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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES Direito Processual Coletivo Fernando Gajardoni Aula 4 ROTEIRO DE AULA. Tema: Ação Civil Pública II

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DISCIPLINAS COMPLEMENTARES Direito Processual Coletivo

Fernando Gajardoni Aula 4

ROTEIRO DE AULA

Tema: Ação Civil Pública II

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:

I - o Ministério Público;

II - a Defensoria Pública;

III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista;

V - a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.

§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa.

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§ 4.° O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

§ 5.° Admitir-se-á o litisconsórcio facultativo entre os Ministérios Públicos da União, do Distrito Federal e dos Estados na defesa dos interesses e direitos de que cuida esta lei.

§ 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I - o Ministério Público,

II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este código;

IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este código, dispensada a autorização assemblear.

§ 1° O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas nos arts. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

3.2. Defensoria Pública

a) Finalidade institucional (arts. 5º, LXXIV, e 134, da CF, e LC 80/1994)

De acordo com esses dispositivos constitucionais e com a LC n. 80/94, veremos que, diferentemente do MP que tinha quatro finalidades institucionais, a Defensoria Pública tem duas:

➢ Defesa dos Direitos Humanos, não interessando a cor ou a condição financeira das pessoas, seja em direito individual, seja em direito coletivo;

➢ Defesa dos necessitados, tanto nos direitos individuais quanto nos interesses coletivos. A Defensoria Pública tem legitimidade para qualquer ACP, mas, para a corrente dominante no Brasil, só tem representação adequada em uma ACP que trabalhe com essas duas finalidades institucionais. Não sendo uma dessas duas, o juízo deve determinar que outro legitimado assuma a titularidade ativa à luz do princípio de interesse jurisdicional e do conhecimento do mérito, o qual já estudamos.

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Exemplificativamente, em uma compra e venda ocorrida na Black Friday, foi vendido play station 5 e a propaganda dizia que quem comprasse o PS5, a Sony daria gratuitamente três jogos, contudo esses jogos não foram disponibilizados e milhares de pessoas foram lesadas. Pode a Defensoria Pública entrar com uma ACP para poder obrigar a empresa a indenizar os consumidores lesados? Não tema de é direitos humanos e também não nos parece que quem compra PS5 seja uma pessoa necessitada, em tese. Em princípio, diríamos que não, devendo ter um controle judicial e assumindo o MP ou o IDEC, por exemplo.

Art. 5º, LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo- lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal .

§ 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais.

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.

§ 3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal.

§ 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal.

b) Conceito de hipossuficiente/necessitado

i) Econômico (art. 5º, LXXIV, CF)

No passado, se entendeu que o conceito de necessitado ou conceito de hipossuficiente era vinculado à capacidade econômica porque quando lemos o art. 134 da CF, veremos que somos remetidos para o art. 5º, LXXIV da CF, que fala expressamente de necessitado econômico, de quem é pobre na acepção econômica do termo e durante muito tempo esse entendimento prevaleceu.

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ii) Econômico e organizacional (jurídico – incapacidade de auto-organização)

Contudo, a jurisprudência evoluiu no sentido de que necessitado pode ser tanto o econômico, que é o pobre (art.

5º, LXXIV), mas também o necessitado organizacional, de capacidade jurídica e isso seria uma função atípica, mas da Defensoria Pública nos termos do art. 4º da LC n. 80/94. Exemplos: curadora de réus ausentes no processo civil em citação por edital (art. 72 do CPC), defesa técnica no processo penal.

c) Atuação em sede coletiva

i) só nos individuais homogêneos (Min. Teori Zavascki)

Durante algum tempo, se entendeu que a Defensoria Pública só atuaria nas ações relativas à direitos individuais homogêneos, sendo a posição do saudoso Ministro Teori Zavascki, isto porque a única maneira de saber se alguém é necessitado, de acordo com ele, era verificar se o direito em si mesmo considerado conforme a titularidade da pessoa favorecia o necessitado.

Em outras palavras, a Defensoria Pública é legitimada para defender os necessitados, só que para saber se alguém é necessitado, econômico ou organizacional, temos que saber quem é a pessoa. Então, só vamos conseguir saber quem é o titular do direito nos direitos individuais homogêneos porque nos difusos e nos coletivos os sujeitos são indeterminados ou determinados por categoria/grupo/classe.

Exemplo: existe uma ACP que teria por objetivo garantir a defesa dos poupadores dos expurgos inflacionários de 1990. A Defensoria Pública é a titular da ACP. Para o Teori, isso seria possível porque a Defensoria Pública está defendendo um direito individual homogêneo, de cada um dos poupadores e a sentença viria para todos igualmente, mas, na hora de liquidar e executar a pessoa somente poderia se beneficiar da sentença coletiva se provasse que era necessitada, econômica ou organizacional;

ii) todos (potencialmente necessitados) (STF ADI 3943) (STF RE 733.433) (STJ Resp. 912.849-RS)

Hoje, tanto o STJ quanto o STF, existe a interpretação que a Defensoria Pública pode atuar tanto nos difusos quanto nos coletivos e nos individuais homogêneos e, para sustentar essa posição, construiu-se

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jurisprudencialmente a ideia das ações em favor dos potencialmente necessitados, ou seja, existem grupos potencialmente vulneráveis em que é possível se presumir a condição de necessitado, econômico ou organizacional e, à luz do caso em abstrato, seria possível admitir a atuação da Defensoria Pública em favor de todos, necessitados ou não necessitados.

Exemplo real da Defensoria Pública do Estado de São Paulo: uma ação para garantir para as presas de Ribeirão Preto absorventes íntimos. Lá, tem presas cujas famílias podem comprar e levar para elas, mas, no Brasil, as estatísticas mostram que a larga maioria dos presos são pobres e então temos um grupo de potencialmente necessitados, podendo atuar em favor desse direito coletivo. O MP também poderia ter ingressado com tal ACP, inexistindo conflito de atribuições porque essa legitimidade é concorrente disjuntiva, conforme estudamos na aula passada.

Efeito colateral desse entendimento: a atuação da Defensoria Pública pode acabar beneficiando necessitados e não necessitados, de forma uniformizada.

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA (ART. 5º, INC. II, DA LEI N. 7.347/1985, ALTERADO PELO ART. 2º DA LEI N. 11.448/2007).

TUTELA DE INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS STRITO SENSU E DIFUSOS) E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS.

DEFENSORIA PÚBLICA: INSTITUIÇÃO ESSENCIAL À FUNÇÃO JURISDICIONAL. ACESSO À JUSTIÇA. NECESSITADO:

DEFINIÇÃO SEGUNDO PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS GARANTIDORES DA FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO E DA MÁXIMA EFETIVIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: ART. 5º, INCS. XXXV, LXXIV, LXXVIII, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. INEXISTÊNCIA DE NORMA DE EXCLUSIVIDAD DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO INSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO RECONHECIMENTO DA LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE.

