• Nenhum resultado encontrado

relações internacionais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "relações internacionais"

Copied!
112
0
0

Texto

(1)

Aos nossos alunos e colaboradores

Calendário de Atividades e Critérios da Avaliação

Calendário de Atividades do Curso

CRITÉRIO DE APROVAÇÃO

Para aprovação é necessário participar dos fóruns temáticos e realizar a Avaliação Final, com média mínima de 70 pontos. Sugestões para um bom estudo:

As atitudes do estudante a distância, traduzidas em hábitos de estudo, são fatores que ajudam o aluno a persistir e permanecer no curso, determinando o sucesso final. Nossas sugestões para que você tenha um bom aproveitamento são as seguintes:

 administre bem seu tempo - assegure-se de que terá disponibilidade para se dedicar ao estudo;

 consulte com regularidade a agenda e o calendário do curso - o não cumprimento de algumas das datas implicará a sua reprovação no curso;

 procure realizar as atividades dentro dos prazos previstos - eles são planejados de forma a otimizar os resultados pretendidos e a

Aos nossos alunos e colaboradores

Se constatarem que utilizamos – na íntegra ou em parte e sem a devida citação da fonte – obras protegidas por direito autoral, solicitamos entrarem em contato para que, procedente a reclamação, providenciemos a imediata retirada do material indevidamente disponibilizado.

Enfatizamos, contudo, o caráter excepcional, inadvertido e de boa-fé dos procedimentos, pois é nosso objetivo principal difundir o conhecimento e a cidadania, por meio de oferta gratuita, plural e democrática.

Equipe de Educação a Distância do ILB

ATIVIDADES INÍCIO TÉRMINO

Fórum de Apresentação/Ambientação 15/08 (quarta-feira) 21/08 (terça-feira) 1º Fórum Temático 23/08 (quinta-feira) 30/08 (quinta-feira) 2º Fórum Temático 04/09 (terça-feira) 12/09 (quarta-feira) 3º Fórum Temático 14/09 (sexta-feira) 20/09 (quinta-feira) Avaliação Final 14/09 (sexta-feira) 26/09 (quinta-feira) Fim do acesso ao curso 03/10 (quarta-feira)

ATIVIDADE TEMÁTICO 1º FÓRUM

2º FÓRUM

TEMÁTICO TEMÁTICO 3º FÓRUM AVALIAÇÃO FINAL 20

20 20 40

(2)

pontualidade demonstra seu compromisso com o processo de aprendizagem;

 execute as atividades propostas em sequência de unidades/módulos - os exercícios respondidos fora da ordem ficam aguardando a vez para serem corrigidos e você corre o risco de se esquecer de retomá-los;

 sempre que acessar a plataforma, navegue pelos ambientes de estudo para ver se algo novo foi acrescentado;

 a plataforma é o melhor canal de comunicação com a tutoria - recorra preferencialmente ao tutor para sanar suas dúvidas de conteúdo; utilize o botão “Mensagem” no menu “Comunicação”.

 participe dos fóruns de debates - eles são instrumentos valiosíssimos de interação com o grupo, além de integrarem a avaliação.

Leia atentamente o "Guia do Estudante"! Ele contém orientações indispensáveis para seu sucesso no curso!

Guia do Estudante

Guia do Estudante

As orientações abaixo ajudarão você, estudante a distância, a utilizar melhor os recursos didáticos do nosso curso.

Estas instruções visam a auxiliá-lo durante todo o seu percurso, levando-o a um maior aproveitamento e sucesso em seus estudos.

O material didático, elaborado conforme os preceitos da Educação a Distância, está dividido em três módulos, cujos conteúdos são colocados de maneira clara e compreensível.

A tutoria é um importante sistema de ajuda pedagógica do ensino a distância, oferecendo orientação e atendimento às dúvidas sobre os conteúdos. Nossa tutoria é composta de especialistas que atendem a todos os alunos, durante o período do curso.

Página 02

Ao acessar o curso, explore as funcionalidades localizadas no menu lateral:

Mural Visível na tela inicial do Trilhas. Funciona como um canal de comunicação do professor-tutor e da coordenação com os alunos. No mural há lembretes sobre o cumprimento dos prazos das atividades propostas ao longo do curso.

Meu Perfil

(Instruções para salvar foto sua no Trilhas)

1. Na tela inicial do ambiente virtual - Trilhas, abaixo do Mural, clique na aba Meu Perfil; 2. O primeiro dado solicitado é a foto. Clique em Procurar e anexe o arquivo que deve estar salvo em seu equipamento (deve ter a extensão .jpeg ou .jpg para ser reconhecido pelo sistema); 3. Salve e saia do ambiente virtual. 4. Acesse novamente verifique que sua foto estará visível nessa mesma página.

Navegação

No cabeçalho e no rodapé do texto-base, os botões

Próximo/Anterior darão opção de avançar e recuar no conteúdo programático.

Para navegar pelos módulos/unidades escolhidos: na seta, abra o índice e clique na opção desejada.

Observe que, acima do campo de navegação, o sistema informa seu posicionamento no texto-base até o número da página.

Comunicação:

Fale com o tutor/colegas

Espaço onde você envia e recebe mensagens dos participantes do curso. Basta clicar sobre a imagem do tutor ou colega a quem quer endereçar a mensagem, redigi-la e salvá-la. Para responder, você deve clicar na foto do destinatário.

Fórum

Ambiente de interatividade do grupo. Ao clicar em Fórum, o quadro é aberto abaixo do texto-base.

Clique no "Tópico" do fórum desejado. Localize o tema proposto pelo tutor e clique no botão “responder", localizado no box da própria mensagem, preencha o campo de título e registre sua postagem, clique em “salvar”. Proceda da mesma forma para comentar as postagens dos colegas. Observe as três formas de participação: comentário ao tema principal, comentário aos participantes e comentário do tutor. Escolha a

(3)

MÉDIA PARA APROVAÇÃO – 70 PONTOS. É necessário realizar todas avaliações propostas.

Certificação Eletrônica: Decorridos 10 dias após a data de conclusão do curso, entre com seu nome de usuário e senha e clique no ícone Emitir certificado. Você terá a opção de imprimir o CERTIFICADO e uma DECLARAÇÃO com o conteúdo programático. Poderá também salvar o arquivo, para posterior impressão. Caso deseje uma impressão especial, bastará utilizar papel com gramatura ou textura diferenciada.

Para os inscritos a partir do segundo semestre de 2011, o ILB passou a fornecer autenticação digital, cujo código consta do certificado e que pode ser acessada na página inicial (a mesma em que é feito o login).

Sugerimos que você imprima seu certificado em cores e com gramatura (espessura da folha) específica para diplomas.

forma de visualização: todos os comentários e comentários em árvore.

Apoio: Caderno

Ali você poderá fazer anotações durante o estudo e resgatá-las, modificá-las ou copiá-las a qualquer momento. É possível colar anotações trazidas de fontes externas.

Arquivos

Neste espaço você irá visualizar arquivos adicionais oferecidos pelo seu tutor.

Glossário

Acesse verbetes de termos e expressões importantes presentes no texto-base. (Para acessar, digite o termo ou expressão, ou busque pela letra inicial. Você também pode clicar em "ok" sem preenchimento, e aparecerão todos os verbetes. Para abrir, basta clicar sobre o termo ou expressão.) Note que, no próprio texto-base, as palavras e expressões que conduzem a verbetes vêm com um tênue sublinhado - clicando sobre elas, você também acessa a respectiva explicação.

Bibliografia

Referência de obras utilizadas na elaboração do conteúdo, e de obras complementares, visando a ampliar, para o aluno, o universo de fontes de pesquisa.

Links relacionados

Acesso à listagem de links de interesse, relacionados ao curso/disciplina. Primeiro, você visualiza a tela de "Categorias", que servem para organizar os links em temas específicos, facilitando sua busca. Em seguida, dentro de uma dada categoria, aparecerá a listagem com os links, para acesso.

Versão para

imprimir Se quiser imprimir uma página ou toda uma parte do texto-base, este é o local para fazê-lo. O sistema gera um arquivo com extensão .pdf. Certifique-se de que tenha instalado em seu equipamento programas que permitam abrir arquivos com tal extensão.

