• Nenhum resultado encontrado

Perfil sociodemográfico dos agressores de mulheres, vítimas de violência doméstica no município de Tubarão, SC

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Perfil sociodemográfico dos agressores de mulheres, vítimas de violência doméstica no município de Tubarão, SC"

Copied!
58
0
0

Texto

(1)

SILVANIO CARARA GOMES

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS AGRESSORES DE MULHERES, VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MUNICÍPIO DE TUBARÃO, SC

Tubarão, 2012

(2)

SILVANIO CARARA GOMES

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS AGRESSORES DE MULHERES, VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MUNICÍPIO DE TUBARÃO, SC

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito à obtenção do título de Bacharel.

Linha de pesquisa: Justiça e Cidadania Orientador: Vilson Leonel, Esp.

Tubarão, 2012

(3)
(4)

Dedico este trabalho a minha esposa Raquel, pelo apoio incondicional e companheirismo, além dos sacrifícios e concessões e aos meus filhos queridos Alexandre e Jhennifer razão do meu viver.

(5)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus, por ter me dado a vida e por estar presente em todos os momentos da minha história.

Aos meus pais, José e Neide, que me proporcionaram a vida, e me ensinaram a viver com dignidade.

Ao meu Professor e orientador Sr. Vilson Leonel, pelos ensinamentos repassados, durante a orientação deste trabalho.

Aos meus amigos Luciano e Washington por tudo o que fizeram para que conseguisse ultrapassar mais esta etapa de minha vida.

Aos meus colegas de jornada acadêmica em especial: Filipe, Henrique, Samuel e Silvio os quais muito me incentivaram a vencer esta etapa.

Aos integrantes da Polícia Civil de Tubarão - SC, em especial a secretaria Cida pelo apoio na realização da pesquisa deste trabalho.

A todos os professores e funcionários da UNISUL, que foram tão importantes na minha vida acadêmica e no desenvolvimento deste trabalho.

(6)

“O meu agressor demonstrou ser uma pessoa maquiavélica e altamente perigosa” (Maria da Penha Maia Fernandes)

(7)

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem por alvo traçar o perfil sociodemográfico dos acusados pelo crime de Violência doméstica na Comarca de Tubarão/SC. Para tanto foi utilizado o método de abordagem dedutivo, partindo de uma visão geral, ou seja, as características de todos os agressores a mulher analisados, para, após, traçar um perfil representativo da população pesquisada. Os modelos de investigação empregados foram o bibliográfico e o documental, uma vez que, foram utilizadas doutrinas para sua elaboração bem como documentos que integram os autos de Boletim de Ocorrência lavrados em desfavor dos acusados. A pesquisa foi realizada na Comarca de Tubarão/SC, onde foram analisadas as características de seiscentos e quarenta e oito acusados de praticar violência doméstica, entre os meses de janeiro a junho de dois mil e doze, por estarem em tese praticando o crime de violência doméstica na Comarca de Tubarão/SC. O perfil sociodemográfico obtido foi o seguinte: Homens: 97.7%; Com idade entre 41 e 50 anos 39%; Casados ou em união estável 57%; Possuem 2 filhos 33%; Possuem ensino fundamental (completo e incompleto) 69%; Vivem ou viveram em meio urbano 90%; Empregados 73%; Praticam violência física em 56%; reincidência 64.96%. Observar-se que o perfil alcançado reflete alguns problemas sociais, tais como a baixa escolaridade, causa esta que se combatida podem gerar reflexos nos atuais índices de violências experimentados pela população não só de Tubarão/SC, mas de todo o país.

(8)

ABSTRACT

This monograph is targeted trace the sociodemographic profile of the accused for the crime of domestic Violence in the District of Tubarão/SC. For this we used the method of deductive approach, starting with an overview, ie, the characteristics of all women offenders analyzed, for, after, draw a profile representative of the population surveyed. The research models were employed to bibliographic and documentary, since doctrines were used for their preparation as well as documents that comprise the records of police reports plowed to the detriment of the accused. The research was conducted in the County of Tubarão/SC, where we analyze the characteristics of six hundred forty-eight accused of practicing domestic violence between the months January to June of two thousand and twelve, because they are theoretically practicing crime of violence County home on Tubarão. The sociodemographic profile was obtained as follows: Men: 97.7%; Aged between 41 and 50 years 39%; Married or in stable 57%, 33% have 2 children; possess elementary education (complete and incomplete) 69%; live or lived in urban areas 90%, 73% Employees; Practicing physical violence in 56%, 64.96% recidivism. Observe that the profile achieved reflects some social problems, such as poor education, because it countered this can generate reflections on current rates of violence experienced by the population not only Tubarão/SC but around the country.

(9)

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 10 1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ... 10 1.2JUSTIFICATIVA ... 11 1.3 OBJETIVOS ... 11 1.3.1Geral ... 12 1.3.2Específicos ... 12 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 13

1.5DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 13

2 CRIMINOLOGIA ... 14 2.1 CONCEITO DE CRIMINOLOGIA ... 14 2.2 OBJETO DE ESTUDO ... 15 2.2.1O Delito ... 15 2.2.2 O Criminoso ... 16 2.2.3 A Vítima ... 17

2.2.4 O Controle Social do Delito ... 19

2.3 ESCOLAS SOCIOLÓGICAS DO CRIME ... 19

2.3.1 Escola de Chicago ... 20

2.3.2 Teoria da Associação Diferencial ... 21

2.3.3 Teoria da Anomia ... 22

2.3.4 Teoria da Subcultura Delinquente ... 23

2.3.5LabbelingAproach ou Teoria do Etiquetamento ... 23

2.3.6 Teoria Crítica ... 24

2.4 ASPECTOS CULTURAIS DA COMARCA DE TUBARÃO/SC ... 25

3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ... 27

3.1 POR QUE MARIA DA PENHA... ... 27

3.2 UM OLHAR NO TEMPO... ... 28

3.2.1 No Passado... ... 28

3.2.2 Um Novo Tempo... ... 30

3.3 ALGUNS CONCEITOS ... 32

3.3.1 Conceito de Violência Doméstica ... 32

3.3.2 Unidade Doméstica ... 33

(10)