(ADI 3943, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 07/05/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-154 DIVULG 05-08-2015 PUBLIC 06-08-2015)”

“Direito Processual Civil e Constitucional. Ação civil pública. Legitimidade da Defensoria Pública para ajuizar ação civil pública em defesa de interesses difusos. Interpretação do art. 134 da Constituição Federal. Discussão acerca da constitucionalidade do art. 5º, inciso II, da Lei nº 7.347/1985, com a redação dada pela Lei nº 11.448/07, e do art. 4º, incisos VII e VIII, da Lei Complementar nº 80/1994, com as modificações instituídas pela Lei Complementar nº 132/09. Repercussão geral reconhecida. Mantida a decisão objurgada, visto que comprovados os requisitos exigidos para a caracterização da legitimidade ativa. Negado provimento ao recurso extraordinário. Assentada a

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tese de que a Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura de ação civil pública que vise a promover a tutela judicial de direitos difusos e coletivos de que sejam titulares, em tese, pessoas necessitadas.

(RE 733433, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 04/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-063 DIVULG 06-04-2016 PUBLIC 07-04-2016)”

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. LEGITIMIDADE DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ART. 134 DA CF. ACESSO À JUSTIÇA. DIREITO FUNDAMENTAL. ART. 5º, XXXV, DA CF. ARTS. 21 DA LEI 7.347/85 E 90 DO CDC. MICROSSISTEMA DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

INSTRUMENTO POR EXCELÊNCIA. LEGITIMIDADE ATIVA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA AJUIZAR AÇÃO CIVIL PÚBLICA RECONHECIDA ANTES MESMO DO ADVENTO DA LEI 11.448/07. RELEVÂNCIA SOCIAL E JURÍDICA DO DIREITO QUE SE PRETENDE TUTELAR. RECURSO NÃO PROVIDO.

1. A Constituição Federal estabelece no art. 134 que "A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV". Estabelece, ademais, como garantia fundamental, o acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CF), que se materializa por meio da devida prestação jurisdicional quando assegurado ao litigante, em tempo razoável (art. 5º, LXXVIII, da CF), mudança efetiva na situação material do direito a ser tutelado (princípio do acesso à ordem jurídica justa).

2. Os arts. 21 da Lei da Ação Civil Pública e 90 do CDC, como normas de envio, possibilitaram o surgimento do denominado Microssistema ou Minissistema de proteção dos interesses ou direitos coletivos amplo senso, com o qual se comunicam outras normas, como os Estatutos do Idoso e da Criança e do Adolescente, a Lei da Ação Popular, a Lei de Improbidade Administrativa e outras que visam tutelar direitos dessa natureza, de forma que os instrumentos e institutos podem ser utilizados para "propiciar sua adequada e efetiva tutela" (art. 83 do CDC).

3. Apesar do reconhecimento jurisprudencial e doutrinário de que "A nova ordem constitucional erigiu um autêntico 'concurso de ações' entre os instrumentos de tutela dos interesses transindividuais" (REsp 700.206/MG, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe 19/3/10), a ação civil pública é o instrumento processual por excelência para a sua defesa.

4. A Lei 11.448/07 alterou o art. 5º da Lei 7.347/85 para incluir a Defensoria Pública como legitimada ativa para a propositura da ação civil pública. Essa e outras alterações processuais fazem parte de uma série de mudanças no arcabouço jurídico-adjetivo com o objetivo de, ampliando o acesso à tutela jurisdicional e tornando-a efetiva, concretizar o direito fundamental disposto no art. 5º, XXXV, da CF.

5. In casu, para afirmar a legitimidade da Defensoria Pública bastaria o comando constitucional estatuído no art.

5º, XXXV, da CF.

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6. É imperioso reiterar, conforme precedentes do Superior Tribunal de Justiça, que a legitimatio ad causam da Defensoria Pública para intentar ação civil pública na defesa de interesses transindividuais de hipossuficientes é reconhecida antes mesmo do advento da Lei 11.448/07, dada a relevância social (e jurídica) do direito que se pretende tutelar e do próprio fim do ordenamento jurídico brasileiro: assegurar a dignidade da pessoa humana, entendida como núcleo central dos direitos fundamentais.

7. Recurso especial não provido.

(REsp 1106515/MG, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 02/02/2011)

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)

3.3. Administração direta e indireta

a) Finalidade institucional

i) União, Estado, DF e Município (representantes universais?)

Não resta dúvida nenhuma de que, de todos os legitimados previstos no art. 5º da LACP, esses quatro são os legitimados com a maior finalidade institucional e, consequentemente, com a maior representatividade adequada de todos porque União, Estado, DF e Município servem para o bem comum, para o bem todos e garantia de bem- estar da população. Em teses, eles podem atuar em qualquer segmento.

O professor tem certa ressalva quanto aos doutrinadores que afiram que União, Estado, DF e Município são representantes universais dos interesses da coletividade porque ele acha que a administração direta até tem a maior atribuição de todas, mas dentro das suas competências constitucionais.

Exemplo: é a União que trata de telecomunicações. A União pode propor uma ACP para discutir com as operadoras de telefonia ou com as operadoras de internet determinado tema? Sim, mas o Município pode, por ACP? O professor tem reservas em afirmar que sim, porque isso estaria fora da competência constitucional do Município.

ii) Demais (leis criadores e estatutos/contratos sociais)

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Na administração indireta, voltamos para a regra da finalidade institucional e, consequentemente, a administração indireta (autarquias federais, fundações de direito público, empresas públicas e sociedades de economia mista) podem propor ACP, mas eles só representam adequadamente os interesses que os seus estatutos indicam, que as leis que os criaram indiquem.

Exemplos: Petrobras (sociedade de economia mista) pode propor ACP em relação a temas correlatos com recursos naturais, petróleo, gás natural, etc., mas certamente a Petrobras não tem legitimidade para propor ACP na defesa da saúde ou da segurança pública. O INSS (autarquia federal) pode propor ACP sobre a seguridade social e não sobre o meio ambiente, por falta de representação adequada.

b) Personalidade judiciária (art. 82, III, do CDC)

Quando estudamos Direito Processual Civil, lembramos que existem órgãos que têm personalidade jurídica (respondem por seus direitos e por suas obrigações, é como se eles existissem como uma pessoa real) e alguns órgãos têm personalidade judiciária (não têm existência autônoma, mas têm capacidade para estar em juízo a fim de defender os seus interesses próprios porque eles têm interesses e prerrogativas próprias para defender).

O art. 82, III do CDC que, por conta do microssistema processual coletivo vai aplicar para tudo, a administração direta e a administração indireta têm determinadas pastas, segmentos internos com atribuição própria para defender, como o PROCON que geralmente é vinculado à secretaria da cidadania, que tem uma finalidade própria para defender. Assim, o PROCON, por si, pode propor ACP. O mesmo raciocínio vale para a secretaria do meio ambiente de um Município ou Estado, que têm finalidade própria.

3. Legitimidade Ativa (art. 5º LACP e 82 do CDC)

3.4. Associações

a) Amplitude da expressão (sindicatos, partidos políticos, grêmios estudantis, OAB, etc.). Atuação das cooperativas (arts. 21, XI e 88-A, da Lei 5.764/81)

Recentemente, a Lei das Cooperativas sofreu uma reforma legislativa para inserir o art. 88-A, com a previsão da possibilidade de propor ACP.

