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Xamã Urbano SergeKing

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Academic year: 2021

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XAMÃ URBANO

Serge King

Prefácio O PREPARO Ho‟omoe wai kahi ke kao‟o.

(Vamos todos viajar juntos, assim como a água fluindo em uma direção.)

Este é um livro sobre o xamanismo, especialmente o da tradição Havaiana, e o que é ser um xamã urbano. Para que o leitor possa tirar o máximo proveito deste livro, gostaria de começar com uma definição. De acordo com o historiador francês Mircea Eliade, o xamanismo é uma prática encontrada no mundo inteiro, inclusive na Ásia, nas Américas e no Pacífico. A palavra xamã é derivada da língua tungue da Sibéria e é atualmente usada como termo adequado por cientistas e leigos em geral, para descrever aquele que pratica e a sua prática. A maioria das culturas tem a sua própria terminologia para este tipo de pessoa, como por exemplo, Kupua em Havaiano.

Muitas pessoas têm idéias diferentes sobre o que seja um xamã e o que ele/ela faz, mas como Eliade, prefiro uma definição precisa. Nem todo curandeiro é um xamã, mas o xamã pode ser um curandeiro. Nem todo sacerdote tribal é um xamã, mas o xamã poderá ser um sacerdote tribal. Nem todo curandeiro psíquico é um xamã mas o xamã poderá ser um curandeiro psíquico.. Para a finalidade e o propósito deste livro e de meus ensinamentos, defino um xamã como um curandeiro de relacionamentos. Entre a mente e o corpo,entre pessoas e o ambiente, entre seres humanos e a natureza e entre a matéria e o espírito

Ao praticar a sua cura o xamã tem uma visão de realidade muito diferente da do resto do mundo, e é este ponto de vista peculiar (o qual será extensivamente estudado no resto deste livro) o que realmente separa o xamã dos outros curandeiros. Isto também leva a certas técnicas raras de cura habitualmente associadas ao xamanismo como uma mudança de forma, a comunicação com as plantas, com os animais e uma jornada para o interior da Terra Se algumas dessas coisas lhe parecerem muito estranhas, não se importe pois com a continuação você descobrirá que muitas delas se não a maioria dessas práticas será curiosamente familiar. Isto se deve ao fato da arte xamânica ser baseada na experiência humana. Você descobrirá que sabe mais sobre o xamanismo do que pensa.

O XAMANISMO HAVAIANO

Xamanismo é uma forma diferente de cura, e o xamanismo Havaiano é uma forma diferente de xamanismo. A maior qualidade do xamã, independentemente da cultura, é sua inclinação ao compromisso ou atividade criativa. O conhecimento e a compreensão, não são suficientes como também uma aceitação passiva não mantém nenhuma atração.

O xamã mergulha na vida com a sua mente e os seus sentidos desenvolvendo o papel de co-criador.

Há um tipo de alma que se contenta em admirar a forma e o local de uma árvore que cai.O xamã é mais como um escultor que vê a árvore e é tomado pelo desejo de transformá-la em algo semelhante a uma imagem interna ou em um instrumento útil.

Há respeito e admiração pela árvore como árvore, bem como o impulso de se juntar a ela e produzir algo novo.

Esta atividade é bem expressa na função principal de um xamã, a de um curandeiro.Independentemente da cultura,local ou meio social,o xamã tem por finalidade curar a mente,o corpo e o ambiente. Esta tendência para os benefícios sociais e ambientais,é o que de fato distingue o xamã do modelo de feiticeiro de Castañeda,que segue o caminho estritamente de poder e iluminação pessoal. Embora todos o xamãs sejam curandeiros, a maioria segue o “caminho do guerreiro”, alguns,uma minoria em que se inclui o tradicional xamã Havaiano,segue o que chamamos “o caminho do aventureiro”. Um xamã guerreiro tende a personificar o medo,

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doença ou a desarmonia e a concentrar-se no desenvolvimento do poder,controle, habilidades de combate, a fim de lidar com elas.

Um xamã aventureiro, ao contrário, tende a despersonalizar estas condições (i.é, ele as trata como efeitos, não como coisas) e lida com elas desenvolvendo qualidades de amor, cooperação e harmonia. Como um simples exemplo das diferenças de atitude entre os dois, se tivesse de lidar com uma pessoa emocionalmente perturbada,um xamã guerreiro poderia construir uma armadura psíquica para o proteger da energia negativa da outra pessoa. Por outro lado, o xamã aventureiro tenderia a lhe ensinar como harmonizar sua energia de modo que se mantivesse calmo e até se tornasse uma fonte de cura para outra pessoa.

Além disso o caminho do xamã guerreiro é geralmente solitário, enquanto o do aventureiro é por natureza muito sociável.É entretanto difícil, senão impossível diferenciar entre mestres dos dois caminhos, porque quanto mais poderoso você for, mais amor terá (desde que haja menos e menos a temer), e quanto mais amor você tiver, mais poderoso você será (desde que haja muita e muita confiança). Eu percorri ambos os caminhos e escolhi e ensino o do aventureiro Havaiano, porque acredito que seja o mais prático e benéfico, mas tenho grande respeito pelo xamã guerreiro e suas curas.

O XAMÃ URBANO

O título deste livro é Xamã Urbano, por ser o enfoque e o propósito de meus ensinamentos. Embora o xamanismo esteja geralmente associado com cenários primitivos ou selvagens, a sua aplicação em ambientes urbanos é natural e necessária. Em primeiro lugar um xamã é um curandeiro independentemente de cultura ou meio ambiente Em segundo lugar há mais pessoas vivendo nas áreas urbanas e são as que mais necessitam ser curadas,em terceiro lugar, o xamanismo especialmente o Havaiano é bem adaptável aos tempos e necessidades modernas por várias razões:

1-É totalmente anti-sectário e pragmático. O xamanismo é uma profissão (arte), não é uma religião e você pode praticá-lo sozinho ou em grupo.

2-É muito fácil de aprender e aplicar, embora, como em qualquer profissão, o completo desenvolvimento de certas qualidades possa levar algum tempo.

3-A versão Havaiana especificamente pode ser praticada em qualquer lugar, a qualquer hora, inclusive em casa, no trabalho, na escola, nas horas de diversão ou durante viagens. Isso se deve ao fato de que os xamãs Havaianos trabalham somente com suas mentes e corpos. Eles não usam tambores para induzir estados alterados, nem fazem uso de máscaras para assumir outras formas ou qualidades.

4-A natureza do xamanismo é tal que enquanto você estiver curando outros também estará curando a si mesmo e, enquanto estiver transformando o planeta também estará se transformando.

O APRENDIZADO

Há muito tempo quando as pessoas viviam em vilas mais ou menos isoladas e a visão do mundo era limitada ao seu vale, montanha ou ilha, era apropriado para os que tinham desenvolvido o caminho do xamã ter um, dois ou talvez três aprendizes durante a vida, porque este pequeno número era suficiente para atender as necessidades da vila.

Hoje entretanto, vivemos numa Vila Global com bilhões de pessoas e, no mínimo, precisamos de milhares de xamãs urbanos para ajudar a manter uma existência saudável e harmoniosa. Precisamos de pessoas assim como você. Fui criado como um xamã urbano.

Meu pai era um homem muito viajado e versado nas culturas e tradições da maior parte do mundo e passou por um profundo treinamento sobre a tradição xamânica Havaiana. Era extremamente competente sobre os meios e habilidades do campo e da selva, floresta e fazenda, deserto e tundra e foi com ele que aprendi muito sobre a natureza. Acima de tudo, meu pai era um homem urbano com diplomas em medicina e engenharia e muito familiarizado com os círculos de negócios e governamentais. Eu cheguei em sua vida no começo de uma guerra e ele saiu da minha no fim de outra. Uma grande parte dos anos entre as guerras, foram passados em viagens entre centros urbanos. Durante os dezessete anos que estivemos juntos o xamanismo que aprendi através de seus exemplos e treinamento foi na maioria, aplicado nos ambientes metropolitanos, cidades e escolas. Quando falo de treinamento não me refiro a uma sala e aula com meu pai como professor e eu como aluno. O tipo de treinamento que tive, poderia ser considerado muito tradicional, porque acontecia durante as atividades cotidianas. No meio de uma conversa sobre vegetais meu pai me informava sobre uma técnica de comunicação com as plantas para eu praticar sozinho e depois, discutir com ele. Às vezes ele criava uma situação durante o dia dando-me uma oportunidade de aplicar técnicas aprendidas recentemente e mais tarde comentaria com ele os resultados, ou não.

