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Livro-A Sociologia do Brasil Urbano-Anthony Leeds e Elizabeth Leeds (OCR).pdf

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Rnthony Leeds e Elizabeth Leeds

/iflTROPOLOGifc S O C IA L

nSodotoda

(2)
(3)

Hnthony Leeds e Elizabeth Leeds

ogia

Tradução de M a r i a L a u r a V i v e i r o s d e C a s t r o Revisão Técnica de M á r c i a B a n d e i r a d e M e l l o L e i t e N u n e s Apresentação de T h a l e s d e A z e v e d o ZAHAR EDITORES R IO D E JA N EIRO

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capa de

J a n e

N enhum a parte deste livro poderá ser reproduzida sejam quais fo rem os m eios em pregados {mirneografi&, x erox» datilografia, gravação, reprodu ção em disco ou em fita ), sem a perm issão por escrito da editora. A os infratores se aplicam as sanções previstas nos artigos 122 e 130 da L ei 5.938 de 14 de dezem bro de 1973

1978

Direitos para esta edição contratados com ZAH AR ED ITO R ES

Caixa Postal 207, ZOOO, Rio Im presso n o Brasil

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índice

Apresentação — Th a l e s d e Az e v e d o

I . Introdução — An t h o.n y Le e d s 11

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II. Poder Local em Relação com Instituições de Poder Supralocal

Introdução, 26; A Comunidade, 29; A Localidade, 31; Caracte­ rísticas da Localidade, 33; As Estruturas e os Recursos de Po­ der, 36; Localidade e Fontes de Poder, 38; Instituições e Estru­ turas Supralocais, 38; O Estada e as Localidades, 39; Estado e Localidade — O Caso da Favela, 42; Favelas como Localidades “versus” Instituições e Estruturas Supralocais, 45; Generali­ zações e Conclusões1 47; Bibliografia, 49.

II I, Carreiras Brasileiras e Estrutura Social: Uma História de Caso e um Modelo — An t h o n y Le e d s ... 55 Bibliografia ... 84 IV . O Brasil e o Mito da Ruralidade Urbana: Experiência Urba­

na, Trabalho e Valores nas “Áreas Invadidas” do Rio de Janeiro e de Lima — An t h o n y e El iz a b e t h Le e d s ... 8 6

Introdução, 86; A Experiência Urbana dos Moradores das Áreas Invadidas, 92; O Nascido na Cidade, 95; Caminhos de Entrada na Cidade, 98; Experiência Ocupacional Anterior,

102; Fatores Que Operam na Seleção para a Vida na Favela, 105; Experiência Urbana no Interior da Área Invadida, 113; Valores Urbanos, 119; Comentários Informais do Autor, 130;

Bibliografia, 136.

V . Tipos de Moradia, Arranjos de Vida. Proletarização e a Estru­ tura Social da Cidade — An t h o n y Le e d s ... 144 A Especialização da Moradia no Rio, 145; Arranjos de Vida Alternativos, 156; Conseqüências das Escolhas entre Arran­ jos de Vida, 162; Restrições sobre a Escolha, 168; Clivagem de Elite e Coalisões com Grupos Proletários, 172; Implica­ ções para o Planejamento, 180; Bibliografia, 182.

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V I.

V II.

Favelas e Comunidade Política: A Continuidade da Estrutu­

ra de Conirole Social — An t h o n y Le e d s e El iz a b e t h Le e d s 186 Introdução, 186; Comunidade Histórica na Estrutura do Pro­ blema Habitacional, 189; O “Problema da Favela” Vira Moda, 191; A "Democracia” Pós-Vargas, 198; O Segundo Período de Vargas e os Anos 50, 204; O Papel do Administrador Polí­ tico, 206; A Era do Controle Renovado, Erradicação e Repres­ são, 214; Conclusões, 245; Apêndice I, 248; Apêndice II, 251; Apêndice III, 254; Bibliografia, 257.

Considerações sobre Diferenças Comportamentais: Três Siste­ mas Políticos e as Respostas das Áreas Invadidas por Possei­ ros no Brasil, Peru e Chile — A n t h o n y L e e d s e E l i z a b e t h

Le ed s ... 2 6 4

Uma Metodologia e um Modelo Holísticos, 266; A Literatura sobre a Politização, 272; As Três Comunidades Políticas, 276; Brasil, 278; Peru, 288; As Respostas Políticas dos Moradores das Áreas Invadidas no Peru, 298; Chile, 301; Á Resposta de Moradores das Áreas Invadidas e “Pobladores”, 312; Conclu­ sões, 319; Bibliografia, 320.

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Apresentação

A difícil tarefa de prefaciar um livro torna-se um desafio em casos como o deste conjunto de estudos de Anthony e Liz Leeds. Um desses desafios está em que os braziliamsts — assim

denominados principalmente os norte-americanos e ingleses que es­ crevem sobre o Brasil — quase sempre se nos apresentam com monografias no estrito sentido, analisando determinado e bem de­ finido objeto. Aprofundam e esmiuçam, isto é, detalham e decom­ põem em mil elementos para, depois e mediante tal tipo de exame, concluírem — a estrutura, o dinamismo, as funções, os efeitos e as causas de tais ou quais instituições ou fenômenos sociais, políti­ cos ou históricos. Delimitam nitidamente suas temáticas e seus ângulos de visão ainda quando, por tal método — e não isto que estamos discutindo — lançam luz sobre a totalidade da cultura e da, sociedade. Recusam-se, por bem dizer, às análises globais, aos apanhados compreensivos, as generalizações que possam parecer subjetivas, e impressionistas^ em _virtude, as mais das vezes, do rigor empmcista _ do seu indutivismq. Outros especialistas em Brasil — predominantemente europeus e raros norte-americanos — buscam apreender glehalmeii£e a realidade ou totalizar com outros elementos dados relativos a específicos fenômenos ou conjunturas: estes são autores mais intuitivos e inclinados à empatia e à inte­ gração com o país e a sua gente, por uma longa vivência ou por outros compromissos pessoais. Os primeiros^ ajuntam parcelas, não raro preciosas, às sínteses que são as metas finais jjas ciências do homem e da sociedade. Mas podem valer mais pela massa de dados que colhem, pela sistematização de componentes, pela ordenação do conhecimento de particularidades do que como respostas_aos. problemas focalizados. São, as duas, vocações intelectuais e episte-mológicas — racionais, científicas e críticas em modos diferentes — que, sem dúvida alguma, prestam serviços à apreensão da com; plexa fenomenologia humana brasileira.