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Art. 88-A da Lei 5.764/71. “A cooperativa poderá ser dotada de legitimidade extraordinária autônoma concorrente para agir como substituta processual em defesa dos direitos coletivos de seus associados quando a causa de pedir versar sobre atos de interesse direto dos associados que tenham relação com as operações de mercado da cooperativa, desde que isso seja previsto em seu estatuto e haja, de forma expressa, autorização manifestada individualmente pelo associado ou por meio de assembleia geral que delibere sobre a propositura da medida judicial” (Incluído pela Lei nº 13.806, de 2019)

A parte em negrito dá a entender que se trataria de ACP, mas a parte destacada de marca-texto trata de outro instituto, que é a representação do art. 5º, XXI. Esse art. 88-A trata de legitimação extraordinária ou de representação que precisa de autorização dos filiados das cooperativas?

A lei é muito mal feita, mas o professor acredita que só pode ser legitimação extraordinária nesse caso e a segunda parte do dispositivo, em amarelo, não vale absolutamente nada porque não precisamos dessa lei para autorizar algo que a CF já autorizou, que é a representação.

Art. 21. O estatuto da cooperativa, além de atender ao disposto no artigo 4º, deverá indicar:

(...)

XI – se a cooperativa tem poder para agir como substituta processual de seus associados, na forma do art. 88-A desta Lei.

b) Expressa disciplina do controle judicial da representação mediante:

i) Constituição ânua (dispensa: art. 5º, § 4º, LACP)

A associação tem que estar constituída e em funcionamento há pelo menos um ano para verificar se não se trata de uma entidade ad hoc, no sentido de ter sido construída apenas para aquele fim de propor a ACP. Contudo, um ano é um período muito curto e nada impede de montar uma associação para esse fim exclusivo.

O art. 5º, § 4º, LACP vai estabelecer que o requisito da pré constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.

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Exemplo real no Estado de São Paulo: a Associação de Defesa dos Fumantes quis entrar com uma ação contra as grandes produtoras de cigarro do Brasil na década de 1990 para as obrigar a indenizar todos os fumantes que tiveram problemas de saúde em virtude do uso nocivo do cigarro sob o argumento de que as propagandas de cigarro sempre mostravam que quem fumava era um destaque social, era elegante e forte. Essa associação foi criada apenas para propor a ACP e o juiz do caso entendeu que a relevância da discussão e a repercussão social era tão grande que ele dispensou a constituição ânua, o que foi mantido pelo STJ, inclusive. Essa ação, ao final, foi julgada improcedente.

ii) Finalidade institucional (pertinência temática)

Há a legitimidade ativa das associações para propor ACP, mas apenas dentro daquilo que seus estatutos determinem como sendo objeto das respectivas entidades. (Greenpeace = meio ambiente; IDEC = consumidor;

Associação de Defesa do Direito à Arma = defender o direito à arma).

Em nenhum momento a lei diz que só pode propor a ACP dentro da sua finalidade principal. Pode propor a ACP nas finalidades institucionais, dentro da pertinência temática, isto é, quanto maior o objeto social da entidade, maior a representação adequada dela para propor determinados temas. Veremos várias associações criadas com um objetivo principal e depois com vários outros objetivos que também vão habilitar essa entidade a defender outros interesses ainda que não relacionados com a sua finalidade principal.

c) A questão dos Individuais Homogêneos e do art. 2º-A parágrafo único da Lei 9.494/97 X art. 5º, XXI, da CF) (STJ: REsp 1.438.263 e tema 480) (STF RE 573.232 e RE 612.043)

Sabemos que o processo coletivo tutela direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos e que esses últimos são direitos individuais, que podem ser tutelados por cada um dos indivíduos vitimados, mas sem prejuízo do uso do processo coletivo para tutela desse direito que é individual. Quando foi feita essa construção pelo Legislativo, eles não esperavam que uma das principais pessoas que o principal fosse exatamente o Estado e as suas entidades.

Começaram a perceber que o Estado antes lesava 15.000 pessoas e apenas 2.000 entravam com a ação.

Com o uso da ACP para a tutela dos individuais homogêneos, as 15.000 acabam sendo indenizadas e isso era ruim para o Estado, que antes “se dava bem” pela inércia da maioria dos titulares individuais. O Estado reagiu contra o processo coletivo através de medida provisória e temos uma, que está valendo até hoje, que inseriu na Lei 9.494/97 o art. 2º-A. Vejamos:

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Art. 2o-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Parágrafo único. Nas ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações [pessoas jurídicas de direito público], a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35, de 2001)

Quando a associação propõe ação contra qualquer pessoa, a decisão só vai valer para quem morar na competência do órgão jurisdicional. O parágrafo único do dispositivo traz que, para as pessoas jurídicas de direito público da Administração direta e indireta, só ia ser possível a propositura da ação:

• Se tivesse uma autorização da assembleia permitindo isso; e

• Se a inicial estivesse acompanhada de uma relação nominal da ata sobre quem são as pessoas associadas que moram naquele Município e que seriam beneficiadas por aquela decisão.

Esse dispositivo acabou fazendo uma enorme confusão porque misturou a mesma confusão que fez a Lei das Cooperativas com legitimidade extraordinária e representação. Quando a lei autoriza alguém em nome próprio a propor ação em defesa de direito alheio, não precisa de autorização nenhuma adicional porque a autorização já está na lei (LACP), independente de ata de assembleia. No caso de representação do art. 5º, XXI da CF, os associados de uma entidade podem dar poder para que alguém aja em nome alheio na defesa de direito alheio.

Exemplo: o professor é filiado à APAMAGIS (Associação Paulista dos Magistrados) e a APAMAGIS não precisa de autorização nenhuma de seus associados para defender os interesses das qualidades de trabalho da categoria. Contudo, se vários juízes estiverem com problemas com uma financeira acerca de um índice abusivo de correção monetária da compra de um carro, eles podem dar uma autorização em assembleia para a APAMAGIS entrar com uma ação em nome deles e isso não tem nada a ver com a finalidade institucional da APAMAGIS, que atua nesse caso como representante de seus associados.

REPRESENTAÇÃO – ASSOCIADOS – ARTIGO 5º, INCISO XXI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ALCANCE. O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando previsão genérica

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do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados. TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL – ASSOCIAÇÃO – BENEFICIÁRIOS. As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes juntada à inicial.

