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Guia de construção manual de palhetas de oboé para alunos, professores, amadores e profissionais da música

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Academic year: 2021

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Universidade de Aveiro 2018

Departamento de Comunicação e Arte

Luís Filipe Araújo de

Matos

GUIA DE CONSTRUÇÃO MANUAL DE PALHETAS DE

OBOÉ PARA ALUNOS, PROFESSORES, AMADORES

E PROFISSIONAIS DA MÚSICA

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Universidade de Aveiro 2018

Departamento de Comunicação e Arte

Luís Filipe Araújo de

Matos

GUIA DE CONSTRUÇÃO MANUAL DE PALHETAS DE

OBOÉ PARA ALUNOS, PROFESSORES, AMADORES

E PROFISSIONAIS DA MÚSICA

Relatório apresentado à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ensino da Música, realizada sob a orientação científica da Profª. Doutora Helena Maria da Silva Santana, Professora Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro.

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Dedicatória Dedico este trabalho a toda a comunidade oboística que procura soluções viáveis para o grande problema que é a construção das palhetas.

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O júri

Presidente Professor Doutor Luís Filipe Leal de Carvalho

Professor Auxiliar do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro

Vogal – Arguente Principal Professor Doutor Luís Filipe Barbosa Loureiro Pipa

Professor Auxiliar do Departamento de Música da Universidade do Minho

Vogal - Orientador Professora Doutora Helena Maria da Silva Santana

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Agradecimentos Quero agradecer à Academia de Música de Vilar do Paraíso pela hospitalidade e formação que me ofereceu e pela cedência de espaço para a aplicação deste projeto educativo, pela disponibilidade de todos os docentes, dirigentes e corpo não docente, à orientadora científica, Prof.ª Doutora Helena Santana, coorientador científico, Jean Michel Garetti e orientador cooperante, Júlio Conceição, que me ajudaram a obter a profissionalização.

À minha família, à minha namorada Camila, respetiva sua família e aos meus amigos, pela paciência que tiveram comigo e pelo apoio que me deram. A todos os meus professores, nomeadamente o professor Jean Michel Garetti e a professora Ana Madalena Silva por todo o conhecimento transmitido, amizade e todo o apoio e ajuda ao longo desta etapa.

À classe de oboé do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, nomeadamente a Joana e a Telma por todo o apoio, ajuda e amizade.

Aos professores e alunos de oboé que perderam algum tempo para responder aos inquéritos, ajudando-me a alcançar alguns resultados neste projeto.

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palavras-chave oboé, construção de palhetas, ferramenta didática, material pedagógico, autonomia.

resumo Dada a inexistência de documentação, escrita em Língua Portuguesa, direcionada para o ensino da construção de palhetas, a pedagogia deste tema tem sido realizada, essencialmente, de forma oral, através dos métodos demonstrativo, expositivo e imitativo. De forma a criar uma alternativa viável, que permita uma sistematização das metodologias, foi pensada a elaboração de um guia de construção manual de palhetas duplas de oboé.

O presente projeto tem como objetivos gerais entender diferentes metodologias de ensino da construção de palhetas de oboé e a redação de um guia de construção manual de palhetas de oboé. De uma outra perspetiva, o estudo procura comprovar a necessidade/pertinência de um documento escrito, em Língua Portuguesa, demonstrando uma série de metodologias para a construção de palhetas, e a verificar uma possível marginalização do ensino de oboé, em Portugal.

Para a realização deste projeto, foi concretizada uma pesquisa bibliográfica, para fundamentação teórica e para a compreensão de metodologias de construção de palhetas. Foram, também, elaborados inquéritos gerais a alunos e professores para estudar o ensino da construção de palhetas, em Portugal e a pertinência/necessidade da existência de um guia de construção manual de palhetas de oboé, escrito em Língua Portuguesa. Seguiu-se a redação e elaboração do guia, resultado de uma compilação de metodologias para cada fase do processamento. A implementação do projeto foi realizada sob a forma de um workshop, em que se pretendia testar o guia, verificando a sua eficácia. Foram, ainda, realizados dois inquéritos, a serem respondidos pelos participantes do workshop, de forma a perceber a eficácia do documento.

Os resultados desta investigação permitem aferir a grande diversidade de metodologias bem como de modelos/escolas de construção de palhetas. Pelos dados recolhidos em inquéritos, foi fundamentada a falta de tempo letivo dedicado ao ensino da construção de palhetas e a falta de material didático e suporte pedagógico para o mesmo efeito. Foi ainda possível verificar de uma perspetiva quantitativa que o guia de construção manual de palhetas é viável para auxiliar a pedagogia deste tema, não substituindo, contudo, o professor.

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keywords oboe, reed making, didactic tool, educational material, autonomy.

abstract The lack of written in Portuguese documentation about reed making led to verbal transmission of the procedures, by demonstration, exposition and imitation. In order to create a viable option that allows a methodology’s systemization, the elaboration of an oboe reed making guide was thought.

This project has the general goal of understanding different methodologies of oboe reed making teachings and the creation of a reed making guide. The project has some specific goals, such as proofing the need of a written in Portuguese document, presenting several procedures about reed making and the disregard about reed making in oboe teaching, in Portugal.

In order to understand the reed making methodologies and substantiate the project, it was required some research. General inquiries were answered by oboe teachers and students in order to study the Portuguese reed making teachings and the need of a written in Portuguese reed making guide. Afterwards, the reed making guide was created as a result of a methodologies compilation. This project implementation occurred at a workshop, in order to test the reed making guide efficiency. Lastly, there were two inquiries answered by workshop participants, in order to understand the document efficiency.

The results of this investigation display the large diversity of reed making methodologies and schools/models. The data collected from inquiries expose the lack of time to teach reed making procedures and the lack of didactic tools and educational materials about this subject. The project also revealed that the reed making guide is a viable didactic tool but it doesn’t replace the teacher.

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ÍNDICE

Índice de Ilustrações ... 5

Índice de Gráficos ... 7

Índice de Tabelas ... 9

Preâmbulo ...11

Parte I: Enquadramento e Fundamentação Teórica ...15

1.1. O oboé ...17

1.1.1. Instrumento Musical ...17

1.1.2. Classificação do oboé enquanto Instrumento Musical ...19

1.1.3. Variantes do oboé ...20

1.2. A palheta dupla ...21

1.2.1. Construção das palhetas duplas ...23

1.2.2. Literatura Disponível – Manuais de Construção de Palhetas ...27

1.2.3. Modelos/Tendências de Raspagem ...30

Parte II: Projeto Educativo ...41

2.1. Introdução ...43

2.1.1. O ensino da construção de palhetas ...43

2.1.2. Porquê fazermos as nossas palhetas...44

2.2. Construção e Implementação do Projeto...47

2.2.1. Objetivos ...47

2.2.2. Construção do Guia ...47

2.2.3. Implementação do projeto ...50

Parte III: Ferramentas de Obtenção de Dados ...53

3.1. Construção das Ferramentas de Obtenção de Dados ...55

3.1.1. Inquéritos Gerais a Professores ...55

3.1.2. Inquéritos Gerais a Alunos ...56

3.1.3. Inquéritos Pré-workshop ...56

3.1.4. Inquéritos Pós-workshop ...57

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3.2.1. Inquéritos Gerais a professores ...59

