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Rodrigo A. Davidson de Sousa-Pinto Militante nº Exmo. Senhor Presidente da Comissão Política Nacional do P.S.D. Dr.

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Rodrigo A. Davidson de Sousa-Pinto Militante nº 237925

Exmo. Senhor

Presidente da Comissão Política Nacional do P.S.D. Dr. Rui Rio

Lisboa, 11 de Janeiro de 2021

ASSUNTO: Carta aberta de um militante de base ao Presidente do PSD Exmo. Senhor Presidente do PSD,

Caro companheiro,

Após uma ausência na participação partidária activa, ocasionada pela desilusão pelo funcionamento interno e não pela desvinculação aos princípios e posicionamento político do partido, em 2016 pedi a reactivação da minha militância com confirmação da minha filiação original. E, assim, voltei à antiga condição de militante de base do partido. É, pois, como militante de base do partido que a si me dirijo. Não me conto, nem ninguém me conta, em qualquer grupo ou facção. Não sou, pois, como se diz, espingarda de ninguém!

1. APOIEI-O, MAS

1.1. Na disputa original pela liderança do partido, apoiei o seu projecto e postura. Apoiei a sua postura de definição e cumprimento de um projecto de seriedade na política pelo bem do país. Embora colocasse, para mim, algumas questões quanto à sua obsessão com o posicionamento ideológico fixado, aparentemente de forma rígida, a um certo centro-esquerda, uma vez que o espaço natural do partido, historicamente, tem-se posicionado num vector de pendularidade pragmática relativa (e, por isso, reformista) e limitada, com o seu ponto de fixação ao centro e o movimento balizado pelos limites dos seus grandes princípios. Isto é, um pragmatismo lúcido e condicionado a princípios inultrapassáveis e não um pragmatismo utilitário, populista, amoral e sem ética. Ou seja, definindo o espaço tradicional do PSD como vivendo entre os limites moderados dos centro-direita e do centro-esquerda, sem deles passar, e nele percorrendo os caminhos necessários à construção justa e eficaz do país, com a flexibilidade necessária para o sucesso, mas sem transigir dos princípios balizadores que formam a identidade própria e cativante da muito especial “social-democracia à portuguesa”.

1.2. Nos movimentos de contestação interna que se seguiram, apoiei-o. Embora defenda sempre que a contestação que nasça do sério debate de ideias e projectos que partam de reflexões e opções intelectualmente honestas sejam bem-vindas, entendo também que os projectos que resultem de opções eleitas devem ter sempre, por regra, o benefício do tempo para que os seus resultados possam ser apresentados aos eleitores no tempo programado seguinte. Excepto, claro está, se e quando venha a minar o próprio processo de escolha seguinte, ou em outros casos de extrema gravidade.

1.3. Nas suas propostas para a elevação da discussão interna e definição das abordagens estratégicas, apoiei-o. Embora achasse que o modelo original do CES carecia de ser antecedido,

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com seriedade, por estudos e discussões locais, só depois debatidas em encontros nacionais com vista à formulação e aprovação de propostas. Desta forma, parece-me, facilitar-se-ia e induzir-se-ia a atracção de muitos à participação em reuniões locais e não apenas as de alguns que pudessem deslocar-se pelo país fora atrás das reuniões. Só assim se atrai a participação política de cidadãos mais interessados na coisa pública que na projecção pessoal. Só assim atrairíamos novos valores e contribuições. Só assim retiraríamos da abstenção os que querem genuinamente participar sem que tenham de o fazer só por convite. Só assim atrairíamos aqueles que procuram encontrar um espaço político que coincida com as suas posições ou que esclareça as suas dúvidas ou dê resposta às suas inquietações, desconfianças e pré-juízos. 1.4. Nas suas declarações de responsabilidade patriótica e apoio às medidas governamentais ou

parlamentares que contribuíssem para o bem do país, apoiei-o. Embora entenda que essas posições devam ser sempre e só asseguradas quando por via de uma frontalidade responsável, pois as experiências de apoio apenas pelo “bem da Nação”, sem substância e sem uma rigorosíssima fiscalização, não tem produzido os melhores resultados na condução a longo prazo dos destinos das nações. Isto, precisamente por poderem representar uma demissão de um dos mais importantes aspectos da democracia representativa: a fiscalização do poder executivo e prevenção do abuso do mesmo, ainda que “a bem da Nação”. Ora, os únicos excessos que podemos estar dispostos a aceitar, serão aqueles que o Direito permite exclusivamente de forma excepcional, e sempre restritivamente, como sejam a legitima defesa, o estado de necessidade e, eventualmente, a acção directa e, ainda, os que nas formas político-constitucionais se possam vir a assumir por via de estados de sítio e de emergência, sempre e só quando acompanhados de verdadeiros poderes de fiscalização e controlo assegurados pelos órgãos representativos e legislativo (parlamento) e judiciais (os tribunais). 1.5. Nas suas posições de defesa da necessidade da reforma do sistema político, apoiei-o na

verdade de muitas das críticas que fez, na intenção de discutir seriamente o assunto e de propor soluções. Embora entendesse que a complexidade e seriedade do assunto não possa passar por medidas que apenas satisfaçam os apetites demagógicos e populistas imediatos em detrimento de uma visão séria de futuro, bem estudada, bem estruturada e bem apresentada. 2. O PONTO DE PARTIDA

Permita-me, senhor presidente e caro companheiro, uma breve incursão por alguns dos motivos de base que conduziram à minha posição que adiante lhe transmitirei. E, ainda que seja por temas e noções básicas e eventualmente consensuais, devemos sempre ir recordando os princípios pelos quais nos orientamos para que, precisamente quando mais precisamos deles, não os esqueçamos.

