Exmo(a). Senhor(a) Doutor(a) Juiz de Direito do Tribunal Judicial de Vila do Conde
1º Juízo Cível
Processo nº 1254/11.2TBVCD V/Referência: Data:
Insolvência de “Manuel José Dourado da Costa Marques e Síria Maria de Araújo Baptista Marques”
Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na
Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão,
contribuinte nº 206 013 876, Administrador da Insolvência nomeado no processo à
margem identificado, vem requerer a junção aos autos do relatório a que se refere o
artigo 155º do C.I.R.E., bem como os respectivos anexos (lista provisória de créditos e
inventário).
P.E.D.
O Administrador da Insolvência
(Nuno Oliveira da Silva)
Castelões, 1 de Junho de 2011
NUNO RODOLFO DA
NOVA OLIVEIRA DA SILVA
Assinado de forma digital por NUNO RODOLFO DA NOVA OLIVEIRA DA SILVA DN: c=PT, o=Cartão de Cidadão, ou=Assinatura Qualificada do Cidadão, ou=Cidadão Português, sn=DA NOVA OLIVEIRA DA SILVA, givenName=NUNO RODOLFO, serialNumber=BI095167463, cn=NUNO RODOLFO DA NOVA OLIVEIRA DA SILVA
I – Identificação dos Devedores
Manuel José Dourado da Costa Marques
, N.I.F. 155 925 130e Síria
Maria de Araújo Baptista Marques
, N.I.F. 144 849 631, casados entre si noregime de comunhão de adquiridos, residentes na Rua do Corgo, 89, na freguesia de Árvore, concelho de Vila do Conde.
II – Actividade dos devedores nos últimos três anos e os seus
estabelecimentos
(alínea c) do nº 1 do artigo 24º do C.I.R.E.)O devedor marido trabalhou, durante muitos anos, como picheleiro, por conta própria. Os rendimentos retirados nesta actividade, juntamente com o salário da devedora esposa, permitiam‐lhes fazer face aos compromissos assumidos. Desde há dois anos os trabalhos que fazia como picheleiro começaram a diminuir e o devedor marido deixou de ter lucro na sua actividade. Assim, em 26 de Junho de 2009, o devedor marido cessou, para efeitos fiscais, a sua actividade, estando, desde então, desempregado.
Face a esta situação, os devedores começaram a ter dificuldades em cumprir pontualmente os compromissos assumidos, na medida em que os rendimentos do casal ficaram restringidos ao rendimento da devedora esposa. Recorreram então a diversas empresas de crédito fácil, de forma a irem cumprindo com as obrigações anteriores. Mas estes créditos iam gerando novas obrigações que os devedores se viam impossibilitados de cumprir. Assim, ao fim de algum tempo, os devedores ficaram sem capacidade de honrar os compromissos assumidos e viram‐se na obrigação de se apresentar a tribunal, requerendo que fosse declarada a sua insolvência.
Como referi, o devedor marido encontra‐se desempregado e não aufere qualquer rendimento, nomeadamente a título de subsídio de desemprego ou outro. A devedora esposa trabalha na empresa “Clover PortugaL, Unipessoal, Lda” e aufere o rendimento mensal bruto de Euros 504,09.
Os devedores habitam em casa de propriedade da mãe da devedora e não pagam qualquer valor a título de renda. Os bens que se encontram na casa são também propriedade da mãe da devedora. O seu agregado familiar é composto pelos devedores e pelo filho, de 21 anos, que se encontra desempregado.
III – Estado da contabilidade do devedor
(alínea b) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.)Não aplicável.
IV – Perspectivas futuras
(alínea c) do nº 1 do artigo 155º do C.I.R.E.)Os devedores apresentaram, com a petição inicial, o pedido de exoneração do passivo restante, nos termos do artigo 235º e seguintes do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas. Estabelece o nº 4 do artigo 236º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas que na assembleia de apreciação do relatório é dada aos credores e ao administrador da insolvência a possibilidade de se pronunciarem sobre o requerimento do pedido de exoneração do passivo.
Por sua vez, o artigo 238º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas enumera as situações em que o pedido de exoneração do passivo é liminarmente indeferido.
A aceitação do pedido de exoneração do passivo determina que durante um período de 5 anos o rendimento disponível que os devedores venham a auferir se considere cedido a um fiduciário. Integram o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a qualquer título ao devedor com exclusão do que seja razoavelmente necessário para o sustento minimamente digno da devedora e do seu agregado familiar, não podendo exceder três vezes o salário mínimo nacional (subalínea i da alínea b) do nº 3 do artigo 239º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas).
Actualmente o salário mínimo nacional mensal é de Euros 485,00. Conforme atrás foi referido, a devedora esposa aufere actualmente um rendimento mensal bruto de Euros 504,09 pelo que pelo que o seu rendimento disponível é nesta altura, no seu valor mínimo, nulo.
De acordo com a alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE, o pedido de exoneração é liminarmente indeferido se o devedor tiver incumprido o dever de apresentação à insolvência ou, não estando obrigado a se apresentar, se tiver abstido dessa apresentação nos seis meses seguintes à verificação da situação de insolvência, com prejuízo em qualquer dos casos para os credores, e sabendo, ou não podendo ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica.