3.2.2. Inquéritos Gerais a Alunos ...65

3.2.3. Inquéritos Pré-Workshop ...71

3.2.4. Inquéritos Pós-Workshop ...71

3.2.5. Workshop ...72

3.3. Discussão dos Resultados ...73

3.4. Conclusões ...76

Parte IV: Relatório de PES (Prática de Ensino Supervisionada) ...79

4.1. Descrição e Caracterização da Instituição de Acolhimento ...81

4.1.1. As instalações ...81

4.1.2. Órgãos de Gestão e Organização Escolar ...83

4.1.3. Oferta Educativa ...86

4.1.4. Regulamento Interno ...88

4.1.5. Regulamento do Quadro de Mérito e Excelência ...88

4.1.6. Docentes ...89

4.1.7. Missão e objetivos ...91

4.2. Caracterização da Classe ...94

4.2.1. A Classe de Oboé ...94

4.2.2. O professor Cooperante – Júlio Conceição ...94

4.2.3. Os Alunos ...95

4.3. Planificações e Relatórios de Aulas Coadjuvadas e Assistidas ...97

4.3.1. Aluno A – 1º Período ...97 4.3.2. Aluno A – 2º Período ... 104 4.3.3. Aluno A – 3º Período ... 113 4.3.4. Aluno B – 1º Período ... 119 4.3.5. Aluno B – 2º Período ... 127 4.3.6. Aluno B – 3º Período ... 136 4.3.7. Aluno C – 1º Período... 142 4.3.8. Aluno C – 2º Período... 151

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4.3.9. Aluno C – 3º Período... 160

4.3.10. Orquestra de Sopros – 1º Período ... 166

4.3.11. Orquestra de Sopros – 2º Período ... 169

4.3.12. Orquestra de Sopros – 3º Período ... 174

4.4. Relatórios de Atividades inseridas em PES ... 178

4.4.1. Audição de Classe ... 178

4.4.2. Concerto do Quinteto Promenade ... 179

4.4.3. Workshop de palhetas duplas ... 181

4.4.4. Masterclass de oboé ... 183

4.5. Reflexões Finais ... 185

Referências Bibliográficas ... 187

Anexos ... 189

Anexo 1: Manual Guia de Construção de Palhetas Duplas – para Oboístas (excertos) ... 191

Anexo 2: Projeto Educativo da AMVP ... 197

Anexo 3: Regulamento Interno da AMVP ... 223

Anexo 4: Regulamento do Quadro de Mérito e Excelência da AMVP ... 271

Anexo 5: Plano Anual de Formação... 275

Anexo 6: Folhas de Presença ... 277

Anexo 7: Planificações de Oboé do Ensino Básico ... 281

Anexo 8: Classe de Oboé ... 297

Anexo 9: Programa de Oboé ... 298

Anexo 10: Critérios de Avaliação de Oboé (2ºCiclo) ... 319

Anexo 11: Matrizes Provas Trimestrais de Sopros ... 320

Anexo 12: Matriz Prova Global de Sopros ... 323

Anexo 13: Documentação referente à Audição de Classe ... 326

Anexo 14: Documentação referente ao Workshop ... 328

Anexo 15: Documentação referente à Masterclass de Oboé ... 349

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Anexo 17: Declaração de faltas pela OFB ... 355

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Índice de Ilustrações

Figura 1: Oboé Lorée ...17

Figura 2: Interpretação de um instrumento musical do ponto de vista físico. ...18

Figura 3: Oboé d'amore Lorée ...20

Figura 4: Corne Inglês Lorée ...20

Figura 5: Oboé Baixo Lorée ...21

Figura 6: Oboé piccolo Lorée ...21

Figura 7: Palheta de oboé ...23

Figura 8: Fases da confeção de uma palheta de oboé ...23

Figura 9: Agricultor verificando a qualidade da Arundo Donax ...24

Figura 10: Arundo Donax cortada em tubos ...24

Figura 11: Corte do tubo de cana com uma flecha ...25

Figura 12: Goivagem de uma cana ...25

Figura 13: Corte da forma da cana ...26

Figura 14: Amarragem de uma palheta ...26

Figura 15: Raspagem de uma palheta...27

Figura 16: Palhetas Alemãs de Fritz Fischer vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...31

Figura 17: Palhetas Alemãs de Helmut Eggers vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...32

Figura 18: Palhetas Francesas de Alexandre Duvoir vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...33

Figura 19: Palhetas Francesas de Marcel Dandois vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...33

Figura 20: Palheta Inglesas de William Tait vista à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...34

Figura 21: Palhetas Inglesas de Harry B. Baker vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...34

Figura 22: Palhetas Americanas de Joseph Robinson vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...35

Figura 23: Palhetas Americanas de John Mack vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...35

Figura 24: Oboé Vienense ...36

Figura 25: Palhetas Vienenses de Manfred Kautzky vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita) ...36

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Figura 26: Palhetas Vienenses de Anatol Petrov vistas à luz natural (esquerda) e à

contraluz (direita) ...37

Figura 27: Palheta de Saxofone Alto Légère ...38

Figura 28: Palheta de oboé Légère ...38

Figura 29: Palheta de fagote Légère ...39

Figura 30: Máquina de raspar palhetas Reeds ‘n Stuff ...46

Figura 31: Ficha orientadora das combinações na amarragem das palhetas ...52

Figura 32: Inquérito Pré-Workshop ...57

Figura 33: Inquérito Pós-Workshop ...58

Figura 34: Academia de Música de Vilar do Paraíso ...81

Figura 35: Organograma funcional da AMVP ...85

Figura 36: Oferta educativa da AMVP ...86

Figura 37: Valores da AMVP ...92

Figura 38: Concerto do Quinteto Promenade no Cinema Nun'Alvares ... 179

Figura 39: Artigo da Newsletter do CMSM ... 180

Figura 40: Sessão de Amarragem do workshop ... 181

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Índice de Gráficos

Gráfico 1: Número de professores a lecionar em escolas de diferentes regimes ...59

Gráfico 2: Percentagem de professores que fazem palhetas para alunos ...60

Gráfico 3: Percentagem de professores que ensinam os alunos a fazer palhetas ...60

Gráfico 4: Respostas à pergunta “vende palhetas feitas por si aos alunos?” ...61

Gráfico 5: Respostas à pergunta “pede aos alunos que comprem palhetas em lojas especializadas?” ...61

Gráfico 6: Graus de ensino em que se inicia o ensino do processamento das palhetas ...61

Gráfico 7: Fases do processamento das palhetas abordadas inicialmente ...62

Gráfico 8: Métodos de ensino das palhetas ...62

Gráfico 9: Respostas relativas ao uso do tempo de aula para instruir a construção de palhetas ...63

Gráfico 10: Respostas relativas ao conhecimento de manuais de palhetas em Língua Portuguesa ...63

Gráfico 11: Respostas relativas ao uso de um manual como suporte didático ...64

Gráfico 12: Poupança de tempo de aula com o recurso do livro ...64

Gráfico 13: Idades dos alunos inquiridos ...65

Gráfico 14: Anos dedicados ao estudo de oboé ...65

Gráfico 15: Grau académico dos alunos inquiridos...66

Gráfico 16: Regime de ensino das escolas frequentadas pelos inquiridos ...66

Gráfico 17: Frustração sentida face a problemas nas palhetas ...66

Gráfico 18: Respostas relativas à formação a nível de palhetas...67

Gráfico 19: Conhecimento de manuais em Língua Portuguesa ...67

Gráfico 20: Necessidade de existir um manual em Português ...68

Gráfico 21: Fases do processamento das palhetas já iniciadas ...68

Gráfico 22: Dificuldades apresentadas ao longo do processamento das palhetas ...69

Gráfico 23: Respostas à pergunta "geralmente quem faz as tuas palhetas?" ...69

Gráfico 24: Autonomia dos alunos quando têm problemas nas palhetas ...70

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Classe de oboé da AMVP ...94 Tabela 2: Atividades de PES propostas ... 178 Tabela 3: Atividades de PES realizadas ... 178 Tabela 4: Lista de participantes no workshop ... 181 Tabela 5: Lista de inscritos na masterclass de oboé ... 183 Tabela 6: Lista de repertório da masterclass de oboé ... 184 Tabela 7: Programação da masterclass de oboé no dia 18 de dezembro ... 184 Tabela 8: Programação da masterclass de oboé no dia 19 de dezembro ... 184

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Preâmbulo

Durante o meu percurso como estudante de oboé percebi que uma grande parte do meu trabalho residia na construção e manutenção de palhetas duplas de oboé. Como na maioria das escolas de ensino especializado, quer de regime oficial, quer de regime não oficial, o meu processo de aprendizagem dos métodos de construção de palhetas foi realizado através dos métodos expositivo, demonstrativo e imitativo. Ora, este sistema de ensino baseado em demonstrações e apreciações mostrou-se muito demorado pois dependia sempre da presença e da apreciação de um professor. A complexidade do processo de construção de palhetas é de tal forma relevante que uma parte das aulas, entre 10 a 15 minutos, é ocupada com o ensino do processo. Só depois de ingressar no ensino superior e após vários anos de tentativas e erros consegui criar uma certa autonomia que me fez falta nos primeiros anos de estudo do oboé.