3.3.4 Formas de Violência ... 35 3.3.5 Violência Física ... 35 3.3.6 Violência Psicológica ... 35 3.3.7 Violência Sexual ... 36 3.3.8 Violência Patrimonial ... 37 3.3.9 Violência Moral ... 37 3.4 SUJEITO ATIVO ... 37 3.5 SUJEITO PASSIVO ... 38

3.6 A INAPLICABILIDADE DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS... ... 39

3.7 O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO.... ... 40

3.8 AS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA À OFENDIDA... ... 41

3.9 POVIDÊNCIAS POLICIAIS... ... 41

3.10 PROCEDIMENTO NO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA... ... 41

4PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DOS AGRESSORES DE MULHERES, VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.. ... 44

4.1 DELINEAMENTO METODOLÓGICO DA PESQUISA ... 44

4.2 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DO AGRESSOR ... 45

4.3TIPOS DE VIOLÊNCIAS PRATICADAS PELOS AGRESSORES ... 48

4.4 Quanto a Reincidência ... 49

5 CONCLUSÃO ... 51

REFERÊNCIAS ... 53

APÊNDICE ... 56

APÊNDICE A – Instrumento de Coleta de Dados ... 57

(11)

1 INTRODUÇÃO

Neste primeiro capítulo apresenta-se a delimitação do tema e a formulação do problema entre outros aspectos destacados do projeto de monografia.

1.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A delimitação do tema no presente trabalho monográfico será o perfil dos agressores de mulheres, vítimas de violência doméstica, que registraram a agressão na Delegacia da Mulher, do Município de Tubarão, (DPCAPMI) no período de janeiro a junho de 2012.

A violência doméstica é um problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimuladamente.

Trata-se de um problema que atinge ambos os sexos e não costuma obedecer nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico, como poderiam pensar alguns.

A vítima de Violência Doméstica, geralmente, tem pouca auto-estima e se encontra atada na relação com quem agride, seja por dependência emocional ou material. O agressor geralmente acusa a vítima de ser responsável pela agressão, a qual acaba sofrendo uma grande culpa e vergonha. A vítima também se sente violada e traída, já que o agressor promete, depois do ato agressor, que nunca mais vai repetir este tipo de comportamento, para depois repetí-lo. (BALLONE, 2008)

Segundo Schecaira, (2004), o criminoso sofre influência do meio em que está inserido e também de motivações pessoais, é de se supor que o crime praticando na Comarca é, também, decorrente de aspectos externos ao delinquente.

A influência destes fatores leva a formulação de um perfil de pessoas que estão propensas a praticar este tipo de crime.

Várias prisões são realizadas anualmente pela Polícia de todo Brasil, em especial na cidade de Tubarão. Não há nenhum estudo visando estabelecer o perfil dos acusados e consequentemente as causas que levam a prática delituosa, visando a prevenção deste delito.

Portanto este trabalho visa responder ao seguinte questionamento: Qual o perfil dos agressores de mulheres vítima de violência doméstica que registraram a agressão na Delegacia da Mulher do Município Tubarão/SC (DPCAPMI)?

(12)

1.2 JUSTIFICATIVA

O aumento vertiginoso dos índices de violência doméstica que a população experimenta atualmente tem suas origens, no lar, local onde era pra ser prazeroso, aconchegante, se torna uma ameaça em alguns casos, pois é onde deflagrada a maioria das agressões.

O presente trabalho tem a finalidade de demonstrar o perfil dos agressores que praticam violência doméstica.

Analisar o perfil do agressor é muito importante, pois trará a tona os porquês das agressões. O agressor tem peculiaridade que lhe dá dimensões enormes: é viril, pois independente de classe, raça, etnia, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, o homem é quem comete tal crueldade, no "lar doce lar" onde reina soberano violenta a vítima, na segurança do privado; nas demais situações comportam-se como um verdadeiro cavalheiro. Ora, há que se observar, então, se as investidas impetuosas ocorrem na relação, nada mais plausível que possibilitar a esse casal assistência, enquanto protagonistas deste fenômeno dual.

A Lei nº 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, representou grandes conquistas no que tange aos instrumentos de enfrentamento do grave problema da violência contra a mulher, que assola número imenso e incerto de mulheres brasileiras, violentadas em sua integridade física e psíquica no seio de seus lares, na maior parte das vezes por aqueles que escolheram como companheiros.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Geral

Descrever o perfil dos agressores acusados de violência doméstica no Município de Tubarão/SC.

1.5.2 Específicos

Os objetivos específicos da monografia são:

a) Apresentar um estudo sobre o objeto da Criminologia, ou seja, o delito, o delinquente, a vítima e o controle social do delito.

(13)

b) Demonstrar a problemática do crime de Violência doméstica e familiar contra a mulher.

c) Identificar quais os tipos de violência mais habitualmente praticados, e as suas quantidades.

d) Traçar o perfil sociodemográfico dos acusados agressores de mulheres, vítimas de violência doméstica que registraram a agressão na Delegacia da Mulher (DPCAMI), do Município de Tubarão/SC, definindo qual o sexo, idade, estado civil, naturalidade, escolaridade, profissão, se tem filhos, o meio em que viveu, a reincidência.

e) Apresentar, na conclusão, possíveis ações que visem à prevenção a violência doméstica no Município de Tubarão/SC.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O delineamento da pesquisa visa estabelecer os meios utilizados na mesma, onde serão previstos os instrumentos e procedimentos utilizados na coleta de dados.

O tipo de pesquisa quanto ao nível é o exploratório, já quanto a abordagem a pesquisa é quantitativa.

No que diz respeito ao procedimento a pesquisa é documental, pois os dados serão coletados dos Boletins Ocorrência lavrados em desfavor dos acusados de violência doméstica.

Será utilizado também o procedimento bibliográfico.

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

O desenvolvimento da monografia foi estruturado em cinco capítulos.

O primeiro capítulo traduz-se na introdução ao tema, no qual apresentar-se-á a justificativa do tema e sua problematização, bem como os objetivos gerais e específicos do trabalho e os procedimentos metodológicos utilizados no decorrer da pesquisa.

No segundo capítulo será apresentado um estudo sobre a ciência da Criminologia, no qual serão apresentados os conceitos dos objetos de estudo da ciência, ou seja, o crime, o criminoso, a vítima e controle social do delito. Também serão apresentadas as principais Escolas Sociológicas do Crime.