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Freqüentemente dava dicas que me intrigavam, idéias e sugestões para praticar sozinho. Era treinamento, porque era feito conscientemente, com a intenção e a certeza de aprender, mas não era uma organização escolar.

Após sua morte, meu treinamento xamanico continuou da mesma forma com os membros de nossa família havaiana, mas sua aplicação era ainda feita principalmente em cidades, subúrbios e escolas e também durante o tempo que estive na Marinha.

Usei meu conhecimento como tinha de ser usado de maneira muito prática. Ajudou a manter minha saúde,minhas forças e a me recuperar rapidamente quando esquecia meu conhecimento e ficava doente ou machucado.

Ajudou-me na Universidade do Colorado onde tinha um horário acadêmico muito puxado, a manter três empregos ao mesmo tempo, a me graduar com especialização em Estudos Asiáticos e uma menção honrosa Phi Beta Kappa. Usei meus conhecimentos novamente enquanto estudava na American Graduate School of International Management, no Arizona para me diplomar com honra como bacharel e pós-graduado, e muito mais tarde quando fiz meu doutorado em Psicologia na Califórnia Western University. Quando tinha três anos de casado e meu filho tinha dois anos de idade, nos mudamos para o oeste da África onde vivemos durante sete anos.

Cerca da metade desses anos passei na mata,selva, floresta e deserto e aprendi muito mais sobre os diferentes aspectos do xamanismo, mas a minha aplicação básica era ainda urbana. Tenho usado para manter meu relacionamento feliz e completo com minha esposa; para manter meus três filhos em boa forma física e acadêmica e para que eles sejam bons amigos comigo e entre eles; uso o que aprendi para curar e ensinar animais domésticos; para ajudar a família, amigos e vizinhos a serem mais saudáveis,terem mais sucesso, para melhorar e ampliar minha carreira e partilhar meu conhecimento com outras pessoas em todo o mundo.

Usei-o para manter veículos e computadores em bom funcionamento; para garantir a cooperação das companhias aéreas e do tempo durante minhas viagens e para aumentar a velocidade do aprendizado dos xamãs e de outros que treinei. Usei-o enfim de inúmeras maneiras para me beneficiar e também meu ambiente social e físico, onde estivesse.

Aprendi muitas coisas durante minha vida e estudei muitos sistemas de religiões (Cristianismo, Islamismo, Judaísmo, Budismo, Hinduismo, Confucionismo, voodoo), filosofia (especialmente Taoísmo, Yoga, Zen e Pragmatismo Ocidental) e cura (massagem, ervas, trabalhos com energia, cura pela fé, hipnose, etc.), e a arte xamânica aumentou meu conhecimento em cada uma dessas áreas.

Hoje, vivo no Havaí e dirijo a Aloha International, uma rede mundial de curandeiros xamanicos, que promove a tradição Havaiana de cura através de cursos, seminários, museus e comissões locais e, a arte xamanica urbana é evidente em todas nossas atividades. Neste livro, quero que as idéias e práticas do xamanismo Havaiano sirvam para serem usadas na sociedade urbana moderna, bem como em lugares considerados próximos à natureza. Como previamente mencionado, alguns dos conceitos, exemplos e exercícios parecerão familiares e alguns, parecerão muito estranhos. O material deste livro, foi tirado de dois cursos de treinamento xamanico que dei e é apresentado aproximadamente na mesma ordem em que foram dados. Em forma de livro, entretanto, poderemos explorar as muitas idéias com maior profundidade do que num curso.

UMA POLÍTICA DE PORTAS ABERTAS

Estou apresentando livre e abertamente muitas coisas que são consideradas segredos profundos em muitas tradições. Algumas pessoas temem o mau uso destes conhecimentos. Outros ainda, temem que este conhecimento se torne menos potente se todos o conhecerem e outros ainda temem a retribuição de uma hierarquia que deu uma ordem para que essas coisas não fossem reveladas.

Entretanto um verdadeiro xamã não guarda segredos sobre conhecimentos de cura e ajuda. A dificuldade não é a de guardar o conhecimento secreto, mas em fazer com que as pessoas o usem adequadamente.

Quanto ao uso errado, isso só vem da ignorância. Quanto mais conhecimento se tiver de como mudar as coisas, haverá menos chance de usá-lo erroneamente.

O conhecimento largamente difundido tem realmente maior potência do que os segredos guardados e sem uso.

O conhecimento mantido em segredo é tão inútil quanto o dinheiro de um avarento guardado debaixo do colchão. A parte sagrada do conhecimento não é só para alguns, mas acessível a muitos. Esse medo de liberdade de expressão tem a ver com um medo básico de que o guardião do conhecimento não tenha muito que guardar, ou não entenda bem aquilo que tem. Finalmente, os xamãs não reconhecem hierarquia ou autoridade em assuntos da mente; se fosse possível dizer a um grupo de pessoas para seguir um sistema de democracia espiritual, estes seriam os xamãs do mundo.

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Os Havaianos têm uma herança espiritual, psicológica, cultural e prática muito rica, mas só posso apresentar uma pequena parte do que tive o privilégio de receber. Sua herança é de fato tão rica que muitas tradições cresceram dentro dela e nem todos os havaianos concordam no que ela consiste.

O que você receberá veio através de meu pai adotivo havaiano e de seus ancestrais, de meu pai natural e de seu irmão e irmã havaianos por adoção, e também através de mim e de minha personalidade e ponto de vista.

Mesmo sendo uma sabedoria tradicional apresentada em termos modernos para as condições de hoje, eu me responsabilizo por tudo que disser.

Uma grande parte da herança é mantida pelos havaianos em sua língua.É aparentemente simples tendo somente doze letras e nenhuma forma de verbo ser, estar e ter. No entanto contém os mais profundos conceitos imagináveis sobre conscientização espiritual, construções psicológicas, natureza da realidade, amor poder, conquista e assim por diante.

Porque sei que soará estranho para a maioria dos leitores, decidi limitar seu uso a áreas onde a tradução inglesa não é acurada. Se você quiser tentar pronunciar, vou arriscar a receber a fúria dos puristas da língua havaiana e dizer-lhes que é mais fácil a pronúncia das consoantes como em inglês (k, p, h, etc...) , e das vogais como em espanhol (“a” em pai; “e” em empresa; “i” em pita; “o” em moto; e “u‟‟ em uno)”.

Esse é o começo de minha história e aqui, está o conhecimento que tenho para partilhar. Que isto lhe ajude a encontrar, bem como a gozar de mais paz, amor e poder.

A PRIMEIRA AVENTURA

A EVOLUÇÃO XAMANISMO HAVAIANO Waiho wale kahiko.

(Velhos segredos são agora revelados.)

O trovão reboou, o vento soprou forte, torrentes de chuva encheram o ar e ondas imensas se ergueram e caíram e, mesmo assim, o poderoso Mauí conseguiu se levantar com o poder de sua vara mágica de pesca. Finalmente, com o som de mil cascatas, as ilhas do Havaí lentamente emergiram do mar. Mauí tinha triunfado mais uma vez e o ser humano tinha uma nova terra para explorar e cultivar.

A Evolução do xamanismo Havaiano, começa com os mitos de Mauí mágico, ilusionista, semideus, milagroso, portador de boa sorte, - Mauí era conhecido por todas essas coisas, de um lado a outro da Polinésia - é a figura masculina mais conhecida do mito polinésio. O ser mitológico feminino da Polinésia era Hina, deusa da Lua e mãe de Mauí.

As histórias de Mauí são abundantemente lembradas por Beckwith em Hawaiian Mythology, Andersen em

Myths and Legends of the Polynesians e Formander em An account of the Polynesian Race. Deixando bem claro

que Mauí era um arquétipo xamã, como na velha tradição encontrada em outras partes do mundo com um toque Polinésio. Além de erguer as ilhas do Havaí (a descoberta de um mito) ele fez o sol andar mais devagar para que sua mãe pudesse secar suas roupas (outra descoberta mitológica de encontrar terras nas altas latitudes setentrionais).

