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ANÁLISE DE COORTES DE MIGRANTES UTILIZANDO DADOS CENSITÁRIOS

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ANÁLISE DE COORTES DE MIGRANTES

UTILIZANDO DADOS CENSITÁRIOS

Claudete Ruas1

1 INTRODUÇÃO

A distribuição etária dos migrantes à época dos Censos e o tempo de residência fixada no município ou na Unidade da Federação permitem identificar grupos que estão presentes em censos consecu-tivos. Parte dos migrantes que estavam em uma área ainda lá residem 10 anos depois, e é possível acessá-los através de sua distribuição etária e tempo de residência no local. Esse grupo de indivíduos, que sofreu a experiência de migrar e permanecer na região um mesmo período mínimo de tempo, pode ser pensado como uma coorte para a qual é possível estudar os “efeitos do envelhecimento” dos migrantes, no período intercensitário, segundo as várias características dos mesmos à época do censo.

Uma coorte é um conjunto de indivíduos que vivenciaram um mesmo evento origem em um período de tempo. A análise de dados de caráter transversal permite a análise sincrônica de dados tomados uma única vez sobre um grupo de indivíduos, ao passo que a análise de coortes permite comparações sincrônicas e diacrônicas, estas últi-mas realizadas sobre o grupo de indivíduos em mais de um momento no tempo, apontando elementos de um processo vivido pelo grupo.

Dada a homogeneidade entre as condições dos indivíduos que compõem uma coorte, é possível utilizar-se análise de coorte como

conceito, no sentido de ser ela a unidade de estudo para avaliação de mudanças culturais e sociais (Ryder, 1965). Mas análise de coorte

também pode representar um conjunto único de ferramentas analíti-cas para avaliar um conjunto de dados.

1 Professora do Departamento de Estatística da Universidade de Brasília. Doutoranda em Demografia no IFCH/UNICAMP.

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Quando se toma as informações sobre migração presentes nos Censos Demográficos, quantificando o tipo de migração e caracte-rizando o tipo de migrante escolhido, realiza-se uma análise transver-sal, podendo-se comparar descritivamente os indicadores obtidos nos diferentes momentos. Quando podemos identificar uma coorte de migrantes em dois ou mais censos, podemos aliar à análise transversal, a análise de caráter longitudinal, a qual nos referimos como análise de período e coorte. Ainda que com restrições metodológicas, esta é uma forma de ampliar os limites impostos às análises transversais permitidas pelos dados de migração dos censos, incorporando elemen-tos que auxiliam na compreensão do processo migratório. Neste tra-balho apresentamos uma revisão dos métodos e técnicas que tem sido trabalhados para análise de período e coorte e suas potencialidades.

2 ESTUDOS DE IDADE, PERÍODO E COORTE

As metodologias apresentadas na literatura tratam da identificação e separação dos efeitos gerados pelos aspectos referentes à idade, período e coorte sobre, especialmente, medidas de mortalidade e fecundidade (Pampel, 1996; Wilcox, Skjaerven, Irgens, 1994), mas há vários estudos relativos à migração (Pandit, 1997). Os efeitos relativos à idade indicam o momento do ciclo vital dos indivíduos; os efeitos relativos a período apontam influências externas, contemporâ-neas aos dados; e os efeitos de coorte refletem influências anteriores vividas pelos indivíduos. Assim, não são os fatores idade, período e coorte que tem influência sobre os fenômenos sociais ou demográficos, mas sim o que cada um deles representa. Se os verdadeiros fatores de variação sobre os dados podem ser mensurados diretamente, as mu-danças porventura observadas estão claras quanto a sua origem. No entanto, quando isso não ocorre, identificar efeitos de idade, período e coorte pode auxiliar na organização e compreensão das fontes de variação que afetam o problema enfocado, ainda que estes termos possam ser considerados “infelizes” (Hobcraft, Menken, Preston, 1982).

Uma revisão dos modelos construídos para estudo de ida-de, período e coorte foi feita por Hobcraft, Menken, Preston (1982), agregando-os pelo tipo de metodologia proposta. É feita uma avaliação dos trabalhos referentes à mortalidade, fecundidade e nupcialidade.

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Os resultados dos métodos de identificação dos efeitos de idade, período e coorte estão melhor ajustados às aplicações em mortalidade, onde as experiências na infância são fundamentais para os processos de doença e morte, marcando maior susceptibilidade nas coortes. Já para a fecundidade, vários aspectos comportamentais alteram deci-sões ao longo da vida reprodutiva, o que dificulta o ajuste dos métodos convencionais propostos. Um aspecto importante foi o observado pelos autores de que, em alguns casos os mesmos conjuntos de dados analisados por diversos métodos para identificação dos três tipos de efeito apresentaram resultados essencialmente diferentes, já que as pressuposições assumidas em vários modelos não representam ade-quadamente os fenômenos estudados.