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E ste livro não cabe inteiramente em nenhuma das duas ca­ tegorias ideais a que aludimos, embora seja tributário_ de ambas. Não é uma monografia quanto à sua temática, pois abrange uma diversidade de questões dçrivada da ávida curiosidade científica djps autores e da sua experiência da vida brasileira. Basta percor­ rer o sumário para verificá-lo, e até o seu taefòdb: este é algumas vezes descritivo e interprelativo, outras vezes questiona nte e polê­ mico, do que resulta o caráter provocativo do conjunto em bene­ ficio de todo o seu variado conteydo. Com isso lucram as ciências humanas envolvidas — particularmente a Antropologia Social — e a inteligência das coisas brasileiras, mais uma vez evidenciando, como no dito popular, que “ da discussão nasce a luz.” Assim ocorre, por exemplo, com as conceituaçÕes de urbano, de rural, de rurbano e de íavelra^ no Brasil. AbÕrdándõ"'! os mecanismos de\ controle social em perspectivas diaerpnica e sincrônica, cada uma,/ /a seu tempo, ou ía ^ n d o .jncidbf essas,_duas^ oticag_concorrentemeu-f | te sobre a cultura e a organização social nas mencionadas situa-; I ções, qfteScõBrem) continuidades temporais- e existenciais que os im-i . pelem, 'à_eríticà, talvez a contestação, tde conceitos" fixados oiVjia/

. aplicação de determinados métodos. — o marxista, por exemplo — i I em certos momentos da formação da teoria e da análise antropo-i

lógica entre cientistas brasileiros. Se é certo que várias dessas crí- j ticas^ em tese como em referência ~ ao Brasil, já forãm feii§s~e respondidas, os dados sobre _os quais operam çõnstituem outras 1 tantas contribuições- dos dois autores à constriição de cõrpos teóri-çqs que possivelmente estimularão algumas “reavaliações das pro­ blemáticas respectivas, como a das relações de poder em referên­ cia aos modos de ser em situações ecológicas ou de ubicação só-cio-territorial diferentes, porém correlacionadas e faseológicas. A análise conjparativá, que fazem com elementos colhidos no Peru e no Chile,“ a reconsideração do método dos estudos de comuni­ dades — de há muito posto em debate, mas trazido de novo a exame sob uma ótica original — , os contrastes factuais, com suas conseqüências teóricas, entre poder local e poder supralocal no tocante às favelas, a retomadà’ do problema dos conflitos de clas­ ses no Brasil/constituem interesse para esta coletânea, — a qual, numa ponderação final, vem am o strar-se mais_ coerente do que poderá indicar o índice do livro. E será, este, mais uma instiga­ ção à reformulação, entre nós, de. políticas demográficas e habi­ tacionais.

Obra inevitavelmente polêmica pela natureza de sua temática e pelas posições que os autores adotam criticamente, esta coletânea de artigos, alguns publicados há alguns anos, realiza sua coerên­ cia ou sua coesão, em plano teórico e epistemológico, a partir da

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Ap r e s e n t a ç ã o 9 Introdução. Por certo que a autoridade dos autores não decorre apenas do seu tirocínio de pesquisadores preocupados com formu­ lações teóricas, mas também da sua experiência com problemas brasileiros. Anthony Leeds ocupa-se de Brasil a partir de um pro­ longado e repetido contato com nossa sociedade, da mesma ma­ neira que com o P eru e o Chile. Sua carreira acadêmica iniciou-se mesmo com o trabalho de campo, de mais de um ano de duração, que empreendeu na região cacaueira da Bahia em 1951-52, como participante do Program a de Pesquisas Sociais do Estado da Bahia — Columbia University, sob a direção do Prof. Charles Wagley. Sua tese para o doutoramento em Antropologia teve como objeto-os padrões de formação fundiária da agricultura do cacau e as relações do sistema de fazendas com a sociedade regional e na­ cional sob as políticas do comércio internacional que comandaram o desenvolvimento daquela lavoura. Depois daquela permanência, várias vezes e por períodos longos voltou ao país em ^itividades 'de pesquisa e de participação acadêmica, trabalhando na compa-jnhin e com a colaboração de cientistas sociais brasileiros. À marca^ 'do seu espírito inquieto e penetrante é saliente nesta coletânea,

de estudos.

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Introdução

An t h o n y Le e d s

Toda a minha vida profissional girou em torno de vários problemas básicos — alguns originais, outros não. Tentei reuni-los, ao longo dos anos, num único quadro teórico. 0 primeiro deles, mas que talvez ainda persista, é o de dar substância aí) con­ ceito de classe — sobretudo num sentido marxista. Marx, ou M arx e Engels juntos (referir-me-ei a ambos, daqui por diante, simples­ mente como “M arx” , para maior simplicidade), não inventou o conceito, e nem mesmo algumas das interpretações básicas que fa­ zem parte de sua visão. 0 conceito já está estabelecido em seu significado econômico e estrutural em Adam Smith ( 1 7 7 6 ) , num exemplo altamente significativo — significativo porque Smith é, no mesmo trabalho, também ancestral dos economistas clássicos, formalistas, que M arx repetidamente atacou, embora seu próprio pensamento econômico seja intimamente derivado daí e suas supo­ sições desempenhem um papel muito importante na estrutura das explicações marxistas sobre a economia. Todavia, Marx elevou a discussão de classe a uma tentativa sistemática de criar uma teoria de classes e apresentar uma análise de classe substantiva derivada dessa teoria. Em essência, estas análises constituem teorias espe­ ciais de sociedades pós-capitalistas particulares.

sO esforço, como o sabemos hoje, foi apenas em parte bem sucedido. Deixou-nos muitos problemas não resolvidos que todo teórico maior do século X X — Weber, Tauney, Lenjn, Luxem-burg, Lukács, Millet, Bottomore, Mills, Dahrçndorf, Althiissgr, Poulantzas, para mencionar apenas alguns — enfrentou. Por que o esforço persistente para resolver estes problemas? A resposta não

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é imediatamente auto-evidente, de vez que deve ser dada pergun­ tando-se: “Não será possível que não sejam absolutamente pro­ blemas, mas simplesmente quebra-cabeças criados pela própria teo­ r ia ? ” A julgar pelas suas produções, os teóricos americanos, da estratificação como Kingsley Davis e W . L. W arner, adotaram es­ sencialmente esta visão,

A resposta parece estar na sensação que os homens têm_ de

que as populações humanas parecem agir como se existissem enti­ dades supra-individuais como atores na sociedade. Vontades, cogni-ções, açÕes e atores individuais são amplamente, se não universal­ mente, vistos como relativamente secundários ou mesmo insignifi­ cantes diante dessas entidades, para as quais existe uma vasta co­ leção de termos — “nós” e “ eles”, o Estado, as classes, os grupos, estados, associações, órgãos, corporações, instituições. Asenjjxladês como atores são sentidas operando segundo padrões estandardiza-

, dos e modos estruturais que chamamos “instituições” e, na ver­ dade, padrões supra-individuais podem realmente ser diretamente percebidos, como em cerimônias e disposições de lugares. Além disso, em nossas apreensões de como a vida e a experiência se con­ figuram, do conflito, da mudança, sentimos a centralidade dessas entidades.