Conforme referido, o devedor marido cessou a sua actividade profissional, para efeitos fiscais, em 26 de Julho de 2009, pelo facto de, e passo a citar a petição inicial,
“… o trabalho era escasso e as obrigações às Finanças e Segurança Social eram
demasiado penosas.”. Acresce ainda que, e continuando a citar a petição inicial, “… tiveram de que liquidar valores em dívida ao Fisco e à Segurança Social, relacionados com a actividade em nome individual do requerente marido.”
Daqui pode‐se concluir que em Julho de 2009 as dificuldades financeiras dos devedores já eram grandes. Aliás, pelas reclamações de crédito apresentadas pelos credores, nomeadamente pelo credor “Banco Comercial Português, S.A.”, constata‐se que o início do incumprimento perante esta entidade reporta‐se a Agosto de 2009, ou seja, no mês a seguir à cessação da actividade do devedor marido e cerca de um ano e meio antes do início deste processo de insolvência. Sendo o devedor titular de uma empresa – exerceu actividade profissional em nome individual – o dever de apresentação à insolvência é o que resulta do artigo 18º do CIRE. Da análise da alínea d) do nº 1 do artigo 238º do CIRE verifica‐se que, para além do incumprimento de apresentação à insolvência se torna necessário que disso advenha prejuízo para os credores e, ainda, que o devedor saiba, ou não possa ignorar sem culpa grave, não existir qualquer perspectiva séria de melhoria da sua situação económica. Tal significa que, se do atraso na apresentação não advier prejuízo para os credores, o mesmo não deve ser negativamente valorado. E ainda é necessário que o devedor saiba que a sua situação é definitiva, no sentido de não ser alterável a curto prazo, ou que não possa deixar de disso estar consciente, a não ser por inconsideração grave. Tais requisitos são cumulativos. A nível doutrinal e jurisprudencial têm existido diferentes entendimentos sobre o segundo requisito (advir prejuízo para os credores): enquanto uma corrente defende que a omissão do dever de apresentação atempada à insolvência torna evidente o prejuízo para os credores pelo avolumar dos seus créditos, face ao vencimento dos juros e consequente avolumar do passivo global do insolvente, outra corrente defende que o conceito de prejuízo pressuposto no normativo em causa consiste num prejuízo diverso do simples vencimento dos juros, que são consequência normal do incumprimento gerador da insolvência, tratando‐se assim dum prejuízo de outra ordem, projectado na esfera jurídica do credor em consequência da inércia do insolvente (consistindo, por exemplo, no abandono, degradação ou dissipação de bens no período que dispunha para se apresentar à insolvência), ou, mais especificamente, que não integra o ‘prejuízo’ previsto no artigo 238º, nº 1, d) do C.I.R.E. o simples acumular do montante dos juros.
O signatário tem defendido esta última posição, entendendo que não basta o simples decurso do tempo para se considerar verificado o requisito em análise (pelo avolumar do passivo face ao vencimento dos juros). Tal entendimento representaria
uma valoração de um prejuízo ínsito ao decurso do tempo, comum a todas as situações de insolvência, o que não se afigura compatível com o estabelecimento do prejuízo dos credores enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente. Enquanto requisito autónomo do indeferimento liminar do incidente, o prejuízo dos credores acresce aos demais requisitos – é um pressuposto adicional, que aporta exigências distintas das pressupostas pelos demais requisitos, não podendo por isso considerar‐se preenchido com circunstâncias que já estão forçosamente contidas num dos outros requisitos. O que se pretende valorizar neste quesito, como acima foi posto em evidência, é a conduta do devedor, de forma a apurar se o seu comportamento foi pautado pela licitude, honestidade, transparência e boa‐fé no que respeita à sua situação económica, devendo a exoneração ser liminarmente coarctada caso seja de concluir pela negativa.
Ao estabelecer, como pressuposto do indeferimento liminar do pedido de exoneração, que a apresentação extemporânea do devedor à insolvência haja causado prejuízo aos credores, a lei não visa mais do que penalizar os comportamentos que façam diminuir o acervo patrimonial do devedor, que onerem o seu património ou mesmo aqueles comportamentos geradores de novos débitos (a acrescer àqueles que integravam o passivo que estava já impossibilitado de satisfazer). São estes comportamentos desconformes ao proceder honesto, lícito, transparente e de boa‐fé cuja observância por parte do devedor é impeditiva de lhe ser reconhecida possibilidade (verificados os demais requisitos do preceito) de se libertar de algumas das suas dívidas, e assim, conseguir a sua reabilitação económica. O que se sanciona são os comportamentos que impossibilitem (ou diminuam a possibilidade de) os credores obterem a satisfação dos seus créditos, nos termos em que essa satisfação seria conseguida caso tais comportamentos não ocorressem.
Assim, perante os pressupostos atrás referidos, o signatário é de opinião que não houve, por parte dos devedores, violação no dever de se apresentarem à insolvência.
