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A relação entre os desportos de combate, a aquisição de competências sociais e o rendimento escolar

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

A

R

ELAÇÃO ENTRE OS

D

ESPORTOS DE

C

OMBATE

,

A AQUISIÇÃO DE

C

OMPETÊNCIAS

S

OCIAIS E O

R

ENDIMENTO

E

SCOLAR

Autor: Fernando Miguel Branco Neto

Orientador: Professor Doutor Jorge Alexandre Pereira Soares

Vila Real Fevereiro de 2014

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

2º CICLO EM ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

NOS ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

A

R

ELAÇÃO ENTRE OS

D

ESPORTOS DE

C

OMBATE

,

A AQUISIÇÃO DE

C

OMPETÊNCIAS

S

OCIAIS E O

R

ENDIMENTO

E

SCOLAR

Autor: Fernando Miguel Branco Neto

Orientador: Professor Doutor Jorge Alexandre Pereira Soares

Vila Real Fevereiro de 2014

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Dissertação apresentada à UTAD, no DEP – ECHS, como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física dos Ensino Básico e Secundário, cumprindo o estipulado na alínea b) do artigo 6º do regulamento dos Cursos de 2ºs Ciclos de Estudo em Ensino da UTAD, sob a orientação do Professor Doutor Jorge Alexandre Pereira Soares.

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i Dedicatória:

Às crianças que transformaram a minha vida num sonho. Aos meus filhos que muito AMO:

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ii Agradecimentos:

Agradeço a todos os que me ajudaram a caminhar na prossecução deste trabalho. Os que conhecia pelos laços de amizade que se fortaleceram, e os que não conhecia pelos laços de amizade que se estabeleceram e que irão permanecer. A todos vós, mesmo aqueles que colaboraram mais indiretamente, o meu muito obrigado, pois, sem o vosso auxílio jamais seria possível a concretização deste trabalho.

 Aos meus maravilhosos filhos; Matilde e Luís; e à minha esposa, pelas horas de ausência e “força” para a elaboração deste trabalho;

 Aos meus pais e avó pela “força” ao longo de toda a vida;

 À minha mana Branca pela ajuda na elaboração do trabalho;

 Ao Professor Doutor Jorge Soares pela preciosa orientação, contributo científico, paciência e pelas palavras de incentivo na prossecução deste trabalho;

 Ao Mestre Hélio Antunes na ajuda na utilização do SPSS e no tratamento estatístico;

 Aos treinadores na colaboração e disponibilidade no preenchimento das entrevistas;

 Aos clubes na colaboração e disponibilidade no preenchimento dos questionários aos atletas;

 Aos atletas dos clubes na colaboração e disponibilidade no preenchimento dos questionários;

 À professora Elisabete Gaifém pela tradução do resumo para inglês;

 À professora Sandra Passos pela ajuda na correção da tese;

 Aos docentes da UTAD que colaboraram na realização deste trabalho. Sem vocês… não era nada. A todos MUITO OBRIGADO!

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iii Resumo

O estudo teve como objetivo verificar se a prática de Artes Marciais/Desportos de Combate tem uma influência positiva nos jovens atletas, nomeadamente na aquisição de competências sociais, e se as mesmas estão correlacionadas com o sucesso escolar. Contemplou questões relacionadas da prática de desportos de combate com a vida dos jovens atletas no seu dia a dia, nas suas atividades escolares e nos treinos e competições.

O estudo envolveu a participação de 212 atletas de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, reunindo simultaneamente a condição de prática/experiência desportiva de pelo menos um ano; foi aplicado no Taekwondo, Karaté, Kung-Fu, Judo e Capoeira. Foi elaborado e validado um questionário individual e anónimo que contemplavam 63 questões sobre competências sociais e aproveitamento escolar. As competências sociais contemplaram sete variáveis, nomeadamente: o respeito; o autocontrolo; a responsabilidade; a perseverança; o saber estar; a cooperação e a integridade. Foram, igualmente, contempladas questões relacionadas com o aproveitamento escolar.

Para o tratamento estatístico foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for the

Social Sciences) versão 19.0 onde a estatística descritiva é apresentada em tabelas onde

constam frequências absolutas e relativas; valores máximos e mínimos; valores médios e desvio padrão. Para a análise inferencial foi utilizado o teste T-Student, de forma a comparar dois grupos de estudo, e a Análise da Variância para comparar três ou mais grupos de estudo. Os resultados indicaram que na prática de desportos de combate a experiência não parece ser um fator que esteja associado à aquisição de competências sociais. No entanto, há evidências de que atletas que treinam mais vezes semanalmente, de um modo geral, valorizam mais as competências sociais, sobretudo as seguintes: o autocontrolo, a responsabilidade, a perseverança e a cooperação.

Relativamente à idade, verificou-se que, no geral, há tendência para os atletas de idades mais avançadas apresentarem resultados superiores em todas as competências sociais. Na perceção dos efeitos da prática de desportos de combate nas competências sociais em função do género, verificaram-se diferenças. Assim sendo, as raparigas apresentaram diferenças significativas na responsabilidade e integridade. Similarmente, as outras competências tiveram um maior desenvolvimento no sexo feminino, uma vez que quase todas apresentaram valores médios superiores.

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iv No que se refere ao aproveitamento escolar, não houve evidências de que a experiência da prática dos desportos de combate seja determinante para obter melhores resultados escolares. Igualmente, um aumento do número de treinos não se apresentou como um fator relevante para um melhor ou pior aproveitamento. Foram, no entanto, constatadas diferenças quanto à perceção do favorecimento no aproveitamento escolar, através da prática dos desportos de combate, sendo tal facto mais evidente nas raparigas.

Concluiu-se que a prática dos diferentes desportos de combate proporciona a aquisição de competências sociais e que influencia positivamente o quotidiano dos jovens atletas. Porém, não ficou evidenciado que a prática desse tipo de desportos esteja correlacionada com um melhor aproveitamento escolar. Concluiu-se então que essa prática não ajuda, mas também não prejudica esse aproveitamento.

Palavras – chave: Artes marciais, desportos de combate, competências sociais, sucesso escolar.

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v Abstract

The study aimed to determine whether the practice of Martial Arts/Combat Sports has a positive influence on young athletes, particularly in the acquisition of social skills, and whether theyare correlated with school success. It has considered questions relating to the practice of combat sports to the lives of young athletes in their daily activities in their schools and in training and competitions.

The study involved the participation of 212 athletes of both sexes, aged between 12 and 18 years, while meeting the condition of practice / sporting experience of at least one year; it was applied in Taekwondo, Karate, Kung Fu, Judo and Capoeira. A questionnaire which included individual and anonymous 63 questions on social skills and academic achievement was developed and validated. Social skills beheld seven variables, namely: respect, self-control, responsibility, perseverance, knowledge-being, cooperation and integrity. Issues related to school performance were also addressed.

For the statistical analysisit was used the SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) version 19.0 in which descriptive statistic sare presented in tables which contains absolute and relative frequencies, maximum and minimum values, mean values and standard deviation. For the inferential analysis it was used T-student’s test, in order to compare the two study groups, and analysis of variance to compare three or more groups.The results indicated that experience in the practice of combat sports does not seem to be a fator that is associated with the acquisition of social skills. However, there is evidence that athletes who train more times weekly, usually value more social skills, including: self, responsibility, perseverance and cooperation.

Regard in gage, it was verified that, overall, there is a tendency for older athletes to present better results in all social skills. In the perception of the effects of the practice of combat sports in social skills according to gender, there were differences. The girls showed significant difference sin responsibility and integrity. Similarly, other skills have a greater development in females, as almost all showed higher values.

Regarding educational attainment, there was no evidence that the experience of the practice of combat sports is crucial to better school results. Further more, an increase in the number of training did not appear as a relevant fator for a better or worse attainment. Even so,

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vi there were observed differences in the perception off avoritismat school, throughout the practice of combat sports, it being more evident among girls.

