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A ética na pesquisa científica e sua aplicação na elaboração de dissertações e trabalhos científicos.2015.1.doc (194,5 kB)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA FLORESTAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS

ALESSANDRA CUNHA LOPES AMANDA MOTA NUNES ANA PAULA PORTO NEVES LEAL

RAFAEL ESTEVES DOHLER

A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA E SUA IMPORTÂNCIA NA

ELABORAÇÃO DE DISSERTAÇÕES E TRABALHOS CIENTÍFICOS

Jerônimo Monteiro - ES Junho/2015

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ALESSANDRA CUNHA LOPES AMANDA MOTA NUNES ANA PAULA PORTO NEVES LEAL

RAFAEL ESTEVES DOHLER

A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA E SUA IMPORTÂNCIA NA ELABORAÇÃO DE DISSERTAÇÕES E TRABALHOS CIENTÍFICOS

Trabalho apresentado por exigência da Disciplina de Metodologia de Pesquisa Científica do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para avaliação da disciplina.

Prof. D. Sc. Wendel Sandro de Paula Andrade

Jerônimo Monteiro - ES Junho/2015

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SUMÁRIO

RESUMO...1

1. INTRODUÇÃO...2

2. REVISÃO DE LITERATURA...3

2.1. ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA...4

2.1.1. DEFINIÇÃO DE ÉTICA...4

2.1.2. IMPORTÂNCIA DA ÉTICA PARA A PESQUISA CIENTÍFICA...6

2.2. REGULAMENTAÇÃO DA ÉTICA EM PESQUISA...10

2.2.1. REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL...10

2.2.2. REGULAMENTAÇÃO EM PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS...13

2.3. FRAUDES CIENTÍFICAS...15

2.3.1. EXEMPLOS DE MÁS CONDUTAS CIENTÍFICAS NO MEIO ACADÊMICO...16

2.3.2. MEDIDAS ANTI FRAUDES...17

4. CONCLUSÕES...18

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RESUMO

A ética associada à pesquisa científica tem ganhado importância nos últimos anos. Estudiosos, empresas e órgãos públicos intensificam suas ações no sentido de normatizar a aplicação das questões éticas no planejamento e execução das pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento como forma de agregar qualidade ao trabalho. A regulamentação sobre a ética dentro da pesquisa é realizada através de normas, códigos e procedimentos que visam inserir os conceitos relacionados a esse tema nas atividades do pesquisador, além de evitar más condutas científicas, como o plágio. Os casos de fraudes em trabalhos científicos chamam a atenção da sociedade acadêmica e levam a necessidade para formas de controle. No Brasil dois documentos são usados para fundamentação, regulamentação e controle de ética, abrangendo as diferentes áreas da pesquisa: o Código de Boas Práticas Científicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e o Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa, ambos fornecem diretrizes para condução da pesquisa e procedimentos para publicação de trabalhos científicos. A discussão sobre ética e suas formas de regulamentações estão sujeitas a melhorias contínuas, evoluindo de acordo com o desenvolvimento da pesquisa científica, fazendo com o que conhecimento adquirido possa ser transmitido de maneira confiável dentro do universo científico.

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1. INTRODUÇÃO

A pesquisa científica conduz à produção de conhecimento, sendo uma atividade de grande importância para sociedade. Segundo Montenegro (2014), o pesquisador deve integrar conceitos e valores éticos em sua pesquisa como forma de agregar qualidade e confiabilidade ao trabalho.

O valor ético é um tema relacionado à compreensão do comportamento humano em sociedade. Tal comportamento envolve a capacidade do indivíduo questionar, pensar, criticar e agir, construindo um ponto de vista próprio, porém, influenciado pelo meio em que vive e desenvolve suas atividades (CENCI, 2002). A construção do valor ético é considerada positiva quando resulta em benefícios pessoais e sociais, fazendo com que a ética seja instrumento de apoio nas mais diversas relações humanas, inclusive no ambiente de trabalho e pesquisa (KIPPER, 2006).

A ética integrada à pesquisa científica contribui para avaliação de fatores como: experiência da equipe dos pesquisadores, aplicação de uma metodologia fundamentada e exequível, avaliação dos riscos envolvidos e avaliação dos efeitos da na investigação pretendida (TRINDADE, 2014). Tais fatores são positivos para pesquisa, fazendo com o que conhecimento adquirido possa ser transmitido de maneira confiável dentro do universo científico.

Os meios de regularização tiveram início com a investigação de procedimentos realizados na área da saúde, evoluindo assim para outros campos do conhecimento. Segundo Valls (2010), atualmente a regularização sobre a ética dentro da pesquisa é realizada através de normas, códigos e procedimentos que visam inserir os conceitos relacionados a esse tema nas diferentes atividades do pesquisador, considerando a fase de concepção do projeto até a efetiva publicação do trabalho.

No Brasil a primeira normatização ocorreu através da Resolução 01 de 1988 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que apresentava “Normas de Pesquisa em Saúde” com o objetivo principal de estabelecer procedimentos para pesquisas realizadas com seres humanos. Em 2011 foram publicados o Código de Boas Práticas Científicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e o Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), ambos relativos à questão ética em pesquisas. Além destes instrumentos de normatização, muitas instituições de ensino possuem Comissões de Ética que produzem relatórios de conduta, como exemplo têm-se o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo.

