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O Sítio Arqueológico do Alto da Fonte Nova: contribuição para o estudo de uma economia costeira

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Instituto Politécnico de Tomar – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Departamento de Geologia da UTAD – Departamento de Território, Arqueologia e

Património do IPT)

MESTRADO EM ARQUEOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA E ARTE RUPESTRE

Orientador: Professor Doutor Luiz Oosterbeek

Ano Académico 2008/2009

O Sítio Arqueológico do Alto da Fonte Nova:

contribuição para o estudo de uma economia costeira

(2)

2

Índice

Índice de figuras ... 5

Índice de quadros ... 10

Agradecimentos ... 12

CAPITULO 1 – Dados Introdutórios ... 13

1.1 – Introdução ... 13

1.2 – História das investigações científicas e inserção do Alto da Fonte Nova na panorâmica actual ... 15

CAPITULO 2 - A ocupação humana e a paisagem: apresentação do território ... 20

2.1 – Enquadramento geográfico e arqueológico ... 20

2.2 – Quadro geológico e geomorfológico ... 22

2.2.1 – Morfologia ... 22

2.2.2 – Geologia e Litologia ... 25

2.2.2.1 – O Quaternário ... 27

2.2.2.2 – Proveniência das matérias-primas ... 28

2.3 – Hidrografia local ... 31

2.4 – O litoral Sul, paleoambientes e ocupação humana: do Wurn à actualidade ... 32

2.4.1 – Evolução climática, paleoecológica e paleogeográfica (dados genéricos) ... 32

2.4.2 – As sociedades pré-históricas do litoral: modelos e características ... 38

2.5 – Características pedológicas do Cabo Espichel ... 47

CAPITULO 3 – Metodologias e caracterizações contextuais: o sítio do Alto da Fonte Nova ... 48

3.1 – Tipologia e tafonomia ... 48

3.2 - As intervenções de diagnóstico: metodologia e técnicas de campo aplicadas – proveniência da amostragem ... 51

3.3 – Os materiais líticos: metodologia de análise ... 53

3.3.1 - Breve síntese histórica das análises em indústrias líticas ... 53

3.3.2 - Objectivos e informações pretendidas ... 55

(3)

3 3.3.3.1 – Matérias-primas ... 59 3.3.3.1.1 – Minerais ... 59 3.3.3.1.2 – Rochas metamórficas ... 60 3.3.3.1.3 – Rochas sedimentares ... 60 3.3.3.2 – Estado físico ... 61 3.3.3.3 – Materiais de preparação ... 62 3.3.3.4 – Materiais residuais ... 63 3.3.3.5 – Materiais debitagem ... 64 3.3.3.5.1 – Atributos de análise ... 64 3.3.3.6 – Núcleos ... 66 3.3.3.6.1 – Atributos de análise ... 67 3.3.3.6.2 – Categorias morfotécnicas ... 68

3.3.3.7 – Materiais retocados e formatados ... 69

3.3.3.7.1 – Retoque ou talhe secundário ... 69

3.3.3.7.2 – Os grupos de materiais retocados e elaboração de listas tipo ... 70

3.3.3.8 – Critérios métricos ... 71

3.4 – Cronoestratigrafia e formação do registo arqueológico ... 73

CAPITULO 4 – Resultados: os vestígios arqueológicos como objecto de estudo ... 76

4.1 – Sondagens de 2008 e 2006 ... 76

4.1.1 - Estratigrafia ... 76

4.1.2 – Estrutura negativa ... 77

4.1.3 – Repartição/contextualização dos materiais e estado físico ... 78

4.1.4 – Padrões tecnológicos da amostragem ... 80

4.1.4.1 – Matérias-primas... 80

4.1.4.2– Indicadores de talhe local ... 84

4.1.4.3 – Evidências económicas da debitagem ... 86

4.1.4.4 – Materiais retocados ou com traços de utilização... 88

4.1.4.5 – Métodos e técnicas de talhe ... 91

CAPITULO 5 – Conclusão: problemáticas e tentativas de esclarecimentos ... 100

5.1 – Período cronológico ... 100

(4)

4

5.3 – Sistema económico e funcionalidade... 105

5.3 – Balanço e perspectivas de investigação ... 111

Bibliografia ... 113 Fontes cartográficas ... 123 Sites consultados ... 124 Resumo ... 125 Abstract ... 127 Anexo 1 ... 129 Anexo 2 ... 141

(5)

5

Índice de figuras

Figura 1 – Ilustração da Carta Arqueológica de Sesimbra 2ª edição ... 17 Figura 2 – Ilustração dos Subsídios para a Carta Arqueológica do Cabo Espichel ... 18 Figura 3 – Localização geográfica do Cabo Espichel e do Alto da Fonte Nova ... 20 Figura 4 - Localização do Alto da Fonte Nova em extracto da Carta Militar de Portugal, folha nº464, á escala 1. 25 000, dos Serviços Geográficos do Exército ... 21 Figura 5 - Esboço morfológico da Arrábida e a ocupação humana (adaptado de S. Daveau e O. Ribeiro, in O. Ribeiro, 2004:113) ... 23 Figura 6 - Localização geomorfológica do Alto da Fonte Nova, visualizando-se a 3D os acidentes do relevo na zona do Cabo Espichel. Fonte: Google Earth ... 24 Figura 7 - Esboço de corte geológico (Zona Oeste) da Península de Setúbal (adaptado de Andrade, 1989, in Cavaco, 2004, p.11). ... 26 Figura 8 - Extracto da Carta Geológica de Portugal, folha nº 38-B, distrito de Setúbal, à escala 1:50 000 e localização das manchas quaternárias na zona do Cabo Espichel ... 27 Figura 9 – Fragmento da carta geomorfológica (adaptado de Vanney e Mougenot, 1981,

in Soares, 1992, p.33) e indicação das areias eólicas na península de Setúbal... 28

Figura 10 – Corte topográfico da área correspondente ao sítio arqueológico, o Alto da Fonte Nova e localização das sondagens de diagnóstico efectuadas em 2006 e 2008.... 29 Figura 11 – Jazidas de sílex da Estremadura Portuguesa (seg. Zilhão, 1997, vol.1, p.133) ... 30 Figura 12 – Geologia da península de Setúbal, onde abundam cascalheiras ricas em quartzito e localização da área provável da proveniência do sílex ... 31 Figura 13 - Evolução do nível médio do mar, litoral português nos últimos 18 000 anos. Segundo Dias (1987), in Dias, 2004, p.161 ... 33 Figura 14 – Fragmento de diagrama polínico da Lagoa da Travessa (nas proximidades do estuário do Sado, costa sul de Portugal (segundo Mateus, 1989) ... 36 Figura 15 - Provável linha de costa, litoral sul português, desde o máximo da regressão Wurniana, adaptado de Dias (1987), Rodrigues et al., (1991) e Dias et al., (1997) ... 37 Figura 16 - Intensificação do povoamento no litoral sul português a partir do fim da última glaciação (segundo Soares, 1992, p.34; Bicho et al., 2000) ... 41 Figura 17 - Sítios do Sul de Portugal, correspondentes ao Neolítico Antigo Pleno e Evolucionado (adaptado de Soares, 1997, p.589) ... 42

(6)

6 Figura 18 – Vaso de colo apertado com decoração cardial, proveniente da estação do Neolítico Antigo Pleno da Cabranosa (Carvalho e Cardoso, 1999, p.29) ... 43 Figura 19 – A Europa das primeiras comunidades Neolíticas (VII-VI milénio a.C.), segundo Guilaine, 1997, p.23. ... 44 Figura 20 – Cerâmica incisa e impressa do habitat do Neolítico Antigo Evolucionado do Gaio, Moita (adaptado de Soares et al., 2004) ... 46 Figura 21 - Dispersão artefactual por quadrículas de prospecção (2003). Total - 1037 peças recolhidas. ... 48 Figura 22 - Localização do Alto da Fonte Nova em extracto da Carta Militar de Portugal, folha nº464, á escala 1. 25 000, dos Serviços Geográficos do Exército. O quadrado a vermelho (lado esquerdo) representa a área do sítio arqueológico ... 49 Figura 23 - Gráfico com a distribuição das matérias-primas por massas nucleares recolhidos nas prospecções de 2003 (ñ = 49, incluindo fragmentos de núcleos) ... 50 Figura 24 – Método científico e determinação das remontagens mentais como método utilizado para a identificação das cadeias operatórias do AFN ... 58 Figura 25 – Exemplificação de materiais líticos denominados de preparação. Lado direito lâmina de crista (desenho de Tierry Aubry, in Zilhão, 1997b,vol I); lado esquerdo, elaboração de uma tablette (adaptado de Baena e Gonzalez, 1998) ... 64 Figura 26 – Exemplo dos eixos morfológicos e tecnológicos de uma lasca (Segundo Débenath e Dibble, 1994, p.17, in Bicho, 2006, p.431) ... 65 Figura 27 – Vários tipos de talões dos produtos de debitagem (segundo Inizan et

al.,1999, p.136.) ... 65

Figura 28 – Tipologia das lascas, segundo a variação do córtex (Tavoso, 1972, p.118, in A. Figueiredo, 2006 vol.2,p.90 ... 66 Figura 29 - Exemplificação dos ângulos por retoque nos produtos de debitagem (segundo Inizan, et al., 1999, p.130) ... 69 Figura 30 – Exemplo das repartições dos retoques (Inizan, et al., 1999, p.140) ... 70 Figura 31 - Exemplificação da metodologia utilizada na análise métrica dos produtos de debitagem (segundo Débenath e Dibble, 1994, p.18, in Bicho, 2006, p.431) ... 72 Figura 32 – Esquema crono-estratigráfico a norte dos Lagosteiros (Cabo Espichel) (adaptado de Figueiredo, 2008) ... 73 Figura 33 – Gráfico com a distribuição de elementos artefactuais líticos por sond….78