No terceiro capítulo, vai se traçar um estudo da Política criminal sobre agressão as mulheres no Brasil, explicitando-se as inovações trazidas pela Lei n. 11.340/06.

(14)

No quarto capítulo vão ser indicados os resultados da pesquisa realizada. E por final, apresentam-se as conclusões do trabalho que traçam o perfil sociodemográficodos agressores de mulheres da Comarca de Tubarão/SC.

(15)

2CRIMINOLOGIA

Tratando-se o presente trabalho da definição de um perfil para os acusados de um crime para posterior análise de uma possível influência do meio na prática do crime, é imprescindível, para a compreensão do tema, a utilização da ciência da Criminologia, no qual será discutido sobre o delito, o criminoso, a vítima e o controle social do delito.

2.1 CONCEITO DE CRIMINOLOGIA

Criminologia deriva do latim crimen (crime e delito) e do grego logo (tratado). Foi o antropólogo francês Paul Topinard (1830-1911), o primeiro a utilizar este termo no ano de 1879. O termo criminologia passou a ser aceito internacionalmente com a publicação da obra Criminologia, isto no ano de 1855, de Raffaele Garofalo. (CALHAL, 2006, p. 7).

Entende-se por criminologia a ciência empírica e que tem por objetivo o crime, o delinquente, a vítima e o controle social do comportamento delitivo.

Calhau, (2006, p. 9) conceitua a Criminologia: A criminologia é uma ciência plural. Buscando o conhecimento científico, e ela recebe a influencia de diversas outras ciências (Psicologia, Sociologia, Biologia, Medicina Legal, Criminalística, Direito, Política etc.) com seus métodos respectivos.

Shecaira (2004, p.37, grifo do autor) conceitua a Criminologia:

Como ciência do “ser”, não é uma ciência “exata”, que traduz pretensões de segurança e certeza inabaláveis. Não é considerada uma ciência “dura”, como são aquelas que possuem conclusões que as aproximam das universais. Como qualquer ciência “humana” apresenta um conhecimento parcial, fragmentado, provisório, fluido, adaptável à realidade e compatível com evoluções históricas e sociais. De sorte que o saber empírico, subjacente ao conhecimento da criminologia, não deixa de apresentar certa dose de inexatidão em oposição às férreas leis universais das ciências “exatas”.

Manifesta-se, assim, que a Criminologia utiliza-se de meios e métodos próprios, mas relacionados de forma direta com outras ciências, entre elas o Direito Penal.

2.2 OBJETO DE ESTUDO

Durante muito tempo foram apenas o delito e o delinquente os objetos de estudo da criminologia. Da metade do século XX até a atualidade, passamos a ter não mais uma substituição, mas também uma ampliação do objeto de estudo, porquanto são mantidos os

(16)

interesses com o crime e o delinquente, e são adicionados mais dois pontos: a vítima e o controle social. (CALHAU, 2006, p.29).

Deste modo, a criminologia se preocupa em estudar o delito, o delinquente, a vítima e o controle social. A seguir passamos a apresentar um breve estudo acerca destes objetos.

2.2.1 O Delito

Vale ressaltar, neste tópico, a diferença entre os conceitos de delito para a Criminologia e para o Direito Penal.

Capez (2007, p. 114) apresenta o conceito de crime para o Direito Penal:

Crime só pode ser fato típico, ilícito (antijurídico) e culpável, uma vez que, sendo o dolo e a culpa imprescindíveis para a sua existência e estando ambos na culpabilidade, por óbvio esta última se tornava necessária para integrar o conceito de infração penal.

Para a Criminologia, o crime deve ser enfrentado como um problema social e como um fenômeno da sociedade, o que torna a conceituação do Direito Penal escasso.

Segundo Shecaira (2004, p. 44-47) para uma conduta tornar-se coletivamente como crime, sob o ponto de vista da Criminologia, é necessária a observância de quatro situações:

a) Incidência massiva na população: Não há que reconhecer à condição de crime a fato isolado, ainda que tal fato tenha gerado desaprovação da sociedade. Se o fato não se reitera, desnecessário tê-lo como delituoso.

b) Incidência aflitiva do fato praticado: É natural que o crime produza dor, quer à vítima, quer à comunidade como um todo. Assim, é desarrazoado que um fato, sem qualquer relevância social, seja punido na esfera criminal.

c) Persistência Espaço Temporal: Não há que ter como delituoso um fato, ainda que seja massivo e aflitivo, se ele não se distribui por nosso território, ao longo de certo tempo.

d) Inequívoco consenso: É necessário que o fato seja acolhido pela sociedade como ilegal. Não basta um fato ter a incidência aflitiva, estar espalhado por um território, e persistir por determinado tempo e ainda ser difundido na população, se este não é tido como lesivo ao direito das pessoas.

Para melhor esclarecer o assunto, tomemos como exemplo o uso do álcool. Seguramente poderíamos qualificar o álcool como uma droga lícita, onde seu uso é difundido

(17)

por todo o mundo (incidência massiva na população) e seu consumo indiscriminado produz sérias consequências ao dependente e aos seus familiares (incidência aflitiva do fato praticado), contudo não há um inequívoco consenso de que o uso de álcool é lesivo a todas as pessoas. Assim, incabível a sua criminalização.

2.2.2 O Criminoso

Para Gomes e Molina (2008, p.72), a figura do criminoso foi estudada sob diversas perspectivas. A primeira dela entendia ser o criminoso um pecador que optou pelo mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. Shecaira (2004, p.47) complementa que as penas impostas a estas pessoas deveriam ser proporcionais ao mal causado à sociedade.

A segunda perspectiva de estudo do criminoso foi da escola positivista. Estes entendiam que o criminoso era um escravo de sua carga hereditária: um animal selvagem e perigoso, que tinha uma regressão atávica e que, em muitas oportunidades, havia nascido criminoso. (SHECAIRA, 2004, p.47).

Segundo Shecaira (2204, p. 48) define a terceira perspectiva, a qual não teve grande importância no Brasil, mas que influenciou, a partir da Espanha, todos os países da América Espanhola. Para os correcionalista o criminoso é um ser inferior, deficiente, incapaz de dirigir por si mesmo – livremente – sua vida, cuja débil vontade requer uma eficaz e desinteressada intervenção do Estado.