(RE 573232, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Relator(a) p/ Acórdão: MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2014, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-182 DIVULG 18-09-2014 PUBLIC 19-09-2014)

OS JULGADOS ABAIXO NÃO TRATAM DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA, MAS SIM DE AÇÃO COLETIVA DE ASSOCIAÇÃO REPRESENTANDO SEUS FILIADOS

“I – A previsão estatutária genérica não é suficiente para legitimar a atuação, em Juízo, de associações na defesa de direitos dos filiados, sendo indispensável autorização expressa, ainda que deliberada em assembleia, nos termos do artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal; II – As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, são definidas pela representação no processo de conhecimento, limitada a execução aos associados apontados na inicial” (RE 573.232, Pleno, Rel. p/ Acórdão Min. Marco Aurélio)

“A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o sejam em momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes de relação juntada à inicial do processo de conhecimento” (STF, RE 612.043, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio) (“A tese que propus é alusiva à ação coletiva de rito ordinário. A ação civil pública tem rito todo próprio” – Embargos de Declaração)

A DISCUSSÃO NO STJ

“Existem fundamentos para defender que a tese anunciada pelo STF, analisando casos de ação coletiva ordinária - legitimação ad processum lastreada na representação, não se aplicaria ao tema em discussão, que cuida de ACP – com legitimação extraordinária por substituição processual, com lastro na legislação Federal” (STJ: REsp 1.438.263, Min. Rel. Raul Araújo, Corte Especial, 2020)

4. Legitimidade Passiva

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Falaremos aqui da legitimidade passiva da ação coletiva ativa, aquela tradicional em que a coletividade é autora.

O direito está na coletividade reclamando uma determinada obrigação ou dever de um particular ou mais particulares. Exemplos: ação civil pública ambiental, ação de improbidade administrativa, ação para poder garantir a proteção do patrimônio histórico e cultural, etc.

a) Inaplicabilidade do microssistema (art. 6º da LAP)

Esse dispositivo estabelece que na ação popular, tem que ser formado um litisconsórcio necessário passivo entre todos que praticaram ou participaram do ato tido por ilegal e lesivo. Se for uma ação popular por conta de uma propaganda ilegal por parte da Administração pública, que viola o art. 37, § 1º da CF, sendo uma auto promoção do governante, serão réus a prefeitura, o administrador, o responsável pela publicidade da prefeitura, todos os que foram beneficiados diretamente pelo ato, como a empresa contratada para fazer a propaganda irregular. Essa regra não se aplica para a ACP porque eles entendem que é um regramento muito específico e particular para a situação da ação popular.

Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

§ 1º Se não houver benefício direto do ato lesivo, ou se for ele indeterminado ou desconhecido, a ação será proposta somente contra as outras pessoas indicadas neste artigo.

§ 2º No caso de que trata o inciso II, item "b", do art. 4º, quando o valor real do bem for inferior ao da avaliação, citar-se-ão como réus, além das pessoas públicas ou privadas e entidades referidas no art. 1º, apenas os responsáveis pela avaliação inexata e os beneficiários da mesma.

§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster- se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.

§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe apressar a produção da prova e promover a responsabilidade, civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus autores.

§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou assistente do autor da ação popular.

b) Ausência de previsão legal na ACP (duas posições)

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i) Litisconsórcio facultativo (Resp. 789.027-PR), salvo se se tratar de anulação de contrato (Resp 901.422- SP)

Quem vai eleger quem vai ser réu na ACP será o autor coletivo e a ressalva se dá porque não dá para anular um contrato para um contratante e não anular para os demais, em que se tem um litisconsórcio necessário.

PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INDISPONIBILIDADE DE TÍTULOS PÚBLICOS (LFTs).

ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 47 DO CPC. INOCORRÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO. APELAÇÃO NA AÇÃO PRINCIPAL. PERDA DE OBJETO DA CAUTELAR.

1. No recurso especial se pretende atacar acórdão do Tribunal de origem que deferiu a medida cautelar para impedir o Estado do Paraná de dispor dos títulos públicos (LFTs) recebidos em troca de títulos da dívida pública do Estado de Alagoas, até decisão final da ação civil pública.

2. Por não existir na cautelar pedido que influa direta ou indiretamente na esfera jurídica da União ou do Bacen, bem como por não se discutir qualquer relação jurídica de que sejam titulares, não há que se cogitar de litisconsórcio necessário envolvendo as referidas entidades.

3. Prolatada sentença e proferido acórdão de apelação nos autos do processo principal, que tratam de ação civil pública cujo objeto é mais amplo e, portanto, engloba o provimento dado na cautelar, torna-se prejudicado o recurso que atacava a decisão na cautelar.

4. Agravo regimental não provido.

(AgRg no REsp 789.027/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/12/2009, DJe 17/12/2009)

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO - AMBIENTAL - LOTEAMENTO E CONSTRUÇÕES - IRREGULARES POTENCIALMENTE LESIVAS AO MEIO AMBIENTE - PREQUESTIONAMENTO - INEXISTÊNCIA - SÚMULA 211/STJ - DEFICIÊNCIA RECURSAL - SÚMULA 284/STF - VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC - NÃO-OCORRÊNCIA - EMPREENDEDORES, ADQUIRENTES E OCUPANTES - LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO.

1. Não ofende o art. 535, II, do CPC, decisões em que o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide.

2. É deficiente a fundamentação do especial quando não demonstrada contrariedade ou negativa de vigência a tratado ou lei federal.

3. Inexistência de prequestionamento dos arts. 103, 131, 165, 267, § 3º, 286, 289, 292, 301, § 4º, 334, 459, 460, 463, II, 485, IX, §§ 1º e 2º do CPC; arts. 1º, 3º, 4º, 11, 13, 14, 16, 19 e 21 da Lei 7.347/85; arts. 81 a 117 do CDC;

arts. 3º, 4º, 9º, 10, 14, § 1º da Lei 6.938/81; art. 1.518 do CC c/c art. 186 da Lei 6.766/79.

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4.Na ação civil pública de reparação a danos contra o meio ambiente os empreendedores de loteamento em área de preservação ambiental, bem como os adquirentes de lotes e seus ocupantes que, em tese, tenham promovido degradação ambiental, formam litisconsórcio passivo necessário.

5. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, provido.

(REsp 901.422/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2009, DJe 14/12/2009)

ii) Definição do direito material à luz dos arts. 113 e 114 do CPC.

O professor prefere essa posição de que é o direito material, o caso concreto que define.

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:

I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;

II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;

III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.

§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença.

§ 2º O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da decisão que o solucionar.

Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.

RESUMINDO

o importante é não afirmar a necessariedade do litisconsórcio passivo

5. Competência na ACP (aplicação para Ação de Improbidade Administrativa?)

As regras que falaremos aqui sobre ACP, na opinião do professor, também vale para a ação de improbidade administrativa. Esse tema civil de improbidade administrativa é um tema ministrado por outro professor. Antes de verificar a competência da ACP no Brasil, devemos verificar se o caso se encaixa em uma das hipóteses dos arts. 21 a 23 do CPC, que são os casos de jurisdição nacional brasileira.

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5.1. Critério funcional-hierárquico (Ações Originárias e foro privilegiado): não há!

Não existe foro privilegiado em ação coletiva, em ACP, ainda que o réu seja o Presidente da República, do Senado ou Ministro do STF, exemplificativamente, começando em primeira instância. Esse entendimento nos tribunais superiores é pacífico. Existem alguns autores que estabelecem que existem duas hipóteses de ações coletivas que são de competência originária do STF: art. 102, I, ‘f’ e ‘n’.

