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Estado e seus organismos, como sistemas ou corpos sociais, exercem formas de controle sobre sua própria situação e especifica­

Poder Local em Relação com Instituições de Poder Supralocal

Estado e seus organismos, como sistemas ou corpos sociais, exercem formas de controle sobre sua própria situação e especifica­

mente, é claro, sobre as situações de outros através de uma varieda­

de de instituições. Os objetivos do Estado são dois: primeiro, a co­ ordenação pública, administração e manutenção da ordem em toda a sociedade, e segundo, sua própria manutenção como um grupo de interesse especial, geralmente uma classe dominante e seus repre­ sentantes.

O primeiro, objetivo público do Estado, isto é, a supervisão dos interesses da sociedade, é em si mesmo ambivalente, porque fre­ qüentemente o interesse da sociedade pode corresponder, por diver­ sas razoes, ao interesse privado do Estado em He manter. Esta é a situação no México contemporâneo, onde cada setor da nação ■— negócio, trabalho, campesinato, Igreja, etc., cada um por seus pró­ prios motivos, mas especialmente também o Estado como tal, atra­ vés do aumento de seu próprio poder, objetivos e controle — traba­ lha pelo interesse geral da nação para promover o crescimento, au­ mentar o consumo, ampliar a distribuição e manter a ordem.

Esta dupla jlualidade das finalidades do Estado imprime em suas relações com as localidades uma dualidade, oú talvez até me­ lhor, uma polaridade correspondente. Às duas fmalidades da po­ laridade englobam, por um lado, relações cooperativas precisas sur­ gidas de ^interesses comuns, e por outrg, antagonismos precisos e Juta! Estágios intermediários envolvem cooperações mais ambíguas provenientes de interessesses diferentes que podem ser alcançados por meios comuns; relações bastante neutras de coexistência ambi­ valente ou autonomia generalizada; resistência sem antagonismo aberto, e assim por diante.

Esses vários tipos de relações podem ser vistos como uma es­ pécie de escala. Quando as pressões das instituições supralocais sobre as localidades aumentam, as relações tendem a se^nç£rüiubar para a polaridade. Conforme as pressões das instituições supralocais tornam-se menos. vigorosas ou menos numerosas, a cooperação e a 1 autonomia tendem a aumentar. Às aldeias ou comunidades semi-au- tônomas da Guatemala de vinte, trinta anos atrás, a comunidade al­ deã indiana, o m ir russo sao talvez exemplos do último caso. Embo­

ra, em cada um destes casos, as pressões fossem sem diívida consi­ deráveis, ainda assim, em sua maior parte, elas se restringiam a uma gama muito estreita de instituições, especialmente o imposto em dinheiro, espécie, ou trabalho. E m outros aspectos, a tendência era deixar as localidades entregues a si mesmas para resolver seus pró­ prios problemas internamente. Apenas em circunstâncias especiais ou em momentos de crise do Estado ou da localidade, o primeiro exercia muitas e fortes pressões, inclusive sanções militares, sobre esta última.

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Sempre há, então, uma tendência dual. Por um lado, há o impulso para um acordo comum com as finalidades políticas do Es­ tado e operações associadas a estas, simplesmente porque elas con­ tribuem para a viabilidade da prosperidade da localidade em ter­ mos de ordem pública, bem estar, auxilio, instrumento para relações externas, etc. Por outro lado, há o impulso em direção ao antago­ nismo contra os fins privados do Estado e operações a eles associa­ das (que podem ser meramente intensificações das mesmas opera­ ções que são usadas para os fins políticos públicos, mas a um grau além do suportável) porque estes negam, ou restringem os interes­ ses, bem-estar, prosperidade, etc. da localidade.