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A normatização da ética tem ainda o objetivo de propor procedimentos e estabelecer diretrizes visando identificar e criar barreiras para impedir as más condutas científicas (VELASQUES, 2014). Entre as más condutas, o plágio tem sido recorrente nas publicações científicas. Segundo Santos et al. (2014), o plágio ou a utilização de ideias ocorre quando o pesquisador apropria-se de ideias, textos ou dados de outrem sem citar a fonte, de modo a gerar a percepção de que sejam ideias ou formulações de autoria própria, sendo necessária uma equipe de revisão e edição para identificar as falhas e atuar junto aos autores para corrigir tais problemas.

Para Mueller (2012) a ética e suas formas de regulamentações estão sujeitas a melhorias contínuas, evoluindo de acordo com o desenvolvimento da pesquisa científica. Magalhães (2013) afirma que há muitas limitações associadas a aplicação dos valores éticos na ciência, porém a integridade da pesquisa tem sido um diferencial que define a alocação de recursos e portanto, as instituições e os órgãos de pesquisa buscam cada vez mais aplicar e desenvolver os instrumentos de avaliação ética.

Considerando a importância da ética para o universo científico, este trabalho tem como objetivo apresentar uma discussão sobre o conceito de ética e avaliar como esse tema está inserido na pesquisa científica.

2. REVISÃO DE LITERATURA

A revisão de literatura está fundamentada em esferas teóricas que possibilitam melhor compreensão do tema em estudo. Inicialmente será abordado o assunto intitulado “Ética na Pesquisa Científica”, que tem por objetivo apresentar o conceito de ética, sua importância para a pesquisa científica e como este tema é tratado em publicações de trabalhos científicos. Em seguida, a revisão trata da “Regulamentação da ética em pesquisa no Brasil”, tópico que relata as principais normas e textos legais existentes no País para regulamentar a questão da ética na pesquisa, assim como a aplicação das mesmas em publicações científicas. Por último têm-se o tema “Fraudes Científicas” que compreende as principais fraudes que podem interferir na pesquisa científica.

2.1. ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA

Para melhor compreensão do tema “Ética na pesquisa científica” inicialmente a palavra ética será definida ressaltando a diferença conceitual entre ética e moral,

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termos que muitas vezes se confundem. Após entendimento desse conceito será avaliada a importância da ética para pesquisa.

2.1.1. DEFINIÇÃO DE ÉTICA

A ética está relacionada ao comportamento humano, sendo uma característica presente na sociedade ao longo do tempo (SPIANDORELLO, 2014). O comportamento ético pode ser definido como um conjunto de valores do próprio indivíduo que envolve patrimônio genético, processo educacional, valores morais, sentimentos e construção de personalidade (KIPPER, 2006).

Estudos indicam que Aristóteles teria sido o primeiro autor a desenvolver o pensamento sobre a ética (RUIZ, 1991; TRINDADE, 2014). Tal pensamento teria surgido da reflexão acerca da diferença entre conhecimento teórico e conhecimento prático e na compreensão de que o saber relacionado aos fundamentos humanos não seria suscetível de demonstração teórica conforme acontece na matemática e na física, valendo-se de instrumentos de boa ação e conhecimento sobre a realidade social. Para Loue (2002), na concepção aristotélica, a boa ação é aquela própria do indivíduo que possui virtude e deriva de um discernimento acerca das opções práticas.

A definição de ética e moral muitas vezes se confunde pois, a origem etimológica das palavras ethos (grego) e mores (latino) são similares. De acordo com Cortina e Navarro (2005, p. 20):

A palavra ‘ética’ procede do grego ethos, que significa originalmente ‘morada’, ‘lugar em que vivemos’, mas posteriormente passou a significar ‘o caráter’, o ‘modo de ser’ que uma pessoa ou um grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por sua vez, o termo ‘moral’ procede do latim mos, moris que originalmente significava ‘costume’, mas em seguida passou a significar também ‘caráter’ ou ‘modo de ser’.

Cortina e Navarro (2005) relatam ainda que conceito de ética e moral se identificam, pois ambos referem-se à valores, hábitos, deveres e obrigações. No entanto, o conceito de ética é mais abrangente e pode ser entendido como uma reflexão filosófica sobre a moral que procura enxergar valores e problematizá-los.

Analisando o conceito de ética, Valls (2010) considera que a ética busca compreender, por meio da reflexão, os critérios e os valores que norteiam o julgamento da ação humana. Já a moral pode ser interpretada como um conjunto de normas e regras destinadas a regulamentar as relações dos indivíduos numa comunidade social, determinando um comportamento moral. Spiandorello (2014) afirma que o

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comportamento moral se manifesta somente em sociedade, ou seja, ambiente onde o indivíduo comporta-se moralmente e se sujeita a certos princípios, valores e normas em uma época determinada conforme a comunidade a que pertence.

Ruiz (1991) considera que a ética seria uma forma crítica de interpretar os conceitos que envolvem a moral e desta forma, uma ação ou valor considerado imoral não necessariamente será avaliado como antiético. Para o autor, emprego das expressões “conduta ética” ou “comportamento ético” são inapropriadas, pois tanto o termo conduta quanto comportamento referem-se à forma como o indivíduo comporta-se em sociedade. O termo correto comporta-seria “conduta ou comportamento moral”.

Em termos práticos, a ética pode ser utilizada para analisar problemas morais e práticas e políticas em várias áreas, inclusive nas políticas públicas, nas profissões e em pesquisas científicas (CORTINA; NAVARRO, 2005).