Esses dois dispositivos estabelecem que o STF julga causas em que haja conflito federativo (Estado x Estado) ou causas que sejam interesse de toda a Magistratura nacional. O professor discorda desse entendimento deles porque o que leva para o STF não é o fato de ser ACP, é o fato de ser qualquer ação (cobrança, declaratória, etc.).

Não interessa a via e sim o objeto, então não tem foro privilegiado em ACP.

5.2. Critério material (1ª instância)

i) Eleitoral (121 da CF): não há (105-A da Lei 9.504/97) (STJ CC 113.433-AL)

Por conta de uma opção sistêmica, o art. 105-A da Lei 9.504/97, ratificado pelo julgamento do STJ, afirma que a Justiça Eleitoral não tem competência para a ACP. Um promotor resolve propor uma ACP ambiental para obrigar todos os candidatos dos partidos políticos a repararem o dano ambiental causado pela distribuição de santinhos nas ruas e indenizar a coletividade pela sujeira. Isso não vai ser julgado pela Justiça Eleitoral porque a matéria não é Eleitoral e sim Ambiental, indo para a Justiça Comum.

Não pode ACP, mas nada impede inquérito civil eleitoral no âmbito do MP eleitoral. Apesar de esses dispositivos legais abaixo colacionados falarem que não cabem os procedimentos da ACP na Justiça Eleitoral, não podemos nos esquecer que o inquérito civil está previsto na CF, no art. 129, entre as atribuições do MP.

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos tribunais, dos juízes de direito e das juntas eleitorais.

§ 1º - Os membros dos tribunais, os juízes de direito e os integrantes das juntas eleitorais, no exercício de suas funções, e no que lhes for aplicável, gozarão de plenas garantias e serão inamovíveis.

§ 2º - Os juízes dos tribunais eleitorais, salvo motivo justificado, servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo mesmo processo, em número igual para cada categoria.

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§ 3º - São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.

§ 4º - Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando:

I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei;

II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais;

III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais;

IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais;

V - denegarem habeas corpus , mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.

Art. 105-A da Lei 9.504/97. Em matéria eleitoral, não são aplicáveis os procedimentos previstos na Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985.

ADMINISTRATIVO. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROPAGANDA ELEITORAL.

DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. AUSÊNCIA DE MATÉRIA ELEITORAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.

1. A Justiça Eleitoral, órgão do Poder Judiciário brasileiro (art.

92, V, da CF), tem seu âmbito de atuação delimitado pelo conteúdo constante no art. 14 da CF e na legislação específica.

2. "As atividades reservadas à Justiça Eleitoral aprisionam-se ao processo eleitoral, principiando com a inscrição dos eleitores, seguindo-se o registro dos candidatos, eleição, apuração e diplomação, ato que esgota a competência especializada (art. 14, parágrafo 10, CF)" (CC 10.903/RJ).

3. In casu, sobressai a incompetência da justiça eleitoral, uma vez que não está em discussão na referida ação civil pública direitos políticos, inelegibilidade, sufrágio, partidos políticos, nem infração às normas eleitorais e respectivas regulamentações, isto é, toda matéria concernente ao próprio processo eleitoral.

4. A pretensão ministerial na ação civil pública, voltada à tutela ao meio ambiente, direito transindividual de natureza difusa, consiste em obrigação de fazer e não fazer e, apesar de dirigida a partidos políticos, demanda uma observância de conduta que extravasa período eleitoral, apesar da maior incidência nesta época, bem como não constitui aspecto inerente ao processo eleitoral.

5. A ação civil pública ajuizada imputa conduta tipificada no art.

65 da Lei 9.605/98 em face do dano impingido ao meio ambiente, no caso especificamente, artificial, formado pelas edificações, equipamentos urbanos públicos e comunitários e todos os assentamentos de reflexos urbanísticos, conforme escólio do Professor José Afonso da Silva. Não visa delimitar condutas regradas pelo direito eleitoral; visa tão somente a tutela a meio ambiente almejando assegurar a função social da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, nos termos do art. 182 da Constituição Federal.

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6. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Cível de Maceió - AL, ora suscitado.

(CC 113.433/AL, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/08/2011, DJe 19/12/2011)

ii) Trabalhista (114 da CF): OK (súmula 736 do STF)

Súmula 736 do STF: Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores.

O MPT ajuíza essas ações para evitar o emprego de menores em determinados tipos de trabalhos, evitar que determinado ambiente seja insalubre para uma categoria de trabalhadores, evitar determinadas práticas discriminatórias em uma relação de emprego, etc.

iii) Federal (109 da CF): OK - parte ou causa de pedir (MPF: STJ, Resp. 1.057.878-RS e CC 90.722) (MPE – STF, Reclamação 7358) (revogação s. 183 STJ)

É óbvio que a Justiça Federal tem competência para ACP e essa competência pode ser dada pelo fator parte (União, autarquias federais e empresas públicas federais, independentemente do tema) ou pelo fator causa de pedir (art. 109, III e XI da CF). Devemos tomar muito cuidado em matéria ambiental para definir a competência da Justiça Federal porque existe um hábito equivocado de achar que toda vez que o dano ambiental for a um dos bens da União (art. 20 da CF), automaticamente a competência seria da Justiça Federal.

Não é, porque para definir a competência da Justiça Federal temos que verificar a causa de pedir ou a parte. Se eventualmente, ainda que o bem seja da União, tenhamos a ausência de uma causa de pedir do art. 109 da CF ou a ausência de uma parte do art. 109, I e II da CF, automaticamente está excluída a competência da Justiça Federal.

Exemplo: o Rio Sapucaí corta o Estado de Minas Gerais e o Estado de São Paulo. Pela regra do art. 20 da CF, os rios que cortam mais de um Estado são bens da União. Existem muitas ações porque teve dano nesse rio. Quem está propondo essas ações? O MP Estadual. A competência não é da Justiça Federal porque em nenhum inciso do art. 109 encontraremos que a Justiça Federal julga as causas relativas aos seus bens ambientais. Além disso, não tem nem no polo ativo e nem no polo passivo nenhum órgão federal. Pode ter interesse do IBAMA, então deve ser intimado para manifestar interesse ou não.

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O STJ entende que o MPF, apesar de não estar no art. 109, I da CF é órgão da União e atrai automaticamente a competência para a Justiça Federal. Esse mesmo raciocínio se aplica à Defensoria Pública da União quando da propositura de uma ACP, que atrai a competência para a Justiça Federal.

Cuidado, porque o fato de a ação começar na Justiça Federal não garante que ela termine na Justiça Federal porque o MPF ou a DPU pode propor uma ACP que começa na Justiça Federal porque se trata de órgão da União, mas o juiz do caso, apesar da legitimidade desses órgãos, pode fazer o controle da representação adequada e entender que aquilo está fora das atribuições do MPF ou da DPU, como no caso de um rio local.

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REPARAÇÃO DE DANO AMBIENTAL. ROMPIMENTO DE DUTO DE ÓLEO.