Deve-se dizer algo acerca da emergência de estruturas de ne­ gócios e políticas nacionais como entidades supraloeais. Ambos, por motivos estruturais intrínsecos, requerem acesso a grande núme­ ro de pessoas para trabalho de massa, associações, votos e casa se­ melhante, uma condição não necessariamente característica das es­

truturas do Estado. Torna-se crucial para as estruturas de negócio e políticas nacionais, embora cada uma a seu modo, ter acesso di­ reto a, controle sobre e uso de uma massa de pessoas. Conforme as estruturas evoluem, elas requerem novas formas de articulação en­ tre elas próprias, especialmente seus organismos de decisão supra­ loeais, e a massa de pessoas cuja vida cotidiana é amplamente orien­ tada para a localidade no trabalho, nas casas, nas escolas e assim por diante. E m outras palavras, conforme a sociedade evolui, no­ vos tipos de relações complementares e duais entre as localidades e as instituições supraloeais emergem e as antigas desaparecem.^ Qualquer situação histórica dada apresenta combinações de novos e velhos tipos, mas, certamente, os tipos de combinações possíveis numa dada sociedade variarão seqüencialmente com a progressão de seu desenvolvimento.

Além disso, os dirigentes supraloeais de cada um desses tipos de estruturas nacionais são, por um lado, distintos, da .massa de pessoal de suas próprias organizações, e, por outro, vinculam-se en­ tre si. 0 vínculo é necessário porque o acesso ao poderjdedecisao é

em si mesmo um recurso, e* por motivos operacionais e de valor, deve ser mantido entre grupos restritos de pessoas.

Eles não apenas se vinculam uns aos outros, mesmo quando são concorrentes, mas devem também, ao menos num grau míni­ mo, articular-se ao Estado em seu papel de coordenador da sociedade.. Esse vínculos podem girar em torno de fins comuns ou de objetivos discretos — geralmente alcançáveis cooperativa^nente. Ambas as condições são atualmente observáveis no México nas relações entre; o Estado e os partidos, negócios e trabalho, cada um dos quais ten-

dendo a tornar-se estrutura supralocal, mantendo diversas relações complementares, multivalentes^ de oposição, cooperação, e neutra­ lidade com as localidades.

O Estado, por conseguinte, ocupa -^m papel cliave enquanto conjunto de instituições supralocais, primeiro porque ele é um ca­ nal para e coordenador do restante das instituições supralocais da sociedade como um todo e, segundo, porque ele não depende ne­ cessariamente das massas para seus recursos, mas pode exercer con­ trole sobre os recursos, números e organizações em virtude de seus propósitos públicos, no âmbito de comunidade política, de uma ma­

neira relativamente autônoma e indireta.

Em geral, a evolução da sociedade envolve ajustamentos e rea­ justamentos contínuos entre a localidade e as instituições de poder supralocal. Qualquer alteração nos recursos ou nas instituições de controle traz alterações nas relações de poder, alterações essas que podem ser respondidas com mais ajustamentos ainda para compen­ sar as alterações. Os sistemas de Poder, como concebidos aqui, po­ dem portanto ser vistos como um equilíbrio móvel, passando oca­ sionalmente ao desequilíbrio ou, por saltos quânticos, de um estado de equilíbrio a outro.

Estado e Localidade — 0 Caso da Favela

As relações duais ou múltiplas entre a localidade, por um lado, ■e as instituições supralocais estatais e não-estatais, por outro, podem ser clarificadas pelas interações entre um tipo especial de localida­ de e um número de estruturas supralocais. Falo das áreas pobres4 urbanas, e referir-me-ei aqui especialmente a dados de favelas br^ sileiras10 e órgãos do Estado.

* Em inglês, slum. (N. do T .)

10 Num sentido estrito, as favelas não são áreas pobres (slums) , mas são aqui discutidas como tal porque geralmente assim são concebidas e tratadas. Se definimos uma área pobre como uma área de uma cidade com casas decadentes, aluguéis relativamente elevados (em relação ao salário dos moradores), praticamente nenhuma propriedade de casa, ser­ viços abaixo do padrão médio e alta densidade populacional, onde as construções são em geral oficialmente relacionadas no registro apro­ priado de ttulos, então uma favela não é uma área pobre (slum ). As fave­

las, em sua maioria, são áreas em valorização existindo por meio do in­ vestimento privado geralmente de proprietários de casas pobres, mas in­ dependentes, que são posseiros em terras de outros, nas quais, com o correr do tempo, os serviços tendem a melhorar, embora tendam também a estar abaixo do padrão médio. A densidade populacional, como nas áreas pobres (slums) é bastante alta, mas isso é também verdade para ^algumas sólidas áreas de classe “média” e “média-alta” no R io de Ja-