Hoje em dia, enquanto professor, deparo-me com o mesmo problema nos meus alunos, a falta de autonomia e a falta de tempo para transmitir os processos que lhes permitirão ter mais independência e um melhor aproveitamento nas aulas. Por vezes, o aproveitamento dos alunos, nas aulas, é menor, devido a problemas constantes com as palhetas e à incapacidade de os solucionar, sem a orientação e supervisão do professor.

Devido à falta de tempo letivo para o ensino da construção de palhetas, decidi pesquisar material didático que pudesse ajudar os alunos de forma a estes se tornarem mais independentes do professor. Deparei-me com a falta de documentação escrita em Língua Portuguesa direcionada para o tema, sendo que os poucos materiais existentes estavam escritos na maioria em alemão, inglês, francês e apenas um ou dois livros em Língua Portuguesa. De alguns livros de estudos para oboé retiravam-se pequenas alusões ao tópico da construção de palhetas, mas sem grande aprofundamento. Dos livros dedicados à construção de palhetas retirava-se apenas um método por livro. Ora, um método pode não resultar na totalidade com alguns alunos e, tendo em conta o custo de alguns dos livros, seria dispendiosa a aquisição de livros até encontrar um método que se adeque a determinado aluno e, ainda assim, teríamos as limitações do idioma do livro.

Posto isto, o presente projeto surge no âmbito da unidade curricular de Prática de Ensino Supervisionada, inserida no Mestrado em Ensino da Música, na Universidade de Aveiro, tendo como objetivo geral, a criação de um guia de construção manual de palhetas que aborde várias metodologias para cada fase da elaboração de uma palheta de oboé. Como objetivos específicos, o projeto pretende analisar e comprovar a necessidade de um guia escrito em Língua Portuguesa, através de inquéritos realizados a professores e alunos de oboé, e compreender de que forma é lecionada a construção de palhetas, procurando

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verificar a existência de uma marginalização do ensino de oboé, no que diz respeito ao tempo letivo dedicado ao tema.

De forma a cumprir os objetivos gerais e específicos deste projeto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica, que permitisse a obtenção de dados para uma fundamentação teórica do projeto e os conteúdos necessários à elaboração do guia de construção manual de palhetas.

Numa primeira fase foram realizados inquéritos gerais, sob a forma de questionários, destinados a professores e alunos, de forma a averiguar o ensino da construção de palhetas, em Portugal e a pertinência/necessidade da criação de um guia de construção manual de palhetas de oboé, escrito em Língua Portuguesa, para melhor funcionamento do ensino deste tema, criando um importante apoio pedagógico. O estudo vem comprovar a falta de documentação e a necessidade de existir mais material didático, escrito em Língua Portuguesa, para este tema, além de demonstrar uma carência de tempo letivo para a instrução da construção de palhetas.

De seguida, deu-se a construção do documento, o qual resultou de uma compilação de metodologias para cada fase do processamento das palhetas. A estrutura do livro é dividida em dois capítulos, amarragem e raspagem. Como implementação do projeto, de forma a verificar-se a eficácia do guia, foi realizado um workshop, dividido em duas sessões, cada uma dedicada a um capítulo do documento e, consequentemente, dedicada a uma das fases do processamento das palhetas.

De forma a perceber a eficácia do livro e avaliar possíveis falhas e pontos a alterar no mesmo, foram realizados inquéritos aos participantes do workshop. Na fase pré workshop foram averiguados os conhecimentos já adquiridos pelos alunos bem como o tempo despendido para a prática da construção de palhetas. Na fase pós workshop foi provada a eficácia do documento, sendo expostas as dificuldades que experienciaram na utilização do mesmo.

Este projeto está estruturado em quatro secções:

 Na primeira secção é apresentado um enquadramento teórico onde é apresentado o oboé, a palheta dupla, uma seleção de literatura acerca do tema e contextualização das escolas de oboé e as respetivas tendências de raspagem de palhetas.

 Na segunda secção é exposto o projeto da criação de um guia de construção manual de palhetas duplas. Nesta secção são explorados e apresentados o sistema de ensino da construção de palhetas e os motivos da construção manual das mesmas. É, então, apresentado o projeto, sendo explicado o processo de criação do Guia de Construção de Palhetas Duplas e a sua estrutura. Por último

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13 é apresentada a implementação do projeto, através da realização de um

workshop de construção de palhetas.

 A terceira secção é dedicada às ferramentas de obtenção de dados. Nesta são apresentados os inquéritos gerais, sob a forma de questionário, direcionados a professores e alunos e os inquéritos realizados nas fases pré e pós workshop. Finalmente, é feita uma análise dos dados recolhidos e uma breve apreciação e discussão dos resultados.

 Finalmente, a quarta secção é constituída pelo relatório de estágio da componente de Prática de Ensino Supervisionada, onde será apresentada a escola – Academia de Música de Vilar do Paraíso – respetivo projeto educativo e regulamento interno, lista de docentes, caracterização dos alunos, relatórios de aulas assistidas e planificações de aulas.

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Parte I: Enquadramento e Fundamentação

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1.1. O oboé

“O termo oboé deriva do francês haut-bois, formado pelos vocábulos haut (alto ou agudo) e bois (madeira)” (Bosch, Lima, Ramos, & Saraiva, 2012, p. 146). Hautbois significa, então “madeira alta”, devido ao registo agudo do instrumento. Descendente da charamela, o oboé começou a ser construído e usado na época de Lully, que o inclui pela primeira vez na sua orquestra em 1657 (Baines, 1967, p. 279).

O oboé é um instrumento de tubo cónico, tocado a partir de uma palheta dupla e possui um registo agudo, exceto em certas variedades em que experiencia outros registos (Sadie & Tyrrell, 1980). O tubo do oboé tem cerca de “60 cm e é feito geralmente em ébano (ou granadilha). (…) É construído em três partes, sendo a última um pequeno pavilhão (campânula) pouco pronunciado. A embocadura é uma palheta dupla; na realidade não é uma palheta mas sim duas, encostadas uma à outra e fixadas no extremo inferior a uma peça de metal (tudel). O executante prende a palheta nos lábios e soprando faz com que as duas lâminas que a compõem vibrem, batendo uma na outra. O oboé é portanto um instrumento de palheta dupla batente. Tem uma extensão de duas oitavas e uma sexta (Si b 2 a Sol 5) e é munido de um sistema de chaves Boehm” (Henrique, 2011, p. 278).

“O instrumentista que toca oboé denomina-se oboísta” (Grout & Palisca, 2001).

Segundo Burgess e Haynes (2010), foi no fim do século XIX que se desenvolveu o oboé com o sistema de conservatório, com os melhoramentos técnicos de F. Lorée. Lorée adicionou um sistema de chaves muito mais simples que facilitava a vibração do instrumento bem com a flexibilidade entre registos. Bosch et al. (2012) afirma que o modelo de Lorée estabeleceu-se como a chave na qual se baseia o oboé moderno.

Figura 1: Oboé Lorée1

1.1.1.

Instrumento Musical

Instrumento musical é “todo o dispositivo suscetível de produzir som, utilizado como meio de expressão musical” (Henrique, 2011, p. 3).