Nos termos da alínea e) do 1º do artigo 238º do CIRE, o pedido de exoneração é liminarmente indeferido se constarem já no processo, ou forem fornecidos até ao momento da decisão, pelos credores ou pelo administrador da insolvência, elementos que indiciem com toda a probabilidade a existência de culpa do devedor na criação ou agravamento da situação de insolvência, nos termos do artigo 186º.
A alínea g) do nº 2 do artigo 186º do CIRE determina que a insolvência é culposa quando o devedor tenha prosseguido, no seu interesse pessoal ou de terceiro, uma exploração deficitária, não obstante saber ou dever saber que esta conduziria com grande probabilidade a uma situação de insolvência.
Com as devidas adaptações, já que estamos perante uma pessoa singular, o signatário entende que o comportamento dos devedores enquadram‐se no disposto na alínea g) do nº 2 do artigo 186º do CIRE e, como tal, consubstancia um motivo para que o pedido de exoneração formulado seja liminarmente rejeitado.
Vejamos então:
1. Como atrás referimos, o devedor marido tomou a decisão, sensata, de
cessar a sua actividade, que exercia em nome individual, pelo facto da mesma ser deficitária;
2. Desde essa altura – 26 de Julho de 2009 – não há indicação que aquele
tenha exercido qualquer outra actividade remunerada, quer por conta própria quer por conta de uma entidade patronal;
3. Os devedores, desde essa altura, passaram a ter como rendimento único a
remuneração da devedora mulher (cujo valor bruto não era superior a
Euros 504,09).
4. Os rendimentos auferidos pelo agregado familiar, desde Agosto de 2009,
eram insuficientes, já que, a partir desta altura, entram em incumprimento perante o credor “Banco Comercial Português, S.A.”;
5. Mais de metade do rendimento do agregado familiar era absorvido pela
prestação mensal relativa ao financiamento para aquisição de viatura:
Euros 274,52.
6. Os devedores passaram então a financiar‐se através do recurso aos
créditos, quer através da utilização de cartões de crédito, quer através dos chamados “créditos fáceis”, para fazer face às suas despesas, previsíveis e imprevisíveis.
Perante o que atrás está descrito e com as informações existentes no processo e nas reclamações de créditos, é para o signatário evidente que o comportamento dos devedores foi decisivo para a sua situação de insolvência, já que, não só não adequaram as suas despesas ao volume de rendimentos que passaram a ter desde Agosto de 2009, como ainda foram constituir novas dívidas tendo, ou devendo ter, noção sobre a mais que provável incapacidade para as pagar (caso do cartão de crédito e dos “créditos fáceis”). Não estamos perante uma situação em que o devedor, por razões várias, viu o seu rendimento diminuído e, com isso, encontrou‐se numa situação de incumprimento perante os seus credores. Estamos perante uma situação em que o devedor assumiu passivos manifestamente superior às suas capacidades de gerar rendimentos para os honrar, sabendo que tal situação conduziria, inevitavelmente a uma situação de insolvência.
Nesta conformidade, sou de parecer que deve ser liminarmente indeferido o pedido de exoneração do passivo apresentado pelo devedor, nos termos da alínea e) do 1º do artigo 238º e alínea g) do nº 2 do artigo 186º, ambas do CIRE.
Os credores deverão ainda deliberar no sentido da liquidação dos activos constantes do inventário, elaborado nos termos do artigo 153º do CIRE. Castelões, 1 de Junho de 2011 O Administrador da Insolvência ______________________________________ (Nuno Oliveira da Silva)
L i s t a P r o v i s ó r i a d e
C r e d o r e s
Praça D. João I, nº 28 Edf. Amoreiras Square, Rua Carlos Alberto da Mota Pinto, 17, 7º A 4000‐000 Porto 1070‐313 Lisboa NIF / NIPC: 501 525 882 NIF: 215 449 800 Barclaycard Apartado 8019 ‐ E.C. Cabo Ruivo 1801‐001 Lisboa FGA CAPITAL ‐ Instituto Financeira de Crédito, S.A Dulce Rodrigues, Dra. Av. José Gomes Ferreira, nº 15, Edf. Atlas IV Av. António Augusto de Aguiar, 11 r/c Esq. 1495‐139 Algés 1050‐010 Lisboa NIF / NIPC: 502 673 478 NIF: 204 431 921 Total 44.799,67 € 44.799,67 € 100,0000% 1 de Junho de 2011 24.552,18 € 24.552,18 € O Administrador da Insolvência (Nuno Oliveira da Silva) 54,8044% Contrato de Crédito 2 15,3021% Cartão de Crédito 4 12.549,21 € 12.549,21 € 28,0118% Mútuo 3 6.855,28 € 6.855,28 € 5
I n v e n t á r i o
Relação dos bens e direitos passíveis de integrarem a
massa insolvente:
O Administrador da Insolvência
_____________________________________ (Nuno Oliveira da Silva)
Castelões, 1 de Junho de 2011
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Além da devedora existem mais dois herdeiros: a cônjuge meeira, Laurinda Olívia de Araújo e o filho António Manuel Araújo Baptista.
Verba Descrição Valor
1 Quinhão hereditário da devedora esposa na herança ilíquida e