(7)

7 Figura 34 – Gráfico com a disposição vertical dos elementos líticos das sondagens 3, 4 e 5 (2008). Os elementos correspondem apenas aos indivíduos coordenados, excluindo-se os materiais recolhidos em crivo. ... 79 Figura 35 – Gráfico com a representação das alterações físicas dos elementos líticos (o numero de elementos tratados estatisticamente representam os elementos de debitagem e as massas nucleares). ... 80 Figura 36 - Gráfico percentual das matérias-primas identificadas e representadas no Alto da Fonte Nova (a contagem incluiu a totalidade dos elementos por categoria tecnológica) ... 81 Figura 37 – Gráfico com as tonalidades do quartzo por sondagem ... 81 Figura 38 – Gráfico com as percentagens das tonalidades do sílex por sondagem ... 82 Figura 39 - Gráfico com a distribuição das massas nucleares por sondagem e especificidades da matéria-prima ... 82 Figura 40 - Gráfico com a tipologia dos córtexes identificados nas massas nucleares ... 83 Figura 41 - Gráfico representativo de lascas por geração detectadas na amostragem .... 84 Figura 42 - Gráfico com a distribuição das esquírolas e fragmentos por sondagem de diagnóstico ... 85 Figura 43 – Gráfico com as percentagens do estado de conservação das massas nucleares ... 85 Figura 44 – Gráfico com as percentagens de materiais debitados no Alto da Fonte Nova (segundo a amostragem) ... 86 Figura 45 - Gráfico percentual das categorias de debitagem por matéria-prima ... 86 Figura 46 – Exemplo de um núcleo em quartzo leitoso com defeitos de matéria-prima (Sondagem 1, 2006) ... 87 Figura 47 - Gráfico com as razões de abandono das massas nucleares (quartzo) ... 87 Figura 48 – Exemplo de identificação de retoques numa lasca por meio macroscópico. Visualiza-se no reverso e no bordo esquerdo, uma extensão marginal com repartição contínua. ... 88 Figura 49 - Relação entre os materiais de debitagem sem utilização e os que apresentam estigmas de uma determinada função. ... 88 Figura 50 - Gráfico com a repartição percentual dos materiais retocados por sondagem ... 89

(8)

8 Figura 51 - Gráfico com transformação dos produtos debitados, com uma determinada

função, por matéria-prima ... 90

Figura 52 - Gráfico com os tipos de suporte dos materiais retocado ... 91

Figura 53 - Gráfico com a morfologia das extracções das massas nucleares ... 92

Figura 54 – Gráfico indicador dos talões de lascas do Alto da Fonte Nova ... 94

Figura 55 – Tipologia das plataformas de percussão dos núcleos ... 94

Figura 56 – Gráfico representativo do tipo de bolbos das lascas da amostragem ... 95

Figura 57 – Dados métricos núcleos ... 97

Figura 58 – Lamela com nervuras rectilíneas ... 98

Figura 59 – Gráfico com a representação das espessuras dos produtos alongados ... 99

Figura 60 – Gráfico com a representação das larguras dos produtos alongados ... 99

Figura 61 – Panorâmica da extensão do sítio da Samouqueira I (Mesolítico) e II (Neolítico Antigo), Sines (segundo Soares, 1995, Est. I) ... 108

Figura 62 – Perfil estratigráfico da estrutura E (cinzeiro), Cabeço da Velha (Ródão) . 110 Figura 63 – Factos evidenciados e hipótese da estratégia económica efectuada no Alto da Fonte Nova ... 111

Figura 64 – Planta das sondagens a realizar no Alto da Fonte Nova ... 112

ANEXO 1 Figura 1 – Aspecto paisagístico da zona norte do Cabo Espichel (costa oeste da Península de Setúbal) ... 130

Figura 2 – Esboço da planta geral dos trabalhos arqueológicos no Alto da Fonte Nova, nomeadamente as quadrículas referentes às sondagens de diagnóstico efectuadas em 2006 e 2008. ... 131

Figura 3 – Aspecto dos trabalhos arqueológicos, AFN, 2006 ... 132

Figura 4 – Perfil estratigráfico do Alto da Fonte Nova com a referência à proveniência dos materiais recuperados nas sondagens (nível arenoso), bem como à formação onde se efectuaram as datações absolutas (2006) ... 133

Figura 5 - Corte estratigráfico (Sul), das sondagens 4 e 5 de 2008. ... 134

(9)

9 Figura 7 – Pormenor da estrutura de combustão... 136 Figura 8 - Plano da estrutura (combustão) detectada nas sondagens de 2008 ... 137 Figura 9 – Perfil e descrição de depósito da estrutura negativa detectada nas sondagens de diagnóstico ... 138 Figura 10 – Localização e nível conquífero do concheiro da Boca do Chapim ... 139 Figura 11 – Estrutura de combustão, em fossa, detectada no sítio do Neolítico Antigo de Vale Pincel I (Sines) ... 140 Figura 12 – Estrutura de combustão detectada no sítio do Neolítico Antigo de Vale Santo (Algarve) ... 140 ANEXO 2

Figura 1 – Seixos de morfologia irregular em quartzo; 2 – Carvão recolhido no interior da estrutura de combustão; 3 – formação sedimentar de coloração acinzentada

(recolhida em superfície) ... 142 Figura 2 – Localização em superfície do fragmento cerâmico de fabrico manual ... 143 Figura 3 - Materiais líticos prospecção/2003 ... 144 Figura 4 – Produtos alongados recolhidos nas sondagens de diagnóstico do Alto da Fonte Nova ... 145 Figura 5 – Materiais leptolíticos recolhidos nas sondagens de diagnóstico do Alto da Fonte Nova ... 146 Figura 6 - Materiais líticos recolhidos nas sondagens de diagnóstico do Alto da Fonte Nova ... 147 Figura 7 – Massas nucleares recolhidos nas sondagens de diagnóstico do Alto da Fonte Nova ... 148 Figura 8 – Materiais líticos recolhidos nas sondagens de diagnóstico do Alto da Fonte Nova ... 148 Figura 9 – Materiais líticos recolhidos nas sondagens de diagnóstico do Alto da Fonte Nova ... 148

(10)

10

Índice de quadros

QUADRO 1 – Critérios diferenciação quartzo ... 60

QUADRO 2 - Critérios diferenciação quartzito ... 60

QUADRO 3 - Critérios diferenciação sílex/chert ... 61

QUADRO 4 - Critérios patine eólica ... 61

QUADRO 5 - Critérios rolamento/desgaste ... 62

QUADRO 6 – Critérios categorias do córtex (núcleos). Adaptado de Zilhão (vol.2, 1997b, p.27) ... 67

QUADRO 7 – Critérios estado de exploração (núcleos). Adaptado de Zilhão (vol.2, 1997b, p.27) ... 67

QUADRO 8 – Datação absoluta (segundo informação do ITN) ... 74

QUADRO 9 – Materiais líticos recolhidos no interior da estrutura negativa ... 78

QUADRO 10 – Inventário dos materiais de pedra lascada ... 80

QUADRO 11 – Lista dos materiais retocados/traços de utilização presentes na amostragem ... 89

QUADRO 12 – Valores índice de alongamento (lascas) ... 96

QUADRO 13 – Valores índice de robustez (lascas) ... 96

QUADRO 14 – Valores índice de espessura (lascas) ... 96

QUADRO 15 – Estado de fragmentação dos produtos alongados ... 97

QUADRO 16 – Elementos de continuidade/descontinuidade do Alto da Fonte Nova com o Mesolítico e Neolítico costeiro ... 103

QUADRO 17 – Características integração do Alto da Fonte Nova como economia costeira holocénica do Sul de Portugal ... 105

QUADRO 18 – Densidade artefactual por m³ nos sítios, sem cerâmica, holocénicos, no litoral Sul de Portugal ... 106

QUADRO 19 – Densidade artefactual por m³ nos sítios, com cerâmica, holocénicos, no litoral Sul de Portugal ... 106

(11)

11 QUADRO 20 – Extensão dos sítios de ar livre, holocénicos, no litoral Sul de Portugal e comparação com o Alto da Fonte Nova ... 107 ANEXO 2

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Agradecimentos

Queria, em primeiro lugar, expressar toda a minha gratidão, ao Dr. Silvério Figueiredo, presidente do Centro Português de Geo-História e Pré-história, fundamentalmente, pelo seu apoio e disponibilidade na condução co-orientativa desta dissertação.