Outra visão da criminalidade foi aquela concebida pelo marxismo que considera a responsabilidade do crime como uma decorrência natural de certas estruturas econômicas, de maneira que o infrator se torna mera vítima inocente e fungível daquelas. Quem é culpável é a sociedade. (SHECAIRA, 2004, p. 49).

Consideradas as diversas perspectivas e discussões sobre o estudo do criminoso, Shecaira (2004, p. 49 - 50) o define como:

O criminoso é um ser histórico, real, complexo e por vezes enigmático. Embora seja, na maior parte das vezes, um ser absolutamente normal, pode estar sujeito às influências do meio. Se for verdade que é condicionado, tem vontade própria e uma assombrosa capacidade de transcender, de superar o legado que recebeu e construir seu próprio futuro. Está sujeito a um consciente coletivo, como todos estamos, mas também, tem a capacidade ímpar de conservar sua própria opinião e superar-se, transformando e transformando-se. Por isso, as diferentes perspectivas não se excluem; antes, completam-se e permitem um grande mosaico sobre o qual se assenta o direito penal atual.

Salienta mencionar, ainda, que algumas das perspectivas citadas continuam a influenciar o Direito Penal Brasileiro. Pode-se citar como exemplo a adoção da medida de segurança, presente no atual Código Penal brasileiro, que segue a perspectiva positivista e,

(18)

ainda, a adoção da perspectiva correcionalista na adoção das medidas socioeducativas, na hipótese de atos infracionais praticados por adolescentes.

2.2.3 A Vítima

É muito importante o estudo da vítima, pois permite o exame do papel desempenhado por ela no desencadeamento do fato criminal.

No início, fase conhecida como idade de ouro, compreendida desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média, a vítima era muito valorizada, valorava-se muito a pacificação dos conflitos e a vítima era muito respeitada.

Com a adoção do processo penal inquisitivo, a vítima perde seu papel de protagonista do processo, passando a ter uma função acessória. A vítima inicia seu caminho rumo ao ostracismo, sendo substituída, no conflito de natureza criminal, pelo soberano. (SHECAIRA, 2004, p. 50 - 51).

Sobre o tema, Gomes e Molina (2008, p.74):

O abandono da vítima do delito é um fato incontestável que se manifesta em todos os âmbitos: no Direito Penal (material e processual), na Política Criminal, na Política Social, nas próprias ciências criminológicas. Desde o campo da Sociologia e da Psicologia social, diversos autores, têm denunciado esse abandono: o Direito Penal contemporâneo – advertem – acha-se unilateral e equivocadamente voltado para a pessoa do infrator, relegando a vítima a uma posição marginal, no âmbito da previsão social e do Direto civil material e processual.

Hoje em dia, a vítima vem desempenhando o seu papel, nas quais as legislações atuais vem dando atenção a sua atuação, podemos citar o artigo 59 do Código Penal brasileiro:

Art. 59. O juiz atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como o comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.(BRASIL, 1940, grifo nosso).

Como verificamos a vítima voltou a ter um papel de destaque na relação jurídica, inclusive influenciando na aplicação da pena. Contudo, o único detentor do direito de punir continua sendo o Estado.

Vale salientar a classificação adotada por grande parte dos doutrinadores acerca do conceito de vítima, e estas podem ser primárias, secundárias e terciárias. Conforme passamos a explanar:

a) Vítima Primária: Para Gomes e Molina (2008, p.79), a vitimização primária “é o processo pelo qual uma pessoa sofre, de modo direto ou indireto, os efeitos nocivos derivados do delito [...].”

(19)

b) Vítima Secundária: Para Calhau (2006, p. 37 -38):

Já a sobrevitimização do processo penal ou vitimização secundária é “o sofrimento adicional que a dinâmica da Justiça Criminal (Poder Judiciário, Ministério Público, Polícias e sistema penitenciário), com suas mazelas, provoca normalmente nas vítimas.” [...] Esta está ligada diretamente ao fenômeno que conhecemos na criminologia como cifras negras, ou seja, o conjunto de crimes que não chegam ao conhecimento do Estado pelos mais variados motivos.

c) Vítima terciária: Oliveira (1999, p.144) afirma que:

A vitimização terciária vem da falta de amparo dos órgãos públicos (além das instâncias de controle) e da ausência de receptividade social em relação à vítima. Especialmente diante de certos delitos considerados estigmatizadores, que deixam sequelas graves, a vítima experimenta um abandono não só por parte do Estado, mas, muitas vezes, também por parte do seu próprio grupo social.

Para Calhau (2006, p.45) Há muita resistência no Direito Penal em aceitar uma participação mais ativa da vítima na dogmática penal, todavia, o Direito Penal não pode se desconectar da realidade criminal ao ponto de não proteger a vítima tal qual ela merece e, há de se respeitar também a vítima criminal, pois a cidadania é um dos fundamentos de nossa República, e a proteção da mesma se coaduna também com um dos objetivos do Estado Democrático de Direito.

2.2.4 Controle social do delito

Desde que Max Weber introduziu a ideia de “monopólio da força legítima”, necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a convivência interna de seus membros, razão pela qual se vê obrigada a criar uma gama de instrumentos que garantam a conformidade dos objetivos eleitos no plano social. (SHECAIRA, 2004, p. 55).

Para Gomes e Molina (2008, p. 126), o controle social é entendido como o conjunto de instituições, estratégias e sanções sociais que pretendem promover o submetimento do individuo aos modelos e normas comunitários.

O desrespeito a essas normas sociais pode criar um estigma negativo na pessoa (ex: ela pode ser taxada pelos amigos de encrenqueira e acabar sofrendo um isolamento social), pode até ser agredida (ex: uma pessoa durante um jogo do Flamengo e do Vasco, adentra a área reservada da torcida do time adversário com a camisa de seu time) ou até, num caso mais grave, ser acusada da prática de um delito e ser presa. (CALHAU, 2006, p. 48).

(20)

Um grande anseio dos pesquisadores do crime é descobrir até que ponto uma pessoa é livre para tomar suas próprias decisões ou até que ponto o meio em que ele está inserido é o responsável pela tomada de determinada atitude. A finalidade de encontrar uma explicação para a criminalidade provocou a criação de inúmeras teorias acerca do tema, nas quais uma foi pavimentando o caminho para que a outra se estruturasse, as quais serão expostas.