2.1. A nobreza da política

Com excepção dos extremos, a generalidade das pessoas acredita na nobreza originária da actividade política plural e na necessidade da sua acção sobre a coisa pública. Isto, como emanação da soberania inalienável e residente na comunidade plena de cidadãos. No que não acredita é nos caminhos percorridos e nos resultados causados pelos que dela abusam, assim destruindo a objectividade do que deveria ser a sua acção e a natureza da sua representatividade. Ora, se assim é, não me parece que se deva procurar a necessária e tão falada reforma do sistema político pela limitação da acção política, mas sim pela sua extensão e maior abrangência sobre a escolha de quem a exerce e consequente aumento do escrutínio democrático. Jamais pela sua limitação.

Parece poder ser legítimo então questionar: Não terão os movimentos históricos sido conduzidos a maus resultados na tentativa de reduzirem os riscos de escolha de candidatos errados, ainda

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que norteados por bons motivos? Isto é, ao querermos impor limitações a quem se poderia candidatar a cargos públicos, pela definição de um conjunto de regras e características, não teremos exagerado, criando assim um perfil excessivamente restrito de quem poderia ou quereria ser candidato? Ao limitar excessivamente o perfil não resulta que muitos do que poderiam bem servir a causa pública ficam, à partida, excluídos pela definição da nova classe de elegíveis? Não se terá assim desenhado uma espécie de nova classe política limitada a um conjunto de qualidades reduzida a um ideal pouco permissivo que tudo peneira, assim, quase paradoxalmente, facilitando a mediocridade, ao contrário do que se pretendia? Não teremos sucumbido aos populismos (demagogia) e aos facilitismos condutores da percepção (a pior face do politicamente correcto!), assim entrando num círculo vicioso contribuindo para uma espiral decadente? Isto é, querendo conceber uma nova espécie de “aristocracia” eleita, mas, logrando obter, ao invés, uma caquistocracia?

E nisto, terá o nosso partido responsabilidades? 2.2. O bom exemplo começa em casa

Não poderá a forma como escolhemos os candidatos a deputados estar a contribuir para o descrédito que muitos têm do nosso sistema? Por exemplo, sujeitando-os não só a mal pensadas novas regras de compatibilidade e aceitação populistas, mas integrando-os em listas, sensibilidades e direitos de escolha de órgãos e dirigentes partidários? Não precisaremos nós de rasgo de sentido inverso? De abrir a escolha dos deputados por candidaturas dos interessados, assim escolhidos pelos militantes e posteriormente pelos eleitores? Não poderemos nós, pela forma como temos actuado ou omitido actuar, estar assim a contribuir para o apoucamento da função parlamentar e a limitar a dignidade e a excepcionalidade do seu exercício? Não precisará Portugal de uma visão e um rasgo corajoso no sentido contrário? De que tenhamos a coragem de mostrar que devemos aceitar escolher os bons, os melhores, para esse exercício? Ainda que os melhores o sejam pelo que defendem e como actuam ou possam actuar no espaço público? Ainda que não necessariamente pelas suas virtudes privadas ou preconceitos e pré-juízos de carácter ao sabor das conveniências e novos credos sobre costumes, tão voláteis como o seu próprio tempo? E pagar justamente por isso? Será que, ao contribuirmos para apertar o cerco para encontrar o “candidato-tipo ideal”, não tenha disso resultado a propensão para a definição de um perfil cinzento, obediente e, muitas das vezes, medíocre? Não poderemos, assim, não só ter perdido a confiança dos eleitores como também ter sido necessário manter critérios exagerados de disciplina partidária para assegurar que ninguém tivesse a tentação de representar a sua consciência e a posição dos seus eleitores, mas sim a posição do chefe partidário?

Estas são, creio, questões que temos de nos colocar permanentemente. Estas são questões cujas respostas nos são exigidas pelo país. Julgo que os cidadãos, a maioria, precisa de pessoas que actuem num partido que lhes proponha um rasgo, uma coragem, um reforço ou consolidação da democracia e não da sua contenção a favor de modas e populismos. Não continuamos nós, interna e externamente, com uma postura de paternalismo eleitoral inaceitável, numa sociedade democraticamente já adulta, depois de 45 anos de experiência democrática? A experiência resultou tão bem que temos de perder o medo de acreditar nos eleitores. E, pelo seu voto, nos seus representantes. Este percurso tem riscos? Claro que sim, mas os riscos advirão da escolha dos eleitores e não de uns poucos iluminados. E os eleitores não se enganam? Claro que sim, mas se mantivermos a democracia também eles corrigirão os erros na eleição seguinte.

