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Aposentadoria dos professores: análise de critérios e custeios de benefícios previdenciários

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CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

JOÃO LENNON DOS SANTOS LEMOS

APOSENTADORIA DOS PROFESSORES: ANÁLISE DE CRITÉRIOS

E CUSTEIOS DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

NATAL/RN

2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

DEPARTAMENTO DE DEMOGRAFIA E CIÊNCIAS ATUARIAIS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

JOÃO LENNON DOS SANTOS LEMOS

APOSENTADORIA DOS PROFESSORES: ANÁLISE DE CRITÉRIOS

E CUSTEIOS DE BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

Monografia apresentada ao Centro de Ciências Exatas e da Terra da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN como trabalho de conclusão da graduação do curso de Ciências Atuariais.

Orientadora: Prof. Cristiane Silva Corrêa.

NATAL/RN

2015

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Dedico o estudo à Maria Nizete dos Santos Lemos. Mãe, professora e educadora.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por me proporcionar saúde e força de vontade em todos os momentos da minha vida. Ao meu pai Francisco Lemos (em memória), que me formou, da mesma maneira que a minha mãe, Maria Nizete, com o amor e apoio incondicional. Agradeço à minha irmã Maria Amélia e sua família, incluindo minha futura sobrinha Giovanna. À minha futura esposa Thayse Zingra, pelo apoio, amor e carinho. Aos meus primos, amigos e demais familiares, com os quais compartilho momentos inesquecíveis. Aos colegas de trabalho, pela amizade e cordialidade. Agradeço à professora Cristiane Silva Corrêa pela orientação e todos os outros docentes que contribuíram para a minha formação.

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“It is only through labor and painful effort, by grim energy and resolute courage that we move on to better things.”

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RESUMO

A profissão docente, em toda sua diversidade, é inserida em um contexto político e social que colabora para seu tratamento diferenciado em relação à outros profissionais quanto aos critérios de elegibilidade à aposentadoria. Outro fator pertinente ao exercício da função, é a insalubridade constatada por diversos estudos que justificam essa distinção. Nesse plano, o presente estudo faz uma abordagem histórica da profissão e propõe uma análise de planos de benefícios em diferentes cenários a fim de elencar possíveis padrões previdenciários aos professores. A análise, de caráter atuarial, engloba a definição de 4 cenários diferentes de aposentadoria (aposentadoria especial, aposentadoria normal, aposentadoria normal com insalubridade e aposentadoria especial com insalubridade), aplicados, cada um, à ambos os sexos em planos de Contribuição Definida e de Benefício Definido. Os resultados apresentam o impacto atuarial para os professores da adoção de cada cenário em relação ao valor presente dos benefícios futuros, ao salário de benefício, à razão montante acumulado em relação ao salário, ao custo normal e à alíquota de contribuição.

Palavras-chave: Previdência. Aposentadoria dos professores. Equilíbrio financeiro. Equilíbrio atuarial.

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ABSTRACT

The teaching profession in all its diversity is inserted into a political and social context that contributes to its differential treatment in the retirement eligibility conditions in relation to other professionals. Other factors relevant to the exercise of the function is the unhealthiness, found by several studies that justify this distinction. In this environment, this study makes a historical approach of the profession and suggests a benefit plan analysis on different scenarios in order to list possible pension standards for teachers. The analysis has an actuarial method and is seen in 4 different scenarios of retirement (special retirement, regular retirement, regular retirement with unhealthy additional and special retirement with unhealthy additional), applied to both sexes in Defined Contribution and Defined Benefit plans. The results show the actuarial impact of teachers on the adoption of each scenario in relation to the present value of future benefits, benefit salary, cumulative amount ratio with respect earnings, normal cost and contribution rate.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Montante acumulado em Contribuição Definida por modelo de aposentadoria e sexo ... 48 GRÁFICO 2 – Remunerações iniciais e de benefício em Contribuição Definida por modelo de aposentadoria e sexo ... 50 GRÁFICO 3 – Montante/salário por sexo e modelo de aposentadoria em planos por Contribuição Definida ... 51 GRÁFICO 4 – VPBF aos 25 anos de idade por modelo de aposentadoria e sexo em Benefício Definido ... 52 GRÁFICO 5 - Custo Normal (CN) por modelo de aposentadoria e sexo por Benefício Definido– Evolução do Custo Normal (CN) por modelo de aposentadoria e sexo por Benefício Definido ... 54 GRÁFICO 6 - Remunerações iniciais e de benefício em Benefício Definido por modelo de aposentadoria e sexo ... 55 GRÁFICO 7 – VPBFy e Salário de Benefício masculino por modelo de aposentadoria em Benefício Definido ... 56 GRÁFICO 8 – VPBFy e Salário de Benefício feminino por modelo de aposentadoria em Benefício Definido ... 57 GRÁFICO 9 – Comportamento de variáveis por BD no modelo de aposentadoria A para o sexo masculino ... 57 GRÁFICO 10 – Passivo atuarial de modelos de aposentadoria A e D para ambos os sexos por contribuição definida ... 59

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Percentuais de retorno salarial de professores do ensino fundamental

(Brasil – 2004 a 2008) ... 22

FIGURA 2 – Professores das Etapas da Educação Básica segundo o Sexo (Brasil – 2007) ... 23

FIGURA 3 - Salas de aula com penosidade em relação à temperatura por categoria de ensino ... 28

FIGURA 4 – Estrutura da Seguridade Social ... 31

FIGURA 5 – Modelo de aposentadoria A ... 41

FIGURA 6 - Modelo de aposentadoria B ... 42

FIGURA 7 – Modelo de aposentadoria C ... 42

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Condições de trabalho referido pelos professores da rede particular de ensino ... 25 TABELA 2 – Distribuição percentual de frequência das doenças relacionadas ao trabalho ... 27 TABELA 3 - Alíquota calculada por modelo de aposentadoria em Benefício Definido ... 53

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15 2 REVISÃO DE LITERATURA ... 18 2.1 A profissão ... 18 2.2 O ambiente de trabalho ... 24 2.3 Legislação e previdência ... 30

2.3.1 A Seguridade Social no Brasil ... 31

2.3.2 Previdência social ... 33

2.3.3 Mudanças e propostas recentes ... 38

3 METODOLOGIA ... 40

3.1 Informações e modelos para análise ... 40

3.2 Método atuarial ... 43 3.2.1 Contribuição Definida ... 43 3.2.2 Benefício definido ... 45 4 RESULTADOS ... 48 4.1 Contribuição Definida ... 48 4.2 Benefício Definido ... 51

4.3 Contribuição Definida e Benefício Definido - comparativo ... 60

5 CONCLUSÃO ... 61

REFERÊNCIAS ... 64

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INTRODUÇÃO

Definida como especial, a aposentadoria dos professores sempre teve tratamento diferenciado no campo previdenciário (WEBER, 2015). Após alterações na forma de concessão (BRASIL, 1998), a regulamentação tornou-se imprecisa, não estabelecendo razão específica para o tempo de contribuição reduzido e condicionando o benefício aos docentes que exercem atividade nas categorias de ensino infantil, fundamental e médio (SILVA; PEREIRA, 2013). As mudanças geram controvérsias porque deixam de levar em conta que todo professor, seja da rede privada ou pública, do ensino fundamental ou superior, exercem atividades semelhantes (PRADO; PRADO, 2011). Ainda, em relação à outros profissionais, o benefício dos professores requer fundamentação técnica mais efetiva (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2009).

