corporal. Tais fenômenos condicionam muitos indivíduos a embarcarem no submundo da utilização dos esteroides anabolizantes com a intenção de construir um corpo “sarado” em um curto espaço de tempo. Nestas circunstâncias a relação de confiança e medo tem importância particular, pois, a partir destes dois elementos (e também de outros), os indivíduos direcionam suas ações e discursos para o uso ou não uso destas substâncias.

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ABSTRACT

This paper discusses the problem of the intensive use of anabolic-androgenic steroid hormones (AAS), also popularly known as anabolic steroids by male gym-goers in a popular neighborhood in the city of João Pessoa. This research aims to understand, within a sociological perspective, the relationship of confidence and fear in the uses of anabolic steroid hormones, as well as their own motivations for the practice of bodybuilding and the use of these drugs masculinizing. Given the above, it is clear that in contemporary society, the body became a central element in the lives of many individuals, this reality, the result of the phenomenon of the cult of the body that in recent decades took radicalized forms. In this context, while the corpolatria intensifies, paradoxically grows in the same proportions, the people's dissatisfaction with their body image, especially when compared to ideal body widely socially valued. This situation is aggravated in a society in which we are charged, tried, identified and classified by body image. Thus, the overestimation of body image is causing many people to commit excesses in the use of many different ways in the pursuit of body aesthetically "perfect." These excesses are increasingly "blind", a symptom of the culture of presenteeism, which maintains the "now" as most important time for those seeking the transformation of body shape. These phenomena affect many individuals to embark in the underworld of the use of anabolic steroids with intent to build a body "healed" in a short time. In these circumstances the trust and fear is particularly important, because from these two elements, individuals direct their actions and speeches for use or not use of these substances.

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SUMÁRIO

 

INTRODUÇÃO ... 09

CAPÍTULO I ... 14

CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS ... 14

1.1 METODOLOGIA DE COLETA DE DADOS ... 14

1.2. GRUPO ANALISADO E CAMPO DE PESQUISA ... 17

1.2.1. INCIDÊNCIA DOS USUÁRIOS ... 19

1.3. CAMPO DE PESQUISA ... 22

1.3.1- ACADEMIA “A” ... 23

1.3.2. ACADEMIA “B” ... 26

CAPÍTULO II ... 31

TIPOS DE MODELAGEM CORPORAL: DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES AOS QUÍMICOS ESTEROIDES ANABOLIZANTES ... 31

2.1. SUPLEMENTOS ALIMENTARES ... 31

2.2. ESTEROIDES ANABOLIZANTES ... 36

CAPÍTULO III ... 46

TRANSFORMAÇÃO DO CORPO ANABOLIZADO: O QUE DIZEM OS USUÁRIOS? ... 46

3.1. BODY-BUILDERS E A CULTURA DA “MALHAÇÃO” ... 46

3.2. CULTO AO CORPO: MOTIVAÇÕES PARA A PRÁTICA DA MUSCULAÇÃO E USO DOS HORMÔNIOS ESTEROIDES ANABOLIZANTES ... 51

CAPÍTULO IV ... 76

CONFIANÇA E MEDO NO USO DOS ESTROIDES ANABOLIZANTES ... 76

4.1 CONFIANÇA E USOS DOS ESTEROIDES ANABOLIZANTES ... 76

4.1.2- CONFIANÇA E RELAÇÕES DE “AMIZADE” NA UTILIZAÇÃO DOS ESTEROIDES ANABOLIZANTES ... 85

4.2 – MEDO E O USO DOS ESTEROIDES ANABOLIZANTES ... 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 100

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INTRODUÇÃO

Na sociedade contemporânea, os holofotes estão voltados para o corpo, nunca o invólucro corpóreo foi tão venerado e adorado como no presente momento. O corpo tornou-se um santuário, envolvido por uma “sagrada” atmosfera religiosa do corpo, carregado por um conjunto de crenças, rituais e simbolismos (BAUDRILARD, 1995; CASTRO, 2007). Tal fenômeno do culto ao corpo altera os estilos de vida de uma parcela significativa da nossa sociedade e, deste modo, encontram-se facilmente indivíduos condicionados por uma preocupação excessiva com a aparência corporal em uma verdadeira idolatria ao corpo. Esta “corpolatria” faz do corpo um capital, um puro empreendimento, ao qual o indivíduo tem que administrar da melhor forma possível. Em suma, o corpo virou, na atualidade, objeto de investimento (financeiro e temporal), tratamento, preocupação e manipulação; algo que deve ser criado, desenhado e teatralizado no espetáculo da vida social, fazendo do corpo um elemento central na vida cotidiana de muitos indivíduos (MAFESSOLI, 1995; GOLDENBERG, 2002).

Um dos efeitos colaterais deste fenômeno na contemporaneidade é o elevado crescimento da insatisfação dos indivíduos com sua imagem corporal, proporcionando crises de identidade pessoal e a propagação de sentimento de vergonha, quando comparados aos cânones corporais amplamente valorizados socialmente1. Em tese, com a radicalização da corpolatria, desenvolve-se paradoxalmente a intensificação da insatisfação pessoal com imagem corporal.

Neste contexto, amplia-se o consumo de bens e serviços na intenção de aprimoramento da estrutura corpórea. Assim, a busca por uma melhor forma corporal faz com que muitos indivíduos procurem os mais diferentes meios que prometem a realização dos objetivos traçados ligados à imagem corporal2. Um exemplo desta

1 A indústria do corpo ou da beleza, sob o ecoar da mídia e publicidade, desempenha uma papel

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realidade é a busca incansável pelas academias de ginásticas para execução de várias modalidades, dentre elas, a musculação.

A prática de exercícios com pesos (através de máquinas e halteres) e repetições em série dentro das academias de ginástica se faz presente, na atualidade, em diferentes segmentos sociais, sendo praticado predominantemente por homens, e nos últimos anos, com grande aceitação entre as mulheres. Este campo (no sentido de Pierre Bourdieu), conhecido comumente como musculação, encontra-se carregado de elementos (disputas, contradições, dominação, poderes, simbolismos, desigualdades etc.) de extrema importância para o diagnóstico da realidade centrada na supervalorização da imagem corporal que presenciamos nos dias atuais.

Muitos dos adeptos (normalmente do sexo masculino) da prática da musculação buscam o hipertrofiar da massa muscular no sentido de representação da beleza masculina, porém, discursos ligados à saúde e melhor qualidade de vida também fazem parte deste universo3. Conforme Le Breton (2004, p. 7), “a vontade de transformar o corpo tornou-se um lugar-comum”, principalmente porque na atualidade o sujeito não é apenas responsável pelo seu jeito de ser, seu comportamento e conduta frente aos outros indivíduos, mas também responsável pela sua forma corporal. O corpo não corresponde mais a uma realidade inexorável, objeto de não alteração, muito pelo contrário, vemos o corpo como alvo de construção pessoal extremamente manipulável e maleável, segundo os desejos individuais, as condições objetivas e possibilidades disponíveis (LE BRETON, 2009; GOLDENBERG, 2002; GIDDENS, 2002).

Como intensificação deste processo, o culto ao corpo contemporâneo traz como uma das suas peculiaridades a demasiada importância do presente, alterando a própria busca pela transformação da forma corporal. O imediatismo associado a uma realidade em que faz do corpo uma propriedade e responsabilidade exclusivamente do indivíduo tende a direcionar a radicalização da ação. Desta forma, muitas pessoas buscam atingir os objetivos traçados em um curto espaço de tempo, utilizando-se das mais variadas ferramentas produzidas e ampliadas pela indústria da beleza e da boa forma. Porém, meios ilegais também são utilizados em prol das metas estabelecidas individualmente. De qualquer modo, os frequentadores (homens e mulheres) de academias de musculação

plásticas com caráter estético realizadas em homens, apesar ainda da predominância feminina. Disponível em: www.cirurgiaplastica.org.br/.