Em segundo lugar, gostava de enaltecer e agradecer, a todos os meus colegas, da Ciência Viva e do Instituto Politécnico de Tomar, que cooperaram nos trabalhos arqueológicos do Cabo Espichel, em regime de voluntariado, em condições difíceis, onde o espírito da arqueologia e do conhecimento era, para eles e para mim, o único elemento recompensador.

Em terceiro lugar, às pessoas que me são mais próximas, Ângela Freire e Filomena Carvalho, porque foram elas que me deram os estímulos necessários para ultrapassar as dificuldades.

Em quarto lugar, agradeço a um conjunto de profissionais, Professor Doutor Luís Oosterbeek (orientador da dissertação), Professor Doutor Pier Luigi Rosina, Drª. Sara Cura, Dr. Luís Nobre, que me ajudaram através de discussões/esclarecimentos científicos, os quais me foram muito úteis.

Em quinto lugar agradeço a Ana Freire pela revisão do resumo em inglês. Por fim, à “Humanidade Pré-histórica” que frequentou o Alto da Fonte Nova.

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Capítulo 1 – Dados introdutórios

1.1 - Introdução

As campanhas arqueológicas efectuadas no sítio arqueológico do Alto da Fonte Nova levaram a propor uma dissertação de mestrado com o intuito de se gerar uma contribuição/divulgação, cognitiva, de um arqueosítio do Cabo Espichel.

A finalidade deste trabalho, aliás, constituindo o seu objectivo primordial, foi fornecer elementos para uma possível continuidade científica, não descurando o processo de produção de provas nem os mecanismos interpretativos que levaram a essas conclusões.

Existem, no entanto, sempre, no processo de investigação arqueológica, numerosas questões, as quais se pretende obter resposta mediante metodologias que, obviamente, se têm de adoptar às características do sítio arqueológico.

Um desses métodos é a intervenção de diagnóstico. Apesar de serem altamente destrutivas, as sondagens possibilitam num curto espaço de tempo, uma visão generalista da “…extensão, limites físicos, estratigrafia, integridade, qualidade do seu

contexto, bem como realismos culturais” (Bicho, 2006a, p.148), integrando esta última,

o objectivo principal da arqueologia, ou seja, o estudo dos complexos materiais do passado humano.

Nesta linha, o que seguidamente iremos demonstrar serão esses trabalhos, tentando fundamentalmente relacionar várias informações aparentemente desconectadas e enquadrar a jazida nas economias costeiras holocénicas do Sul de Portugal. As tentativas de resposta a esta problemática, constituíram-se num modelo forçosamente hipotético, mas cientificamente inédito para a “Arqueologia Pré-histórica” do concelho

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14 de Sesimbra, porque não se conhece (até à data) na zona do Cabo Espichel, qualquer referência a sítios arqueológicos com estas características.

Os processos utilizados para responder a tão digna questão constituíram-se em várias fases. A primeira ocupou-se da análise territorial, dando especial incidência à Morfologia, de modo a determinar a preferência de ocupação por parte da sociedade (s) pré-histórica (s); à Geologia, perceber as formações geológicas e respectivo esquema crono-estratigráfico, levando-se desta maneira formulações de hipóteses em relação à cronologia do sítio; Hidrografia e Pedologia, com o intuito de responder se o local possui condições naturais para uma ocupação humana mais duradoura ou mais sazonal; Litologia, ou seja, demonstrar quais os tipos de rocha disponíveis localmente e as de proveniência alógena.

A 2ª fase enquadrou a presente dissertação no âmbito regional, o sul litoral do território actualmente português. Com os trabalhos arqueológicos desenvolvidos por considerados investigadores nesta área geográfica, tentou-se, ainda que de uma forma genérica, demonstrar as variações climáticas, reconstituir a paisagem evolucionária e a ocupação humana litoral durante o Holocénico: (1) – preferências de implementação dos habitats; (2) – estratégias económicas; (3) – tecno-complexos e materiais utilizados; (4) – problemáticas em relação à dialéctica das sociedades.

De facto, é neste postulado que se encaixa um pouco a “Arqueologia da Paisagem”, ou seja, entender que o território sempre foi um palimpsesto ocupacional por parte das sociedades humanas, sofrendo por parte da humanidade diversas interpretações.

A 3ªfase, envolve aspectos mais técnicos nomeadamente o conceito de tipologia de sítio arqueológico, a tafonomia da área, os trabalhos arqueológicos desenvolvidos, destacando-se as sondagens de 2006 e 2008, pelo facto dos materiais recolhidos,

(15)

15 constituírem a amostra de investigação. Amostra que necessitou de um postulado teórico; de uma metodologia, bem como de critérios bem definidos para responder a aspectos tecnológicos da indústria lítica.

A 4ª fase visou os resultados dos trabalhos de escavação e gabinete e a interpretação dos dados, segundo uma leitura estatística, determinando as variabilidades e homogeneidades a nível da tecnologia lítica, relacionando-o com o contexto estratigráfico. Todavia, este último aspecto levanta algumas questões difíceis de responder, devido a duas linhas de pensamento:

- Os trabalhos de diagnóstico são, muitas das vezes, apenas resultados preliminares; - Não se sabe se, as amostras recolhidas, são as mais produtivas e se eventualmente podem corresponder estatisticamente a uma boa leitura da representatividade dos materiais exumados no sítio, devido à densidade artefactual evidenciada em superfície.

A 5ª fase expõe as problemáticas científicas que qualquer sítio arqueológico em análise levanta, tentando-se discutir alguns pontos de vista, lançando-se algumas hipóteses para que a discussão científica traga alguns progressos.

1.2 – História das investigações científicas do Cabo Espichel e

inserção do Alto da Fonte Nova na panorâmica actual

A área do Cabo Espichel tem sido alvo de diversas investigações, ao longo de mais de um século. As primeiras recolhas de material arqueológico na referida área, nomeadamente na sua zona norte, numa extensão de cerca de 3km, foram conduzidas por Carlos Ribeiro (1871), pioneiro da Geologia e da Pré-história portuguesa, na segunda metade do séc. XIX, tendo recolhido materiais líticos nas “praias elevadas”, que se estendem desde Lagosteiros à Foz da Fonte, e identificando ao mesmo tempo, jazidas paleolíticas com artefactos e fauna in situ, a oeste do promontório em análise. Anteriormente, em 1866, Carlos Ribeiro, já tinha publicado a sua “descripção do

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16

terreno quaternário das bacias hidrográphycas do Tejo e do Sado”, obra que marcou o

inicio do reconhecimento científico, arqueológico e geológico, da região da Arrábida (Cardoso, 1999, p. 45).

No início dos anos 40, foram realizadas prospecções conduzidas por H. Breuil e G. Zbyszewsky (1942; 1945, 1946) num amplo projecto de investigação que não envolveria apenas o território Sesimbrense, mas vários locais do território nacional com as características particulares para a ocupação de sociedades paleolíticas. Efectuaram, os dois investigadores, pesquisa entre os Lagosteiros e a Foz da Fonte, sensivelmente na mesma área de Carlos Ribeiro, identificando inúmeros materiais de superfície. Segundo estes dois emblemáticos pré-historidores, em ambos os locais, num percurso de apenas um dia, foram encontrados ”coup de points, núcleos, lascas, instrumentos diversos de

quartzo e quartzito e calhaus truncados” (Zbyszewski, 1965, p.165) e inseridos nas

séries Abbevilense, Acheulense, Tayacense, Mustierense e Languedocense, pelo método das patines.

Os materiais por eles seriados foram incluídos em determinados parâmetros cronológicos que dessa forma serviam para datar os terraços marinhos escalonados em que se encontravam, utilizando o esquema das glaciações do centro da Europa de Penk e Brukner (1909). Segundo esta metodologia, os materiais descontextualizados em superfície, podiam por comparação, através do estudo de desgaste que apresentavam e das suas patines, serem do mesmo modo datados. Como seria de esperar, este método eustático, rígido de datação dos terraços marinhos, tem sido alvo de contestação e revisão, foi progressivamente abandonado.

