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A busca de um corpo esteticamente perfeito e a melhora do desempenho na prática de atividade física (seja atleta ou não atleta) faz com que um número

12 Apesar do foco do trabalho ser sobre o uso de esteroides anabolizantes, a discussão em relação aos suplementos alimentares torna-se relevante porque, muitos indivíduos que fazem uso dos esteroides anabolizantes consideram ideal a sua combinação (quando possível) com os suplementos alimentares com a intenção de ampliar a potencialidade da transformação da forma corporal e da própria atividade física. Junto disso, alguns estudos de diferentes órgãos (SBME- Sociedade Brasileira Medicina do esporte; ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária; FDA- Food and Drug Administration; dentre outros) apontam para a presença de esteroides anabolizantes em diversos suplementos alimentares ampliando a potencialidade do perigo da própria combinação.

incalculável de pessoas cometam abusos no consumo de substâncias na intenção de potencializar e realizar seus objetivos. Uma nova tendência que se tem observado nas últimas décadas entre os atletas ou simplesmente praticantes de atividade físicas é a construção de habitus regulares na utilização de suplementação alimentar como forma “saudável” e “legal”, capaz de melhorar o desempenho na prática da atividade física (atleta e não atleta) de modo geral. Desta forma, os suplementos alimentares chegam com a promessa de verdadeiros milagres, como ferramentas ideais para quem quer melhorar a performance na atividade física, construir um corpo perfeito, além de melhorar a saúde e a qualidade de vida.

De modo genérico, os suplementos alimentares foram criados com a finalidade de suplementar a dieta com alguma deficiência, ou seja, em suprir uma possível carência dos nutrientes necessários e essenciais a cada organismo humano. São indicados para pessoas que não conseguem suprir suas necessidades básicas de nutrientes somente com alimentação habitual. E por ser tratarem de alimentos sintéticos de alta qualidade, são “recomendados” e principalmente utilizados por pessoas de todos os sexos e todas as gerações. E não só isso, os suplementos alimentares também são utilizados com a intenção de melhorar o desempenho em qualquer atividade física, seja por um atleta de alto nível ou até mesmo, por qualquer pessoa que pratica exercícios físicos. Esta realidade fez com que nas últimas décadas, houvesse um crescimento assustador na utilização dos suplementos alimentares, estando presente na construção de dietas de um número bastante significativo de pessoas. Além do mais, a cada dia surge um produto novo e com eles, novas premissas para objetivação da satisfação e necessidade pessoal, principalmente no que envolve a potencialização da performace e a modificação da forma corporal.

Existe uma pluralidade de suplementos alimentares com finalidades específicas, ligadas às práticas esportivas, a manutenção da saúde, a melhora da qualidade de vida, dentre outras. Os suplementos alimentares são fabricados para serem administrados na forma de pílulas, cápsula, géis, líquidos, pós, chicletes, balas, barras e muitos outros. Essa variedade de suplementos alimentares podem ser comprados facilmente em farmácias, supermercados, lojas especializadas, na internet, etc (PHILIPPI, 2004). E apesar de conter em seus rótulos, o dizer – consumir sob orientação de um nutricionista ou médico—, os suplementos alimentares podem ser adquiridos sem prescrição médica ou de qualquer especialista (nutricionista ou profissional de educação física), além do

mais, muitos dos suplementos alimentares não oferecem qualquer tipo de contra- indicação ou possíveis efeitos colaterais em suas embalagens.

Muitos dos suplementos alimentares que se consume, contêm nutrientes que estão presentes em muitos dos alimentos ingeridos diariamente como é o caso das proteínas, dos carboidratos, das vitaminas, dos minerais e muitos outros. De qualquer modo, são nutrientes que podem ser administrado para uma infinidade de funções orgânicas, seja energética; construção e manutenção de vários tipos de tecido; manutenção e fortalecimento do sistema ósseo; além de outros elementos essenciais para o organismo como todo, como por exemplo, as vitaminas e os minerais (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; PHILIPPI, 2004). Hoje é comum ouvir dos usuários dos suplementos alimentares que tais substâncias administradas em “quantidade apropriada” são benéficas a saúde e ao bem-estar do individuo, porém, não se tem um consenso do que seria esta “quantidade apropriada” para tal benefício, ao mesmo tempo, da quantidade excessiva que possa causar algum risco à saúde. A única certeza quando se discute a importância, a necessidade e a quantidade do consumo de suplementos alimentares é a relação conflitante das informações passadas pelos sistemas especializados13.