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estão envolvidos com este “presenteísmo” contemporâneo, condicionando muitos adeptos desta prática corporal a buscarem as armas impostas pela sociedade de consumo e consideradas por muitos como necessárias e indispensáveis na luta para realização do sonho de modificar o invólucro corpóreo.

Com isso, o consumo de substâncias, na intenção de acelerar e potencializar o processo de modificação da forma corporal, não é mais novidade entre os praticantes da musculação. É um lugar comum afirmarmos o crescente consumo, nos últimos anos, de substâncias como a suplementação alimentar e os esteroides anabolizantes entre os partidários da musculação. Porém, outras substâncias também podem ser encontradas neste campo como é o caso dos produtos para uso veterinário. Apesar de, muitas vezes, a utilização destas ferramentas ser desnecessária (no caso dos suplementos alimentares), ou até mesmo impróprias e ilegais (esteroides anabolizantes e produtos para usos veterinários), muitos adeptos da musculação agarram-se a específicas armas da imagem corporal, como forma de combater o mal-estar provocado pela dinâmica da mudança e do presenteísmo contemporâneo, que faz da espera algo penoso e doloroso, não havendo mais espaço para demora dos acontecimentos, vontades e desejos.

Dentro desta infinidade de ferramentas administradas com a intenção da melhora da forma corporal, os hormônios esteroides anabolizantes ocupam um lugar de destaque, sendo utilizados por muitos praticantes de musculação na confiança de que estes aditivos possam proporcionar um corpo “sarado” em um curto espaço de tempo. Diante disso, o que se tem observado nas últimas décadas é o crescimento assustador do uso dos esteroides anabolizantes por razões puramente estéticas na intenção da transformação da forma corporal.

Em direção oposta, os sistemas especializados (através dos mecanismos de informação) alertam para o perigo da utilização indevida dos esteroides anabolizantes como meios ilegais e bastante arriscados no que tange ao seu uso com caráter estético. Assim, os partidários da musculação, usuários de esteroides anabólicos androgênicos (EAA) ou não, se veem diante do seguinte dilema: de um lado a confiança no uso dos esteroides anabolizantes como arma capaz de materializar sua vontade incondicional de transformar a forma corporal, de outro, o medo no uso dessas substâncias postas pelos sistemas especializados como meios ilegais e bastante perigosos.

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popularmente como esteroides anabolizantes, por jovens do sexo masculino e frequentadores de academia de ginástica de um bairro popular na cidade de João Pessoa.

Esta pesquisa teve como objetivo, compreender, dentro de uma perspectiva sociológica, a relação de confiança e o medo nos usos dos hormônios esteroides anabolizantes, bem como as próprias motivações para a prática da musculação e a utilização dessas drogas masculinizantes.

A importância do trabalho se faz devido à escassez de estudos sociológicos ligados à utilização dos esteroides anabolizantes, principalmente em uma época centrada na supervalorização da imagem corporal. Além do mais, os dados apresentados podem fornecer contribuições significativas para a reflexão, no que envolve o fenômeno do culto ao corpo como força motriz de excessos na corporeidade contemporânea.

Esta dissertação está dividida em quatro capítulos, subdivididos em itens que procuram expor os pontos centrais do trabalho: 1- “Considerações metodológicas”; 2- “Tipos de modelagem corporal: dos suplementos alimentares aos químicos esteroides anabolizantes”; 3- “Transformação do corpo anabolizado: o que dizem os usuários?”; 4- “Confiança e medo no uso dos esteroides anabolizantes”.

No capítulo primeiro, intitulado “Considerações metodológicas”, busca-se expor a metodologia utilizada na pesquisa, apresentando alguns dados colhidos na realidade estudada, além de definir a amostra, apontando o grupo estudado. Em linhas gerais, apresenta alguns indicadores referentes aos usuários de EAA. Em seguida, é indicada a incidência dos usuários que utilizam essas substâncias. Ainda neste capítulo se buscou fazer uma breve exposição de duas academias de ginástica como cenário importante para temos uma ideia de um campo que permeia toda a pesquisa.

O capítulo segundo, denominado “Tipos de modelagem corporal: dos suplementos alimentares aos químicos esteroides anabolizantes”, visa apresentar estas duas ferramentas bastante utilizadas (uma legalmente e outra ilegalmente) por frequentadores de academia de ginástica, na busca de modificar a forma corporal. No que se refere aos suplementos alimentares, buscou-se mostrar sua função e intenções para seu consumo, além de oferecer as balizas para questionamentos ligados aos riscos desta ferramenta exposta como “legal” e “saudável”. Em relação aos EAAs, procurou-se apresentar de forma breve, sua história, sua função e intenções, bem como alguns dos efeitos colaterais possíveis na utilização desses aditivos.

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da malhação” e o fenômeno do culto ao corpo. Ainda nesse capítulo, serão apresentadas as motivações para prática da musculação e usos dos esteroides anabolizantes, conforme exposto nos depoimentos dos entrevistados. Mostrou-se que alguns fenômenos sociais se configuram como elementos centrais para as específicas motivações apresentadas, além da relevância de particulares sociabilidades para a fermentação deste processo.

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CAPÍTULO I

CONSIDERAÇÕES METODOLOGICAS

1.1 METODOLOGIA DE COLETA DE DADOS

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fosse realizado na condição que o material fosse eliminado imediatamente após a transcrição. Além do mais, a realização das entrevistas só foi possível através da promessa do pesquisador ao manter o sigilo absoluto das informações e tudo mais que de alguma forma pudesse “prejudicá-lo” e identificá-lo. Assim, o pesquisador garantiu em vários momentos (antes, durante e depois da entrevista) o sigilo absoluto das informações ligadas (direta ou indiretamente) a identidade dos pesquisados. E para tanto, no presente trabalho, os nomes dos entrevistados ficaram ausentes. O pesquisador pediu para cada um deles que de preferência, não expusesse nenhum nome (amigos, fornecedores, usuários, dentre outros) na intenção de passar mais confiança aos entrevistados e consequentemente proporcionar mais fluidez nas entrevistas. Porém, em vários momentos ao citar alguns nomes ou informações “comprometedoras”, a maioria dos entrevistados (oito deles) se sentiram desconfortáveis, contudo, foram reforçados pelo pesquisador, do comprometimento do mesmo em manter o sigilo absoluto das informações. Durante as entrevistas, foi possível perceber sinais de impaciência e até mesmo pequenos níveis de agressividade por parte de alguns dos entrevistados quando o tempo da coleta de dados excedia os 20 minutos.

Estas condições foram indispensáveis principalmente no que envolve um estudo com os usuários de EAA, que como afirmam Sabino (2004, 2007) e Santos (2007), existe um código de ética dos “bombados” que os “obriga” a não declararem abertamente o consumo dos esteroides anabolizantes, os amigos usuários e os próprios fornecedores destes aditivos. Dificuldade que se potencializa com o processo de gravação das falas, mas que para a pesquisa foi de fundamental importância, considerando a riqueza dos detalhes que envolve este universo do uso dos esteroides anabolizantes e frequentadores de academia de ginástica.

Depois da realização das entrevistas, os dados coletados foram passados pelo procedimento de transcrição para depois serem analisados. Antes do processo de análise de dados foi realizada uma releitura completa de todo material colhido nas entrevistas, atividade esta indispensável para o suporte do processo de categorização4 das falas. O processo de categorização se fundamenta a partir do agrupamento dos dados,

4 O processo de categorização na presente pesquisa foi uma ferramenta fundamental para o processo de

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identificando as partes em comum dentro do todo, para assim, serem classificados dentro do conjunto das falas, levando em consideração, as semelhanças ou analogias presente no discurso. Por meio desse método foi possível extrair as regularidades contidas nas falas dos entrevistados saindo do particular para o mais geral. Desta forma, as regularidades semânticas serviram para a construção das categorias temáticas analisadas teoricamente. Categorias como: corpo magro, vergonha do corpo, insatisfação da imagem corporal, corpo “musculoso”, dentre outros, foram extraídas com o procedimento de categorização dos dados colhidos nas falas dos entrevistados, além daquelas pré-estabelecidas como confiança e medo.