1 Fonte: http://www.loree-paris.com/instruments/f-loree/?lang=en#prettyPhoto/0/ acedido a

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“Analisando um instrumento musical do ponto de vista físico, podemos encará-lo como um sistema dinâmico. Seja qual for o instrumento em questão, ele é constituído por três componentes, que podem ser considerados subsistemas de fronteiras mais limitadas: sistema excitador, sistema ressoador e sistema radiante” (Henrique, 2002, p. 310).

Luís Henrique (2002) apresenta o sistema excitador como um mecanismo que gera as vibrações transformando energia não-vibratória em energia vibratória. Um exemplo deste sistema é a vibração da palheta dupla do oboé causada pelo fluxo de ar do oboísta.

O sistema ressoador é o “processo pelo qual as oscilações são amplificadas, filtradas ou modificadas. O ressoador é o elemento que ressoa à frequência pretendida” (Henrique, 2002, p. 311). No caso do oboé, o sistema ressoador é o seu próprio tubo por onde passam as vibrações.

O sistema radiante “é constituído pelos mecanismos que o instrumento possui para radiar som, isto é, transmitir vibrações ao ar circundante originando assim a onda sonora que se propaga no meio até atingir os nossos ouvidos. A energia vibratória e acústica resultante dos sistemas excitador e ressoador é transformada em energia vibratória do ar (energia acústica radiante)” (Henrique, 2002, p. 311). No caso do oboé, neste sistema temos os orifícios laterais e o pavilhão/ campânula.

Figura 2: Interpretação de um instrumento musical do ponto de vista físico2.

Tendo em conta esta descrição de um instrumento musical do ponto de vista físico podemos interpretar que para tocar oboé são precisos quatro elementos: a fonte de energia – o oboísta, que constrói um fluxo de ar ao soprar para o instrumento – o elemento que vibra – a palheta dupla, que vibra com a passagem do fluxo de ar – o elemento ressoador – o tubo do instrumento – e por fim, o elemento radiante – a campânula do oboé.

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1.1.2.

Classificação do oboé enquanto Instrumento Musical

Faz parte da cultura geral a divisão dos instrumentos musicais em “três grandes grupos: os instrumentos de corda, instrumentos de sopro e instrumentos de percussão” (Hornbostel & Sachs, 1961, p. 5). Podemos caracterizar os instrumentos de sopro “por produzirem som através de vibrações no ar. Estas são causadas pelo seu utilizador direta ou indiretamente, sendo uma das suas funções amplificar a vibração inicial de forma natural. Os instrumentos de sopro podem ser divididos em vários grupos dependendo da maneira como obtemos a vibração. A divisão mais utilizada estabelece-se entre dois grandes grupos: os metais e as madeiras” (Moreira et al., 2014, p. 3). Ora, esta divisão é feita através da distinção dos materiais usados para a construção dos instrumentos pelo que podemos juntar o oboé ao grupo dos instrumentos de sopro de madeira. Contudo estas divisões são demasiado gerais e “não podem ser defendidas. Um número vasto de instrumentos não pode ser incluído nesta divisão sem os colocar numa posição não natural, como a celesta, que, como instrumento de percussão, aproxima-se dos instrumentos de pele” (Hornbostel & Sachs, 1961, p. 6).

Surge, então, em 1914, no Systematik der Musikinstrumente: ein Versuch (Sistemática dos Instrumentos Musicais: uma tentativa de classificação), a classificação de Hornbostel-Sachs que se baseia nos princípios físicos e acústicos que regem o modo como os instrumentos produzem som (Hornbostel & Sachs, 1961). Este novo sistema prevê quatro principais categorias: idiofones – o som é produzido pelo próprio corpo do instrumento, feito de materiais elásticos naturalmente sonoros, sem estarem submetidos a tensão – aerofones – o som é produzido pela vibração de uma massa de ar originada no (ou pelo) instrumento – membranofones – o som é produzido por uma membrana esticada – e cordofones – o som é produzido por uma corda tensa (Henrique, 2011). Neste sistema, podemos catalogar o oboé como um aerofone.

Os aerofones podem distinguidos com base na embocadura. Existem então Aerofones de aresta – o jato de ar é direcionado para uma aresta – Aerofones de palheta – o jato de ar é modulado pela vibração de uma ou duas palhetas – Aerofones de bocal – o som é produzido pela vibração labial – Aerofones livres – o som é produzido pelo ar que passa por um corpo sólido em movimento – Voz humana e Órgão – caso singular que possui ambas as embocaduras de aresta e palheta (Henrique, 2011).

Como Henrique (2011) refere, a palheta dupla do oboé é constituída por duas canas encostadas e fixadas a um tudel. Estas duas canas vibram uma contra a outra devido ao fluxo de ar que passa entre elas, originando assim o som. Sendo assim, e tendo em conta

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o processo de classificação de Hornbostel-Sachs, a melhor forma de definir o oboé, enquanto instrumento musical, seria como sendo um aerofone de palheta dupla batente3.

1.1.3.

Variantes do oboé

O oboé d’amore ou oboé de amor “é um oboé um pouco maior e apresenta algumas diferenças em relação ao oboé comum: o seu tudel (pequeno tubo de latão onde se prende a palheta, com um enrolamento de fio) é mais longo e ligeiramente curvo e o pavilhão é periforme e cavo (o que torna a sonoridade mais velada). A sua extensão vai de Sol # 2 a

Dó # 5. É um instrumento transpositor em Lá e era um dos instrumentos favoritos de Bach,

mas perdeu popularidade durante o Classicismo e o Romantismo, talvez pela pouca sonoridade para as grandes orquestras” (Henrique, 2011, p. 283)

Figura 3: Oboé d'amore Lorée4

Mais um instrumento da família do oboé, como dito anteriormente é o corne inglês. Este é “um instrumento semelhante ao oboé de amor, mas maior (cerca de um metro de comprimento). Apresenta também pavilhão periforme e tudel em ângulo sendo ambos maiores. É um instrumento transpositor em Fá, com uma extensão de de Mi 2 a Dó 5”

(Henrique, 2011, p. 288). “Instrumento de extraordinária sonoridade, o corne inglês tem sido particularmente em solos orquestrais explorando o seu carácter nostálgico e melancólico” (Henrique, 2002, p. 579) O seu nome “vem do francês cor anglais, que significa corno anguloso” (Cardoso, 2012, p. 31).

Figura 4: Corne Inglês Lorée5

3 A definição de palheta dupla batente está disponível no capítulo “A palheta dupla”.

4 Fonte: http://www.loree-paris.com/instruments/hautbois-damour/?lang=en#prettyPhoto/0/

acedido a 02/10/2018.

5 Fonte: http://www.loree-paris.com/instruments/f-loree-2/?lang=en#prettyPhoto/0/ acedido a

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21 Um instrumento menos usual nesta família é o oboé barítono ou oboé baixo “que soa uma oitava abaixo do oboé e tem um aspeto semelhante ao corne inglês de maiores dimensões” (Cardoso, 2012, p. 38). À semelhança do corne inglês, é munido de um tudel que “apresenta uma curvatura para a frente e só depois é curvo para trás, em direção ao instrumentista” (Henrique, 2011, p. 284).

Figura 5: Oboé Baixo Lorée6

Ainda menos usado, outro instrumento semelhante ao oboé, desta vez em proporções menores. O oboé piccolo ou oboé musette é um instrumento transpositor em Fá, na marca F. Lorée, e em Mi b, nas marcas F. Patricola e Marigaux (de Gourdon, de Gourdon, & de Gourdon, 2013; Patalowski, sem data)

Figura 6: Oboé piccolo Lorée7

1.2. A palheta dupla

“As palhetas vibrantes são lâminas de um material elástico que transformam uma emissão contínua de ar numa emissão intermitente, interrompida regularmente” (Henrique, 2011). “A palheta dupla é uma pequena tira de cana especial dobrada «em dois», amarrada com um fio num pequeno tudel cilíndrico de cobre denominado tudel. O tudel, por sua vez, sustenta as mesmas e liga a palheta ao corpo do oboé. Quando a extremidade da cana dobrada é aberta, passamos a ter duas cansas livres uma contra a outra, daí o nome de palheta dupla” (Cardoso, 2012, p. 43).