Mais recentemente vários artigos que tratam da modela-gem de efeitos de período e coorte tem sido publicados, ainda majori-tariamente relativos à mortalidade e fecundidade (particularmente nas áreas de Saúde Pública e Estudos Regionais e Urbanos). Todavia, estudos referentes à migração também tem sido explorados, particu-larmente os que tratam da influência do tamanho das coortes a que pertencem migrantes sobre as medidas dessa migração (Rogers, He-mez-Descryve, 1993; Pandit, 1997).

Entre as técnicas propostas para separar os efeitos de período e coorte há modelos mais analíticos, que utilizam uma forma descritiva de identificação dos efeitos, especialmente das interações entre eles (Glenn, 1977; Palmore, 1978). Mais recentemente, ajustes de modelos de regressão tem sido empregados (Pandit, 1997; Pampel, 1996), buscando a verificação de hipóteses sobre o tema tratado, tendo a teoria como base, minimizando-se o risco de haver resultados difíceis de serem interpretados.

A utilização da regularidade das taxas de migração por idade e sexo, vinculadas ao ingresso no mercado de trabalho e compo-sição familiar, em uma modelagem matemática apresentada no traba-lho de Rogers, Castro (1982) foi fundamental na orientação desta linha de trabalho. Esses modelos, no entanto, apresentam processos de estimação de seus parâmetros bastante complexos. Mas outros traba-lhos com modelos de maior facilidade para estimação de seus parâme-tros foram derivados (Pandit, 1997; Jannuzzi, 1997).

Há portanto várias metodologias que permitem utilizar as medidas usuais de migração de forma a transpor o aspecto puramente

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descritivo e comparativo com que elas são comumente trabalhadas na análise transversal. Tem sido possível o exame de novos aspectos e verificação do contéudo de teorias sobre migração, como ocorre no trabalho de Pampel (1996) que através de modelos de regressão pode confrontar dois argumentos competitivos (defendidos por Easterling e Preston) em relação à influência exercida pelo tamanho das coortes sobre taxas de suicídio em vários países, verificando empiricamente que nenhum dos dois argumentos era sustentado integralmente pelos dados. Também Pandit (1997) pode verificar os padrões (schedules)

de migração por idade de acordo com o tamanho da geração e condições sócio-econômicas existentes, através de modelos de regressão com métodos específicos de estimação de seus parâmetros.

Como ressalta Jannuzzi (1997),

“(quaiquer modelos) não se propõem a substi-tuir a realidade, mas fornecer instrumentos que possam ajudar a desvendá-la ou aproxi-mar-se da mesma”.

E tem havido avanços técnicos em relação às modelagens estatísticas que facilitam sua utilização, e particularmente, a com-preensão de seus resultados. Entre eles, parte dos modelos de período e coorte, que tem como vantagem inicial a possibilidade de permitir a análise de vários fatores tratados separadamente na migração, com-plementando os aspectos relativos às mensurações de caráter trans-versal e longitudinal.

3 COORTES DE MIGRANTES COM BASE NOS CENSOS

Vários tipos de grupos de migrantes podem ser tomados como coortes ao se combinar idade e tempo de residência de algum tipo

de migrante escolhido. Como exemplo, tomamos os imigrantes acu-mulados em dois censos consecutivos. A coorte dos imigrantes que residiam em uma área geográfica em 1991 há 10 anos ou mais, é uma parcela dos imigrantes (10 anos mais velhos em 1991) que chegaram à região em 1981, exceto os que morreram e os que emigraram no período 80-91, identificados conforme Esquema 1.

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Esquema 1

DISTRIBUIÇÃO DOS NÃO NATURAIS

POR TEMPO DE RESIDÊNCIA E GRUPOS DE IDADE – 1981 E 1991

Genericamente, uma coorte de não naturais com menos de 10 anos em uma região, com idade (x, x + n) à época t1 de um primeiro

censo, após um período intercensitário de 10 anos, será igual a : a) uma parcela da população de não naturais com 10 anos

ou mais de residência no momento t2 do censo seguinte,

estando 10 anos mais velhos;

b) diminuída de uma parcela de óbitos dos não naturais no período intercensitário;

c) de uma parcela dos não naturais que emigraram da região entre os momentos t1 e t2.

Assim, o número de migrantes 10 anos mais velhos no momento t2 é menor ou igual ao número de migrantes com idade

(x, x + n) no momento t1, já que a soma do número de óbitos e

emigrantes entre os momentos t1 e t2 é sempre um valor positivo.

Tempo Não naturais Não Naturais

de 1981 1991 residência 70 + 70-79 60-69 60-69 10 anos 50-59 50-59 ou mais 40-49 40-49 30-39 30-39 20-29 20-29 10-19 10-19 70 + 60-69 Menos de 50-59 10 anos 40-49 30-39 20-29 10-19 0-9

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Como exemplo, a Tabela 1 mostra o número de indivíduos que fazem parte das coortes de não naturais do Distrito Federal em 1981 e 1991. A última coluna apresenta a diferença entre os tamanhos das coortes por idade à época dos censos, agregando os totais de não naturais que morreram e os que emigraram na década de 80. Assim, dos 90010 migrantes que tinham de 0 a 9 anos em 1981, 42166 (47%) morreram ou emigraram de 1981 a 1991, permanecendo 47844 indi-víduos em 1991.