It was concluded that the practice of different combat sports provides the acquisition of social skills that positively influences the daily lives of young athletes. However, it didn’t become evident that the practice of such sports is correlated with better school performance. Although it was concluded that this practice does not help, it also doesn’t affect negatively school attainment.

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- 1 - INDICE Dedicatória ... i Agradecimentos ... ii Resumo ... iii Abstract ... v Introdução ... - 4 -

Capítulo I – Revisão bibliográfica 1- Conceito de competências sociais ... 6

-3- A relação entre desporto e o sucesso escolar ... - 13 -

Capítulo II – Metodologia 1- Objetivos ... 35

-3- Caracterização da amostra ... 38

-4- Instrumentos ... 40

4.1 Procedimentos de validação e de aplicação ... 40

4.1.1Entrevistas aos treinadores ... 40

4.1.2 Questionário aos atletas ... 42

-5- Tratamento estatístico ... - 43 -

Capítulo III – Apresentação dos resultados 1- Prática de desportos de combate e competências sociais ... 45

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Capítulo IV – Discussão dos resultados e conclusões

1- Discussão dos resultados ... 54

-2- Conclusões ... 60

-3- Considerações e Recomendações Finais ... - 62 -

Referências ... - 63 -

Anexos Anexo 1 – Variáveis e respetivos indicadores ... 70

Anexo 2 Questionário aplicado aos jovens atletas: ... 72

Anexo 4 Diferenças significativas quanto à valorização das competências sociais em diferentes idades 79 Anexo 5 Valorização das competências sociais em função da experiência dos mesmos dos atletas 80 -Anexo 6 - Comparação da perceção de ambos os géneros quanto aos efeitos que a prática desportiva dos desportos de combate tem nas competências sociais ... 81

Anexo 7 Competências sociais em função do número de treinos por semana ... 82

-Índice de Figuras Figura 1 – Amizade em Taekwondo ... 21

Figura 2– Respeito entre atletas e treinadores de Taekwondo ... 27

Figura 3– Disciplina da saudação no treino de Taekwondo ... 27

Figura 4 Competição de Taekwondo com jovens atletas ... 30

Figura 5 Características da competição para desenvolver as competências sociais ... 41

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Índice de Quadros

Quadro 1 Variáveis e principais resultados entre desportos de combate e competências sociais 27 Quadro 2 Variáveis e principais resultados entre desportos de combate e competências sociais 31

Quadro 3 Ano de escolaridade dos praticantes ... 39

Quadro 4 Desporto de combate praticado pelos atletas ... 39

Quadro 5 Competências Sociais mais valorizadas/reconhecidas ... 45

Quadro 6 Valorização das Competências Sociais em função da idade ... 47

Quadro 7 Valorização das Competências Sociais em função da experiência ... 48

Quadro 8 Perceção dos efeitos dos desportos de combate em função do género ... 50

Quadro 9 Valorização das Competências Sociais em função do número de treinos ... 51

Quadro 10 Aproveitamento escolar em função da experiência ... 52

Quadro 11 Aproveitamento escolar em função do número de treinos semanais ... 53

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Introdução

Na revisão da literatura apurou-se que as competências sociais podem, de acordo com os autores que as investigam, assumir várias definições e estar relacionadas com diferentes variáveis.

Vaughn e Hogan (1990), referem que a competência social é um construto difícil de definir que inclui diferentes dimensões interrelacionadas, por isso, nenhuma dimensão por si permite caraterizar adequadamente a competência social. Estes autores encaram a competência social como um constructo multidimensional e interativo que pressupõe habilidades sociais eficazes, ausência de comportamentos inadaptados, relações positivas com os outros e cognição social apropriada à idade. Segundo Perrenoud (2000), a competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos para solucionar inúmeras situações, ligados a contextos culturais, profissionais e condições sociais. Para Nunes (2012), representam capacidades como o escutar, compreender e motivar - para lidar com as pessoas - sendo fundamental o espírito de equipa, justiça, imparcialidade e ética na resolução de conflitos. Já na ótica de Botelho (2012) “competências sociais são atributos pessoais que facilitam a interação social e permitem ao indivíduo ser capaz de desenvolver condições para responder de forma adequada e ajustada aos estímulos e desafios que a vida lhe coloca.” (p.29).

Segundo a bibliografia consultada, a aquisição de competências no contexto desportivo tem consequências positivas no campo social. Kleiber e Roberts (1981) consideram que as competências desportivas e competências para uma vida bem-sucedida levam treinadores, atletas e dirigentes a acreditarem na participação desportiva para o desenvolvimento psicossocial dos seus intervenientes. No contexto desportivo poderá desenvolver-se a responsabilidade, a conformidade, a subordinação, a persistência e até um maior grau de tomada de decisões. Danish et al (1990), apontam o desporto como um bom exemplo de competência pessoal e, por consequência, eficaz na aquisição de competências para uma vida bem-sucedida.

Já evidenciado pelos autores supracitados, a participação desportiva conduz a diferentes e variados benefícios. Assim, Lee (1990), refere que a introdução no contexto desportivo deve ser dirigida a todos e o mais cedo possível. Essa iniciação desportiva deverá ser devidamente adaptada aos jovens e alicerçada numa componente de valorização de princípios morais e educativos. Deve promover, prioritariamente, uma índole de participação e o desportivismo, relegando o resultado desportivo para um plano menos importante.

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Pautando-se as Artes Marciais/Desportos de Combate1 por regras, valores, princípios, normas e condutas rígidas estruturadas hierarquicamente, originárias na sua maioria de culturas orientais, entendemos que a especificidade do rigor implícito neste tipo de atividades poderá enriquecer o dia a dia dos seus jovens praticantes, podendo moldar os comportamentos e também potenciar o sucesso escolar. Konzak e Boudreau (1984), citados por Morand (2004) mencionam que as artes marciais reúnem diferenças comparativamente a outras atividades físicas, repercutindo-se os benefícios da sua prática mesmo em crianças com hiperatividade e défice de atenção. A sua prática tem influência positiva ao nível da meditação, respiração rítmica, relaxamento, adesão e etiqueta, ajuda mútua, sentido de coesão, além de serem um agente socializador.

Na nossa investigação em jovens atletas, encontramos competências sociais, tais como o respeito; o autocontrolo; a responsabilidade; a perseverança;o saber estar; a cooperação e a integridade. Em resultado da bibliografia consultada e das entrevistas feitas aos treinadores, também foram encontradas outras competências sociais como a disciplina, a cordialidade e a solidariedade. O estudo que se apresenta, teve como objetivo aferir se a prática de Artes Marciais/Desportos de Combate tem uma influência ou uma correlação positiva nos jovens atletas. Visou ainda confirmar se essa prática potencia a aquisição de competências sociais, e se as mesmas influenciam positivamente o sucesso escolar. Este estudo contemplou questões que relacionaram a prática de desportos de combate com a vida dos jovens atletas no seu dia a dia, nas suas atividades escolares e, também, nos treinos e competições. Neste sentido, Binder (2007) refere que, em comparação direta com outras atividades, as artes marciais proporcionam maiores benefícios psicossociais que se constatam em todos os estilos.

Pretendeu ainda aferir-se, nos jovens atletas, se o treino dos desportos de combate potencia o reconhecimento/valorização das competências sociais; se há diferenças na sua valorização relativamente à idade e experiência; se há diferenças da perceção em ambos os géneros e se a frequência semanal nos treinos poderá ou não estar relacionada com a aquisição das competências sociais até então já referidas. Na elaboração deste trabalho, aplicado no Taekwondo, Karaté, Judo, Capoeira e Kung Fu, foram consultados os principais agentes envolvidos nestes desportos, nomeadamente: os treinadores e os jovens atletas de diversos clubes, de forma a aferir se as diferentes modalidades de desportos de combate apresentavam benefícios quanto às competências sociais.