Podem ser considerados diferentes tipos de palheta tendo em conta o som produzido por elas. As palhetas idiofónicas, que “feitas de um material duro e pesado (geralmente metal), produzem apenas um som cuja altura depende do seu comprimento e espessura”

6 Fonte: http://www.loree-paris.com/instruments/hautbois-baryton/?lang=en#prettyPhoto/0/

acedido a 02/10/2018.

7 Fonte: http://www.loree-paris.com/instruments/hautbois-piccolo/?lang=en#prettyPhoto/0/

(36)

22

(Henrique, 2011, p. 232). Instrumentos como o acordeão e o harmónio possuem este tipo de palhetas. No caso do oboé e até do clarinete, são usadas palhetas heterofónicas que, “feitas de um material flexível e leve (por norma cana), são capazes de produzir vários sons se estiverem acopladas a tubos sonoros, sendo o comprimento destes que determina a frequência a que vibram” (Henrique, 2011, p. 232-233).

Em relação ao seu movimento, as palhetas podem ser livres – quando oscilam sem obstáculo para um e para o outro lado da sua posição de repouso – batentes simples – quando vibram livremente só para um lado, batendo contra uma armação (por exemplo as palhetas de clarinete) – ou batentes duplas – quando são um par de palhetas iguais que batem uma na outra, fechando ou abrindo a fenda existente entre elas, e que estão ligadas uma à outra pelas respetivas bases (Henrique, 2011).

“A cana usada para as palhetas de oboé é da espécie Arundo Donax e cresce nos pântanos à beira rio no sul de França e outros locais com condições climatéricas semelhantes” (Rothwell, 1982, p. 47). Existem mais zonas geográficas de onde se pode extrair este tipo de cana mas os minerais presentes nos solos do sul de frança enriquecem a qualidade da cana tornando-a mais suscetível de vibrar.

“A abertura da palheta tem uma forma de elipse formada pelo contacto entre as pontas das lâminas da cana” (Gjebic, 2013, p. 3). Esta abertura depende sempre do diâmetro que o tubo de cana possui. Quanto maior for o diâmetro da cana, menor será a abertura da palheta pois a tira de cana será menos arredondada. Segundo Henrique (2011), o diâmetro da cana deve rondar entre 10 e 11 mm para palhetas de oboé e entre 11 a 12 mm para palhetas de corne inglês.

Antes da criação do oboé, antecessores como as bombardas, chirimias e charamelas eram usados ao ar livre acompanhando fanfarras e bandas militares. “O som destes instrumentos era extremamente penetrante e agressivo” (Neuhaus, 1998, p. 139). “A evolução do oboé, desde que este surgiu em meados do século XVII, foi acompanhada de perto pela evolução das palhetas” (Conceição, 2015, p. 15). Com a inclusão do oboé nos meios de música de câmara e de orquestra, esta tendência no seu som teve de ser aprimorada para que os oboístas tivessem a capacidade de fundir o timbre com o dos outros instrumentos, mas com uma certa flexibilidade para destacar o seu som quando necessário (Neuhaus, 1998).

Segundo Burgess e Haynes (2010), Os relatos e amostras de palhetas mais antigos que existem remontam a finais do século XVII e princípios do século XVIII. Este período foi bastante experimental na história do oboé e tal como os próprios oboés, que apresentavam algumas diferenças de fabricante para fabricante, as palhetas e as suas formas e medidas também o eram. Em Inglaterra usavam-se palhetas mais largas e compridas (semelhantes às palhetas de corne inglês), já em França usavam o oposto.

(37)

23 As palhetas mais largas e raspadas tinham como propósito compensar as diferenças de sonoridade e afinação que ocorriam do uso de dedilhações com meios buracos e sobretudo de dedilhações cruzadas (forquilhas) nos oboés dos períodos barroco e clássico. Com a evolução da mecânica do oboé e a adição de mais chaves e orifícios, esses desequilíbrios foram desaparecendo e as palhetas passaram a ser, pouco a pouco, mais estreitas e curtas (Burgess & Haynes, 2010)

Figura 7: Palheta de oboé8

1.2.1.

Construção das palhetas duplas

“Tocar oboé inclui duas habilidades distintas: tocar o instrumento e construir as palhetas” (Gjebic, 2013, p. 3).

Ao contrário dos outros instrumentos de sopro, que têm algum tipo de estrutura fixa como um bocal ou boquilha, toda a palheta do oboé é “construída a partir de um material moldável. Os oboístas tentam construir palhetas que satisfaçam as suas necessidades individuais, mas, devido à sua fragilidade, é importante serem capazes de duplicar ao máximo cada palheta” (Wehner, 1970, p. 242).

Figura 8: Fases da confeção de uma palheta de oboé9

O processo da construção de palhetas inicia-se com a colheita da cana, Arundo Donax. Os locais de onde é extraída a cana tendem a ter um clima rico mas moderado pois “se o

8 Fonte: https://www.reedsnstuff.com/en/Oboe/Reeds/Oboe-Reed.html acedido a 28/09/2018. 9 Fonte: Henrique, L. L. (2011). Instrumentos Musicais (7a edição). Lisboa: Fundação Calouste

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24

clima for muito húmido, as fibras da cana absorvem muta água e ficam demasiado espaçadas, tornando a cana muito macia e sem estabilidade. Contrariamente, se o clima for demasiado seco, a cana tende a ficar muito dura e com muitas vibrações, tornando a palheta mais estridente” (Cardoso, 2012, p. 55).

Figura 9: Agricultor verificando a qualidade da Arundo Donax10

Após a sua colheita, a Arundo Donax é selecionada por diâmetro, podendo variar entre 10 a 11 mm. Após isso, a cana é cortada em tubos com um comprimento de entre 10 a 15 cm para facilitar a sua distribuição para fabricantes de palhetas e oboístas de todo o mundo (Baines, 1967).

Figura 10: Arundo Donax cortada em tubos11

10 Fonte:

https://www.ctvnews.ca/sci-tech/is-the-giant-arundo-reed-a-renewable-fuel-miracle-or-nightmare-1.1042496 acedido a 03/10/2018.

11 Fonte: https://www.reedsnstuff.com/en/Oboe/Cane/Tube-Cane-oxid.html acedido a

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25 Segundo Baines (1967), devido à irregularidade da cana, esta é cortada tendo em vista escolher os pedaços mais perfeitos. Geralmente corta-se o tubo em duas partes com o auxílio de uma faca, ou em três partes com recurso a um utensílio de corte triplo – o divisor de canas ou flecha. Os pedaços de cana são, então, cortados para terem o comprimento desejado. Para isto é usada uma guilhotina.

Figura 11: Corte do tubo de cana com uma flecha12

Nesta fase é removido o excesso de cana do seu interior com uma pré-goiva e de seguida com uma goiva que deixará a cana com a espessura ideal.

Figura 12: Goivagem de uma cana13

12 Fonte: http://www.doubleornothingreeds.com/dnr-blog/category/splitting-cane acedido a

03/10/2018.

13 Fonte:

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26

A cana é finalmente cortada/talhada com base numa forma já existente, ficando pronta para ser amarrada.

Figura 13: Corte da forma da cana14

A cana já goivada e talhada é dobrada ao meio e amarrada, com um fio, a um tudel, que servirá para ligar a palheta ao oboé.