A capacidade de analisar a ética deriva o termo “ética normativa” que tem a competência de refletir, justificar e fundamentar os conceitos morais (GARDUSI, 2008; SCHAEFER; JUNGES, 2014). Para os autores, através da ética normativa é possível compreender as implicações dos valores adotados pelas diversas sociedades para nortear as ações dos indivíduos e sua conduta em uma estrutura social.

Além da ética normativa há ética descritiva e ética metaética. A ética descritiva é a investigação fatual do comportamento e das crenças morais, fazendo-se o uso de técnicas científicas para estudar como as pessoas raciocinam e agem. A metaética envolve a análise da linguagem e a forma como o indivíduo transmite seus valores relativos à ética (TRINDADE, 2014).

Os conceitos de ética são aplicados diretamente na vida profissional. Para Gardusi (2008), a ética profissional é um conjunto de atitudes e valores positivos aplicados no ambiente de trabalho, sendo de fundamental importância para o bom funcionamento das atividades e das relações de trabalho entre os envolvidos nas atividades. Montenegro (2014) relata que a importância da ética na vida profissional pode ser entendida como a forma que o indivíduo analisa e aplica os princípios e normas éticas em sua atividade, interferindo diretamente em seus resultados.

Estes conceitos têm sido amplamente utilizados em pesquisa científica e muitos estudiosos têm refletido sobre a necessidade do desenvolvimento científico e controle da qualidade das informações produzidas e transmitidas para outros pesquisadores e para a sociedade. Neste sentido a ética pode ser considerada um instrumento de apoio e qualificação para ciência.

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2.1.2. IMPORTÂNCIA DA ÉTICA PARA A PESQUISA CIENTÍFICA

A atividade científica de pesquisa é definida, segundo Jonas (1984, p. 38), como “[...] classe de atividades cujo objetivo é desenvolver e contribuir para o conhecimento generalizável”. O autor relata que a pesquisa conduz a uma produção de conhecimento e conseqüente contribuição para o desenvolvimento da ciência.

Lakatos e Marconi (2007) afirmam que os diferentes tipos de conhecimentos devem ser transmitidos e aplicados com o objetivo de beneficiar toda sociedade, fazendo-se valer de instrumentos diversos, tais como planejamento e ética científica. Segundo Mueller (2012), todas as maneiras de se produzir conhecimento têm uma finalidade prática e social. Portanto, ao embarcar em um estudo científico um pesquisador assume “questões éticas”, sendo essas fundamentais para a organização de uma pesquisa e obtenção de bons resultados.

A ética, segundo Cenci (2002, p. 90) nasce amparada no ideal grego da justa medida, do equilíbrio das ações. Para a autora as ações devem ser planejadas e executadas da melhor forma possível, ou seja, da maneira mais adequada para que o pesquisador possa transmitir o conhecimento adquirido de forma confiável dentro do universo científico.

Um marco no estudo e aplicação da ética em pesquisa foi o Código de Nuremberg, publicado em 1947. Ao final da Segunda Guerra Mundial os experimentos conduzidos por médicos nazistas vieram a conhecimento da comunidade científica e após avaliação constatou-se que não existiam documentos para regulamentar a ética em pesquisa com seres humanos. Esses experimentos incluíam judeus e outros prisioneiros de guerra e foram detectados registros sobre a falta de respeito à vida e à integridade dos envolvidos nas pesquisas (KIPPER, 2006). Diante desta constatação, dois médicos norte americanos elaboraram o Código de Nuremberg, documento composto de dez artigos que descrevem condutas que devem ser seguidas para pesquisas com seres humanos.

O Código gerou uma evolução na área de pesquisa. Entre as determinações do era que a participação em pesquisa deveria ser voluntária e a pessoa envolvida informada para decidir se queria ou não dela fazer parte. Outra determinação foi a transmissão dos resultados, ou seja, o conhecimento adquirido deveria ser publicado para comunidade científica visando beneficiar toda sociedade. O documento ressalta ainda que os pesquisadores devem ser qualificados para conduzir seu trabalho científico (LAKATOS; MARCONI, 2007). O Código de Nuremberg proporcionou uma

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evolução na pesquisa com seres humanos, sendo elaboradas normas e procedimentos, principalmente em áreas da saúde.

Em outros campos do conhecimento, a preocupação com a ética e a integridade na pesquisa ganhou destaque a partir dos anos 1980, sobretudo nos Estados Unidos e Europa, quando algumas das principais revistas científicas começaram a chamar a atenção para de fraudes científicas. Tais fatos despertaram o interesse das instituições e sociedade, havendo necessidade de uma maior investigação para identificação de possíveis ações que vão contra aos princípios éticos (MUELLER, 2012).

Atualmente a ética em pesquisas científicas é um tema bastante discutido e abrangente nas diversas áreas. Para Schaefer e Junges (2015), o maior conhecimento sobre os preceitos éticos impulsionou o surgimento e reformulação de normas, códigos e procedimentos visando aplicar o conceito de ética nas pesquisas e nas atividades de cada profissional.

No Brasil, apenas em 2011 foi publicado o Código de Boas Práticas Científicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). No mesmo ano foi editado o relatório e recomendações da Comissão de Integridade de Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq) que resultou na consulta pública sobre a revisão da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, que trata da ética em pesquisa em seres humanos.