Ora, para dar o exemplo, e porque continua a ser difícil a forma de participação dos militantes que não estejam já integrados em alguma das estruturas ou correntes existentes, não deveríamos começar por casa? Por fazer uma verdadeira reforma interna? Por abrir os processos internos de discussão, de participação, de candidaturas? Por incentivar, verdadeiramente e sem medos, a

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participação voluntária de cidadãos até aqui independentes que queiram dar o seu contributo, sem ser por convite? De o fazer acreditando que não temos de transigir dos princípios que nos definem e que é por isso mesmo que podemos atrair os que deles comungam?

Mas será possível sobrevivermos, como partido, sem percebermos as razões do afastamento dos cidadãos em geral, e dos seus militantes de forma particular? Como é possível o partido ter-se fechado de forma a que a discussão se faça em circuito fechado? Para se discutir o partido hoje, há apenas duas vias. Ou se faz publicamente nos fora a que se tenham acesso, arriscando ser-se considerado contra o partido, ou se faz por dentro sendo já elemento do aparelho instalado. Ou seja, ou não há, ou está dificultado, o acesso interno à iniciativa de discussão fora do aparelho instalado. Acabaram ou tornaram-se obsoletos os acessos a estruturas de base, como eram muitos núcleos ou secções, sem se terem encontrado alternativas modernas eficazes. Algumas das estruturas que existem dependem da eleição de delegados ou representantes em órgãos ou assembleias que não se reúnem, ou reúnem pouco e sempre com os mesmos participantes, ou sem novos representantes! Como pode um militante de base que não pertença a nenhuma corrente ou facção intervir com eficácia, então? E, como pode um português não militante conhecer o partido e saber se se identifica com ele? Não pode, ou pode muito dificilmente. Não se estranhe, pois, que os portugueses com interesse na participação cívica e política estejam a escolher estruturas independentes e aparentemente mais leves e acessíveis!

2.3. O anti-parlamentarismo

O antiparlamentarismo está na origem de alguns dos piores eventos históricos recentes. Pese embora o actual estado de revisionismo histórico que parece grassar como distracção dos verdadeiros problemas existentes nos dias de hoje, procurando corrigi-los pela reinterpretação histórica, a verdade é que da história recolhemos as lições que nos permitem, entre outros aspectos, identificar os indícios e os comportamentos originários de más decisões e escolhas efectuadas. E, senhor presidente, a permanente crítica ao sistema parlamentar esteve sempre na origem dos populismos e movimentos totalitários que procuraram eliminar essa fonte de fiscalização e garantia: o próprio parlamento. Foi assim, entre nós, com a fundação do Estado Novo, na sua crítica feroz à incompetência do parlamento da primeira república e dos seus deputados, abrindo caminho para a procura de um novo sistema. Foi também assim, nas primeiras propostas que, por influências conhecidas, deixaram de fora a instituição parlamentar dos primeiros programas nos momentos imediatamente seguintes ao 25 de Abril! E, claro, foi assim nos tristes e muitos exemplos além-fronteiras.

Ora, não corremos o risco de voltar por esta via ao ponto anterior? Isto é, de permitirmos o cerco aos deputados com exigências para satisfação de populismos ignorantes, assim encontrando menos bons candidatos? Assim dando lugar a individualidades mais carreiristas, mantendo o percurso de desvalorização do parlamento? Ora, parece-me, que quanto mais o fizermos, também maiores serão as necessidades de assegurar a disciplina do “rebanho” parlamentar, fazendo dele um verdadeiro braço de execução das vontades do poder executivo, assim fazendo desaparecer os verdadeiros poderes do parlamento: o legislativo e fiscalizador por via do representativo. E para tal, entre outras, as propostas de diminuição do número de parlamentares não poderão ser convenientes?

Ora, senhor presidente e caro companheiro, não estará o PSD a enveredar por este caminho que só aparentemente parece ser mais fácil, porque circunstancialmente mais popular? Não se estará a apontar o dedo, em geral aos políticos e em particular ao parlamento, de uma forma prejudicial à manutenção da democracia? É que a mim parece-me que o caminho mais corajoso é exactamente o inverso: o de demonstrar, pela prática, as virtudes do parlamentarismo e dos bons políticos. Mostrar o que fazem pela demonstração da sua qualidade e pela capacidade de

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renovação dos menos bons, mas da manutenção dos melhores! Saber propor as necessárias reformas, mas sempre depois de bem estudadas e discutidas abertamente e não ao sabor dos apetites e sentimentos do momento. Poderá parecer pouco popular, claro, mas com a coragem que se espera do mais português dos partidos. E mais português porque soube sempre perceber o que verdadeiramente queriam os portugueses a longo prazo e o que a história dele exigia. E mais português porque se recusou sempre a ser paternalista, sabendo que os portugueses sabem bem perceber as virtudes da democracia e o que esperar dos seus representantes e dirigentes. Ao não irmos agora ao encontro desse povo adulto, não lhe teremos dado razão para nos virar costas? As verdadeiras razões da abstenção não poderão também estar aí? No corte com a relação próxima que tínhamos com os portugueses, desde a freguesia ao parlamento?