Avaliação:

Objetivas

Este é o local onde se podem realizar todos os procedimentos relativos às autoavaliações propostas. As questões são corrigidas pelo sistema e não são consideradas na composição final da nota.

Discursivas

Local destinado a realização da avaliação final do curso. É possível salvar cada versão do trabalho, para garantir a memória das alterações. Ao concluir a atividade, clique no botão “Salvar e finalizar” para ser disponibilizada para correção. É aconselhável que elabore suas respostas em editor de texto pessoal para, então, copiar e colar as respostas no local adequado.

ATENÇÃO! Não reproduza material de terceiros. Sua resposta pode conter trechos de citação, desde que a fonte seja informada.

Painel de desempenho

Local onde você visualizará toda a sua trajetória de fóruns e avaliações, com as respectivas notas atribuídas e médias resultantes. Fique atento aos parâmetros avaliativos determinados pela instituição. Observe a legenda para verificar o andamento das suas atividades.

(4)

página 03

Confira os ícones utilizados neste curso:



Apresentação

Bem-vindo ao curso!

Cada vez mais o estudo das Relações Internacionais adquire relevância, sobretudo diante do processo de globalização e do crescimento do intercâmbio de informações, bens, pessoas e serviços entre os entes internacionais. Nesse contexto, o Brasil necessita ampliar sua atuação em diferentes áreas da Política, do Direito e da Economia Internacional.

O Poder Legislativo, em virtude de suas atribuições e competências constitucionalmente previstas, ocupa papel de destaque nas ações de Política Externa. Daí a importância da preparação de seus quadros no tocante a fundamentos das Relações Internacionais e questões internacionais contemporâneas.

Assim, o Instituto Legislativo Brasileiro promove, dando continuidade ao Programa de Educação a Distância para os quadros do Poder Legislativo, o presente “Curso de Relações Internacionais: Teoria e História”. O objetivo é instruir os cursistas a respeito de relações internacionais, permitindo-lhes a eficiente aplicação em suas atividades de assessoria parlamentar ou governamental.

O público-alvo do curso é constituído por servidores públicos, com destaque para aqueles que atuam no assessoramento de tomadores de decisão nos três Poderes. Além dos servidores, podem realizar o presente curso todas as pessoas interessadas em relações internacionais e questões internacionais contemporâneas: profissionais liberais, membros do corpo diplomático, estudantes, entre outros.

Acesse o texto sugerido Assista ao filme ou ao vídeo Avaliação Final do Curso Atenção Autoavaliação Comunique-se! Curiosidade Avaliação Final de Unidade Para refletir Você sabia? Literatura sugerida Objetivo de aprendizagem

Pesquise na

Internet

Conclusões Não perca! Suporte técnico

O Núcleo Web do ILB oferece apoio a problemas de acesso ao ambiente virtual de aprendizagem e orientações para a utilização dos recursos e ferramentas de EaD.

E-mail: ilbead@senado.gov.br

(Identifique a mensagem, informando seu nome completo e o curso em que está inscrito.)

Telefone: (00+55) (61) 3303-1475

Horários de atendimento ao aluno virtual: 10h às 12h e 15h às 17h (dias úteis)

(5)

O cursista contará com o apoio dos tutores, que estarão disponíveis para esclarecimentos e orientações. O contato com os tutores do curso é feito por meio do "Trilhas", a nova Plataforma de Educação a Distância do ILB.

Lembramos, finalmente, que este é um curso introdutório. Há muito a ser explorado no estudo das Relações Internacionais. Esperamos que o presente curso sirva para despertar o interesse sobre essa temática tão intrigante.

Desejamos que você tenha excelente aproveitamento neste curso introdutório às Relações Internacionais: Teoria e História! Bom proveito!

A equipe organizadora do curso.

Módulo I - Conceitos Elementares e Correntes Teóricas das Relações Internacionais

Unidade 1

As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas Unidade 2

Conceitos Fundamentais Unidade 3

Correntes teóricas das Relações Internacionais Unidade 4

O Realismo Unidade 5

Sociedade Internacional: Aspectos Gerais

Unidade 1 - As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo: Dilemas e Perspectivas

Nesta Unidade, são tratados alguns dilemas e perspectivas relacionadas à questão das Relações Internacionais. Serão abordados os temas:

-As Relações Internacionais no Mundo Contemporâneo e a Globalização -A Importância das Relações Internacionais para o Brasil -Relações Internacionais como Disciplina Independente

Em um curso de educação a distância por meio da Internet, o estudante tem um papel central no estabelecimento de uma relação de qualidade com o conteúdo proposto. Portanto, procure organizar-se para ter o melhor aproveitamento possível

do curso.

Objetivos

Ao final desta Unidade inicial, o aluno deverá estar apto a:

# identificar os principais pontos da agenda de relações internacionais contemporâneas; # estabelecer o conceito e as características da Globalização;

# estabelecer a importância das relações internacionais para o Brasil;

# assinalar a evolução histórica e a importância de Relações Internacionais como disciplina acadêmica.

(6)

pág. 01

AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Conexão Mundo é uma série de 20 programas sobre relações internacionais que oferece informações necessárias à compreensão dos novos processos de intercâmbio entre as nações. Os programas enfocam toda a história das relações entre os povos, os tratados e políticas para a nova ordem internacional e procuram desvendar conceitos como o de “globalização”, “blocos econômicos” etc.

As últimas décadas do século XX foram marcadas pela intensificação das relações entre os povos, de uma maneira como nunca experimentada anteriormente. Cada vez mais, as distâncias estão menores, tempo e espaço perdem o significado que tinham para nossos pais e avós, e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre dois pontos é uma tecla”.

O século XXI chegou trazendo grandes conquistas: o mundo está menor, globalizado, interligado física e eletronicamente; pode-se tomar café em Londres e almoçar em Washington; as fronteiras perdem sua importância; o sistema internacional vê-se cada vez mais integrado; a tecnologia alcança milhões de pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último século do segundo milênio presenciou uma evolução tecnológica inimaginável! pág. 02 O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO Vídeo

Antes de iniciar os estudos desta unidade, assista ao primeiro video educacional da série: Conexão Mundo ("Aldeia Global Mundo Digital" - as duas partes), disponível na página do ILB.

O termo globalização pode ser entendido como fenômeno de aceleração e intensificação de mecanismos, processos e atividades, com vista à promoção de uma interdependência global e, em última escala, à integração econômica e política em âmbito mundial. Trata-se de conceito revolucionário, envolvendo aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos. Registre-se, ademais, que essa é apenas uma das várias conceituações do fenômeno, o qual não é recente, mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX.

Um dos aspectos mais importantes da globalização envolve a ideia crescente do “mundo sem fronteiras”. Isso é perceptível em termos como “aldeia global” e “economia global”. Poucos lugares do mundo estão a mais de dez dias de viagem, e a comunicação através das fronteiras é praticamente instantânea.

Em nossos dias, com as economias interligadas, blocos se formam, com consequências que ultrapassam os benefícios econômicos, pois as conquistas sociais e políticas de um membro do bloco logo deverão chegar aos territórios de todos os outros. Princípios como a democracia e a prevalência dos direitos humanos podem ser defendidos e arguídos em troca de benefícios econômicos. Cite-se, por exemplo, o caso de países como Grécia, Portugal e Espanha, que, para serem aceitos na então Comunidade Europeia, tiveram que promover importantes mudanças econômicas, sociais e políticas. Omesmo se aplica à turquia, que aspira a torna-se parte da moderna Europa.

No caso do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), há a chamada "clausura democrática", a qual estabelece que apenas países sob regimes democráticos podem participar do bloco. Essa cláusula evitadas alternativas autoritárias em alguns países do Mercosul, em momentos de crise institucional

Assim, o atual processo de globalização envolve a integração econômica mundial em diversos níveis, com a redução das distâncias em virtude do desenvolvimento de mecanismos de produção e distribuição de bens em escala global, e do fortalecimento dos meios de comunicação. Nesse contexto, novos Atores, como as organizações não governamentais, as empresas transnacionais, a opinião pública e a mídia, ganham destaque ao influenciarem a conduta dos Estados.