A condição específica à aposentadoria dos professores passou a ser restrita aos docentes de ensino infantil, fundamental e médio, quando a garantia da sustentabilidade do sistema previdenciário “deixou de ser somente uma exigência econômica e passou a ser, também, uma exigência constitucional” (VAZ, 2009, p. 33). As mudanças no direito previdenciário dos professores foram marcadas pela Emenda Constitucional nº 20 de 1998, aprovada com necessidade de ajustes fiscais para assegurar o equilíbrio financeiro e atuarial dos regimes de previdência (NAJBERG; IKEDA, 1999; RABELO, 2001). Diante do estabelecimento de critérios para o tratamento previdenciário equiparado aos que exercem uma função equivalente e do efetivo equilíbrio atuarial dos regimes de previdência brasileiros, o presente estudo propõe uma análise de caso para uma avaliação de outros critérios de elegibilidade aos benefícios previdenciários dos docentes.

Quanto à influência atuarial do docente em um fundo previdenciário, Nogueira (2012) observou que o número de professores com direito a aposentadoria especial equivalia a 7,2% do total de servidores dos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) no país, mas poderia chegar até 21,9% em alguns municípios. O elevado número de professores nos estados e municípios pesa no custo atuarial dos RPPS

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(BERTUSSI; TEJADA, 2003; RUDOLPH, 2014), agravado pela ocupação da profissão ser em até 89,6% composta por mulheres (NOGUEIRA, 2012), as quais têm o direito de se aposentarem com 5 anos a menos de contribuição que os homens (BRASIL, 1988).

Giambiagi e Afonso (2009) estudaram alíquotas de contribuição no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e constataram a necessidade de modificações que sejam pautadas no período contributivo dos segurados. Rocha e Caetano (2008) analisaram alíquotas brasileiras em comparação à outros países, verificaram que o Brasil possui altos valores para uma população jovem e concluíram que elevados custeios geram gastos maiores aos empregadores, levando a uma redução do emprego formal e consequente influência no crescimento do país.

Nesse contexto, a discussão do tema visa contribuir na igualdade no direito previdenciário dos professores e nas possíveis aplicações práticas na gestão dos regimes previdenciários, possibilitando encontrar caminhos mais eficazes em uma eventual reforma da previdência. Assim, espera-se constituir o padrão da aposentadoria sem afetar a garantia de equilíbrio financeiro e atuarial, objetivo dos regimes de previdência (LIMA; GUIMARÃES, 2009). Além disso, a análise compreende as posições conceituais sobre a natureza da aposentadoria dos professores, que se argumentam tanto nas condições de trabalho inadequadas e ao desgaste ao longo da carreira (NOGUEIRA, 2012) como na nobreza atribuída à função (PRADO; PRADO, 2011).

O presente trabalho estabelece uma análise de modelos para aposentadoria dos professores, fornecendo opções para uma melhoria na aplicabilidade de normas que possam diminuir diferenças existentes na previdência, ainda que tenham outras já agregadas à carreira, como salários, formação acadêmica e condições de trabalho (INEP, 2003; INEP, 2009). Para tanto, um estudo de caso é proposto para analisar o impacto atuarial no benefício e na contribuição previdenciária de períodos contributivos diferentes, além da inclusão de um adicional agregado ao salário enquanto lecionar, equivalente ao grau médio de insalubridade pago aos profissionais que trabalham em condições especiais estabelecidas por lei.

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Para a elaboração de modelos previdenciários e análise de seus resultados, o presente trabalho explica no capítulo seguinte o histórico da profissão, acompanhado da exposição de justificativas científicas para uma possível categorização de insalubridade na atividade docente. No mesmo capítulo, as alterações legislatórias que afetaram os professores são explicadas, seguidas de uma breve abordagem da seguridade social brasileira, que possui os regimes previdenciários em sua composição, integralmente vinculados ao direito constitucional e a políticas assistencialistas.

A metodologia adota cenários de aposentadoria em diferentes formas de financiamento, período contributivo e sexo. Por meio de cálculos atuariais, obtemos resultados da acumulação de capital, custeio de planos e valores salário de benefício em relação às variáveis do salário e tempo de contribuição. A partir desses resultados, inferimos possibilidades científicas que indicam o impacto atuarial dos professores em regimes previdenciários e o comportamento de benefícios em novos cenários.

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2

REVISÃO DE LITERATURA

O conceito de aposentadoria vem mudando ao longo do tempo, assim como as condições sociais e as expectativas individuais de cada cidadão brasileiro (ROESLER; SOARES, 2010). Do ponto de vista previdenciário, a necessidade de uma legislação que considere a sustentabilidade financeira influenciou algumas restrições na concessão de benefícios, quando passou a ser instituído o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, dados por Emendas Constitucionais (VAZ, 2009).

Há o questionamento sobre a salubridade da profissão docente, que é constantemente acometida por doenças ocupacionais (FERREIRA, 2008) e psicossociais, independentemente do nível de ensino (CARLOTTO, 2011). Mas, a especificidade dos professores no campo previdenciário está além de questões insalubres. Há um histórico político, social e cultural que colabora para a necessidade da valorização do professor e na busca de melhoria nas condições de trabalho (NOGUEIRA, 2012).

O conhecimento do histórico da profissão, dos males que atingem o professor durante o exercício da função e da legislação pertinente aos regimes de previdência facilitam a compreensão das aplicações referentes aos cálculos, resultados e conclusões do presente estudo e são, portanto, apresentados na próxima seção.

2.1 A profissão

Muitas mudanças permeiam a carreira docente, no meio laboral e também social. O professor, por processos educacionais que se estendem à condição psicológica e cultural de cada profissional, tem o poder de formar opiniões políticas, comportamentais e instigar o pensamento crítico de seus alunos (NÓVOA, 1999), além de ter importância econômica em função de estar entre as profissões com maior número de empregos formais no Brasil (GATTI; BARRETO, 2009).

A profissão, que define parâmetros de ciência, política e sociedade envolvidas em uma série de atividades de pesquisa e planejamento (MARQUES, 2009), tem ampla definição. Rosa (1999) revela que a definição da profissão não é uma tarefa fácil, mas explica de forma objetiva referente ao lado funcional: Professor é alguém que ensina algo a outrem. Tunes et al. (2005) explicam que o processo de

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aprendizagem consiste em uma ajuda e, se o ajudante for professor, será de forma planejada e sistemática.

O reconhecimento da importância da educação e do professor, inserido como ferramenta primordial dos processos educacionais, está exposto no Artigo 1º da Lei 9.394 de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação):

“A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.” (BRASIL, 1996).

Em um aspecto técnico, a mesma lei trata, em seu artigo 21, da composição da educação escolar, dividindo em 2 partes: educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; e educação superior. No Artigo 21, a Lei exige que o educador tenham curso médio na modalidade normal para atuar nas primeiras séries da educação infantil; no Artigo 67, está exposto que a experiência na docência é requerida para qualquer outra função de magistério, logo, a Lei nº 11.301 alterou este Artigo para estender critérios constitucionais aos cargos de direção, coordenação e assessoramento pedagógico; O Artigo 43 caracteriza a formação de profissionais em diferentes áreas de conhecimento como finalidade do ensino superior (BRASIL, 1996; BRASIL, 2006).

A disponibilidade do ensino pode ser pública ou privada e em ambas as instituições devem seguir as orientações jurídicas previstas na Constituição Federal. Para lecionar, o educador terá de ter habilitação legal e registro no Ministério da Educação, para atender as regras previstas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) no Artigo 317, expondo que “o exercício remunerado do magistério, em estabelecimentos particulares de ensino, exigirá apenas habilitação legal e registro no Ministério da Educação” (BRASIL, 1943).

Ainda assim, de uma forma geral, são considerados professores aqueles que ensinam arte, ciência, disciplina, técnica, ginástica, natação e outras, independente de possuir certificado de habilitação (JOAQUIM, 2008). Os que exercem suas atividades sem vínculo empregatício são categorizados como autônomos, como

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disposto na Lei nº 5.890 de 1973 (BRASIL, 1973). No parâmetro discutido no presente estudo, o professor em evidência é o que exerce sua função em sala de aula de instituição de ensino básico ou superior, que prepara o conteúdo a ser lecionado, transfere o conhecimento científico e acompanha o aprendizado dos seus alunos.