Não estarão os portugueses à espera de que tenhamos a coragem de verdadeiramente modernizar e adequar o sistema eleitoral à proximidade com os cidadãos? Não estarão à espera de saber e discutir se, porventura, um sistema que incluísse uma representação directa e responsável perante os eleitores possa ser implementado, por exemplo, incluindo uma solução mista, entre um círculo nacional e círculos uninominais, de forma a poderem todos saber quem é o seu deputado e como tem actuado enquanto seu representante? Não poderia ser interessante discutir se o subsídio de deslocação dos deputados não faria também sentido exactamente ao contrário: isto é, apoiar a ida de cada deputado, com periodicidade, ao círculo por onde foi eleito, para auscultar e ser auscultado? Para uma democracia representativa e viva, sem necessidade de fugas desresponsabilizantes por via de referendos de conveniência e até, eventualmente, de cobardia? Logo, permitir a discussão séria destes e outros assuntos não seria a prova de que os eleitores esperam para reconhecer que temos uma democracia desenvolvida e adulta? E não deveria o PSD ser o partido que deveria apostar seriamente nessas propostas e discussões? 2.4. Os poderes do parlamento:

Independentemente da arrumação teórica ou maior elaboração das definições da Ciência Política e do Direito Constitucional sobre os poderes do parlamento, os cidadãos reconhecem-lhe um primeiro grande poder: o poder representativo. Nele, pela representação das várias vontades e da soberania da colectividade nacional que é o povo, se exercem os outros dois poderes parlamentares: o poder legislativo e o poder de fiscalização. Talvez para desagrado das mentes mais tecnicistas e imediatistas, no entanto, creio que se deva ainda falar num outro poder (que, aliás, fecha o círculo virtuoso da representatividade parlamentar) ao qual, aliás, se lhe deve o nome de parlamento: o poder de debater, isto é, de contrapor ideias e propostas… falando! Dir-se-ia que este está ínsito nos restantes. Sem ele os outros não se exercem. E é verdade. Mas também é verdade que pode existir sem relação com os outros. É assim que os parlamentos podem debater assuntos da ordem do dia, votos de pesar ou condenação, perguntas ao governo, ou, na plenitude dos seus poderes de representação, tudo aquilo que o representante quer debater em nome do representado. É a maior expressão da liberdade representativa. É, pois, um poder maior e não apenas um poder auxiliar, necessário e/ou conveniente.

O nosso sistema não favorece a constituição de maiorias parlamentares, mas protege a representação proporcional mais alargada. Sistemas como o britânico, optam pelo favorecimento da constituição de maiorias parlamentares que favoreçam a estabilidade governativa. Não será a nossa democracia suficientemente adulta para saber se prefere um deles ou outro ainda? Mas, senhor presidente, uma coisa é certa: qualquer dos sistemas protege e deve proteger a representatividade das várias expressões e correntes existentes na sociedade, o que só se consegue com a existência de parlamentos grandes! E, caro companheiro, por mim, prefiro ter as várias sensibilidades representadas no parlamento actuando nos limites das regras democráticas que as ter nas ruas ao sabor de populismos e messianismos de ocasião! Ou, nas ruas porque não

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as quisemos no parlamento ao diminuir as possibilidades de representação porque parecia ser mais popular falar demagogicamente da diminuição do número de deputados!

2.5. O inconformismo

Tantas vezes se cita Sá Carneiro. Umas vezes bem, outras mal. Umas vezes a propósito, tantas vezes a despropósito. Mas, o que se faz pouco, é invocar o seu inconformismo. E, a valorização do inconformismo de Sá Carneiro, mais que muitas declarações avulsas que se usam e das quais se abusam, é parte maior no seu grande legado. Isto é, perante o propósito definido e o princípio em que se acredita e se persegue, ser capaz de o prosseguir, em frente, até ao fim ou até ser provado ultrapassado ou errado. Ter, pois, a capacidade de fazer rupturas, de não aceitar imposições ou caminhos viciados e incorrectos e, nesse inconformismo, resistir e apostar tudo, ainda que pudendo e devendo ser flexível onde o compromisso não desvirtue o objectivo ou até o fortaleça. Mas, acima de tudo, sem sacrifício dos meios. Outros, que não nós, acham que os fins justificam os meios. Ora, em política, pela raridade do verdadeiro inconformismo informado e pela coerência, honestidade e sinceridade de quem assim se comporta, isto é preciosíssimo. Este é, talvez, um dos capitais maiores de Sá Carneiro. É o seu maior contributo para a atracção que o PSD incutia nos portugueses. É a alma e o cerne do PSD. É o veículo do reformismo. Só recuperando esse inconformismo bem fundamentado e dialogante poderá o PSD recuperar a confiança e a adesão dos portugueses. Mas, não se confunda inconformismo informado com estar ou “ser do contra”! Pelo contrário, é saber propor e percorrer o caminho certo quando muitos não o vêem. É saber dizer não, quando os populismos, os totalitarismos ou outros oportunismos históricos pretendem o caminho fácil. Nem se confunda inconformismo com mera teimosia, onde esta mais não será que exacerbação de vaidades próprias. É aqui, é só aqui, que faz sentido o ponto seguinte.