Figura 14: Amarragem de uma palheta15

Para finalizar, é preciso abrir a palheta, com o recurso de uma guilhotina ou de uma lâmina afiada. De seguida é inserida uma lingueta para suportar as lâminas da cana e, com uma faca, a palheta é raspada, em ambos os lados, até que vibre com a passagem do ar. “As duas lâminas de cana devem ficar o mais idênticas possível. Todos os ajustes feitos numa das lâminas de cana deve ser replicado na outra” (Boyce, 1976, p. 29). Qualquer

14 Foonte :

https://reedpros.wordpress.com/2012/09/10/arundo-donax-journey-from-cane-to-oboe-reed-part-1/ acedido a 03/10/2018.

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27 diferença entre as duas lâminas de cana pode criar inconsistências e influenciar negativamente a palheta.

Figura 15: Raspagem de uma palheta16

Para uma palheta ser funcional “deve haver um equilíbrio entre as partes raspadas, uma combinação das medidas de goiva, de dureza da cana, de densidade, de diâmetro da cana e, além disso, uma observação dos fenômenos climáticos que alteram a maneira de vibrar de uma palheta” (Gisiger, 2017, p. 24).

1.2.2.

Literatura Disponível – Manuais de Construção de Palhetas

“A maioria dos Métodos de oboé descreve a palheta como uma peça de cana dobrada, atada sobre um tudel e raspada de modo a permitir que vibre pela ação do ar. É o tipo de descrição que remete a construção de palhetas para o campo da feitiçaria. É necessária uma abordagem mais científica do que isso! Uma palheta é tão só um conjunto de variáveis, mas aqui reside grande parte do problema: é indispensável alguma metodologia para evitar que nos percamos no meio de uma miríade de possibilidades” (Lopes, 2012, p. 1).

Ainda Lopes (2012, p. 1) refere que à semelhança de um iceberg, 9/10 das características das palhetas não são visíveis. “A maioria das variáveis não se pode aferir visualizando uma palheta terminada. Daí talvez a ênfase que geralmente se coloca na raspagem. Na realidade, existe literatura abundante sobre as diferentes técnicas de raspagem, mas praticamente não se escreve sobre estes ocultos 9/10”.

Como já referido, o ensino da construção de palhetas continua a ser realizado oralmente. Contudo, existe já alguma documentação escrita que aborda este tema e que

(42)

28

explica o que devemos fazer para construir uma palheta funcional. O principal problema deste material é a língua, na sua maioria estão disponíveis em Língua Inglesa ou Língua Espanhola, mas raros são os documentos escritos em Língua Portuguesa. Por isto, em Portugal, torna-se difícil a utilização de material didático escrito com alunos pequenos principalmente se tiverem dificuldades em idiomas estrangeiros.

Por norma, os livros que abordam a construção de palhetas apresentam um único método. Como foi referido anteriormente, tendo em conta os custos de alguma documentação e escrita e audiovisual torna-se dispendiosa a aquisição de alguns livros que poderão não conter um método de construção de palhetas adequado. Além disso, alguns livros focam-se apenas num único estilo e nos aspetos da raspagem desse mesmo estilo, enquanto outros exploram todo o processamento da cana desde o cultivo da mesma até à obtenção de uma palheta, por vezes em vários estilos. A seguinte lista é apenas uma seleção de alguns materiais didáticos que poderão ajudar alguns oboístas.

1. Estilo Europeu

 Robert Neuhaus – Manual de Cañas para Oboes, editado pela Universidad Nacional Autónoma de México em 1998. Disponível em Língua Espanhola.

 Margarida Cardoso – O Oboísta e a Palheta Dupla, editado pela Ava Editions em 2012. Disponível em Língua Portuguesa.

 Ralf-Jörn Koster – Reliable Reeds, editado pela KDD Kompetenzzentrum Digital-Druck GmBH em 2017. Disponível em Língua Inglesa e Alemã

 Karl Steins – Rohrbau für Oboen, editado pela Bote & Bock em 1964. Disponível em Língua Alemã.

 Karl Hentschel – Das Oboenrohr, Eine Bauanleitung, editado pela Moeck Verlag em 1986. Disponível em Língua Alemã.

 Frieder Uhlig – S(chw)ingendes Holz: Ein Weg zum individuellen, editado pelo autor em 2013. Disponível em Língua Alemã.

 Pierre Cruchon – Methode de Hautbois, editado pela Billaudot em 2000. Disponível em Língua Francesa e Inglesa.

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29

 David Werner – Der Weg zum guten Oboenrohr, editado pela Grahl & Nicklas GmbH em 2014. Disponível em Língua Alemã.

2. Estilo Americano

 Norma Boyce – Making and Adjusting the Oboe Reed, editado pela Utah State University em 1976. Disponível em Língua Inglesa.

 Jay Light – The Oboe Reed Book, editado pelo autor em 1983. Disponível em Língua Inglesa.

 Paul Lehman – Teachers Guide: Oboe, editado pela Conn-Selmer, Inc em 1965. Disponível em Língua Inglesa.

 David Ledet – The Art of Oboe Playing, editado pela Summy-Birchard em 1961. Disponível em Língua Inglesa.

 Evelyn Rothwell – The Oboist’s Companion, editado pela Oxford University Press. Disponível em Língua Inglesa.

3. Estilos Europeu e Americano

 Linda Walsh – The Oboe Reed Making, distribuído no site

www.oboereedmaking.com desde 2008. Disponível em Língua Inglesa,

Francesa, Alemã e Espanhola.

 Graham Salter – Understanding the Oboe Reed, editado pelo autor em 2018. Disponível em Língua Inglesa.

 Alain Girard – The Singing Reed, editado pela Musik-Akademie der Stadt em 1983. Disponível em Língua Inglesa, Alemã e Francesa.

Dos materiais didáticos analisados, devem ser apontados, quer os mais completos a nível de informação, quer os mais estruturados e úteis à aprendizagem da construção de palhetas.

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30

O Manual de Cañas para Oboes de R. Neuhaus aborda todo o processamento da cana até à construção de uma palheta do estilo europeu. Além disso faz uma pequena abordagem de todos os outros estilos e dos aspetos físicos da execução do oboé. É um livro bastante completo e com um elevado número de imagens (desenhos), contudo está disponível apenas em Espanhol.

O filme The Oboe Reed Making de L. Walsh é um documentário bastante estruturado e que demonstra visualmente toda a construção de uma palheta. Para além disso ainda apresenta entrevistas realizadas a vários fabricantes de palhetas e oboístas de renome internacional.

O livro Understanding the Oboe Reed de G. Salter é um livro bastante recente que aborda todo o processamento das palhetas em vários estilos, além de abordar as escolas de oboé ao longo da História. Talvez o livro mais completo existente até ao momento.

O livro Reliable Reeds de R. Koster é também um livro bastante completo ao abordar todo o processamento das palhetas. Oferece uma análise científica das palhetas ao demonstrar uma série de medidas que permitem um maior controlo da qualidade das palhetas.

O único livro disponível em Língua Portuguesa desta lista, O Oboísta e a Palheta Dupla de M. Cardoso, é bastante completo pois descreve a História do oboé desde os seus antecessores até à atualidade e todo o desenvolvimento paralelo das palhetas. Contudo, apesar de descrever todo o processamento das palhetas, apresenta apenas um método de construção de palhetas.

Esta pequena seleção de materiais didáticos poderá ser uma grande ajuda para muitos oboístas que procuram soluções para as suas palhetas, contudo apenas um está disponível em Língua Portuguesa e, à exceção do documentário de L. Walsh e do livro de R. Neuhaus, nenhum explica detalhadamente como devem ser manuseadas as ferramentas.

1.2.3.

Modelos/Tendências de Raspagem

Com a evolução quer dos instrumentos, quer do repertório, quer dos músicos, as palhetas também sofreram um desenvolvimento. Com os ensinamentos de professor para aluno foram criadas Escolas em que se notavam tendências na raspagem das palhetas. Segundo Ledet (2000), Burgess e Haynes (2010) e Neuhaus (1998), podemos considerar uma Escola um grupo de músicos com uma tradição de ensinamentos transmitidos de professor para aluno ao longo dos anos. Assim observa-se uma tendência natural de características técnicas, instrumentos usados, sonoridades e palhetas.