No exercício da função, demandas educacionais atreladas à evolução da humanidade, acrescentam atribuições ao professor. Requisitos mínimos, como uma cultura geral mais ampliada e conhecimento de inovações tecnológicas, passaram a ser exigidos dos docentes (LIBÂNEO, 1998). Novas metodologias educacionais foram implementadas ao decorrer do tempo, necessárias para adequações à realidade social, política e econômica em cada época. Hoje, novos métodos pedagógicos são constantemente demandados e, com as novas exigências do mercado, existe ainda a crescente necessidade de reestruturação da profissionalização do professor (DARTORA, 2014).

A interdisciplinaridade, por exemplo, é um fator que oferece uma nova postura diante do conhecimento e faz o professor tornar-se mais apto às constantes mudanças na estrutura de ensino, caracterizada por um novo modo de lidar com o conhecimento (SILVA; PINTO, 2009). Essa contextualização começou a ser abordada no Brasil a partir da LDB Nº 5.692 de 1971 e ampliada com a LDB Nº 9.394 de 1996, para se atender à novas condições de aperfeiçoamento pedagógico (BRASIL, 1996). Hoje, “os professores têm de procurar ser generalistas: conhecerem muito além de sua área de ensino para poder ensinar e compreender uma nova geração de alunos, que necessita de uma nova geração de professores” (ROMÃO, 2005, p. 2).

Os novos métodos pedagógicos não têm essência exclusiva na educação. O professor em outros tempos tinha poder integral em sala de aula, mas quando o ensino passou a ser aplicado em escolas e universidades particulares, o aluno passou a ser tratado como um consumidor de serviços. Assim, as instituições de ensino passaram a responder a exigências e criou-se uma política de tratar o aluno como cliente (SILVA; PEREIRA, 2013).

Dartora (2014) explana o efeito proletarização do professor, quando o profissional passou a funcionar como agente ativo da educação por consequência de

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novas políticas adotadas para o alcance de metas capitalistas. A autora ainda pontua que a educação se tornou instrumento para o conhecimento diante do objetivo de ampliar a produção industrial. A educação, em especial no sistema público, mostra uma visão mercantil que ainda predomina nas políticas e nas ações do poder dirigente do país (PARO, 2002).

Martins (1984) faz uma análise política da profissão e conclui que o próprio professor se sente alheio à atividade que pratica, se considerando apenas um instrumento para a execução de um objetivo, não sendo o criador de sua atividade e realizando apenas o que lhe é encomendado, por meio de propósitos e métodos que não lhe pertencem. Freire (2011) diz que, quando não há pensamento crítico, o professor se torna um “intelectual memorizador”, se tornando mais um repetidor de frases e de ideias do que um desafiador. Libâneo (1998) defende que é preciso resgatar o professor e reconfigurar as características da profissão na busca da identidade profissional.

Diante do currículo histórico da educação e do professor, inseridos em um ambiente político, econômico e social dinâmicos, o fator salubridade também se mantém presente na carreira e reinvindicações do profissional. As condições em que o trabalho é realizado estão relacionadas à qualidade do ensino que será ofertado e, consequentemente, afetarão diretamente a missão proposta pela educação (PRADO; PRADO, 2011).

Além das diferenças no direito previdenciário, a diferença salarial atrelada ao grau de escolaridade, ao tipo de escola e sexo do professor são fatores pertinentes à carreira. A Figura 1, proveniente do estudo de Becker e Kassouf (2012), mostra o percentual do retorno salarial (obtido por meio de médias de remunerações em função da escolaridade) dos professores do ensino fundamental no Brasil de 2004 a 2008. Além das variações com o tempo de especialização, os resultados mostram diferenças em função do sexo e tipo de instituição. Verificamos que o salário das mulheres é menor em relação ao salário dos homens e que elas não são proporcionalmente recompensadas com a qualificação.

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FIGURA 1 – Percentuais de retorno salarial de professores do ensino fundamental (Brasil – 2004 a 2008)

Fonte: Becker e Kassouf (2012)

Na Figura 1, as tonalidades indicam o tempo de qualificação do profissional, que oferece retorno maior aos homens, independentemente do tipo de instituição. Também se verifica a disparidade na remuneração entre os professores de instituições públicas e privadas. De acordo com a figura, o perfil de professor mais bem pago é do sexo masculino, de uma instituição privada de ensino com 15 anos ou mais de qualificação. Já o menos recompensado é um profissional do sexo feminino de uma instituição pública com 12 anos de qualificação.

Esses dados fornecem uma realidade maior no estudo Gatti e Barreto (2009), que verificaram, com dados do sistema de Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que dos 2.949.428 postos de trabalho para professores e outros profissionais de ensino em 2006, 82,6% provinham de estabelecimentos públicos. Com registros do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), os autores confirmam que 77% dos professores eram do sexo feminino e no país a profissão representa 15,9% dos empregos femininos naquele ano.

A Figura 2, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), no estudo exploratório sobre o professor brasileiro com resultados do

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Censo Escolar da Educação Básica em 2007 (INEP, 2009), detalha esses números por níveis de ensino básico.

FIGURA 2 – Professores das Etapas da Educação Básica segundo o Sexo (Brasil – 2007)

Fonte: MEC/Inep/Deed

Pela Figura 2, verificamos a predominância feminina no mercado de trabalho docente da educação básica. Essa maioria do sexo feminino mostra uma relação avessa do ponto de vista atuarial, porque as mulheres tem direito a aposentadorias reduzidas em cinco anos na idade e no tempo de contribuição, além de possuírem expectativa de vida maior em relação aos homens (NOGUEIRA, 2012).

O contexto histórico da profissão pode explicar o porquê dos benefícios de aposentadoria ao professor serem diferenciados. Contudo, o capítulo seguinte mostra que a atenção ao profissional se estende à forma que este exerce sua função e os males que são estudados para ampara-lo, seja por meios de prevenção ou por redução na jornada de trabalho. Alguns autores justificam como profissão insablubre, enquando há a questão do benefício ter se tornado restrito à outras classes de ensino como forma de compensação ao possível salário inferior recebido ao longo de sua vida produtiva, comparado ao de outras categorias (BECKER, 2008).

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2.2 O ambiente de trabalho

Essa seção aborda conteúdos que justificaram a decisão inicial de classificar a profissão como ocupação penosa, considerada especial para fins previdenciários no código 2.1.4 do Anexo ao Decreto nº 53.831/64 (BRASIL, 1964), a revogação do direito pela Emenda Constitucional nº 18 de 1981 e outros estudos que explicam a insalubridade presente no ambiente de trabalho.

As condições em que o professores mobilizam suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas (GASPARINI et al., 2005) estão ligados à decorrência de enfermidades e influenciam discussões referentes aos direitos previdenciários conquistados e retirados do professor.

A salubridade e penosidade são fatores que classificam a aposentadoria especial. A ocupação penosa é definida por José (2009) como uma modalidade de indenização para atividades que não causam danos efetivo à saúde do trabalhador, mas tornam o exercício profissional mais sofrido. A mesma autora explica que as profissões insalubres são aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância.

Hoje, o Ministério da Previdência Social categoriza aposentadoria especial como benefício concedido ao cidadão que trabalha exposto às condições ambientais incomuns (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2013a). Ainda que já tenha sido considerada função penosa em 1964 (BRASIL, 1964) e chamada de especial (WEBER, 2015; NAJBERG; IKEDA, 1999), a aposentadoria dos professores não se enquadra nesses tipos de aposentadoria (BRASIL, 1997). Após a aprovação da Emenda Constitucional nº 18 de 1981, o benefício do tempo de contribuição reduzido foi determinado a qualquer profissional que exercesse funções de magistério, mas a profissão deixava de ser considerada penosa (BRASIL, 1981).