Em princípio, o propósito da pesquisa foi entrevistar 15 pessoas em um período de seis meses, prazo este estipulado pelo pesquisador para fechar a amostra, mas que não foi possível por vários motivos. Alguns usuários (três no total) desistiram na última hora em realizar a entrevista, dizendo: “quero fazer mais não...”, “pensei melhor e não posso te ajudar não...” ou “não quero expor minha vida pra ninguém...”. Apesar da insistência do pesquisador todos se mantiveram irredutíveis, demonstrando inclusive níveis de agressividade. Outros usuários (dois no total) não quiseram conceder a entrevista dentro do processo de gravação, mantendo-se avesso a esta ferramenta de pesquisa. De qualquer modo, estes (dois) usuários passaram pela entrevista não gravada, onde os dados obtidos na atividade de coleta foram transcritos no diário de campo. Durante o período de coleta de dados, muitos contratempos ocorreram dentro do campo, que mesmo com a interseção dos “porteiros” a dificuldade se fez presente.

Na transcrição das entrevistas gravadas, foram respeitadas as expressões dos entrevistados, bem como o modo de falar de cada um deles, nas suas gírias e palavras abreviadas. As palavras de baixo calão foram algo comum no discurso dos entrevistados, porém, foram deslocadas da maioria das falas citadas no corpo do trabalho.

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1.2 GRUPO ANALISADO E CAMPO DE PESQUISA

A pesquisa foi realizada com 10 jovens usuários de esteroides anabolizantes, todos praticantes de exercícios de força (musculação) e frequentadores de academias de ginástica localizadas em um bairro popular5 na cidade de João Pessoa. Os critérios adotados pelo pesquisador para escolha dos respectivos atores devem-se aos seguintes motivos: 1- os homens são os maiores usuários dos esteroides anabolizantes em academias de ginástica; 2- nas últimas décadas, houve um crescimento assustador no consumo das “drogas masculinizantes” (EAA) por frequentadores de academias de ginástica (principalmente do sexo masculino) alcançando proporções alarmantes; 3- devido a menor dificuldade no acesso a rede de usuários do sexo masculino pelo fato da sua contingência; 4- o culto ao corpo faz com que a utilização de “drogas da imagem corporal” como os esteroides anabolizantes ganhe cada vez mais espaço entre os jovens do sexo masculino apesar do relativo crescimento do uso pelo sexo feminino.

No que tange o perfil dos entrevistados, o pesquisador se ateve as percepções extraídas através do campo e do contato com os atores. Conversas antes das entrevistas ou depois das entrevistas também serviram de materiais para traçar o perfil dos entrevistados. Ao sintetizar estes dados podemos apontar: idade, escolaridade, profissão e gastos com ferramentas ligadas à transformação da imagem corporal, como esteroides anabolizantes, suplementos alimentares e outros produtos.

Em pesquisa realizada pelo “Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas” (CEBRID)6 foi apontado que os maiores usuários de EAA no Brasil são homens entre 17 a 34 anos. Na presente pesquisa, a faixa etária dos entrevistados foi de 20 a 30 anos, porém, a maioria deles já fazem uso destas substâncias há alguns anos.

Em relação a escolaridade, verificamos conforme os dados que, 2 dos entrevistados possuem segundo grau incompleto, porcentagem idêntica aos que possuem segundo grau completo. Por outro lado, 6 dos usuários são universitários matriculados em instituições públicas.

5 Uma das várias possibilidades de estudar a relação do indivíduo com sua corporeidade se dá

considerando a realidade das classes sociais, principalmente em se tratando de uma sociedade tão diferenciada e desigual como a nossa. Desta forma, considerar a classe social é importante no que tange o estudo da corporeidade, apesar de na atualidade, se vivenciar uma tendência nas ciências sociais de negligenciar as classes como categorias explicativas importantes.

6 Ver o segundo capítulo “Tipos de modelagem corporal: dos suplementos alimentares aos químicos

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No que se refere à ocupação profissional verificamos que 7 dos entrevistados possuem alguma atividade remunerada e que 3 dos entrevistados está atualmente sem nenhuma ocupação profissional. Porém, um dos entrevistados ao se colocar como desempregado afirmou que consegue adquirir alguma renda com as vendas de esteroides anabolizantes e de receitas médicas (falsificadas) para compra dessas drogas. Além do mais, o entrevistado afirmou também, vender produtos para uso veterinários (vitaminas e anabolizantes) onde muitas pessoas utilizam-se destas substâncias para modificação da forma corporal. Este entrevistado confidenciou que antigamente era vendedor destes produtos sem restrições, porém, hoje (por causa risco potencial) as vendas são destinadas apenas aos amigos de confiança. Para Giddens (1991), dentro do universo da relação de amizade o elemento confiança tem importância singular, principalmente no contexto das sociedades modernas. É através da confiança nas relações de amizade que se dão muitas das decisões tomadas cotidianamente levando em conta a autenticidade e lealdade do amigo.

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afirmou nunca ter consumido suplementos alimentares por causa da sua condição material. Para ele, o raro dinheiro adquirido é destinado ao consumo dos esteroides anabolizantes e também para o consumo de produtos para uso animal. Este entrevistado manifestou vontade de consumir suplementos alimentares conforme as boas indicações dos amigos no que tange a os efeitos “benéficos” para construir um modelo corpóreo ideal. A pesquisa também verificou, que cerca 4 dos entrevistados fizeram uso de alguma substância para uso animal na intenção de modificação da forma corporal. Para os usuários destes produtos, esta ação seria um dos meios mais rápidos e baratos de construir a forma corporal almejada, porém uma atitude mais arriscada.

1.2.1. INCIDÊNCIA DOS USUÁRIOS

Todos os entrevistados afirmaram contundentemente que são usuários atualmente de hormônios esteroides anabolizantes. Apenas um dos entrevistados começou a fazer uso dos esteroides anabolizantes no ano passado (2011), contudo, os demais usuários, faz utilização destes aditivos em um período mínimo de 3 anos. O período maior apontado por um dos entrevistados para o consumo dos EAA gira em torno de 9 anos. E a idade mais precoce na utilização destas drogas da imagem corporal (EAA), conforme observado nas entrevistas foi aos 14 anos, seguido de outro usuário aos 16 anos. Portanto, em média, o consumo entre os entrevistados gira em torno de 4 anos. Exceto o entrevistado que começou a fazer o uso dos esteroides anabolizantes no respectivo ano de 2011, os outros 9 usuários realizam no mínimo dois ciclos de aplicações anualmente, que envolve várias aplicações em um período mínimo, que em média gira de um mês a três meses. É importante ressaltar, que o período de aplicações se modifica de acordo com o ciclo escolhido e a escolha dos esteroides ou até mesmo de outras substâncias escolhidas para o consumo (utilização de substâncias para uso veterinário).

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principalmente ao fígado; 2- O não conhecimento dos produtos; 3- A falta de oportunidade para o consumo de drogas específicas.

