• Nenhum resultado encontrado

Urbana, Trabalho e Valores rias “ Áreas Invadidas’* do Rio de Janeiro e de Lima *

An t h o n y Le e d s e El i s a b e t h Ljgeds

Introdução

Gs_mitos que prevalecem entre os cidadãos das capitaiã e outras cidades tanto do Brasil como do Peru acerca das áreas inva­

didas por_jpftssejrõs )— favelas e barriadas2 — sustentam, por um

lado, que os moradores têm uma organização social e valores alta­ mente rurãis e são desajeitados em relação a e não familiarizados com os modos de vida da cidade, muito embora sejam essencial-j mente voltados para o futuro e desejosos de progredir ou, por outro

lado, pessoasque não desejam trabalhar, são assassinos,

♦ Publicado originalmente em Citcy and Country in the Third World,

1970.

1 Os dados deste trabalho para o R io de Janeiro provêm de oito meses de trabalho de cam po nas favelas e, para Lim a, de artigos por e extensas conversas com Mangiji. e. Xurner, duas longas enirevistas com José Matoa M ar, várias visitas às barriadas, dois meses de pesquisa de Elizabeth Leeds para Turner Jidando com com parações entre as duas cidades. Os termos “ favela” » “ barriada” e “ favelado” (m orador de favela) serão usa­ dos co m o as demais palavras, sem grifo.

2 Tipos de Moradia semelhantes são chamados callatnpas n o Chile, tur-

gurios na C olôm bia, ranchos na Venezuela etc. Dados desses países sugerem que o que encontram os n o Brasil e n o Peru encontra paralelo lá. N ota: Por pedido dos autores, o manuscrito loi publicado exatamente com o foi apresentado, sem mais do que o mínimo necessário para a edição. AJF.

O Br a sil e o M it o da R u ralidade Ur b a n a 87

la d r o e s , m a r g in a is c p ro s titu ta s , c sã o im e d ia tis ta s . c o m p oucjT p r e o c u p a ç ã o c o m o . f u t u r o . A m b o s c o n s id e r a m a s J a v e ia s sep a ra da s e iso la d a s d a s o c ie d a d e m a is a m p la , “ e n c la v e s d e n lr o dn c id a d e ” , u m a e s p é c ie d e jr iü .s t o r u r a l d e c r im in o s o s ^ n o c o r p o p o l u ir™ m e ­ tr ó p o le . J u s tific a tiv a s “ c ie n t íf i c a s ” destes p o n to s d e v ista fo ra m m e s m o d e s co b e rta s r e c e n te m e n te n o s textos d e in u ito s cie n tis ta s s o c ia is , d o s q u a is a lg u n s d o s tr a b a lh o s m a is im p o r ta n te s , c o m o T h e C hildren o f Sanchcz, estã o c ir c u la n d o e m tr a d u ç õ e s p o r tu g u e s a s e e s p a n h o la s n o s r e s p e c tiv o s p a íses3. O passado ru r a l e a im p r e v id ê n ­ c ia d o p o b r e d a fa v e la s ã o s u p o s ta m e n te m o s tr a d o s , ta m b e rn , TTo"

3 Infelizmente, Oscar Lewis não nos deu praticamente qualquer sociolo­ gia urbana das entidades de que está tratando na cidade do M éxicc. N ão parecem ser equivalentes às favelas e barriadas, mas antes os callejones

e cortiços (ver abaixo), sobre os quais praticamente nada é conhecido. Todavia* Lewis parece estar dizendo coisas semelhantes às que disse sobre as vecindades e também sobre as entidades de Porto R ic o que parecem ser equivalentes às favelas ( c f Lewis, 1966a) Bonilla (1961) é também citado regularmente. Os trabalhos muito mais cuidadosos e perspicazes de Pearse praticamente nunca sâo citados na discussão geral. M esm o Pearse . 1958, 62 ), todavia, com ete erros de ênfase, co m o por exemplo, acerca da importância da família, porque ele não consegue ter em mente (a ) que à família é importante em toda a sociedade brasileira, não ex­ clusivamente nas favelas, e (b ) que a família desempenha um papel muito mais restrito na p roporção d o número total e variedade de form as de interações do que ele representa.