Link

(7)

pág. 03

DILEMAS DA GLOBALIZAÇÃO

Entretanto, a globalização também é marcada por problemas em escala mundial. Nesse sentido, há a criminalidade que ultrapassa as fronteiras dos Estados, com organizações criminosas exercendo suas atividades ilícitas de maneira organizada e internacional. Crimes como o narcotráfico, o tráfico de armas, o tráfico de pessoas e de animais e a pirataria, todos esses há muito não são problemas exclusivos de um ou outro país, mas são questões globais que devem ser encaradas globalmente. E a base do crime organizado é a lavagem de dinheiro, que movimenta cerca de um trilhão de dólares por ano no mundo, ou 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

Assim, ao lado das grandes conquistas, há novos e grandes desafios: parte significativa da população mundial ainda permanece no século XIX. Nações ricas e prósperas convivem com Estados que comportam milhões de miseráveis. Alguns locais do globo ainda não saíram da Idade Média! Novas e antigas doenças afligem milhões. Cite-se, ainda, a parte significativa da raça humana que sofre com a fome, a pobreza, as guerras. A sociedade internacional presencia crises econômicas, políticas, culturais e sociais. E o destino da humanidade permanece uma grande incógnita.

pág. 04

MEIO AMBIENTE, DIREITOS HUMANOS, CONFLITOS INTERNACIONAIS

No último quartel do século XX, a proteção ao meio ambiente passou a ser uma das grandes preocupações da comunidade internacional, não só na área governamental, mas também entre todos os habitantes da terra. A Conferência do Rio de Janeiro de 1992 exerceu essa salutar influência, e multiplicaram-se nas últimas décadas os tratados sobre todos os aspectos ambientais, tanto assim que se calcula em mais de mil os tratados internacionais assinados sobre meio ambiente.

Também a proteção aos direitos humanos é um assunto em voga, sobretudo quando notícias de violações a esses direitos nos chegam de todas as partes do planeta. No moderno sistema internacional, agressões contra uma pessoa devem ser consideradas crimes contra toda a raça humana. O intenso trabalho das cortes internacionais de direitos humanos na Europa e no continente americano – da qual foi presidente o brasileiro Antônio Augusto Cançado Trindade – refletem essa nova realidade.

Ademais, à medida que nos aproximamos uns dos outros, surgem também os conflitos, outro componente marcante da agenda internacional desde sempre. E no extremo dos conflitos, temos a guerra, sob suas diferentes formas. Nesse sentido, o século XX foi marcado por uma grande quantidade de guerras pelo globo, inclusive com dois conflitos que envolveram praticamente toda a sociedade internacional.

De fato, uma das grandes certezas do século XXI é que nele ainda presenciaremos o fenômeno da guerra. Entretanto, alguns cogitam mesmo que a guerra no século XXI não será mais entre países, mas entre civilizações (HUNTINGTON, 1998).

Em caso de dúvidas, contate o seu tutor por meio da Plataforma de Educação a Distância do ILB (menu "Comunicação" - "Mensagem") ou por e-mail. Ele está à sua disposição e pode ajudá-lo.

pág. 05 Uma leitura essencial sobre o tema é o artigo de Paulo Roberto de Almeida, “Contra a

Antiglobalização”.

Link

Para maiores detalhes sobre a lavagem de dinheiro e de seus efeitos no mercado internacional, vale conferir: ODON, Tiago Ivo. Lavagem de dinheiro: os efeitos macroeconômicos e o bem jurídico tutelado. Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 40, n. 160, p. 333-349, out./dez. 2003.

Outro importante tema de relações internacionais neste mundo globalizado envolve os problemas ambientais. Cada vez mais a humanidade toma consciência de que as questões ambientais não podem ser tratadas como assuntos internos dos Estados e que os danos ambientais ultrapassam as fronteiras. A terra é um corpo único e seus recursos ambientais são patrimônio de todos os seres humanos e das futuras gerações. Daí que os males causados ao meio ambiente afetam toda a humanidade.

Convém registrar que, para Relações Internacionais como disciplina acadêmica ou área do conhecimento, empregaremos iniciais maiúsculas, enquanto que, quando nos referirmos ao objeto de estudo, usaremos o termo em minúsculo.

(8)

IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Eis, portanto, o grande paradoxo global: ao lado de grandes conquistas, grandes desafios! E é nesse contexto que se percebe a necessidade de conhecimento das relações internacionais. Atualmente, quem não estiver informado sobre o que ocorre no mundo poderá ver-se bastante limitado, pessoal e profissionalmente.

Hoje, a sociedade internacional está tão interligada, tão integrada em um processo de globalização, que situações ocorridas na China podem afetar a nós, brasileiros, do outro lado do planeta. Daí que o problema do outro passa a ser também um problema nosso, e o bem-estar de cada homem passa a significar o bem-estar de toda a humanidade. Nesse contexto, se você não é parte da solução, é parte do problema!

O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Como quinto maior país do globo em população e dimensão territorial, e estando entre as maiores economias do planeta, com condições e pretensões de se tornar uma Grande Potência, o Brasil não pode se furtar a ter um papel de destaque nas relações internacionais. As transformações e acontecimentos no mundo globalizado farão cada vez mais parte de nosso dia a dia em uma tendência praticamente irreversível.

Estamos estrategicamente localizados, com fronteiras com praticamente todos os países sul-americanos e com o Atlântico como principal via para a Europa e a África. Ademais, somos uma nação tida como pacífica e respeitadora do direito internacional e com incontestáveis atributos de liderança regional. Finalmente, não devemos desconsiderar nossas maiores riquezas: os recursos naturais e um povo multiétnico, empreendedor e, nos dizeres de Gilberto Freyre, com suas peculiares “características antropofágicas”.

Pouco significativa diante de suas potencialidades é a atuação brasileira no cenário internacional. Apenas nas últimas décadas do século XX é que o Brasil começou a se fazer mais presente. Isso coincide com o surgimento e o desenvolvimento dos primeiros cursos de Relações Internacionais no País e com o aumento do interesse nas questões internacionais por parte de diversos setores da nossa sociedade.

É premente a necessidade de que os brasileiros tenham algum conhecimento de Relações Internacionais. Na Administração Pública, essa demanda é mais evidente. No Poder Legislativo, é fundamental que aqueles que assessoram os legisladores conheçam as principais linhas da política internacional tão bem quanto conhecem a política interna brasileira. Afinal, política interna e política externa estão estreitamente relacionadas: as ações daquela afetarão e serão afetadas por esta e vice-versa.

Vídeo

Assista à aula proferida pelo Professor Doutor Joanisval Brito Gonçalves, por ocasião do curso presencial ministrado no ILB, no primeiro semestre de 2008. Aumente o som de seu equipamento e bons estudos!

Duração: 5min24 Caso não consiga visualizar:

1) seu acesso ao Youtube pode estar bloqueado;

2) pode precisar atualizar o Flash Player (http://get.adobe.com/br/flashplayer/)

(9)

pág. 06

AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS E A CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

A importância das relações internacionais também pode ser percebida na maneira como o tema é tratado na Constituição Federal. A Carta Magna, já em seu Título I, referente aos “Princípios Fundamentais”, estabelece, no art. 4º, os princípios que regem as relações internacionais do Brasil:

Ainda no que concerne à Lei Maior, também os direitos e garantias fundamentais estão intimamente relacionados às experiências vivenciadas pela comunidade das nações ao longo de sua história. Foi graças às revoluções em países como a Inglaterra, a França, os EUA e a Rússia, e à difusão desses princípios para além de suas fronteiras, que o mundo moldou uma cultura de direitos fundamentais que hoje são inquestionáveis em todo o planeta. E a violação a esses direitos gera repulsa da comunidade internacional.

Vereshchetin (1996), por exemplo, vê no que chama de “fator direitos humanos” um dos principais meios de retomada de uma cultura mínima de proteção internacional no pós-Guerra. O relacionamento entre Estado e indivíduo, que tradicionalmente foi objeto de preocupação de leis internas, não mais pode ser considerada uma questão puramente doméstica dos países.