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Capítulo I – Revisão bibliográfica

1- Conceito de competências sociais

Competência social pode assumir várias definições. Como referem Vaughn e Hogan (1990), a competência social é um constructo difícil de definir que inclui diferentes dimensões interrelacionadas, por isso, nenhuma dimensão por si permite caraterizar adequadamente a competência social. Estes autores encaram a competência social como um constructo multidimensional e interativo que pressupõe habilidades sociais eficazes, ausência de comportamentos inadaptados, relações positivas com os outros e cognição social apropriada à idade. Como referido na introdução, para Botelho (2012) “competências sociais são atributos pessoais que facilitam a interação social e permitem ao indivíduo ser capaz de desenvolver condições para responder de forma adequada e ajustada aos estímulos e desafios que a vida lhe coloca.” (p.29). Lopes et al (2006) dizem que definir um conceito uniforme de competências sociais parece não ser consensual, pois segundo o autor, competência, habilidade ou capacidade são conceitos que se cruzam, mas não são iguais. O autor citado aponta uma conjugação entre as capacidades e as habilidades que culmina na construção do conceito de competências sociais. Já na ótica de Nunes (2012), representam capacidades como o escutar, compreender e motivar - para lidar com as pessoas - sendo fundamental o espírito de equipa, justiça, imparcialidade e ética na resolução de conflitos.

Lemos e Meneses citam vários autores (2002), Dishion, Loeber, Loeber-Stouthamer e Patterson (1984) que sustentam a existência de determinadas competências que se revestem de grande importância para a aquisição de objetivos sociais, são elas: competências interpessoais, competências académicas e competências de trabalho. Segundo estes autores, dificuldades na aquisição de competências básicas poderão condicionar o ajustamento social do jovem. Indicam ainda que as competências interpessoais assumem gradual importância durante a adolescência, podendo ocorrer problemas com a sua inexistência. Referem também Dodge (1985), que menciona dois fatores comuns: a recetividade e a disposição na resposta a estímulos do ambiente e a eficácia social. O primeiro fator (recetividade) inclui a atenção, a sensibilidade e adaptação a reações adequadas ao momento; o segundo fator (disposição) inclui a habilidade do sucesso da interação social conseguida através de estratégias. Dodge (1985) afirma, ainda, que na interação entre os componentes da competência social estão incluídos fatores sociais e pessoais, cognitivos e emocionais. Estes fatores, por sua vez,

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interagem na construção de comportamentos socialmente aceites. Gresham e Elliott (1984),

também citados por Lemos e Meneses (2002) consideram que uma boa competência social, além de prevenir relações socialmente inaceitáveis, permite interações eficazes com os outros. A esse propósito Lemos e Meneses (2002) aludem, Cowen, Pederson, Babigian, Izzo e Trost (1972), Coie e Dodge (1983), Garmezey, Masten e Tellegen (1984) e Parker e Asher (1987), que defendem que crianças com capacidade de partilha e com iniciativa de interações positivas, como por exemplo: ajudar, pedir ajuda, solicitar por favor e agradecer, serão bem-sucedidas nas suas relações sendo, consequentemente, importantes tarefas do desenvolvimento. Em contrapartida, carências na competência social relacionam-se com baixa realização académica e podem levar a problemas futuros. Vaughn e Hogan (1990), são apologistas de que comportamentos sociais positivos resultam de quatro componentes, designadamente: a relação com os pares, cognição social, problemas de comportamento e habilidades sociais eficazes.

Na definição ou compreensão de competência social, Haager e Hogan (1995), em que a referenciam para descrever o comportamento social, a compreensão e utilização de habilidades sociais, bem como a aceitação social. Epps (1996), citado por Matos (2008) considera que a competência social inclui competências e processos, divididos em dois grupos, nomeadamente: - o respeito e comportamento interpessoal; - o desenvolvimento e manutenção de relações íntimas. No primeiro grupo incluem-se a empatia, a assertividade, a gestão da ansiedade e da ira e as competências de conversação; no segundo grupo incluem-se a comunicação, a resolução de conflitos e a competência de intimidade.

Perrenoud (2000), refere a competência como a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades e informações) para solucionar, com pertinência e eficácia, inúmeras situações ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais. Considera que os seres humanos não vivem todos as mesmas situações, desenvolvendo competências adaptadas ao seu mundo, afirmando que a maioria delas se incrementa na escola. Pondera a existência de 8 categorias de competências fundamentais para a autonomia das pessoas, nomeadamente: saber identificar, avaliar e valorizar as suas possibilidades, os seus direitos, os seus limites e as suas necessidades; saber formar e conduzir projetos, desenvolver estratégias individualmente ou em grupo; saber analisar situações, relações de campos de força de uma forma sistemática; saber cooperar, agir em sinergia, participar numa atividade coletiva e partilhar a liderança; saber construir e estimular organizações e sistemas de ação coletiva do tipo democrático; saber mediar e superar conflitos; saber conviver com

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regras, servir-se delas e elaborá-las; saber construir normas negociadas de convivência que superem diferenças culturais.

Matos (2008), é um dos vários autores que investigam a aquisição e desenvolvimento de competências de vida e sociais. Indica as sociais divididas segundo o Programa de Promoção de Competências Sociais (1998) a jovens sujeitos a medidas tutelares pelo Tribunal de Menores do Sistema de Justiça Português (Matos, Simões e Carvalhosa, 2001), especificamente: competências de comunicação interpessoal que podem ser verbais e não-verbais; competências emocionais (identificação e gestão de emoções); competências cognitivas que podem identificar e solucionar problemas; gerir conflitos e tomada de decisões; competências sociais. As competências sociais poderão estar correlacionadas com as perturbações do comportamento, a delinquência e o desajustamento social, onde o contexto familiar disruptivo pode favorecer práticas antissociais ao indivíduo enquanto seu membro. A esse propósito Aseltine (1995) realça nos pares os primeiros influenciadores de comportamento dos jovens, sendo de fulcral importância o processo de vinculação com a família e a supervisão parental, na possibilidade de diminuição de comportamentos disruptivos.

Comprovando a importância das competências sociais na sua correlação com comportamentos disruptivos, Grifo (2010) refere Palmer e Holin (1999) onde constataram, em estudo, que o aumento da competência social é proporcional ao aumento da moralidade e controlo interno, funcionado inversamente a sua carência. Neste estudo com jovens transgressores foi encontrada uma forte relação entre inexistência de competências sociais e a delinquência. Podendo a falta de competências potenciar comportamentos disruptivos, e sobre a resolução de potenciais distúrbios comportamentais, Matos (1998), refere que questões disruptivas de cariz comportamental podem ser solucionadas com aplicação de programa de competências sociais desde que aplicado de forma direta ao indivíduo e seu contexto. Esses programas visam a intervenção no autocontrolo e autoinstrução, controlo da ira, descentração, e treino de resolução de problemas sociais. No campo de programas de competências sociais, Gross et al (1990), citado por Hollin (1996) e Matos (2008) evidenciaram que a combinação entre promoção de competências sociais, a terapia comportamental e treino de autogestão, em 10 jovens agressores, se traduziu numa melhoria dos problemas (distúrbios comportamentais e absentismo escolar).