Observe-se a passagem que se segue de G oldrich (1965:368), baseada fundamentalmente em O. Lewis e Carolina de Jesus (1962): “ A orienta­ çã o para a margem (sic) se deve à tendência d o pobre urbano da A m éri­ c a Latina de n ã o manter nenhum trabalho regular, mas sim um conjunto de trabalhos irregulares, ou de mudar de trabalho para trabalho, com o um ‘nôm ade d o trabalho*. Se uma pessoa não se consegue se identificar co m um papel ocupacional bastante integrado, então será m enor a proba­ bilidade de se desenvolver uma orientação estável para a política com base em seu status ocupacional, fator que retardaria o desenvolvimento de um sentido de grupo ou consciência de classe, e um conjunto de in­ teresses relacionados.” Ou de n ovo: “ F oi observado por Lewis e outros que trataram da cultura da pobreza que sob Qigssão da priva çã o, os moradores das áreas pobres têm pouca capacidade de adiar a gratificação e exigem um senso de fatalismo e resignação. Assim , relata-se que os favelados jre s p o n d e m à s campanhas políticas com esperança e relativo en­ tusiasmo porque os candidatos vêm à favela distribuindo comida,., roupa ou dinheiro — é talvez a única época em que os políticos demonstram qualquer interesse por essas pessoas. Mas, exceto nessas raras ocasiões, a vida é tão próxim a do. limite do desastre que não é provável que se de­ senvolva uma perspectiva com relação ao futuro. O processo eleitoral não parece ter significado para os pobres porque sua própria natureza é .gradual e abstrata e . . . é pou co provável que os pobres percebam o constitucionalismo com o um todo co m o tendo relação com as suas vidas”

li+ro presumivelmente autobiográfico de Carolina Maria de Jeaus

(1 9 6 2 ), que foi ávida, mas não criticamente, lido pelos brasilei­

ros4.

Examinando estes elementos míticos, A. Leeds já tratou exten­ samente do imediatismo (19 66 b ). O trabalho de E. Leeds (1 9 6 6 ) gobre integração política e o de Moroceo sobre grupo de carnaval (1 0 6 6 ) lidaram efetivamente com o mito do enclave isolado. Mo­ desto (1 9 6 6 ) trata incisivamente da múltipla rede de causas* da qual as favelas são uma expressão. Até Pearse (c f. 1957: 245, 1962) indica claramente, de um modo geral, o erro de uma noção como a de “ marginalidade” e de isolamento em sua discussão da relação dos moradores das favelas com o mercado de trabalho, embora afirme, como suposição, que as instituições urbanas são estranhas e externas aos moradores da favela e, assim, que esta última deve ser essencialmente rural. Ela busca descrever as “ re­ lações estabelecidas pelas famílias com pessoas e instituições estra­

nhas ao grupo de parentesco (n a ) sua integração efetiva na socie­

dade urbana” (1957: 245; o grifo é nosso)* Mangin (1967a) e Turner (1 9 6 7 ) listaram precisamente elementos paralelos deste mito para as barriadas de Lima e, praticamente nos mesmos ter­ mos que apresentaremos aqui, têm indicado seu erro fundamen­ tal. Parece-nos que dados para Porto Rico, Chile e Venezuela tam­ bém demonstram seu erro5.

4 Vários cuidados deveriam ser tomados na leitura de Carolina M aria de Jesus: a) o livro fo i de maneira clara, amplamente organizado por seu descobridor, um jornalista; b ) consideramos bastante possível que na verdade, o livro n ão tenha sido totalmente escrito p o r Carolina; c ) o livro serviu claramente às operações da carreira do jornalista (cf. Leeds, 1964a); d) Carolina n ão é certamente uma representante característica dos dois mil moradores de favelas n o R io que conhecem os, com o m os­ tramos aqui, embora seja concebível que a população das favelas de São Paulo seja diferente. Ê verdade que as favelas de São Paulo são m e­ nores e mais pobres que as do R io .