As profissões que são categorizadas como insalubres, recebem o adicional de salubridade, que é previsto no artigo 189 do Decreto-Lei nº 5.452 de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O adicional é de direto ao funcionário quando houver identificação de condições de trabalho acima dos limites de tolerância

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estabelecidos pelo Ministério do Trabalho. O valor pode ser de 10%, 20% ou 40% sobre o salário mínimo vigente, para os graus mínimo, médio e máximo de salubridade, respectivamente (BRASIL, 1943).

Verificando fatores que possam justificar a insalubridade, um estudo realizado em escolas do ensino particular da educação básica de Salvador/BA por Silvany Neto et. al (2000), mostra os aspectos positivos e negativos da profissão, além da porcentagem dos professores entrevistados que votaram. A Tabela 1 mostra esse resultado.

TABELA 1 - Condições de trabalho referido pelos professores da rede particular de ensino

Fonte: Silvany Neto et. al (2000)

Sim n (%)

Aspectos Positivos

Boa relação com os colegas 571 97,9%

Autonomia no planejamento das atividades 559 89,8%

Satisfação profissional 560 88,8%

Banheiro privativo 570 83,2%

Existência do espaço para descanço 561 68,4%

Aspectos Negativos

Organização e Processo de trabalho

Ritmo acelerado de trabalho 554 60,6%

Fiscalização de desempenho 551 61,9%

Ambiente intranquilo e estressante 556 35,8%

Tempo insuficiente para refeições diárias 554 30,0%

Pressão da direção 560 16,3%

Condições estruturais e materiais para realização das atividades

Desempenho de atividade sem material adequado 552 26,8%

Salas inadequadas 563 25,8% Mobiliário inadequado 560 21,6% Piso escorregadio 562 11,9% Condições ambientais Poeira (pó de giz) 563 62,0% Calor 566 26,0% Posição incômoda 555 20,2% Falta de ventilação 565 19,3% Pouca luz 568 15,1% Umidade 558 10,9%

Outras condições referidas

Desgaste na relação professor-aluno 563 31,8%

Dificuldade de acesso à escola 571 15,9%

Esforço físico 523 78,8%

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Pela tabela percebe-se que tanto os pontos positivos quanto os negativos pontuados no estudo são dependentes de fatores de relacionamento e satisfação, de condições do ambiente de trabalho, instalações e atividades.

Os aspectos referentes ao ambiente, apesar de estar presente nos estudos referenciados, não são os principais motivos das reinvindicações quanto à salubridade. A poeira proveniente do giz, escolhida como fator negativo das condições do ambiente por 62% dos entrevistados não é configurada como insalubre, exposto na Portaria nº 3.214 de 1978 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que aprova as Normas Regulamentadoras, na NR (Norma Regulamentadora) –15 (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 1978).

Como visto no capítulo anterior, a profissão professor tem ampla abrangência, com variações de local e métodos de ensino, não se aplicando apenas à sala de aula. Logo, ao tratar de salubridade, é necessário a análise das condições específicas de cada situação.

Por exemplo, é questionável se o professor universitário de um curso de medicina tem direito a insalubridade por ficar em contato permanente com agentes biológicos em decorrência das aulas ministradas, em práticas com pacientes doentes. Nesse caso, não há insalubridade referenciada na legislação, mas em 2014, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul (TRT-RS) condenou uma universidade a pagar adicional de insalubridade em grau máximo para um professor do curso de medicina. Segundo o site do Tribunal, o funcionário alegou que ao lecionar disciplinas práticas estava em contato com pacientes do hospital que possuíam doenças infectocontagiosas (MACHADO, 2014). A análise de cada situação é dada pelo médico perito, que emite o parecer sobre a salubridade do exercício da profissão (MELO; ASSUNÇÃO, 2003).

Outras queixas que endossam o pleito dos professores estão relacionadas ao uso da capacidade física: dores nas costas, pernas e nos braços, que podem ser ocasionadas por longos períodos de pé, carregar material didático e por se deslocar constantemente de um local para outro, como detalha Lima e Lima-Filho (2009) na

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classificação das doenças musculoesqueléticas em professores de uma universidade federal, na Tabela 2 abaixo.

TABELA 2 – Distribuição percentual de frequência das doenças relacionadas ao trabalho

Fonte: Lima e Lima-Filho (2009)

Doenças decorrentes de sobrecarga no sistema musculoesquelético aparecem como as principais causas de afastamento do trabalho e de doenças de professores (CARDOSO et al., 2009; GASPATIN et al., 2005). Ribeiro (2008) revela que os males musculoesqueléticos já são considerados como um problema de saúde pública e os afastamentos do trabalho representam um alto custo social. O uso da voz por professores, por exemplo, por acarretar em alterações importantes nas laringes como nódulos, cistos, pólipos e edemas, podendo ter como consequência a disfonia irreversível (ROBERT, 2012).

A insalubridade do exercício da profissão é intensificada pelo meio em que o docente exerce sua função, podendo variar de acordo com a infraestrutura e instalação da sala de aula. Ferreira (2008) analisou fatores relacionados ao ambiente profissional com base nas Normas Regulamentadoras pertinentes às exigências de salubridade. Os dados foram obtidos de salas de aula de instituições de ensino

LER

23,10%

Tendinite

17,90%

Estresse

10,30%

Dor nas costas

10,30%

Depressão

7,70%

Gramelona nas cordas vocais

5,10%

Alergia

5,10%

Problema oftalmológico

5,10%

Outros

15,40%

Total

100%

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fundamental, médio e superior da rede pública e privada localizadas na cidade do Rio de Janeiro. A Figura 3, proveniente desse estudo, faz uma avaliação dos riscos ocupacionais no ambiente de trabalho dos professores, mostra a insalubridade e/ou penosidade em relação à temperatura em sala de aula nos diferentes níveis de ensino.

FIGURA 3 - Salas de aula com penosidade em relação à temperatura por categoria de ensino

Fonte: Ferreira (2008)

As salas de aula das categorias de ensino analisadas apresentaram elevado grau de penosidade e insalubridade. É importante inferir que a falta de condições ideais independem do tipo de instituição e grau de ensino. Esse resultado fortalece a semelhança das condições de trabalho as quais colaboram para solicitação do direito ao benefício de contribuição reduzida.

Nem todas as doenças que prejudicam a saúde ou a integridade física do professor são provenientes de características ambientais do local de trabalho. Situações que levam ao estresse psicológico são mensuradas, pois os educadores correm o risco de sofrer esgotamento físico ou mental, diante das dificuldades materiais e psicológicas associadas ao exercício da atividade laboral (GASPARINI et al., 2005).

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Com relação às profissões que mais apresentam doenças ocupacionais em nível mundial de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a atividade do professor é categorizada como uma das mais estressantes, com forte incidência de elementos que conduzem à síndrome de Burnout (BATISTA et al., 2010).

Essa síndrome também é conhecida como a doença do esgotamento profissional, decorrente de um nível elevado de estresse no ambiente de trabalho, desencadeando vários sintomas, inclusive a perda da motivação para o trabalho (GARCIA, 2013).

Os elementos que mensuram esse transtorno psicológico são baixa realização profissional, exaustão emocional e despersonalização. Carlotto (2002) avaliou professores de escolas da região metropolitana de Porto Alegre/RS e verificou índices de 28,9%, 5,6% e 0,7% desses elementos, respectivamente. Batista et al. (2010) em um estudo com escolas municipais da cidade de João Pessoa/PB verificaram índices de 56,6, 36,60 e 8,3%, na mesma sequência.