A partir os dados coletados, se verificou que todos os entrevistados afirmaram ter consumido o “Deca-durabolin” (Decanoato de nandrolona), seguido de 9 que consumiram “Durateston” (Propionato de testosterona) e 7 entrevistados utilizaram “Winstrol” (Estanazolol) como os esteroides anabolizantes mais comuns dentre os usuários pesquisados. Porém, vários outros esteroides anabolizantes foram bastante mencionados, entre tais substâncias podemos citar às seguintes:

• Androxon (Undecanoato de Testosterona)

• Deposteron (Cypionato de Testosterona)

• Hemogenin (Oxandrona)

• Primobolan (Mentelona)

• Testex (Cypionato de Testosterona)

Além do uso de substâncias como os esteroides anabolizantes, os suplementos alimentares apareceu conforme os depoimentos, com a finalidade de auxiliar os EAAs para transformação e construção da forma corporal. Exatamente 90% dos entrevistados, afirmaram fazer uso de suplementos alimentares para ajudar a potencializar a modificação corporal. Apenas um dos entrevistados nunca utilizou tais substâncias, na alegação de não ter condições financeiras para o consumo. Porém, 7 entrevistados ao alegarem fazer uso de suplementação alimentar, reiteraram constantemente a dificuldade de uma regularidade no consumo de substâncias especificas, devido do custo elevado dos produtos, principalmente os importados. Os suplementos alimentares apontados pelos entrevistados são formados principalmente por compostos de carboidratos, proteínas, aminoácidos, metabólicos e extratos. A partir dos dados coletados, os suplementos nutricionais mais citados em ordem crescente foram o seguinte:

• Maltrodextrina

• Albumina

• Whey Protein

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• Creatina

• BCAA

• Mega Pack

• M’Drol

As substâncias para uso veterinário foram consumidas por 4 entrevistados, com maior incidência do complexo vitamínico ADE7. Apesar desse produto não ser um esteróide anabolizante, estas substâncias são frequentemente usadas por indivíduos na busca de crescimento do tecido muscular (pelo menos aparentemente), mesmo não possuindo propriedades para o desempenho desta função. O que chama atenção com os dados coletados é que entre os usuários destas substâncias a preferência por este produto cresce quanto maior o declive da condição material. Assim, o entrevistado que apresentou a menor condição financeira faz uso constante do complexo vitamínico ADE em associação com um tipo de esteroide anabolizante (Deca-durabolin), pois, segundo relato do mesmo, a utilização de outros esteroides está fora das suas condições econômicas. Em análise de preço feita pelo pesquisador em clínicas veterinárias do bairro dos usuários aqui pesquisado, o valor médio do complexo vitamínico ADE variou entre 12 a 15 reais. Anabolizantes de uso veterinário foram utilizados por 3 entrevistados conforme os dados coletados, em destaque para Androgenol (Propionato de testosterona) e Equifort (Undecilenato de boldenona)8. Conforme os dados, as substâncias de uso veterinário utilizadas foram às seguintes:

• ADE (Complexo Vitamínico)

• Potenay (Complexo Vitamínico e Estimulante)

• Revimin Plus (Complexo Vitamínico, Mineralizante e Anabólico)

• Androgenol (Anabolizante para uso animal)

• Equifort (Anabolizante para uso animal)

7 Utilizados no combate do enfraquecimento, falta de apetite, raquitismo e estimulante de engorda para gados e cavalos.

8 Ambos os medicamentos são utilizados no tratamento de deficiência do hormônio masculino e no

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Uma vez esboçado o método de coleta de dados, alguns indicadores e a própria incidência do consumo dos entrevistados, falta-nos agora contextualizar o ambiente mais importante de sociabilidade dos entrevistados: a academia de ginástica.

1.3. CAMPO DE PESQUISA

A partir do momento em que o pesquisador tomou contato (através de um porteiro e informante) com um usuário de esteroides anabolizantes e posteriormente, seguiu trilhando a rede de relacionamentos, o mesmo criou as condições necessárias para se ter acesso a outros usuários (amigos e conhecidos do primeiro usuário entrevistado). Tal realidade corresponde ao fio condutor de todo o processo de coleta de dados. Porém, conforme a realização das entrevistas, o pesquisador se viu na necessidade de fazer observações mesmo que não sistemáticas, em um dos ambientes mais importantes de consolidação das redes dos usuários aqui pesquisados, ou seja, as academias de ginástica frequentadas pelos mesmos. Foram escolhidas duas academias de ginástica a qual chamarei de academia A e B para que se mantenha o sigilo absoluto das informações que de alguma forma leve a sua identificação. Os critérios para a escolha de específicas academias foram os seguintes: Em primeiro lugar, 6 dos entrevistados em nossa pesquisa estão distribuídos no universo destas duas academias (A e B) escolhidas pelo pesquisador. Em segundo lugar, os percentuais dos valores das mensalidades de ambas as academias escolhidas pelo pesquisador difere em mais de 100%, ou seja, a mensalidade da academia A é mais do que o dobro da academia B. Em terceiro lugar, a academia B possui um dos menores valores (talvez o menor) de mensalidade de todo o bairro (segundo sondagem prévia do pesquisador). Por outro lado, a academia A é uma das que tem os maiores valores de mensalidades cobradas na localidade.

Transcrever o ambiente das academias observadas, serve para ilustrar e compreender a sociabilidade vivida dos entrevistados, através da indicação dos símbolos utilizados e da relação de poder que envolve o invólucro corpóreo nesta instituição social.

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possível, os turnos eram alternados. Já no que se refere a duração, a permanência do pesquisador no ambiente analisado era por volta de 1 hora para não manter suspeita. O pesquisador matriculou-se como aluno na busca de maior sigilo possível, além do mais, este procedimento traria uma maior facilidade para a coleta dos dados. As informações colhidas nos dias de observações (três vezes por semana) eram anotadas no diário de campo (guardado na mochila do pesquisador) logo após a saída dos locais pesquisados.

1.3.1- ACADEMIA “A”

A primeira impressão que se tem ao chegar à academia é que ela tem um espaço amplo para a prática da musculação, uma boa estrutura com aparelhos consideravelmente “novos” e mantendo um bom aspecto de limpeza. Esta academia “A” oferece outras modalidades permitindo que o aluno desempenhe outras atividades físicas (caso pague uma taxa extra). Além de aparelhos para musculação, a academia conta com várias esteiras (manuais e elétricas), bicicletas ergométricas, mini trampolim, simuladores (corridas e caminhadas), colchonetes para abdominais, dentre outros. Ainda no ambiente interno, os espelhos estão em todos os lugares e presos nas paredes, encontramos diversos deles, estando presente também em qualquer modalidade. O pesquisador constatou que existe uma prática de certa forma “viciosa” nos alunos (as) que constantemente ficam diante do espelho, mesmo no intervalo ou ao finalizar a série dos exercícios. Esta prática, bastante comum, parecia algo além de um simples cultivo narcisista, mas, algo que parecia internalizado e de certo modo mecânico como reflexo das ações no ambiente institucional. O corpo neste momento era colocado como “alter ego”, um outro eu ou uma parceiro para usar a expressão de Le Breton9. Estas práticas, também geravam disputas “simples” ou ligadas à própria relação de poder da imagem corporal, no que envolve o corpo como objeto simbólico e detentor de valor. Nestas condições, ampliam-se as disputas e os constrangimentos dentro deste campo de práticas e ações. Em várias ocasiões foi possível notar duas ou mais pessoas se olhando

9 Para Le Breton (2009, p. 41) “milhares de homens e mulheres se matam pelo seu corpo colocando como

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no mesmo espelho e quando se concretizava determinada realidade, às vezes, tal fenômeno parecia sair de uma “simples admiração pessoal” da imagem corporal para uma “severa” exibição da estrutura corpórea. Em outras várias ocasiões, quando específica realidade se materializava, normalmente existia um constrangimento do aluno ao dividir o reflexo no mesmo espelho com alguém (considerado por ele) simbolicamente “superior”. Quando um aluno, por exemplo, estava se olhando no espelho e outro mais “forte” (com volume maior de massa muscular) ficava diante do mesmo espelho (ou até mesmo no campo de visão), sempre o aluno com menor hipertrofia muscular desistia de ficar diante do mesmo espelho e consequentemente perante o reflexo do outro. De qualquer modo, os alunos da academia gostam de ser vistos por outros alunos da mesma academia frequentada, conforme observação do pesquisador da linguagem corporal dos praticantes.