Gonçalves (2008), cita Tarvis Bradberry, “as quatro aptidões da inteligência emocional baseiam-se em duas competências: a pessoal e a social. A primeira resulta da auto

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consciência e seu autocontrolo, que incorporam a perceção das emoções à forma de agir. A segunda é a consequência da consciência social e habilidade em administrar relacionamentos; é a aptidão para compreender o comportamento de outras pessoas, assim como a motivação e o direcionamento de suas relações pessoais. Este autor defende, que na competência social, a autoconsciência possibilita identificar as emoções quando elas afloram e compreender as possíveis reações diante dos acontecimentos. Este aprofunda a perceção das reações perante situações específicas, desafios e relacionamentos pessoais, em que um maior grau de autoconsciência aumenta a tolerância aos sentimentos negativos e ajuda a entender as emoções positivas. O autocontrolo pode manifestar-se pela ação ou ausência desta; depende da perceção emocional e da capacidade de direcionar o próprio comportamento sobre o modo de reagir a situações ou pessoas. Deste modo, a competência social surge a par da consciência social e da capacidade de administrar relacionamentos. Possuindo consciência social compreendem-se as emoções e, frequentemente, captam-se os pensamentos e sentimentos de outras pessoas. Estabelecer relacionamentos resulta das três primeiras aptidões: a autoconsciência, autocontrolo e consciência social2”. Matos (2008), determina a capacidade de se perceber a si mesmo e aos outros, de estabelecer interações com sucesso, o que levará a abordar qualquer conflito de forma tranquila.

2- A relação entre desporto e as competências sociais

Desde há já algumas décadas que se verifica que a investigação tem correlacionado as competências sociais com o fenómeno desportivo. Shea (1978), citado por Grifo (2010) defende a atividade física como forma de promover excelentes oportunidades de deliberações éticas e uma forma de determinar as condutas, considerando-as corretas ou incorretas. Whiting (1969), Danish e Hale (1981), consideram que a experiência desportiva proporciona, no seu contexto, princípios aplicáveis noutros contextos de vida. Referem que a prática desportiva, desde que devidamente orientada, parece estar associada com a transferência de competências para outros contextos, por dois motivos: primeiro, porque as competências físicas, tal como as de vida, são aprendidas pela demonstração, modelagem e prática; segundo, porque muitas das competências desportivas como: o alto rendimento sob pressão, a resolução de problemas, cumprimentos de prazos e desafios, formulação de objetivos, comunicação, lidar com sucesso e fracasso, trabalhar em equipa e num sistema, receber e

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beneficiar de feedback, são competências que podem ser aplicadas e transferidas para contextos extra desportivos.

Segundo a bibliografia consultada, a aquisição de competências no contexto desportivo tem consequências positivas no campo social. Também referenciados no trabalho de Dias, Cruz e Danish (2001) Kleiber e Roberts (1981), consideram que as competências desportivas e competências para uma vida bem-sucedida levam treinadores, atletas e dirigentes a acreditarem na participação desportiva para o desenvolvimento psicossocial dos seus intervenientes. No contexto desportivo poderá desenvolver-se a responsabilidade, a conformidade, a subordinação, a persistência e até um maior grau de tomada de decisões. Danish et al (1990), aponta o desporto como um bom exemplo de competência pessoal e, por consequência, eficaz na aquisição de competências para uma vida bem-sucedida.

Como já foi evidenciado pelos autores supracitados, a participação desportiva conduz a diferentes benefícios. Assim, Lee (1990), referencia que a introdução no contexto desportivo deve ser dirigida a todos e o mais cedo possível. Essa iniciação desportiva deverá ser devidamente adaptada aos jovens e alicerçada numa componente de valorização de princípios morais e educativos. Deve promover, prioritariamente, uma índole de participação e o desportivismo, relegando o resultado desportivo para um plano menos importante.

Fernandes et al (2003), referem Gonçalves (1991) e Coelho (2004) os quais afirmam que a prática desportiva pode induzir a uma correta transmissão de valores desde que esteja bem organizada. Os mesmos autores suprareferidos também citam Kemp (1991) e Rijo (2001) que reforçam a importância dada pelo treinador/professor desportivo ou outros agentes de socialização neste processo.

O desporto é um contexto privilegiado de intervenção psicológica devido ao aumento de jovens praticantes. O crescente interesse e envolvimento aumentam em função da prestação e competência desportiva (Cruz, 1996). Segundo Danish et al (1996), Danish e Nellen (1997) os comportamentos, competências e atitudes transferíveis do contexto desportivo para outros contextos são entendidos e conceptualizados como competências de vida. Mesquita (1997), citada por Ribeiro (2011) aponta o contexto desportivo como a capacidade de atribuir potencialidades formativas e educativas excecionais, tais como: a aquisição de valores essenciais do saber ser, onde se incluem a autoestima, autocontrolo, pontualidade, assiduidade, perseverança, espírito de sacrifício e vontade; aquisição de valores determinantes do saber estar, onde se incluem o civismo, camaradagem, respeito pelas regras e pelos outros, lealdade e cooperação; desenvolvimento e aquisição de habilidades motoras

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indispensáveis ao saber fazer, onde se incluem as capacidades coordenativas, velocidade, força, resistência, flexibilidade e habilidades técnico-táticas.

No processo de aprendizagem social, entre alunos e professores, Gonçalves (2000), citado por Fernandes et al (2003) evoca inúmeros estudos desenvolvidos em Portugal, Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra, sobre a importância do professor/treinador em constituir no desporto infantojuvenil um poderoso agente de socialização. Essa socialização, está fortemente dependente da qualidade das experiências que as crianças e jovens vivem no seu processo de formação desportiva. Exemplificando: num estudo realizado por Fernandes et al (2003), é referida a relevância que os professores têm na explicação e valorização do significado de fazer parte de um grupo, da importância da vivência e do contributo individual para a valorização deste. As experiências desportivas referenciadas, podem influenciar o futuro profissional, que segundo Horn (2002), as crianças e jovens envolvidas no fenómeno desportivo têm uma maior capacidade de descobrir as suas orientações profissionais, comparativamente aqueles que nunca estiveram envolvidos no desporto.

Existem outros autores que desenvolveram estudos sobre os efeitos positivos de caráter psicológico decorrentes da atividade/exercício físico. Neste contexto destacam-se Biddle (1995), Cruz (1996), Petruzzello, Landers, Hatfield, Kubitz e Salazar (1991) Sonstroem e Morgan (1988), Steine Motta (1992), entre outros. Todos estes alegam o bem-estar psicológico, diminuição da depressão e ansiedade e desenvolvimento do autoconceito. Salguinho (2007) cita Roberts (1984), que valoriza a importância da participação desportiva das crianças no campo da socialização. Assim sendo, afirma que no no contexto desportivo as crianças são direcionadas para o contacto com regras, valores sociais e têm a possibilidade de desenvolver competências que favorecem positivamente a interação social. Gonçalves (2003) e Constantino (1998), citados por Grifo (2010) referem que “A prática desportiva deve ter, na sua génese e desenvolvimento, todo um conjunto de princípios e valores que assegurem o sentido cultural e formativo, que se promovem através do ensino e prática em todas as instituições socializadoras desportivas, independentemente do rendimento ou sucesso desportivo”. (p.13). Grifo aponta Gonçalves et al (2005), que defendem o desporto moderno com raízes em profundas virtudes pedagógicas e formadoras, individuais e sociais, que por sua vez possuem valores éticos transferíveis para a vida. Da mesma forma Gonçalves (2005) menciona que o desporto poderá promover a aquisição de valores que os jovens, posteriormente, podem assumir na sua vivência social e privada. De acordo com Grifo (2010), do ponto de vista social, Serpa, in Serpa et al (2006), considera o desporto com inúmeras situações de cooperação e competição. É uma atividade em que os praticantes

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necessitam de “companheiros adversários”, onde o vencido e vencedor devem maximizar o empenho, onde as dificuldades impostas por cada um possibilitem a ambos a passagem a níveis superiores de competência desportiva.

Gonçalves (2007), citado por Grifo (2010) alega que subsiste uma convicção generalizada de que o desporto só por si “faz bem”, sendo um excelente meio para a saúde, socialização, ocupação de tempos livres, formação de caráter, habilidades motoras e educativas. O mesmo autor defende ainda que é um excelente meio para os benefícios que aponta.