Para estudar este contingente de migrantes segundo vá-rias características, a primeira forma para a análise de coorte é a exploração dos dados dispostos, se possível, em uma tabela padrão de coorte na abordagem de Glenn (1977). Uma tabela padrão de coortes apresenta conjuntos justapostos de dados por período, e os intervalos entre períodos devem ser iguais aos intervalos de idade considerados2.

Tabela 1

COORTE DE NÃO NATURAIS DO DISTRITO FEDERAL, POR GRUPO ETÁRIO – 1981* E 1991

Idade Não naturais1981

1991 Não naturais com 10 + anos de residência Óbitos emigrações de 81 a 91 0-9 90010 0 10-19 230182 47844 42166 20-29 343231 117817 112365 30-39 223511 177023 166208 40-49 137624 126847 96664 50-59 70412 74495 63129 60-69 31774 36144 34268 70+ 13645 17753 27666 Total 1140389 597923 542466

Fonte: Censos Demográficos 1980 e 1991. * População estimada.

2 Se os intervalos não forem iguais, duas tabelas devem ser obtidas. Na primeira delas, cada coorte pode ser acompanhada no tempo ao longo de uma linha. Já na segunda tabela, conjuntos comparáveis de dados por período devem estar justa-postos.

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Incluindo uma característica dos imigrantes, ou seja, deli-mitando uma nova coorte, a Tabela 2 apresenta uma tabela padrão com as porcentagens e número de migrantes por idade que exerciam atividades no setor de administração pública. Há 5 coortes com ampli-tude de 10 anos de idade registradas nos períodos de 1981 e 1991 (e a coorte de 60 a 69 anos registrada somente para 1981). O efeito referente à idade é gerado pelas influências associadas ao momento no ciclo vital dos migrantes. O efeito de coorte está associado às possíveis diferenças com que cada grupo enfrentou a migração. Os efeitos de período estão associadas às questões consideradas em 1981 e 1991 relativas mais ao contexto externo, como os fatos políticos e econômi-cos que influenciaram os movimentos migratórios na região e no país.

Tabela 2

PORCENTAGEM* E NÚMERO (ENTRE PARÊNTESES) DE NÃO NATURAIS DO DISTRITO FEDERAL

QUE EXERCEM ATIVIDADE

NO SETOR DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, POR GRUPO ETÁRIO – 1981** E 1991

Idade Não naturais1981 Não naturais com 10 + anos1991 de residência 10-19 (4206)1,83 (744)1,55 20-29 (27675)8,06 (13351)11,33 30-39 (22638)10,13 (25448)14,38 40-49 (18495)13,44 (19065)15,03 50-59 (7470)10,61 (8449)11,34 60-69 (1826)5,75 (2118)5,86 Fonte: Censos Demográficos de 1980 e 1991.

* Não há padronização nos dados. ** População estimada.

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As variações nas porcentagens de uma tabela padrão de coortes podem ser provenientes de vários tipos de efeitos. Busca-se identificar os chamados efeitos de idade, coorte e período, mas há outros fatores de variação que devem ser considerados, como o erro de amostragem e as mudanças de composição dentro das coortes ao longo do tempo.

Um outro fator de variação refere-se ao tipo de variáveis que interessam para a avaliação da evolução no tempo das condições dos migrantes. Variáveis como setor de atividade, ocupação exercida e escolaridade tem várias categorias. Ao se estudar a mudança de estrutura em cada variável ao longo do tempo e das coortes, temos uma alteração a ser tratada entre as categorias, de forma conjunta, dando mais complexidade ao problema. Como exemplo, considere os migrantes em 1981 e 1991, por idade e setor de atividades, incluindo as 4 seguintes categorias: Comércio, Prestação de Serviços, Adminis-tração Pública e Outros. O número de migrantes (10 anos mais velhos em 1991) no setor Comércio não é mais necessariamente menor ou igual ao número de migrantes no setor Comércio em 1981, já que agora são subtraídos os migrantes que morreram e os que saíram do DF ou do setor de Comércio, e somados os que, porventura, vieram dos outros três setores, entre 1981 e 1991, resultado que pode ser positivo ou negativo. Além disso, esses resultados devem ser analisados simulta-neamente para as 4 categorias de Setor de Atividade.

Com acesso aos microdados nos Censos Demográficos, essas coortes podem ser exploradas através da escolha de um dos métodos para análise de coorte e período. Nem sempre é viável a separação dos efeitos relativos à período e coorte. Porém, maior exploração dos dados de migração dos Censos Demográficos é possível com a análise descritiva de “coortes” de migrantes e suas caracterís-ticas presentes no levantamento censitário, e com a construção de modelos que possam corroborar teorias, muitas vezes difíceis de serem verificadas empiricamente.

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