Enfatizo sentir para indicar que as bases epistemológicas de

todos esses conceitos e suas supostas referências ontológicas são am­ bíguos, não porque o sentir — nosso único caminho direto para o

conhecimento — seja ambíguo, mas porque a maioria de nossas traduções científicas do sentir para proposições empiricamente com­ prováveis, articuladas por formas estandardizadas de lógica verbal, necessitam tornar-se metodologicamente explícitas. Especificamen­ te , isso significa desenvover uma teoria da natureza das ordens supra-individuais que especifique características únicas àquela or­ dem, per se — isto é, não redutíveis aos indivíduos (ver Samuel-

json, sobre a falácia reducionista, Koestler e Smythies, 1 9 6 9 ) — mas que também explique quais são os processos geradores e mantenedores das ordens supra-individuais. Ela deve explicar co­ mo os indivíduos se articulam com a ordem. Mais ainda, tal teoria deve tornar explícitas suas bases epistemológicas, especialmente as regras ~5e correspondência que ligam o sentir original a seus con­ ceitos e construções subseqüentes, e estes últimos à refinada obser­ vação metodológica. Dito de outro modo, aceito como axiomática a correção daquela apreensão quase que universalmente sentida

do mundo, mas aceitando-a, é necessário que eu, então, como cien­ tista, clarifique a metafísica. Devo descobrir seus aspectos pura­ mente especulativos ou filosóficos, recolocando-os com sólidas ba­ ses empíricas, com método e lógica apropriados. Aceito que os

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pro-In tr o d u ç ã o 13

blemas com os quais M arx lidou sejam realmente problemas, uma vez que tanto nossa experiência ocidental como virtualmente toda experiência humana parece apresentar um sentir comum da natu­ reza do mundo humano.

Marx. realizou um empreendimento estupendo ao clarificar o que estava em questão na análise de classe, erradicando muita metafísica especulativa na cíêncI£~sõcíaT que desenvolveu, e ela­ borando muitos aspectos de uma metodologia empiricamente ori­ entada, incluindo conceitos cujas regras de elaboração estão impli­ cadas em suas definições. Ele foi, apesar disso, apanhado — ■ como não podia deixar de ser na sua época da evolução Ua história das idéias — por certas dificuldades J^todológicas que ele, em parte, não viu, e\ em parte, vendo, não pôde resolver.

Uma dessas é um dualismo desenfreado que se reflete em sua egeolha de unia lógica — a forma hegeliana de dialética (im pli­ cando mesmo etimologicamente dualismo) — , uipn lógica, cujo empréstimo de Hegcl não^foi compelido por nenhuma necessi3ãijê^ nem mesmo pelo caráter das ideologias existentes na época. Por que Marx optou por uma lógica tão intimamente vinculada à me-ta ís íc a ocidenme-tal, dualisme-ta e especificamente cristã? Como estu­

dante de filosofia durante seus anos de universidade, ele conheceu bastante bem as alternativas. J*or que cie optou por uma meta-lógica que, na verdade, ontologiza a meta-lógica ao fazê-la isomorfa’ aos processos sociais reais (com o em H egcl), como exemplificado na espúria identificação da “contradição” (um a concepção lógica co­ mo seu locus na linguagem) e “conflito” (u m conjunto de rela­

ções humanas) que atormenta todo o pensamento neom arxista?_0 que é visto coWQ_lo%icamciite contraditório, segundo algum axioma

subjacente à lógica, poãe ou não envolver_ conflito, e o conflito pode ou não envolver contradição, a menos que sc parta do aprio•, nsmo_ de que eles são identidades. Esta decisão foi puramente

axiomática, de forma alguma justificada por critérios independen­ tes. Marx era obviamente conhecedor de muito do que estava en­ volvido metaficamente em Hegcl, tornou-o manifesto em suas atitudes relativas a, e na “inversão” daquele grande filósofo-histo-riador, mas o compromisso subjacente mais profundo com o dua­ lismo parece ter-lhe escapado — e a tantos de seus descendentes intelectuais.

Esta não é uma questão trivial, já que não é absolutamente

auto-evidente que as coisas ocorram no universo aos pares, menos ainda em pares cm oposição ou “contradição” (com uma síntese trinitária como resultado). A noção de “ contradição” e, mesmo pior, sua identificação com o conflito é, à luz da metafísica, pro-_.

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fundamente dualista. Estou totalmente convencido de que__gode-jniQS quase sempre demonstrar que as dualidades, especialmente as oposiçÕes, às quais áemos tão freqüentemente status ontológico,

isão um produto de nossos axiomas, categorias e lógica, quando §e vai diretamente ao encontro da experiência. Além disso, o compro­ misso de M arx com a dualidade infundada permeia seus escritos: qualquer leitura intensiva, por exemplo de O Capital, mostra dua­

lidades desnecessárias injustificadas virtualmente em cada pá­ gina.

Onde isso criou o maiorjnúmero de problemas para a ciênçia fcociaI~Ioi na análise de classes, pois os critérios de classe na teoria geral dé- classes-' ^ " criadores versus apropriadores de mais valia o a organização interna de cada um desses agregados assim dife­ rençados — leva necessariamente a uma análise de duas classes.

Pode-se interpretar muitos dos recentes escritos neomarxistas como - íima tentativa para resolver esse dilema quando confrontado com ordens sociais que “resistem” (isto é, “entram em contradição com a teoria” ), sendo intelectualmente encaixadas num molde dual de classes (v er a tentativa fracassada de Millet, 19)* Muitos . de meus trabalhos tTataram deste problema (especialmente 1964a

Cap. 2, neste livro; 1 9 6 7 , 1 9 7 3 ).

Um problema relacionado a isso é que a lógica dualista, dia­ lética fez com que se tratasse a presença da classe como axiomá­ tica ao invés de exigir, pelas próprias regras de correspondência originais de Marx, a demonstração. Este apriorismo, que infesta virtualmente toda análise social corrente na tradição marxista e neomarxista, em vez de redefinir e reordenar a análise de classes clarificando problemas epistêmicos e metodológicos, obscureceu a análise tanto da estrutura quanto da dinâmica p o rq u e^ axioma j jtende à análise dos mecanismos criadores de limites e dos processos] ide automanutenção, bem como respostas conflituosas a ambos por

outras classes (ver Leeds, 1 9 6 4 b ). Sem nos desfazermos disso, não poderemos entender processos “reais”, materiais, a interação polí­ tica e social real, a motivação real individual e de grupo, as varia­ ções de ideologia reais, menos ainda as mudanças em qualquer uma dessas coisas ao longo do tempo.