2.6. Primazia do país e do interesse nacional à frente do interesse do partido

Creio que esta é uma das expressões e sentidos mais abusivos que se tem feito das palavras de Sá Carneiro. Desde logo, porque coloca um problema de definição e posicionamento axiológico, com uma óbvia contradição dos termos, abrindo caminho a que se possa partir do princípio de que os interesses do partido são diferentes dos interesses do país. Ora, tal não pode acontecer, não só porque o PSD gosta da ideia de ser o “mais português” dos partidos, como por não ter sido esse o enquadramento do citado!

Julgo que a ideia correcta terá sido a lição que Sá Carneiro terá querido dar ao partido: a ideia de serviço do partido ao país. Ou seja, a da submissão das aspirações meramente individuais desprovidas de sentido político à da vontade global do partido que é coincidente com o interesse do país. Isto é, a impossibilidade da existência de agremiações (“grupos de amigos”) numa estratégia de utilização do partido para proveito próprio ou de alguns. Ou de colocação do partido numa trajectória diversa da que é a sua, pela mera aspiração do poder pelo poder e não pelo interesse nacional. É aí que se falaria em colocação do interesse nacional à frente do interesse do partido. O que se quer dizer, creio, é que quando o interesse do partido afronta o interesse nacional, então, validando-se o interesse nacional, corrige-se o partido no sentido de voltar a coincidir! Não quer dizer que devemos ir num sentido, o nacional, e o partido noutro!

Nunca Sá Carneiro terá utilizado a expressão, julgo, para significar ou sequer sugerir a saída de cena como partido de oposição quando em oposição ou de partido de governação coerente quando no poder. Seria até essa mesma coerência que nos deveria forçar a prosseguir consensos e pactos nas áreas em que os consideramos essenciais, porque é esse o interesse do partido, e, é o interesse do partido porque é o interesse nacional. Afastando-os onde não os consideramos necessários e úteis para o interesse nacional. Mas nunca abandonando o papel de execução

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quando no governo. E jamais abandonando o papel de fiscalização coerente e responsável quando na oposição.

Nas circunstâncias em que o senhor presidente tem invocado a expressão citada, não de agora, mas desde o início da sua presidência, parece querer colocar várias questões. Não faz sentido colaborar quando é o interesse nacional que está em causa? Não esperam os portugueses que estejamos ao lado do governo quando achamos que este está a ir bem? E por aí fora. No entanto, caro companheiro, dito assim dificilmente se discorda, mas creio que as questões assim colocadas esquecem-se de um princípio fundamental: o da legitimidade. É que o governo vai buscar a sua legitimidade ao parlamento. É uma legitimidade derivada e interpretada pelo Presidente da República. Já a oposição, aliás como todo o parlamento, vai buscá-la directamente aos eleitores. E se do governo se espera que governe, do partido ou partidos que o apoiam se espera que colaborem e concordem, já da oposição espera-se e exige-se que fiscalize. A legitimidade como partido de oposição reside em cada voto que acreditou não só numa proposta diferente, mas na esperança de uma capacidade indeclinável de fiscalizar e controlar o governo como mecanismo de salvaguarda de erros e abusos, mas também de manutenção do sistema. Aliás, propor alternativas, debater a discordância, e até concordar com o governo, devem sempre partir da capacidade de apreciação e fiscalização crítica da actuação do governo. O papel de um partido na oposição não é um papel menor. Pelo contrário, é um papel maior, pois é garante da manutenção do caminho e trajecto constitucional. Assim, não faz nunca sentido desistir do papel para o qual o partido foi eleito: o de oposição, o de fiscalização do governo e da sua acção governativa. Só assim os eleitores perceberão que quando a oposição responsável concorda com o governo é porque, de facto, não se lhe pode ou deve opor. Se assim não fosse, o país teria votado no PSD para ser maioritário e assim chamado a formar governo. Recusar ser oposição responsável é recusar os votos confiados. É, pois, perder legitimidade.

É que, quando a colaboração é de facto necessária, devemos dá-la. Até com orgulho. A isso nos obriga o interesse do partido que é coincidente com o interesse nacional. Mas tal não pode nem deve significar o alheamento do papel que o povo nos confiou. Pelo contrário, significa dar garantias de colaboração atenta e em nome da legitimidade confiada. Significa até redobrada atenção e fiscalização da acção governativa de forma a garantir que esta não se afasta do propósito e do interesse nacional. Significa dizer ao governo que pode contar com a colaboração na medida em que respeitar a lei e o interesse nacional. Significa que não passou a haver uma espécie de “união nacional” de interesses, mas apenas uma confluência pontual. Significa que nenhum governo deve achar-se capaz de governar sem uma séria e competente fiscalização parlamentar. É que, senhor presidente, não há liberdade sem oposição.