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Resumindo, a favela é uma unidade sócio-geográfica facilmen­ te observável* possuindo todas as formas de organização acima men­ cionadas como íãractCTSticas de localidades. A favela tem uma ecologia, ou sejfi, uma distribuição social de atividades através do território_da_favela„conforme"atopogralia. ;3oíos e outras eòíidiçoes geográficas, Essa distribuição é geralmente governada, por exem­ plo, pelas florestas feeíiadas nas encostas dos morros que dividem o Rio de Jãnêirõ~em segmentos as cpxais constituem esconderijos para criminosos, enquanto que as_ruas" na base dos morros_são locais para lojas e outras atividades econômicas e para o abastecimento de água e energia elétrica. Assim, a favela, territorialmente, se subdi­ vide em zonas socialmente especializadas que moldam suas ativi­ dades diárias,

No conjunto, as favelas mantêm suas própria ordem, um ver­ dadeiro empenho semelhante ao comunitário. Chamar a polícia — uma organização supralocal — é rigorosamente evitado. Todavia, o crime não grassa na favela e mesmo, n a ausência-dos agentes do Estado — ■ a polícia — a .OEíí.epL publica é geralmentejbem estabele­

cida.

A favela é complexarxiepte. organizada.pelo parentesco, pseudo-

parentesco, ambiência, amizade, grupo de trabalho, cliquè, vizinhan­ ça, vínculos associativos e outros tipos de laços. 0 comportamento social da favela compreende um fluxo constante entre estes, pelo menos na medida em que a interação se desenrola dentro da locali­ dade, ponto ao qual volto adiante. A importância da vida associa­ tiva não deve ser subestimada, ao menos no Brasil. Evidência re­ cente indica que muitas favelas têm uma estrutura extraordinaria­ mente elaborada girando em torno de Clubes de Carnaval. Atual­ mente, muitas favelas, ao menos no Rio, têm também associações cívicas que fornecem pontos de organização centralizadores. Da mesma forma, todas as favelas possuem vários tipos de associações religiosas.

Todavia, deveria ser asinalado.que as relações sociais que ocor­ rem numa íavela são predominantemente de tipo pessoal, próximo, fato que levou, muitos autores.a falarem das “áreas pobres11 (n o sen­ tido de áreas ocupadas por posseiros) da América Latina como “ru­ rais11 na estrutura social e de valor (c f , Bonilla, 1 9 6 1 , 1 9 6 2 ; Pear- se, 1 9 5 7 ; e tc ). 0 atributo de ruralidade é conferido muito embora

neiro, como partes da área Sul de Copacabana, com cerca d e 3000 habi­ tantes por hectare (c e d u g, 1965:152, 153). O que s e aplica às favelas do

R io aplica-se também às barriadas de Lima (ver Mangin, 1967; Turner e Mangin, 1963) e áreas ocupadas por posseiros em outras regiões da Amé­ rica Latina.

os moradores de bairros pobres tenhamimigrado não de áreas ruraisT mas' de^idades, onde, presumivelmente, os imigrantes deveriam ter I

aprendido formas de vida urbanas. A v atribuição é conferida até1 quando os habitantes da favela e a própriíTtaveia estiveram in situ

por duas, três, quatro ou mais gerações. Descrições de áreas pobres ou cortiços cariocas da última metade do século X I X (c f. Azevedo, 1891 ) n são notavelmente semelhante às de meados do século X X .

Observadores de favelas parecem ter ficado muito impressio­ nados pelas semelhanças entre a (.suposta) organização rural e a or­ ganização da favela, e daí em diante falaram das favelas como sen­ do rurais em estrutura, ou como sendo enclaves rurais na cidade (Bonflla, 1 9 6 1 , 1 9 6 2 ; Pearse, 1 9 5 7 , 19 5 8 , 1 9 6 1 ), apesar de mui­ tos dados siginificativos que tom avam tais descrições enganosas ou totalmente errôneas.