O Código de Boas Práticas Científicas da FAPESP foi revisado em 2014. Nesta publicação os autores apontam três desafios principais ao se tratar de ética na pesquisa. O primeiro desafio está relacionado à pressão exercida por alguns grupos econômicos no campo de pesquisa, pois os estímulos econômicos e a pressão por produtos impactam de diferentes maneiras na produção de conhecimento. O segundo desafio é a dificuldade encontrada por muitos pesquisadores na busca por recursos associadas aos conflitos de interesses no meio acadêmico, fato que pode privilegiar (ou não) determinada área do conhecimento. Por último, o terceiro desafio está relacionado à responsabilidade que as comunidades científicas têm para com a sociedade da qual fazem parte, em termos dos limites das suas certezas.

Embora sejam claras as limitações, percebe-se que as questões éticas estão ganhando maior destaque no universo da pesquisa e as instituições buscam desenvolver e/ou aplicar instrumentos de avaliação ética (GARDUSI, 2008). A avaliação ética de um projeto de pesquisa baseia-se na análise e qualificação do projeto, na experiência da equipe dos pesquisadores, na avaliação do risco envolvido seja ele de ordem econômica, social e/ou ambiental, na informação precisa e detalhada

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o sujeito da pesquisa (quando for envolver sujeitos1) e na prévia avaliação de possíveis

efeitos da na investigação pretendida (TRINDADE, 2014).

Como mencionado, a avaliação ética deve ser realizada por profissionais capacitados e treinados para avaliar como a ética está inserida em uma determinada pesquisa. Muitas instituições possuem “Comissões de Ética”, sendo algumas já organizadas e regulamentadas e outras em fase de planejamento e melhorias. Montenegro (2014) relata que as “Comissões de Ética” mais organizadas no campo da pesquisa estão relacionadas às pesquisas na área da Saúde.

No âmbito nacional há a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), diretamente ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS). A CONEP foi criada pela Resolução do CNS 196/96 e sua principal atribuição é o exame dos aspectos éticos das pesquisas que envolvem seres humanos e elaboração e atualização das diretrizes e normas para a proteção dos sujeitos de pesquisa e coordena a rede de Comitês de Ética em Pesquisa das instituições. Pesquisas realizadas pela CONEP indicam que 36% das pesquisas realizadas no Brasil, relativa à área da saúde, não passam pela análise e avaliação da Comissão, resultando em problemas diversos de ordem ética.

No meio científico em geral, os principais problemas relacionados à ética são: a definição do tipo de investigação para adaptar-se aos objetivos não declarados, o mau uso deliberado de estatísticas, a falsificação de dados, a alteração de resultados, a interpretação errônea de resultados com o objetivo de apoiar um ponto de vista pessoal e a retenção de informações. Tais problemas podem alterar a pesquisa, sobretudo na apresentação dos resultados, comprometendo a sua qualidade técnica e científica (KIPPER, 2006; SANCHEZ VÁZQUEZ, 2006).

Jonas (1984) descreve que a construção de uma metodologia de pesquisa deve manter os princípios éticos sobre as dificuldades inerentes à sua aplicação. Para o autor a ética se mantém sobre três aspectos principais: atendimento à legislação vigente, proposição de um tema de estudo factível e atenção ao uso e tratamento das informações obtidas pela pesquisa.

Kipper (2006) associa a ética na pesquisa como um requisito básico para um bom resultado, sendo um meio de controle e normalização dos meios de comunicação ou transmissão do conhecimento. O autor relata que a integridade da pesquisa está relacionada à forma como o cientista conduz sua pesquisa e utiliza os resultados em benefício social.

1 O termo “sujeitos ou sujeito da pesquisa” é usado quando a pesquisa científica é realizada com a participação direta ou indireta de seres vivos, estando esses susceptíveis à forma como a pesquisa é conduzida. Quando a pesquisa não envolve seres vivos esse termo não deve ser aplicado (LOUE, 2002).

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Uma discussão sobre ética profissional e integridade da pesquisa também foi apontada pelo Código de Boas Práticas Científicas (FAPESP, 2014, p. 24) que descreve esses termos da seguinte forma:

A ética profissional do cientista inclui um conjunto de deveres derivados de valores éticos especificamente científicos, isto é, valores que se impõem ao cientista em virtude de seu compromisso com a própria finalidade de sua profissão: a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo. O princípio desse campo particular da ética profissional é: ao exercer suas atividades científicas, um pesquisador deve sempre visar a contribuir para a construção coletiva da ciência como um patrimônio coletivo, deve abster-se de agir, intencionalmente ou por negligência, de modo a impedir ou prejudicar o trabalho coletivo de construção da ciência e a apropriação coletiva de seus resultados. É a essa parte da ética profissional do cientista que remete a expressão “integridade da pesquisa”.

Montenegro (2014) desperta atenção sobre os conceitos de autoria e tutoria como forma de suporte à aplicação de conceitos de ética na pesquisa. A autoria está relacionada à forma como o autor publica seus resultados e a tutoria refere-se à orientação ou supervisão de pesquisadores qualificados e com experiência, contribuindo para a condução do plano de trabalho. Segundo Magalhães (2013), a autoria também está associada à reputação e oportunidades do pesquisador e neste sentido a ética em suas decisões é um fator determinante. A reputação é uma característica advinda dos resultados científicos que o pesquisador obteve, conforme a forma como transmitiu o conhecimento resultante de sua pesquisa.