Convém assinalar, porque faz parte da historiografia arqueológica de Sesimbra, as controvérsias geradas pelas indústrias Pré-Acheulenses, ou seja, seixos simplesmente lacados, encontradas nas mais antigas formações plistocénicas da região. Terá levado

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17 mesmo os investigadores K. Valock e H. Lumey (organizador e secretário-geral) no âmbito desta temática à escala europeia, no IX Congresso das Ciências Pré-históricas e Proto-históricas (1976) a mostrarem-se, então, claramente a favor de uma ocupação humana muito remota na Europa e na qual a zona costeira de Sesimbra estava incluída. Porém, a falta de um adequado enquadramento geológico, impedia que a teoria fosse aceite sem discussão (Cardoso, 2002, p.51-59). Depois de um largo interregno, nos anos 60 e 70, o Museu Municipal de Arqueologia de Sesimbra (sob a responsabilidade do Dr. Eduardo da Cunha Serrão) e o

Grupo de Estudos do Paleolítico Português (agregando um grupo de jovens estudantes, destacando-se José Luís Arnaud, Susana O. Jorge, J. Pinho Monteiro, F. Sande Lemos, Luís Raposo, etc.) iniciaram uma nova campanha de prospecções no concelho de Sesimbra, descobrindo novas jazidas paleolíticas, publicadas na 1ª e 2ª edição da Carta Arqueológica de Sesimbra (Serrão, 1973; 1994²), “à época documento

pioneiro” (Cardoso, 1999, p. 46); com efeito, na zona do Cabo Espichel, o

conhecimento da Pré-história limitava-se aos pontos de referência dos dois investigadores já referenciados. O Alto da Fonte Nova e outros locais da zona do Espichel não correspondiam, assim, na documentação bibliográfica, a um sítio

Figura 1 – Ilustração da Carta Arqueológica de Sesimbra 2ª edição

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18 arqueológico, mas apenas a um ponto de referência à área envolvente onde os achados foram recolhidos, delimitando etapas de um percurso, que incidiu sobre o depósito arenoso que se estende na arriba, com cascalheiras e seixos entre os quais se reconheceu a presença de indústrias líticas.

Em finais da década de 90, e com o objectivo de esclarecer os locais da proveniência dos materiais, recolhidos cinco décadas passadas, bem como a descoberta de eventuais novos sítios, o Centro Português de Geo-História e Pré-História, sob a responsabilidade do Dr. Silvério Figueiredo, elaborou o “Projecto Investigação Arqueológica do Cabo Espichel” englobado no Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos do extinto IPA. Campanhas arqueológicas que constituíram os primeiros trabalhos de investigação sistemáticos e contínuos na zona do Espichel.

Em 2002, data do término das primeiras investigações da referida instituição, estavam identificados quase o triplo dos achados e sítios arqueológicos na zona do Cabo Espichel (Figueiredo e Carvalho, 2007) sendo que a maior parte dos locais pertenciam, do ponto de vista tipológico, ao período Paleolítico. Contudo, os vestígios recolhidos evidenciavam pela primeira vez, uma jazida então classificada como estação de superfície, que detinha características do Pós-Glaciar – O Alto da Fonte Nova (identificada em 1998).

Figura 2 – Ilustração Subsídios para a Carta Arqueológica do Cabo Espichel

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19 Actualmente, a área referenciada, encontra-se novamente sob a alçada de um novo Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos, aprovado pelo IGESPAR em 2008, o objectivo passa pela “Investigação Geoarqueológica” visando realismos cronológicos das indústrias líticas recolhidas nos trabalhos de campo efectuados pelo Centro Português de Geo-História e Pré-História.

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20

Capítulo 2 – A ocupação humana e a paisagem:

apresentação do território

2.1

- Enquadramento geográfico e arqueológico

A área geográfica do Alto da Fonte Nova corresponde à orla ocidental de Portugal Continental - o Cabo Espichel - inserido administrativamente na freguesia do Castelo (178,77km²), concelho de Sesimbra (194,98 km²), distrito de Setúbal, região de Lisboa (dista cerca de 20km da capital), sub-região Península de Setúbal (v. fig.3).

O sítio arqueológico tem as seguintes coordenadas militares do sistema GAUSS:  Norte, 30º25’52’’;

 Oeste, 9º12’37’’.

Figura 3 – Localização geográfica do Cabo Espichel e do Alto da Fonte Nova.

Legenda: Lado esquerdo, localização da Península de Setúbal na Carta Militar Itinerária de Portugal Continental (Escala original 1. 500 000); canto superior direito, extracto da Carta Administrativa de Portugal, Atlas do Ambiente, (escala original 1. 1000 000) e localização da parte SW do concelho de Sesimbra; canto inferior esquerdo, imagem satélite do Cabo Espichel e localização do sítio arqueológico – O Alto da Fonte Nova (a amarelo).

(21)

21 O Cabo Espichel tem como fronteiras físicas: (1) a Norte - a Ribeira dos Caixeiros; (2) a Sul - o Oceano Atlântico.

O território está representado nas Cartas Topográficas do Instituto Geográfico do Exército, à escala 1:25 000, folha nº 464 (1964).

Segundo a cartografia arqueológica (Figueiredo e Carvalho, 2007; Serrão, 1994²), a área em análise, está bem referenciada do ponto de vista arqueológico, destacando-se no caso da Pré-história Antiga, os seguintes sítios/achados: Areias de Mastro, Ribeira dos Caixeiros, Barraca do Papo-seco, Planalto do Espichel, Forte da Baralha (v.fig.4).

Em geral, os locais referenciados, demonstram pequenos retalhos dos tecno-complexos Acheulense e Mustierense, visto que as estações não apresentam características de Habitat,

devendo estas corresponder a locais sazonais de exploração das matérias-primas. Por outro lado, não existem (até à data) provas concretas de ocupações humanas associadas aos tecno-complexos do Paleolítico Superior, algo já evidenciado por Georges Figura 4 - Localização do Alto da Fonte Nova em extracto da

Carta Militar de Portugal, folha nº464, á escala 1. 25 000, dos Serviços Geográficos do Exército.

Legenda: Verde – Pré-história Antiga (1- Areias de Mastro; 2 Baía de Aguncheiras; 3 – Aguncheiras; 4 – Ribeira dos Caixeiros; 5-Barraca do Papo-seco; 11 - Lagosteiros; 13 – Planalto do Espichel; 14 – Chã dos Navegantes; 15 – Forte da Baralha; 16 – Porto da Baleeira); Cinzento – Epipaleolítico? Mesolítico? (6 – Boca do Chapim Norte; 8 – Boca do Chapim Sul) Amarelo – Concheiro (Foz da Ribeira do Chapim); Azul – Indeterminado (10 – Terras do Areeiro; 12 – Farol);Vermelho – Sítio (9 – O Alto da Fonte Nova);

(22)

22 Zbyszewski (1965) e na qual realça como justificação, a raridade do sílex, não só no Cabo Espichel como em todo o território Sesimbrense.

Apesar de toda a complexidade analítica dos conjuntos, existem evidências artefactuais na zona do Cabo Espichel, por hipótese, pois os achados são de superfície, a ocupações humanas durante a faixa cronológica 10000 - 6 000 BP, ou seja, a microlitização associada à macrolitização, em zonas arenosas nomeadamente nas proximidades das arribas onde existiam importantes recursos faunísticos procurados por estas sociedades de mariscadores. Um desses locais é a Boca do Chapim, situando-se nas proximidades do Alto da Fonte Nova e onde inclusivamente se encontrou, na Foz da Ribeira do Chapim, um concheiro (Figueiredo e Carvalho, 2007) (v.fig.4), mas sem elementos artefactuais que pudessem apontar uma cronologia relativa.

2.1 - Quadro geológico e geomorfológico

2.1.1 – Morfologia

Os vestígios pré-históricos do Alto da Fonte Nova encontram-se numa zona específica ao nível das formas do relevo, na transição de duas unidades geomorfológicas da Arrábida (O. Ribeiro, 1994³, p.40-54) (v.fig.5):

- O planalto do Espichel, a maior aplanação da Arrábida estendendo-se para além do Vale Tinfónico de Sesimbra (de grande complexidade geológica) com altitudes que podem chegar aos 200m; nesta unidade de grande visibilidade paisagística destaca-se um monumento megalítico, por enquanto desaparecido, mas referenciado na Carta Arqueológica de Sesimbra, a chamada Anta da Azóia.

- A zona baixa, periférica, arenosa, denominada de Pré-arrábida, não constituindo, desta forma, parte integrante do maciço, constituindo esta planície cerca de 3/5 da superfície da Península de Setúbal com altitudes que oscilam entre os 0-100m.