Meu próprio trabalho envolveu de modo crescente a tentativa explícita de desenvolver, no interior de um quadro de referência do materialismo histórico marxista e da lógica das multiplicidades de “forças sociais” (o termo é de Durlcheim, com seu modelo implícito, indesejável, newtoniano de interação física, mas servirá de momen­ to ), abordagens substantivas e teóricas inais refinadas_e detalhadas

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In tr o d u ç ã o 15

desses problemas. Como indico abaixo, alguns dos trabalhos neste volume fornecem exemplos desses contínuos esforços.

Herdamos outra, dificuldade^ de M arx: sua idenjjficação de bases materiais da sociedade especificamente e apenas na produ­ ção, e, ainda mais, com uma concepção relativamente, estreita, da produção e do produtivo — ambos virtualmente isomorfos àquelas concepções em que aparecem tanto na economia clássica como na neoclássica. Esta é uma identificação axiomaticamente dada, e não

empírica. Pode-se questionar por que M arx a adotou. Onde esta difi­ culdade aparece mais fortemente — pela primeira vez nos próprios escritos de M arx — é na aplicação da teoria marxista geral a casos específicos de análise da estrutura de poder. É muito difícil ajus­ tar a teoria geral de poder (amplamente baseada na análise teó­ rica genérica e necessariamente de duas classes de qualquer socie­ dade com propriedade privada) a uma teoria específica da distri­ buição de poder numa dada sociedade, num momento e lugar da­ tis, ou seja, a um conjunto concreto de condições históricas, como diria Marx — por exemplo, a França do 18 Brumário de Luís Bo- naparte. Apesar do alerta de Marx nos Grundrisse (c a . 1 8 5 7 ) con­

tra abstrações reifiçadas (c f pp 1 8 ) , e de sua intimação de que baseássemos toda análise em realidades concretas, a teoria geral está cheia de abstrações cuja aplicação na análise de caso jé, na melhor das hipóteses, ambiguamente consistente e, na pior, marca-damente inconsistente, com o uso na teoria geral, por exemplo, do conceito de “ modo de produção” . Por vezes ele parece caracterizar toda uma sociedade. No 18 Brumário, ele caracteriza as bases de

várias “classes” e “frações de classes” (nao é nem mesmo claro se havia classes com a amplitude da sociedade cuja apropriação dife­ rencial de mais-valia pareceria necessariamente im plicar) — às vezes parecendo mais grupos de interesse de base ecológica. Essa-ambigüidade permeia toda a análise marxista subseqüente e ê par-;

ticularmente visível no recente ressurgimento de abordagens m ar­ xistas, onde, em instâncias extremas, qualquer variação na organi-; zação da produção torna-se ipso facto “um modo de produção” (c f .

Paul Singer, 1 9 7 6 ). Isso me paree<a uma forma de reduçionismoje* um fracasso em ver ordens mais amplas, mais inclusivas, e mais constrangedoras, para não mencionar a dinâmica interna de uma tal ordem. Por exemplo, a^agricultura de subsistência, um suposto' “modo de produção”, não existe no Brasil como um modo de pro-jdução separado, mais do que a agricultura marginal dos Àpala-í

ches existe como um modo de produção separado nos Estados Unii

dos, mas_antes como um sistema de produção gerado pelo próprio ( modo de produção capitalista, sob condições ecológicas

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especificá-veis. A agricultura de subsistência é um aspecto da produção, ca-capitalista quando ocorre no sistema dc economia ca-capitalista, c não numa economia tribal. Não apenas é uma forma de margínalização relacionada a mecanismos de lucro capitalista, como ;.c também um pjeçanipmo para criar reservas dc trabalho mais ou jiqcüos aütoViíicícntcs fofa dos \pentros * políticos efetivos, 'aa ci 1 dades,.

'Voltemos ao problema do poder. A maior parte da ciência so­ cial, inclusive a marxista, não comprometida com um marxismo ideológico estreito ou vulgar ( uíc h danke der lieber H err Gott dass ich kein Marxism bin9\ disse M arx), reconheceu que há outros

recursos de poder além_daquele^ que residem na produção, ou seja, outras fontes que podem ser usadas no controle de outros atores contra a sua vontade. Qualquer, forma de organização pode scr

usada como recurso de poder" mésmo_ ria ausência de controle sobre òu de acesso aos meios de produção; controle sobre ou acesso à (informação, controle sobre pontos-chavc de tomada de decisão num sistema social, mobilização de massa com ou sem organização for-maí^”êtc.”sãó todo« fontes de poder (ver Cap. I I ) . Marx está cons­ ciente disso — como é óbvio em suas análises de casos e, implicita­

mente, em suas teorias relativas à revolução proletária que deve

ocorrer em virtude da organização, em grande parte ou totalmente ,>na ausência de controle sobre, ou de accsso aos meios de produção. ,5Mas ps axiomas dc sua teoria dialética de classe, com seu modelo substantivo de classes dual e sua lógica teórica de dois valoras, além da suposição de sua isomorfia, não lhe permite lidar com esta consciência sistemática e teoricamente. Ela permanece, na maior parte da teoria marxista, como um produto bastante epife­ nomenal, derivativo e não uma causa: a metafísica da “ estrutura” e “superestrutura” (outra expressão do dualismo subjacente),

t* Ao longo dos anos, tentei romper esse impasse para desen­ volver uma análise mais ampla do poder, “ suas” (observe-sc a rei-.ficação padrão!) fontes tal como se distribuem na sociedade, e a ^dinâmica da mudança inerente a tais distribuições. Minha primei* ; ra. formulação desta abordagem está no Cap- II. Desde então, eu f a refinei e clarifiquei consideravelmente, mã^Tiíaô numa forma sis­ temática publicada. (V er, todavia, Caps. IV , V I e VII* reunidos). Todo o restojdos ensaios (exceto o Cap. I I I , que o precedeu e do qual é, em parte, uma formalização) se desenvolveu a partir dele. »[Deve-se observar que jã o logo alguém especifica ou tras_ fontes de ,fpqder_é possível escapar do beco sem saída da análise dc classes ildual e produzir uma análise multiclasse, semelhante'ao 18 Bru­

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In tr o d u ç ã o 17

Cap. II é uma afirmação clara (la teoria geral para a qual o

Brumário fornece uma história^de caso, na qual os meios de pro­

dução e a mais-valia sâo apenas dois dos vários recursos de poder. Compatível com uma abordagem materialista é o subcampo de investigação biosocial conhecido como ecologia humana. Esta e uma área na qual fiz muitas pesquisas (v er Leeds, 1961, 1964c, Í9 65a, 1965b , 1 9 7 lM s ) e que parece rqfegrado com uma descri­ ção elaborada da organização social e ideologia da produção de cacau na Bahia e outras monoculturas do Brasil através de "seus 450 anos de história em minha dissertação (Leeds, 1 9 5 7 ). Embora nenhum dos trabalhos aqui incluídos seja sistematicamente ecoló­ gico na abordagem» a abordagem ecológica está subjacente a mui-itos jdeles (especialmente Caps. I I e IV ) no embasamento de suas çmálises sociais em condições materiais^ de localização, topográfi? cas, físicas e climáticas. Deve-se notar que grande parte da teoria ecológica contemporânea vê um feedback causal direto a partir dos

objetivos, alvos, necessidades e desejos definidos, mesmo da estética — em suma, da ideologia — das condições materiais que, por sua vez, têm efeitos causais sobre as condições de vida, e conse? qiientemente sobre a ideologia.