Visitou o Mundo Superior e enganou os deuses para que lhes dessem o segredo do fogo (um mito da intuição criativa através de um transe xamanico). Visitou o Mundo Inferior para dominar e vencer vários monstros (outro mito de transe xamanico usado para curas). Usou a magia e coisas mágicas e conversou livremente com os pássaros animais e elementos naturais. Mauí era a figura mais popular da Polinésia devido a sua capacidade de ajudar, suas aventuras e sua irreverência pela autoridade e sua acessibilidade. Como era um semideus, (mais propriamente um ser humano com habilidades mágicas), nunca foi adorado. Mas era invocado para trazer boa sorte. Na Nova Zelândia, onde os Maoris fizeram sua estátua em madeira entalhada ou jade, tinha a forma de um embrião humano e era muito usado como um talismã, seu nome era “Mauí Tíkitiki”. No Havaí onde não havia sua estátua, era chamado de “Mauí Kupua.” Ambos nomes podem ser traduzidos como “Mauí, o Xamã.”

AS ORDENS KAHUNAS

Desde os tempos primitivos na Polinésia (algumas tradições, como aquelas da família Kahili -pela qual fui adotado - e outras narradas por Leinani Melville em “Children of the Rainbow” são tão antigas quanto o continente perdido de Mu,embora na realidade haja muitos que discordem disto), criou-se uma filosofia de vida chamada HUNA o "segredo" ou o "conhecimento secreto".O nome não se referia a nenhum desejo de manter o conhecimento escondido dos outros, mas verdadeiramente se referia ao lado invisível ou oculto das coisas. Os

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peritos ou mestres praticantes desta filosofia foram chamados kahunas em Havaiano, tahuna em Taitiano. e tohunga em Maori

Em alguns lugares estes peritos se constituíram em três grupos separados e independentes. A existência destes três grupos aparece em muitas fontes (v.g., “Hawaiian Antiquities” de Malo e “Ancient Hawaiian

Civilization”, da Escola de Kamehameha) . Mas,as informações que vêm a seguir,na sua maioria foram-me

fornecidas por Ohialaka Kahili e Wana Kahili, meus tios pelo estilo havaiano de adoção. Quando eu tinha dezessete anos,após o falecimento de meu pai natural, fui hanai‟d (adotado) pela família Kahili. Não é uma adoção legalizada, mas para os havaianos significa que pertenço a sua família.

Um dos grupos acima mencionados concentrou-se nas artes da terapia física, cerimônia religiosa, política e na guerra. No Havaí era conhecida como a Ordem de Ku.

Um segundo grupo enfatizou os aspectos material e espiritual, arte e ciências como pesca, agricultura, construção de embarcações, navegação, entalhe de madeira e uso de ervas. Esta era a Ordem de Lono no Havaí.

O terceiro grupo é da Ordem de Kane que invocava a magia, o misticismo e a psicologia e estes eram os xamãs. Cada ordem tem muitas sub-categorias e, embora houvesse curandeiros em cada grupo, a arte de curar através do espírito tornou-se a atividade principal dos xamãs. Ku, Lono e Kane (pronuncia-se Kah-nai), eram arquétipos ou personificações do Corpo, da Mente e do Espírito.

O nome completo de Kane era originalmente Kanewahine, que pode ser traduzido como “homem-mulher” e se refere ao conhecimento das polaridades, semelhante ao conceito de Yin/Yang dos xamãs Taoístas.

Kane era uma forma arquétipo do deus das florestas, das terras altas, das fontes de água e da paz. Isto é

muito importante porque os Havaianos, via de regra somente habitavam as costas de suas ilhas. Além de algumas incursões para busca de sândalo, árvores altas para a construção de canoas e de penas para capas, os únicos Havaianos que passavam muito tempo nas florestas e terras altas eram os xamãs.

Como uma associação, a Ordem de Kane era mais ou menos dividida entre aprendizes, viajantes e mestres, embora diferentes professores pudessem mudar o número de categorias.

Comecei meu treinamento como aprendiz e depois me aperfeiçoei progressivamente em outras áreas diferentes. Os xamãs Havaianos, bem como os xamãs de outras partes do mundo, não têm hierarquia entre eles. Os aprendizes são estudantes e colegas, não seguidores, e um mestre é de conhecimentos e não de pessoas. A palavra Havaiana para mestre, no sentido de alguém com profundo conhecimento material e espiritual em uma certa área, é Kahuna. É uma palavra hoje em dia usada livremente, mas em uso adequado, e para ter um significado real, deve se juntar a ela um qualificativo. Por exemplo, um mestre curandeiro que usa ervas, massagens e energia, é um Kahuna Iapa‟au; um mestre de preces e cerimônias é um Kahuna pule; e um mestre xamã é um Kahuna Kupua. Como um exemplo à parte o “grande kahuna” das praias de surf, é um Kahuna

he‟e nalu. O feiticeiro de magia negra, é um Kahuna „ana „ana.

Muitas tolices têm sido escritas e apresentadas sobre os kahunas do Havaí, indo desde um raio vermelho no olho, que se pode ver quando se conhece um verdadeiro kahuna, até suas infalíveis e imediatas curas de ossos quebrados, a ressurreição de mortos e a infame “oração da morte”. Desde que a culpa e o crédito dessas coisas é atribuído aos xamãs, gostaria de esclarecer este assunto aqui e agora.

Para começar, a crença no brilho vermelho do olho, (foi até mostrada na televisão), se deve a um jogo de palavras muito apreciado pelos Polinésios. A palavra usada para brilho é makole que significa “aquele que tem olho vermelho” e se refere também à conjuntivite, mas a mesma palavra pode significar “arco-íris” e esse é o símbolo da presença dos chefes, deuses ou espíritos. Usada por um kahuna, é uma palavra de respeito.

A cura instantânea de um osso quebrado é possível a qualquer curandeiro, mas somente sob condições determinadas.

Especificamente essa cura só pode ocorrer quando há energia abundante e fé sem nenhuma sombra de dúvida.

A reputação dos kahunas sobre esse assunto vem de uma história escrita em um livro de Max Freedom Long intitulado The Secret Science Behind Miracles, e nesse livro, ele fala de uma mulher kahuna que instantaneamente curou a perna quebrada de um bêbado.Obviamente a kahuna tinha energia e fé e o homem devia estar tão bêbado que não tinha dúvidas. Nem mesmo os kahunas são infalíveis nessa prática.A ressurreição de mortos aconteceu em todas as culturas, algumas vezes espontaneamente, sem a presença de um xamã ou curandeiro. Em tais casos, os ”mortos” estariam em coma profundo, transe ou já indo para o outro lado. Jesus então, estava certo quando disse que a menina que ele estava trazendo de volta à vida só estava dormindo.A técnica de um típico xamã kahuna para reviver alguém que aparentemente esteja morto é a de trazer o espírito vagante de volta ao corpo através do grande artelho (dedão do pé). Incrivelmente astuto quando se considera que apertar o grande artelho é um método muito conhecido para reavivar alguém desmaiado.

A maior de todas, a chamada “oração da morte”, só foi praticada pelos „ana ‟ana, ou feiticeiros de magia negra, os quais eram desprezados pelos kahunas de todas as ordens. Esses renegados, eram em geral, aprendizes de uma das ordens, já tinham algum conhecimento e eram pessoas que haviam sido expulsas ou saído de sua associação, devido à sua personalidade negativa ou comportamento.

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Os europeus e os missionários foram os primeiros a denominá-los kahunas „ana „ ana que, levantaram a hipótese de que todos eles eram feiticeiros. A “oração da morte” em si, não era mais do que um canto de maldição determinado a funcionar abertamente e feito através de telepatia, atuava sobre o medo da vitima. Sem medo, a “oração da morte” não surtia efeito. Havia alguns kahunas que se especializaram em desfazer os atentados dos ana‟ana , tanto pelo trabalho feito diretamente no feiticeiro ou fortalecendo a vítima e,algumas vezes, esses contra-feiticeiros eram também chamados de kahuna „ana „ana do bem.