(23)

23 Nesta unidade, mais concretamente nas imediações da Lagoa de Albufeira, encontra-se o conglomerado de Belverde, onde associado a depósitos plistocénicos foram encontrados frustres seixos talhados que poderão corresponder ao Pré-Acheulense, e inseridos na polémica passagem Ibérica de África para a Europa por parte da humanidade;

Os acidentes de relevo situam-se um pouco mais a este, nomeadamente nas imediações da vila de Sesimbra, verificando-se a ocorrência de montes anticlinais com fortificações defensivas que remontam ao Calcolítico e à Idade Média: o Castro da Rotura e o Castelo de Sesimbra.

Figura 5 - Esboço morfológico da Arrábida e a ocupação humana (adaptado de S. Daveau e O. Ribeiro, in O. Ribeiro, 1994³:113).

Legenda: 1 – Rebordo monoclinal de rocha dura; 2 monte anticlinal; 3 aplanação principal a cerca de 200m; 4- arrebite da aplanação a leste de Sesimbra; 5- rechãs litorais embutidas na aplanação principal; 6 – depressão cársica; 7 – Relevo de colinas arredondadas; 8 – vale de formas largas; 9 – Vale encaixado; 10 – Costa arenosa; 11 – arriba com menos de 100m; 12 – arriba de 100 a 200m; 13 - arribas de mais de 200 m; 14 – área baixa e periférica;

O rebordo monoclinal de rocha sedimentar, esbate-se à medida que se caminha na direcção NW, não sendo visíveis estruturas vigorantes nas imediações do sítio

(24)

24 arqueológico. Assim, a zona norte do Cabo Espichel é relativamente plana, com uma altitude a rondar os 60m na área do sítio arqueológico, delimitados a oeste por imponentes arribas e onde sensivelmente a partir da Ribeira dos Caixeiros existe o primeiro contacto de costa baixa arenosa, característica das imediações da Lagoa de Albufeira, subsistindo alguns pedaços de antigas praias, hoje bastante levantadas em relação ao nível das águas oceânicas.

Figura 6 - Localização geomorfológica do Alto da Fonte Nova, visualizando-se a 3D os acidentes do relevo na zona do Cabo Espichel. Fonte: Google Earth

É no sector sul do Cabo, onde se denota com maior clareza esta tipologia morfológica e a que Orlando Ribeiro (1994³, p.113) classifica como “…rechãs litorais

embutidas na aplanação principal”. A maioria destas formações correspondem a

transgressões marinhas que formaram praias elevadas como é o caso da Chã dos Navegantes, Forte da Baralha, Lagosteiros ou Boca do Chapim e relativamente próximas do Alto da Fonte Nova (v. fig.6) que se encontra entre as duas últimas formações constituindo, a área do sítio arqueológico, pela morfologia, uma zona de terraço marinho (informações PNTA – Plano Nacional de Trabalhos Arqueológicos).

(25)

25 Estes terraços, que se distribuem ao longo da costa de Sesimbra, evidenciam ocupações paleolíticas, mas segundo a cartografia arqueológica, algumas dessas ocupações poderão estar associados ao tecno-complexo Languedocense. Terá, no entanto, que se ter cautelas, porque os achados disponíveis são de superfície e o próprio conceito de Languedocense é muito divergente. O conceito atrás referido era enquadrado pelo Abade Breuil, nos anos 40 do século passado, “uma indústria do

Paleolítico Antigo situada cronologicamente entre o Acheulense e o Mustierense, de

que proviria através de um processo de degenerência industrial” (Raposo e Silva,

1982, p.90). Aspecto que Breuil, “jamais abdicaria…apenas aceitou ampliar o leque

possível da sua longevidade” (Idem, 1982, p.90). Não menos importante, foi a

perspectiva de Breuil manter-se sustentada por Georges Zbyszewski, pois, nas suas reflexões sobre o Paleolítico português manteve sempre o fundamento original; o complexo industrial continuava a ser situado numa baliza cronológica entre o Tirreniano II e o fim do Wurn (Raposo e Silva, 1982, p.91).

Actualmente, com o desenvolvimento da investigação, tornou-se claro que esta interpretação não tem sentido, bem como o próprio conceito, visto que não existem provas concretas deste tipo de indústrias em período anterior ao final do Magdalenense; é portanto característico de ocupações do pós-glaciar denominando-se sob a expressão de indústrias macrolíticas.

2.2.2 – Geologia e Litologia

O elemento nuclear da Geologia da Península de Setúbal encontra-se na Lagoa de Albufeira, com uma orientação ENE-WNW-EW, dividindo em duas áreas o território de Sesimbra e a Península referenciada, sendo que a sua localização relativa é coincidente com o seu centro e segundo alguns investigadores (Mannuppela et al., 1999), este factor, indica a existência de uma falha ou flexura ao longo do eixo fluvial.

(26)

26 Tendo o sinclinal de Albufeira como referência (v.fig.7), o Alto da Fonte Nova situa-se na parte sul, constituída por sequências sedimentares, carbonatadas, dolomíticas e margosas Meso-Cenozóicas com intercalações de unidades detríticas (Cavaco, 2004:11) – a Cadeia da Arrábida.

Figura 7 - Esboço de corte geológico (zona oeste) da Península de Setúbal (adaptado de Andrade, 1989, in Cavaco, 2004, p.11).

O sítio arqueológico encontra-se em areias quaternárias que assentam na área das formações do Cretácico (formação da Boca do Chapim e formação do Papo-Seco), que se revela por uma faixa estreita, constituída por calcários, calcários argilosos, grés e argilas, datados do Hauteriano ao Barremiano (132 - 121 milhões de anos).

Localiza-se, ainda, relativamente perto da reentrância dos Lagosteiros, onde existe uma falha geológica, dividindo os últimos afloramentos do Jurássico; situando-se estes, na parte sul do Cabo Espichel, atingindo na Zona da Cova da Mijona, margas e calcários dolomíticos do Toarciano Superior (189 milhões de anos).

(27)

27 É nesta parte do Jurássico que a Pré-história Recente está bem evidenciada, fundamentalmente nas suas cavidades cársicas e relativamente perto da zona de estudo, destacando-se as seguintes estações;

- Lapa do Bugio (Cardoso, 1992; Monteiro et al., 1971), onde se detectaram várias sepulturas, bem como taças do tipo ” Palmela Campaniforme” que evidenciam uma necrópole Calcolítica/Idade do Bronze;

- Lapa do Fumo (Serrão, 1958; 1968; 1979), notável estação que remonta em termos de ocupação ao Neolítico Antigo (pequena bolsa com cerâmica cardial); Neolítico Médio; Neolítico Final; Calcolítico e Bronze Final, destacando-se as cerâmicas com ornatos brunidos geométricos e artefactos em bronze; Idade do Ferro, Época Romana e Medieval Islâmico.

2.2.2.1 – O Quaternário Os terrenos quaternários ocupam percentagens a rondar os 80% na Península de Setúbal (Cavaco, 2004:12), sobretudo na parte setentrional da Lagoa de Albufeira. Na área meridional, este tipo de formações existem em menores percentagens;

no entanto, ao verificar-se a cartografia geológica (v.fig.8) (Carta Geológica de Figura 8- Extracto da Carta Geológica de Portugal, folha nº 38-B, distrito de Setúbal, à escala 1:50 000 e localização das manchas quaternárias na zona do Cabo Espichel.

(28)

28 Portugal, folha nº 38B, 1:50 000; Carta Geológica de Portugal, 1:1000000, Atlas do Ambiente), denota-se algumas manchas arenosas que cobrem os afloramentos calcários, encontrando-se, desta forma, em sintonia com a descrição da área de estudo, pois, o Alto da Fonte Nova, situa-se precisamente numa mancha do Quaternário, areno-argilosa (Figueiredo e Carvalho, 2007:32). Correspondendo, a mancha, aos terraços marinhos plistocénicos e a areias eólicas holocénicas (v.fig.9).

Figura 9 – Fragmento da Carta Geomorfológica (adaptado de Vanney e Mougenot, 1981, in Soares, 1992, p.33) e indicação das areias eólicas na península de Setúbal.

2.2.2.2 - Proveniência matérias-primas

Numa análise mais detalhada, para se descortinar a proveniência de certos tipos de matérias-primas, utilizados pelo homem pré-histórico no Alto da Fonte Nova, constata-se segundo a cartografia litológica (Carta Litológica de Portugal, 1:1000000, Atlas do Ambiente, 1982) e a notícia explicativa da folha 38-B, Setúbal (Zbyszewsky et

al., 1965) o seguinte:

 Quartzo - origem local (a 40m do sítio) (v.fig.10):

- Em alguns locais fundamentalmente a norte do Cabo Espichel e fora da área das arribas, existem algumas cascalheiras que são o resultado da erosão de sedimentos

(29)

29 formados por antigas linhas de água do Cretácico, constituídas maioritariamente por seixos de quartzo.