Numa forma mais abstrata e formal, a compreensão desse tipo de causas múltiplas em interação é incluída numa abordagem cha­ mada Teoria Geral de Sistemas, que se desenvolveu nos últimos 30-40 anos, a partir de problemas complexos na biologia, engenha­ ria, meteorologia, neurologia, e outros domínios. Sem entrar em detalhes, a Teoria Geral de Sistemas geralmente evita lógicas duais, causalidade linear, epistemologias unitárias impostas sobre experiências fenomenalmente variadas, categorias fixadas ou reifi-cadas tratadas como entidades ontológicas, enquanto que o grau

de variação e conexão desempenha um papel muito maior em abor­ dagens sistêmicas do que na maior parte dos outros paradigmas da ciência social. Surpreendentemente — ou talvez nem tanto — isto é em geral totalmente compatível com a aplicação que Marx

faz de sua própria teoria a analise" de casos; a Jógica de dois valo­ res desaparece em grande medida, a causalidade emana de muitos

loci diferentes no sistema sócio-cultural, incluindo a ideologia, e

desenvolve-se em diferentes direções; a ideologia torna-se uma cau­ sa ativa, não um derivativo T e la tiv a m e n te passivo; as pessoas

reais pensando são também ativamente causais; as categorias são, numa medida considerável, convenções ou conveniências mera­ mente lingüísticas.

Como se sabe, muito do que apareceu sob a rubrica de Teoria Geral de Sistemas foi meramente programático (exceto em suas

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subformas da teoria cibernética e da informação). Além disso, ten­ deu a ser amplamente atemporal e a-histórico. A não-historicidade não apenas não é intrínseca, como, num certo sentido, é contrária'

'aos preceitos mesmos da Teoria Geral de Sistemas. Uma vez que* ala concebe os sistemas compostos de variáveisl revelando diferen-

les^cstadoH em diferentes épocas e ocasionalmente, soli condições es­ pecificáveis, mudando para novas gamas de estados (um a “mudan­ ça de quantidade para qualidade” ) , a seqüência temporal — ou a história ^éjnerente e _ e s s e n c ia l_ à ajmálises sistêmiçaç, especial­ mente nas chamadas situações 3é feedback positivo ou de “ampli­

ficação do sistema” . Muitos dos trabalhos publicados neste volume são informados por uma abordagem sistêmica geral materialista histórica (especialmente os Capítulos II, V e V II, ver também Leeds, 1965b, 1 9 6 3 , 1 9 7 3 , 1974b, 1 975, 1971m a, 1 9 7 5 m s). A Teoria Geral dc Sistemas também fornece alguns paradigmas ex­ tremamente úteis para a análise de sistemas em hierarquias que utilizamos em particular nos Capítulos II, VI e V II, bem como em alguns trabalhos não reproduzidos aqui (ver Leeds, 1 9 6 9 , 1 9 7 5 , 1976a, 1976b, e 197lM s, 1 975m s). Os textos marxistas não são tão claros sobre os diferentes níveis do sistema em hierarquias até o início do último terço deste século, especialmente com o apare­ cimento de André Gunder Frank (por exemplo, 1 9 6 7 ). Seu pen­ samento foi fundamental para toda uma geração de teóricos, in­ cluindo a mim mesmo, e foi precursor no desenvolvimento da Teoria da Dependência que usei algumas vezes (por exemplo, 1 9 6 9 , 1975, 1971 M s-a), embora não mais do que implicitamente nos trabalhos aqui apresentados.

Em suma, todos os trabalhos deste volume, embora, quase sem exceção, sobre alguma questão substantiva tratàda em termos de ma-tçriais etnográfico-sociológicos específicos do trabalho de campo conjunto feito por Elizabeth Leeds e por mim num total de 6 anos no Brasil (ou meu próprio trabalho de campo anterior de um ano e m eio), são também trabalhos teórioos tentando clarificar re­ sultados epistemológicos e metodológicos na análise de classe e ten­ tando estabelecer modalidades específicas ev genéricas da formação e manutenção dos limites de classe. Eles tentam encarar o conflito num quadro de referencia mais amplo do que meramente o do r.oonflito de classes, que é apenas uma categoria do conflito social. Eles tentam desenvolver uma teoria de recursos de poder c conse­ quente comportamento político — uma teoria que, por um lado, inclui o controle dos meios dc produção e mais-valia num conjunto mais amplo de recursos e, por outro, inclui a teoria das restrições (v e r Leeds, 1970 M s) de qualquer ator sobre qualquer outro ator.

(19)

In t r o d u ç ã o

19

Finalmente, eles tentam desenvolver uma teoria que permite que se lide com toda uma gama de atores, de indivíduos a entidades internacionais, num único quadro de referencia. Estas várias preo­ cupações teóricas se foram gradualmente fundindo num sistema teórico mais e mais intimamente articulado, talvez mais bem exem­ plificado, neste livro, pelo trabalho final. Em geral, os trabalhos tentam dar sólidas definições de conceitos-chave, definições que contêm suas regras de correspondência; eles quase sempre indicam onde a quantificação — como um procedimento epistêmico — é desejável ou mesmo está disponível, muito embora quantidades de­ talhadas não sejam dadas freqüentemente. As situações descritas situam-se em “contextos” históricos que não são cenários passados reificados, mas processos estruturados contínuos cujo corte trans­ versal corrente é o presente observado. As análises estão comprome­ tidas tanto com uma compreensão materialista do universo como com uma compreensão dialética nao dualista do mundo material na história.