O TREINAMENTO XAMANICO

Na Polinésia, o treinamento xamanico pode ser formal ou informal, dependendo da área. Na antiga Nova Zelândia os candidatos Maoris iam para a Whare Wananga ou “Escola Psíquica” onde passavam um treinamento rigoroso e controlado e faziam exames.A tradição Havaiana era muito mais orientada para a família com candidatos escolhidos ou adotados pela família de um mestre xamã que eram treinados informalmente pelo xamã e seus estudantes mais adiantados.

No sistema Maori, certas tarefas específicas eram dadas ao aprendiz para serem executadas e após, serem testados sobre as mesmas. No sistema Havaiano, o estudante era submetido a experiências, demonstrações,alusões e sugestões e era então deixado para desenvolver sua iniciativa e auto-disciplina para que se aperfeiçoasse nelas ou não. Quando sentia que já estava pronto, o estudante pedia autorização a seu mestre para demonstrar sua habilidade. Então, ele ou ela, faria algumas sugestões para melhorar a habilidade do aluno ou reconhecer a sua perícia e lhe daria uma nova tarefa, se o estudante assim o desejasse.

O sistema Havaiano é, na minha opinião, o mais difícil dos dois porque as regras não são tão claras. Por exemplo, meu tio Havaiano kahuna Wana Kahili me disse uma vez, sem preâmbulos: “é bom entender as energias da pedra e das coisas de pedra” . Eu lhe perguntei: “Você quer dizer que eu devo estudá-las?” “Não”, ele respondeu. Novamente lhe fiz a mesma pergunta e a resposta foi não. No início não pude entender porque ele havia mencionado o assunto, mas graças a outras experiências que tinha tido com meu pai e M'Bala, meu mentor xamanico africano, uma luz me inspirou e eu lhe perguntei; “Como se pode entender a energia da pedra” ?

“Bem, você pode começar por...” e aí ele fez várias sugestões para começar. Se eu não tivesse feito a pergunta certa ele não teria me ajudado a ampliar meus conhecimentos nessa área.

No xamanismo Havaiano a iniciativa é altamente apreciada e recompensada.

Um aspecto novo do xamanismo polinésio comparado com o mais bem conhecido xamanismo americano é a falta de máscaras e o uso de tambores e dança. As máscaras como representações de deuses, espíritos ou animais, não eram usadas em nenhum lugar da Polinésia, embora muitos pensem que as máscaras Melanésias da Nova Guiné, fossem de origem Polinésia.

Se os dançarinos, xamãs ou sacerdotes da Polinésia quisessem acusar a presença ou atividade dos deuses, espíritos ou animais, eles o fariam somente através de sons e gestos.Mesmo a elaborada tatuagem facial não era uma máscara e a sua finalidade era a de realçar a beleza. Os tambores não eram usados para causar um transe; eram usados para a comunicação, para manter o ritmo e dar energia. Quanto à sagrada hula, o dançarino entrava em transe através da meditação no deus, no espírito ou na intenção a ser representada antes da dança. A dança era, em si, um fato cuidadosamente coreografado, cujo poder vinha da habilidade do dançarino para entrar em contato com o espírito ou com a intenção daquilo que ele quisesse expressar. Um transe mais profundo ou enfoque, poderia ocorrer como efeito secundário, mas o propósito principal da hula sagrada era o de ensinar ou de movimentar a audiência. A dança estática ou usada para induzir ao transe, não fazia parte da cultura da Polinésia.

Os xamãs Polinésios eram treinados como curandeiros em sete áreas e, para se tomar um xamã Kahuna tinham que desenvolver um certo grau de aperfeiçoamento em todas elas, e nem todos eram igualmente hábeis em cada uma, devido às diferenças no seu talento natural e interesses. Basicamente, o xamã era treinado como um psíquico para soltar os bloqueios físicos e mentais, esclarecer acontecimentos, mudar a forma das coisas, ser um pacifista, ensinar e ser um aventureiro. A forma de treinamento era diferente para cada professor. Invariavelmente, o processo enfatizava o amor próprio, a autoridade interior e o poder da palavra para dirigir a energia, invocar imagens e criar crenças (fé). Geralmente, os aprendizes recebiam fórmulas de cânticos que hoje seriam reconhecidos como afirmações, imagens para meditação e averiguação de formas de elementais, de animais e de plantas para imitar ou modelar. Qualquer treinamento formal, geralmente, acontecia desde a madrugada até ao meio-dia, mas esperava-se que o aprendiz aplicasse seus conhecimentos em todas as oportunidades, dia e noite.

Os exercícios de respiração também eram importantes para aumentar a energia espiritual e a dirigir o pensamento.

Como psíquico o xamã era treinado em telepatia e clarividência, bem como em viagens a outros mundos (dimensões), interior e exteriormente na comunicação com os espíritos, como sensitivo, na análise de sonhos e na comunicação com plantas e animais e com os elementos naturais da Terra. Tudo isso, era considerado como

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formas de telepatia, e era, provavelmente, a qualidade mais importante do xamã. Instrumentos , de pedra e varinhas mágicas eram geralmente usadas para treinar e realçar as habilidades mentais.

Como desbloqueador, o xamã era treinado no uso da energia para aliviar o stress físico, emocional e mental e, nos métodos de mudança de crenças restritivas. Liberação de energia era geralmente baseada no Lomi-Lomi, uma forma Havaiana de massagem parecida com a massagem sueca, Esalen Massage, Rolfing, terapia da polaridade, acupressura, cura pelas mãos e outras variações. Entretanto, a geomância pessoal e ambiental era também usada para este fim. A dissolução de crenças restritivas podia ser feita de várias maneiras, mas um método comumente usado era um tipo de conversa terapêutica, geralmente incluindo afirmações que poderiam ser feitas individualmente ou em grupo. Como manifestador, o xamã era treinado para mudar o clima, aumentar a prosperidade, (talvez induzindo para uma colheita mais abundante ou para uma grande captura de peixes), e provocar vários acontecimentos (como descobrir uma ilha ou promover uma reunião dos chefes).

Entre os vários métodos usados, uma forma de contemplação ou a atenção passiva focalizada, semelhante a certas práticas de Yoga , na qual, uma idéia é tranqüilamente mantida na consciência até atrair energia suficiente para se manifestar como forma. Também estavam incluídos nesse treinamento, viagens astrais e psicocinese.

Como prestidigitador ele/ela era treinado para representar vários papeis cantando, atuando, dançando e tomando as características de animais ou objetos, unindo-se aos elementos da natureza, influenciando-os pela ressonância e, nos altos níveis de prática desaparecerem e aparecerem para outros de uma forma diferente.

Como pacifista o xamã era treinado para criar a harmonia dentro de si mesmo/mesma, dentro dos outros, entre pessoas, entre as pessoas e a natureza e na natureza.

Havia uma sociedade xamanica no Taiti, os Anoi, pacifistas especializados nesse processo. Utilizando a música, a dança e a poesia como meios de apresentação, viajavam de ilha em ilha e representavam seu papel.

O respeito por eles era tão grande, que qualquer guerra cessava enquanto estivessem presentes. Através das narrativas sobre mitos e lendas, eles lembravam dos guerreiros de sua própria origem e da sua finalidade e, com humor grosseiro e irreverente, tentavam fazer os antagonistas verem os erros de seus métodos. Esta ênfase sobre a paz, era uma das características mais importantes dos xamãs da Polinésia.

Embora a maioria dos xamãs do mundo siga o caminho do guerreiro, com seu objetivo no poder e na conquista do eu, os xamãs Polinésios seguem o que chamo de o caminho do aventureiro, com seu objetivo no amor (Aloha) e na expansão do eu. Como professores, os xamãs eram treinados para demonstrar e compartilhar seus conhecimentos, ajudando as pessoas a descobrir seus próprios poderes e a mudar suas vidas.

Um xamã raramente se transformava em “kahuna a‟o” um mestre que fazia palestras para grupos. Mais freqüentemente o ensinamento era feito através de exemplos, sugestões e conselhos.

Como aventureiro o xamã era treinado para ser flexível e sentir-se confortavelmente com as mudanças e a dirigi-las de uma maneira positiva para ser livre e explorar novos modos e meios de fazer as coisas, e também para se atualizar constantemente e expandir seus conhecimentos através de viagens e estudos com outros professores.