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31 De acordo com Burgess e Haynes (2004), foi no século XX que se iniciaram cinco escolas principais, a escola Alemã – com Fritz Flemming (1873-1947) – a escola Francesa – com Georges Gillet (1854-1920) – a escola Vienense – com Alexander Wunderer (1877-1955) – a escola Inglesa – com Léon Gossens (1897-1988) – e a escola Americana – com Marcel Tabuteau (1887-1966). Desta surgiram ainda três pequenas variações – Suíça, Holandesa, Italiana – que dadas as semelhanças próximas com as outras cinco grande escolas de oboé foram-se adaptando até se uniformizarem com elas.

Segundo Ledet (1981), existem características que, devido a serem partilhadas entre muitos oboístas que estudaram com determinado professor, permitem associá-las a uma determinada escola.

A raspagem característica da escola Alemã tem, geralmente, entre 10 a 12 mm possuindo uma coluna e um coração salientes (Ledet, 2008) além de uma base em “U” e uma espessura pequena. Estas características criam uma “melhor distribuição das vibrações ao longo da palheta, que fortalecem os primeiros harmónicos, retirando um pouco do timbre brilhante às notas agudas. Este equilíbrio combinada com uma embocadura envolvente geram um timbre característico alemão, descrito como «escuro», ideal para tocar em orquestra ou música de câmara” (Neuhaus, 1998, p. 141). Estas palhetas (figuras 8 e 9) permitem uma articulação fácil e um timbre homogéneo em toda extensão do instrumento, além de uma boa flexibilidade, enriquecendo “o potencial expressivo do instrumento” (Neuhaus, 1998, p. 141). Alguns oboístas que difundiram estas palhetas são Ingo Goritzki (1939-), Lothar Koch (1935-2003) e Hansjörg Schellenberger (1948-).

Figura 16: Palhetas Alemãs de Fritz Fischer vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)17

17 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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Figura 17: Palhetas Alemãs de Helmut Eggers vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)18

As palhetas da escola Francesa (figuras 10 e 11) possuem uma raspagem que varia entre “9 e 13 mm, com a ausência de uma coluna e de um coração bem definidos” (Ledet, 2008) além de uma ponta extremamente fina. Geralmente a base desta raspagem é em “V” e a espessura é pequena. “A escola Francesa desenvolvia tendencialmente a destreza técnica e empregava menos atenção às questões interpretativas. Por isto, eram necessárias palhetas confortáveis que permitissem uma fácil emissão com pouca resistência ao ar” (Neuhaus, 1998, p. 144). Estas palhetas baseiam-se na “vibração frontal produzindo uma articulação leve e fácil. A vibração destas palhetas produz um timbre mais anasalado devido ao enriquecimento dos harmónicos médios e agudos. Apesar disto, devido à tendência do som mais escuro e denso nas orquestras, as palhetas da escola Francesa da atualidade sofreram um refinamento no timbre e articulação sem perder a sua tradicional flexibilidade” (Neuhaus, 1998, p. 145). Alguns representantes desta escola são Pierre Pierlot (1921-2007) e Maurice Bourgue (1939-).

18 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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Figura 18: Palhetas Francesas de Alexandre Duvoir vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)19

Figura 19: Palhetas Francesas de Marcel Dandois vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)20

A raspagem das palhetas da escola Inglesa (figuras 12 e 13) caracteriza-se por ser bastante “semelhante à da escola Francesa. Geralmente possui um comprimento inferior a 9 mm e sobretudo uma ponta mais fina” (Ledet, 2008, p. 71). Como representantes desta escola temos Terence MacDonagh (1908-1986) e Derek Wickens (1937-).

19 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

Press.

20 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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Figura 20: Palheta Inglesas de William Tait vista à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)21

Figura 21: Palhetas Inglesas de Harry B. Baker vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)22

Ao contrário destas escolas que possuem uma tradição semelhante a nível da raspagem das palhetas, a escola Americana distingue-se de todas. As palhetas desta escola (figuras 14 e 15) possuem uma raspagem longa que varia entre 14 a 22 mm apresentando um coração bastante espesso, uma coluna bem acentuada, duas «janelas» bem vincadas e finas e uma ponta comprida (Burgess & Haynes, 2010; Ledet, 2008), além de uma base em “W”. Segundo Neuhaus (1998), estas palhetas são, na verdade, adaptações da escola Francesa pois o fundador da escola Americana, Marcel Tabuteau, era francês. “Para compensar a flacidez criada pela raspagem longa, o coração é mais espesso e transita de forma abrupta para a ponta. Alguns oboístas raspam mais as janelas para criar mais solidez e estabilidade ao som, além de uma maior facilidade de emissão, características úteis ao

21 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

Press.

22 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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35 trabalho orquestral. A raspagem longa e a ponta comprida servem para procurar uma extensão de harmónicos mais abrangente e uma facilidade de emissão maior” (Neuhaus, 1998, p. 142). Nestas palhetas a embocadura é mais relaxada e pouco ou nada afetam o som. Alguns representantes desta escola são John de Lancie (1921-2002), John Mack (1927-2006) e Liang Wang (1980-).

Figura 22: Palhetas Americanas de Joseph Robinson vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)23

Figura 23: Palhetas Americanas de John Mack vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)24

Por fim, a escola Vienense destaca-se por, primeiro que tudo, ter um modelo de oboé próprio – o oboé vienense (figura 16) – sendo a única escola “que hoje em dia não usa o modelo de oboé de conservatório” (Conceição, 2015, p. 19). Estes oboés, com um sistema de dedilhação algo primitivo, existem desde o final do século XVIII e continuam

23 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

Press.

24 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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36

a ser usados, juntamente com as trompas vienenses, em orquestras como a Orquestra Filarmónica de Viena e as orquestras de ópera de Viena.

Figura 24: Oboé Vienense25

Devido ao tubo deste oboé ser mais largo, as palhetas (figuras 17 e 18) também se distinguem de todas as anteriormente referidas. A cana é geralmente “mais larga, especialmente na ponta, o tudel é mais curto (entre 37 a 38 mm) e a raspagem possui um comprimento que varia entre 15 a 16 mm” (Ledet, 2008). A raspagem da palheta vienense é visualmente semelhante à raspagem das palhetas de fagote. Baseada no modelo alemão, apresenta uma ponta bastante fina e um coração e coluna bem salientes.

Figura 25: Palhetas Vienenses de Manfred Kautzky vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)26

25 Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/42/Hautbois_viennois.jpg acedido a

10/10/2018.

26 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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Figura 26: Palhetas Vienenses de Anatol Petrov vistas à luz natural (esquerda) e à contraluz (direita)27

O livro Oboe Reed Styles (1981) escrito por Ledet analisa várias amostras de palhetas, como as já apresentadas neste trabalho, que remontam aos anos 60. Segundo Burgess e Haynes (2004), já em 1981 a tendência era de serem atenuadas as diferenças entre as palhetas das escolas Inglesa, Francesa e Alemã. Nos dias de hoje, essas diferenças são ainda menos evidentes devido à procura de um ideal de som escuro por parte quer por oboístas quer por orquestras. Outro motivo para esta estandardização e uniformização de um único estilo europeu baseado na escola Alemã apresentado por Kilmer, em Oboe Reed

Styles (2008), é a evolução gradual das máquinas de goivar e talhar bem como a

industrialização que massifica e padroniza certas formas no corte da cana e na raspagem das palhetas. Sendo assim, este trabalho foca-se não numa escola em específico, mas num conjunto de características que criam um Estilo Europeu. A escolha das palhetas com raspagem europeia reside nas escolas onde se inseriram os meus estudos. Numa fase inicial do meu percurso, os professores que tive vinham da escola Alemã e só mais recentemente tive um contacto direto com a escola Francesa. O pouco contacto com a escola Americana deixa-me um pouco reticente em abordar as características desta, ficando apenas o desejo de completar, mais tarde, este trabalho, com as técnicas de construção de palhetas americanas.