Para Shecaira (2004, p.134 – 137), no que tange as Escolas Sociológicas do Crime, existem principalmente dois grupos: as consideradas de consenso e as conflitivas.

As teorias de consenso são: a Escola de Chicago, a Teoria da Associação Diferencial, a Teoria da Anomia e da Subcultura Delinquente. Para estas, a finalidade da sociedade é atingida quando há um perfeito funcionamento das suas instituições de forma que os indivíduos compartilham os objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as regras sociais dominantes.

As teorias Conflitivas são: LabbelingAproach(interacionismo simbólico) e a Teoria Crítica são incluídas no grupo das Teorias Críticas que, diferindo-se da Teoria Consensual, a ordem social é mantida pela força e pela coerção, isto é, em um conflito constante de classes.

2.3.1 Escola de Chicago

O surgimento da Escola de Chicago acontece com a expansão industrial vivida pelos Estados Unidos no século XIX. Com o aumento da demanda de mão de obra para as fábricas, vários imigrantes deslocaram-se para o país, atentando um forte choque cultural e encontrando condições precárias de sobrevivência. Neste sentido, leciona Schecaira (2004, p.144).

A explosão de crescimento da cidade, que se expande em círculos do centro para a periferia, cria graves problemas sociais, trabalhistas, familiares, morais e culturais que se traduzem em um fermento conflituoso, potencializador da criminalidade. A inexistência de mecanismos de controle social e cultural permite o surgimento de um meio social desorganizado e criminógeno que se distribui diferenciadamente pela cidade.

O aumento populacional e a expansão urbana de forma desordenada fizeram com que alguns entes que possuíam o papel de controladores informais do crime, como, por exemplo, a vizinhança, a escola, a igreja, perdessem a sua capacidade de agir como controladores, já que as pessoas passaram a se conhecer de maneira superficial. Tal fator, associado às péssimas condições e desorganização social, resulta no aumento de atos delituosos, doenças, prostituição, suicídio, entre outros. (SCHECAIRA 2004, p.144).

(21)

Um meio desorganizado e insalubre colabora para o aumento da criminalidade. Para terem sucesso, demandam amplos programas que envolvam recursos humanos junto à comunidade e que concentrem esforços dos cidadãos em torno das forças construtivas da sociedade. (SHECAIRA, 2004, p.167).

Por fim, esforços devem ser feitos para a melhoria das residências, conservação física dos prédios e melhorias sanitárias das condições de alguns bairros pobres da cidade, áreas estas mais propensas a proliferação da criminalidade.

2.3.2 Teoria da Associação Diferencial

A definição da Teoria da Associação Diferencial é o aprendizado, ou seja, o criminoso torna-se delinquente quando sofre um processo de aprendizado proporcionado pelo contato com grupos acostumados a delinquir.

Para Shecaira (2004, p.195), o comportamento criminal é aprendido mediante a interação com outras pessoas, resultante de um processo de comunicação. Trata-se de um processo de imitação que se inicia no âmbito familiar, incluindo até mesmo a aprendizagem do gestual.

A Teoria é chamada de Associação Diferencial, porque considera que o procedimento de associação pelo qual se desenvolve o comportamento delinquente é exatamente igual àquele que desenvolve o comportamento legal. Porém o conteúdo e os padrões apresentados diferem-se, nas palavras de Shecaira (2004, p.197):

A associação diferencial é possível porque a sociedade se compõe em vários grupos com culturas diversas. A cultura criminosa é tão real como a cultura legal e prevalece em muitas circunstâncias, dependendo apenas da preponderância dos fatores favoráveis em relação aos desfavoráveis.

Corrobora para o entendimento da Teoria em tela é a desorganização social. É causa básica do comportamento criminoso sistemático. A perda das raízes pessoais e a falta de controle social informal sobre as pessoas é que fazem com que elas se vejam inclinadas à prática do ato delitivo. (SHECAIRA, 2004, p.197).

Para finalizar, deste modo, que a Teoria da Associação Diferencial parte da ideia de que o crime não pode ser definido apenas como uma disfunção inerente à pessoa, mas sim que o homem aprende a conduta delituosa e associa-se com referencia nela.

(22)

Segundo Shecaira (2004, p. 215) anomia é uma palavra que tem origem etimológica no grego (a = ausência; nomos = lei) e que significa sem lei, conotando também a idéia iniquidade, injustiça e desordem.

Ainda Shecaira (2004, p. 229) vê o delito como um fenômeno normal da sociedade e não necessariamente ruim. Por fim, há crimes que apresentam um caráter progressista, dando a comunidade a refletir sobre seus valores e crenças a serem superados. As condutas desviantes permitem à sociedade definir com mais precisão sua ordem moral (a chamada consciência coletiva) e, de outra parte, fortalecê-la, por meio do aprendizado em face da violação da lei.

Sobre a teoria da Anomia ensina Baratta (2002, p.59):

A teoria-funcionalista da anomia e da criminalidade afirma que:

1) As causas do desvio não devem ser pesquisadas nem em fatores bioantropológicos e naturais (clima, raça), nem em uma situação patológica da estrutura social.

2) O desvio é um fenômeno natural de toda estrutura social.

3) Somente quando são ultrapassados determinados limites, o fenômeno do desvio é negativo para a existência e o desenvolvimento da estrutura social, seguindo-se um estado de desorganização, no qual todo o sistema de regras de conduta perde valor, enquanto um novo sistema ainda não se firmou (esta é a situação de “anomia”). Ao contrário, dentro de seus limites funcionais, o comportamento desviante é um fator necessário e útil para o equilíbrio e o desenvolvimento sociocultural.

Para finalizar, na Teoria da Anomia, o criminoso desenvolve um papel útil para a sociedade, na medida em que contribui para o progresso social, promovendo, através de suas ações, a modificação das regras sociais e a revisão de valores morais.

A aludida Teoria rompeu o estigma que afirmava que a conduta delituosa era anormal. Para ela, os criminosos são pessoas iguais a nós mesmos, querendo, apenas, o sucesso pessoal por caminhos inovadores.

2.3.4 Teoria da Subcultura Delinquente

Para Calhau (2006, p. 65) A subcultura delinquente é uma cultura associada a sistemas sociais (incluindo subgrupos) e categorias de pessoas (tais como grupos étnicos) que fazem parte de sistemas mais vastos, como organizações formais, comunidades ou sociedades.