Foi notável que alguns frequentadores na academia (principalmente as mulheres) estavam preocupados não apenas com sua imagem corporal como também com a aparência de modo geral. Os trajes mais comuns entre os alunos eram: para os homens, shorts ou bermudas com camisa normal, porém leves (com manga ou regata) e tênis ou sapatilhas. Também grande parte dos alunos utiliza-se de acessórios como luvas para os exercícios de força. As mulheres usam, na sua grande maioria, calças de lycra com tops ou camiseta. No que envolve os trajes, foi possível perceber uma tendência que quanto mais “sarado” o corpo estiver, menor e mais justa seria as peças de roupas utilizadas pelos alunos da academia.

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consumo de vários tipos de suplementos alimentares eram comuns entre os praticantes segundo foi possível notar em vários dias de pesquisa. Dúvidas e dicas sobre o consumo dos suplementos alimentares eram comuns entre os praticantes e também com os três instrutores da academia em que várias vezes foi possível perceber homens e principalmente mulheres pedirem sugestões de produtos para serem consumidos não só com o intuito de melhorar a performance, mas, principalmente de modificar a forma corporal. Em vários dias observou-se que alguns alunos pediram sugestões para o consumo de suplementos alimentares (certamente outros também) e dicas de tipos de exercícios para os alunos que se destacavam no interior da academia de ginástica pelo seu volume da massa muscular (hipertrofia), portanto, os mais “fortes” da academia. Porém, não foi possível detectar conversas abertas sobre o consumo dos esteroides anabolizantes entre os frequentadores nos dos 12 dias de observações.

Como em qualquer outra academia de musculação, o som ambiente contava com estilo de música típico para a prática de exercícios como mecanismo motivacional e de distração da carga de esforço físico atingido. Porém, muitos alunos utilizavam-se de aparelhos eletrônicos próprios (Celular, MP3, MP4, dentre outros) como forma de controlar o próprio estilo musical no seu caráter individual.

A preocupação e cultivo das medidas corporais também foi uma realidade presente na academia. Na recepção da academia, havia cerca de 3 três fitas métricas, sendo constantemente utilizados pelos alunos na intenção de medir os ganhos e perdas de determinadas partes do corpo. Assim, vimos homens medindo o volume do braço e do tórax e as mulheres, medindo o volume das coxas, nádegas, barriga e panturrilha.

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como: angústia, ansiedade, medo, insatisfação da imagem corporal, vergonha do corpo, dentre outros. Cartazes incentivando a modificação da imagem corporal na busca da “boa forma” também encontram-se presentes no espaço desta instituição social, incentivando os alunos a se manterem fiéis ao estilo de vida dos exercícios físicos, na busca de um corpo saudável.

1.3.2. ACADEMIA “B”

Ao chegar à academia, logo se tem a impressão das suas péssimas condições, realidade esta que se concretiza ao presenciar suas estruturas. O que chama atenção não é apenas sua estrutura física, mas, os próprios maquinários presentes na academia. A grande maioria dos maquinários que ali estão são produções artesanais. Os produzidos industrialmente são arcaicos e bastante depreciados em suas condições. Esta realidade desperta sensações de insegurança na própria execução dos aparelhos, sendo visível a ausência de manutenção regular. Em sua totalidade os aparelhos presentes na academia direcionam-se para a prática de exercícios de força estando ausentes maquinários de outras atividades físicas. Assim, à academia não possui esteiras, bicicletas ergométricas ou qualquer outro maquinário que direcione para outra prática fora dos exercícios de força (musculação). Outra coisa que direciona a atenção é o aspecto de um ambiente não limpo não só na estrutura da academia, como também, nos próprios aparelhos que parecem não higiênicos.

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dos alunos (em conversa ligada a não presença de mulheres) fez a seguinte alegação perante todos: “quem vem malhar aqui, vem pra crescer e não pra ficar olhando pra mulheres...”. Foi possível perceber, que tal característica é motivo de identificação e satisfação dos próprios alunos ao fazerem comparações críticas com alunos que frequentam outras academias na intenção de admirar o sexo oposto e não de se dedicar plenamente ao objetivo de ganhar massa muscular. Conforme as várias conversas observadas durante os dias de pesquisa, foi possível perceber que alguns alunos acreditam que alunos de outras academias (principalmente as mais caras do bairro) “nunca “conseguem ficar “fortes” porque estão na academia mais para a exibição de roupas, bens materiais e principalmente para admirar as mulheres que ali estão, do que propriamente para ficar forte ou usando a expressão deles: “pra crescer” ou “pra ficar grande”.

Igualmente à academia A, os espelhos estão em vários lugares na academia B, porém, a inferioridade da importância deste elemento em comparação com a outra academia observada10 foi visível. As práticas e “disputas” frente ao espelho são fugazes não gerando nenhuma surpresa. Só em alguns momentos logo após a execução de cada exercício de força, alguns alunos da academia se olham, mas, rapidamente voltam à prática dos exercícios repetitivos como se cada segundo fosse precioso.

Apesar da trivialidade, é importante ressaltar que durante os exercícios praticados na academia, específicos estilos de músicas eram executados se adequando ao lugar comum em todas as academias. Nenhum aluno foi observado utilizando-se de qualquer aparelho eletrônico para a execução de estilos de músicas em nível individual para a prática dos exercícios. Porém, alguns alunos ficavam cantando em vários momentos, músicas que fazem apologia ao uso dos esteroides anabolizantes, dando forte indício da identificação de determinado grupo social. É como se determinadas músicas, que fazem apologia ao uso dos hormônios esteroides anabolizantes e situações objetivas e “positivas” cantadas nelas, servissem como meio de adequação e fortalecimento da identidade do grupo (grupo dos “bombados”) e consequentemente da restauração e fixação da sua própria identidade. Também foi possível observar na presente academia, a utilização de fitas métricas na intenção de medir o volume da massa muscular. O interessante é que a preocupação exclusiva na medição se aplicava ao volume do braço, fazendo desta parte do corpo o elemento mais importante.

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A preocupação predominante na academia era com a imagem corporal, na intenção de modificação da forma física, fato este bastante claro na observação. Assim, a atenção com a aparência de modo geral era algo não presente entre os alunos, em que os trajes dominantes, eram camisas regatas e bermudas acompanhadas normalmente de tênis. A utilização de acessório como luvas, coqueteleiras ou garrafas com qualquer tipo de substâncias ou até mesmo, contendo simplesmente água, foi uma realidade não vista nos dias de observações. Contudo, mesmo não sendo uma prática a utilização e consumo de suplementos alimentares em coqueteleiras ou garrafas no ambiente da academia, foram percebidas constantemente, conversas entre os alunos sobre suplemento. Em específicas conversas entre os alunos, foi possível notar o caráter

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Conversas sobre o consumo dos EAAs e substâncias para uso veterinário eram uma realidade não menos comum no interior da academia, porém com menor intensidade. Durante os 12 dias de observações, foi constatado que os alunos conversam abertamente sobre o consumo de EAA, produtos para uso animal e suplementos alimentares. Os assuntos mais comuns entre os frequentadores, ligados ao consumo de tais substâncias, giravam em torno dos seus efeitos “positivos”, dos efeitos colaterais, da construção dos ciclos, das dosagens, dentre outros. Podemos afirmar que nesta específica academia, existe um processo de naturalização dos assuntos direcionados ao uso de esteroides anabolizantes, suplementos alimentares e substâncias para uso veterinário.