Quanto a este aspecto, já falei da existência de yií}a_associati- va na favela,, o que é um traço nao amplamente característico das áreas camponesas ou rurais do Brasil. Mencionei um alto grau de especialização ecológica e social. Há também, todavia, outras evi­ dências contrárias a esta ruralidade. Por exemplo, parece que den­ tre aqueles moradores que vieram realmente diretamente de áreas rurais, ocorre geralmente uma rápida modificação no sentido da adoção 'de valores urbanos (c f . Cate, 19 6 2 , 1 9 6 3 , 19 6 7 , e outros). È m segundo lugar, há bastante çvidencia de que a estrutura fami­ liar se altera (c f . Hammel, 19 6 1 , 1 9 6 4 ) por exemplo, no sentido do casamento consuetudinário periódico, de grupos familiares matri- çentrados, de um estreitamento do âmbito operacional para duas em vez de três ou quatro gerações, como no campo. Outra forma de dizer isso é que a distribuição demográfica segundo a idade e o sexo encontra-se muito alterada em relação aos padrões rurais. Ou­ tras evidências serão discutidas [ligadas adiante às relações externas da favela].

11 O cortiço já não existe no Rio, com poucas exceções. Era uma casa de cômodos, construída por especuladores imobiliários para aluguéis de baixo rendimento» numa dupla fileira com um conjunto banheiros em um dos extremos ou no centro do pátio onde se encontravam também tor­ neiras e tanques de lavar que serviam a todo o conjunto de quartos. Grande parte da vida comunitária centrava-se nesses locais comuns da casa de cômodos e em torno das torneiras e tanques. Os moradores do cortiço parecem ter sido um dos focos a partir do qual as populações das favelas começaram a se formar, por volta da passagem do século e pos­ teriormente, na medida em que os cortiços decadentes eram gradualmen­ te destruídos, sendo a maioria substituída por habitações de aluguel mais elevado. Com relação à questão da urbanidade dos moradores da favela, ver Leeds e Leeds, no prelo.

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De todas essas circunstâncias, surge a pergunta: por que as relações próximas — aparentemente “rurais” — existem, ou, se­ gundo o pensamento corrente, persistem na favela. Parece-me que parte_da resposta está não ein suas origens (ou seja, persistência), mas no fato de que estas relações, dadas a ecologia e a demografia da favela, devem forçosamente ser próximas. A outra parte da res­ posta^ a mais_importante, está nas relações da fãveía com o contex­ to süpralocal. Argumento, portanto, que a continuidade a longo prazo daqueles aspectos das favelas que os observadores chamam de “rurais” é uma questão funcional, e apenas incidentalmente

uma questão de origens (ou história), especialmente quando a fa­ vela é considerada no contexto das estruturas e instituições supvalo-

cais, como tentarei mostrar.

Favelas como Localidades “versus” Instituições e Estruturas Supralocais

Como veremos essas características ecológicas, sociais e legais de favelas ou de áreas pobres que estivemos discutindo? As concep­ ções de poder íocal, instituições de poder süpralocal e suas relações, são úteis aqui.

As favelas, faem como as áreas pobres, no Brasil e sem dú­ vida igualmente na América Latina e em outras partes do mundo, confrontam-se com um conjunto de estruturas altamente organiza­ das que controlam os recursos estratégicos, toingm decisões, e ope­ ram com relação à comunidade política como um todo, isto é, supra- localmente. As estruturas operam tanto isoladamente, por direito nato, quanto articuladas entre si, especialmente através do Estado. As exigências supralocais sobre a favela tomam a forma de ta­ xas, aluguéis sobre o solo, taxas sobre serviços, recrutamento, pres­ são ou interferência policial, e, certamente, solicitação eleitoral e recrutamento pára o trabalho. Taxas, aluguéis e impostos^ sobre ser­ viços e instituições similares são instituições supralocais que^drenam de forma notável, os parcos recursos da localidade, seja ela favela ou bairro pobre. Como regra, a organização social da favela apa­ rentemente mitiga, ou melhor, exerce certo poder de resistência con­ tra essas drenagens, a não ser que as exigências sejam impostas de­ masiado opressivamente. Sem o conhecimento dos órgãos supralo- f cais, 3 organização social pode servir para redistribuir os njagros

j recursos entre os moradores da favela ou de áreas pobres por meio

J jde mecanismos de ajuda mútua, ou algo parecido, de forma a di- iminuir a parcela apropriada pelos órgãos. Ela pode opera_c_ fazendo uso “ilícito” dos serviços. Poae ajudar a reduzir ou desviar o pa-

gamento de aluguéis mantendo toda a informação acerca de constru­ ções não autorizadas rigorosamente dentro da comunidade da fa­ vela, onde a entrada de fiscais com objetivos de inspeção é difícil

ou pouco salutar.