A Constituição da Rússia de 1993, por exemplo, trouxe como princípio a incorporação das normas internacionais ao sistema jurídico interno e a prevalência dos acordos internacionais dos quais a Federação Russa faça parte, caso estes estabeleçam regras que difiram daquelas estipuladas em lei interna. Isso tem se mostrado uma tendência constitucional em vários países. Quando não há dispositivos legais expressos, as cortes constitucionais têm dado o rumo da interpretação.

Na década de 1990, as cortes constitucionais da Hungria e da Polônia, por exemplo, decidiram que a Constituição e as normas internas deveriam ser interpretadas de tal forma que as normas internacionais geralmente aceitas tivessem força efetiva.

Há, portanto, sinais de uma crescente interdependência até mesmo no campo jurídico no mundo, e o Tribunal Penal Internacional nada mais é do que uma expressão e consequência disso.

pág. 07

O PODER LEGISLATIVO E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

As relações internacionais do Brasil passam efetivamente pelo Poder Legislativo. Em nosso sistema jurídico-político, quaisquer tratados que o Brasil celebre com outras nações ou com organizações internacionais devem necessariamente passar pelo aval do Congresso Nacional antes de serem ratificados.

O art. 49 da Constituição Federal de 1988 é claro ao estabelecer, logo nos dois primeiros incisos, as competências exclusivas do Congresso Nacional:

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

Um sítio interessante para o estudante e o profissional da área de Rel é o Inforel, que traz cobertura atualizada das questões de relações internacionais e defesa nacional, além de artigos com análises interessantes (disponível em LINKS RELACIONADOS no menu APOIO).

•Independência nacional;

•Prevalência dos direitos humanos; •Autodeterminação dos povos; •Não intervenção;

•Igualdade entre os Estados; •Defesa da paz;

•Solução pacífica dos conflitos; •Repúdio ao terrorismo e ao racismo;

•Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; •Concessão de asilo político.

II – autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar

(10)

E o Senado Federal, por sua vez, tem atribuições mais específicas, pois é a Casa Legislativa que avalia e aprova nossos embaixadores, autoridades máximas das missões diplomáticas brasileiras, designados para representar o País no Exterior. Compete também ao Senado autorizar

as operações externas de natureza financeira dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Cada Casa Legislativa possui comissões encarregadas dos temas de relações exteriores e defesa nacional. No Senado Federal, por exemplo, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), composta por 19 membros titulares e 19 suplentes, é competente para tratar das questões que envolvam as relações internacionais do País.

A legislação brasileira evidencia a importância do Poder Legislativo nos destinos das relações internacionais do País. E quanto mais o Brasil busque integrar-se na comunidade das nações e ocupar o seu devido papel de destaque, mais importante se faz o conhecimento, na esfera do Legislativo, dos principais temas de relações internacionais.

pág. 08

O ESTUDO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Antes de concluirmos a primeira Unidade, convém apresentar algumas considerações gerais sobre o estudo das relações internacionais como disciplina, as áreas de atuação do profissional de relações internacionais e a realidade brasileira.

O estudo de Relações Internacionais envolve conhecimentos gerais de Direito, Economia, Administração, História, Filosofia, Sociologia, Antropologia, Estatística e, sobretudo, de questões internacionais contemporâneas.

O interesse por temas de relações internacionais aumentou mais ainda após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Ao assistirmos àqueles dramáticos acontecimentos em tempo real, alguns véus foram retirados, e aos poucos tomamos consciência de que as distâncias físicas se estreitavam ao mesmo tempo em que as distâncias culturais e sociais aumentavam. O terrorismo passa também a ser uma questão global, que afeta países nos hemisférios Norte e Sul, no Ocidente e no Oriente.

No campo profissional, as relações internacionais são aplicáveis em diversas áreas. No Brasil, há profissionais de relações internacionais atuando em vários setores da Administração Pública e da iniciativa privada.

No serviço público, além da Chancelaria, o profissional de relações internacionais tem diante si alternativas de trabalho nos vários órgãos da Administração Federal, Estadual e Municipal. Afinal, sempre há uma “assessoria internacional” em cada ministério, secretaria, autarquia e empresas públicas. E o perfil do internacionalista se destaca. Constata-se a presença de profissionais de relações internacionais nas principais carreiras de Estado.

Na iniciativa privada, outro leque de alternativas se abre ao profissional de relações internacionais. Além das grandes corporações multinacionais e transnacionais, as empresas brasileiras de médio e grande porte já percebem a necessidade de atuarem em uma economia globalizada. Assim, em um mundo cada vez mais integrado econômica e financeiramente, as empresas precisam de profissionais que as auxiliem a se integrarem e a permanecerem no sistema internacional. Aquelas que desconsideram essa percepção acabam por sucumbir.

Além disso, há a possibilidade de trabalho nas centenas de Organizações Internacionais e Organizações Não Governamentais que atuam no globo: ONU, OEA, OIT, OMC, OPEP, UNESCO, FAO, Greenpeace, WWF e outras. Brasília tem representação da maior parte dos organismos internacionais dos quais o Brasil é membro e, com isso, o mercado do profissional de relações internacionais se amplia na Capital Federal.

pág. 09

RELAÇÕES INTERNACIONAIS COMO DISCIPLINA INDEPENDENTE

Até o início do século XX, as relações internacionais não eram estudadas como disciplina independente. O estudo do tema estava sempre sob o manto de outras ciências, como o Direito, a Economia, a Sociologia e a Ciência Política.

À medida que a sociedade internacional tornava-se mais complexa e as relações entre os Estados mais diversificadas, relações estas que envolviam conflito e cooperação, e que muitas vezes culminavam em situações que interferiam diretamente no quotidiano das pessoas e na política interna das nações, percebeu-se a crescente necessidade de teorias que explicassem a conduta dos Atores em um cenário internacional. Essas teorias e seu estudo deveriam constituir uma nova área do conhecimento, independente e com autonomia para gerar suas próprias percepções da realidade. Daí o aparecimento das primeiras cátedras de Relações Internacionais pelo mundo.

Os cursos de Relações Internacionais surgiram na primeira metade do século XX, nas principais universidades europeias e norte-americanas. Foram constituídos com o objetivo de produzir conhecimento que explicasse como se desenvolviam as relações entre os Estados. Naquele contexto, as perguntas que impulsionariam o estudo estavam intimamente relacionadas ao grande trauma da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), conflito sem precedentes até então, que envolvera diversas nações do globo e causara pesadas perdas, sobretudo no território europeu. Assim, os temas centrais eram:

 O que havia conduzido o mundo a uma situação de conflito tão drastica?  O que leva os Estados à guerra?

 É possivel se evitar o conflito entre os povos?

Em termos de carreira, uma das mais conhecidas é a diplomacia. O diplomata é o legítimo representante do Governo e da nação junto a outros povos e organizações internacionais. Para se tornar um diplomata no Brasil, é necessário o ingresso na carreira por meio de concurso público, promovido pelo Instituto Rio Branco (IRBr) do Ministério das Relações Exteriores. Aprovado no concurso, e após um período de treinamento no IRBr – para aqueles que não dispõem de título de Mestre ou Doutor –, o diplomata inicia uma carreira como Terceiro Secretário, podendo chegar a Embaixador.

Palácio do Itamaraty Fonte:www.inforel.org

(11)

 Como agem os Atores internacionais e quais forças que interferem na conduta desses entes?

Claro que, no decorrer do século XX, o estudo de Relações Internacionais diversificava-se à medida que os laços entre os povos tornavam-se mais complexos e novos temas, como cooperação, desenvolvimento, integração, paz, direitos humanos e globalização, vinham à baila. Atualmente, a disciplina é ampla e alcança as mais diferentes áreas de estudo, e evolui à medida que evolui a complexidade da sociedade internacional. De fato, atualmente há cursos de Relações Internacionais nas principais universidades do mundo e profissionais da área atuando nos mais variados segmentos dos setores público e privado.