Costa (2007) é apologista de que a prática desportiva está atualmente muito bem conotada, sendo ao nível da saúde considerada um importante protetor pelo facto de reunir inúmeros benefícios físicos, psicológicos e também sociais.A esse propósito refere que a generalidade dos estudos aponta benefícios psicológicos decorrentes da atividade física, onde se verifica uma maior incidência de benefícios ao nível da autoestima/autoconceito e da ansiedade/stress. Grifo (2010), afirma que a prática desportiva orientada permite aos jovens a não exposição a modelos desviantes e a situações de exclusão social e cultural, durante o período de socialização. Adianta que diferentes maneiras de abordar e analisar o desenvolvimento de valores sociais e pessoais do indivíduo, e a relação com a atividade física e o desporto, são-nos apresentados pelas teorias construtivistas de Piaget, os planeamentos estruturais de Kohlberg, e as teorias de aprendizagem social de Bandura. Mota (2011) reforça a ideia dos autores anteriores ao referir que “o desporto e a atividade física assumem-se como parte integrante da vida social, sendo preconizados como um dos meios de compensar os efeitos nocivos do modo de vida da sociedade moderna.” (p.3).

De acordo com todas estas referências bibliográficas mencionadas, facilmente se conclui que, de facto, a atividade desportiva assume um papel preponderante no desenvolvimento global do indivíduo. O Desporto pode mesmo ser considerado como o caminho ideal que cada pessoa deverá percorrer para atingir a plenitude da sociabilidade num mundo cada vez mais desprovido de valores sociais. Cada indivíduo é único, com uma forma de pensar e de agir únicas e neste sentido o Desporto insurge-se como um meio onde as diferenças de cada um se dissolvem na homogeneidade dos valores de cooperativismo que ele veicula.

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3- A relação entre desporto e o sucesso escolar

Na prática desportiva e a correlação com o sucesso escolar, segundo Cunha (2008) é consensual que a expressão sucesso escolar se aplica, geralmente, naquelas situações em que não há reprovação dos alunos. Presume-se, nesse caso, que estes aprenderam o suficiente das diversas matérias para obter aprovação na generalidade das disciplinas. Refere que sucesso escolar pressupõe motivação dos intervenientes, havendo necessidade de estímulos apropriados de forma a tornar agradável a aprendizagem. Pode, em oposição, comprometer a aquisição do que é requerido, sejam competências ou conteúdos.

O desporto enquanto atividade extracurricular, revela evidências de que favorece o desenvolvimento do sucesso escolar. Simão (2005), refere a esse propósito, que já em 1920 foi encorajada a participação dos alunos nesse tipo de atividades em clubes e organizações, pois tal é considerado como sendo um contributo social para esse desenvolvimento, Gholson (1985), citado por Gerber (1996). Mais tarde, Linville (1987), citado por Simão (2005) sustenta que apostar no desenvolvimento de competências que auxiliem os alunos na vida académica é contribuir para uma melhor saúde física e mental e considera que atividades extracurriculares contribuem positivamente para novas competências. Marsh (1992), as indicia como propulsoras de um maior interesse do aluno às atividades escolares e seus valores, levando indiretamente a um melhor rendimento académico. O mesmo autor afirma que as atividades promovidas pela escola também podem contribuir para um maior envolvimento nesta, desenvolvendo atitudes mais favoráveis em relação às aprendizagens escolares. Simão (2005) refere Feijgin (1994), Hanson e Kraus (1999), citado por Beckett (2002), que também realizaram estudos longitudinais onde demonstram que a participação em atividades extracurriculares desportivas melhora o desempenho académico, comprovando-o com as notas dos alunos. Identicamente Weiss (1996), citado por Roldão (2003), demonstra haver uma relação entre a motivação, autoestima e participação em atividades extracurriculares desportivas. Afirma que a autoestima e a perceção da habilidade motora podem prever o desempenho ao nível do comportamento, motivação e efeitos positivos em crianças.

De acordo com Bento e Ferreira (2000), foi na década de 70 que se verificaram inúmeros estudos sobre a influência da participação de estudantes em actividades extracurriculares, nomeadamente atividades desportivas e sua relação com o rendimento escolar. Apesar de alguns apontarem que a participação desportiva não é diretamente

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proporcional ao melhor rendimento escolar, em 1971 por Philps e Schafer, em 1972 por Dowel, Badgett e Hunkler, e em 1987, Holland e Andre, baseados em inúmeros estudos concluem que os alunos do género masculino do ensino secundário, que participam em atividades desportivas, têm geralmente melhores classificações escolares, comparativamente com aqueles que não participam. Bento e Ferreira (2000), evidenciam que, na sua generalidade, os alunos que participam em atividades desportivas extracurriculares o rendimento escolar é significativamente superior face aqueles que não participam. Este estudo demonstra ainda que, no que ao género diz respeito, no género masculino notam-se grandes diferenças entre aqueles que participavam e os que não participavam em atividades extracurriculares desportivas. Já no que diz respeito ao género feminino, não foram observadas diferenças significativas.

Conclui-se então que são geralmente os elementos do género masculino que apresentam melhor rendimento escolar, quando comparados com os que praticam e os que não praticam atividades desportivas extracurriculares. Constataram, ainda, que a participação nessas atividades pode não só permitir uma influência positiva sobre o rendimento escolar (com especial incidência no género masculino), como poderá arquitetar aspirações educativas, concluindo que deve haver um incentivo à participação escolar neste tipo de atividades. Simão alude Beckett (2002), que mais tarde demonstra que a participação em algumas atividades extracurriculares melhora o desempenho académico. Realça a participação em desportos interescolares, uma vez que promovem o desenvolvimento dos alunos no âmbito das relações sociais com os pares.

Peixoto (2003), num estudo realizado, um dos objectivos era verificar os efeitos que a participação em atividades extracurriculares exercia sobre a autoestima, o autoconceito, a atitude em relação à escola e o rendimento académico. Concluiu que a participação em atividades extracurriculares condiciona algumas dimensões do autoconceito e o rendimento académico; ou seja, a participação em atividades extracurriculares induz dissemelhanças no autoconceito de apresentação, designadamente na competência atlética. Constatou, também, que os alunos que participavam em atividades extracurriculares tinham perceções mais elevadas na competência escolar e de aceitação social, da mesma forma que a participação em atividades extracurriculares não diferencia os alunos no que se refere aos níveis de autoestima nem das atitudes em relação à escola.

Também Simão (2005) afirma que, na relação entre as actividades extracurriculares e o desempenho académico, os alunos que nelas participam têm um melhor desempenho académico do que os que não participam. Confirmando esta hipótese refere vários estudos:

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Barber, Eccles, Stone e Hunt (2003), Beckett (2000), Cooley (1995), Gerber (1996), Holland e André (1987), Peixoto (2003), Marsh (1992), onde é suportada a ideia de que a participação em atividades extracurriculares induz benefícios aos alunos. Simão (2005) afirma que é relevante a influência destas atividades na vida dos alunos, porque adquirem perceção positiva de si próprios e também maior envolvimento no meio escolar.

Estão evidenciadas por vários autores as vantagens da participação em atividades extracurriculares relativamente ao sucesso escolar. Contudo as vantagens decorrentes do contexto desportivo podem não ser tão lineares, podendo inclusivamente implicar alguns transtornos aos atletas. Reportando aspetos menos positivos, Resende, Gomes e Azenha (2009) apontam Tokila (2002), que afirma “para combinar com sucesso estudos, treinos, escola e horários de treino, os atletas têm de ser flexíveis e organizados” (p.8). Os resultados sugerem que para conciliar o estudo e o desporto os praticantes desportivos têm de possuir qualidades de organização pessoal acima da média. É indicado o pouco tempo de descanso como fator fulcral na obtenção de um insatisfatório resultado académico. Também se verificou que a maioria dos atletas refere não existir uma influência nefasta do desporto no seu percurso escolar. Os mesmos autores citam Lima (2002), que afirma “constrangimentos como a calendarização das competições, a qualificação individual e coletiva, refletem-se, de uma forma global e cumulativa, naquilo que se poderia denominar como a ordenação da vida pessoal, familiar, escolar, profissional e social.” (p.8).

