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EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O DESENVOLVIMENTO CULTURAL DA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL

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Academic year: 2021

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EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O DESENVOLVIMENTO CULTURAL DA CRIANÇA COM PARALISIA CEREBRAL

Patrícia Celis Murillio. UNESP – Araraquara.

Eixo temático: Aspectos sociais das deficiências

Palavras-Chave: Desenvolvimento, Cultura, Educação Inclusiva. INTRODUÇÃO

À luz do materialismo histórico dialético entendemos que as produções culturais da humanidade são instrumentos de transformação da realidade objetiva. Apropriar-se deste conhecimento implica em nos humanizarmos por meio do conhecimento culturalmente e historicamente acumulado. Diante de uma sociedade em que a maioria dos aparatos e instrumentos, materiais ou não, estão organizados e dispostos para uma situação de normalidade do corpo orgânico, iniciamos nossa questão de pesquisa problematizando o processo da apropriação cultural, pela criança com paralisia cerebral (LEONTIEV, 1994).

A paralisia cerebral, que se dá por uma lesão encefálica, é uma condição atípica do neonato, a qual se manifesta por sequelas motoras, perceptivas e sensoriais de graus diferenciados e encontrar novos caminhos que permitam a esta criança participar e se apropriar dos instrumentos e signos culturalmente e historicamente estabelecidos passa a fazer parte dos novos desafios sociais, o desenvolvimento cultural peculiar da criança atípica (SHEPERD, 1995; JANUSSI, 2012; VYGOTSKI; 2012).

Para a teoria Vygotskiana estudos voltados para educação especial apontam o desenvolvimento cultural da criança como um plano especial de desenvolvimento que constitui uma questão a ser pensada e estudada, sob um enfoque filosófico e pedagógico.

OBJETIVOS:

Compreender como os instrumentos culturais, no processo de apropriação cultural pela criança com paralisia cerebral, se manifestam no interior da educação inclusiva identificando o papel e a importância dos instrumentos para o desenvolvimento da criança atípica de forma a requalificar o desenvolvimento orgânico a partir da internalização da cultura.

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Trata-se de uma pesquisa bibliográfica fundamentada teoricamente pela psicologia-histórico-cultural. As bases teóricas nos permitiu realizar um estudo sobre a criança com paralisia cerebral, a partir das obras de Vygotski, Tomo V – Fundamentos de Defectología. A abordagem teórica de Vygotsky foi o alicerce para entendermos a importância do desenvolvimento cultural peculiar da criança com paralisia cerebral. Uma abordagem Foucaultiana foi fundamental para a compreendermos como os “defeitos” de origem orgânica implicaram historicamente sobre o plano do desenvolvimento cultural. Neste sentido, realizamos um enfrentamento entre a história da deficiência e a importância da apropriação cultural para o desenvolvimento humano.

RESULTADOS: “Defectología”

Para Vygotski (2012), o plano do desenvolvimento cultural da criança com deficiência constitui o principal problema no âmbito dos estudos na Educação Especial da criança com deficiência, ao caracterizar-se por uma falha de congruência na fusão do desenvolvimento orgânico atípico com o desenvolvimento cultural da humanidade.

El niño deficiente no se observa esa fusión; ambos planos del desarrollo suelen divergir más o menos marcadamente. La causa de esa divergência es el defecto orgânico. La cultura de la humanidade se creó em condiciones de certa estabilidade y constância del tipo biológico humano. Por eso, sus herramientas materiales y de adaptación, sus aparatos e instituciones sociopsicológicos están calculados para uma organización psicofisiológica normal (Vygotski, 2012, p.27).

A concepção de uma “defectología” moderna distancia-se do enfoque quantitativo e cronológico estabelecido para o desenvolvimento infantil típico para aproximar-se do processo de ensino e aprendizagem a partir da qualidade deste desenvolvimento, já que, não é mais possível ter premissas negativas do defeito orgânico, assim, com não é possível à prática pedagógica por meio de princípios puramente negativos.

Na criança com deficiência o problema está em como este plano cultural interage com o plano orgânico do desenvolvimento atípico e em como este defeito orgânico é percebido pelo processo cultural.

DISCUSSÃO: O Contexto Histórico Cultural da Criança com Paralisia Cerebral. O direito à vida de pessoas com algum tipo de anomalia ganha reconhecimento na idade média porque passaram a ser reconhecidos pela igreja, como criaturas de Deus, porém, segregados ao castigo da anomalia. Todos os sentidos iniciais dados às anomalias carregavam

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as características negativas e depreciativas do ser humano, mas, a luta social pela ampliação dos direitos humanos, no séc. XX, faz com que os indivíduos socialmente excluídos, por suas deficiências físicas ou mentais, saiam desta condição para serem segregados em manicômios, hospitais, asilos, igrejas (FOUCAULT, 1995, LOPES & FABRIS, 2013).