Além da síndrome de Burnout, o assédio moral é outro problema associado ao transtorno psicológico na atividade docente. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) classifica esse fenômeno como conduta negativa que fortalece a discriminação no trabalho, evidenciadas em relações hierárquicas autoritárias (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2009).

A legislação brasileira não prevê como crime o assédio moral, todavia, o acusado poderá ser enquadrado na prática de crime de calúnia e difamação, como disposto nos artigos 138 e 139 do Código Penal, além de poder indenizar o trabalhador prejudicado por dano material, moral e à imagem (BERNARDES, 2008).

O deputado Marcos de Jesus (PL-PE) propôs o Projeto de Lei nº 4.742 que tipifica o assédio moral como crime enquadrado no Código Penal brasileiro no artigo 146 - A. Pela determinação, a pena para quem assediar trabalhador em posição hierárquica inferior, poderá ir do pagamento de multa à detenção, de três meses a um ano (BRASIL, 2001).

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Recentemente, O Deputado Rogério Marinho (PSDB/RN) apresentou um Projeto de Lei (PL 1411/2015) tipificando o crime de assédio ideológico. Apesar da literatura sobre o assunto ser escassa, a notícia provocou repulsa por doutrinar a política e ideologia em sala de aula.

Sousa Filho (2015), do site Carta Potiguar, opina sobre o assunto:

“Ao pretender que aqueles que ensinam o pensamento crítico e reflexivo nas escolas e universidades estariam praticando “assédio ideológico”, com a ameaça de sua criminalização, o deputado potiguar Rogério Marinho age, como verdadeiro capataz da ideologia, em favor de uma educação acrítica, obscurantista, retrógrada e, por isso, impeditiva da formação de verdadeiros cientistas, estudiosos e profissionais capazes de contribuírem com a construção de uma sociedade, no Brasil, culturalmente avançada, politicamente emancipada e sem as misérias que nos sufocam.” (SOUSA FILHO, 2015, p. 1).

Segundo Gasparini et al. (2005), os transtornos psíquicos responsáveis pelo maior número de casos, pontuando ainda que os dados de afastamento não são suficientes para expressar os males vividos pelos funcionários e não é possível estabelecer associações diretas dos problemas de saúde com o exercício da função. Dartora (2014) explica que os males que acometem os profissionais podem gerar questões de responsabilidade civil, o que que pode servir para melhorias das condições de trabalho a fim de evitar mais problemas ocupacionais. As várias leis que regulam a profissão docente ainda não foram capazes de alterar a realidade dos profissionais de forma efetiva pois “diversos estressores psicossociais encontram-se presentes, quer relacionados à natureza de suas funções, quer vinculados ao contexto institucional e social onde estas são exercidas.” (LIMA; LIMA-FILHO, 2009, p. 78).

2.3 Legislação e previdência

Várias regulamentações tratam do sistema previdenciário brasileiro, reformulado significativamente pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e modificado ao longo do tempo por Emendas Constitucionais. As alterações tiveram efeito nas normas da concessão de benefícios, na organização dos regimes de previdência e, pertinente ao presente estudo, no direito dos professores.

A seguir, serão expostos breves conceitos e comentários sobre a estrutura da seguridade social brasileira, em foco os regimes de previdência para a compreensão

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do estudo. Mais à frente, também são expostas novas propostas de mudanças previdenciária, como a lei dos pontos e o Projeto de Lei Nº 7.8113 de 2014.

2.3.1 A Seguridade Social no Brasil

A Seguridade Social, tida como a resposta às necessidades da condição humana por uma igualdade social, vem sendo tratada desde a primeira constituição brasileira, de 1824, quando abordou a importância dos socorros públicos (SPOSATI, 2013).Com a Constituição Federal de 1988, a Seguridade Social ficou definida como um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988). A partir desse ponto, os conceitos de previdência social, saúde e assistência social foram unificados (ARAÚJO, 2006).

De acordo com Bertussi e Tejada (2003):

“A Constituição de 1988 introduziu o conceito de seguridade social na ordem jurídica nacional, incluindo na sua estrutura as políticas de saúde, assistência e previdência social, e atribuiu-lhe um orçamento específico, o da seguridade social, distinto do orçamento fiscal. Na questão previdenciária, no ano de 1988, com a Constituição Federal, criou-se outro marco na garantia de direitos ao cidadão.” (BERTUSSI; TEJADA, 2003, p. 34).

Ainda que os autores expliquem que há uma distinção do orçamento fiscal, muitas restrições econômicas já levaram a significativas reduções do nível de proteção social em muitos países (THOMPSON, 2000).

A Figura 4 mostra como se estrutura a Seguridade Social no Brasil, que engloba políticas contributivas e assistencialistas (não contributivas) (SPOSATI, 2013).

FIGURA 4 – Estrutura da Seguridade Social

Fonte: Elaboração própria

SEGURIDADE SOCIAL

ASSISTÊNCIA SOCIAL PREVIDÊNCIA SOCIAL SAÚDE

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Essa estrutura, de vasto histórico constitucional em cada hierarquia, tem abordagem breve para o acesso ao ambiente previdenciário cujo presente estudo está inserido. A assistência social é uma política pública não contributiva, dever do Estado e direto de todo cidadão (SPOSATI, 2013). A assistência social no Brasil tem critérios estabelecidos na Constituição Federal de 1988 e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) de 1993, que estabelece os objetivos, princípios e diretrizes das ações sociais. No mesmo contexto, a responsabilidade do Estado passou a cobrir o direito de proteção aos idosos, pessoas com deficiência, trabalhadores da agricultura familiar e aos doentes sem acesso à assistência médica previdenciária. Hoje, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) organiza os serviços de assistência social no país, para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (MDS, 2015).

A Lei Nº 12.435 de 2011 estabelece os objetivos da Assistência Social:

“Art. 2º A assistência social tem por objetivos:

I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente:

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;

d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e

e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.

II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos;

III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais.” (BRASIL, 2011).

Os objetivos da Assistência Social elucidam que os benefícios por ela concedidos são destinados àqueles que não possuam recursos para a própria manutenção (MANGUEIRA, 2015).

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A saúde, está estabelecida na Constituição Federal de 1988 como direito de todos e dever do estado. A composição legislativa da saúde inclui a garantia da saúde mediante políticas sociais e econômicas, além do estabelecimento de um sistema único descentralizado que possua atendimento integral e tenha participação da comunidade (BRASIL, 1988). Os serviços de assistência na saúde têm se expandido para oferecer condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde para oferecer maior qualidade de vida ao brasileiro (PORTAL SAÚDE, 2015), independente da capacidade de pagamento (DELGADO et al., 2009).

Os benefícios previdenciários são diferente dos assistenciais. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social. Já os benefícios previdenciários são devidos aos segurados e seus dependentes quando há perda da capacidade laboral do profissional, com contribuição compulsória estabelecida pelos regimes de previdência pública (BRASIL, 1988), que serão detalhatados a seguir.

2.3.2 Previdência social

Regimes previdenciários

A previdência social busca proporcionar condições de subsistência ao trabalhador quando houver interrupção da capacidade de trabalho de forma programável ou não. Thompson (2000) explica que a razão mais importante para a instituição de sistemas previdenciários é para ajudar a garantir um rendimento suficiente na aposentadoria. A previdência brasileira é dividida em três regimes:

 O Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

O RGPS ampara os trabalhadores da iniciativa privada, bem como os facultativos e os servidores públicos que não estão incluídos em um Regime Próprio de Previdência Social. O Regime Geral é gerido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e sua organização está no Artigo 201 da Constituição Federal de 1988, estabelecendo o caráter contributivo e de filiação obrigatória. Em detalhe para a aposentadoria dos professores, o mesmo artigo define, no Parágrafo 8º, que os profissionais que exercerem funções de magistério na educação infantil e no ensino

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fundamental e médio em total e efetivo período de trabalho, terão direito a contribuição reduzida em 5 anos (BRASIL, 1988).

 Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)

Os RPPS são destinados aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e são administrados pelo próprio ente federativo. Assim como o RGPS, tem caráter contributivo e estabelece os direitos a contribuição reduzida aos professores que tiveram tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio no artigo 40, §5 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).

 Previdência Complementar (PC)

A Previdência Complementar é um benefício opcional, administrado por entidades fechadas, como fundos de pensões, ou abertas, como bancos e seguradoras. Proporciona ao trabalhador um seguro previdenciário adicional, sendo uma aposentadoria para garantir uma renda extra ao trabalhador/beneficiário ou proteção contra riscos que interfiram na capacidade laborativa do profissional (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2013b).

Regimes Financeiros

Quanto às formas de financiamento, os regimes de previdência utilizam três formas para administração de recursos: o regime de Repartição Simples, de Capitalização e de Capital de Cobertura. Segundo Rabelo (2001) a forma de financiamento dos recursos constitui uma importante política pública, pois quanto maior o número de benefícios generosos, maior a carga tributária e menor a acumulação de recursos públicos destinados a outras finalidades.

Tanto no RGPS quanto no RPPS, as contribuições são feitas pelo participante e empregador. No RGPS há suporte da União em caso de insuficiência financeira e no RPPS a união contribui com o dobro da contribuição do servidor e pode suplementar valores necessários ao equilíbrio atuarial se for necessário (VAZ, 2009).

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Na Repartição Simples, os participantes ativos fazem contribuições para financiar os benefícios dos inativos. Essa forma de financiamento é utilizada no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e é extremamente dependente às variações demográficas, o que pode resultar no comprometimento da saúde financeira por alteração em variáveis.” (RABELO, 2001).

 Capitalização

A Capitalização é o plano utilizado em Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) e nos regimes de Previdência Complementar (PC). Nesse plano, “cada um receberá proporcionalmente ao que contribuiu, sendo que esse método torna o valor presente das contribuições iguais ao valor presente das aposentadorias que o indivíduo irá receber” (BERTUSSI; TEJADA, 2003, p. 32).

Os sistemas previdenciários em regime de repartição reduzem a poupança nacional agregada, enquanto a Capitalização aumenta esse montante (THOMPSON, 2000), o que gera uma tendência de participação do setor privado na previdência pública e uma preferência por regimes de capitalização em vez do de repartição (NAJBERG; IKEDA, 1999). Todavia, Bertussi e Tejada (2003) explicam que, apesar da necessidade da implantação da Capitalização no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), uma nova regra exigiria grande esforço do poder público tanto para disponibilizar recursos quando para se adequar à práticas legais.

 Capital de Cobertura

O regime de Capital de Cobertura mescla entre repartição e capitalização, pois as contribuições a serem cobradas deverão ser suficientes para ocorrer ao montante de reservas matemáticas constituídas e é utilizado em planos que envolvem pensões e auxílio-reclusão (BERTUSSI; TEJADA, 2003).

Modalidade de plano

Quanto à forma de custear o plano de benefício, as contribuições podem ser uniformes ou relacionadas à renda. Nogueira (2012) explica que os planos para o financiamento dos regimes podem ser por valores de Contribuição Definida (CD), que tem benefício variável resultante do montante das contribuições acumuladas ao longo

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do período contributivo; por Benefício Definido (BD), em que o valor do benefício é previamente estabelecido, os riscos são assumidos pelo plano e se aplicado em um regime de capitalização, tem características semelhantes a poupança individual (THOMPSON, 2000); e por Contribuição Variável (CV), quando são utilizados critérios de CD e BD.

Os planos são avaliados para o melhor atendimento ao equilíbrio financeiro e atuarial de um regime previdenciário. Nos RPPS, a Portaria MPS nº 403 de 2008 diferencia os conceitos pertinente aos equilíbrios do plano:

“I - Equilíbrio Financeiro: garantia de equivalência entre as receitas auferidas e as obrigações do RPPS em cada exercício financeiro;

II - Equilíbrio Atuarial: garantia de equivalência, a valor presente, entre o fluxo das receitas estimadas e das obrigações projetadas, apuradas atuarialmente, a longo prazo” (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2008).

Tipos de benefícios

A aposentadoria, benefício em evidência no presente estudo, pode ser especial, por tempo de contribuição, idade, invalidez ou de forma compulsória. Para os professores que se enquadram no § 5o do Art. 40 (RPPS) e no § 8o do Art. 201

(RGPS) da Constituição Federal, o benefício é por tempo de contribuição, mas diferente de outras aposentadorias pelo direito ao tempo contributivo reduzido. Essa particularidade passou a ser destacada a partir da Emenda Constitucional nº 18 de 1981, que determinou a redução de tempo em cinco anos a todo profissional que tivesse exercido as funções de magistério. A emenda pode ser tomada como o marco da criação de uma aposentadoria por tempo de serviço/contribuição reduzido aos professores (WEBER, 2015).

Particular aos Regimes Próprios, em 1993 foi instituída a Emenda Constitucional nº 03, que estabeleceu o percentual contributivo dos participantes em 11% (BRASIL, 1993). Antes da Emenda, os servidores públicos federais contribuíam apenas com 6% da remuneração (VAZ, 2009).

Cinco anos depois, em 1998, foi constituída a Emenda Constitucional nº 20, sendo um marco fundamental porque inscreveu, pela primeira vez, no texto

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constitucional brasileiro, o conceito de equilíbrio atuarial para os seus sistemas previdenciários (BECKER, 2008).

Entre as principais modificações, merecem destaque: a mudança de anos de serviço para anos de contribuição; a extinção da aposentadoria proporcional por tempo de serviço; mudança da regra de cálculo do valor dos benefícios; o limite mínimo de idade para a aposentadoria por tempo de serviço dos servidores públicos em 60 anos para homens e 55 para mulheres e o fim da aposentadoria especial para professores universitários e aeronautas, que gerou na época uma previsão de economia na ordem de R$ 400 milhões (NAJBERG; IKEDA, 1999). A exclusão dos professores do ensino superior foi considerada como desestímulo aos cargos de maior responsabilidade da carreira docente (DARTORA, 2014 apud DI PIETRO, 2000).

Com as modificações, foi necessário criar regras de transição entre o regime anterior e o novo (LIMA, 2014). Barros (2008) sintetiza que a Emenda separou os segurados do RGPS e servidores públicos do RPPS em três grupos: os que já tinham os requisitos para a concessão dos benefícios, os que não tinham e os que entrariam no serviço após a EC.

Posteriormente, houve a inclusão do direito de aposentadoria especial a diretores de escolas e coordenadores pedagógicos, pela lei nº 11.301 de 2006:

“Art. 1o § 2o Para os efeitos do disposto no § 5o do art. 40 e no § 8o do

art. 201 da Constituição Federal, são consideradas funções de magistério as exercidas por professores e especialistas em educação no desempenho de atividades educativas, quando exercidas em estabelecimento de educação básica em seus diversos níveis e modalidades, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico.” (BRASIL, 2006).

Nos RPPS, foi estabelecida a Lei nº 9.717 em 1998 para organizar o funcionamento, visto que, até então, o valor dos recursos além do necessário ao equilíbrio eram destinados à outros fins, quando começou a causar desequilíbrio nas contas públicas (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2009)

Outra Emenda Constitucional, a nº 41 de 2003, particular aos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), manteve os critérios de idade e tempo de contribuição, mas passou a incluir inativos com salários superiores ao teto do RGPS como

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contribuintes (BRASIL, 2003). Essa Emenda também tratou das regras de transição implementadas pela Emenda Constitucional nº 20 de 1998, o que acarretou em diversas indagações e polêmicas (LIMA, 2014).