O primeiro curso de Relações Internacionais no Brasil foi instituído na Universidade de Brasília, na década de 1970, fazendo da capital da República o referencial brasileiro em estudos internacionais. Até meados da década de 1990, havia apenas dois cursos de Relações Internacionais no Brasil – na Universidade de Brasília e na Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro). Hoje, são dezenas de instituições que oferecem a graduação em Relações Internacionais por todo o País. Trata-se, portanto, de carreira de grata expansão. Mesmo assim, a contribuição brasileira para as relações internacionais ainda é muito incipiente, sobretudo para um país que tem potencial para se tornar uma Grande Potência entre seus pares.

Feitas essas primeiras considerações acerca do tema de nosso curso, realize as atividades propostas e, em seguida, passemos às teorias e aos principais conceitos utilizados pelos profissionais e estudiosos das Relações Internacionais.

Atividades de autoavaliação -Para efeito de fixação dos conceitos estudados na Unidade, clique no menu lateral em "Avaliação" e escolha em "Objetivas" a que se refere a esta Unidade(U1) e Módulo(M1): Rel I - Autoavaliação M1U1 e realize a atividade. Lembrando que essas questões serão corrigidas automaticamente pelo sistema e que permitem que o aluno refaça, caso escolha a opção inadequada.

Unidade 2 - Conceitos Fundamentais

A Unidade 2 tem como foco os conceitos básicos para a análise e compreensão do campo das Relações Internacionais.

pág. 01

CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Objetivos

Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de identificar e definir os seguintes conceitos fundamentais de relações internacionais:

 Sociedade Internacional;  Atores;  Forças Profundas;  Sistema Internacional;  Potência;  Hegemonia. Atenção

Lembre-se sempre dos objetivos estabelecidos, que devem servir de guias para o estudo do conteúdo e para a autoavaliação do cursista. Tenha um bom aproveitamento!

(12)

Essencial para o desenvolvimento de nosso curso é a compreensão de conceitos fundamentais de Relações Internacionais. Nesse sentido, seria complicado tentar iniciar qualquer análise de Relações Internacionais sem as noções desses conceitos essenciais. Os conceitos elementares de Relações Internacionais sobre os quais se tratará neste curso são os de:

 Sociedade Internacional;  Atores;  Forças Profundas;  Sistema Internacional;  Potência;  Hegemonia.

A seguir, vamos procurar identificar os elementos mais importantes desses conceitos.

Sociedade Internacional

Um dos primeiros aspectos com o qual se depara aquele que inicia o estudo de Relações Internacionais refere-se à temática que envolve a Sociedade Internacional.

Como definir Sociedade Internacional? Quais os elementos constituitivos desse conceito?

A ideia de Sociedade Internacional – termo cunhado por Hugo Grócio no século XVII – permite direcionar a atenção para a atuação padronizada dos Estados. Apesar da ausência de uma autoridade central no cenário internacional, os Estados exibem padrões de atuação que estão sujeitos a, e constituídos por, restrições de diversas naturezas – históricas, sistêmicas, legais, morais etc.

Num primeiro momento, podemos relacionar Sociedade Internacional à evolução histórica das relações entre os grupos, povos e, mais tarde, Estados-nações organizados em âmbito espacial determinado. Podemos identificar a evolução da Sociedade Internacional a partir das relações entre os grupos primitivos da Antiguidade, passando pelos reinos e impérios e chegando à Idade Contemporânea, com a ascensão do Estado nacional e soberano nos séculos XVIII e XIX e o seu declínio, no século XX, frente a um sistema cada vez mais globalizado e interdependente.

pág. 02

Podemos falar em Sociedade Internacional antes mesmo da formação dos Estados nacionais, que só se deu, nos moldes como os concebemos hoje (compostos de povo, território e soberania), há dois séculos. Mesmo que não houvesse consciência dos povos a esse respeito, não há como negar a existência “de fato” de uma Sociedade Internacional na Antiguidade. Afinal, a partir do momento em que surgem os primeiros grupos independentes e diferenciados, exercendo relações políticas, culturais ou comerciais entre si, tem-se uma Sociedade Internacional embrionária. Das tribos passaram-se aos reinos, às cidades-estados e aos impérios, e estes, vistos em um contexto macro e nas relações entre si, formavam a Sociedade Internacional do mundo antigo.

Claro que o primeiro modelo de Sociedade Internacional, inserido em um Sistema Internacional da Antiguidade, refletia mais um conjunto de sociedades regionais localizadas, muitas vezes sem qualquer contato entre si e até sem consciência da existência das outras sociedades. Era uma época em que as forças naturais limitavam a comunicação entre Oriente e Ocidente, e a “Sociedade Internacional do sistema grego” mantinha pouco contato com a “Sociedade Internacional do extremo oriente” – na qual o império dinástico chinês era o principal ator.

Somente com as grandes navegações e o expansionismo europeu pelo planeta é que se estrutura uma Sociedade Internacional global. Assim, desde o século XVI, o mundo vai-se tornando cada vez mais integrado, seja pela força da economia e do comércio, seja pela força dos canhões e das conquistas coloniais europeias. Paul Kennedy, em sua obra já clássica Ascensão e Queda das Grandes Potências, analisa, com clareza, como o extremo oeste do continente euro-asiático, conhecido como Europa, com uma diversidade de povos e reinos autônomos e marcado por conflitos regionais e fratricidas, consegue expandir-se pelo mundo e, em pouco mais de dois séculos, tornar-se o centro de uma sociedade global, subjugando impérios tradicionais como a China e o Império Otomano.

O termo “internacional” foi utilizado pela primeira vez em 1780, pelo filósofo inglês Jeremias Bentham, em sua obra Princípios de Moral e Legislação. Essa é a época do apogeu dos Estados nacionais, com o início do declínio do absolutismo no continente europeu. Era um período em que a ideia de nação ainda estava muito ligada à figura do soberano. A Sociedade Internacional representava, para os europeus, a “Cristandade”, com seus paradigmas e princípios seculares. O Estado soberano era o principal Ator internacional.

Vídeo

Antes de iniciar o estudo desta Unidade, sugerimos que assista atentamente aos dois vídeos seguintes do Conexão Mundo, “Conceitos Fundamentais de Relações Internacionais V2”, disponível no sítio do ILB

.

(13)

Foi com a Revolução Francesa que o conceito de nação deixou de ter caráter puramente simbólico e passou a relacionar-se diretamente à questão da soberania. A soberania passou a residir essencialmente na nação, onde o súdito tornou-se cidadão e as relações entre os Estados, até então simbolizados e conduzidos pelos monarcas, estenderam-se às relações entre os povos. O século XX esclarece essa nova perspectiva: as relações entre nações não são necessariamente relações entre os Estados, muito pelo contrário.

pág. 03

Não há dúvida de que essa Sociedade Internacional é dinâmica e tem sua evolução diretamente relacionada à evolução dos grupos, povos, reinos, Estados, Impérios e nações, enfim, de todos os Atores que a compõem ou a compuseram e das forças que influenciam a sua atuação.

Qual é, então, o conceito de sociedade internacional?

A resposta para essa pergunta é percebida de maneira diferenciada pelos teóricos das Relações Internacionais, que podem ser reunidos em três grandes grupos (CERVERA, 1991).Para os teóricos do primeiro grupo, é simplesmente impossível definir Sociedade Internacional. Limitam-se, assim, ao estudo dos componentes da Sociedade Internacional e à evolução das relações entre eles. Os teóricos do segundo grupo dedicam-se a analisar a Sociedade Internacional em contraposição a outros grupos sociais. Por essa ótica, a pergunta que se busca responder é “Como é a Sociedade Internacional?” É irrelevante, portanto, para esses autores, a formulação de um conceito teórico para Sociedade Internacional. De qualquer maneira, eles não deixam de apresentar sua definição de Sociedade Internacional, mas apenas para instrumentalizar suas explicações, como veremos adiante.

O terceiro grupo, majoritário, afirma não só ser possível, mas também necessário, proceder à definição do termo “Sociedade Internacional”, para que se possa tratar com mais propriedade o estudo dos fenômenos internacionais e das relações que se desenvolvem em seu meio. Uma vez que concordamos com essa percepção, apresentaremos nosso conceito de Sociedade Internacional. Antes, porém, vejamos alguns conceitos de autores renomados.