O Capítulo II rejeita o isolamento conceituai ou substantivo da “ comunidade11, vendo em vez disso recursos de poder possuídos por uma variedade de nós organizacionais sociais, alguns localiza­ dos, outros não. A natureza diferencial dos próprios recursos é tal que nao podem todos ser possuídos por qualquer nó — qUâlquer tipo de ordenação de pessoas — , mas devem ser diferencialmente

distribuídos através da sociedade. Logicamente, segue-se que_ ne­ nhum deles é desprovido de poder, mas, uma vez que os recursos são materiais e, em princípio, quantificáveis, pode ser mostrado que jbs quantidades^ de recursos que dão poder_a qualquer ator social,

podem variar muito. A acumulação e manutenção de recursos de poder tornam-se fatos centrais da sociedade e de sua expressão po­ lítica. Os recursos de poder já distribuídos nas mãos dos atores so­ ciais formam um sistema de restrições sobre quaisquer atores, es­ pecialmente aqueles com pequena ou pouca quantidade de recursos, que tentam mudar a sua distribuição. Metodologicamente, o argu­ mento do trabalho torna necessário específ ícar^todos os recursos poder de uma dada sociedade ou do subsegmento de uma socie-j cfade e mapear todos os atores que formam nós detentores de po3er«;

Este trabalho argumenta que os recursos centrados nas localidades tendem a estar associados aos atores que se encontram em conflito com atores cujos recursos não são localizados, e as localidades, em virtude de suas inserções ecológicas, fornecem certos recursos de poder nao disponíveis aos detentores de poder supralocal ( e vice-versa). O Capítulo II (escrito cm 1 9 6 4 ) é a exposição geral do

modelo de organização descrito no Capítulo III (escrito cm 1 9 6 2 ) e torna-se o trabalho teórico básico para todos os outros. O último,

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na verdade, trata dos vários atores, seus recursos, suas jogadas po­ líticas para obtenção de maiores recursos ou para restringirem uns nos outros o acesso aos recursos. A utilidade do modelo é vista nos últimos trabalhos.

O Capítulo III faz muitas coisas: articula nós sociais (ver Leeds 1 9 6 7 ), que vão de indivíduos a sistemas de classes num único quadro de análise; estabelece como os limites de classe são gerados e mantidos numa dada sociedade e uma categoria de socie­ dades e como as próprias classes são constituídas de unidades so­ ciais menores; argumenta que os traços característicos encontrados no Brasil são genéricos de um tipo de sociedade que representa uma fase na evolução social geral —- posição que não mais sustento. O aparato central de tomada de decisão e de organização do sistema de classe e seus constituintes localizn-se nas cidades — o

locus concentrado da maioria dos recursos de poder. Assim, o tra­

balho é também um estudo da natureza da sociedade urbana (ver Leeds, 1 9 6 7 a ), Algumas considerações do Capítulo ÍII — parti­ cularmente o caráter das panelinhas- e suas. funções.— junto com as

considerações do Capítulo II, levaram ao extenso trabalho de campo sobre populações proletárias, especialmente aqueles segmentos lo­ calizados nas favelas, com os quais o restante dos trabalhos se preo­ cupa.

0 Capítulo IV é talvez o mais etnográfico dos trabalhos, mas levanta ainda alguns problemas teóricos colocando em questão in­ terpretações, modelos e teorias, especialmente a rejeição do concei­ to e da existência de uma “cultura da pobreza” (m ais forte e siste­ maticamente rejeitada em Leeds, 1 9 7 1 ); sua rejeição da conçep-íção de “ imaturidade”, “passividade” , “ fatalismo”, “continuidade tdos valores rurais” e coisas semelhantes que, como se argumenta, jsSo interpretações amplamente etnocêntricas dos cientistas sociais (de classe média urbana (especialmente norte-americanos) que nun-ca participaram das estratégias e tomadas de decisão reais dos pro­ letários nem avaliaram suas bases reais de julgamento nas situa­ ções políticas e outras (v e r E , Leeds, 1 9 7 2 ).

Capítulo V generaliza os achados do Capítulo IV relativos às favelas c moradores das favelas para o proletariado urbano em geral, mostrando como um processo de organização e ideologia de fiasse é " formado em função das estratégias de vida e decisões to-;mndas aob^os conjuntos de restrições estabelecidos contra eles pela j “ classe superior” . Esta última também é discutida, remetendo ao Capítulo II I em termos tanto de sua organização como de seu fra-cionamcnto competitivo interno. As conseqüências em termos de comportamento político para ambas as classes — em suas tentativas

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In tr o d u ç ã o 21

de ganhar aliadQs em_§uasJutas^fracionadas para, acumular recursos — são apresentadas. 0 processo de formação de classe, conflilo c coalisão através das classes esta intimamente vinculado às bases eco­ lógicas da vida urbana.

O Capítulo VI^apresenta um contínuo processo de tentar man­ ter e controlar recursos por parte da “classe superior” nacional urba­ na através de leis, associações, coalisões, e assim por diante •— o oposto dialético, se quiserem, dos Capítulos IV e V II. É também um trabalho etnográfico, complementando o Capítulo IV , que mapeia os recursos, atores e ações dos detentores de poder supralocais. A afir­ mação teórica principal talvez seja a de que fovmas manifestas de controle 'e suas bases de recursos podem variar amplamente, em­ bora visando o mesmo objetivo — não-oculto, “ profundo”, ou mis­ terioso, mas bastante consciente entre os detentores dc poder, mes­ mo se não expresso publicamente a maior parte do tempo.

0 Capítulo V II tenta fazer algumas coisas. Em primeiro lu­ gar discute alguns temas metodológicos das Ciências Sociais cm

termos de suas bases filosóficas, rejeitando muitos dos paradigmas hoje correntes. Em segundo lugar, rejeita especificamente algumas (das posturas adotadas na literatura sobre o comportamento político jda “ classe trabalhadora” ou das “massas” . Em terceiro lugar, ^apre-1

senta plenamente, pela primeira vez neste livro, o paradigma e a uti­ lidade da abordagem geral de Sistema, Finalmente, explica o com­

portamento político em bases estruturais, cm vez de atribuir tal comportamento a características imanentes ou a categorias residuais, em si não explicadas, tais como “cultura”. É dada mais força à ex­ plicação estrutural em virtude da comparação relativamente con­ trolada dc três sistemas políticos independentes, a qual fortifica a interpretação em qualquer um dos casos. Desenvolve mais além as concepções de restrições estratégicas e detenção de recursos, da oposição entre formas de poder da localidade e formas supralocais. De um modo significativo, é uma sínteso de todos os trabalhos an­ teriores.