3. AQUI CHEGADOS

E, aqui chegados, depois de um apoio, ainda que com reservas ou discordâncias em questões importantes, mas pontuais, a sua actuação, propostas e posições recentes, colocam-me numa situação de absoluta incapacidade de concordância e conformação com estas. E, se na rapidez e voragem dos tempos modernos, tão sincronizados pelo tempo das notícias, dos comentários e dos tumultos nas redes sociais, será já tarde que lhe venho referir os motivos do meu descontentamento quanto às suas recentes posições é, no entanto, ainda no tempo adequado para esperar um regresso ao trilho de onde não se deveria ter saído. Veja-se quais e porquê:

3.1. A reforma político-parlamentar

Já não o posso acompanhar e apoiar nas propostas de reforma parlamentar que referiu e apresentou recentemente. E, se o acompanho na ideia de que a instituição parlamentar perdeu a plenitude da sua dignidade necessária, quer pela percepção geral que dela se tem, quer pelo

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aproveitamento que dela fazem as diversas forças políticas, já não o posso acompanhar na direcção para que aponta a sua ideia de resolução do problema. Como mais acima referi, estou convencido, creia, que a origem do percurso negativo que tem feito a ideia que a generalidade dos eleitores tem sobre as instituições está, não nas próprias instituições, mas nas regras colaterais que os interessados criaram para delas se apoderarem e nelas se manterem. E, nisto, não divirjo de V. Exa. nem das suas opiniões e posturas de inquebrantável seriedade de actuação política. Onde divirjo é nas propostas de soluções! Fez o senhor presidente várias e abordou outras. Referiu a possibilidade de decréscimo do número de deputados. Referiu a necessidade de rever a actuação das comissões parlamentares de inquérito, da comissão de ética, da programação de plenários de temáticas sectoriais pré-calendarizados. E avançou no desmantelamento dos debates quinzenais!

Não podendo ser exaustivo, tomemos este último caso, até porque me parece ser perigosamente sintomático. As circunstâncias de criação da regra de debates quinzenais com o primeiro-ministro é um momento alto da democracia portuguesa que resultou de uma proposta de uma comissão parlamentar que, embora presidida por um socialista, contou com a contribuição de muitos, entre os quais o PSD. Um momento alto da dignificação e aumento dos poderes de fiscalização do poder executivo. E não o contrário.

O velho parlamento britânico, na sua forma especial e tradicional, há muito que mostra a virtude semanal das perguntas ao governo. Aliás, é destas sessões que, não raras vezes na história, quer da Inglaterra, quer do mais lato Reino Unido, se produziram perguntas, decisões e discursos que ecoam ainda nos anais da história (e não me refiro aos recentes episódios de claudicação populista, mas nas mais longínquas sessões de afrontamento aos totalitarismos). Ainda que interrompidas por interjeições de difícil compreensão para os continentais! E, se é certo que outras democracias prescindem do exercício semelhante dos debates semanais (ou quinzenais ou até mensais!), é também certo que a sua história parlamentar democrática é ainda recente de mais para daí tirarmos lições de futuro e garantias de melhor desempenho democrático.

Ora, senhor presidente, a sua recente bravata contra os debates quinzenais não podia estar mais desfasada do que o partido devia defender, creio. Ouvi e li os seus argumentos. Naturalmente que deles se podem retirar verdades. Mas, caro companheiro, não nos deveria aqui interessar a grande política? Os grandes princípios de discussão parlamentar? A protecção que os debates dão para os dias mais cinzentos que possam surgir? Isto é, a garantia de escrutínio, fiscalização, discussão, inquirição, em suma de exercício pleno e livre da função parlamentar? Ora V. Exa. refere vários argumentos de ordem prática e pragmática, mas francamente, o pragmatismo deve ser um instrumento para o desenvolvimento da acção legítima, não para a impedir! Se, como V.Exa. referiu, existir um deputado que qualquer dia pergunte o preço de um quilo de batatas ao primeiro-ministro, pois que pergunte! Está no direito dele. Assumirá a sua responsabilidade perante os eleitores e o seu partido. Compete ao primeiro-ministro preparar-se. Mas antes ter-nos-ia competido a todos criar as condições para que apenas os bons e muito bons pudessem ser deputados. Fizemos o contrário com a obstinação da prossecução de uma satisfação das correntes clientelares, populistas e ignorantes. Indignou-se V. Exa. com o tempo excessivo que os governantes levam a preparar todos os cenários de perguntas que lhes possam ser feitas, ao invés de governarem! Mas, caro companheiro, queremos governantes ou gestores? É que a preparação dos cenários é a tarefa principal dos governantes, aos quais as perguntas quinzenais lhes permitem exercitar essa mesma qualidade! E, claro, de irem dando satisfação do que fazem ou deixam de fazer. Mas como saberão os portugueses, através dos seus representantes, se o governo governa bem? Pelas redes sociais? Não, senhor presidente, pelo parlamento e pelas perguntas ao governo.

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Quero que se possa perguntar, pelo menos de 15 em 15 dias, quem negociou a TAP, quem deu poder ao Sr. Lacerda Machado, quem anunciou que a TAP estava falida antes das negociações com Bruxelas. Quero que o meu representante questione no parlamento se não houve abuso do poder legislativo autorizado pela Assembleia ao Governo em matérias de revisão da lei processual penal, a coberto da pandemia e da postura de que estamos todos de acordo. Quero que se possa perguntar como pode o governo legislar com poderes que não têm sobre matérias que lhe não pertencem. Queria que se pudesse ter perguntado, até à exaustão, o que se passou com o cidadão ucraniano, o Senhor Ihor Homeniuk. Queria que se tivesse exigido no tempo certo a demissão da directora do SEF. Tardando, queria que se tivesse explicado ao ministro que a responsabilidade se sofre por contágio. E, agora, volvido todo este tempo, explicando ao senhor Primeiro-ministro que, ao não ter demitido o ministro, manteve a via de contágio aberta para o próprio primeiro-ministro. E, já agora, queria que se tivesse tido a coragem de propor um fundo de indemnização para as vítimas de violência do Estado ou um prémio internacional para a denúncia de crimes cometidos pelos Estados contra imigrantes – o Prémio Ihor Homeniuk!