Colliard (1978) afirma que Sociedade Internacional é o “conjunto de seres humanos que vivem sobre a terra”. Percebemos uma definição genérica e abrangente, que põe completamente de lado as estruturas em que os seres humanos estão agrupados, como as nações ou os Estados nacionais. Para o autor, o conceito de Sociedade Internacional confunde-se com o de “humanidade”. Chega-se a perceber mesmo uma concepção idealista, pois a Sociedade Internacional teria em primeiro plano o indivíduo, independentemente de suas origens e do grupo ou povo a que pertence.

Hedley Bull (2002), com base em uma análise sistêmica, definiu Sociedade Internacional como um “grupo de comunidades políticas independentes que não formam um sistema simples”. Definição mais precisa e completa de Sociedade Internacional é de Juan Carlos Pereira (2001): “um âmbito espacial e global em que se desenvolve um amplo conjunto de relações entre grupos humanos diferenciados, territorialmente ou geograficamente organizados e com poder de decisão.” O autor acredita que a Sociedade Internacional estaria evoluindo para uma Comunidade Internacional.

Rafael Calduch Cervera (1991) define Sociedade Internacional como “aquela sociedade global (macrossociedade) que compreende os grupos com um poder social autônomo, entre os quais se destacam os Estados, que mantêm entre si relações recíprocas, intensas, duradouras e desiguais sobre as quais é assentada certa ordem comum”.

pág. 04

Por fim, cabe apresentar nossa própria conceituação de Sociedade Internacional, que é baseada na corrente historiográfica, pela qual buscamos reunir elementos que consideramos essenciais para a compreensão do termo e de sua evolução desde a Antiguidade:

A nosso ver, Sociedade Internacional pode ser definida como o conjunto de entes que interagem de maneira sistêmica em uma esfera internacional sob a influência de forças profundas.

Desmembremos esse conceito para melhor compreensão.

Ator Internacional

A primeira parte de nosso conceito de Sociedade Internacional trata de um conjunto de entes. Esses entes nada mais são do que os Atores internacionais. Ator internacional é toda autoridade, organização, grupo ou pessoa que representa ou pode vir a representar um papel de destaque na Sociedade Internacional. A percepção desses Atores varia conforme o tempo e a corrente teórica que os identifica, mas podemos destacar aqueles que, na atualidade, podem ser considerados os mais importantes: os Estados nacionais, os atores governamentais interestatais (as organizações internacionais), os atores não governamentais interestatais (i.e., organizações não-governamentais e empresas multi e transnacionais, entre outros) e os indivíduos.

Não são todas as pessoas, grupos ou organizações que podem ser identificados como Ator Internacional. Para nossa classificação, é necessário que a atuação desses entes tenha destaque internacionalmente. Uma associação, por exemplo, estabelecida dentro de determinado país e voltada em suas atividades e interesses prioritariamente ao âmbito interno daquele país não é um Ator internacional.

Não obstante, qualquer grupo, organização ou indivíduo pode vir a tornar-se Ator internacional. Grandes empresas transnacionais de hoje foram, no passado, pequenas organizações comerciais, algumas de natureza familiar, que atuavam exclusivamente no interior de seu país de origem, não sendo à época Atores internacionais. À medida que essas empresas cresceram, expandiram-se para além das fronteiras de seus Estados de origem e começaram a atuar e influir na Sociedade Internacional, tornaram-se Atores internacionais.

(14)

pág. 05

Sistema Internacional

O segundo aspecto de nosso conceito de Sociedade Internacional refere-se à atuação sistêmica na esfera internacional. Adotamos uma abordagem sistêmica, em que o aspecto relacional é importante. Sistema pode ser conceituado como “conjunto de elementos e instituições entre os quais se possa encontrar alguma relação” ou, ainda, “conjunto ordenado de meios de ação ou de ideias, tendente a um resultado”. A abordagem sistêmica em relações internacionais vê o conjunto de inter-relações entre os Atores internacionais como sujeito a padrões, normas – enfim, a forças profundas –, que remetem ao conjunto mais amplo, o sistema internacional como um todo.

As primeiras considerações a respeito do modelo sistêmico para explicar as Relações Internacionais tomaram por base referências da Biologia e da Química. Nesse sentido, pode-se associar a noção de sistema ao corpo humano, no qual vários subsistemas – circulatório, nevrálgico etc. – são compostos de órgãos que se relacionam e dependem uns dos outros. A ideia de sistema, portanto, está relacionada a um ordenamento nas relações entre componentes e à interdependência entre esses componentes.

Raymond Aron, em sua obra clássica Paz e Guerra entre as Nações, recorreu ao conceito de sistema para evocar a dinâmica das relações internacionais. Assim, a Sociedade Internacional tem características suficientemente estáveis para que possamos percebê-la como um sistema onde os Atores conduzem suas relações dentro de certos padrões.

Caberia apresentar um conceito de Sistema Internacional, de acordo com Frederic S. Pearson e J. Martin Rochester (2000, p. 641):

Sistema Internacional. Conjunto de relações em âmbito mundial nas áreas política, econômica, social e tecnológica, em torno do qual ocorrem as relações internacionais em um dado momento.

Há ainda autores que separam as noções de Sociedade Internacional e de Sistema Internacional para identificar certos períodos históricos. Por exemplo, Sociedade Internacional teria como substrato a ideia de concerto e harmonia internacional, que alguns

defendem corresponder, por exemplo, à Europa do pós-1815. Em contrapartida, Sistema Internacional traduziria a existência de vários polos de poder que interagem entre si e não necessariamente se harmonizam no todo, o que alguns autores defendem corresponder ao mundo pós-1945.

pág. 06

Forças Profundas

Finalmente, de acordo com a nossa concepção de Sociedade Internacional, o terceiro elemento fundamental são as “forças profundas”. A ideia de “forças profundas” origina-se da corrente historiográfica das Relações Internacionais, cujos principais expoentes foram Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle. De acordo com esses historiadores, as forças profundas nada mais seriam que determinados fatores que influenciariam as ações das coletividades:

As condições geográficas, os movimentos demográficos, os interesses econômicos e financeiros, os traços da mentalidade coletiva, as grandes correntes sentimentais, essas forças profundas formaram o quadro das relações entre os grupos humanos e, em grande parte, lhes determinaram o caráter. O homem de Estado, nas suas decisões ou nos seus projetos, não pode negligenciá-las; sofre-lhes a influência e é obrigado a constatar os limites que elas impõem à sua ação.

Todavia, quando ele possui, quer dons intelectuais, quer uma firmeza de caráter, quer um temperamento que o levam a transpor aqueles limites, pode tentar modificar o jogo de semelhantes forças e utilizá-las para seus próprios fins.

Juan Carlos Pereira denomina tais forças profundas de “fatores condicionantes” (PEREIRA, 2001, p. 44). Identifica alguns desses fatores: fator geográfico, fator demográfico, fator econômico, fator tecnológico, fator ideológico/sistema de valores, fator político-jurídico e fator militar-estratégico.

Portanto, a Sociedade Internacional é composta de entes – Estados, organizações internacionais, organizações não governamentais, empresas transnacionais, indivíduos, entre outros – que são influenciados pelas forças profundas – fatores geográficos, demográficos, migratórios, políticos, econômicos e financeiros, ideológicos, religiosos, tecnológicos etc. – em suas ações sistêmicas na esfera internacional.

Link

Ainda sobre os atores e seus dados estáticos, sugere-se a publicação The World Factbook, produzida anualmente pela Agência Central de Inteligência dos EUA (CIA), com dados atualizados sobre as nações do mundo.

(15)

pág. 07

Além dos conceitos já tratados, caberiam, em nosso curso introdutório, algumas observações – ainda que sem aprofundamento – a respeito de outros conceitos essenciais para viabilizar nosso entendimento dos temas tratados no decorrer das próximas unidades. Passemos a eles.