Acredita-se o os suplementos alimentares são substâncias capazes de otimizar o desempenho em qualquer atividade física, principalmente atlética. Capaz de proporcionar ao atleta ou ao simples praticante de atividade física, a supressão dos elementos básicos e essenciais extremamente importantes para qualquer prática de exercícios físicos. Este fato faz com que se amplie o uso de ergogênicos (substâncias que potencializam o desempenho das atividades físicas) como ferramentas inseparáveis em qualquer prática de exercícios físicos. Uma modalidade de atividade física que vem se destacando nos últimos anos na utilização de suplementos alimentares para fins ergogênicos é a prática da musculação (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; CARVALHO, 2003). Observamos nas últimas décadas a tendência de muitos frequentadores de academia de ginástica fazerem uso abusivo de substâncias

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Os embates entre os conhecimentos especializados nas suas afirmações e contra-afirmações,

proporcionando posições conflitantes, ao mesmo tempo, que dissemina diferentes teses sobre a mesma realidade, fermenta sensações de incertezas e inseguranças afetando de maneira decisiva as opções e escolhas individuais, principalmente no que envolve a construção dos estilos de vida. Para Anthony Giddens (2002, p. 10), “a modernidade institucionaliza o princípio da dúvida radical e insiste em que todo conhecimento tome forma de hipótese – afirmações que bem podem ser verdadeiras, mas que por princípio estão sempre abertas à revisão e podem ter que ser em algum momento, abandonadas”. Assim, ampliam-se as “discordâncias internas entre especialistas” (2002, p. 14).

nutricionais para potencializar a própria prática de exercícios nas academias e assim, para concretizar os objetivos traçados. Alguns fatores contribuem para a intensificação deste fenômeno, são eles: 1- a supervalorização da imagem corporal que acompanhamos na contemporaneidade sob uma atmosfera do culto ao corpo; 2- a formação de contornos corporais ideais cada vez mais difíceis de serem atingidos; 3- a produção e difusão de produtos provindos da indústria da beleza e da boa forma que prometem verdadeiros milagres na realização dos anseios individuais, principalmente sobre a égide de nossa sociedade do consumo; 4- a ausência de controle de vigilância sanitária, desencadeando um comércio ilegal de produtos funcionando muitas vezes no próprio ambiente das academias de ginástica, contando com a participação (direta ou indireta), de profissionais ligados à prática de exercícios físicos dentre outros; 5- a venda de suplementos alimentares sem a necessidade de prescrição de um médico ou nutricionista para aquisição dos produtos; além de outros fatores. Além de tais fatores evidenciarem uma situação preocupante, alguns estudos (ARAÚJO & ANDREOLO & SILVA, 2002; CARVALHO, 2003) apontam que uma quantidade cada vez maior de pessoas (que desempenham alguma atividade física) acreditam que a própria prática de exercícios físicos requer diretamente o próprio consumo de suplementos alimentares.

Os objetivos para utilização dos suplementos alimentares por frequentadores de academias de ginástica são os mais variados. E desta forma, muitas pessoas que frequentam academia de ginástica consomem suplementos alimentares para desenvolvimento de massa muscular, queima de gordura corpórea, ganho de força, aumento da energia, para a ingestão de nutrientes essenciais e “necessários” a quem pratica exercícios físicos (como as vitaminas e minerais), para redução do catabolismo igualmente da fadiga e cansaço, dentre muita outras motivações.

Apesar do uso cada vez maior de suplementos alimentares por frequentadores de academia de ginástica, muitas vezes esta utilização é feita de modo errado ou desnecessário, aumentado os riscos à saúde. Um estudo realizado pela universidade de Montreal no Canadá verificou que a grande maioria das pessoas que fazem uso de suplementação alimentar, não tem conhecimento necessário para o consumo destas substâncias. Situação que se agrava principalmente porque a grande maioria dos consumidores de suplementos alimentares não fazem nenhuma avaliação clínica que mostrem a necessidade de utilização de tais substâncias. Ainda segundo esta pesquisa,

até mesmo os atletas possuem conhecimento deficiente para utilização de suplementação alimentar, fazendo uso errado e muitas vezes desnecessário14.