A organização social da favela ou área pobre funciona como um sistema de comunicações altamente complexo mas eficaz que, apesar das condições limitadoras sob as quais opera, ajuda a maxi­ mizar as vantagens a serem extraídas dos órgãos externos e seu pes­ soal, e a reduzir a tensão (c f. pp acim a). Estes e vários outros pro­ cedimentos só podem ser desenvolvidos por formas de organização que operam especificamente nas unidades locais, ecológicas.

Todavia, a resistência da favela e do bairro pobre pode ser mais ativa, como hoje no Brasil, onde favelas, geralmente por meio de associações cívicas, têm enfrentado judicialmente práticas de aluguel injustificadas. A lei também foi usada com outros propósi­ tos ultimamente. Ou seja, a favela, como uma localidade, age como uma pessoa jurídica contra a pressão externa. Para fazê-lo, ela se utiliza de instituições associadas aos fins do Estado, quanto à co­ munidade política, tanto contra interesses supralocais não estatais, como contra interesses do Estado como pessoa privada.

* & Todavia, de um ponto de vista externo, o recurso mais impor­ tante da favela ou do baiTro pobre é, certamente, a massa de gente:

num lugar como o Rio, onde talvez 2 0 -2 5 % da população da cidade Vive em favelas “não-visíveis”, estas constituem parcelas signifi­ cativas do eleitorado e da força de trabalho. Constituem também, em potencial, amplas forças de greve e rebelião. Como uma força eleitoral e de trabalho, do ponto de vista das estruturas supralocais, .elas devem ser mobilizadas como meios para alcançar os fins do.

pessoal supralocal; como uma força potencial de greve e desordemJ [elas devem ser contidas ou ativamente reprimidas — tarefas con­

traditórias das instituições supralocais entre as quais estas necessa­ riamente oscilam. Essas relações são características de certos tipos de sociedade nas quais a exploração das massas é importante para a economia e a política, ou seja, sociedades capitalistas e possivel­ mente outras baseadas no lucro privado sobre o controle de recur­ sos.

Essas tarefas jsontraditórias_ prescrevem uma série de relações

j

com a localidade que a localidade, por sua vez, explora tanto quanto possível ou das quais escapa por meio de suas formas próprias de or­ ganizações e pelo uso de seus recursos de poder disponível, extre­ mamente limitados como pode ser a maioria deles. Assim, por exemplo, os partidos, por um lado, e o Estado em seu papeF social, por outro, são levados a fazer favores, realizando trabalhos públicos,

Po d e r' Locai, e Po der Su p r a l o c a l

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provendo o bem-estar e conforto aos moradores_das favelas. Isto é. ocorre uma distribuição de. recursos das estruturas supralocais para as localidades, a çjual* ainda que limitada, ajuda a .assegurar a_yia- Klidpdc da localidade, cujas sanções são a greve, a desordem, a não* cooperaçao, ou mesmo a oposição direta,por meio da eleição, de recursos legais, e assim por diante. Ou seja, uma resposta tanto aos atributos de^síaíus quanto às posições táticas — em outras pa­ lavras, ao poder — é_ produzida.

Por outro lado, quando os organismos supralocais tentam ati­ vamente reprimir, a pressão pode ser minimizada através da orga­ nização flexível da favela ou do bairro pobre. A localidade pode,, por exemplo, usar sua estrutura social para dar sumiço a pessoa~ou| pessoas procuradas pela polícia, fazer com que bens e materiais desa­ pareçam, recusar informação, enganar e iludir com grande consis-i tcncia, e assim por diante. Ninguém e nada pode ser encontrado. A^ única solução para o órgão supralocal é a eliminação da própria lo- calidade. No Brasil, ocorreram exemplos disso, como quando uma favela_do Rio foi queimada com a justificativa' de que estava^ãbri-

gando criminosos.

Em suma, com_relação à organização local da favela, pode.se dizer que a viabilidade e a continuidade a longo prazo das fpvelas como fenômeno pode, de forma considerável, ser garantida por sua efetividade enquanto loci dc poderr para opor-se, desviar-se ou utili­

zar-se das pressões das instituições supralocais no interesse da lo­ calidade, especialmente sob condições altamente tensas. Pode-se di­