A QUEDA E O CRESCIMENTO DO XAMANISMO HAVAIANO

Com tantos poderes e habilidades, as pessoas perguntam freqüentemente como a Polinésia foi invadida por intrusos? Por que os xamãs não evitaram que isso acontecesse? Tudo tem relação com a evolução do xamanismo na Polinésia e, minha resposta a uma pergunta tão importante como essa é que cada área da Polinésia tinha sua variação local neste assunto, mas a experiência no Havaí foi suficientemente típica para servir de exemplo às demais.

Como foi relatado por Fernandez em “An Account of Polynesian Race” , cerca do ano 1200 A. D., durante a idade dos Cavaleiros na Europa e do reino de Genghis Khan na Ásia, um homem chamado Paao um kahuna da Ordem de Ku, muito motivado e determinado, juntamente com um chefe de Samoa e com guerreiros de Samoa e Taiti, liderou uma expedição para o Havaí. Nessa época o Havaí era um lugar muito pacifico, com várias partes das diferentes ilhas governadas por chefes locais, que eram mais lideres das vilas. Os portos do Havaí eram muito movimentados e as embarcações viajavam regularmente nos oceanos para fazer comércio e para a migração entre as ilhas Havaianas, Samoa e o Taiti. A Ordem de Ku mencionada por Malo em “Hawaiian

Antiquities” existia no Havaí como um cerimonial de sacerdotes encarregados dos templos e celebrações

dedicadas á agricultura, à pesca e a cura.

Até a chegada de Paao os sacerdotes de Ku viviam em relativa harmonia com os xamãs de Kane e com os profissionais (ervanários, astrólogos, navegadores, construtores de embarcações, etc.) da Ordem de Lono. A vida era mais do que pacifica, era complacente.

Se alguém suspeitasse o que estava para acontecer e tentasse alertar o povo, ninguém lhe teria dado ouvidos. "Este é o paraíso. O que poderia sair errado?”

Paao tinha um talento especial que combinado com sua ambição, iria mudar profundamente a sociedade Havaiana. Paao era um gênio em organização.

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Assim que aportou (alguns dizem que ele começou pela Ilha Grande), estabeleceu uma base de operações com seu chefe e guerreiros importados.

Começou então a usar sua personalidade poderosa e habilidades de organização para transformar a Ordem local de Ku numa hierarquia forte e com uma estrutura exclusiva de seguidores (membros da Ordem) e sacerdotes. Após algum tempo, introduziu pela primeira vez no Havaí, sacrifícios humanos nas cerimônias, com a justificativa habitual de que, uma vez que a vida humana era tão sagrada, tornaria dessa forma, o sacrifício mais eficiente.

Enquanto a Ordem de Ku se tornou organizadamente mais forte, Paao começou a expandir-se politicamente com a ajuda de seus guerreiros.

À medida que cada área ia sendo dominada com o auxílio dos sacerdotes locais, Paao substituiu o sistema de lideres dos chefes locais por um novo sistema aristocrático. Enquanto, antes, toda a terra pertencia à comunidade, passou a pertencer somente a uma nova classe de chefe que podia locar a terra ou tirá-la da pessoa de acordo com sua vontade.

A aristocracia tinha sua própria hierarquia, muito parecida com o sistema feudal europeu e Paao assegurou que seu poder sobre o povo, estivesse intrinsecamente ligado ao poder dos sacerdotes, para assim, criar uma dependência e servidão, com um sistema de vigilância tal, que um vigiava o outro, semelhante à Europa. Entretanto, mesmo sendo capaz de mudar o irregular sistema de classes do Havaí, por um outro, de castas, ele nunca foi capaz de estabelecer a servidão.

O povo comum era inquilino, mas não servo. Os chefes não os possuíam e, se uma pessoa do povo não estivesse satisfeita com seu chefe, poderia mudar-se para outra área, sob nova chefia.

Somente duas fontes deram a Paao alguma oposição real ou potencial: Os xamãs e os profissionais. Paao e seus seguidores, resolveram eliminá-los. Uma das primeiras coisas a se acabar, foi o comércio com as outras ilhas do Sul do Pacifico. Não era mais permitida a partida das canoas (embarcações) para o oceano (era contra a vontade dos deuses), e qualquer canoa (embarcação) que chegasse era confiscada e, dessa forma, todo o intercâmbio acabou. Sem o comércio, não havia necessidade de construção de barcos e o porto fechou. Logicamente, não havia necessidade de construtores de barcos ou navegadores e muito do seu conhecimento se perdeu. Desde que a maioria dos astrólogos, era também navegadora, muito deste conhecimento também se perdeu. Setecentos anos antes da Cortina de Ferro aparecer na Europa, Paao trouxe para o Havaí. a sua “Cortina Oceânica” muito efetiva.

A Ordem de Lono sofreu muito sob o domínio de Paao e virtualmente, os únicos a sobreviverem nos próximos quinhentos anos, até a chegada de Cook foram os mestres em agricultura, pesca e ervas, que eram sem dúvida alguma, úteis e não apresentavam nenhuma ameaça à nova ordem. Os xamãs de Kane eram realmente a maior ameaça a Paao, devido aos seus conhecimentos de liberdade e poder individual, mas por outro lado, foram os capazes de resistir. Os xamãs protegiam-se indo para as florestas e terras altas, para onde poucos ousavam ir. Entretanto, eles só podiam influenciar o povo, até o ponto em que o povo quisesse ser influenciado. Paao oferecia segurança absoluta em troca da liberdade pessoal e responsabilidade, usando o medo como motivação para receber o apoio na sua maneira de agir. A segurança era mantida não somente por soldados dos novos governantes, mas também por uma classe de executores contratados pelos dirigentes,que saiam à noite para castigar seus inimigos e pegar as vitimas para os sacrifícios. O povo, em geral apoiava a nova ordem e os xamãs não eram suficientemente numerosos nem organizados para se oporem à política direta de Paao. Por isto, refugiavam-se em lugares ermos e somente uns poucos sabiam onde encontrá-los. Curavam aqueles que conseguiam descobri-los e se mantinham bem em sua própria sociedade.

Quando Cook descobriu o Havaí, no fim do século XVIII, os sacerdotes de Ku tinham um controle firme nesta área, embora todas as ilhas estivessem em guerra umas com as outras.

A nova Ordem de Lono havia perdido a maior parte de seus conhecimentos e tinha praticamente se transformado em pequeno ramo de sacerdotes e os xamãs de Kane eram figuras sombrias vivendo no interior da ilha. Somente eram consultados em casos de emergência, mas de outra forma eram evitados.

Somente em Kauai, os xamãs mantiveram significativa influência. Quando o brilhante rei Kamehameha conquistou o Havaí, Mauí,Oahe e Moloka com a ajuda dos ocidentais e sua tecnologia, foram os xamãs de Kauai que por duas vezes, pela força de sua magia evitaram que ele conquistasse Kauai.

Kamakau conta em “Ka Po‟e Kahiko” (The People of Old) que em 1796, Kamehameha, com dez mil guerreiros, levantou vela através do canal que separava Oahu e Kauai mas um vento muito forte ameaçou dizimar toda sua frota e ele se retirou.

Novamente, em 1804, Kamehameha juntou mais de sete mil soldados armados de mosquetes, canhões, carabinas giratórias, morteiros,escunas armadas e também canoas para invadir Kauai. Desta vez, uma doença similar à febre tifóide, destruiu completamente seus exércitos, impedindo a invasão.

Em “Kauai: The Separate Kingdom”, Edward Joesting conta sobre este período e fala:

A ilha Kauai era muito conhecida pela natureza religiosa de seu povo.Era freqüentemente chamada de “Kauai pule o‟o‟ - Kauai das preces ouvidas” .

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Nem a entrada de Kauai na união de Kamehameha, através de negociações, a ruptura e virtual destruição do sacerdócio logo após a morte do grande rei, a chegada dos missionários, nem a aquisição do Havaí pelos Estados Unidos tiveram muito efeito nos xamãs do Havaí e na sua maneira de viver.

Um grande número deles saiu do anonimato para participar da tentativa do Rei Kalakaua de reavivar as antigas artes de cura, mas quando a influência dos políticos ativistas, conhecidos como “O Grupo Missionário” tomou-se suficientemente forte para obrigar o rei a dispersar o seu Conselho de Saúde kahuna, eles silenciosamente se desengajaram e desapareceram novamente.