Figura 10 – Corte topográfico da área correspondente ao sítio arqueológico, o Alto da Fonte Nova, e localização das sondagens de diagnóstico efectuadas em 2006 e 2008.

- No Cabo Espichel, estão referenciados, nomeadamente na vertente sul, formações quaternárias, entre os 130 e 150m de altitude com calhaus rolados.

- Na Azóia, existem várias manchas de areias plistocénicas com seixos rolados, resultantes de formações detríticas mais antigas.

 Sílex: Origem local (provavelmente a 5km do sítio) (v.fig.12):

- Existe, possivelmente, em contexto primário, nas formações sedimentares do Jurássico, Mesozóicas, de natureza calcária, facto evidenciado por Soares et al., 1979, p.54) no estudo da indústria lítica da jazida neolítica de Fonte de Sesimbra e na qual referem “…As cores dominantes, pertencem à gama dos cinzentos…”, destacando ainda a má qualidade deste tipo de formação de origem local. Em relação à escassez do sílex na área em análise, salienta-se o seguinte comentário/ explicação de Breuil e

(30)

30 Zbyszewski (1942, p.30-31, in

Serrão³, 1994, p.19) (v.fig.11) “il resulte de la difference des

sites (terrasses quaternaires)

recouvertes de sable e

graviers de la rive gauche,

versants délavés ou argilaux

dês croupes basaltiques de la

rive droite, et la réparticion

dês matières premières

(surtout les sílex sur les

dernières et les quartzites

blancs sur les autres), une

opposition considérable au

point de vue de la matière

utilisée, l´état physique, de la coloration et même de la tecnique, entre les deux groupes

d’industries…”.

 Quartzito (origem local, terraços)

- O quartzito surge com menos frequência na zona do Cabo Espichel ao contrário do que C. Penalva (1978, p.522) referiu “…aquele que mais abundava nas praias elevadas

do nosso país”, todavia, existem referências de entre a Foz da Fonte e o Cabo Espichel,

nas formações já referidas (terraços) entre os 50 e 90m de altitude a existência de seixos rolados de quartzo mas igualmente de quartzito;

Figura 11 – Jazidas de sílex da Estremadura Portuguesa (segundo Zilhão, 1997b, vol.1, p.133)

(31)

31 Por outro lado, convém assinalar a proximidade dos calhaus de Belverde, conglomerado que representa o último acarreio do Tejo, antes da deslocação para o leito actual “foram certamente transportados em regime fluvial pelo antigo Tejo, desde os

afloramentos quartzíticos situados a montante até à parte vestibular do rio, na

Península de Setúbal (Azevedo et al., 1979, p.34).

Existe igualmente a hipótese de haver uma exploração não local do quartzito em zonas mais afastadas do sítio arqueológico, nomeadamente de cascalheiras plistocénicas do Baixo Tejo (v.fig.12).

Figura 12 – Geologia da Península de Setúbal, onde abundam cascalheiras ricas em quartzito e localização da área provável da proveniência do sílex (adaptado e extraído de http://www.naval-sesimbra.pt/work/newsletter/capa.pdf, 2006)

Legenda: Círculo pequeno – terraços com seixos de quartzito; círculo de maiores dimensões – imediações da lagoa de albufeira, com presença de quartzito; rectângulo - área provável do sílex;

2.3 - Hidrografia local

A rede hidrográfica existente é maioritariamente de carácter torrencial, ou seja, de curto percurso escoando só as águas das chuvas, algo que é comum na Arrábida e a que Orlando Ribeiro (1994³:37) denomina de torrentes em contraposição às ribeiras que possuem durante a maior parte do ano água. Com isto, o Alto da Fonte Nova, situa-se

(32)

32 entre duas linhas hidrográficas, podendo estas ser visualizadas na cartografia topográfica à escala 1:25 000, folha 464, dos Serviços Geográficos do Exército, com as características atrás referidas, nomeadamente a Ribeira da Fonte Nova com uma orientação SW – NW e a Ribeira do Chapim, com a mesma orientação.

Do ponto de vista da erosão, verifica-se que este tipo de percursos corta os calcários existentes na área, escavando-os até definirem um percurso bem delimitado para o oceano atlântico, no qual as suas águas desaguam em vales encaixados nas arribas litorais. Por fim, resta acrescentar que a área de estudo se encontra afastada das principais redes de drenagem do concelho de Sesimbra, que se encontram na área plana e periférica da Arrábida (a Lagoa de Albufeira), mas em contrapartida a zona do Cabo Espichel, encontra-se quase que suspensa sobre a maior rede de captação de águas, o oceano atlântico.

2.4 - O litoral Sul – paleoambientes e ocupação humana: do

Wurn à actualidade

2.4.1 - Evolução climática, paleoecológia e paleogeográfica (dados

genéricos)

Numa perspectiva evolucionista da paisagem e dos ambientes, verifica-se durante o Quaternário, tanto na Estremadura como no Alentejo litoral, várias oscilações que importam discutir. Para isso utilizou-se como periodização os estados isotópicos (variações em º18) dos foraminíferos fossilizados nos fundos dos oceanos.

No final do estado isotópico 3, correspondente ao chamado Wurn II, ou seja, finais do interpleniglaciário, 36 000 a 30 000 BP, constata-se a presença de grandes vertebrados marinhos (foca e grande alca ou Pinguinus impennis) de climas frios no troço litoral, entre Setúbal e o Cabo Espichel, nomeadamente na Gruta da Figueira Brava, com importante indústria lítica Mustierense e uma importante fauna Plistocénica

(33)

33 associada, com uma datação por Carbono 14 (conchas de lapa), de ICEN 387 – 30.930 +/- 700 BP / ICEN 386 – 30.050 +/- 550 BP (Antunes e Cardoso, 2000). Ora isto sugere que certamente as águas seriam mais frias do que na actualidade, no entanto, a configuração da linha de

costa deveria ser muito próxima da actual, pois, caso contrário, seria muito difícil de explicar a presença das espécies referenciadas. Esta fase é, ainda, conhecida

como uma fase

transgressiva, devido ao súbito aquecimento,

característica dos interestadiais (Zilhão, 1997b vol.1, p.64). Nos pontos mais elevados do maciço calcário da Arrábida, porém, deveria continuar com vegetação rasteira ou mesmo com rara vegetação, facto explicado com a presença no registo arqueozoológico na Gruta da Figueira Brava da cabra pirenaica (indicador de climas frios).

No estado isotópico 2, mais especificamente, finais do Wurn III, inícios do Wurn IV, entre 23 000 a 16 000 BP, verifica-se uma mudança significativa do ponto de vista paisagístico relacionada com as calotes polares a latitudes demasiado invasoras; desta forma, no chamado ultimo máximo glaciário, atingindo todo o seu esplendor entre 20 000 a 18 000 BP, a linha de costa do actual território português (v.fig.13) encontrava-se a 120/ 140m abaixo do nível actual (v. fig. 13. quadro de Dias, 1987).

Figura 13 - Evolução do nível médio do mar, litoral português nos últimos 18 000 anos. Segundo Dias (1987), in Dias, 2004, p.161.

(34)

34 A temperatura das águas chegava a ser inferior a 4 graus centígrados, segundo uma sondagem efectuada ao largo de Sines para recolha de amostras (Bard et al. 1987,

in Zilhão, 1997b vol.1, p.54); a zona litoral seria, então, muito fria com muitos ventos

fortes. Efectivamente a vasta planície litoral, actualmente submersa, seria correspondida, em termos de vegetação, por herbáceas, urzes, favorecendo a intensa deposição eólica durante a glaciação Wurn, correspondendo na formação de numerosos campos de dunas (Dias, 2004, p.162) fundamentalmente em locais de baixa altitude. É provável que mediante estas características devastadoras que a zona da Arrábida fosse nos pontos mais altos completamente desértica do ponto de vista vegetativo, com características de estepe; é natural que tenha havido uma regressão das espécies mediterrânicas, necessitando estas de pontos mais abrigados.

Segundo Silva e Soares (2006, p.16), baseados nos estudos polínicos e paleobotânicos da região (Mateus e Queiroz, 1997), à medida que avançamos para o fim da glaciação, ou seja, a partir do interestadial Allerod, e muito provavelmente relacionado com o aumento gradual da temperatura, verifica-se uma maior variação da diversidade vegetal, salientando-se o aparecimento do pinheiro bravo e da floresta decídua.