Resende, Gomes e Azenha (2009) “reconhecem que no desenvolvimento da sociedade a atividade desportiva é cada vez mais um fator cultural indispensável na formação integral da pessoa humana.” (p.2). Também concordam, em estudo realizado, segundo os atletas inquiridos, que uma boa organização do tempo e os métodos de estudo são fatores promotores de um bom rendimento académico - mesmo no desporto de alta competição - e em idades escolares, são preponderantes. Nesse estudo, mais de metade dos participantes considera que não seriam melhores atletas se não estudassem e, cerca de metade, referiu que não seria melhor aluno se não competisse ao mais alto nível. Sobre a influência da atividade académica na vida desportiva, a maioria dos inquiridos indicou que os estudos nem interferiam, nem reduziam as possibilidades de serem melhores atletas. Acerca da influência da carreira desportiva no desempenho académico, observou-se que quase metade indicou que o desporto não influenciava negativamente a vida escolar, sendo a razão que leva os atletas a obter um bom resultado académico a boa gestão do tempo. Os atletas também indicaram o apoio parental na conciliação entre a vida desportiva e a escola. Na influência parental, há segundo Gomes (1997), vários estudos que constatam que o apoio que os pais dão aos filhos no

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incentivo da prática desportiva, como pode ser também um fenómeno preponderante para o crescimento e desenvolvimento mais harmonioso dos filhos.

Por um lado, há estudos que demonstram que a pressão parental pode também ter consequências negativas. Os atletas apontam como negativo o receio acerca das avaliações negativas por parte dos pais, sendo este um dos principais fatores de pressão, causadores dos maiores problemas de ansiedade nos momentos que antecedem uma competição.

Por outro lado, existem também estudos que apontam o efeito positivo da relação parental, onde os jovens afirmam que os pais que não exercem demasiada pressão sobre as suas carreiras desportivas, são aqueles que demonstram maiores níveis de divertimento e prazer na atividade desportiva.

Em síntese, os dados obtidos reforçam os seguintes aspetos: a) a boa organização do tempo foi considerada um fator importante no sucesso escolar; b) os estudos não influenciam negativamente a prestação desportiva assim como a prática desportiva não influencia negativamente o rendimento escolar; c) uma das principais dificuldades sentidas pelos atletas é a impossibilidade de puderem adaptar o horário da escola ao horário do treino.

Também Viacelli (2002), estudou a influência desportiva no rendimento escolar. Este refere que alunos alegam o desporto como ajuda na melhoraria de notas, referindo-se ao bem-estar, ao ânimo e a disposição provocada por este tipo de atividade, indicando também que treinos e/ou competições numerosos podem transtornar o rendimento escolar. No seu estudo foram realizadas amostras de registos escolares com comparação das notas, feita apenas entre alunos da mesma turma. Dos alunos estudados, o número de notas baixas obtidas pelo grupo de atletas, ou não atletas, pode variar por diversos fatores, tais como: - a capacidade individual de aprendizagem, - a ajuda ou problemas familiares, - a saúde, entre outros.

Nas médias das notas das turmas analisadas, os não atletas apresentaram, no período da pesquisa, resultados mais baixos do que os alunos atletas, o que, superficialmente, pode concluir-se que os alunos não atletas tiveram um rendimento escolar inferior aos alunos atletas. Todavia, o teste T- Student mostra que a diferença entre os valores das médias das turmas não é significativa, concluindo-se, com base nos dados, que o rendimento escolar dos alunos é independente da sua prática desportiva. Face ao exposto, o estudo indica que a prática desportiva não auxilia, nem prejudica os alunos no rendimento escolar.

Mais tarde, em 2003, foi aplicado no Brasil um estudo sobre a influência do exercício físico e o desporto no rendimento académico das crianças do ensino fundamental. Também se concluiu que entre os grupos estudados, aquele que foi sujeito a um programa de atividades

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desportivas, quando comparados ao grupo que não usufrui das mesmas, não apresentavam diferenças significativas ao nível do rendimento escolar.

No entanto, existem estudos que indicam que a prática desportiva efetivamente favorece o rendimento escolar. Costa (2007), na correlação entre a prática desportiva e o rendimento académico, aponta inúmeros autores que consideram haver benefícios decorrentes da prática desportiva em vários campos, inclusivamente o académico. Por exemplo, Seefeldt et al (1996), cit in JacAngelo (2003) consideram a participação desportiva ser uma ajuda fulcral na educação dos jovens e que, a expansão desportiva nas escolas secundárias, levará ao aumento do rendimento académico e, simultaneamente, diminuição de problemas disciplinares. Em Portugal, entre 2007 e 2012, foi feito um estudo, sob a coordenação de Luís Sardinha – Faculdade de Motricidade Humana, sobre o efeito da prática desportiva no rendimento escolar. Ficou concluído que os alunos que fazem exercício físico têm melhores resultados escolares. Ainda de acordo com este estudo, Sardinha refere “é importante é que os jovens identifiquem o retorno que o exercício lhes traz com situações do dia a dia: têm de perceber que [se fizerem exercício] dormem melhor, interagem com mais confiança com o namorado ou a namorada, podem ter melhores notas, relacionam-se mais positivamente com os colegas e os pais." (p.12).Também Singh (2012) constatou que a prática desportiva regular e intensa dos jovens do género masculino estava diretamente relacionada com maiores índices de aproveitamento escolar; a prática de exercícios tem uma relação positiva e benéfica com o desempenho de jovens em contexto de sala de aula. As crianças e adolescentes que praticam atividade física podem ter um melhor desempenho académico, refletindo-se uma relação positiva entre os exercícios físicos e o desempenho escolar. Para o autor existe uma importante relação positiva e significativa entre a atividade física e a performance académica, pelo que, ser mais ativo fisicamente leva a uma melhoria da performance académica.

Há evidências de que o desporto de uma forma geral exerce uma influência positiva nas competências sociais e também no rendimento escolar. De acordo com Danish, Nellen e Owens (1996), o desenvolvimento social e pessoal é tão importante como o desenvolvimento académico e, como tal, mudanças no comportamento pessoal irão, provavelmente, afetar o desempenho escolar. Relacionando a competência social com o rendimento escolar, Lemos e Meneses (1998), consideram que a escola é alvo de uma atenção especial, devido a correlacionar-se fortemente com a realização académica. Consideram que os alunos com dificuldades de aprendizagem e os alunos com rendimento escolar normal apresentam diferenças nos níveis de competência social. Para Deshler, Schumaker, Warner, Alley e Clark (1980); Gresham (1981), Bryan (1982); Gresham e Reschly (1987); Gresham e Cols (1987) as

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crianças com mais dificuldades são menos aceites pelos pares e revelam défices em comportamentos sociais positivos - elevados níveis de comportamento social negativo.

Em síntese, apesar de haver estudos que demonstrem que o exercício da prática desportiva não beneficia nem prejudica o rendimento escolar dos alunos, podemos concluir, a partir dos estudos atrás referenciados, que a prática do Desporto, de um modo geral, tem repercussões positivas no rendimento escolar. De facto, este, direta ou indiretamente, contribui para a aquisição de competências sociais por parte do aluno, como o respeito mútuo, a sociabilidade a interajuda, as quais lhes permitem ter uma outra bagagem para se adaptarem às diferentes situações e saberem lidar com os mais diversos circunstancialismos que o contexto escolar lhes impõe. Temos assim a velha máxima de uma mente sã num corpo são ao serviço de um melhor rendimento escolar.