Potência

O Sistema Internacional é composto por uma diversidade de Atores. Nesse contexto, o Estado ocupa papel de destaque. Mas existem diferenças marcantes entre os Estados na esfera internacional e o grau de influência (poder) que eles exercem. Assim, importante para a compreensão das relações internacionais é a ideia de Potência e das diferentes gradações dessa classificação.

Há inúmeras definições para Potência. Segundo Martin Wight (2002), Potência é “um Estado moderno e soberano em seu aspecto externo, e quase pode ser definido como a lealdade máxima em defesa da qual os homens hoje irão lutar”. Rafael Calduch Cervera (1991), por sua vez, cita o conceito de Potência Internacional segundo C. M. Smouts, ou seja, como aquele Estado “mais ou menos poderoso segundo sua capacidade de controlar as regras do jogo em um ou mais âmbitos-chaves da disputa internacional e segundo sua habilidade de relacionar tais âmbitos para alcançar uma vantagem”.

Ao tratar da capacidade dos Estados de influenciarem a Sociedade Internacional, Martin Wight relaciona Potências Dominantes, Grandes Potências, Potências Mundiais e Potências Menores. Potências Dominantes e Potências Mundiais seriam subdivisões do gênero Grande Potência, uma vez que ambas as categorias se referem a Estados com interesses globais e capacidade de influência significativa no Sistema Internacional. Em última análise, a diferenciação poderia ser restringida a Grandes Potências e Potências Menores.

Wight define Potência Dominante como aquela capaz de medir forças contra todos os rivais juntos. E cita exemplos ao longo dos séculos, como Atenas, à época das Guerras do Peloponeso, o Império Romano, a Espanha de Carlos V e de Filipe II, a França de Luís XIV, a Grã-Bretanha no século XIX e os EUA no século XX.

Outro termo muito utilizado e cujas características vão além da Potência Dominante, conforme definida por Wight, é o de Superpotência. Esse termo, cunhado com o advento da Guerra Fria, designava exclusivamente URSS e EUA. Esses países, em virtude de suas capacidades nucleares – com poder de destruição global –, inúmeras vezes associadas ao poderio militar convencional e à influência político-ideológica mundial, tinham status único na comunidade das nações. Gounelle (1992) indica quatro características das Superpotências:

 têm capacidade de intervir em qualquer parte do globo;

 dispõem de amplo arsenal, capaz de causar danos diferenciados dos armamentos convencionais e composto tanto de armas nucleares quanto de outros meios de destruição em massa;  assumem a liderança de uma aliança militar (os EUA da OTAN e a URSS do Pacto de Varsóvia);

 pretendem oferecer um modelo universal de sociedade.

Convém lembrar que a ideia de Superpotência ultrapassa em muito o potencial exclusivamente militar. De fato, a capacidade de destruição massiva do planeta é o elemento central do conceito de Superpotência, mas o aspecto de liderança de um bloco de nações e de pretensões de estabelecimento de uma sociedade universal em seus moldes político-econômico-ideológico-sociais não pode ser desconsiderado.

pág. 08

Atualmente, com o colapso da URSS, restou, no planeta, apenas uma Superpotência: os EUA. Alguns autores vislumbram a possibilidade da China vir a ocupar, na segunda metade do século XXI, o lugar da URSS. Entretanto, ainda não há que se falar na China como Superpotência,

Link

Uma leitura complementar recomendada é a do texto sobre Rio Branco e as Forças Profundas, de Arno Wehling, sob o tema: Visão de Rio Branco – o homem de estado e os fundamentos de sua política.

Livro indicado

Além do clássico Histoire des rélations internationales, obra-mestra da historiografia francesa das relações internacionais, caberia destacar dois livros de Renouvin e Duroselle já traduzidos para o português: Introdução à História das Relações Internacionais – publicada em 1967 pela Difusão Europeia do Livro, de São Paulo – e Todo Império Perecerá – um dos últimos grandes trabalhos de Duroselle, lançado no Brasil em 2000.

(16)

uma vez que esta, além de não dispor de arsenais nucleares capazes de fazer frente ao poderio de Estados como EUA e Rússia, não tem pretensões – nem condições – de projetar um modelo sócio-político-cultural-ideológico seu para o mundo. A Rússia, por sua vez, apesar de dispor de arsenais nucleares com capacidade de destruição massiva do planeta, não pode ser chamada de Superpotência, exatamente porque também não tem condições de aspirar a qualquer pretensão hegemônica no sistema internacional, como fazia a URSS. Assim, os EUA, considerados os vencedores da Guerra Fria, são hoje o único Estado com as características básicas da superpotência e, de fato, essa nação tem-se tornado tão poderosa que já tem-se cunha o conceito de Hiperpotência, algo tem-sem precedentes na História.

A Hiperpotência dispõe de um aparato bélico superior ao das demais Potências juntas. Esse aparato não se resume ao potencial das armas de destruição em massa, mas inclui armamento convencional significativo e capacidade de operação militar em mais de um teatro no globo. Ademais, trata-se de uma Economia de peso diante do sistema, sua influência na política internacional é marcante e, ainda, consegue projetar seu modelo sócio-cultural e político para outras regiões do planeta.

Assim, os EUA não encontram, no início do século XXI, adversários militares à altura, e são a Grande Potência econômica e a liderança mundial. Do ponto de vista econômico, por exemplo, apenas a coalizão das grandes economias europeias pode fazer frente aos EUA, o mesmo se podendo dizer das economias asiáticas. A projeção de poder dos norte-americanos no mundo não encontra precedentes, e alguns analistas já começam a analisar a política externa estadunidense como uma política de império. De qualquer maneira, o conceito de Hiperpotência ainda encontra-se em desenvolvimento.

O conceito de Wight para Potência Dominante tem grande proximidade com a ideia de hegemon, ou seja, uma potência tão poderosa que seria necessária uma coalizão de todas as demais nações para contê-la. A concepção de hegemon ultrapassa a esfera exclusivamente político-militar, de modo que o Estado que detém esse título influencia a Sociedade Internacional em esferas diversas, como a cultura, a estrutura social interna, a Economia e até o Direito. Além disso, essa influência do hegemon não ocorre necessariamente de maneira impositiva. De fato, a hegemonia, como veremos a seguir, envolve um misto de coerção e consenso. Finalmente, convém lembrar que o hegemon continua influenciando a Sociedade Internacional mesmo após perder esse status.

Interessante observar que a hegemonia dos EUA hoje é mantida mais por outros meios – o que alguns autores chamam de soft power (poder suave) –, como a presença marcante na compilação e divulgação de notícias e diversões, na produção de bens de consumo, nas inúmeras formas de cultura popular e sua identificação com a liberdade política e de mercado, do que propriamente por meio do hard power (poder militar).

Além da potência hegemônica, há outros atores estatais com capacidade significativa de influência na Sociedade Internacional. Esses são as Grandes Potências, as quais, inclusive, disputam a hegemonia entre si e aspiram tornar-se a potência dominante, chegando, muitas vezes, a alcançar esse objetivo. De fato, as relações internacionais seriam um grande tabuleiro onde essas Potências disputariam poder em um jogo de influência. Como exemplos atuais de Grandes Potências teríamos China, França, Rússia, Alemanha, Japão e Grã-Bretanha.

As potências menores constituem a maioria. Seu grau de influência no sistema varia significativamente. Nesse grupo, poderiam ser relacionadas desde as Potências Mundiais menores – como Espanha e Índia – até as Potências Regionais – Argentina e Egito, por exemplo. Vale destacar que uma Potência Menor hoje pode vir a tornar-se uma Grande Potência e até a Potência Dominante. Os EUA são um bom exemplo disso.

pág. 09

Max Gounelle (1992) comenta que, à medida que dispõe de capacidade de influenciar de maneira significativa os outros entes da Sociedade Internacional em prol de seus interesses particulares, um Estado pode ser classificado como Microestado, Potência Local, Potência Média, Grande Potência ou Superpotência.