5 Cf. Caplow et alt (1964) e G . Lewis (1967). A migração dos portor- riquenhos para N ova Y o rk indica em si uma preocupação com o futuro, o trabalho, melhores padrões de vida* uma busca de oportunidades, m o­ bilidade de vários tipos, bem co m o um grau de inform ações sobre as condições além da ilha. Preocupações semelhantes — não características da cultura atribuída à pobreza — estão refletidas num artigo na San Juan Star> 4 de n ovem bro de 1967, que, sob o titulo de “ La Perla G roup Starts Repairs” diz: “ Seis ansiosos castores da seção de São M iguel de Ia Perla criaram um galpão para reparos imediatos de casas destinado a ajudar sua co m u n id a d e ... ‘ construímos o galpão na semana passada por­ que há muitas casas precisando de reparos’ . Baretto disse:' ‘N osso tra­ balho é fazer reparos provisórios de emergência até que as autoridade* governamentais propriamente ditas possam chegar aqui*. O com itê tam­ bém decidiu ajudar as idosas, viúvas e doentes não apenas a consertarem

O Br a sil e o M it o da Ruralid ad e Ur b a n a 89

I Nosso o b je t iv o n este tra b a lh o é m o s tr a r o ca rá te r e s s e n c ia l­

m en te" u r b a n o d a e x p e r iê n c ia e dos v a lo re s d o s m ora ctores d as í a - x e lã s ^ é hãicriadas. F a z e r isto s ig n ific a c o n tr a d iz e r l i t r i n s í c a m ê S í e o ~ m it o d a r u r a lid a d e e d o im e d ia t is m o , e c o n v e r te as s u p o s iç õ e s im p líc ít a s ~ 5 e P e a r s e e m p r o p o s iç õ e s e x p lic it a m e n te v e r ific á v e is — p a ra a m b o s os p a ís e s — q u e e s p e ra m o s m o s tr a r se re m e s s e n c ia l­ m e n te fa ls a s 0. É im p o r ta n te o b s e rv a r q u e a s u p o s iç ã o tr a n s fo r ­ m a d a e m p r o p o s iç ã o c o n t é m a fir m a ç õ e s v e r ific á v e is d e m o d o in d e ­ p e n d e n te : a) q u e as p essoa s e in s titu iç õ e s u rb a n a s sã o e x te rn a s às p o p u la ç õ e s e m q ú e s tã o ; b ) q iíe estas p o p u la ç õ e s n ã o fo r a m , d e m o d o a lg u m , e fe t iv a m e n t e in te g r a d a s n a s o c ie d a d e u r b a n a .

suas casas, mas a ‘fazerem quaisquer construções adicionais necessárias*... O reencanamento de um esgoto que estava vazando em baixo da casa de um vizinho foi feito para evitar possíveis infecções. ‘Havíamos chamado o governo para isso*, disse Baretto, 4mas nada aconteceu, de m odo quo decidimos que nós resolveríamos’ . ” La Perla é um arrabel (favela). C f. O . Lewis, La Vida.

€ Para fazer justiça, deve ser assinalado que uma pequena parte dos dados d o artigo de Pearse (1958) se baseaia numa fonte não citada para 1948, outra parte nos dados do censo de 1950 (sendo duvidoso que os critérios de procedim entos de cam po para os dois conjuntos de dados, que *ão com parados n o artigo, fossem com paráveis). A parte mais importan­ te baseia-se num survey realizado por uma freira em 1955, mas os m éto­ dos de seleção, os procedimentos de cam po e as questões colocadas às