Esta massa de trabalhos não é merameute uma obra minha e de Elizabeth, mas um trabalho em conjunto com inúmeras outras pes­ soas que contribuíram com idéias, críticas e apoio. É impossível listá-las todas e o que nos deram de diferentes formas, mas gosta­ ríamos, ao menos, sem negligenciar alguém não nomeado, de citar os seguintes: Richard N. Adams, Joseplmaa Albano, Thales de Aze­ vedo, Maria de Azevedo Brandão, Carolina Martuscelli Bori, Ra mi­ ro Cnrdona, Theo Crevenna, Vitória Cruz, Antônio Carlos dos San­ tos, Carlos Nelson Ferreira dos Santos, Manuel Diegues J r ., Jaime Cianella, William Glade, Benedito Guilherme, Peter Nakim, John

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P , Harrison, Bertram Hutchinson, Helan Jaworski, Juarez R u-bens Brandão Lopes, Luís Antônio Machado da Silva, Wjlliam Mangin, Hélio Modesto (e sua fam ília), David Morocco, Angel Pa-lerm, Roberto Pinead, Márcia Koth de Pareder, Maria e Orestes Pinto Paiva, Davi Queiroz, José Artbur Rios, Diego Robles, Alfre­ do Rodriguez. (o fálecjdo Flávío Romano, qrle morreu demasiado jo-jvem e cuja grande habilidade nunca foi utilizada devido a estrutíi-Êja de classes no Brasil, Cecília Rupert, Lawrence Salmen, Ina Du­ tra Savage, Kay Sutherland (então Toness), Odin Toness, Anísio Teixeira, John F.C . Turner, Gilberto Velho, Yvonne Maggie Alves Velho, e Sylvia Wanderley (hoje Caserio de Almeida). Outros que deveriam ser citados nao o serão por várias razoes. Além disso, há muitos milhares de brasileiros e de peruanos que chegamos a co­ nhecer, às vezes transitoriamente, às vezes em algumas de nossas mais intensas relações, que enriqueceram nossas vidas de modo per­ manente. Agradecemos também às várias fontes de fundos para nossos estudos, entre outras o Instituto Nacional de Estudos Peda­ gógicos, A Fundação Ford, a Comissão Fulbright, a Organização dos Estados Americanos (Departamento de Negócios Sociais) e a Fundação Wenner-Gren. Esperamos que o produto tenha valido a vasta quantia que foi despendida no trabalho. Finalmente, agra­ decimentos especiais a Gilberto Velho, que me convenceu a organi­ zar este livro — um abraço para um velho amigo e colega.

Embora a maior parte deste livro seja oriunda de trabalho de <campo conjunto, redação conjunta e reflexão conjunta meus e de Elizabeth Leeds, escrevi a introdução à coleção porque os temas teó­ ricos centrais que a permeiam são mais primordialmente preocupa­ ções minhas, pois venho trabalhando neles há já aproximadamente 15 anos, antes daquele dia feliz em que nos encontramos no Rio, onde nosso trabalho comum começou, e porque o trabalho teórico chave, o Capítulo II, que é subjacente a todo o resto, foi formulado por mim. Novas compreensões, novos problemas subordinados, e uma riqueza extraordinária de dados etnográficos — de fluxo de vida e de vivência sentida, percebida, experimentada e gozada no Brasil — proveio deste caro trabalho conjunto que criou vários mun­ dos de significado para nós ambos e um renascimento pessoal para mim, que vai além dos pálidos agradecimentos em palavras.

I

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Poder Local em Relação com Instituições

de Poder Supralocal

An t e ô n y Le e d s

I n t r o d u ç ã o

Este trabalho é um esforço para desenvolver alguns conceitos e um modelo para tratar de: ( a ) as instituições do estado territo­ rial, ( b ) a unidade social — a comunidade, e ( c ) a unidade

geo-* Publicado originalmente em XJrban A nthropology, org. por Aidan Sou- thall e E. Bruner — Aloine, Chicago.

1 Este trabalho permanece essencialmente como foi escrito em 1964, embora com a ampliação de considerações teóricas, clarificação e precisão

de definições, etc. O texto, elaborado dedutivamente como um modelo, tentou ser de nível teórico e uma espécie de trabalho de posição, par­ tindo do trabalho teórico acerca da natureza de cidades, que eu vinha fazendo há alguns anos. Preocupa-se também, embora isto não tenha sido enfatizado, com problemas espitemológicos, particularmente o status de nossas unidades de estudo. Não pretendeu ser um trabalho de dados ou

monografia abieviada. O material da favela serve apenas como exemplo; não contém portanto» exatamente dados de campo em absoluto, tendo se baseado em três visitas muito breves a favelas, combinadas com alguma leitura. O trabalho de campo subseqüente, de cerca de 20 meses, não apenas confirmou o que eu dedutivamente supunha a partir de recortes de dados, como indicou que o argumento fora pouco enfatizado. Dados do trabalho de campo começam a aparecer como está indicado na biblio­ grafia, mas não são apropriados, no todo, aos objetivos deste trabalho. É minha a responsabilidade de manter a forma originaJ, apesar das crí­ ticas no seminário e das muitas sugestões para a construção da teoria a partir dos dados. Este procedimento indutivo foi deliberadamente evitado porque eu achei — e acho — que ele tende sistematicamente a bloquear uma visão teórica frutífera.

(27)

Po d er Lo c a l e Po d er Su pr a l o c a l 27

.gráfica — a localidade, num único quadro de referência e como uma totalidade única, sistêmica.

Em seus inícios, a Antropologia tratou quase que exclusiva­ mente de entidades sócio-culturais vagamente chamadas de “ tri­ bos” . Estas eram unidades “ naturais”, no sentido de que geralmen­ te possuíam uma língua ou dialeto diversos; compreendiam sistemas ou subsistemas sócio-econômicos; tinham uma série de costumes característicos; e, finalmente, reconheciam-se a si mesmas e eram reconhecidas como distintas pelo uso de algum nome. Tais tribos eram marcadamente constituídas por grupos de localidade autôno­ mos (bandos, aldeias, e tc .), paralelos quanto à ecologia, instituições, conteúdo cultural, etc. O paralelismo permitia o estudo intensivo de um como uma amostra representativa de... todos__os que perten: ciam à_ mesma tribo (o u assim se pensava) porque eles eram su­ postamente comunidades completas.? A partir de amostras deste tipo era possível, ou assim geralmente se pensava, descrever uma “ cul­ tura total” ou sociedade total.

Os antropólogos transferiram este “ método” para o estudo de sociedades complexas quando foram levados a estudá-las pelas exi­ gências da ciência e dos tempos. EIes_continuaram a estudar loca­ lidades que eram tomadas como comunidades e que eram pensad"" como amostras representativas 3a cultura ou sociedade total3 p exemplo, Dollárd, 1 9 3 7 ; Embree, 1939; Lynd e Lynd, 1 9 2 9 ; Obe: T.960;,íPíerson» 1949?; Powdermaker, 1 9 3 9 ; (Wagley, 1953;; W ari

e Lunt, 1 9 4 1 ; W est, 1 9 4 5 ; íWillems, 1 9 4 7 í e muitos outros). Quando começou a ficar claro que tais “unidades” de esti em sociedades complexas nsio são análogas às unidades tribais

cais e não fornecem um quadro da totalidade^'os antropólogos

2 Os dados sobre os índios Yaruro, coletados por Falia (comunic pessoa]), Le Besnerais (1954), Leeds (1964), Petrulle (1939) e R

(comunicação pessoal), demonstram claramente o que pareceram se riações micro-ecológícas de algum significado de aldeia para aldeia vés de vários declives geográficos da área; além disso, os Yaruro xm relações com outros grupos lingüísticos ou "tribos**, cada um dos quais tem relações ecológicas especializadas deatro do sistema ecológico maior dos Uanos onde todos estão. Este gênero de_ dados, do qual pode-se encon­ trar paralelos em algum outro_ liigar do mundo, sugere que a represen- tatividade de comunidades únicas na sociedade “primitiva” c os procedi­ mentos de amostragem utilizados para controlar o tipo de variação aqui mencionado deveriam ter sido qnestionados já há muito.