Foi possível notar em vários momentos, a forte tendência que alguns frequentadores apresentaram com a insatisfação da imagem corporal em níveis acentuados, mesmo sendo visto pelos outros alunos como modelo corporal a ser seguido. Esta realidade apresenta forte indício de “transtorno da imagem corporal” conhecida por alguns como “dismorfia muscular” (ASSUNÇÂO, 2002), que caracteriza o sujeito em nunca ficar satisfeito com o volume da sua massa muscular. Assim, existe uma distorção da imagem corporal real fazendo das medidas dos tonos musculares algo insuficientemente forte e musculoso não aos olhos dos outros, mas, exclusivamente aos olhos de si. Desta maneira, alguns alunos na academia eram constantemente elogiados (por amigos e os demais praticantes da academia) devido à elevada hipertrofia muscular que apresentava, mas, que foi visível o não reconhecimento do mesmo. Em várias situações, os alunos elogiados afirmaram ainda estarem “fracos” e “pequenos”, mas, que um dia, chegarão a ficar “grandes” e “gigantes”11. Ao mesmo tempo em que eram elogiados e admirados, eles apontavam para os diversos pôsteres fixados na parede da academia, com imagens de fisiculturistas famosos como: Arnold Schwarzenegger, Ronnie Coleman, Jay Cutler, Gunter Schierkamp, dentre outros. A própria associação que determinados alunos faziam da sua forma corporal com imagens expostas dos fisiculturistas, representava o ideal a ser buscado (apesar de diferir na intensidade do modelo muscular valorizado socialmente), um verdadeiro objetivo de vida para muitos frequentadores desta academia. As representações e imaginários corporais presentes nas

11 Segundo Assunção (2002), a “dismorfia muscular” que corresponde um dos vários transtornos da

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imagens fixadas na parede da academia direcionavam os alunos para sensações de insatisfação da imagem corporal, ansiedade, angústia ao mesmo tempo em que correspondem a elemento de objetivação. Apesar de outros alunos da academia não terem como ideal o corpo dos fisiculturistas, pois a busca se fecharia na hipertrofia da massa muscular em menor intensidade (ideal socialmente aceito), a maioria deles não escondia admiração pelo volume muscular dos body-building profissionais.

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CAPÍTULO II

TIPOS DE MODELAGEM CORPORAL: DOS SUPLEMENTOS ALIMENTARES AOS QUÍMICOS ESTEROIDES ANABOLIZANTES

A aparência corporal é cada vez mais uma prioridade na vida do indivíduo contemporâneo (LE BRETON 2004, 2007, 2011). Neste contexto, transformar o corpo para muitos virou um projeto de vida e para tanto, muitos indivíduos utilizam-se (mesmo ilicitamente) de ferramentas disponibilizadas pelo mundo moderno em prol dos seus objetivos. Assim, um número crescente de pessoas está fazendo uso de substâncias na intenção de potencializar a transformação da forma corporal em um curto espaço de tempo, que por outro lado, estes métodos podem não ser os mais adequados a saúde e a capacidade do seu corpo.

Os Esteroides anabolizantes por possuírem a capacidade de acelerar o crescimento da musculatura (efeito anabólico), têm feito com que muitas pessoas façam uso destas substâncias (apesar dos riscos) para melhorar o desempenho e a aparência física em um mundo cada vez mais voltado para a valorização da beleza e da boa forma. Realidade idêntica a outras substâncias como é o caso dos suplementos alimentares que chega como a promessa de realizar verdadeiros milagres, além de ser uma alternativa “saudável” e “legal” na busca do corpo esteticamente “perfeito”. Porém, algumas pesquisas em várias partes do mundo apresentam resultados que colocam em dúvida se os suplementos alimentares são realmente saudáveis e necessários12.

2.1. SUPLEMENTOS ALIMENTARES

A busca de um corpo esteticamente perfeito e a melhora do desempenho na prática de atividade física (seja atleta ou não atleta) faz com que um número

12 Apesar do foco do trabalho ser sobre o uso de esteroides anabolizantes, a discussão em relação aos

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incalculável de pessoas cometam abusos no consumo de substâncias na intenção de potencializar e realizar seus objetivos. Uma nova tendência que se tem observado nas últimas décadas entre os atletas ou simplesmente praticantes de atividade físicas é a construção de habitus regulares na utilização de suplementação alimentar como forma “saudável” e “legal”, capaz de melhorar o desempenho na prática da atividade física (atleta e não atleta) de modo geral. Desta forma, os suplementos alimentares chegam com a promessa de verdadeiros milagres, como ferramentas ideais para quem quer melhorar a performance na atividade física, construir um corpo perfeito, além de melhorar a saúde e a qualidade de vida.

De modo genérico, os suplementos alimentares foram criados com a finalidade de suplementar a dieta com alguma deficiência, ou seja, em suprir uma possível carência dos nutrientes necessários e essenciais a cada organismo humano. São indicados para pessoas que não conseguem suprir suas necessidades básicas de nutrientes somente com alimentação habitual. E por ser tratarem de alimentos sintéticos de alta qualidade, são “recomendados” e principalmente utilizados por pessoas de todos os sexos e todas as gerações. E não só isso, os suplementos alimentares também são utilizados com a intenção de melhorar o desempenho em qualquer atividade física, seja por um atleta de alto nível ou até mesmo, por qualquer pessoa que pratica exercícios físicos. Esta realidade fez com que nas últimas décadas, houvesse um crescimento assustador na utilização dos suplementos alimentares, estando presente na construção de dietas de um número bastante significativo de pessoas. Além do mais, a cada dia surge um produto novo e com eles, novas premissas para objetivação da satisfação e necessidade pessoal, principalmente no que envolve a potencialização da performace e a modificação da forma corporal.

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mais, muitos dos suplementos alimentares não oferecem qualquer tipo de contra-indicação ou possíveis efeitos colaterais em suas embalagens.

Muitos dos suplementos alimentares que se consume, contêm nutrientes que estão presentes em muitos dos alimentos ingeridos diariamente como é o caso das proteínas, dos carboidratos, das vitaminas, dos minerais e muitos outros. De qualquer modo, são nutrientes que podem ser administrado para uma infinidade de funções orgânicas, seja energética; construção e manutenção de vários tipos de tecido; manutenção e fortalecimento do sistema ósseo; além de outros elementos essenciais para o organismo como todo, como por exemplo, as vitaminas e os minerais (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; PHILIPPI, 2004). Hoje é comum ouvir dos usuários dos suplementos alimentares que tais substâncias administradas em “quantidade apropriada” são benéficas a saúde e ao bem-estar do individuo, porém, não se tem um consenso do que seria esta “quantidade apropriada” para tal benefício, ao mesmo tempo, da quantidade excessiva que possa causar algum risco à saúde. A única certeza quando se discute a importância, a necessidade e a quantidade do consumo de suplementos alimentares é a relação conflitante das informações passadas pelos sistemas especializados13.

Acredita-se o os suplementos alimentares são substâncias capazes de otimizar o desempenho em qualquer atividade física, principalmente atlética. Capaz de proporcionar ao atleta ou ao simples praticante de atividade física, a supressão dos elementos básicos e essenciais extremamente importantes para qualquer prática de exercícios físicos. Este fato faz com que se amplie o uso de ergogênicos (substâncias que potencializam o desempenho das atividades físicas) como ferramentas inseparáveis em qualquer prática de exercícios físicos. Uma modalidade de atividade física que vem se destacando nos últimos anos na utilização de suplementos alimentares para fins ergogênicos é a prática da musculação (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; CARVALHO, 2003). Observamos nas últimas décadas a tendência de muitos frequentadores de academia de ginástica fazerem uso abusivo de substâncias

13 Os embates entre os conhecimentos especializados nas suas afirmações e contra-afirmações,

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nutricionais para potencializar a própria prática de exercícios nas academias e assim, para concretizar os objetivos traçados. Alguns fatores contribuem para a intensificação deste fenômeno, são eles: 1- a supervalorização da imagem corporal que acompanhamos na contemporaneidade sob uma atmosfera do culto ao corpo; 2- a formação de contornos corporais ideais cada vez mais difíceis de serem atingidos; 3- a produção e difusão de produtos provindos da indústria da beleza e da boa forma que prometem verdadeiros milagres na realização dos anseios individuais, principalmente sobre a égide de nossa sociedade do consumo; 4- a ausência de controle de vigilância sanitária, desencadeando um comércio ilegal de produtos funcionando muitas vezes no próprio ambiente das academias de ginástica, contando com a participação (direta ou indireta), de profissionais ligados à prática de exercícios físicos dentre outros; 5- a venda de suplementos alimentares sem a necessidade de prescrição de um médico ou nutricionista para aquisição dos produtos; além de outros fatores. Além de tais fatores evidenciarem uma situação preocupante, alguns estudos (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; CARVALHO, 2003) apontam que uma quantidade cada vez maior de pessoas (que desempenham alguma atividade física) acreditam que a própria prática de exercícios físicos requer diretamente o próprio consumo de suplementos alimentares.