PETROBRAS TRANSPORTES S/A. TRANSPETRO. VAZAMENTO DE COMBUSTÍVEL. INTEMPESTIVIDADE DO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 211/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

SÚMULA 150/STJ. LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. NATUREZA JURÍDICA DOS PORTOS. LEI 8.630/93. INTERPRETAÇÃO DO ART. 2º, DA LEI 7.347/85.

1. Cinge-se a controvérsia à discussão em torno a) da tempestividade do Agravo de Instrumento interposto pelo MPF e b) da competência para o julgamento de Ação Civil Pública proposta com a finalidade de reparar dano ambiental decorrente do vazamento de cerca de 1.000 (mil) litros de óleo combustível após o rompimento de um dos dutos subterrâneos do píer da Transpetro, no Porto de Rio Grande.

2. Não se conhece do Recurso Especial quanto à tempestividade do recurso apresentado na origem, pois a matéria não foi especificamente enfrentada pelo Tribunal de origem. Aplicação da Súmula 211 do Superior Tribunal de Justiça.

3. Em relação ao segundo fundamento do Recurso Especial, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu que, no caso, a legitimidade ativa do Ministério Público Federal fixa a competência da Justiça Federal.

4. O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido de atribuir à Justiça Federal a competência para decidir sobre a existência de interesse processual que justifique a presença da União, de suas autarquias ou empresas públicas na lide, consoante teor da Súmula 150/STJ.

5. A presença do Ministério Público Federal no pólo ativo da demanda é suficiente para determinar a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da Constituição Federal, o que não dispensa o juiz de verificar a sua legitimação ativa para a causa em questão.

6. Em matéria de Ação Civil Pública ambiental, a dominialidade da área em que o dano ou o risco de dano se manifesta (mar, terreno de marinha ou Unidade de Conservação de propriedade da União, p. ex.) é apenas um dos critérios definidores da legitimidade para agir do Parquet federal. Não é porque a degradação ambiental se deu em imóvel privado ou afeta res communis omnium que se afasta, ipso facto, o interesse do MPF.

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7. É notório o interesse federal em tudo que diga respeito a portos, tanto assim que a Constituição prevê não só o monopólio natural da União para ?explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão?, em todo o território nacional, ?os portos marítimos, fluviais e lacustres? (art. 21, XII, f), como também a competência para sobre eles legislar ?privativamente? (art. 22, X).

8. Embora composto por partes menores e singularmente identificáveis, em terra e mar ? como terminais e armazéns, públicos e privados ?, o porto constitui uma universalidade, isto é, apresenta-se como realidade jurídica una, embora complexa;

equipara-se, por isso, no seu conjunto, a bem público federal enquanto perdurar sua destinação específica, em nada enfraquecendo essa sua natureza o fato de se encontrarem imóveis privados inseridos no seu perímetro oficial ou mesmo o licenciamento pelo Estado ou até pelo Município de algumas das unidades individuais que o integram.

9. O Ministério Público Federal, como regra, tem legitimidade para agir nas hipóteses de dano ou risco de dano ambiental em porto marítimo, fluvial ou lacustre.

10. Não é desiderato do art. 2º, da Lei 7.347/85, mormente em Município que dispõe de Vara Federal, resolver eventuais conflitos de competência, no campo da Ação Civil Pública, entre a Justiça Federal e a Justiça Estadual, solução que se deve buscar, em primeira mão, no art. 109, I, da Constituição Federal.

11. Qualquer que seja o sentido que se queira dar à expressão "competência funcional" prevista no art. 2º, da Lei 7.347/85, mister preservar a vocação pragmática do dispositivo: o foro do local do dano é uma regra de eficiência, eficácia e comodidade da prestação jurisdicional, que visa a facilitar e otimizar o acesso à justiça, sobretudo pela proximidade física entre juiz, vítima, bem jurídico afetado e prova.

12. O licenciamento pelo IBAMA (ou por órgão estadual, mediante seu consentimento expresso ou tácito) de obra ou empreendimento em que ocorreu ou poderá ocorrer o dano ambiental justifica, de plano, a legitimação para agir do Ministério Público Federal. Se há interesse da União a ponto de, na esfera administrativa, impor o licenciamento federal, seria no mínimo contraditório negá-lo para fins de propositura de Ação Civil Pública.

13. Recurso Especial não provido.

(REsp 1057878/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 26/05/2009, DJe 21/08/2009)

CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA ESTADUAL. AÇÃO CAUTELAR, CIVIL PÚBLICA E DECLARATÓRIA. DANOS AO MEIO AMBIENTE. CONTINÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.

1. A competência da Justiça Federal, prevista no art. 109, I, da Constituição, tem por base um critério subjetivo, levando em conta, não a natureza da relação jurídica litigiosa, e sim a identidade dos figurantes da relação processual. Presente, no processo, um dos entes ali relacionados, a competência será da Justiça Federal.

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2. É da natureza do federalismo a supremacia da União sobre Estados-membros, supremacia que se manifesta inclusive pela obrigatoriedade de respeito às competências da União sobre a dos Estados. Decorre do princípio federativo que a União não está sujeita à jurisdição de um Estado-membro, podendo o inverso ocorrer, se for o caso. Precedente: CC 90.106-ES, 1ª S., Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 10.03.2008.

3. Estabelecendo-se relação de continência entre ação cautelar e ação civil pública de competência da Justiça Federal, com demanda declaratória, em curso na Justiça do Estado, a reunião das ações deve ocorrer, por força do princípio federativo, perante o Juízo Federal. Precedente: CC 56.460-RS, 1ª S., Min. José Delgado, DJ de 19.03.07 4. Ademais, (a) não se aplica a orientação contida na Súmula 183/STJ em razão do seu cancelamento (EDcl no CC 27676/BA, 1ª Seção, Min.

José Delgado, DJ de 05.03.2001); (b) o Juízo Federal suscitado também tem competência territorial e funcional (Resolução n. 600-17, do TRF da 1ª Região de 28.06.2005) sobre o local onde ocorreu o dano (art. 2º da Lei n.

7.347/85).

5. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal para as ações aqui discutidas, divergindo do relator.

(CC 90.722/BA, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/06/2008, DJe 12/08/2008)

RECLAMAÇÃO. ILEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. INICIAL RATIFICADA PELO PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA. AFASTAMENTO DA INCIDÊNCIA DO ART. 127 DA LEP POR ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE TRIBUNAL ESTADUAL. VIOLAÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE 9. PROCEDÊNCIA. 1. Inicialmente, entendo que o Ministério Público do Estado de São Paulo não possui legitimidade para propor originariamente Reclamação perante esta Corte, já que “incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as funções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 46 da Lei Complementar 75/93” (Rcl 4453 MC-AgR-AgR / SE, de minha relatoria, DJe 059, 26.03.2009). 2. Entretanto, a ilegitimidade ativa foi corrigida pelo Procurador-Geral da República, que ratificou a petição inicial e assumiu a iniciativa da demanda. 3.