Derivado de uma tentativa de inovar tecnologicamente, marcas como a Légère Reeds comercializam palhetas feitas de polímeros sintéticos não influenciáveis pelas condições de temperatura e humidade. Existem já no mercado palhetas simples de clarinete e saxofone com bastante qualidade sendo que hoje em dia já muitos músicos profissionais optam por esta alternativa. No entanto, o custo destas palhetas é mais alto que as palhetas de cana. Tendo em conta um custo médio de aproximadamente 2€, por palheta de cana,

27 Fonte: Ledet, D. A. (2008). Oboe Reed Styles. (R. Killmer, Ed.). Indiana: Indiana University

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38

é possível verificar que o custo de uma palheta sintética, de aproximadamente 30€, é, sensivelmente, 15 vezes superior.

Figura 27: Palheta de Saxofone Alto Légère28

No caso concreto das palhetas duplas de fagote e de oboé sintéticas, a sua comercialização já é feita, mas a sua qualidade ainda não se compara à cana de origem natural. Apesar da boa qualidade já apresentada, as palhetas sintéticas não proporcionam, ao oboísta, a adaptabilidade que a cana possui, retirando a “individualidade tímbrica” das palhetas, que Neuhaus (1998) refere.

Figura 28: Palheta de oboé Légère29

28 Fonte: https://m.thomann.de/ie/legere_altsax_4_1_4.htm acedido a 05/10/2018.

29 Fonte:

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Figura 29: Palheta de fagote Légère30

Relativamente às palhetas de oboé, estão disponíveis, para comercialização, ambas as tendências principais de raspagem, a raspagem europeia e a raspagem americana. Isto é um avanço tecnológico que poderá ser o futuro dos aerofones de palheta dupla mas, para já, não é uma opção viável a nível financeiro.

Apesar do ponto positivo de resistirem às condições de temperatura e humidade, as palhetas sintéticas são caracterizadas pela fácil emissão de som, requerendo pouco esforço físico e pouco controlo da embocadura para a execução do instrumento, a afinação instável, e dificuldade nas transições graduais de dinâmicas. Isto, aliado ao seu custo excessivamente alto (cerca de 135€), torna as palhetas sintéticas uma opção muito pouco viável, exceto na sua utilização em digressões, nas quais não serão sentidas as alterações de clima.

Em suma, as palhetas compostas por cana garantem uma maior adaptabilidade que as palhetas sintéticas e, por isso, torna-se importante a aquisição de competências que permitam adaptar as primeiras. Sendo assim, torna-se necessário material de apoio, no qual os oboístas se possam basear para tratarem e adaptarem as suas palhetas.

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Parte II: Projeto Educativo

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2.1. Introdução

2.1.1.

O ensino da construção de palhetas

Lehman (1965, p. 12) afirma que “após tocarem oboé durante um ano, os alunos devem começar a tentar construir as suas palhetas, fazendo parte da sua formação. Ao fazer as suas palhetas, os alunos poupam dinheiro, aprendem a cuidar das suas palhetas e a ajustá-las de acordo com a sua embocadura e sua conceção de qualidade de som”. Contudo, um ano talvez seja pouco para iniciar esta prática de construir palhetas visto que a maioria dos alunos começam os seus estudos ainda bastante novos. Colocar facas e acessórios afiados nas mãos de crianças pequenas seria perigoso pelo que o início da aprendizagem da construção de palhetas deve ser feito assim que a maturidade do aluno o permita. Ainda assim, processos que não envolvam materiais cortantes poderão ser estudados desde cedo para que os alunos tenham também algum tempo para os compreender passo a passo. Além disso, a pouca maturidade musical não permite que os alunos, em apenas um ano, adquiram a sensibilidade para saber o timbre ideal ou qual a resistência que a palheta deve oferecer.

Geralmente, em Portugal, o início do ensino da construção de palhetas é dedicado à amarragem (verificar ponto 3.2.1.). Os professores optam por ensinar este processo numa fase inicial do estudo do oboé, ou seja, com alunos bastante jovens. É, portanto, necessário algum cuidado com o manuseamento de utensílios cortantes e, por isso, a amarragem é uma boa opção para se iniciar o ensino da construção de palhetas, devido à pouca utilização de lâminas.

Gisiger (2017, p. 23) retrata a sua aprendizagem do processo como o resultado de “puros gestos de imitação daquilo que o professor fazia, procurando fazer um desenho ou um formato que se assemelhasse a uma palheta. Modelos de moldes, não havia; medidas padrão, não havia; modelos de tubos, não havia; espessura de goiva, não havia; técnicas de montagem, não havia. Era tudo empírico”. Ora, esta falta de método pode ser explicada pela falta de material escrito que explique todo o processo da construção de palhetas.

Numa fase mais avançada dos estudos em que o oboísta tenha conhecimentos suficientes para desenvolver a sua abordagem ao instrumento, “o caminho mais curto é adotar um sistema que funcione e deixa-lo evoluir. Isto quer dizer: ir estudar com alguém cuja abordagem do instrumento seja próxima do que nos agrada e atrai, e partir do seu sistema de palhetas para encontrar o nosso próprio sistema, um que traduza a nossa verdadeira individualidade” (Lopes, 2012, p. 2).

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Por experiência pessoal e pelos dados recolhidos em inquéritos é possível observar que a aprendizagem do processo é feita, hoje em dia, ainda por via oral. Segundo Neuhaus (1998), esta tradição é a principal razão de não existir muito material escrito que suporte o estudo do estilo das palhetas europeias.

2.1.2.

Porquê fazermos as nossas palhetas

Do ponto de vista do professor e do aluno, o processo de fazer palhetas é um dos aspetos mais importantes na pedagogia do oboé. Fazer palhetas é uma parte inseparável no processo de aprendizagem do oboísta para ser bem-sucedido (Ledet, 2008).

O oboé é considerado um dos instrumentos de sopro mais complexos. O oboísta deve dominar não só os aspetos artísticos, mas também os manuais. Geralmente, o oboísta é obrigado a ser mais um «faz-tudo» do que propriamente um músico (Schaeferdiek, 2007). Também Henrique (2011) diz que o oboé apresenta dificuldades próprias e distintas em relação aos outros instrumentos de madeira e afirma que além do problema que a obtenção das palhetas constitui, convém referir que a simples mudança das condições atmosféricas ou da temperatura o afeta.

“O domínio das técnicas de construção de palhetas requere um esforço de vários anos e rouba muito tempo que podia ser melhor aproveitado no estudo técnico do instrumento. Contudo, Será a palheta um obstáculo à aprendizagem do oboé?” (Neuhaus, 1998, p. 29). Neuhaus (1998, p. 29) garante que apesar do longo processo de aprendizagem ser acompanhado de alguma frustração, impaciência ou até desespero, “poucos são os instrumentos que possuem a riqueza expressiva do oboé no que diz respeito à diversidade de articulação, agilidade, coloração do som e contrastes de dinâmica, sendo precisamente a palheta que permite esta versatilidade”.

Gisiger (2017, p.29) afirma que “tudo o que um oboísta faz depende do controle total de uma rebelde peça de 72 milímetros (a palheta), que se altera de um momento para o outro, por vezes perdendo a capacidade de emitir uma nota ou de se fazer um legato e um

staccato com precisão”.

“A aprendizagem da construção de palhetas faz parte da técnica instrumental tal como as escalas ou os exercícios de sonoridade, e quando dominada transforma-se na grande mais-valia do oboé, transformando-o num dos poucos instrumentos que pode adaptar-se drasticamente às necessidades da peça a executar” (Lopes, 2012, p. 1). Então, os oboístas, após dominarem a técnica de construção de palhetas, conseguem adaptar as suas palhetas, não só ao repertório mas também às condições em que vão executar o instrumento e, portanto, torna-se indispensável a aprendizagem dos procedimentos.

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