2.3.3 Mudanças e propostas recentes

 Emenda Constitucional nº 70

A EC nº 70 foi criada em Março de 2012 e estabeleceu, além de outras determinações, a Previdência Complementar para os RPPS. Para os que ingressarem a partir da vigência da emenda que tiverem remuneração superior ao teto do RGPS teriam que contribuir para um fundo complementar: se os servidores desejam se aposentar e receber acima do teto, também devem contribuir equivalente (LIMA, 2014).

 Projeto de Lei nº 7.813

Com o passar do tempo, com as reformas previdenciárias que antes e hoje ainda se fazem necessárias, a determinação constitucional ficou bem mais limitada. A Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (ANDES) ressalta que os direitos dos docentes aposentados têm sido prejudicados com as reformas da previdência (BARTIRA C. SILVEIRA GRANDI, 2011). O Projeto de Lei nº 7.813 de 2014 tem autoria do deputado do PSD/SC Onofre Santo Agostini e tem o objetivo de alterar o artigo 67 da Lei 9.394 de 1996, que trata das Diretrizes e Bases da Educação. O Projeto de Lei prevê:

“§ 4° Para fins do disposto no §2° deste artigo, fica assegurada a aposentadoria especial, na forma prevista pelo § 5º do art. 40 e pelo § 8° do art. 201 da Constituição Federal, aos detentores de cargo ou emprego de especialista em educação, que comprovem ter, desde a data da admissão, a formação para docência, nos termos exigidos pelo art. 62 desta Lei. § 5° Como especialista em educação entende-se todo aquele que ocupa cargo ou emprego com essa denominação, bem como aqueles que, possuindo a formação exigida pelo art. 64 desta Lei, desenvolvem atividades denominadas como de Administrador, Inspetor, Planejador, Supervisor ou Orientador Educacional, Pedagogo e Profissional de Apoio Pedagógico. § 6° Aos detentores de cargos ou empregos de Diretor, Vice Diretor e Coordenador Pedagógico também fica assegurado o disposto no § 2°, desde que possuam a respectiva formação docente.” (BRASIL, 2014a).

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Para o autor do projeto, estender o benefício do período contributivo reduzido aos demais profissionais da educação gera reconhecimento aos responsáveis pelo ensino no país. Segundo o Projeto de Lei, outros profissionais da educação lidam com atividades extremamente desgastantes já que envolvem não só alunos, mas a família e a comunidade, além da responsabilidade para tratar questões sociais (BRASIL, 2014a).

 Aposentadoria por pontos e fim do fator previdenciário

Um novo cálculo estabelecido pelo Ministério da Previdência Social (MPS) leva em consideração o número de pontos para alcançar os requisitos de aposentadorias, resultados do somatório da idade e tempo de contribuição. Com o total de pontos estabelecidos o valor do benefício será integral, sem influência do fator previdenciário aplicado no Regime Geral de Previdência Social (RGPS), reduzindo o salário de benefício para adequações demográficas (THOMPSON, 2000). Hoje, a regra está em 85 pontos para as mulheres e 95 para os homens. Os pontos irão progredir de acordo com a expectativa de vida dos brasileiros (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2015).

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3

METODOLOGIA

3.1 Informações e modelos para análise

Para a análise serão realizados exercícios contrafactuais na comparação de modelos de aposentadoria proveniente de diferentes tempos contribuição para homens e mulheres, além da inclusão de uma gratificação agregada ao salário base do professor, equivalente ao grau médio pago para profissões consideradas insalubres por lei.

São estabelecidos 4 modelos de aposentadoria, aplicadas por meio dos planos de Contribuição Definida e Benefício Definido. Em todos os casos, foi adotado o regime de Capitalização, atualmente aplicado aos RPPS e planos de Previdência Complementar. Para o custeio do plano, são estabelecidas determinadas premissas atuariais, como a definição do aumento de salários e juros da capitalização. Dessa maneira, o segurado irá receber seu benefício condicionado à contribuições próprias e do empregador, com rentabilidade variável ao tempo de contribuição por um juros anual.

Todos os modelos são analisados para ambos os sexos. O docente sempre inicia o período contributivo aos 25 anos de idade, quando começa sua carreira profissional. Além disso, se estabelece que não há saída do participante por invalidez ou outro motivo, bem como períodos de desemprego durante a vida ativa, mas apenas há saída da situação de contirbuinte por aposentadoria programada.

A partir dos cálculos obtemos resultados de valores de contribuições e benefícios, entre outros intermediários, essenciais ao estudo. O fator previdenciário ou lei dos pontos não são aplicados às aposentadorias em estudo, pois os regimes próprios e complementares não utilizam nenhum dos dois métodos para cálculo do salário de benefício.

O valor do salário base inicial para cálculo é R$ 1.917,78, equivalente ao salário inicial dos profissionais do magistério (educação básica) público em 2015. O valor é referente à jornada de 40 horas semanais (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2015). Assumiu-se, ainda, aumento salarial real de 1% ao ano.

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O valor de 20% de adicional de insalubridade incide sobre o salário mínimo vigente (R$ 788,00 para o ano base, 2015), conforme determina a legislação (BRASIL, 2014b). Por ser um percentual agregado ao salário, o adicional tem influência nas contribuições e consequentemente no salário da aposentadoria. O cálculo atuarial será realizado em contribuições anuais, com fluxos de contribuições posicionados em cada ano futuro de projeção.

As fórmulas utilizadas nesse trabalho empregam variáveis permutadas atuarialmente, denominadas comutações. As tábuas de comutação contêm dados de sobrevivência associados a uma taxa de juros (CORDEIRO FILHO, 2009). A tabela utilizada como referência do presente estudo é a tábua de vida AT-2000 (masculina e feminina) associadas à taxa de juros de 4% ao ano.

O montante acumulado ao fim do período contributivo nos planos de Contribuição Definido fornece uma renda anual ao beneficiário por meio de uma anuidade. Para os planos de Benefício Definido, a remuneração a receber como aposentadoria, denominada salário de benefício, é obtida do cálculo da média dos 80% maiores salários.

A denominação especial nos modelos a seguir faz referência à aposentadoria dos professores com direito ao tempo de contribuição reduzido. Foram adotados 4 modelos ou cenários de aposentadoria.

a) Modelo A: Aposentadoria especial

FIGURA 5 – Modelo de aposentadoria A

Fonte: Elaboração Própria

O modelo é o atualmente aplicado aos professores que possuem aposentadoria especial (lecionam no ensino infantil, fundamental e médio) e contribuem por 5 anos a menos, como dispostos nos Artigos 40 (RPPS) e 201 (RGPS) da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988).

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Os resultados dessa análise servirão como parâmetros principais para a comparação com os outros modelos.

b) Modelo B: Aposentadoria especial com 20% do salário mínimo agregado a título de insalubridade

FIGURA 6 - Modelo de aposentadoria B

Fonte: Elaboração Própria

O modelo B estuda a aposentadoria especial dos professores a partir de um salário com adicional de 20% do salário mínimo agregado. Os dados possuem a mesma base do modelo A, mas com um salário maior.

c) Modelo C: Aposentadoria programável normal

FIGURA 7 – Modelo de aposentadoria C

Fonte: Elaboração Própria

O modelo C resulta no montante acumulado para o professor em estudo contribuindo como os demais profissionais que possuem aposentadorias normais nos regimes de previdência públicas no país, com período contributivo de 30 anos para mulheres e 35 para homens (BRASIL, 1988).

d) Modelo D: Aposentadoria programável normal com 20% do salário mínimo agregado a título de insalubridade

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FIGURA 8 – Modelo de aposentadoria D

Fonte: Elaboração Própria

O modelo D tem o mesmo período contributivo do estudo em C e com o adicional aplicado em B. O modelo D será posto em análise direta com o modelo A.