Os objetivos para utilização dos suplementos alimentares por frequentadores de academias de ginástica são os mais variados. E desta forma, muitas pessoas que frequentam academia de ginástica consomem suplementos alimentares para desenvolvimento de massa muscular, queima de gordura corpórea, ganho de força, aumento da energia, para a ingestão de nutrientes essenciais e “necessários” a quem pratica exercícios físicos (como as vitaminas e minerais), para redução do catabolismo igualmente da fadiga e cansaço, dentre muita outras motivações.

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até mesmo os atletas possuem conhecimento deficiente para utilização de suplementação alimentar, fazendo uso errado e muitas vezes desnecessário14.

Portanto, a grande maioria dos consumidores de suplementos alimentares não tem conhecimento necessário para a própria utilização destes produtos ou ao menos, desconhecem os próprios riscos que estão sujeitos ao fazerem mau uso destas substâncias. Como aponta vários estudos (CARVALHO, 2003; PHILIPPI, 2004), apesar do consumo exagerado dos suplementos alimentares estarem presentes nos habitus de uma parcela significativa de nossa população, o uso destas substâncias pode proporcionar sérios riscos à saúde15. Para o pesquisador Martin Fréchette da universidade de Montreal16, os suplementos alimentares trazem alguns riscos à saúde, pois, “sua pureza e preparação não são tão controlados como os medicamentos”. Assim, para este pesquisador, os “suplementos geralmente contêm outros ingredientes além dos listrados no rótulo” fazendo com que muitas pessoas façam uso de “substâncias proibidas sem saber”17. Em uma reportagem no “New York Times” sobre a utilização dos suplementos alimentares nos Estados Unidos (Study Urges More Oversight of Dietary Itens)18, foi destacado os riscos do consumo inadequado de tais substâncias que segundo o relatório divulgado pela FDA (Food and Drug Administration)19, em 2008 foram relatados 948 casos de problemas de saúde ligados ao consumo dos suplementos alimentares. Destes 948 casos, 9 óbitos, 64 casos graves e 234 hospitalizações associados a utilização de várias substâncias contidas nos suplementos alimentares. Ainda segundo esta matéria, o relatório divulgado pela FDA aponta, que dezenas de marcas líderes de consumo nos EUA continham substâncias ilegais que além de não

14 Disponível em:

http://www.nouvelles.umontreal.ca/udem-news/news-digest/protein-supplements-are-misused-by-athletes.html

15 Vários órgãos nacionais (SBME- Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte; ANVISA- Agência

Nacional de Vigilância Sanitária) e internacionais (ADA- American Dietetic Association; FDA- Food and Drug Administration) tem divulgado constantemente os sérios riscos do uso abusivo de suplementos alimentares.

16 Disponível em:

http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=suplementos-alimentares-mal-utilizados-pelos-atletas&id=4933

17 Na pesquisa realizada por Martin Fréchette, os suplementos com substâncias proibidas são

principalmente os destinados para os atletas de alto nível ou amadores. Os suplementos de proteína foram apontados na pesquisa como os grandes vilões. Estes suplementos de proteína são produtos comumente utilizados por frequentadores de academia de ginástica, essencialmente no que envolve os exercícios de força.

18 Disponível em: http://www.nytimes.com/2009/03/04/business/04diet.html?_r=2

19 FDA (Food and Drug Administration) é um instituto governamental norte- americano que realiza o

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estarem presentes nos rótulos, poderiam colocar em risco a saúde dos consumidores20. Nesta mesma linha, um estudo realizado pelo instituto “Adolfo Luiz” com vários suplementos alimentares (principalmente aqueles consumidos por praticante de musculação), materializou uma suspeita, apresentando um resultado assustador. Foram analisados 111 produtos de diversas marcas (nacionais e internacionais), onde 25% dos suplementos continham esteroides anabolizantes, evidenciando as várias suspeitas de que muitos dos suplementos alimentares possuem substâncias prejudiciais a saúde. O agravante (segundo esta pesquisa) é que muitas substâncias não informadas na embalagem estavam presentes nos compostos suplementares analisados21, realidade idêntica à observada pela FDA com os suplementos mais utilizados nos EUA.

Mesmo com as evidências, ainda existem várias divergências sob os verdadeiros riscos à saúde do consumo dos suplementos alimentares embora, todos concordem com os perigos do uso indiscriminado e indevido de tais substâncias (CARVALHO, 2003). Philippi (2004, p. 76).

Por fim, embora que os diversos estudos apontem (apesar das controversas) para os riscos da utilização (abusiva ou desnecessária) dos suplementos alimentares, ainda assim eles são amplamente consumidos a fim de evitar doenças, melhorar a qualidade de vida, potencializar o desempenho na atividade física, como também transformar e construir a forma corporal.

2.2. ESTEROIDES ANABOLIZANTES

Os hormônios esteroides anabólicos androgênicos (EAAs), também conhecidos comumente como esteroides anabolizantes, compreendem as substâncias ligadas aos hormônios sexuais masculinos, mais precisamente a testosterona e seus derivados22. Estas “drogas masculinizantes23” possuem tanto propriedades anabólicas como androgênicas. Nas suas propriedades anabólicas são responsáveis pelo crescimento e a

20 Disponível em:

http://www.ecodebate.com.br/2009/03/12/new-york-times-questiona-a-seguranca-dos-suplementos-alimentares/

21 Disponível em: http://saude.abril.com.br/edicoes/0309/corpo/conteudo_448564.shtml?pag=2

22 Quimicamente, a fórmula estrutural da testosterona está na base de todos os anabólicos.

23 Cesar Sabino (2004) coloca os EAA, como “drogas masculinizantes” por serem drogas constituídas em

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divisão celular, provocando o desenvolvimento de diversos tipos de tecidos principalmente o muscular e ósseo. No que se refere as suas propriedades androgênicas, são responsáveis pelas características sexuais associadas à masculinidade. Tais propriedades androgênicas dos EAAs em geral, são as responsáveis pela maioria dos efeitos colaterais (SILVA & DANIELSKI, & CZEPIELEWSKI, 2002; SANTOS, 2007). Contudo, já se buscou desenvolver EAA para que se obtenha propriedade mais anabólica do que efeitos androgênicos, porém, não se conhece hoje nenhum composto sintético anabólico (esteroides anabolizante) que não apresente propriedades androgênicas (MOREAU & SILVA, 2003).

É importante ressaltar que qualquer organismo humano (também animal), possui um conjunto de processos metabólicos (positivos) chamados de anabolismo. Os anabolizantes (esteroides ou naturais) são substâncias capazes de auxiliar (acelerar) este processo, ou seja, a construção e crescimento do corpo físico (tecidos corporais), principalmente a massa muscular do indivíduo de um modo geral. Por possuir esta especificidade, os EAAs chegam com a finalidade de gerar uma ação anabólica como arma auxiliar para potencializar a aceleração deste processo de construção da massa muscular.

Os EAAs são medicamentos (drogas) a base de hormônio masculino, sintetizado para que se obtenha o mesmo efeito da testosterona, podendo ser administrado na forma de comprimido24 ou injeção intramuscular25 (SABINO, 2004; SANTOS, 2007). Como características principais podem-se destacar: a sua capacidade de fixar proteínas, de reter água e nitrogênio, de aumentar o número de glóbulos vermelhos, de reduzir os estoques de gordura corporal, dentre outras. Tais condições são indispensáveis para o desenvolvimento e aumento do tecido muscular (SANTOS, 2007).