4- Relação entre os desportos de combate/artes marciais, as competências sociais e o sucesso escolar

Parecem haver evidências de que as Artes Marciais/Desportos de Combate estão correlacionadas com benefícios de foro psicológico e social. No campo social reflete-se nomeadamente na aquisição/desenvolvimento de competências sociais. Porém, antes de abordar os benefícios que a prática de Artes Marciais/Desportos de Combate pode proporcionar, será feita uma breve exposição da sua origem. Reid e Croucher (2003) alegam que a origem das artes marciais é uma incógnita. Todavia, a teoria mais aceite afirma que a criação destas se deu na Índia através de uma prática cultural denominada “Vrajamusht”, com o significado de “punho real”. Mocarzel (2011) alude Lima (2000) e Hausen (2004), que referem o termo “marcial” ser proveniente do nome da divindade romana das guerras, o Deus “Marte”, equivalente ao Deus “Ares” do panteão grego. Também aponta Araújo (1997) e Turelli (2008), pois recordam que etimologicamente o termo “artes marciais” expressa o significado “arte da guerra”. Marcial é, de acordo com o dicionário da Língua Portuguesa;” referente à guerra; bélico”. Apolloni (2004), refere ainda que as expressões “lutas” e “artes marciais”, procuram na sua essência o caráter da autodefesa, e que as artes marciais têm um conjunto de ensinamentos filosóficos que procuram uma ideologia pacífica. Para Rosa (2006) “as artes marciais são formas de luta corpo a corpo, com ou sem armas, normalmente de origem oriental, japonesa, chinesa, coreana, vietnamita, etc., que utilizam técnicas altamente eficazes, desenvolvidas como método de sobrevivência em sociedades em que o perigo de

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morte era uma constante.” (p.244). Rosa é apologista de que, relativamente às Artes Marciais, apesar de terem sido usadas para fins de guerra, houve com o desenvolvimento da sociedade alterações na sua essência, havendo adaptações aos novos contextos, nomeadamente com as dimensões psicossociais e pedagógicas bem delineadas. O antigo sistema de luta e disputa, com combate sem regras, foi substituído pela representação simbólica do desporto. Para Cantanhede, Nascimento e Rezende (2010), as artes marciais são formas de combate que utilizam o corpo para atacar e defender. Foram sistematizadas pelas culturas orientais e adquiriram características particulares que preparam o indivíduo de forma física e espiritual. Para estes autores, e ainda Barreira, Massimi (2006), Drigo e Junior (2007), as artes marciais possuem na sua estrutura influências das religiões e pensamentos filosóficos do oriente, de códigos de ética e da moral. Mocarzel (2011), compara “artes marciais” com “lutas”, onde refere que o conceito de “artes marciais” é mais subjetivo do que a terminologia “lutas”. O termo “arte” envolve uma série de significados na procura firme e disciplinada pela perfeição, pela beleza e plasticidade, em prol da satisfação pessoal do praticante e dos seus espectadores. A este propósito Mocarzel (2011) cita Monahan (2007) que afirma “ O próprio corpo torna-se o meio para um tipo de expressão artística que é sempre transitória e efémera.” (p.14). Aludindo genericamente Mocarzel, o significado da expressão “artes marciais” é “um conjunto de ferramentas socioeducativas que contribuem para o desenvolvimento físico, na estruturação do comportamento e do caráter dos seus praticantes, independentemente do local e/ou cultura, salvaguardando o respeito por preceitos ético-filosóficos aquando a prática.” (p.15). Há evidências de que as artes marciais são oriundas principalmente do oriente. Todas elas contemplam hierarquias rígidas com treinos num clima de respeito, com rituais de treino como as saudações e juramentos, o uso de roupa específica, que as distinguem das outras atividades desportivas. A título de exemplo, Rosa (2006), refere o Karaté com o uso do “kimono” e o respetivo cinto de graduação, em que o mestre inicia a aula com o ritual próprio de saudação. Torres (2006), nomeado por Vicenzo, refere que todas as artes marciais do oriente foram desenvolvidas com o intuito de defesa pessoal, porém, é difícil o conhecimento da origem devido à existência de poucos relatos escritos e devido à mistura da história real com lendas. Curiosamente, a sua popularidade é bastante considerável, sobretudo entre os jovens. Seguindo esta perspetiva, Theeboom et al (2009), indicam que essa popularidade ocupa, na Europa, a décima posição entre os desportos mais praticados a partir dos 15 anos. Theeboom cita Bottenburg et al (2005), que referem que são dos dez desportos mais praticados; Heuvel e Werff (1998), dizem que a participação em artes marciais envolve idades mais jovens comparativamente a outros desportos.

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A partir da investigação bibliográfica efetuada, parecem haver evidências de que as Artes Marciais/Desportos de Combate estão correlacionadas com a aquisição/desenvolvimento de benefícios em vários domínios. Nessa perspetiva, Favorito (2011) atribui a Goulart (2005) os da disciplina pessoal, ressaltando que o resultado do treino das artes marciais pode influenciar outros setores da vida. Refere que a sua prática constante proporciona benefícios físicos mas, também a resposta a estímulos enviados pelo cérebro. De caráter mais social, proporciona também o desenvolvimento de características relacionadas com o autocontrolo, perseverança, integridade, respeito, responsabilidade, disciplina de trabalho, cooperação e solidariedade. Com uma ideologia idêntica Matveiev (1997), citado por Cidério (2007) alega que as Artes Marciais requerem força de vontade, perseverança, iniciativa, tenacidade, decisão, audácia, prudência e o domínio de si próprio (autocontrolo), sendo competências que contribuem para a formação do indivíduo como cidadão.

A referida investigação bibliográfica também permitiu apurar evidências de que a prática devidamente orientada e estruturada de Artes Marciais/Desportos de Combate, pode potenciar a aquisição/desenvolvimento de competências sociais. Hyams (1979), referido por Cidério (2007) afirma que as lutas estão inseridas no universo das artes marciais e consequentemente nas atividades físicas nelas observam-se potenciais fisiológicos, pedagógicos, sociais e culturais. As lutas oferecem a melhoraria da qualidade de vida em diversos aspetos, inclusive o sócioafetivo. Cidério (2007) aponta também Reid e Croucher (1983) pois consideram que, relativamente à convivência e formação da personalidade, as artes marciais permitem libertar inibições facilitando a convivência num ambiente diferente do meio familiar. Tornou-se, assim, óbvio que este tipo de desportos são potencialmente favoráveis a um bom desenvolvimento psicológico. Konzak e Boudreau (1984), citados por Morand (2004) mencionam-nas como reunindo diferenças comparativamente a outras atividades físicas, repercutindo-se os benefícios da sua prática mesmo em crianças com hiperatividade e défice de atenção. Mais tarde Woodward (2009), defende conjuntamente a crença das artes marciais como sendo terapêuticas em crianças com dificuldades de atenção/concentração e hiperatividade. Alega que a sua prática induz a uma maior concentração, reduz o nível de impulsividade, sendo resultado de contexto de aula/treino controlado e disciplinado, podendo ainda as artes marciais auxiliarem no tratamento de síndromes. Tem influência positiva ao nível da meditação, respiração rítmica, relaxamento, adesão e etiqueta, ajuda mútua, sentido de coesão, além de serem um agente socializador. Morand (2004) refere Trulson (1986), Nosanchuk (1989), Finkenberg (1990) e Fuller (1998), que consideram que as Artes Marciais diferem das demais atividades físicas, repercutindo-se