3.2 Método atuarial

3.2.1 Contribuição Definida

Para o plano de Contribuição Definida deste trabalho fixou-se quanto o empregador e o segurado deverão contribuir (11% para o contribuinte e 22% para o ente federativo, totalizando 33% do salário do professor). Nesse plano não há mutualismo, ou seja, o montante acumulado depende do período de contribuição do segurado e, em caso de morte deste antes da idade estabelecida, o valor é destinado a um beneficiário. Uma vez definida a contribuição, o valor do benefício para os 4 modelos nesse plano será com base em uma renda vitalícia a partir da idade de aposentadoria.

Assumiu-se, ainda, que o salário tem aumento real 𝑠𝑠 = 1% ao ano, com salário anual na idade x, 𝑠𝑥, calculado em relação à idade y, dado por:

𝑠𝑥 = 𝑠𝑦(1 + 𝑠𝑠)𝑥−𝑦

A partir desse valor, obtemos o montante acumulado ao fim do período contributivo para cada modelo e, com o valor, calculamos o valor da renda vitalícia mensal imediata, a ser recebida a partir do término do último ano de contribuição como benefício de aposentadoria.

O valor presente do montante acumulado à idade de aposentadoria r, 𝑀𝑟,

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𝑀𝑟 = ∑0,33𝑠𝑥 𝑣𝑥−𝑦 𝑟−1

𝑥=𝑦

Esse cálculo nos fornece o valor presente do montante na idade de aposentadoria; o valor de 0,33 equivale ao percentual fixo estabelecido de contribuições variáveis com o salário 𝑠𝑥; o fator 𝑣 =

1

1+𝑖 fornece a rentabilidade das

contribuições com juros 𝑖 = 4% ao ano durante 𝑥 − 𝑦 𝑎𝑛𝑜𝑠.

Com o valor do montante acumulado ao fim do período de contribuição 𝑀𝑟, calculamos o valor de uma anuidade vitalícia imediata 𝑎̈𝑥. Cordeiro Filho (2009) define

o cálculo da renda paga pela anuidade 𝑎̈𝑥:

𝑎̈𝑥 = ∑ 𝑛𝐸𝑥

𝑛→𝑤

𝑛=0

=𝑁𝑥 𝐷𝑥

As funções 𝐷𝑥 e 𝑁𝑥 equivalem a funções de sobrevivência como resultado de

operações com valores de 𝑙𝑥 (número de sobreviventes na idade x) e 𝑑𝑥 (número de falecimentos na idade x) da tábua de vida utilizada, associados algebricamente à uma taxa de juros (CORDEIRO FILHO, 2009), e fornecidos por:

𝐷𝑥= 𝑙𝑥 (1 + 𝑖)𝑥

𝑁𝑥= ∑ 𝐷𝑥+𝑡

𝑤

𝑥

O valor de 𝑤 representa a idade final da tábua de vida. Nas tábuas AT-2000 Masculina e Feminina, utilizadas no presente estudo, esse valor é igual a 116. O valor 𝑙0 adotado é 100.000.

O cálculo da renda a receber como salário de benefício, é obtido por meio da seguinte equação (LUCCAS FILHO, 2011):

𝑅𝑒𝑛𝑑𝑎 = 𝐵𝑟 = 𝑀𝑟 𝑎̈𝑟

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Dessa forma, obtemos os valores do valor acumulado na idade de aposentadoria, da anuidade e da renda em um plano de Contribuição Definida.

3.2.2 Benefício definido

O plano de benefício definido especifica um nível de benefício em relação à média dos 80% maiores salários em cada modelo. As contribuições do empregador e do empregado são acumulados para atender o benefício (DICKSON et al., 2009). Para o cálculo, estabelecemos o salário de benefício a fim de verificar o custeio durante o período de contribuição. O valor do benefício e custeio do plano no estudo é aplicado de forma semelhante aos Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS): média dos 80% dos maiores salários. Segundo Corrêa (2014), o valor do salário de benefício para esse caso é dado por:

𝐵𝑟 =

∑𝑟−1𝑖=0,2𝑟+0,8𝑦𝑠𝑖 0,8(𝑟 − 𝑦)

Em que 𝐵𝑟 é o salário de benefício, 𝑟 é a idade de aposentadoria, y a idade de início de contribuição e 𝑠𝑖 o salário na idade i (CORRÊA, 2014). A partir do valor do salário de benefício, definimos a forma de custeio por alocação de custo para a média dos 80% maiores salários e as contribuições são proporcionais ao salário do participante.

De acordo com Dickson et al. (2009), a variação do salários deve ser definida como uma função contínua da idade. Dessa forma, o 𝑠𝑦 é o valor do salário anual em

y, que tem aumento real de 𝑠𝑠 = 1% constante ao ano e o valor acumulado dos salários até a idade x, 𝑆𝑥, é dado pela soma de uma progressão geométrica:

𝑆𝑥= 𝑠𝑦[(1 + 𝑠𝑠)

𝑥−𝑦− 1

(1 + 𝑠𝑠) − 1 ]

Definimos, então, o Valor Presente dos Benefícios Futuros (VPBF) - que nos informa o valor presente atuarial na idade x dos benefícios a serem pagos a partir da idade r - e verificamos como esse valor é amortizado. O valor presente do benefício futuro à idade x, (𝑉𝑃𝐵𝐹)𝑥, é dado por:

(𝑉𝑃𝐵𝐹)𝑥= 𝐵𝑟.𝑟−𝑥𝑝𝑥. 𝑣𝑟−𝑥. 𝑎̈ 𝑟

(45)

Onde .𝑟−𝑥𝑝𝑥 é a probabilidade de x sobreviver até a idade r-x e 𝑣𝑟−𝑥 é o fator

de atuarial de desconto (CORDEIRO FILHO, 2009). Luccas Filho (2011) simplifica o cálculo por comutação:

0𝑛𝐸𝑥= 𝑣𝑛.𝑛𝑝𝑥

O Custo Normal (𝐶𝑁)𝑥 é o valor de contribuição antecipada, a cada ano, necessária para o equilíbrio do plano. Esse valor corresponde às necessidades de custeio do plano de benefícios do RPPS (LIMA; GUIMARÃES, 2009).

(𝐶𝑁)𝑥=

𝑆𝑥(𝑉𝑃𝐵𝐹)𝑦 𝑆𝑦 𝑎̈𝑠𝑦:𝑟−𝑦

Considerando a variação salarial 𝑠𝑠, 𝑎̈𝑠

𝑦:𝑟−𝑦 é a anuidade temporária

antecipada da idade do início até o fim do período contributivo (CORDEIRO FILHO, 2009), dada por:

𝑎̈𝑠

𝑦:𝑟−𝑦 =

𝑁𝑥𝑠− 𝑁𝑥+𝑛𝑠

𝐷𝑥𝑠

A anuidade é calculada considerando 𝐷𝑥𝑠 e 𝑁𝑥𝑠, funções da comutação associadas tanto à taxa de juros 𝑖 quanto a variação salarial 𝑠𝑠 no decorrer do período contributivo, calculadas da seguinte maneira:

𝐷𝑥𝑠 = 𝑙

𝑥. 𝑣𝑥. (1 + 𝑠𝑠)𝑥

𝑁𝑥𝑠 = ∑ 𝐷𝑥+𝑡𝑠 𝑤

𝑥

Com o benefício definido, calculamos a alíquota de contribuição do plano, considerando o equilíbrio dos valores esperados de contribuições e valores a receber. Mantendo-se o equilíbrio atuarial, o valor do percentual constante do salário que amortiza o VPBF do plano por meio da anuidade 𝑎̈𝑠

𝑦:𝑟−𝑦, dado pela alíquota 𝐾, é

fornecido por:

𝐾 = (𝑉𝑃𝐵𝐹)𝑦 𝑆𝑦 𝑎̈𝑠𝑦:𝑟−𝑦

Referências

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