Sobre a teoria da subcultura delinquente, ensina Shecaira (2004, p.249)

A subcultura delinquente, por sua vez, pode ser resumida como um comportamento de transgressão que é determinado por um subsistema de conhecimento, crenças e atitudes que possibilitam, permitem ou determinam formas particulares de comportamento transgressor em situações específicas. Esse conhecimento, essas crenças e atitudes precisam existir, primeiramente, no ambiente cultural dos agentes dos delitos e são incorporados à personalidade, mais ou menos, como quaisquer outros elementos da cultura ambiente.

(23)

Segundo Albergaria (1999, p.129), a subcultura delinquente surge quando há uma guerra entre classes sociais, onde, de maneira geral, as classes baixas tentam suprir suas necessidades, atacando as classes médias. Veja-se:

A conduta desses grupos é um produto de soluções coletivas dos problemas de

status, necessidades e frustações que sofrem as classes baixas num mundo de

valores e virtudes predominantes da classe média, como a ambição, a autoconfiança, o respeito à propriedade, oposição à violência, protelação de satisfações imediatas. O jovem da classe baixa rejeita os valores da classe dominante porque não integram o seu mundo. A formação do bando é uma consequência natural para os jovens da classe baixa, que se reúnem por seus sentimentos comuns de hostilidade. A subcultura assim formada representa a oposição aos valores da classe média, oposição que se caracteriza por sua malignidade em face a tudo que for virtuoso, hedonismo que busca satisfações imediatas, atos não-utilitários e negativos.

Calhau (2006, p. 67), conclui que a conduta delitiva para a Teoria Subcultural não era fruto da desorganização ou da ausência de valores, mas sim reflexo e expressão de outros sistemas de normas e valores distintos.

2.3.5 Labbelling Approach ou Teoria do Etiquetamento

Para Calhau (2006, p.68), A teoria do etiquetamento rompeu paradigmas. Ela deu um giro profundo na forma de se analisar o crime. Deixou de centrar estudos no fenômeno delitivo em si e passou a focar suas atenções na reação social proveniente da ocorrência de um determinado delito.

Para Shecaira (2004, p. 290 - 291), a pretensão inicial do labbeling approach, desloca o problema criminológico do plano da ação para o da reação (dos badactors para o powerfulreactors), fazendo com que a verdadeira característica comum dos delinquentes seja a resposta das audiências de controle. A explicação interacionista caracteriza-se, assim, por incidir quase exclusivamente sobre a chamada delinquência secundária, isto é, a delinquência que resulta do processo causal desencadeado pela estigmatização.

Greco (2005 apud Calhau, 2006, p. 68) Os processos de desvio, assim, podem ser considerados primários e secundários. O desvio primário corresponde à primeira ação delitiva do sujeito, que pode ter como finalidade resolver alguma necessidade, por exemplo, econômica, ou produz-se para acomodar sua conduta às determinado grupo subcultural. O desvio secundário se refere à repetição dos atos delitivos, especialmente a partir da associação forçada do indivíduo com outros sujeitos delinquentes.

Zaffaroni (1996, apud Calhau, 2006, p.68) afirma que:

A tese central dessa corrente pode ser definida, em termos muitos gerais, pela afirmação de que cada um de nós se torna aquilo que os outros vêem em nós e, de acordo com essa mecânica, a prisão cumpre uma função reprodutora: a pessoa

(24)

rotulada como delinquente assume, finalmente, o papel que lhe é consignado, comportando-se de acordo com o mesmo. Todo o aparato do sistema penal está preparado para essa rotulação e para o reforço desses papéis.

Chega-se que a conclusão de que o autor de um crime, após ser processado, condenado, e após cumprir a sua pena, passa a receber a etiqueta de criminoso. Por vezes, este estigma é tão profundo que ele mesmo passa a adotar para si esta característica o que, em alguns casos, explica a carreira criminosa e o desvio secundário, também chamado de reincidência criminal.

2.3.6 Teoria Crítica

A Teoria Crítica é a mais recente se firmou na década de setenta. Surgiu quase ao mesmo tempo nos Estados Unidos e na Inglaterra.

Segundo Shecaira (2004, p.357), atribui o crime não ao criminoso, mas “às bases estruturais econômicas e sociais, que caracterizam a sociedade na qual vive o autor do delito”.

Segundo Gomes e Molina (2008, p. 316):

O delito é sempre um produto histórico, patológico e contingente da sociedade capitalista. Ela contempla a ordem social como confrontação de “classes antagônicas”, sendo que uma delas se sobrepõe e explora a outra, servindo-se do Direito e da Justiça Penal. O conflito inerente à sociedade capitalista, por último, é – para o marxismo ortodoxo – um conflito de classes enraizado nos modos de produção e na infra-estrutura econômica daquela”.

Portanto, o praticante do fato delituoso não o faz por um determinismo, como trazem as demais teorias, mas pratica o crime como “solução dos problemas impostos pelo fato de viver em uma sociedade caracterizada por contradições”. (SHECAIRA, 2004, p.357).

Passados os principais conceitos da Criminologia, bem como as Escolas Criminológicas, apresenta-se, em seguida, alguns dos aspectos culturais da Comarca de Tubarão, já que a pesquisa constante deste trabalho será delimitada neste espaço territorial.

2.4 ASPECTOS CULTURAIS DA COMARCA DE TUBARÃO/SC

A Comarca de Tubarão foi criada em l875 e instalada a 25 novembro de l876, e compreende nos dias atuais os municípios de: Tubarão e Pedras Grandes.

a) Tubarão: É o município sede da comarca, possui uma área territorial de Área - 313km2 e uma população aproximada de 90.000 (noventa mil) habitantes. O município foi colonizado por Italianos, alemães e açorianos, destaca-se na pecuária e na agricultura. É o segundo centro comercial do sul do Estado, principalmente na área de cerâmica. Destaque

(25)

também para o turismo, centrado em suas estâncias hidrominerais. (SANTA CATARINA, 2012).

b) Pedras Grandes: possui uma área territorial de aproximadamente 181km2, e uma população de aproximadamente de 5.000 (cinco mil) habitantes. O município foi colonizado por italianos, destacam-se na agricultura, com ênfase no plantio de fumo, batatas, uvas, ameixa e pêssego. (SANTA CATARINA, 2012).