Os microestados são aquelas pequenas soberanias que persistem em nossos dias e que, em sua maioria, tiveram origem na formação histórica dos Estados nacionais europeus ou no processo de descolonização. Encontram-se constantemente sob amplo grau de dependência frente a uma Potência e integram-se a grupos de Estados organizados no seio de organizações internacionais. Conviria exemplificar nessa categoria países como o Principado de Mônaco e a República de San Marino, diversos Estados-arquipélagos no Pacífico ou até algumas Repúblicas da América Central e Caribe. Apesar de minimamente influentes na Sociedade Internacional, esses entes ganham força quando se associam e se fazem representar em organismos internacionais onde tenham poder de voto igual ao de outros Estados.

As Potências Locais são as mais numerosas. Participantes das atividades comuns da vida internacional, esses entes têm como objetivos principais sua própria sobrevivência e a defesa de sua soberania territorial. De maneira geral, não têm grandes pretensões internacionais de projeção de poder e acabam também associados às Grandes Potências ou a Potências Regionais. Como exemplos para essa categoria, teríamos países como Bolívia, Paraguai, Camboja, Albânia e Moçambique.

São classificados como Potência Regional ou Potência Média aqueles Estados aptos a representarem certo papel de destaque em grandes áreas geopolíticas. Egito, Síria, Nigéria, Brasil, Argentina e Irã são exemplos de Potências Regionais ou Médias. Esses países exercem influência em virtude de suas aptidões de liderança sob certos limites geográficos, fundadas em seus potenciais materiais ou demográficos, suas envergaduras ideológicas ou seu peso militar, econômico e até social.

Gounelle, no entanto, diferencia Potências Regionais de Potências Médias ao afirmar que estas últimas têm ambições mundiais restritas às suas próprias capacidades. Tais pretensões poderiam ser limitadas a domínios específicos (nuclear, cultural, econômico, diplomático). A França, a Alemanha, a China e o Japão estariam nessa categoria. De fato, o que Gounelle relaciona como Potências Médias seria o que se costuma chamar mais apropriadamente de Grandes Potências, ou seja, Potências com interesses globais e capacidade de influenciar a Sociedade Internacional em diferentes domínios. Ao chamar Potências como China e Grã-Bretanha de Potências Médias, Gounelle o faz comparando-as às Superpotências – à época, URSS e EUA.

pág. 10

Hegemonia

Tomamos como base para o conceito de Hegemonia a obra International Relations: : the Key Concepts, de Martin Griffiths e Terry O’Callaghan (London: Routledge, 2002).

(17)

Hegemonia, em grego, significa “liderança”. Em sentido amplo, portanto, em Relações Internacionais, o hegemon é o líder – ou o Estado líder – de um grupo de nações.

Para que os conceitos de hegemonia e de hegemon sejam aplicáveis, presume-se que haja uma certa ordem na Sociedade Internacional. Daí que, apesar de ser o Estado mais poderoso no cenário internacional, o hegemon só pode exercer sua liderança (hegemonia) se houver relações de poder entre entes em um meio internacional.

Hegemonia consiste, então, no exercício de uma liderança ou comando em uma sociedade, com base em recursos de poder. Esses recursos fundamentam-se em dois aspectos: coerção e consenso. Assim, toda relação de poder tem por base os graus de coerção e consenso exercidos por um ente ou mais de um sobre os demais. À medida que é alterada essa relação, muda também a liderança no grupo.

Para o exercício da hegemonia, o hegemon deve ter capacidade de atuar nas esferas de consenso e coerção. Uma relação que se baseie apenas na coerção – por meio de recursos de força militar ou econômica – não pode ser verdadeiramente hegemônica, da mesma maneira que é impossível a liderança da comunidade internacional com fulcro apenas no consenso dos demais Atores.

As relações internacionais têm sido marcadas pela disputa, por parte das Potências, da hegemonia na Sociedade Internacional. Essa hegemonia, além de política, pode ser militar, econômica, cultural ou ideológica. Pode ser regional ou global. Um Estado que seja a Potência hegemônica em uma dessas áreas muito provavelmente o será na maioria das outras. É claro que tal liderança pode ter diferentes gradações e que uma grande Potência econômica em nossos dias pode não ter o mesmo poder de influência cultural ou até militar no cenário internacional.

A Sociedade Internacional será sempre marcada por um hegemon, cujo interesse é manter o status quo do sistema, diante de outras Potências que não pouparão esforços para se tornar o hegemon. De acordo com a teoria da estabilidade hegemônica, o hegemon tem que ter capacidade de garantir a ordem do sistema, ordem que deve ser percebida pelos demais entes da comunidade como positiva a seus interesses. Para isso, o hegemon deveria dispor de alguns atributos: liderança em um setor econômico ou tecnológico e poder político baseado no poder militar. Podemos acrescentar a esses atributos a capacidade de obter consenso sobre sua liderança.

pág. 11

Para Robert Gilpin, a estabilidade internacional depende da existência de uma hegemonia, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais, como lei, ordem e moeda estável. Conforme didática explicação de Griffiths (2004, p. 26-27):

(...) os mercados não podem crescer em produção e distribuição de bens e serviços se não houver um Estado que forneça certos pré-requisitos. Por definição, os mercados dependem da transferência, por meio de um mecanismo de preço eficiente, de bens e serviços que possam ser comprados e vendidos entre os principais agentes particulares que permutam direitos de posse. Mas os mercados dependem do Estado para lhes dar, por coerção, regulamentos, taxas e certos “bens públicos” que eles sozinhos não podem gerar. Isto inclui uma infraestrutura legal de direitos e leis de propriedade para fazer contratos, uma infraestrutura coerciva que assegure a obediência à lei, além de um meio de permuta estável (dinheiro) que assegure um padrão de avaliação dos bens e serviços. Dentro das fronteiras territoriais do Estado, os governos fornecem tais bens. É claro que, internacionalmente, não existe Estado no mundo capaz de multiplicar sua provisão em escala global. Baseando-se na obra de Charles Kindleberger e na análise de E. H. Carr sobre o papel da Grã-Bretanha na economia internacional no século XIX, Gilpin argumenta que a estabilidade e a “liberalização” da permuta internacional dependem da existência de uma “hegemonia”, que tenha tanto capacidade quanto vontade de fornecer “bens públicos” internacionais, como lei, ordem e uma moeda estável para o comércio financeiro.

Em termos gerais, essa é a Teoria da Estabilidade Hegemônica.

As Potências hegemônicas são as Grandes Potências na concepção de Wight, e o hegemon nada mais que a Potência Dominante. A hegemonia político-ideológica no planeta, por exemplo, era disputada pelas Superpotências no contexto da Guerra Fria, mas a URSS dificilmente poderia ser caracterizada como ameaça à hegemonia econômica dos EUA.

Atenção

Não acumule dúvidas. Procure saná-las logo que apareçam.

É uma teoria importante e voltaremos a ela na Unidade 4, ao tratarmos do debate teórico travado entre neorrealistas e neoliberais.

Referências

Documentos relacionados

Local de realização da avaliação: Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação - EAPE , endereço : SGAS 907 - Brasília/DF. Estamos à disposição

Assim pa a além do Secto das Est adas este modelo de O&M Assim, para além do Sector das Estradas, este modelo de O&M poderá estender-se no curto prazo a outros sectores,

Ademais, apontando um tipo de unidade nos trabalhos coligidos, nota- se que praticamente todos tendem a afirmar, calcados em diferentes bases teóricas, que nas páginas de Abelaira

Código Descrição Atributo Saldo Anterior D/C Débito Crédito Saldo Final D/C. Este demonstrativo apresenta os dados consolidados da(s)

Por último, temos o vídeo que está sendo exibido dentro do celular, que é segurado e comentado por alguém, e compartilhado e comentado no perfil de BolsoWoman no Twitter. No

Almanya'da olduğu gibi, burada da bu terimin hiçbir ayrım gütmeden, modern eğilimleri simgeleyen tüm sanatçılar için geçerli olduğu anlaşılıyor.. SSCB'de ilk halk

O objetivo deste artigo é justamente abordar uma metodologia alternativa para a elaboração de análises contábeis e financeiras, denominada de balanço perguntado e

Atentar para as definições existentes no Glossário, e que os processos e procedimentos podem ou não se referir a uma política corporativa, mas devem sempre se referir de forma direta