Durante os anos de supressão da cultura Havaiana pelos missionários e pela nova elite política americana e econômica, as ilhas xamanicas continuaram como sempre foram durante os séculos de supressão iniciados por Paao.

Mestres em se mesclarem com o ambiente natural, ou ficavam nas terras altas, fora de vista ou se misturavam com seus companheiros como pessoas comuns do povo. Em ambos os casos suas habilidades eram inacessíveis com exceção à família, amigos e pessoas carentes. A lei do Havaí que considerava um crime ser ou intitular-se kahuna teve pouco efeito nas suas atividades. As sementes da mudança entre os kahunas Havaianos foram plantadas durante a revolução social aos anos sessenta e continuaram a brotar e a crescer durante os anos setenta e oitenta.

Com outras pessoas em outros lugares, os havaianos começaram vagarosamente a sentir-se orgulhosos de serem Havaianos e os mais corajosos dentre eles, começaram a reviver e conhecer os melhores aspectos da sua antiga cultura. Artes e ofícios, dança, cantos tradicionais e novos estilos tomaram-se mais populares e após algum tempo, a lei contra os kahunas foi anulada.

Tanto o orgulho dos Havaianos, como as atividades dos kahunas Havaianos cresceram. Entretanto, a repressão feita pela Igreja e pelo Estado, custou um preço muito alto, porque poucos foram os verdadeiros kahunas de qualquer tipo que sobraram e havia cada vez menos aprendizes em treinamento. Mesmo que sentissem orgulho de sua herança, as igrejas ainda davam profunda impressão de que todo kahuna praticava a magia negra. Mesmo os Havaianos que buscavam os aspectos curativos dessa grande tradição, assim o faziam mas com muito receio. Mesmo assim, seu número continuou a crescer. Hoje, entretanto, as grandes curas metafísicas e as tradições xamanicas do Havaí, são mantidas vivas basicamente pela mesma raça que quase as destruiu completamente.

Sem a audiência dos brancos do continente mesmo os poucos professores kahunas Havaianos não teriam a quem ensinar.

Um kahuna havaiano meu amigo, disse-me que os Havaianos não voltarão ao antigo ensinamento Huna, até que um certo número de brancos o aprovem.

Um outro kahuna Havaiano que participou de uma de minhas palestras, para ouvir o que este haole kahuna tinha a dizer, acabou confirmando o que meu amigo havia dito, e me deu sua bênção por partilhar esse conhecimento e ao mesmo tempo, expressou um sentimento estranho ao ouvir o conhecimento sendo ensinado tão abertamente após tantos anos de supressão. Por outro lado, há alguns Havaianos não kahunas, que são da opinião de que as tradições sagradas do Havaí deveriam ser partilhadas somente entre Havaianos. De certa forma, é bom e não é, que a sabedoria kahuna-huna esteja hoje em dia, sendo ensinada para uma maioria de brancos do continente.

É bom, porque são muitos, e o interesse e uma relativa falta de medo, assegura que o conhecimento seja mantido e realçado; não é bom somente porque o conhecimento poderia ser útil aos próprios Havaianos na sua busca de auto-estima e autodeterminação.

Atualmente existem menos de seis professores kahunas, todos ensinando principalmente no continente. Somente um deles é da Ordem de Kane, é um haole branco. Eu sou este professor. Dos outros kahunas xamãs que conheço, nenhum tem o desejo de ensinar, mas pelo menos alguns kahunas de outras ordens estão começando a se movimentar e a partilhar as suas habilidades curativas e conhecimentos. Tenho grande esperança nos meus poucos aprendizes Polinésios embora me pareça que estamos entrando num período histórico, onde as diferenças estão se tomando cada vez menos importantes. É um tempo de união para todos e o melhor uso para o xamanismo urbano ou de outro tipo seria em prol da paz interior e exterior. Como diz um velho provérbio Havaiano:

“He ali‟i ka la‟i, he ha Ku na ke aloha.” (a paz é um guia, o senhor do amor).

Que a paz e o amor sejam nossos guias e nossos objetivos no nosso trabalho de cura do mundo de hoje.

A Segunda Aventura

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(O conhecimento total não é ensinado na mesma escola.)

O sistema xamanico Havaiano é semelhante a outros sistemas de pensamento que lidam com a mente e seus efeitos no Universo, mas algumas diferenças são consideráveis. Há muitos séculos atrás, os mestres espirituais havaianos chegaram á mesma conclusão que outros de outras épocas e lugares diferentes. Que há um aspecto da consciência que opera disfarçada e indiretamente (o subconsciente), que há um aspecto da consciência que opera aberta e diretamente (a mente consciente) e que há um aspecto da consciência que transcende (o superconsciente) e também inclui os dois aspectos anteriores. As diferenças no pensamento Havaiano têm a ver com sua natureza, suas funções e seus relacionamentos.

No titulo deste capítulo eu os chamei de coração, mente e espírito e, entender o que eles são e como operam sob o ponto de vista Havaiano pode ser uma das coisas mais práticas que você aprenderá.

OS TRES ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA

O conceito de três aspectos é uma maneira de dividir a complexa natureza de um ser humano em três partes convenientes, cada uma delas tendo a sua própria função e motivação. Não há nada no pensamento Polinésio que indique que estes três aspectos sejam realmente separados. É como dividir um mamão em três partes denominadas casca, polpa e sementes. Essas três partes formam o mamão inteiro que veio de uma fonte, mas às vezes é mais conveniente falar separadamente da casca, da polpa e das sementes. Não há nada inerente na natureza de um ser humano que pudesse evitar que fizéssemos uma divisão em digamos, catorze aspectos. Três são simplesmente úteis, convenientes e portanto, aceitos como uma verdade que funciona.

Em Havaiano eles são chamados de Ku (o coração, o corpo ou subconsciente), Lono (a mente ou mente consciente) e Kane (o espírito, o superconsciente).

O ASPECTO DO CORAÇÃO - KU

A função principal desse aspecto da consciência é a memória.É graças a Ku que podemos aprender e lembrar, desenvolver habilidades e hábitos, manter a integridade do corpo e guardar um sentido de identidade no dia a dia. É parecido com o conceito equivalente ao subconsciente no Ocidente, mas não é idêntico. O mais importante para se saber sobre a memória é que fica guardada no corpo como um modelo de vibração-movimento. A memória genética é de fato guardada a nível celular, enquanto a memória experimental ou aprendida é guardada em um ou mais dos muitos níveis musculares.

Sob um estimulo certo, interno ou externo, mental ou físico, o movimento ocorre e a memória é liberada. Isto então dá origem ao comportamento mental, emocional ou físico. Se esse movimento for inibido, seja por tensão ou stress, a memória relacionada será também inibida. Isto é verdadeiro tanto para a memória genética quanto para a aprendida. No caso da memória genética, o corpo só sabe o que seus ancestrais sabiam. É um arquivo muito rico. No entanto, os comportamentos físico e emocional, bem como as suas reações, geralmente são influenciados em maior ou menor grau pela memória aprendida. Numa situação estressante Ku primeiro vai buscar a memória dos ancestrais como uma forma de poder lidar com a situação, depois se houver várias escolhas em potencial vai para a memória aprendida para especificações. Suponhamos que você esteja numa situação estressante envolvendo sua auto-estima, que, se manifesta geralmente no tórax. Suponhamos que a memória genética lhe ofereça as escolhas de um resfriado, um ataque de ansiedade ou de asma. Se, na semana anterior Ku tiver aprendido com outra pessoa ou na televisão, tudo sobre os sintomas dos resfriados é provável que faça esta escolha. A memória genética é arquivada em cada célula, mas a aprendida parece estar estocada em áreas específicas do tecido muscular do corpo. As áreas de arquivo parecem se relacionar com a parte do corpo em atividade ou estimulada durante o aprendizado. Quando a parte do corpo em que a memória está arquivada fica sob tensão suficiente ela será então inibida ou até inaccessível.