Assim, considerados os temas básicos abordados na Criminologia e os aspectos culturais do meio em que os acusados de agressão a mulheres pesquisados estão inseridos, passa-se ao estudo do crime de violência doméstica, previsto na Lei n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha).

(26)

3 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER

Até surgir a Lei Maria da Penha houve muitos casos de violência contra as mulheres, que não eram reconhecidas pelo Estado, essas mulheres lutavam pelo fim da violência, luta esta, que é de suma importância para a sociedade.

Este capítulo aborda todo o caminho percorrido pelas mulheres, especificamente por Maria da Penha, até a sanção da Lei n° 11.340 de 2006.

3.1POR QUE MARIA DA PENHA

A Lei 11.340/06 recebeu o nome de Lei Maria da Penha. Sua justificativa é dolorosa. A farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes foi maia uma das tantas vítimas da violência doméstica deste país. Em Fortaleza, Ceará, por duas vezes, seu marido, o professor universitário e economista M. A. H. V., tentou mata-la. Na primeira vez, em 29 de maio de 1983, simulou um assalto fazendo uso de uma espingarda. Com o resultado ela ficou paraplégica. Após alguns dias, pouco mais de uma semana, em nova tentativa ele buscou eletrocutá-la por meio de uma descarga elétrica enquanto tomava banho. (DIAS, 2010, p.15)

Tais agressões não aconteceram de repente. Durante seu casamento, Maria da Penha sofreu repetidas agressões e intimidações, sem reagir por medo de represália ainda maior contra ela e as três filhas. Depois de ter sido quase assassinada, por duas vezes, tomou coragem e decidiu fazer uma denúncia pública. Maria da Penha denunciou as agressões que sofreu. Mas nenhuma providência era tomada, chegou a ficar com vergonha e a pensar: “se não aconteceu nada até agora, é porque ele, o agressor, tinha razão de ter feito aquilo.” Mesmo com tudo contra, encontrou força e escreveu um livro, “Sobrevivi, posso contar”, unindo-se ao movimento de mulheres em situação semelhante a sua. (PENHA 2007, apud DIAS, 2010, p.15)

No caso da Maria da Penha Maia Fernandes, as investigações do seu caso começaram apenas em junho de 1983, mas a denúncia só foi oferecida em setembro de 1984. Em 1991, o réu foi condenado pelo tribunal do júri a oito aos de prisão. Além de ter recorrido em liberdade, ele, um ano depois, teve seu julgamento anulado. Levado a novo julgamento, em 1996, foi-lhe imposta a pena de dez anos e seis meses. Mais uma vez recorreu em liberdade e somente 19 anos e 6 meses após os fatos, em 2002, é que M. A. H. V. foi preso. Cumpriu apenas dois anos de prisão e foi liberado. (DIAS, 2010, p. 16).

(27)

Somente após 25 anos, finalmente foi editada a Lei 11.340/06, dando cumprimento às convenções e tratados internacionais do qual o Brasil é signatário.

Quando o então Presidente Lula assinou a Lei 11.340/2006 disse: “Esta mulher renasceu das cinzas para se transformar em um símbolo da luta contra a violência doméstica no nosso país.” (DIAS, 2010, p.17).

3.2 UM OLHAR NO TEMPO

3.2.1 No passado

Antes da edição da Lei Maria da Penha, a violência doméstica nunca recebeu a merecida atenção, nem da sociedade, nem do legislador e muito menos do judiciário.

Segundo Dias (2010, p. 25), a ideia sacralizada e a inviolabilidade do domicílio sempre serviram de justificativa para barrar qualquer tentativa de coibir o que acontecia entre quatro paredes. Como eram situações que ocorriam no interior do “lar, doce lar”, ninguém interferia.

Com determinação do artigo 98, I, da Constituição Federal:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; (BRASIL, 1988)

Com o entendimento do artigo supra criado foi criado a lei dos Juizados Especiais, Lei 9.099/95.

A lei 9.099/95 veio para dar maior efetividade aos comandos constitucionais e significou verdadeira revolução no sistema processual penal brasileiro. Com isso a justiça desafogou-se, ganhou celeridade e fez diminuir a ocorrência de prescrição, emprestando maior credibilidade ao Poder Judiciário. (DIAS, 2010, p. 25-26).

Ainda que tenha havido uma consciente tentativa de acabar com a impunidade, deixou o legislador de priorizar a pessoa humana, ao condicionar à representação os delitos de lesão corporal leve e lesão culposa, omitiu-se o Estado de sua obrigação de punir, transmitindo à vítima a iniciativa de buscar a apenação de seu agressor. (DIAS, 2010, p. 26).

A violência intrafamiliar merecia um tratamento diferenciado, fato este ignorado pelos legisladores. Manifesto descaso, ao ser exigido a representação no delito de lesões

(28)

corporais, sem ressalvar a violência contra a mulher, a qual ocorre no seio familiar, pois a vítima, ao veicular a queixa, nem sempre quer se separar do agressor, nem tampouco quer que ele seja preso, apenas quer que as agressões cessem.

Segundo (DIAS, 2010, p. 27) A mulher, quando procura por socorro, já esta cansada de apanhar e se vê imponente. A submissão que lhe é imposta e o sentimento de menos valia a deixam cheia de medo e vergonha. Aliás, este é o motivo de ela não denunciar a primeira agressão.

Para suprir essa carência foram criadas as Delegacias da Mulher, e a primeira a ser implantada foi em São Paulo, no ano de 1985. Com esses espaços as mulheres se sentiam mais seguras em denunciar os seus agressores, pois o atendimento era feito em sua maioria por mulheres, o que estimulavas as mulheres a denunciar as agressões sofridas. Da mesma forma contribuía o fato de os agressores serem chamados perante a autoridade policial.

A Lei dos Juizados Especiais esvaziou as Delegacias da Mulher, que passaram a tão somente a lavrar termos circunstanciado e encaminhá-los a juízo. Em audiência preliminar a conciliação mais do que proposta, era imposta pelo juiz, ensejando simples composição dos danos. Não obtido o acordo, a vítima tinha o direito de representar, o que constrangia a mulher e contribuía para o arquivamento de 70% dos processos, pois a representação era feita na presença do agressor. (DIAS, 2010 p. 28).