Quero, pois, que se possa fiscalizar o governo com a existência de uma verdadeira oposição. Responsável, claro, de acordo quando assim se exija, naturalmente, mas ainda assim, oposição. No lugar próprio, e não apenas ao balcão ou mesas dos cafés, em programas televisivos em guerras de audiências ou em redes sociais para todos os gostos. É que, caro companheiro, não consigo deixar de estar convencido de que quem acha que se perde muito tempo em debates e podia estar noutro lado a governar, é porque delega pouco ou mal. Ser primeiro-ministro de um país não é ser presidente de um conselho de administração de uma grande empresa. Sim, é também gerir, mas é fazê-lo politicamente e sujeitar-se ao escrutínio, sempre.

3.2. A pandemia

A sua declaração de apoio ao governo, logo na fase inicial da pandemia e por ocasião do primeiro estado de emergência foi bem recebida. Quer em Portugal, quer no estrangeiro, como traduzindo uma responsável postura de estado e responsabilidade perante a dimensão do problema. O governo poderia, pois, contar com o PSD para apoiar o seu combate a este flagelo contemporâneo.

Pois, senhor presidente, se o apoiei na atitude de arrimo e postura de responsabilidade perante o problema, recusando colocar obstáculos à necessária acção governativa para combater o problema, já não achei responsável que esse apoio não fosse acompanhado da necessária advertência que faria do PSD o confiável fiel da balança e, por conseguinte, a alternativa responsável ao governo no caso de este não cumprir o que dele se espera e exige. Isto é, deveria o PSD, através do seu líder, ter dado todo o apoio ao governo na concretização de todas as medidas desde que não colocassem em perigo o futuro dos cidadãos e o cumprimento da lei, o que só é possível pelo papel de fiscalização que o PSD se comprometeria a reforçar, sempre responsavelmente. Como atrás referi, a falta deste elemento essencial de controlo e fiscalização, caro companheiro, é não só a demissão do papel do partido, do interesse do país como do mandato que os portugueses confiaram ao PSD: o de ser o responsável fiscal da correcta acção do governo. O que julgo que os eleitores todos esperavam era que o maior partido da oposição tivesse afirmado que “a sorte do governo é a nossa sorte”, porque terá a sorte de cumprir o que se exige, sempre devida e exaustivamente fiscalizado.

Como não o fez de forma veemente e frontal, ainda que até à exaustão, os portugueses ficaram sem a certeza de ter oposição. Logo, sem a certeza de que o governo estaria a ir pelo caminho escolhido, mas sempre fiscalizado. Como não o fez, senhor presidente, deixou ao governo os louros do que foi bem feito (o que não é mau), mas ao PSD a cumplicidade do que foi mal feito (o

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que não deveria ser aceitável). Deixou assim, um trabalho mal feito por parte do PSD. E, portanto, um trabalho longe do interesse nacional.

3.3. A questão dos Açores

Como acima já referi, o PSD tem sido definido em várias ocasiões e por várias personalidades como o mais português dos partidos nacionais. Procurando uns ver nisto um sintoma negativo das idiossincrasias nacionais e outros uma vantagem de carácter numa comunhão global com as características mais marcadamente portuguesas, a verdade é que a expressão lá foi sobrevivendo. Seja por opção ou por ter sido conduzido a essa situação pela história, a verdade é que é esse o sentimento prevalecente quando o voto nos conduz às vitórias eleitorais. Não num sentido nacionalista e fechado, mas no sucesso de propostas para uma comunhão maioritária de projecto, aspirações, linguagem e opções responsáveis. Pelo contrário, quando o PSD se afasta desse carácter de comunhão aspiracional responsável, os portugueses deixam de lhe reconhecer capacidade de intervenção e representação.

E, senhor presidente, quando o PSD inicia percursos de incongruência, tergiversando e comprometendo a sua postura esperada e coerente, coloca-se à margem das opções reflectidas dos portugueses. Coloca-se fora das aspirações de poder em nome dos portugueses. Coloca-se do lado errado da história, sua e do país. É assim quando, irrompe em soluços ou solavancos repentinos, impensados e esporádicos de oposição, como que a fazer crer que afinal é oposição. Sem um plano, sem uma direcção, sem uma estratégia, sem um fio condutor que seja perceptível pelos portugueses. É assim quando de manhã quer processar o senhor Primeiro-ministro e à tarde já acha melhor não. É assim quando se diz em público uma coisa e nas comissões parlamentares se vota outra. Mas, senhor presidente, é também assim quando, afinal para o bem do partido, se permite ir contra o interesse nacional ao colocar o partido na posição de refém de um outro partido com o qual não comunga dos mesmos princípios orientadores.