As ações como plágio de textos, falsa indicação de autoria e omissão entre os autores de uma comunicação fazem com que o trabalho perca qualidade e confiança perante os avaliadores.

Os princípios éticos são ainda influenciados pela forma como a pesquisa é conduzida no sentido de observação, formulação de hipóteses, coleta de dados, experimentação, obtenção de constantes e proposição de generalizações. Tais aspectos estão associados à seriedade dos pesquisadores na forma que trabalham com sua técnica e sua ética (SPIANDORELLO, 2014).

A discussão a respeito desse tema é ampla e envolve vários temas para sua compreensão, no entanto, a integridade da pesquisa tem sido um diferencial que define a alocação de recursos (MAGALHÃES, 2013). Por esse e outros fatores, esse tema

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tende a ser desenvolvido e regularizado para agregar qualidade aos trabalhos científicos.

2.2. REGULAMENTAÇÃO DA ÉTICA EM PESQUISA

A regulamentação da ética em pesquisa é realizada através de normas, códigos, manuais e procedimentos associados à conduta ética. Esse tópico aborda os principais meios de regularização existentes no Brasil e como este tema está inserido nas publicações de trabalhos científicos.

2.2.1. REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL

A necessidade de se desenvolver medidas que visam estabelecer boas condutas na pesquisa científica e tecnológica tem estimulado a crescente discussão acerca de princípios éticos na pesquisa para a comunidade internacional e nacional (SANTOS et al., 2014).

A má conduta não é fenômeno recente, considerando os vários acontecimentos que a história apresentou sobre fraudes e falsificação de resultados. Spiandorello (2014) cita o caso do chamado “Homem de Piltdown”, formado basicamente por fragmentos de crânio humano, mandíbula de orangotango e dentes de animais fossilizados, dados estes, manipulados para apresentar o “elo perdido” na evolução da humanidade. Embora adequada para as ideias então vigentes, a fraude foi comprovada a partir do avanço da ciência, quando foi apurada com métodos de datação, desenvolvido posteriormente.

Considerando os diversos casos envolvendo pesquisadores por má conduta, o interesse em se debater questões relacionadas com a ética e integridade em pesquisas tem sido normatizado para tornar os princípios éticos legais e obrigatórios (TARGINO, 1999). Regulamentações e textos legais têm sido formulados nas mais diversas áreas do conhecimento, embora a questão ética seja melhor trabalhada e desenvolvida na área da Saúde, conforme mencionado nos tópicos anteriores.

Segundo Mueller (2012), entre os principais documentos referentes à pesquisa com seres humanos estão: o Código de Nuremberg (1947), a Declaração de Helsinki (1964, 1975, 1983 e 1989), as Propostas de Diretrizes Éticas Internacionais para Pesquisa Biomédica Envolvendo Seres Humanos (CIOMS/WHO 1982 e 1993) e as Diretrizes Internacionais para Revisão Ética dos Estudos Epidemiológicos (CIOMS/WHO 1991), revisada em 2014.

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No Brasil, a primeira tentativa de normatização ocorreu em 1988 onde o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou a Resolução 01 de 1988 que apresentava Normas de Pesquisa em Saúde, abordando principalmente as pesquisas médicas (MAGALHÃES, 2013). Segundo Targino (1999), essa Resolução foi criticada por ter sido elaborada sem prévia e ampla consulta à comunidade científica e à sociedade, no entanto, essa iniciativa estimulou o desenvolvimento de pesquisas sobre ética melhor fundamentadas.

Em 1992, o Conselho Federal de Medicina realizou um levantamento e identificou que poucos centros brasileiros de pesquisa médica seguiam as diretrizes estabelecidas pela Resolução 01/88, elegendo um grupo para revisar a Resolução e estabelecer uma nova proposta mais aplicável às pesquisas executas no Brasil. Assim, em 1996, o CNS aprovou a Resolução 196 de 1996, que trata de pesquisas que envolvem seres humanos em qualquer área do conhecimento (MONTENEGRO, 2014). Segundo o autor, após essa resolução ter sido aprovada, outras resoluções complementares foram publicadas, destacando-se a: Resolução 251/97 relativa a novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos; Resolução 340/04 que regulamenta pesquisas sobre genética humana; e a Resolução 347/05 que trata do armazenamento e a utilização de material biológico humano no âmbito de projetos de pesquisa.

Em outras áreas do conhecimento, como já citado, tem-se o Código de Boas Práticas Científicas da FAPESP e o relatório e recomendações da Comissão de Integridade de Pesquisa do CNPq, ambos voltados às questões éticas em pesquisas.

O Código de Boas Práticas da FAPESP tem como objetivo estabelecer diretrizes com o intuito de implantar uma cultura sólida de integridade ética na sociedade cientifica. Santos et al., (2014) afirmam que o Código é baseado em três princípios considerados o tripé da ética: ação, prevenção e investigação/sanção. Tais diretrizes são, principalmente, destinadas a pesquisadores financiados pela Fundação, além de instituições que contam com o apoio da mesma para publicação de pesquisas e periódicos.

O Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa do CNPq foi proposto por uma Comissão Especial constituída por cientistas brasileiros. Consiste em recomendações e diretrizes sobre ética e integridade na prática científica, elaborado a partir da necessidade de um Conselho de Ética integrado ao CNPq. O documento, assim como o Código da FAPESP, recomenda que se siga duas linhas de ação em relação ao tema: ações preventivas e educativas e ações de desestímulo a má

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conduta, inclusive medidas punitivas. Além disso, apresenta diretrizes que orientam os autores sobre como proceder de modo a evitar as más condutas, identificadas no relatório como modalidades de fabricação, falsificação, plágio e autoplágio.

Muitas instituições de ensino também possuem Comissões de Ética que produzem relatórios de conduta ética. O “Relatório de Boas Práticas para Publicação Científica” da Universidade Federal de São Paulo (USP) foi elaborado por cientistas das diversas áreas de pesquisa na instituição, descrevendo procedimentos de conduta no desenvolvimento das pesquisas e diretrizes relacionadas à ética para publicação dos trabalhos. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) possui o “Manual de Condutas Éticas na Pesquisa” fundamentado em normas para serem executadas em experimentos científicos realizados nos laboratórios da Universidade. Neste manual é recomendado que as publicações sigam os procedimentos descritos pela Comissão de Integridade de Pesquisa do CNPq.

A Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) possui o “Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos”, registrado na Comissão Nacional de Ética do Ministério da Saúde. Este órgão é responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas que envolvam a participação de seres humanos. Há também Comissões de Ética nas áreas de informática e práticas laboratoriais. Quanto à atividade profissional dos funcionários a UFES recomenda as diretrizes da Lei 8.027 de 12 de abril de 1990 que dispõe sobre normas de conduta dos servidores públicos civis da União e dá outras providências.

Velasquez (2014) acrescenta que as diferentes regulamentações sobre a ética na pesquisa têm se desenvolvido muito no Brasil, porém este processo é continuo e está sujeito a melhorias, observando as mudanças e necessidades no âmbito da pesquisa.

2.2.2. REGULAMENTAÇÃO EM PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

A publicação é forma de divulgação da pesquisa para comunidade científica, permitindo que os resultados possam ser avaliados e utilizados sob diferentes visões técnicas (ADINOLFI, 2014). A disseminação e a transferência de informação dependem da rede de comunicação que se estabelece, conhecida como “comunicação científica”, que representa as atividades associadas à publicação de um trabalho desde a organização dos resultados pelo pesquisador até sua efetiva divulgação através de um meio de comunicação reconhecido (TARGINO, 1999).

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Targino (1999) e Montenegro (2014) comentam ainda que um trabalho de pesquisa do tipo dissertação ou tese é considerado publicado a partir do momento em que é disponibilizada uma cópia da informação para o público científico, seja através de versões impressas ou digitais.

Os canais de comunicação científica podem ser classificados como formais e informais. Para Adinolfi (2014) a comunicação tem início de maneira informal, através contatos diversos entre pesquisadores e os meios de comunicação. Nestes casos, os contatos são verbais ou através de correio eletrônico. A comunicação oficial refere-se a meios oficiais de publicação, incluindo periódicos, revistas, jornais, eventos científicos (e suas produções), boletins, informativos oficiais, entre outros. Segundo Magalhães (2013), a publicação é efetivamente estabelecida pelos canais formais, considerados fontes de definição da produtividade e reconhecimento científico.

Entre os meios oficiais, as revistas eletrônicas ou impressas ainda são consideradas como o modo mais rápido e economicamente viável, para os pesquisadores fazerem circular e tornar visíveis os resultados do seu trabalho (MONTENEGRO, 2014). A estruturação dos artigos em revistas é uma forma de divulgação das pesquisas em espaços definidos, reconhecidos e eficientes, compondo a base do crescimento da literatura científica (MUELLER, 2012). Para publicar em canais formais os autores precisam seguir regras metodológicas para planejar, justificar e estruturar seu trabalho.

De acordo com o Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa do CNPq, o processo de publicação envolve preceitos de política de divulgação, de qualidade e de conduta ética. Neste sentido, instituições e centros de pesquisa têm desenvolvido diretrizes para promover a ética na publicação das pesquisas e estabelecer parâmetros para investigar eventuais condutas consideradas reprováveis.

Kotz et al. (2013) apontam alguns critérios necessários para que um meio de comunicação científica possa manter sua qualidade associada aos preceitos de ética: possuir um comitê editorial de especialistas e revisores aptos para o assunto abordado, definir critérios para publicação que sigam regras metodológicas e de conduta, investigar a origem e qualidade dos trabalhos recebidos e garantir a confiança no universo científico. Os autores afirmam que o fato de uma revista ser indexada, receber pedidos de assinaturas de instituições e pessoas físicas, receber pesquisas originais submetidas para publicação de autores externos e internos e possuir seus artigos mencionados em outras publicações reconhecidas, contribuem para seu crescimento e desenvolvimento no campo científico.

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A equipe de revisão e edição dos periódicos é responsável pela publicação efetiva do trabalho científico e, consequentemente, promove o desenvolvimento dos autores e avaliadores da publicação (MINAYO; GUERRIERO, 2014). A competência dos editores reside na sua capacidade de identificar falhas e atuar junto aos autores corrigir tais problemas, melhorando os artigos. Para tanto estes profissionais devem estar atualizados relativamente à área de conhecimento e aos métodos de pesquisa nela utilizados (SANTOS et al., 2014).