Entendimento original da relatora foi superado, por maioria de votos, para reconhecer a legitimidade ativa autônoma do Ministério Púbico Estadual para propor reclamação. 4. No caso em tela, o Juiz de Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca de Presidente Prudente/SP, reconhecendo a ocorrência de falta grave na conduta do sentenciado, declarou perdidos os dias remidos, nos termos do art. 127 da LEP. 5. Ao julgar o agravo em execução interposto pela defesa do reeducando, a 12ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em 10 de setembro de 2008, deu provimento ao recurso, para restabelecer os dias remidos.

6. O julgamento do agravo ocorreu em data posterior à edição da Súmula Vinculante 09, como inclusive foi expressamente reconhecido pela Corte local. 7. O fundamento consoante o qual o enunciado da referida Súmula

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não seria vinculante em razão de a data da falta grave ter sido anterior à sua publicação não se mostra correto. 8.

Com efeito, a tese de que o julgamento dos recursos interpostos contra decisões proferidas antes da edição da súmula não deve obrigatoriamente observar o enunciado sumular (após sua publicação na imprensa oficial), data venia, não se mostra em consonância com o disposto no art. 103-A, caput, da Constituição Federal, que impõe o efeito vinculante a todos os órgãos do Poder Judiciário, a partir da publicação da súmula na imprensa oficial. 9.

Desse modo, o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferido em 10 de setembro de 2008, ao não considerar recepcionada a regra do art. 127 da LEP, afrontou a Súmula Vinculante 09. 10. No mérito, reclamação julgada procedente, para cassar o acórdão proferido pela 12ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que restabeleceu os dias remidos do reeducando.

(Rcl 7358, Relator(a): ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 24/02/2011, DJe-106 DIVULG 02-06-2011)

iv) Estadual (residual) (súmula 42 STJ) (súmulas 150 e 224 do STJ e art. 45, § 3º, do CPC) (cumulação de pedidos - STJ, REsp 1.120.169/RJ e 45 CPC) (súmula 489 STJ – continência)

Se não for caso de Trabalhista ou Federal, a competência vai para a Justiça Estadual porque a Justiça Estadual é de competência residual. Não é atribuição da Justiça Federal julgar causas de interesse de sociedade de economia mista. O art. 109, I da CF fala que a Justiça Federal julga causas cujas partes são União, autarquia pública federal e empresa pública federal. Sociedade de economia mista, ainda que o capital seja preponderantemente federal é de competência da Justiça Estadual, como o Banco do Brasil e a Petrobras. O sistema S também é de competência da Justiça Estadual (SESI, SENAI, etc.)

Súmula 42 STJ: Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Essas duas súmulas que hoje fazem parte do texto legal do art. 45, § 3º do CPC definem o que se faz ou como se faz com os processos em curso na Justiça Estadual quando haja intervenção de um dos entes federais, do art. 109, I da CF. Aplicando-se o entendimento dessas duas súmulas e do art. 45, § 3º, toda vez que tiver intervenção de um dos entes do art. 109, I da CF, o juiz estadual remeterá os autos para a Justiça Federal a fim de que o juiz federal se pronuncie sobre haver ou não haver interesse do ente federal ingressante.

Se o juiz federal entender que não há interesse da União ou do ente que interveio, ele vai simplesmente devolver o processo para a Justiça Estadual e consequentemente, ainda que o juiz estadual não concorde, ele toca o processo e não vai suscitar conflito de competência.

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Exemplo: imagine que o MP Estadual entrou com uma ação ambiental para discutir dano ao Rio Sapucaí na comarca do professor. O professor intima o IBAMA sobre o dano nesse rio da União e o IBAMA geralmente manifesta desinteresse em participar porque o dano seria apenas local e o professor segue com o processo. Quando há a intervenção do IBAMA, o juiz estadual deve remeter os autos para a Justiça Federal. O juiz federal pode entender que o processo deve seguir na Justiça Federal, mas o juiz federal pode entender que não há interesse da União como um todo porque o dano é local, então o juiz federal indefere o ingresso do IBAMA e remete os autos de volta para a Justiça Estadual e o juiz estadual não pode suscitar conflito de competência nesse tipo de caso. Se o IBAMA não concordar, deve agravar de instrumento para o TRF.

Súmula 150 STJ: Compete a Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União, suas Autarquias ou Empresas públicas.

Súmula 224 STJ: Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.

Art. 45. Tramitando o processo perante outro juízo, os autos serão remetidos ao juízo federal competente se nele intervier a União, suas empresas públicas, entidades autárquicas e fundações, ou conselho de fiscalização de atividade profissional, na qualidade de parte ou de terceiro interveniente, exceto as ações:

I - de recuperação judicial, falência, insolvência civil e acidente de trabalho;

II - sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho.

§ 1º Os autos não serão remetidos se houver pedido cuja apreciação seja de competência do juízo perante o qual foi proposta a ação.

§ 2º Na hipótese do § 1º, o juiz, ao não admitir a cumulação de pedidos em razão da incompetência para apreciar qualquer deles, não examinará o mérito daquele em que exista interesse da União, de suas entidades autárquicas ou de suas empresas públicas.

§ 3º O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a remessa for excluído do processo.

O entendimento dominante hoje é que a cumulação de pedidos depende da aplicação da regra do art. 327, § 2º que diz que para cumular pedidos no mesmo processo, precisamos ter o mesmo procedimento, compatibilidade

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entre os pedidos e competência do juiz para apreciar todos os pedidos. A partir desse julgado, que acabou virando lei, acabou por se interpretar que essa regra também vale para os casos de litisconsórcio facultativo.

Existia um expediente do MPU e da DPU que pretendiam, através da formação de litisconsórcios facultativos passivos, ampliar a atribuição deles e a competência da Justiça Federal porque eles montavam as ACP sempre colocando no processo um ente que atrai a competência da Justiça Federal em litisconsórcio facultativo com todos os demais que não são da competência da Justiça Federal.

Exemplo: a DPU ou o MPF resolvia fazer uma ação contra os bancos por causa da questão do tempo na fila em tempos de COVID. Eles propunham a ação conta a Caixa Econômica Federal, que é o banco que é julgado pela Justiça Federal como regra, por ser empresa pública federal. Para ampliar a atribuição deles, eles formavam com base no art. 113 do CPC um litisconsórcio com Santander, Bradesco, Itaú e todos os demais bancos privados. Com essa formação do litisconsórcio, se ampliava a competência da Justiça Federal, então esse julgado do STJ diz que as regras sobre cumulação de pedidos têm que valer também para o litisconsórcio facultativo, de modo que só pode ser formado litisconsórcio facultativo se os juízos tiverem competência para apreciar pedidos contra todos eles. Quanto aos bancos privados, os autos devem ser remetidos para a Justiça Estadual.

O raciocínio dessa observação relacionada com esse precedente e do art. 45, caput, do CPC só se aplica se o objeto da ação, se o litisconsórcio formado na ação coletiva, for facultativo, apenas se o objeto da ação for cindível porque sendo impossível a cisão do objeto e desmembrar o litisconsórcio porque ele é necessário, tudo prossegue na Justiça Federal (Súmula 489 STJ).