Durante uma caminhada que fiz com um amigo na selva de Kauai fomos incapazes de localizar nossa trilha de retorno. Concordamos que ficava do lado oposto de um riacho, mas não podíamos concordar com a aparência do lugar, e assim passamos o dia indo para cima e para baixo ao longo do riacho procurando um ponto de referência que ambos reconhecêssemos. No dia seguinte após uma noite passada num pântano decidi usar nosso conhecimento sobre Ku. Com perguntas muito cuidadosas descobrimos que na sua memória da trilha havia perto um típico lamaçal do qual eu não me lembrava e na minha memória havia um riacho secundário com uma enorme pedra lisa nas imediações da qual ele também não se lembrava. Andamos ao longo do riacho até encontrarmos a trilha exatamente entre os dois pontos de referência. Quando a tensão muscular é aliviada, qualquer memória arquivada nessa área e inibida pela tensão é solta.

Este é um conhecimento comum para qualquer pessoa que dê ou receba muitas massagens mas há várias maneiras de se criar tensão e aliviá-la consciente ou inconscientemente. Uma experiência freqüente é a de

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esquecer o nome de alguém. Você poderá ter uma imagem clara do rosto da pessoa em sua mente mas o nome não surge. É porque a parte do seu corpo onde o nome está arquivado está no momento sob muito stress. Se você deixar de pensar e for fazer outra coisa, o nome voltará a sua mente quando menos esperar. Isso acontece porque durante o tempo em que você se ocupou de outra coisa os músculos que guardavam o nome se relaxaram suficientemente para liberar a memória.Uma vez na África, durante um tempo em que eu andava estressado, levei minha esposa a uma festa para conhecer o Embaixador Americano e quando tive de apresenta-la não consegui me lembrar de seu nome. Assegurei ao Embaixador que éramos casados há muito tempo mas ele ficou, e com razão, muito desconfiado. Quando Glória finalmente disse seu nome, o músculo direito se soltou e eu pude dizer: -Certo, é isso mesmo, Gloria.

Choques graves que produzem stress generalizado podem resultar em amnésia, uma condição em que grandes áreas da memória ficam bloqueadas.

Assim que os vários grupos de músculos começam a relaxar, a memória começará a voltar. O interessante é que quem sofre de amnésia, quase nunca se esquece da linguagem falada mesmo quando se esquece de seu próprio nome. Isso é causado porque os componentes da linguagem (letras e sons) são usados com tanta freqüência que são arquivados em muitas áreas do corpo. Entretanto, há casos em que a pessoa perde a fala, devido a um grande choque. Até hoje, fico ruborizado quando conto a história do esquecimento do nome de minha esposa. O interessante é que me ruborizo quando conto o fato porque a memória está muito vívida em minha mente. Isto nos diz algo mais de muita importância sobre a memória e Ku.

Ku seu subconsciente corpo-mente, não distingue entre passado, presente e futuro. No que lhe concerne, o presente é o único tempo que existe. Quando você quer se lembrar de alguma coisa tem reações fisiológicas naquele momento, cuja intensidade depende de quanto esteja vívido aquilo que você está lembrando.

Por exemplo, é mais provável que você tenha reações fisiológicas mais fortes ao se lembrar de quando aos sete anos foi severamente criticado do que se lembrar de um almoço na semana passada, a não ser que o almoço tenha sido mais traumático. Isto significa que quanto mais você remoer lembranças, mais elas afetarão o seu corpo no momento presente, produzindo mais ou menos as mesmas reações químicas e musculares que ocorreram durante o episódio em questão.Uma boa lembrança pode produzir endorfinas, enquanto uma má lembrança produzirá toxinas. Todas no presente momento. Obviamente quanto mais você remoer uma lembrança, mais seu efeito crescerá no presente.

EXPLORANDO A MEMÓRIA

Durante quinze segundos, relembre algo desagradável e preste muita atenção ao seu corpo. Em seguida, por outros quinze segundos, relembre algo agradável e, novamente, preste atenção ao seu corpo. Você descobrirá que uma lembrança desagradável vai fazer você sentir-se cansado, tenso, contraído deprimido e/ou infeliz, ao passo que a lembrança agradável tende a fazer você sentir-se leve, expansivo, relaxado e/ou feliz. Além do fato de que os dois tipos de lembrança farão você sentir-se diferente aqui e agora. Note também com que rapidez a mudança ocorreu. Em um momento, você estava sentindo-se mal e, no outro bem. Fez-se somente uma mudança de foco, para que isso ocorresse. Uma maneira de controlar suas emoções e sua saúde é então escolher quais as lembranças que você se permite reviver.

Como já disse, eu me ruborizo quando me lembro do esquecimento do nome de minha esposa. Ficar ruborizado, é uma reação e as emoções se desencadeiam através da lembrança.

Esta é a única fonte de emoções ou o que usualmente chamamos de pensamento. Isso não ocorre sem uma razão. São reações energéticas provocadas pelo modelo da memória. Ninguém anda por ai cheio de raiva, por exemplo. Mas as pessoas ficam revivendo continuamente as lembranças que re-estimulam a raiva, ou com tensão muscular que suprime memórias que provocaram a raiva, se forem levadas a um nível consciente. Como exemplo o conhecimento e novas experiências, totalmente sem relação alguma com o conhecimento ou experiências passadas, em si mesmas, não produzem emoção. A única forma de um novo conhecimento ou experiência produzir uma emoção só poderá ocorrer se houver um modelo na memória (na forma de hábito ou expectativa) de como reagir ao novo conhecimento ou à nova experiência. Se você tivesse um padrão para se lembrar do novo conhecimento ou experiência seria: a) excitante ou b) assustador e, então sua reação seria apropriada àquele padrão. De outra maneira sua reação seria mais uma exclamação na ordem de “Oh” ou “Que bom.”. A finalidade de tudo isso é que se as emoções são geradas pelas memórias de como reagir em certas situações, então uma forma de controlar indiretamente as emoções seria mudando as memórias.

Várias são as maneiras de como se fazer isso e serão fartamente discutidas neste livro.

As emoções também podem ser controladas indiretamente se ensinarmos novos truques a Ku. Isso está baseado no fato de que as emoções, especialmente as negativas como o medo e a raiva, são sempre acompanhadas de tensão muscular.

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Sentado ou de pé confortavelmente com todos seus músculos relaxados (mantenha como única tensão, a que for suficiente para ficar sentado ou em pé). Agora, usando sua memória ou imaginação, tente ficar com bastante raiva sem tencionar nenhum músculo. O que você descobrirá é que se seus músculos estiverem relaxados é fisiologicamente impossível ficar com raiva.

Raiva não pode existir sem tensão muscular nem sem medo. Portanto, treinando relaxar seus músculos de acordo com sua vontade, pode fazê-lo lembrar-se de conhecimentos e habilidades mais facilmente, bem como torná-lo capaz de evitar e de se livrar do medo e da raiva. Não apenas isso, ainda pode ajudá-lo a quebrar muitos hábitos desagradáveis e doentios, dando a Ku, uma nova memória de como agir e a reagir em situações diferentes.

Uma vez estava com uma amiga com quem faço caminhadas, numa cidade chamada Kapaa, esperando por minha esposa. Minha amiga me ofereceu do seu sorvete, aceitei e estava uma delícia. Pouco depois ela me ofereceu novamente mais sorvete, desta vez recusei porque estava tentando fazer uma dieta. Ela perguntou-me como eu conseguia recusar um sorvete tão gostoso. Eu disse: ”é fácil; tudo o que tenho de fazer é manter os músculos de meus ombros tão relaxados a ponto de nem conseguir levantar meus braços para segurar o sorvete.”

Outra coisa muito importante sobre Ku, é a memória. É que cada experiência, independente de sua fonte, é arquivada como memória corporal. Ku não faz distinções precisas se a experiência veio de uma fonte interior ou exterior, de uma situação física real ou de um livro, filme ou mesmo de um programa de televisão, sonho, intuição psíquica ou sua imaginação. Tudo é arquivado como memória corporal. Ku só se preocupa com a intensidade da experiência, isto é o nível de reação fisiológica emocional, química e muscular que ocorreu durante a experiência. Esta é a única base que Ku tem para saber quão real foi a experiência. O lado prático de tudo isso é que uma experiência intensamente imaginada é tão boa quanto a real, pelo menos no que se refere ao comportamento baseado na memória.