Os esteroides anabolizantes surgiram por volta dos anos 30 do século passado, mais precisamente na Alemanha e com o passar dos anos expandiu-se pelo mundo. Foram inicialmente sintetizados para sua utilização terapêutica no tratamento de várias doenças. Hoje é utilizado pela medicina no tratamento de algumas doenças e distúrbios tais como: alguns tipos de cânceres, osteoporose, hipogonadismo, estados catabólicos

24 Os EAAs administrados via oral são mais arriscados, proporcionando uma maior probabilidade de

aparecimentos de tumores e cistos hepáticos (SANTOS, 2007).

25 A maioria dos esteroides anabolizantes é administrada na versão injetável. Este processo de

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(raquitismo, HIV, graves queimaduras), deficiência nos níveis de testosterona, problemas nos testículos, dentre muitos outros26 (SILVA & DANIELSKI, & CZEPIELEWSKI, 2002; SANTOS, 2007). Existem, portanto, historicamente, indicações médicas para a utilização dos esteroides anabolizantes no que se refere ao tratamento de determinadas patologias e doenças27.

Não obstante, o uso dos esteroides anabolizantes não ficou restrito apenas ao campo do tratamento de doenças, seu uso também se expandiu para o campo das práticas desportivas (SABINO, 2004, 2007; SANTOS, 2007). Em meados do século passado, os fisiculturistas e halterofilistas norte americanos começaram a utilizar os esteroides anabolizantes para o crescimento do tecido muscular e respectivamente para ganho de força. Além do mais, tinham por objetivos melhorar a estética corporal e o desenho dos corpos (MOREAU & SILVA, 2003; SABINO, 2007; SANTOS, 2007). Porém, segundo Santos (2007), na década de 60 este uso se expandiu para várias modalidades no mundo do desporto, com a intenção de aumentar a força física, a massa muscular e consequentemente o desempenho atlético. Em diversas outras modalidades os esteroides anabolizantes tiveram grande aceitação, seja no boxe, no atletismo, na natação, no ciclismo, nas lutas, dentre outros28 (SILVA & DANIELSKI, & CZEPIELEWSKI, 2002; SABINO, 2007). Ainda para esse autor (2007. p. 30), na atualidade o consumo de esteroides anabolizantes no esporte é ainda bastante elevado, podendo até dizer que vem crescendo devido a “necessidade” de muitos atletas de “vencer a qualquer custo” colocando a saúde, a carreira e até a própria vida em risco.

A partir dos anos 80 o uso dos EAAs sofreu profundas mudanças, efeito do fenômeno do culto ao corpo onde os ideais de beleza e boa forma se acentuaram. Como bem observou Castro (2007), neste período, a preocupação com o corpo alcançou uma visibilidade e espaço no interior da vida social jamais vista anteriormente, fazendo com que os cuidados com o corpo fossem uma prática do cotidiano. Esta realidade contou com o aparecimento e proliferação das academias de ginásticas por todos os centros

26 A terapia androgênica pode ser utilizada também para o tratamento da anemia, problemas renais,

estatura elevada, em situações especificas de obesidade, em doença obstrutiva pulmonar crônica, no tratamento de baixa estatura derivada da síndrome de Turner, no tratamento para crescimento peniano, etc.

27 Nos rótulos dos EAAs contêm uma faixa vermelha indicando: “venda sob prescrição médica” e/ou “só

pode ser vendido com retenção da receita” (PHILIPPI, 2004, p. 107).

28 A partir de 1976 o comitê olímpico internacional (COI) estabeleceu proibições a certas substâncias

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urbanos, fazendo com que o uso dos esteroides anabolizantes atingisse (de forma ilícita) um novo segmento da população, como os frequentadores de academias de ginástica ou os Body-Building. Então a partir deste momento, o uso dos esteroides anabolizantes tornou-se uma prática comum não só no campo da medicina e do desporto, como também, ligadas a questões relacionadas à aparência corporal (estético) na busca pela construção e modelação da forma corpórea (SANTOS, 2007; IRIART & CHAVES & ORLEANS, 2009).

Atualmente, o crescimento no uso dos esteroides anabolizantes para fim puramente estéticos tornou-se uma realidade bastante comum alcançando proporções alarmantes como se pode observar em alguns estudos (MANETTA & SILVEIRA, 2000; RIBEIRO, 2001; MOREAU & SILVA, 2003; IRIART & CHAVES & ORLEANS 2009; entre outros). Para Santos (2007, p. 34), o que estamos presenciando em relação ao elevado consumo de esteroides anabolizantes é uma realidade parecida com a que foi o fumo no início do século passado, onde o ato de fumar foi visto como moderno, atraente e os usuários adquiriam problemas de saúde sem que tivessem acesso às informações. Vemos com isso, muitos usuários de esteróide anabolizante com uma aparência de boa saúde e uma bela forma corporal o que de certa forma camufla os riscos e os problemas do uso destes aditivos.

Segundo dados do CEBRID29, nas últimas décadas, houve um crescimento assustador no consumo das “drogas da imagem corporal” (EAA) que incluem os frequentadores de academias de ginástica (Body-Building). Os índices destacam o uso crescente e preocupante no Brasil, não só entre os atletas e pessoas na busca por uma melhor aparência corporal, mas de forma assustadora em segmentos quase ausentes nas outras pesquisas, como é o caso dos adolescentes e das mulheres. Nos adolescentes o uso se torna bastante preocupante pelo fato de existir uma tendência de intensificação do uso, a fim de, obter rapidamente uma forma corporal desejada, não havendo entre tais usuários um conhecimento mais acusado dos ricos. Além do mais, o uso dos EAAs em adolescentes pode descontrolar totalmente o seu desenvolvimento, seu crescimento e o próprio quadro metabólico aumentando o risco dos efeitos colaterais graves. Já nas

29 O CEBRID é o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, que funciona no

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mulheres, existe uma maior sensibilidade para danos provocados pelos efeitos colaterais no uso dos EAAs por serem hormônios essencialmente masculinos.

Nos últimos anos, o consumo destas drogas praticamente triplicou sendo possível a afirmação de que hoje o consumo de esteroides anabolizantes virou uma epidemia, principalmente entre os frequentadores de academias de musculação. Em pesquisa realizada pelo CEBRID em 2001, cerca de 540 mil brasileiros admitiram o uso destes produtos, número este que passou para mais de 1,3 milhão em 200530. De acordo com os dados desta pesquisa, o esteróide anabolizante foi a droga que ganhou mais espaço entre os jovens superando a maconha, a cocaína e o crack. Ainda segundo esta pesquisa, a principal motivação pela procura destas drogas foi à melhoria da forma corporal no desejo de ficar com o corpo “sarado31”. Para Santos (2007), o crescimento no uso dos esteroides anabolizantes no Brasil já corresponde uma realidade crescente acompanhando os elevados índices de outros países como Estados unidos, Canadá, Suécia, etc. Apesar dos números apontados pela pesquisa do CEBRID serem bastante alarmantes, representando a situação caótica do consumo dos esteroides anabolizantes, acredita-se que os índices apresentados encontram-se defasados na atualidade, devido ao elevado período do último levantamento. Além do mais pouco se tem feito para combater a produção (clandestina), a comercialização (branda fiscalização) e o próprio consumo (com políticas públicas) como acreditam alguns autores (SABINO, 2004; SANTOS, 2007), principalmente em períodos de radicalização do fenômeno do culto ao corpo.

Outras pesquisas (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; MOREAU & SILVA, 2003; IRIART & CHAVES & ORLEANS, 2009) também apontam para o crescimento assustador no uso dos esteroides anabolizantes, tendo como principal motivação a preocupação estética na busca por uma melhor aparência corporal. Além do mais, em uma pesquisa feita por Iriart & Chaves (2009), foi constatado que usuários de diferentes classes sociais (classe popular e média) na cidade de Salvador BA, utilizam esteroides anabolizantes por preocupações puramente estéticas. Esta realidade parece

30 Conforme dados desta pesquisa os maiores usuários são homens entre 17 a 34 anos. Porém nos últimos

Referências

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