19 famílias utilizadas para entrevistas mais intensivas não são fornecidos. A o contrário, jq primeiro contato de Leeds jçorn_ag favelas fo i apenas .em Í95HTquando José A rtu r R ios estava implementando _as primeiras form u­ lações das políticas d o < j0vern0~de T ã cerd a relativas à f avela;* õíi~seja, já havia um ano e m eio ou mais que ocorria um n ovo tipo de^fintervenção, que n ã o existia quando Pearse esteve lá ._ A m aior parte de nossos dados qyaliíativos é de 1965-66, dez anos de intervalo em relação a õ ” cõntã’tÕ"ííe Pearse» durante o qual, provavelmente, grandes mudanças podem ter ocorrido. Tentam os controlar as mudanças que podem ter ocorrido, obten­ d o as melhores descrições históricas possíveis — especialmente das re­ lações políticas das favelas com seus interesses por tod o o período.^ Tam - jjbém nos esforçam os p o r o b ter um quadro das m udan^^_na_£alítica^3as ílinstitniçSes. pübnças^ p o r g u e estas estabelecem limites para a& oossibilida- jltfê?T~cfe~Tntegração ejn. qualquer èpóca dada (ver abaixo). Para as barria- das, há m elhor material histórico disponível porque M angin, Turner e M atos M ar estiveram em contínuo contato com elas por p elo menos uma década, e o desenvolvimento ecológico urbano das barriadas, que se iniciou mais recentemente que nas favelas, é relativamente bem co ­ nhecido. Para ambos os casos, concluím os que houve menos uma evolu­ çã o de experiência e ideologia dos moradores da favela e da barriada do que uma evolução de sua articulação com a sociedade contextuai (cf. Peatti, 1968, Cap. 2 ). Esta articulação é governada por desvios na polí­

tica ou em necessidades políticas e de outros tipos daquelas agências da sociedade e, crescentemente, pela evolução da estrutura social interna das próprias favelas.

Antes de nos voltarmos para os nossos dados, desejamos fazer duas observações metodológicas e teóricas. Primeiro, uma palavra sobre o termo ^integração11. Ele vem sendo correntemente usado numa vasta literatura sobre sociedades em desenvolvimento de uma maneira determinada por valores, significando em sua essência “ o_ nosso” , isto é3 um tipo de integração americana, “ ocidental” , .“ de­ mocrática” , baseada no “ mercado”^ (c f. Pearse, 1957, também cla­ ramente exposto em Nadler, 1967, e Cliaplin, 1966, sem o em­ prego da palavra)* Daí decorre_que., as outras sociedades sao não- ilitegradas ou desintegradas. Em bases teóricas, metodológicas e dc 'observações, esta visão mantida de forma tao comum, mas incons­

cientemente, é,desprovida de sentido porque implica necessária e

logicamente que a sociedá3e medieval, as sociedades de irrigação,

os despotismos orientais, as sociedades “ tradicionais” , as sociedades arcaicas, as sociedades “ subdesenvolvidas” e^. mesmo as sociedades primitivas, tão caras aos antropólogos, são não-integradas ou desin­ tegradas. Tais visões são despropositadas em Jermos de qualquer teoria, societal generalizada viável. Torna-se evidente que devemos começar a pensar em fojcgias de integração qualitativamente jfjife- rentes, seja como Jipos-ideais, como modelos estruturais empirica­ mente orientados,/ como formas evolutiva^ ou qualquer combinc- ção disso (ver Leeds, 1964-a^. Os_cj£jitIst ás._ _ soty a is d eycyí^m diri­

gir esforços intensivos para a compreensão dessas_formas de_ inte­ gração, em seus próprios termosy _comq_formas viáveis, independen­ tes dos modelos “ americano” ou “ ocidental” .

Uma conclusão a ser tirada dessas observações é que se deve­ ria buscar empiricamente ou prever teoricamente a forma de inte­ gração das favelas e barriadas no resto da sociedade e não fazer suposições teóricas inaceitáveis da não-integração ou desintegração dessas entidades.

Em segundo lugar, como decorrência do que foi dito, as “ áreas invadidas” não podem ser compreendidas empírica ou teo­ ricamente a não ser que sejam examinadas em detalhe como partes de um sistema maior e como produtos da operação do sistema. Es­ pecificamente, nós — assim como aqueles que realizaram trabalhos

de campo nas barriadas — aprendemos, mais com a experiência empírica do que com a teoria7, que nem_as .fqvelas nem ^s barria­ das podem ser adequadamente compxççndidas sem a compreensão de uma ampla gama de* outfõs tipos sóciojesidenciais concorrentes, uma vezjçjue os movimentos para, entre e de favelas ou barriadas.

7 O que se segue teria sido previsível a partir da teoria antes d o estudo de cam po se os cientistas sociais estivessem acostumados a produzir hipó­ teses pensando teoricamente a partir dos materiais empíricos.