Segundo Velasquez (2014), o editor deve garantir que a pesquisa a ser publicada atenda as normas éticas vigentes. Uma forma de controle seria a exigência, quando aplicável, que o trabalho tenha sido aprovado por um órgão de controle, tais como Conselhos de Revisão e Comissões de Ética. Para o autor, a principal dificuldade do editor é identificar problemas éticos nos casos em que o autor apresenta dados de outros valendo-os para si, falsifica total ou parcialmente o relato da pesquisa e altera ou omite informações que não estejam de acordo com o objetivo proposto.

Santos et al. (2014) consideram que a autoria das publicações é uma das questões éticas que mais tem gerado preocupações nos últimos tempos, pois a omissão de autores, a inclusão indevida e o uso imérito de material de pesquisa comprometem a qualidade do trabalho e são de difícil identificação pela equipe de revisão.

Minayo e Guerriero (2014), avaliando questões éticas em pesquisas antropológicas, relataram que grande parte das publicações nesta área do conhecimento inclui co-autores que não fizeram parte do trabalho de pesquisa. Esse problema também foi citado nos trabalhos de Mueller (2012) e Velasquez (2014).

A prática de venda de trabalhos científicos através da internet também constitui um problema ético em publicações. Para Severino (2014), o comércio de trabalhos científicos é um crime que tem crescido nos últimos anos. Tal fato ocorre quando interessados compram publicações diversas e se colocam como autores, destituindo a integridade ética desse trabalho e prejudicando sua formação e a imagem da instituição ao qual é vinculado.

Conforme Kipper (2006), apesar dos diferentes níveis de organização e regulamentação existentes em publicações, os meios de comunicação devem ser capazes de identificar não apenas as limitações metodológicas, mas também a forma como a conduta ética está inserida na pesquisa. A avaliação técnica de um trabalho associada à sua ética é um diferencial necessário para garantia de qualidade em publicações.

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2.3. FRAUDES CIENTÍFICAS

A má conduta científica é toda conduta de um pesquisador que, intencionalmente ou por negligência, infrinja os princípios que deliberam a integridade ética da pesquisa científica (FAPESP, 2014). As más condutas mais graves e frequentes são a fabricação, a falsificação e o plágio.

A fabricação consiste na afirmação de dados, procedimentos e resultados que foram obtidos ou conduzidos, mas que realmente não o foram, ou seja, consiste na apresentação de dados ou resultados inverídicos. A falsificação é a alteração dos dados ou resultados observados em um experimento científico, a ponto de poder interferir nas conclusões que deles se extraem, reduzindo a confiabilidade do trabalho (FAPESP, 2014).

O plágio é o tipo de conduta mais comum e ocorre quando o pesquisador apropria-se de ideias, textos ou dados de outrem sem citar a fonte (HOSSNE e VIEIRA, 2007). Vargas (2012) cita o autoplágio, que ocorre quando é apresentado, total ou parcial, textos já publicados pelo mesmo autor, sem as devidas referências aos trabalhos anteriores, tomando para si as ideias publicadas.

No meio científico há ainda outros tipos de má conduta que diminuem a credibilidade da pesquisa. A autoria dada de presente, ocorre quando é inserido na publicação o nome de pessoas que não contribuíram substancialmente de forma direta ou indireta no trabalho. De maneira contrária, também é caracterizada como má conduta a ausência de autores em publicações em que estes participaram (PITHAN e VIDAL, 2014). Pithan e Vidal também consideram que o fato de deixar de publicar as pesquisas também é considerada uma má conduta científica, uma vez que esta deixa de contribuir para o crescimento científico de outras pesquisas.

Em pesquisas realizadas com humanos e animais, há uma grave má conduta quando é realizado pesquisas sem a aprovação do comitê de ética, tornando a pesquisa ilegal (VARGAS, 2012).

2.3.1. EXEMPLOS DE MÁS CONDUTAS CIENTÍFICAS NO MEIO ACADÊMICO

No meio acadêmico existem alguns exemplos de más condutas cientificas, nos quais a maioria destes teve como punição a perda de títulos, e os outros foram penalizados judicialmente. Serão relatados em seguida alguns exemplos de más condutas científicas.

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O plágio é a má conduta mais frequente em pesquisas. Há várias situações de ocorrência de plágio envolvendo pessoas públicas na literatura e um dos mais conhecidos é o caso que levou ao afastamento do cargo de presidente, na Europa, em 2012. O presidente da Hungria, Pál Schmitt, renunciou ao cargo de presidente e teve seu título de doutor cancelado depois das acusações de ter plagiado a sua tese (PHITAN e VIDAL, 2013). Este fato levou a instituição de pesquisa em que Pál Schmitt cursou o doutorado a reformular seus critérios de investigação sobre plágio em trabalhos científicos.

Um marcante caso de plágio é o da ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan. Annette perdeu o título de doutora e o cargo, pois foi acusada de ter plagiado a sua tese de doutorado (GIRALDI, 2013). Outro caso envolvendo pessoas públicas é o do Ministro da Defesa da Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg. Segundo Pithan e Vidal (2013), o ex-ministro renunciou ao cargo em 2011 em função de uma denúncia de que ele havia cometido plágio em sua tese de doutorado. Diferente de outros acusados, o ex-ministro admitiu os erros cometidos em sua tese de Direito pela Universidade de Bayeuth.

No Brasil, um caso grave ocorrido em 2011 foi o de Andreimar Martins Soares, que foi exonerado da Universidade de São Paulo (USP). Os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) protestaram a autoria de imagens utilizadas por Andreimar em um trabalho na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (PLÁGIO, 2013).