O interesse nacional, os interesses locais, a coerência, a defesa dos direitos e dos princípios e a honra do serviço público pelo desempenho na política, não podem jamais permitir que o PSD se alie contra quem está contra o Estado e contra o que defende o PSD no seu programa. O palco político, caro companheiro, é de onde se faz ouvir a voz de quem somos e o que queremos. Donde que a importância da mensagem é primordial e não uma circunstância! Como disse César de Pompeia Sula, “a minha mulher não deve estar nem sob suspeita”, originando a expressão “à mulher de César não basta sê-lo, há também que parecê-lo”. E o PSD, por circunstancialismos locais e históricos, nos Açores, não exigiu que os outros se aproximassem de nós assim afastando-os dafastando-os seus extremismafastando-os. Cometeu o erro de se aproximar deles, fazendo assim o caminho de abertura e validação desses extremismos. Não cabia ao outro propor-nos condições para nos apoiar. Cabia-nos a nós apresentar um programa e aos outros seguirem-no ou rejeitarem-no. Também não permitiu que se interpretassem os resultados da mesma forma que exigimos no continente há 5 anos. O nosso sistema eleitoral não nos obriga a uniões contra-natura! Ele prevê governos minoritários. E o nosso programa não prevê claudicação dos princípios! Ele aceita que outros, querendo, nos acompanhem. Mas, senhor presidente, entre afirmações desencontradas entre si e o líder do partido que se anuncia como anti-sistema, sobre se se terão ou não encontrado para acertar pormenores de entendimentos, resultou para os portugueses que, do palco político, se anunciasse uma aliança proibida. E, assim, ao sabor do projecto do outro partido e não dos nossos princípios e do interesse nacional, colocou-se o PSD na posição de refém. E, da posição de refém, jamais se sai incólume. Com isso, arriscou o sequestro de todo o partido por muitos e maus anos. Enquanto sequestrado, permitiu que outros ocupem os espaços deixados vagos.

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4. SOLUÇÃO

No caminho em frente, perante os obstáculos, corrige-se a rota, mas não se volta para trás. Pergunte-se à história, que é para isso que ela Pergunte-serve. E, é isto que o insto a fazer. Tenho-o como homem seriíssimo. Acredito verdadeiramente na pureza das suas intenções. Reconheço-lhe as qualidades já demonstradas na causa e gestão públicas. Gostaria de o ver como Primeiro-ministro. Tenho a esperança que não tenha sido atingido ainda o seu “nível de Peter”, na formulação de Laurence J. Peter. Mas julgo-o também um homem teimoso. De uma teimosia que ultrapassa o inconformismo de que acima referi. Insto-o agora a refrear essa teimosia. Insto-o, portanto, a ouvir os seus correligionários. Não lhe peço a demissão, mas que valide a sua estratégia e permita a proposta de planos estratégicos diferentes. Creio que estamos no limite do tempo possível para dar aos portugueses a certeza do que queremos e como queremos. Sem tergiversar, sem claudicar, sem comprometer o futuro do país.

Ora, senhor presidente e caro companheiro, o que o país espera do PSD, estou convencido, é que se posicione exactamente onde sempre prometeu estar: na frente da reforma. Uma reforma capaz de apontar, sem medos porque com a verticalidade dos seus princípios dorsais e sem o peso de grilhetas ideológicas excessivas e historicamente condicionadas. Uma reforma que resulte do debate sério e descomprometido sobre o sistema político e respectivo sistema eleitoral que se pretende para o país. Uma reforma que parta do próprio PSD, a começar pela forma como são escolhidos os seus eleitos e como actuam nos órgãos em que estão. O país não precisa e o PSD não lhe pode dar missões messiânicas ou revolucionárias. Não precisamos de dirigentes iluminados. Mas precisamos de portugueses sérios e comprometidos com o presente e com o futuro. Precisamos de gente com rasgo e vontade. Mas sempre em democracia, com a democracia e pela democracia.

Pelo exposto, senhor presidente e caro companheiro, entendendo que a direcção do PSD poderá estar a desviar-se do mandato que os próprios militantes lhe confiaram, exige-se, pois, uma clarificação dessa estratégia. Nesse sentido, venho instar V. Exa. para que proponha ao Conselho Nacional que, nos termos do artigo 15º dos Estatutos, venha requerer a realização de um Congresso Nacional extraordinário, com vista ao esclarecimento da actual posição do PSD de forma a, nos termos da alínea a) do número 2 do artigo 14º dos mesmos estatutos, (re)definir a estratégia política do Partido, apreciar a actuação dos órgãos e deliberar sobre os assuntos de interesse para o Partido que têm estado sobre escrutínio público. Mas, caso o senhor presidente entenda de forma diferente, solicito que mo comunique nos próximos dias, sendo que, se nenhum outro militante o tenha feito na altura, também nos termos do mesmo artigo 15º dos Estatutos do Partido Social Democrata, procurarei reunir as 2500 assinaturas necessárias para requerer a convocação de sessão extraordinária do Congresso Nacional.

Saudações social democratas, Rodrigo A. Davidson de Sousa-Pinto Militante nº 237925

Referências

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