O Bra sil e o Mit o da R uralidade Ur b a n a 91

constituem parte do processo de desenvolvimento favela-b^rrlada. migrações nirãl-urbanas e_ urbanização de ^pessoas não- urbanas, e assim por diante^ Segundo Matos Mar (entrevista de 4* de setem­ bro, 1967) e segundo nossa revisão de praticamente toda a litera­ tura sobre habitação no Rio (ou outro lugar do Brasil), nao exis­ tem estudos para Lima ou para o Rio acerca desses tipos residen­ ciais, exceto o de Patch (1 9 6 1 ). Em geral, eles são desconhecidos, a não ser pelo trabalho de Oscar Lewis sobre vecindades no México; o melhor material que temos para o Rio e para Lima é superficial porque se baseia apenas em breves incursões nesses outros tipos de habitação9. Conseqüentemente, todos os quadros da estrutura social e do processo social envolvidos sao, até hoje, incompletos, seja para a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, México, Nica­ rágua ou Peru, os países latino-americanos em que estudos mais exaustivos foram realizados9.

8 N o R io , estes consistem dos tipos listados à esquerda abaixo, ao passo que os equivalentes para Lim a estão listados à direita. D efinições apro­ ximadas são dadas abaixo (cf. Harris e H osse).

a. conjunto conjunto

b. vila urbanizoción popular

c. cortiços caHejones

d. parques proletários vilas de emergencia

e. avenidas viviendas continuas

f. cabeças de p o rco , casas de

côm odos casa de vecindad

g . favelas de quintal corralones

h. favelas barriadas

i. áreas pobres propriamente ditas (nenhum term o que

conheçam os) turgurios, barrios insalubres

a. N o Brasil, um “ projeto habitacional” independente do nível de renda ou de estratificação; a maioria é ocupacionalmente especializada, justifi­ cando-se portanto falar de conjuntos da “ classe trabalhadora1*, b. vilas da classe trabalhadora, c . essencialmente, uma única construção de um ou dois andares divididos em fileiras de apartamentos horizontalmente, em volta de um pátio com prido que contém uma ou duas bicas, tanques para lavar roupa e banheiros. Em São Paulo, o termo foi aplicado a casas de côm odos, d. habitação governamental temporária para a classe traba­ lhadora, feita de madeira; n o R io , na verdade, habitação permanente.

Ainda não descobrimos term o equivalente para Lima. e. filas de casas. / . . . g. construções tipo favela autorizadas pefo proprietário n o quintal ou na frente da casa, para elevar sua renda. h. áreas invadidas por posseiros

i. N ã o descobrimos nenhum termo para o R io — a área extensa de casas outrora razoáveis que decaiu, existente em ruas oficiais e tendo oficialm ente facilidades urbanas co m o água, luz e esgotos.

? Para biografia sobre os vários países, ver Mangin (1967, p. 90, nota 2; e T u m er (1966e) Além disso, para a Colôm bia, ver R euchel-D olm atoff

A Experiência Urbana dos Moradores das Áreas Invadidas

Voltamo-nos, em primeiro lugar, à concepção de “ urbano** na discussão. Um compoagnte do fepômenQ _urbano, que pode ser designado “ o^etEos urbano” foi tratado em detalhe por Harris (19 56 ) e A. Leeds (1957; Capítulos 6 e 7 ) para cidades de 1.500 e 3,500 habitantes, respectivamente, no interior do Brasil. Ambos os autores estão rigorosamente de acordo quanto à ideologia essen­ cial e fortemente urbana mesmo das pequenas cidades no Brasil, especialmente se elas são centros administrativos. Ambos os auto­ res baseiam seus argumentos em noçoes geralmente aceitas acerca do fenômeno urbano sustentadas por autoridades como Mumford, jWirth e outros. A. Leeds, além disso, argumenta ques. mesmo os 'latifúndios tão comuns tanto no Brasil como no Peru são urbano^

na sua organização e orientação, ou seja, sistemas essencialmente Jndustriais orientados para os mercados, atividades e interesses da

ciçlade.