Exemplo: existe uma ACP de reparação de danos ao patrimônio público que não é de improbidade porque o prefeito de uma cidade pegou uma verba do repasse federal e contratou sem licitação uma empresa. A rigor, o prefeito e a pessoa jurídica de direito privado não são julgados pela Justiça Federal, mas nesse caso há um litisconsórcio necessário com a União porque o prejuízo sofrido foi da União. Impossível cindir o objeto, o processo deve seguir na Justiça Federal.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL COLETIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA EM FACE DE ONZE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. JUSTIÇA FEDERAL. JURISDIÇÃO ABSOLUTA. REGRAS PREVISTAS DIRETAMENTE NA CONSTITUIÇÃO. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO COMUM. LITISCONSORTES QUE NÃO POSSUEM FORO NA JUSTIÇA FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. CUMULAÇÃO DE DEMANDAS E DE PEDIDOS. JUÍZO

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INCOMPETENTE PARA CONHECER DE TODOS ELES (ART. 292, § 1º, INCISO II, CPC E ART. 109 DA CF/1988).

ADEMAIS, EVENTUAL CONEXÃO (NO CASO INEXISTENTE) NÃO ALTERA COMPETÊNCIA ABSOLUTA E NÃO REÚNE AS AÇÕES QUANDO JÁ HOUVER SENTENÇA PROFERIDA.

1. A interpretação legal não pode conduzir ao estabelecimento de competência originária da Justiça Federal se isso constituir providência desarmônica com a Constituição Federal.

2. Portanto, pela só razão de haver, nas ações civis públicas, espécie de competência territorial absoluta - marcada pelo local e extensão do dano -, isso não altera, por si, a competência (rectius, jurisdição) da Justiça Federal por via de disposição infraconstitucional genérica (art. 2º da Lei n. 7.347/1985). É o próprio art. 93 do Código de Defesa do Consumidor que excepciona a competência da Justiça Federal.

3. O litisconsórcio facultativo comum traduz-se em verdadeiro cúmulo de demandas, que buscam vários provimentos somados em uma sentença formalmente única (DINAMARCO, Cândido Rangel. Litisconsórcio. 8 ed.

São Paulo: Malheiros, 2009, p. 86). Sendo assim - e levando-se em conta que "todo cúmulo subjetivo tem por substrato um cúmulo objetivo" (idem, ibidem), com causas de pedir e pedidos materialmente diversos (embora formalmente únicos) -, para a formação de litisconsórcio facultativo comum há de ser observada a limitação segundo a qual só é lícita a cumulação de pedidos se o juízo for igualmente competente para conhecer de todos eles (art. 292, § 1º, inciso II, do CPC).

4. Portanto, como no litisconsórcio facultativo comum o cúmulo subjetivo ocasiona cumulação de pedidos, não sendo o juízo competente para conhecer de todos eles, ao fim e ao cabo fica inviabilizado o próprio litisconsórcio, notadamente nos casos em que a competência se define ratione personae, como é a jurisdição cível da Justiça Federal.

5. Ademais, a conexão (no caso inexistente) não determina a reunião de causas quando implicar alteração de competência absoluta e "não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado" (Súmula n. 235/STJ).

6. Recurso especial não provido. (REsp 1120169/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 15/10/2013)

Súmula 489 STJ: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas nesta e na Justiça estadual.

5. Competência na ACP

5.3. Critério valorativo: não há (nacionalmente) (3º, I da Lei 10.259/2001 e 2º, § 1º, da Lei 12.153/2009)

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Sabemos que existem os Juizados Especiais Federais que cuidam de causas contra a União, autarquias federais e empresas públicas federais até 60 salários-mínimos e temos os Juizados Especiais da Fazenda Pública que cuidam de causas contra o Município, Estado, autarquias municipais e estaduais e empresas públicas municipais e estaduais até 60 salários-mínimos. Poderia ter uma ACP de até 60 salários-mínimos para o âmbito do JEF e do JEFP? Não há, porque os seguintes dispositivos expressamente excluem o cabimento de ação coletiva na tutela dos difusos, coletivos e individuais homogêneos perante os Juizados, sempre sendo da Justiça Comum.

Primeiramente, esse critério de valor da causa não ter utilidade na ACP é só do ponto de vista nacional. Em determinado Estado, podemos ter regras de critério valorativo para definir competência de órgãos da Justiça Estadual, como temos, por exemplo, na Capital de São Paulo e seus foros regionais.

Em segundo lugar, devemos ter cuidado porque a vedação desses dispositivos é para as ações coletivas. Nada impede a propositura de ações individuais, ainda que de casos que envolvem direitos individuais homogêneos, no âmbito do JEF e JEFP, como o caso do Microvlar, dos expurgos inflacionários ou do lote do carro com defeito.

Art. 3o Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.

§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos.

§ 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:

I – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos;

II – as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas;

III – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.

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5.4. Critério territorial (02 posições)

Já sabemos que é primeira instância porque não temos critério funcional hierárquico, já sabemos que vai ser na Federal, na Trabalhista ou na Estadual Comuns porque os Juizados não atuam. Falta definir o local.

a) Aplica-se o art. 93 do CDC para difusos, coletivos e IH (competência absoluta) (insuficiência legal do critério – uso da regra da prevenção!)

Essa é a posição majoritária porque vai nos dizer que o art. 93 do CDC é a regra geral de competência que temos no sistema, se aplicando para os difusos, coletivos e individuais homogêneos. Essa primeira posição diz ainda que essa regra é de competência absoluta e, por isso, segue o art. 64 do CPC, em que o juiz pode pronunciar de ofício a competência, não se prorroga, não se sana o vício, se for violada pode caber ação rescisória, etc.

Se o dano for local, a competência será no local do dano ou no local onde ocorreria o dano, no caso de ações preventivas. Se o dano for regional, o art. 93 do CDC vai estabelecer que a ação pode ser ajuizada na capital do Estado que foi atingido pelo dano. Se o dano, por sua vez, for um dano nacional, podemos ter o ajuizamento na capital do Estado atingido pelo dano ou no DF.

Exemplos: um dano ambiental em Ribeirão Preto/SP, a ACP ambiental será ajuizada em Ribeirão Preto/SP.

Se teve um dano aos consumidores de uma propaganda enganosa feita na cidade de São Paulo, será ajuizada em São Paulo. Se o dano pelo comportamento de uma empresa pública estadual atingiu o Estado de Minas Gerais inteiro, a ação será ajuizada em Belo Horizonte/MG. Se uma empresa de telefonia causou dano no Brasil inteiro, a ação será ajuizada na capital de um dos Estados em que ela atua ou no DF.

E os casos que atingem apenas parte de um Estado ou apenas a região Sul e Sudeste do Brasil? As coisas complicam e, por isso, é muito ruim esse critério legislativo. Assim, tem prevalecido a ideia da prevenção, com a ressalva de que, se a capital foi atingida, ela tem preferência no julgamento da ação.

Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando- se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

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