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do seu treino benefícios nos campos da autoestima, autoconfiança, diminuição de agressão, sentimento de vulnerabilidade, diminuição da perturbação do sono e depressão. Por exemplo, Madenlian (1979) e Kurian (1994) referem que as artes marciais, sobretudo o Aikido, reúnem boas condições na melhoria do autoconceito. Madenlian, num estudo em que compara o autoconceito entre alunos de artes marciais e outros envolvidos em psicoterapias, demonstra que os praticantes de Aikido têm níveis de autoconceito superiores face aqueles envolvidos em psicoterapia. Refere-se ainda Smith et al (1999) e Zivin et al (2001) que mencionam a prevenção da violência escolar; Trulson (1986), Gonzalez (1990), Gorbel (1991), Twemlow e Sacco (1998) a redução da delinquência juvenil; Lagos e Hoyt (2004) o autocontrolo; Wall (2005) a redução do stress, a partir do treino de desportos de combate. Há também benefícios no campo da gestão dos conflitos, defendidos por Gleser e Brown (1988), Rew e Samambaias (2005). Também Levine (1984) e Schmidt (1986), consideram que, apesar de diferentes entre si ao nível de estilos, as artes marciais encerram em si ética e virtudes comuns nas formas tradicionais. No campo dos benefícios, as artes marciais chinesas, segundo Apolloni (2004), citado por Mocarzel (2011), sempre foram a base na promoção da saúde dos seus praticantes. No mesmo ano Ruffoni, citado por Antônio et al (2008), refere que o papel das artes marciais é ensinar, educar e promover a saúde física e mental dos seus praticantes. Por esse facto, é importante o trabalho de base nestas áreas, constatando-se a sua importância como instrumento pedagógico na formação do adolescente. Refere que estas potenciam uma ligação positiva do aluno sendo, entre outros benefícios, proporcionado um ambiente desportivo e desafiador no qual estes têm maior interesse em permanecer neste tipo de atividades. Vieira e Moreira (2008) citam Silva (2005), pois defende que poucas atividades possuem a capacidade de criar nas pessoas o espírito da competitividade, lealdade, disciplina e amizade que as artes marciais proporcionam.

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Rosas (2006), aponta inúmeros benefícios inerentes à prática das artes marciais de índole afetivo, cognitivo e social. Salienta o reforço da autoestima e autoconfiança, maior estabilidade emocional e menor agressividade, aumento da capacidade de atenção e concentração, aumento da capacidade de memorização/desempenho académico e aumento do respeito. Afirma: “ A prática de artes marciais têm uma interação social, em que o dojo é um “microcosmos”, procurando ser um modelo para a sociedade.” (p.245). A fidelidade na prática de artes marciais poderá estar correlacionada com os seus benefícios. Rosa (2006) menciona que grande parte dos praticantes não desiste da prática da sua modalidade, podendo ocorrer apenas por questões de força maior como problemas profissionais, saúde ou escolares. Outro indício dos diversos benefícios da prática marcial é indicado por Rosa, que afirma que os motivos mais evocados da prática deste género de atividades se relacionam com o bem-estar físico e psicológico em detrimento de vertente desportiva ou defesa pessoal. Aponta ainda que “67,9% dos inquiridos considera que as artes marciais têm uma imagem positiva no âmbito da opinião pública e publicada. Os que acreditam que a imagem é negativa, referem que são os filmes e o desconhecimento das regras as principais causas da visão equivocada e deturpada dos valores das artes marciais” (p. 21).

Também o tipo de arte marcial, aliado ao timing para ocorrerem as mudanças, poderá surgir de forma diferente em função da especificidade de cada uma delas. Binder (2007), expõe ainda que nas artes marciais provenientes da Ásia, apesar de haver semelhanças com outras atividades físicas (nomeadamente no campo da aptidão física, aquisição de competências e atividade social), diferem das demais porque enfatizam o autoconhecimento, autoaperfeiçoamento e autocontrolo. Estas têm ensinamentos filosóficos e éticos, desenvolvem a integração do corpo e mente e podem ser aplicadas no quotidiano. Alude que, em comparação direta com outras atividades, proporcionam maiores benefícios psicossociais constatados em todos os estilos. Comparando com outras atividades físicas, Binder (2007) alude Leith e Taylor (1990), Simono (1991) Weiser et al (1995), que referem alguns benefícios, no campo psicossocial, inerentes à prática das artes marciais, podendo estes ter origem no exercício físico. Explorando ainda Binder (2007), a personalidade e o tradicionalismo do instrutor também poderão influenciar os níveis de agressividade dos artistas marciais e, consequentemente, os benefícios psicossociais. Menciona a existência de inúmeros estudos sobre os benefícios deste tipo de atividades, no sentido de exibirem diferenças comparativamente a outras e iniciados nos anos 70 na modalidade de Judo. É referido o Taijiquan onde, Brown (1995), aponta a redução da raiva; para Kutner (1997), proporciona mudanças positivas na satisfação de vida e, para Slater (1997), reduz a incidência

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de pesadelos. São, similarmente, apontados outros benefícios às artes marciais. Nesta ótica, Weiser (1995), alude o Karaté Shotokan na ajuda ao alcance de resultados mais céleres na recuperação verbal; Guthrie (1997), recorda que estas podem estender-se à recuperação de mulheres com transtorno sexual, transtornos alimentares e com abuso de substâncias, em que o treino de Karaté pesa nessa recuperação.

Refere-se o Karaté como exemplo de uma disciplina marcial, cujos benefícios advém da sua prática.Vianna e Figueira (2011) aludem Madden (1995) e Foster (1997) pois alegam que praticantes de Karaté têm maior tendência em desenvolver o autocontrolo, diminuição da vulnerabilidade e ansiedade à medida que evoluem na modalidade. Vianna (1996) sustenta o treino do Karaté na formação de uma personalidade firme e equilibrada através do incremento das capacidades de persistência, paciência, coragem e equilíbrio emocional, o que faz desenvolver a autoconfiança, autocontrolo, autorrealização, autorrecuperação e também a perceção de diversas qualidades intelectuais. Também Funakoshi (2005), referido por Vianna (2011) defende que deve praticar-se ao longo da vida, realçando a sua importância na formação do caráter, sendo aconselhada em todas as idades. Nesse perpetiva, Kunz (2006), citado por Cantanhede et al (2010) alega o Karaté, e o seu ensino, como atividade propulsora das capacidades de interpretação de novos conhecimentos. É agente transformadora de temáticas como a violência, preconceitos, género, desporto e saúde. Também Aranha (2006), refere que os benefícios decorrentes da prática do Karaté são, no desenvolvimento psicológico: o autocontrolo, a disciplina e a concentração; no desenvolvimento afetivo social: o respeito ao próximo e o trabalho em equipa. Expõe, ainda, que se observam modificações positivas com o início da prática dessa modalidade, nomeadamente: a disciplina e a concentração. A esse propósito já em 1995, segundo Weiser, Kutz, Kutz e Weiser, referidos por Morand (2004) consideram que a concentração é, igualmente, uma capacidade característica dos artistas marciais. Esses aprendem, no alcance de um objetivo, a concentrar-se, relaxar, comunicar, ser autossuficientes, a integrar o corpo e a mente. As mencionadas características provocam a diminuição de medo e raiva, refletindo-se, consequentemente, em maior concentração. No caso do Karaté-Do, Bento e Borges (2011), afirmaram que este é uma arte marcial milenar, praticada mundialmente, onde decorrem benefícios que abarcam os aspetos cognitivo, afetivo, social e motor. Segundo estes, atualmente, a vivência desta modalidade é feita de objetivos desportivos e educacionais; a nível educativo, este pode ocorrer em conteúdos das aulas de Educação Física, como aula extracurricular ou como proposta de projetos sociais.

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Figura 1 – Amizade em Taekwondo
Figura 3 – Disciplina da saudação no treino de Taekwondo
Figura 4  - Competição de Taekwondo com jovens atletas
Figura 5  - Características da competição para desenvolver as competências sociais

Referências

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