Na Estremadura, segundo os dados antracológicos de Figueiral (1993), indicam exactamente a mesma situação, ou seja, pinheiros bravos a colonizarem áreas arenosas, no litoral, bem como em zonas interiores, principalmente bacias fluviais arenosas. Por sua vez, no maciço calcário, evidencia-se uma recolonização do Carvalhal, mostrando igualmente uma subida das temperaturas.

Os dados para a Costa Sudoeste durante o Tardi-Glaciar apontam para uma subida do nível do mar cerca de 40/60m entre a faixa cronológica de 14 000 - 11 000 BP. No Dryas Recente ou III, na Costa Sudoeste e Estremadura, os dados são

(35)

35 consensuais, redução da biodiversidade, pois, o clima era frio voltando as condições glaciárias bem marcadas e intensificando-se o processo de erosão dos solos (Silva e Soares, 2006, p.16). As zonas costeiras, tornam a ser invadidas por extensas acumulações arenosas, por meio eólico intensivo, que tendem a preencher partes reentrantes da costa, e conduzindo vastos campos dunares (Dias, 2004, p.164). Desta forma, a linha de costa que tinha subido até à bati métrica -40 durante a fase anterior, torna a baixar. Como seria de esperar a vegetação irá responder, evidenciando-se novamente o predomínio das herbáceas (Idem, 2004, p.164)

No inicio do Pós-glaciário, zonação polínica Pré-Boreal e Boreal (10 000 – 7 600 BP), estado isotópico 1, os estudos polínicos já referenciados para o Alentejo Litoral (Mateus e Queirós, 1997, in Silva e Soares, 2006, p.18), demonstram uma substituição do Pinus sylvestris pelo Pinus pinaster, denotando-se um clima mais húmido e temperado quente sem o carácter mediterrânico que actualmente o caracteriza (v.fig.14). No Holocénico Inicial da Estremadura, é provável que tivesse as mesmas características paleoclimáticas.

Durante estas zonações polínicas, fundamentalmente no Alentejo Litoral, constata-se uma maior diverdidade do mosaico da vegetação regional, destacando-se a mata esclerófila de Quercus coccifera, desenvolvimento dos carvalhos decíduos e marcescentes, bem como um grande número de taxa: Erica australis, Erica scoparia, etc. (Silva e Soares, 2006, p.18) (v. fig.14).

(36)

36 Figura 14 – Fragmento de diagrama polínico da Lagoa da Travessa (nas proximidades do estuário do Sado, costa sul de Portugal (segundo Mateus, 1989, in Arnaud, 1999, p.23)

No Atlântico (7 500 - 5 500 BP), o nível do mar sob progressivamente estabilizando-se por volta de 5 000 BP, máximo atingido pela transgressão flandriana (v.fig.15). Define-se cada vez mais um preenchimento sedimentar dos corpos estuarinos

(37)

37 (Dias, 2004, p.164) que culminou, por exemplo, devido ao intenso assoreamento, na formação da Península de Tróia (Arnaud, 1999, p.39).

Figura 15 – Provável linha de costa, litoral sul português, desde o máximo da regressão Wurniana, adaptado de Dias (1987), Rodrigues et al., (1991) e Dias et al., (1997).

Actualmente, o Cabo Espichel devido à influência do Oceano e pela posição geomorfológica (planalto) apresenta características bastante húmidas, “mesmo de

verão” (O. Ribeiro, 1994³). Estas características naturais fazem com que as

precipitações sejam abundantes. A influência do vento é um dos factores principais que condicionam a vegetação da área, assim, segundo Silva Neto (1993, p.201-214), nas áreas mais expostas a este factor climatérico (como é o caso do sítio arqueológico), o maquial de carrasco e sabina da praia, torna-se mais aberto e as plantas não ultrapassam os 50cm de altura. Verifica-se uma penetração de Salvio sclareoidis- Ulicetum densi, que ocupam as áreas mais expostas.

(38)

38

2.4.2 - As sociedades pré-históricas do litoral: modelos e características

A partir do Tardi-Glaciar (14 000-10 000 BP), o clima torna-se um elemento preponderante nas estratégias económicas por parte da humanidade, a nível das explorações territoriais que se traduzirá em importantes reflexos na cultura material, destacando-se como forma de adaptação à mudança climática, a microlitização patente no último tecno-complexo do Paleolítico Superior, o Magdalenense, que visava uma caça recolecção rápida com elementos materiais de fácil transporte. Contudo, esta teoria tem sofrido alguma contestação, porque recentes estudos (Luiz Oosterbek, informação pessoal) no Alto Ribatejo (Centro de Portugal) têm revelado que algumas indústrias macrolíticas atribuídas ao Epipaleolítico/Mesolítico são na verdade indústrias do Paleolítico Superior Final.

Com isto, é sabido que junto à linha de costa ou nas suas imediações, em regiões como a Península de Setúbal, Alentejo e Algarve, não existe uma matriz de povoamento litoral bem caracterizada da última fase paleolítica e, em certas regiões, essa ocupação, é praticamente desconhecida. “ (…) apresentam [no caso do Algarve] uma ruptura clara

com os sítios do Paleolítico Superior. No que concerne à localização dos sítios

arqueológicos, a sua implantação é muito mais próxima da linha costeira actual do que

no Paleolítico Superior” (Bicho, 2006b, pág.20).

“O Paleolítico Superior não foi até agora identificado de forma inequívoca nem na

Península de Setúbal, nem no Alentejo Litoral. Escassos vestígios, principalmente

encontrados no Cabo de Sines, são atribuíveis a esse período com muitas reservas”

(Silva e Soares, 2006, pág.16).

Desta forma, é na transição para o Holocénico que essa matriz (povoamento) se começa a definir. Surgem (ou ressurgem) no Epipaleolítico Antigo (11 000 BP), correspondente à zonação polínica, Dryas recente (III), os primeiros sítios com

(39)

39 características costeiras, visando um processo económico de exploração de recursos aquáticos. O concheiro da Pedra do Patacho (Soares e Silva, 1993), situado na margem Norte do Rio Mira, Vila Nova de Mil Fontes, é um exemplo clássico, destacando-se um nível conquífero que se estende ao longo da arriba, provavelmente inserido em regime de exploração sazonal por parte das comunidades, devido à baixa densidade de artefactos, fundamentalmente macrolíticos e expeditos (Silva e Soares, 2003, p.47), bem como ausência de outras espécies faunísticas, mais especificamente de mamíferos.

A nível artefactual, as sociedades demonstram preferência por cadeias operatórias macrolíticas (uso expedito), no entanto, esta preferência não é exclusiva aos grupos epipaleolíticos. Em variados sítios, não só no Alentejo Litoral, verifica-se igualmente cadeias operatórias microlíticas (uso intensivo) que, a par do último sistema, constituem a base da sua tecnologia, misturando-se e interligando-se em vários contextos ao longo do litoral. De facto, ao referirmo-nos apenas à microlitização, sente-se uma evolução lítica com um substrato no Paleolítico Superior Final, facto evidenciado por Roche (1960) e por Silva e Soares (2003, p.46) “ (…) O subsistema

tecnológico uso-intensivo prolonga claramente as tradições tecnológicas do

Paleolítico Superior, sendo difícil, na ausência de informação complementar, datar tais

conjuntos líticos (…)”

Consequentemente, no Alentejo Litoral e Península de Setúbal e mesmo no Algarve, à medida que nos aproximamos do Mesolítico (correspondente às zonações polínicas, Pré-boreal 10 000-8 500 BP e Boreal 8 500-7 500 BP), a matriz de povoamento começa a definir-se com maior clareza, pois, começam a surgir uma maior quantidade de ocupações litorais, todas elas preferindo zonas arenosas, nas imediações costeiras, com proximidade de linhas de água (Silva e Soares, 2003, p.46). Com estas características destacam-se os seguintes sítios: Casal do Mocinho, Sesimbra (Silva e

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40 Soares, 1986); Cabo de Sines (Roche, 1960); Oliveirinha (Sines); Espigão, Aivados, Praia dos Nascedios (Odemira); Palheirões do Alegra (Vierra, 1992; Raposo, 1994, 1997); Castelejo (níveis inferiores) (Silva e Soares, 1997), etc.

No Mesolítico (zonação polínica, Atlântico 7 500 a 6 500 BP) a consolidação da matriz litoral (v.fig.16) intensifica-se muito mais, na faixa sul e litoral do actual território português. Do ponto de vista da implementação humana, verifica-se nas referenciadas regiões litorais, uma continuação preferencial com raízes na fase anterior, ou seja, locais de base arenosa junto à vertente litoral.