Neste percurso histórico a Paralisia Cerebral aparece vinculada a diferentes descrições que a identificava aos termos dementes, amentes, caducos e doentes mentais até o final do séc. XIX. Tais conceitos foram, no entanto, desmistificados com os estudos neurológicos de Sigmund Freud, no inicio do séc. XX, ao identificar a Paralisia Cerebral, como uma condição atípica da infância marcando o início da compreensão médico/pedagógica que se estenderá até os dias atuais (FOUCUALT, 1995; LOPES & FABRIS, 2013).

Contudo, a vinculação da educação do deficiente com o campo médico sempre esteve ligada ao estabelecimento de ensino regular constituindo historicamente duas vertentes pedagógicas: vertente médico-pedagógica e vertente-psicopedagógica. Mas, foram as formas diferenciadas de atendimentos em clínicas, institutos psicopedagógicos e centros de reabilitação que subsidiaram algumas das necessidades educacionais da criança com paralisia cerebral (JANUSSI & FABRIS, 2013).

A Declaração de Salamanca, em 1994, e a Lei De Diretrizes e Base (LDB) em 1996 buscaram no final séc. XX caminhos inclusivos que pudessem levar as crianças deficientes das instituições asilares e dos centros de reabilitação para o processo de inclusão escolar. Em dias atuais são estas conquistas de politicas publicas, para as crianças especiais, que determinam que as escolas se ajustem a diversidade dos seus alunos possibilitando a adaptação ou recriação de seus instrumentos e com isto promover atividades mediativas que levem à criança a apropriar-se do conhecimento cultural. A inclusão como processo educativo deve compreender na diversidade a demanda de diferentes recursos que só serão visualizados á medida que entendemos que o reconhecimento de novas necessidades sociais nos leva a novas produções objetivadas da realidade, enfim, nos conduz a equidade (LOPES & FABRIS, 2013).

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

Decorrente de uma trajetória histórica cultural voltada para a produção de instrumentos que estão destinados a pessoas sem anomalias físicas ou mentais, a apropriação cultural pela criança com deficiência, vem ao longo dos séc. XIX e XX, buscando os seus instrumentos e signos peculiares necessários para que o conhecimento possa ser mediado e efetivado.

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Portanto, tanto os instrumentos como os signos culturais são para o desenvolvimento infantil, da criança atípica, de fundamental importância para que o desenvolvimento cultural ocorra de forma congruente ao seu desenvolvimento orgânico peculiar, por decorrência da mediação de novos instrumentos e signos. A adaptação e a recriação dos instrumentos existentes, para o universo da criança sem anomalias, estão gradativamente sendo solicitados de forma a atender novas necessidades peculiares.

Assim, para a criança com paralisia cerebral, temos a necessidade de instrumentos que facilite o seu desempenho motor, perceptivo e sensorial para que a mesma alcance o desenvolvimento cultural da humanidade e se aproprie. Adaptar, criar ou recriar instrumentos sociais, materiais ou não, para crianças com paralisia cerebral, consiste em permitir as mesmas o maior grau de locomoção e de recursos que lhe possibilite a sua interação e ação sobre os objetos culturalmente estabelecidos no seu ambiente.

BIBLIOGRAFIA

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12ª. Ed HUCITEC.

BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica/Secretaria de Educação Especial –MEC; SEESP, 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf.

---,Caderno de Educação Especial. A alfabetização de crianças com deficiência; uma proposta inclusiva. Brasília: MEC-SEB, 2012. Disponível em:

http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/Formacao/Educacao_Especial_MIOLO.pdf.

---,LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 9 ed. Brasília, 2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf.

---,Portal de Ajudas Técnicas para Educação: Equipamento e material pedagógico para educação, capacitações recreação da pessoa com deficiência física: Recursos

pedagógicos adaptados. Brasília. MEC: SEESP, 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ajudas_tec.pdf.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Disponível em:

px?fileticket=7fr0EPRPiY4%3D&tabid=304&mid=1656

FOUCAULT, M. História da Loucura. Tradução Jose Teixeira Coelho Neto. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 1995.

JANUSSI, G.M; A Educação do Deficiente no Brasil: dos primórdios ao início do séc. XXI. 3ª.ed. Campinas. SP: Autores Associados, 2012.

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LOPES, M.C; FABRIS, E.H. Inclusão e Educação. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

LURIA, A.R. Curso de Psicologia Geral. Volume 4. Linguagem e Pensamento, 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994. Capítulo 3. p.61-93.

MARX, K. Manuscritos Econômicos – Filosóficos e outros textos escolhidos. In: Marx. São Paulo: Abril cultural, 1978 (coleção Os pensadores).

MENDES, E.G. Inclusão Marco Zero. Começando pelas creches. Araraquara. SP: Junqueira&Marin, 2010.

VIGOTSKY, L.S; LURIA, L.R; LEONTIEV, A.N. Linguagem Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo; Ícone, 2006.

VYGOTSKI, L.S. Obras Escogídas – Tomo III. Madri, Visor, 1995.

Referências

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