Couto (2013) relata uma ocorrência de plágio em um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade Federal de Mato Grosso no campus de Barra do Garças, no que resultou na reprovação da aluna. A estudante copiou trechos de monografias de outros autores em seu TCC.

Um famoso caso de fabricação de dados em 2012 é o do pesquisador Dipak Das da Universidade de Connecticut, no qual o pesquisador fabricou dados sobre os benefícios do vinho tinto na proteção do coração. O relatório da investigação conclui que ele é culpado de ter fraudado mais de 140 dados (REUTER, 2012). O mais comentado caso de fabricação de dados ocorreu em 1982 em Harvard. O cardiologista John Roland Darsee foi acusado de ter fabricado dados de pelo menos oito artigos em revistas conhecidas. O cardiologista foi demitido de Harvard, e a universidade devolveu toda a verba destinada às pesquisas que continham as fraudes (HOSSNE e VIEIRA, 2007).

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2.3.2. MEDIDAS ANTI FRAUDES

Os casos de fraudes em trabalhos científicos se destacam da sociedade acadêmica e levam a necessidade para alguma forma de controle. Segundo Russo (2014), no mundo inteiro foram criados comitês de integridade, dossiês de integridade, códigos de ética e conduta e outros, que são impostos nas Universidades como condição para obtenção de recursos para pesquisas. Nas instituições brasileiras alguns desses mecanismos de controle são utilizados durante o desenvolvimento e publicação de dissertações e teses a fim de minimizar a falta de ética e identificá-la quando houver.

A colaboração científica é definida como dois ou mais cientistas trabalhando juntos em um projeto de pesquisa, compartilhando recursos intelectuais, econômicos e/ou físicos, sendo assim, a colaboração contribui para que haja respaldo e respeito em entre os colegas de trabalho e iniba qualquer possível má conduta (VANZ; STUMPF, 2010).

Vanz e Stumpf (2010) relatam que a colaboração científica muitas vezes conduz á disponibilização de informações de pesquisa em bancos de dados acessíveis a sociedade. Como exemplo há os dados do Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística (IBGE) que divulga informações diversas sobre pesquisas realizadas no Brasil e do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) que disponibiliza informações meteorológicas obtidas em estações localizadas em todo território nacional. Para os autores, o banco de dados se constitui em um importante mecanismo antifraude, uma vez que esses dados passam por uma rigorosa verificação de qualidade.

Outra forma de controle é replicação de experimentos. Dado que uma replicação exige total controle dos parâmetros avaliados e dos dados inseridos, quando esta é feita por outro pesquisador que não seja o autor, por exemplo, torna-se uma ferramenta para descobrir possíveis fraudes em uma pesquisa (RUSSO, 2014).

Quanto à publicação dos trabalhos científicos, a principal ferramenta de controle da ética na pesquisa é a análise dos pares. Também chamada de revisão por pares, trata-se de um sistema de análise crítica realizada por profissionais e/ou pesquisadores na área do conhecimento da pesquisa antes que a mesma seja publicada, em que além do controle da qualidade também há estimulo para o aperfeiçoamento do trabalho (NÓBREGA; LAZZOLI, 1999).

Por fim, uma das medidas mais comuns adotadas nas instituições para identificar fraudes são os programas antiplágio. Esses programas são softwares

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desenvolvidos para identificar plágio em pesquisas através da busca na internet. Existem no mercado vários softwares, gratuitos e contratados, sendo prudente avaliar qual o melhor programa a ser usado para investigar uma má conduta científica.

Apesar de todo o esforço contra a má conduta nas pesquisas científicas através das medidas e punições apresentadas, ainda há dúvidas sobre esse realmente ser o melhor caminho na busca da ética e integridade da pesquisa.

4. CONCLUSÕES

A ética nos trabalhos científicos é um instrumento de qualidade e confiabilidade à pesquisa. Seu conceito é amplo e envolve vários fatores para sua compreensão, no entanto, para a pesquisa científica é importante relacionar a ética com a forma como o pesquisador desenvolve suas atividades, podendo influenciar no desenvolvimento e resultado do seu trabalho.

A regulamentação sobre a ética dentro da pesquisa é realizada através de normas, códigos e procedimentos que visam inserir os conceitos relacionados a esse tema nas diferentes atividades do pesquisador, sendo mais estrutura na área da saúde, sobretudo quando a pesquisa é realizada com seres humanos. Em outras áreas do conhecimento a regulamentação brasileira de ética em pesquisa ganhou destaque e fundamentação através da publicação do Código de Boas Práticas Científicas da FAPESP e do Relatório da Comissão de Integridade de Pesquisa do CNPq.

Dentre os diversos tipos de má conduta científica, o plágio é a forma mais comum encontrada nos trabalhos científicos, podendo alterar o desempenho profissional e assim, a qualidade da pesquisa. Para essa má conduta, os softwares antiplágio são a medida de controle mais eficiente e utilizada por profissionais para conter esse tipo de fraude.

Ainda é pouco divulgada a regulamentação da ética nos trabalhos científicos, em como a implementação de políticas internas sobre a ética nas instituições de ensino e pesquisa. Para um maior conhecimento da ética e da integridade da pesquisa no Brasil é necessário que o tema seja mais discutido em eventos científicos e instituições de ensino, permitindo a geração de trabalhos científicos de maior qualidade.

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