Um segundo componente é a inter-relação complexa, locali­ zada, de grande número de especializações técnicas, sociais, admi­ nistrativas, poJíticas e de outros tipos, qualitativamente diferentes

(cf, Leeds 1965), Um terceiro _çomjipueote que queremos incluir é o simples aparato físico da cidade: utilidades públicas, sistemas de comunicação, transportes, amontoados de diferentes tipos de c®nstrução, etc.

É com relação a características urbanas como essas que os moradores das favelas e barriadas devem ser examinados se se pre­ tende uma avaliação válida da natureza de sua experiência social e de seus valores. Antes que a questão da ruralidade de sua urba­ nidade possa ser discutida profundamente, é essencial ter disponí­ vel alguma sociologia mínima doJugar de-origem-dos moradores. /Muitos surveys simplesmentç indagaram o nome do lugar__de ori- jgem, que foi então arbitrariamente classificado como urbano ou jrural segundo critérios mais ou menos pessoais do investigador — sempre de um grande centro urbano e geralmente com pouca ou nenhuma experiência do “ interior” , como se diz no Brasil, com. menosprezo implícito, mesmo por parte de cientistas sociais. No Brasil, indagar pelo nome do lugar de origem é totalmente inade-

(1953). Para o Brasil: Cate (1961, 1962, 1967), Estado de Minas Gerais (3966), Goulart (1957), Magalhães (1939)., Medina (1964), Pendrell (1967) e Silva (I9 6 0 ). Para El Salvador, existem materiais manuscritos

pelo Sr. Alistair W hite, da Cambridge University; para a Guatemala, R o ­

O Brasil e o M it o da Ruralidade Ur b a n a 93

<quado porque, diferentemente dos Estados Unidos, o nome da sede ‘ administrativa municipal (que é juridicamente a cidade, sem levar em conta o tamanho, fornecendo todos os organismos básicos de governo e administração) e das seções rurais do município são idênticos. Não se pode dizer, ji partir da resposta, sendo d&do ape­ nas o nome do lugar, qual é a experiência cio informante, que tipos de contextos instfrucíõnais ele conheceu, ou a que tipos de valo­ res esteve exposto.

Üm segundo, problema foi lucidamente exposto por Browning e seus associados (1967, também Browning e Feindt, 1967): os fmigrantes que vêm para a cidade ainda bebês, ou mesmo crianças, r, iforam, em estudos anteriores, tomados como nativos de seu lugar/-

jde “nascimento, mais do que de seu lugar de sociaíizaçãq. Esta úl* tima, do ponto de vista de muitos cientistas sociais, é a informação^ mais significativa. Browning et al. (1 9 6 7 ) distinguiram desta for­ ma esses dados ém seus questionários em Monterey, México. Espe­ ramos poder fazer o mesmo, mas como os nossos dados de survey ainda não estão calculados, impressões com relação às favelas do Rio são, por ora, suficientes.

Logicamente, do ponto de vista de uma metrópole como o Rio, sem considerar a migração de cidades para áreas rurais (insignifi­ cante no Brasil), a migração de retorno e migrações de metrópole para metrópole ou intrametrópoles, sao_concebíveis J5 tipos de mi­

gração

rumo

à cidade« onde são possíveis os seguintes pontos de par­

tida ou de chegada: o interior rural ( R ) , o povoado ( P ) , a cidade pequena ( C P ) , a cidade ( C ) , a metrópole ( M ) . Somopte as migra- ções R — M permitem 8 combinações, se todas, algumas, ou nenhu­ ma parada intermediária é calculada. P— M permite 4 combinações. Se, seguindo as características do “ urbano” dadas acima, ou a defi­ nição jurídica brasileira, define-se a cidade como o nível mínimo ur­ bano, entao, das 15 combinações possíveis, apenas 3 (R — P — M; R — M ; P — M ) não têm qualquer cidade pequena ou cidade como degraus intermediários.

De fato, todos os 15 tipos, e, somados a esses, os tipos de migra­ ção inter e intrametropolitanas, mais as combinações das ulíimas com as 15 acima, são encontrados como modelos de migração dos moradores tanto das favelas como das barriadas. Àssim^nio__é s^r- prendente que os migrantes verdadeiramente rurais nas favelas _do Rio sejam poucos. O que é_surpreendente_é_o__seu número mm to