Os xamãs Havaianos e outros usam esta técnica há séculos, como uma forma de cura e auto-desenvolvimento. Recentemente nos tempos modernos, este entendimento xamanico antigo tem sido usado por atletas olímpicos, entre outros, com resultados muito efetivos.Os atletas usando totalmente a imaginação sensorial, atuam com perfeição todas as vezes e criam as memórias corporais, tornando mais fácil e melhor o desempenho físico. O mesmo processo pode ser usado para seu próprio treinamento em qualquer tarefa, estado ou condição.

EXPLORANDO A IMAGINAÇÃO

Lembre-se de uma cena de um livro que você tenha lido ou de um devaneio favorito. Relembre então de umas férias ou de uma viagem que tenha feito, por mais ou menos trinta segundos. Relembre primeiro de uma e depois da outra.

Agora. excluindo as diferenças de conteúdo (graus de vivências ou tipo de atividade, ou decisão consciente sobre o que é real), tente determinar qualquer diferença entre as duas lembranças. Você descobrirá que não há diferenças entre as lembranças.Relembrará de uma tão facilmente como da outra e, na realidade a cena do livro ou sonhar acordado, talvez tenha um efeito presente mais forte em você do que a lembrança real. Ku não faz distinções entre memórias, seja qual for a fonte. Para Ku as que são mais reais são as que têm um maior impacto sensorial.

A função principalde Ku é a memória (lembrança) e a motivação principal é o prazer. Para ser mais exato a motivação de Ku está direcionada para o prazer e para bem longe da dor.Todo seu comportamento habitual baseado na memória mental,emocional ou física tem esta motivação.

Por esta razão você prefere fazer certas coisas e não gosta de fazer outras, por esta razão algumas coisas são mais fáceis de fazer do que outras e por esta razão você as adia sempre que há algo importante a ser feito. Ku automaticamente se direciona para o que é prazeroso, fazendo o possível para evitar coisas dolorosas.

Se você cria uma memória futura, em outras palavras, se você imagina o que acontecerá se fizer uma certa coisa, o comportamento de Ku será fortemente influenciado se a memória carregar a expectativa de dor ou prazer. Se você criou uma expectativa/memória de que encontros humanos podem resultar em rejeições dolorosas, terá muita dificuldade em estar com pessoas, fazer chamadas telefônicas (especialmente se você for vendedor), e possivelmente também escrever cartas. De outro modo, se o pensamento evoca uma expectativa/memória de um contato aprazível, essas coisas serão fáceis e agradáveis para você. E se, como é muito comum, Ku guarda as duas expectativas/memórias da facilidade ou dificuldade dessas atividades elas irão variar de acordo com o seu nível presente de autoconfiança e auto-estima (também chamado de humor).Há ocasiões em que a única escolha possível de Ku está entre duas dores (dois sofrimentos). Ku não pode fazer escolhas criativas, não pode criar novas soluções; ele só pode fazer aquilo que aprendeu de experiências passadas ou copiar de outros no presente. Quando em confronto com uma situação penosa, a sua tendência natural é de escolher a resolução prazerosa, mas só poderá fazê-lo lembrando-se, copiando ou recebendo orientação da mente consciente. Se a mente consciente não estiver participando da solução e se não houver uma

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solução agradável (boa), nem no presente nem no passado, Ku precisará usar o presente ou o passado para achar a solução menos penosa.

Se você estiver trabalhando num lugar que lhe causa reações estressantes, que, ameaçam a integridade de seu corpo e você não está conscientemente fazendo nada a respeito disso, (porque você precisa do dinheiro), Ku vai procurar ou se lembrar e lhe dará um resfriado para tirá-lo desse ambiente.

Do ponto de vista de Ku um resfriado não é agradável, mas é melhor que a dôr de continuar no emprego. Você vai melhorar quando se demitir, desistir ou for despedido ou quando a dor do resfriado for pior do que a lembrança da dor do emprego (o papel do vírus será explorado no capitulo referente á cura do corpo).

Algumas vezes você vai atravessar períodos difíceis e de sofrimento mental, emocional ou físico, com a finalidade de conseguir alguma outra coisa. Atletas, alpinistas, vendedores, cientistas, estudantes e outros, passam por isso. O que acontece aqui, é a adição de um fator chamado “importância". As pessoas irão através da dor, mesmo de dores fortes, apenas quando uma outra parte delas decidiu que o resultado final ou as metas daquilo que eles estão fazendo são mais importantes (e que além do mais, contêm prazer em potencial) do que a dor que eles sentiram, e quando o objetivo potencialmente agradável é mantido em suas mentes.

O ganho tem que ser maior do que a dor. O atleta quer sentir o prazer de vencer, o alpinista quer ter o prazer de alcançar o topo, o vendedor quer ter o prazer de ganhar mais dinheiro, o cientista quer ter o prazer de resolver o problema, o estudante pode só querer ter o prazer de concluir o objetivo. O que estou tentando demonstrar é que todo comportamento, hábitos e ações são influenciados pela motivação em direção ao prazer.

A fim de iniciar a função da memória e para obter a sua motivação, Ku usa a mais importante arma, a sensação. De acordo com este conceito, toda a memória é sinestésica, ou relacionada ao corpo; todo prazer e dor, também o são; todas as experiências, mesmo as de emoção ou de idéias, produzem sensações físicas. Como um xamã urbano, você vai querer desenvolver e aperfeiçoar este importante instrumento de sensação, ou a consciência sensorial. A sua parte que pode conseguir fazer isso, é assunto do nosso próximo capítulo.

O ASPECTO DA MENTE - LONO

Lono é sua parte consciente de informação interna e externa de memórias, pensamentos, idéias, imaginação, intuição, palpites e inspirações, bem como impressões sensoriais de visão, som, toque, cheiro, profundidade, movimento, pressão, tempo e outros. Fica localizado na fronteira entre os mundos interior e exterior . A função principal de Lono é a de tornar decisões. Como o processo de tomar decisões inclui coisas como atenção, intenção, escolha e interpretação, abordarei cada um deles detalhadamente.

Uma das decisões que Lono freqüentemente tem de tomar é onde focalizar a atenção. Existem tantas coisas das quais temos que nos conscientizar em um dado momento, que tentar prestar atenção a todas elas ao mesmo tempo, nos conduziria a uma total ineficácia. A percepção total requer a não ação porque a ação requer exclusão. Fazer algo, significa não fazer muitas outras. Aumentar a percepção sobre uma coisa, significa diminuí-la sobre muitas outras. Parte da atividade de Lono é a de tomar decisões que resultem numa atenção seletiva de aumentar a habilidade individual ou a efetividade.

Em outras palavras, Lono decide o que é importante e o que não é, e á atenção segue a decisão. A maioria dessas decisões é baseada no modelo de prazer e dor da memória de Ku, mas Lono pode ter uma grande variedade de outras razões para atribuir importância em outros tipos de decisões. Quando a atenção é focalizada em algo importante, baseada nos padrões de Lono, o enfoque pode ser restrito ou amplo, dependendo de quanto o potencial de percepção é considerado importante.

EXPLORANDO A PERCEPÇÃO

Olhe para um pequenino objeto colocado mais ou menos a três metros de distancia. Enquanto isso, mantendo a sua atenção centrada no objeto, permita que sua percepção se expanda para outros objetos acima, abaixo e dos lados do objeto central.

Agora, olhe para o primeiro objeto mais de perto e procure descobrir alguns detalhes na sua aparência. Neste caso, a importância estava implícita nas durações da própria experiência. Quando você inicialmente prestou atenção no objeto focalizado, a maioria das outras coisas ficou obscurecida. Você então expandiu seu foco para aumentar a sua percepção. Finalmente você vai notar que quando a sua atenção se focalizou nos detalhes do primeiro objeto a sua percepção em tudo o mais diminuiu novamente. Esta experiência. simplesmente mostra como a importância atua e como a atenção é flexível A atenção é uma forma de tornar uma decisão que direciona a percepção bem como a atividade. É uma maneira muito poderosa, quando usada corretamente, de administrar Ku com efeitos enormes sobre sua saúde, felicidade e sucesso.

A teoria da administração reconhece três estilos principais de atenção: autoritária, democrática e liberal. Isto também descreve três maneiras que as pessoas usam para lidar com Ku. Para esclarecer melhor. vamos

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