Portanto, a grande maioria dos consumidores de suplementos alimentares não tem conhecimento necessário para a própria utilização destes produtos ou ao menos, desconhecem os próprios riscos que estão sujeitos ao fazerem mau uso destas substâncias. Como aponta vários estudos (CARVALHO, 2003; PHILIPPI, 2004), apesar do consumo exagerado dos suplementos alimentares estarem presentes nos habitus de uma parcela significativa de nossa população, o uso destas substâncias pode proporcionar sérios riscos à saúde15. Para o pesquisador Martin Fréchette da universidade de Montreal16, os suplementos alimentares trazem alguns riscos à saúde, pois, “sua pureza e preparação não são tão controlados como os medicamentos”. Assim, para este pesquisador, os “suplementos geralmente contêm outros ingredientes além dos listrados no rótulo” fazendo com que muitas pessoas façam uso de “substâncias proibidas sem saber”17. Em uma reportagem no “New York Times” sobre a utilização

dos suplementos alimentares nos Estados Unidos (Study Urges More Oversight of Dietary Itens)18, foi destacado os riscos do consumo inadequado de tais substâncias que segundo o relatório divulgado pela FDA (Food and Drug Administration)19, em 2008 foram relatados 948 casos de problemas de saúde ligados ao consumo dos suplementos alimentares. Destes 948 casos, 9 óbitos, 64 casos graves e 234 hospitalizações associados a utilização de várias substâncias contidas nos suplementos alimentares. Ainda segundo esta matéria, o relatório divulgado pela FDA aponta, que dezenas de marcas líderes de consumo nos EUA continham substâncias ilegais que além de não

14 Disponível em: http://www.nouvelles.umontreal.ca/udem-news/news-digest/protein-supplements-are- misused-by-athletes.html

15 Vários órgãos nacionais (SBME- Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte; ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e internacionais (ADA- American Dietetic Association; FDA- Food and Drug Administration) tem divulgado constantemente os sérios riscos do uso abusivo de suplementos alimentares.

16 Disponível em: http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=suplementos-alimentares-mal- utilizados-pelos-atletas&id=4933

17 Na pesquisa realizada por Martin Fréchette, os suplementos com substâncias proibidas são principalmente os destinados para os atletas de alto nível ou amadores. Os suplementos de proteína foram apontados na pesquisa como os grandes vilões. Estes suplementos de proteína são produtos comumente utilizados por frequentadores de academia de ginástica, essencialmente no que envolve os exercícios de força.

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Disponível em: http://www.nytimes.com/2009/03/04/business/04diet.html?_r=2

19 FDA (Food and Drug Administration) é um instituto governamental norte- americano que realiza o controle dos alimentos, dos suplementos alimentares, dos cosméticos, etc.

estarem presentes nos rótulos, poderiam colocar em risco a saúde dos consumidores20. Nesta mesma linha, um estudo realizado pelo instituto “Adolfo Luiz” com vários suplementos alimentares (principalmente aqueles consumidos por praticante de musculação), materializou uma suspeita, apresentando um resultado assustador. Foram analisados 111 produtos de diversas marcas (nacionais e internacionais), onde 25% dos suplementos continham esteroides anabolizantes, evidenciando as várias suspeitas de que muitos dos suplementos alimentares possuem substâncias prejudiciais a saúde. O agravante (segundo esta pesquisa) é que muitas substâncias não informadas na embalagem estavam presentes nos compostos suplementares analisados21, realidade idêntica à observada pela FDA com os suplementos mais utilizados nos EUA.

Mesmo com as evidências, ainda existem várias divergências sob os verdadeiros riscos à saúde do consumo dos suplementos alimentares embora, todos concordem com os perigos do uso indiscriminado e indevido de tais substâncias (CARVALHO, 2003). Philippi (2004, p. 76).

Por fim, embora que os diversos estudos apontem (apesar das controversas) para os riscos da utilização (abusiva ou desnecessária) dos suplementos alimentares, ainda assim eles são amplamente consumidos a fim de evitar doenças, melhorar a qualidade de vida, potencializar o desempenho na atividade física, como também transformar e construir a forma corporal.

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