3 Para o conceito de “cultura total”, ver Kroeber, 1948: 316,-318, e também Leeds, no prelo, “Conclusões”,

í.4 ) Cf. Steward, 1950; Steward, org,, 1956; e a séríe_ de_estydos realizados ' pelo projeto da Universidade Columbia-Estado da Bahia em 1950-52,. cf, \Harris, 1956; Hutchinson, 1957; Wagley, org., 1952. Em relação a isso,

(28)

meçaram a tentar tratar totalidades sócio-culturais com métodos que falhavam em fornecer descrições da dinâmica funcional da mudan­ ça e da resistência à mudança.

Para tais problemas de dinâmica de mXdança, resistência, etc. as velhas concepções, modelos e métodos eram inadequados porque feles na verdade, não lidavam de forma alguma com a “unidade” , sócio-cultural da sociedade complexa como tal, ou seja, com a uni­ dade mais ou menos claramente delimitável denominada estado ter­ ritorial ou país, o análogo apropriado à localidade-comunidade tri­ bal.

Assim, nem^os. antropólogos nem ninguém apresentou mode­ los de uma entidade — por exemplo, os Estados Unidos — na qual os estudos dèTcòmunidade fossem tomados como representantes so-cietais ou reproduções microscópicas desta. Menos ainda apresen­ taram o que poderiam ser as relações entre as comunidades estu­ dadas. Por exemplo, que tipo de relações estruturais, dinâmicas, pode-se dizer que existem entre Plainville, e Yankee City, ou Mid-dletown, ou Elmtown, ou mesmo Hollywood? Onde está o locus

de tais relações? Elas devem ser estudadas nas localidades respecti­ vas? Elas são realmente exemplificadas nas relações internas das pretensas “ comunidades” ? Se o são, como? As condições ecológicas locais e os valores e opçoesculturais aiitoperpetuadores interiiossão. os únicos parâmetros limitadores que governam a organização e as características dessas “ comunidades”, ou os parâmetros limitadores/ | provêm de uma ordem mais abrangente, de fato, a ordem que in-■! clui a localidade A — Plainville — e a localidade B ■— Yankee j'

'.City — num único sistema? Se a úljima possjbijidade é verdadeira;' como este trabalho supõe, então? nós, como antropólogos, não temos jpraticamente qualquer instrumento metodológico para lidar com as! /relações entre Plainville e Yankee City, porque não tratamos antro- !

] pologicamcnte a estrutura social empírica do estado e outras or­ d ens de grande escala nas nações complexas modernas. Este estudo

trata de certos aspectos das questões aqui levantadas.5

as observações que se seguem» de T . Lynn Smith (1947:587), são extra­ ordinárias: " . . . a comunidade rural brasileira não é imediatamente vi­ sualizada e definida... a aldeia não é de forma alguma idêntica à comu­ n id ad e.,. o camponês brasileiro poderia ter sido chamado de o ‘homem sem uma comunidade ". Cf., também, Leeds, no prelo.

5 Tratei de outros aspectos em outros trabalhos. Meu trabalho de 1964 fornece um estudo de caso de como os elementos constitutivos da estru­ tura social articulam as localidades de níveis coordenados e hierárquicos em sistemas nacionais e mesmo internacionais, e constroem nós sociais de diferentes graus que atravessam todos os tipos de localidade. O de 1964 b relata a ecologia local, acontecimentos políticos locais e acontecimentos

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Po d er Lo c a l e Po d er Su p k a l o c a l ^ 2 9 f -• ; . • , : I

A Comunidade ' .

Pela maioria das definições ou usos comuns,0 a comunidade, especialmente como um objeto de estudo, é tomada como uma uni­

dade sócio-estrutural de algum tipo. Em geral, ela tem sido consi­ derada como uma forma de m icrocosm o de ujqaa espécie de macro­ cosmo chamado sociedade total, ou algo equivalente. Sendo assim, os que se dedicam a estudos de comunidade supuseram que estes, por si mesmos, informariam sobre a sociedade total.

Grandes falácias, estão envolvidas nessas suposições. Prim ei­ ramente, não é auto-evidente que o macrocosmo é estruturado como./; o microcosmo. Na verdade, fossem os antropólogos menos ignoran-f

tes em outras ciências sociais, especialmente a ciência política, eco­ nomia e geografia, bem como a formidável economia política do século X I X , seria imediatamente evidente, em bases empíricas, e compulsivamente claro, em bases lógicas, que de forma alguma poderia ser assim. Também, em bases axiomáticas gerais, haveria toda razão para se supor o ^ontrário, ao menos para as sociedades complexas, organizadas em estado.7 Pareceria mais provável axioma-ticamente, que os estudos de localidade nos chamados estudos de comunidade constituíssem entidades especializadas, diferenciadas e diversamente inter-relacionadas de uma sociedade total possuido­ r a de mecanismos institucionalizados para uni-las. A partir de tal ;a.xioma, fica claro que a organização do microcosmo não pode ser

homólsga à do macrocosmo.

Daí se seguiria que o “estudo de comunidade” certamente não

j pode, em qualquer definição útil de comunidade, dar-nos uma des-

| crição do macrocosmo, e conseqüentemente que os limites aparen­ tes dos estudos de comunidade estavam sempre deslocados. Âqui

políticos nacionais num sistema interativo. O de 1967 b dá conta do qua­ dro teórico subjacente a ambos. Em Leeds, no prelo, a relação entre sis­ temas legais nacionais e estrutura social local é extensamente discutida. 6 Observe-se, por exemplo, a afirmação de Murdock (1949: 79) “ (A co munidade) tem sido definida como o ‘grupo máximo de pessoas que nor­ malmente mora junto numa associação próxima3 ”. Firth (1951:27-28) diz que “O termo comunidade enfatiza o componente tempo-espaço, o as­ pecto de se morar junto. Ele envolve um reconhecimento proveniente da experiência e da observação de que devem existir condições mínimas de consenso acerca de objetivos comuns, e inevitavelmente algumas manei­ ras comuns de se comportar, pensar e sentir. Sociedade, Cultura, Co­ munidade implicam-se m u tuam en te...” É interessante que Bredener e Stephenson (1964) nem mesmo tratem da comunidade!

7 Mas também, acredito, para as sociedades tribais, exceto talvez os mais simples tipos de bandos organizados cujas unidades locais são, em sua maior parte, bastante autônomas.

Referências

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