Desta forma, os trabalhos arqueológicos (arqueologia de salvamento, a cargo do Gabinete da Área de Sines) efectuados caracterizaram 2 sistemas económicos:

1. Uma nova forma de abordar o espaço - os acampamentos base - que podiam ser ocupados todo o ano, ex: Samouqueira (sobre a arriba, a norte de Porto Corvo); Vale Marim (sobre a arriba, a norte de S. Torpes, Sines); Fiais, Odemira (o concheiro mais interior a cerca de 10km da costa, num afluente do mira). Estes sítios do Alentejo Litoral, de largo espectro, revelaram espólios faunísticos em que as espécies detectadas estavam unicamente relacionadas com a caça, a pesca e a recolecção de marisco (Soares, 1995; Silva et al., 1985; Vierra, 1992). Contudo, surge uma nova componente, ou seja, a integração funerária nos estabelecimentos (ex. Fiais) que sugerem a hipótese de crescentes índices de sociabilidade e territorialidade (Silva e Soares, 2006, p.21) 2. A continuação das fixações esporádicas (constituindo alguns enormes palimpsestos), onde se intensifica a recolecção de recursos marinhos/ou estuarinos, bem como de matérias-primas, não estando presentes fauna mamalocológica, ornitológica e ictiológica. De facto, este último sistema logístico está muito mais relacionado com a área algarvia, pois na região referida ainda não se conhecem sítios de carácter residencial, podendo, estes últimos, estarem localizados no interior do território, como

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41 parece indicar os resultados de uma análise isotópica de um molar humano encontrado em Vale do Boi, datado de cerca de 7.500 BP, evidenciando uma dieta alimentar em recursos terrestres e marinhos (Bicho, 2006b, pág.21). Com estas características, destacam-se os seguintes sítios, relacionados com a exploração de marisqueio (1, 2, 3) e com a exploração das matérias-primas locais (4,5,6): 1.Barrando das Quebradas (I, III, e IV); 2.Montes de Baixo (Odeceixe); 3.Castelejo (Vila do Bispo); 4.Armação Nova (Cabo S. Vicente); 5.Rocha das Gaivotas; Castelejo (níveis superiores).

A nível artefactual, continuam as sociedades nas regiões já mencionadas a efectuarem cadeias operatórias mistas, todavia, é na zona do Alentejo litoral, onde se destaca em maior quantidade a utensilagem geométrica, fundamentalmente rica em trapézios elaboradas em rochas de boa manufactura, como é o caso do sílex, como outras rochas siliciosas.

Figura 16 - Intensificação do povoamento no litoral sul português a partir do fim da última glaciação (segundo Soares, 1992, p.34; Bicho et al., 2000)

Legenda:

A. Epipaleolítico: 1 – Casal do Mocinho (Sesimbra); 2 – Cabo de Sines; 3 – Pedra do Patacho (Vila Nova de Mil Fontes); 4 – Palheirões do Alegra; 5 – Castelejo;

B. Mesolítico: 1 – Vale Marim (Sines) 2 – Samouqueira I (Porto Corvo); 3 – Vidigal (Porto Corvo); 4 – Fiais (Odemira); 5 – Montes de Baixo (Odeceixe); 6 - Barranco das Quebradas I e II; 7 – Castelejo (Vila do Bispo); 8 – Armação Nova/Rocha da Gaivota (Cabo S.Vicente);

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42 No Algarve, apesar das cadeias operatórias evidenciarem os mesmos procedimentos que o Alentejo Litoral (a macrolítica, sobre rochas de origem local; e microlítica, para a produção de suportes lamelares) verifica-se que os geométricos são bastante escassos. Segundo Bicho (2006b, pág.21), a praticamente ausência de geométricos, relaciona-se com o facto de estes terem sido transportados para os locais de largo espectro que se situam provavelmente um pouco mais no interior do território algarvio.

O Neolítico Antigo, no Alentejo Litoral e no Algarve (v.fig.17), continua com as mesmas estratégias de implantação de habitat em zonas de proximidade com a linha de costa, frequentemente sobre as arribas litorais em locais arenosos.

Os acampamentos identificados nas duas últimas regiões dividem-se, tal como no período antecessor, de largo espectro ex. Vale Pincel, Sines (Soares e Silva, 1981) e de curto espectro ex. Medo Tojeiro, Almograve (Silva, et al., 1985), onde a recolecção

Figura 17 - Sítios arqueológicos do litoral sul de Portugal, correspondentes ao Neolítico Antigo Pleno e Evolucionado (adaptado de Soares, 1997, p.589)

Legenda:

C . Neolítico Antigo Pleno e Evolucionado : 1. Gaio (Moita); 2 – Casal da Cerca (Palmela); 3 – Fonte de Sesimbra (Sesimbra); 4 – Lapa do Fumo e Pinheirinhos (Sesimbra); 5 – Vale Pincel I (Sines); 6 – Oliveirinha (Sines); 7 – Samouqueira II (Sines); 8 – Vale Vistoso (Sines); 9 – Galés (Vila Nova de Mil Fontes); 10 – Água da Moita (Vila Nova de Mil Fontes); 11 – Medo Tojero (Almogreve); 12 – Castelejo; 13 – Vale Santo I (Vila do Bispo); 14 – Cabranosa (Vila do Bispo); 15 – Padrão I (Vila do Bispo); 16 - Gruta de Ibn Amar (Estombar); 17 Caramujeira I (Lagoa);

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43 de moluscos constituía, ainda, importante fonte da dieta alimentar por parte das sociedades.

Desta forma, verifica-se a inexistência de espécies domésticas, fundamentalmente nos acampamentos de largo espectro, bem como são raros os elementos que potenciam a prática da agricultura. A grande excepção trata-se das estações da Cabranosa, Padrão e Vale do Boi, onde se detectaram um conjunto de espécies já domesticadas (ovinos, caprinos e bovinos). Os dois primeiros sítios, atrás referidos, inserem-se numa problemática relacionada com a chegada de povos exógenos provenientes do mediterrâneo.

Com isto, desenvolve-se a tedesenvolve-se difusionista (Zilhão 1992, 1993, 1997a) inspirada no Modelo A de Arnaud (1982), relativamente à questão das relações entre as primeiras comunidades de agricultores com as ultimas sociedades de caçadores recolectores. Segundo este postulado, a origem do Neolítico,

relaciona-se com a chegada de colonos por via marítima que se instalaram em dois pólos de origem calcária: a Estremadura e o Algarve, regiões muito parecidas com os ambientes originais desses povos exógenos, a Norte e a Sul de zonas mais povoadas pelas comunidades mesolíticas (Zillhão, 1998, p.29); terão sido estas populações que trouxeram o chamado pacote Neolítico (v. fig.18) (cerâmica cardial, a agricultura e a Figura 18 – Vaso de colo apertado com decoração cardial, proveniente da estação do Neolítico Antigo Pleno da Cabranosa (Adaptado de Carvalho e Cardoso, 2003, p.29)

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44 domesticação), sendo que as cerâmicas cardiais apresentam paralelos com algumas estações da Andaluzia Oriental (Cariguela) ou de Valência (Cova d’Or e Cedres), onde o mesmo processo de colonização terá ocorrido (A. Figueiredo, 2006 vol.1, p.102) (v.fig.19).

Figura 19 – A Europa das primeiras comunidades Neolíticas, VII-VI milénio a.C. (adaptado de J. Guilaine, 1997, p.23).

Posto isto, os defensores desta tese referem que, nas zonas estuarianas (Sado, Tejo e Mira), as sociedades autóctones, detentoras de práticas económicas baseadas na caça, pesca e recolecção, terão sido absorvidas pelas comunidades neolíticas (Zilhão, 1998, p.42). Desta forma, por volta do VI milénio a.C., o território actualmente português era ocupado por povos distintos que viriam a homogeneizar-se no chamado Neolítico Epicardial. João Zilhão o maior defensor deste postulado, propõe mesmo a diferenciação das comunidades do Neolítico Antigo pela presença de um factor tecnológico – a cerâmica cardial (in A. Figueiredo, 2006 vol.1, p.102).

Todas as outras estações com a presença ou ausência de cerâmica, eventualmente impressas, denominam como de mesolíticas. Como prova (Zilhão, 1998, p.40-41), refere: (1) descontinuidade observada na cultura material, em alguns casos com pendentes (sobre canino de veados), característicos do cardial da cova d L’Or; (2)

Imagem

Figura  2  –  Ilustração  Subsídios  para  a  Carta  Arqueológica do Cabo Espichel
Figura 3 – Localização geográfica do Cabo Espichel e do Alto da Fonte Nova.
Figura  5  - Esboço  morfológico  da  Arrábida  e  a  ocupação  humana  (adaptado  de  S
Figura 7 - Esboço  de corte geológico (zona oeste) da Península de Setúbal (adaptado de Andrade,  1989, in Cavaco, 2004, p.11).
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