Mesmo a mulher representando, se sem sua participação, o Ministério Público podia transacionar a aplicação de multa ou pena restritiva de direitos. O agressor aceitando a proposta o crime desaparecia, não ensejava reincidência, não constava da certidão de antecedentes e nem tinha efeitos civis, pois a mulher sempre foi considerada propriedade do marido.

Os avanços legais eram tímidos. O artigo 1o da lei 10.455/02 mudou a redação do parágrafo único do artigo 69 da lei 9.099/95, a qual passou a ter a seguinte redação:

Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima". (BRASIL, 2002)

A lei 10.455, de 2002, criou medida cautelar, de natureza penal, ao admitir a possibilidade de o juiz decretar o afastamento do agressor do lar conjugal na hipótese de violência doméstica. (DIAS, 2010 p. 28)

Entretanto a lei 10.886, de 2004, acrescentou um subtipo à lesão corporal leve, decorrente de violência doméstica, aumentando a pena mínima de três para seis meses de

(29)

detenção. Essas mudanças não empolgaram, pois o procedimento continuava a tramitar no Juizado Especial, estando sujeito à incidência dos institutos despenalizadores da lei 9.099/95 (BASTOS, 2007 apud DIAS, 2010, p. 29). Além disso, era possível a transação penal, a concessão de sursis processual, a aplicação das penas restritivas de direitos, e, se a lesão fosse leve, a ação dependia de representação da vítima. (JESUS, 2004 apud DIAS, 2010, p. 29).

Com a criação das Delegacias da Mulher e dos Juizados Especiais, houve um aumento expressivo no número de registros policiais de lesões corporais e ameaças, em torno de 70% dos casos julgados envolviam violência contra a mulher, o que demonstravam a banalização da violência doméstica, não havendo solução satisfatória para o conflito. (DIAS, 2010, p. 29)

A justificativa para o baixo índice de condenação, sempre foi a preservação da família. As absolvições, para garantir a harmonia familiar, acabavam tendo efeito contrário, consagravam a impunidade e condenavam a violência à invisibilidade.

Como os níveis de violência começaram a alarmar e assustar a atenção de todos. Embora, com o advento da Lei Maria da Penha, ao menos se espera que tenha havido significativa redução.

3.2.2 Um novo tempo

Em uma boa hora entrou em vigor, em 22 de setembro de 2006, alei 11.340, de 07/08/2006, com o nome de Maria da Penha, e cria:

Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. (BRASIL, 2006).

Os progressos da nova lei Maria da Penha são muitos e expressivos. Uma das grandes novidades foi a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher – JVDFMs, com competência cível e criminal (artigo 14, da lei 11.340/06).

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. (BRASIL, 2006).

Com o advento da nova lei a vítima deverá estar sempre acompanhada de advogado, tanto na fase policial como na fase judicial, sendo-lhe garantido o acesso aos

(30)

serviços da Defensoria Pública e da Assistência Judiciária Gratuita, não podendo ser a ofendida portadora da notificação ou da intimação ao agressor. (DIAS, 2010, p. 30).

A vítima deve ser pessoalmente informada quando o agressor for preso ou liberado da prisão. Ainda, constada a violência, cabe ao juiz de ofício adotar medidas protetivas, conforme o artigo 22 da lei 11.340/06.

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. (BRASIL, 2006)

É proibida a aplicação de pena pecuniária, multa ou entrega de cesta básica e permite a prisão preventiva do ofensor.

O artigo 45 da lei 11.340/06 acrescenta o parágrafo único ao artigo 152 da Lei de Execução penal: “Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.” o qual permite que o juiz determine o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação.

É importante que as penas restritivas de direito sejam molde a propiciar uma mudança de comportamento de quem pratica o crime sem entender o caráter criminoso de seu agir, porém para o cumprimento da determinação judicial neste sentido, é necessário que tais espaços de recuperação e reeducação existam. (DIAS, 2010, p. 31).

Conforme pesquisa Data senado, sobre Violência contra a mulher, 2005 e 2007, a lei 11.340/06, é a resposta para o inquietante problema da violência doméstica. Ao menos é o que parece. Em 2005, 95% das pessoas entrevistadas desejavam uma lei específica para proteger as mulheres da violência doméstica. Já no ano de 2007, 54% achavam que a lei Maria da Penha é o mecanismo que protege total ou parcialmente as mulheres. (DIAS, 2010, p. 31).

(31)

Para dar efetividade a lei Maria da Penha, a Constituição Federal preceitua em seu artigo 226, § 8º: “ O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”

Esta proteção é para colocar a mulher a salvo do agressor, para que tenha coragem de denunciar sem temer que sua palavra não seja levada a sério. Só assim será possível dar efetividade a Lei Maria da Penha.

3.3 ALGUNS CONCEITOS

Importante ressaltar os conceitos básicos introduzidos pela Lei Maria da Penha.

3.3.1 Conceito de Violência Doméstica

Para se chegar ao conceito de violência doméstica é necessário a junção dos artigos 5.º e 7. º da lei Maria da Penha.

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. (BRASIL, 2006)

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de

(32)

trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

A lei primeiro define o que é violência doméstica em seu artigo 5.º, e depois, estabelece seu campo de abrangência. A violência passa a ser doméstica quando praticada: a) no âmbito da unidade doméstica; b) no âmbito da família; ou c) em qualquer relação íntima de afeto, independente da orientação sexual da vítima. (DIAS, 2010, p. 51).

Segundo Dias (2010, p. 50-51) A absoluta falta de consciência social do que seja violência doméstica é que acabou condenando este crime à invisibilidade. Aliás, as agressões contra a mulher sequer eram identificadas como violação dos direitos humanos. Daí louvável a iniciativa do legislador em expressamente fazer tal afirmação “Art. 6o

A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos.” Que inclusive tem caráter pedagógico.

Modo expresso está ressalvado que não há necessidade de vítima e agressor viverem sob o mesmo teto para a configuração da violência como doméstica ou familiar. Basta que agressor e agredida mantenham, ou já tenham mantido, um vínculo de natureza familiar. (DIAS, 2010, p. 52).

3.3.2 Unidade Doméstica

A expressão unidade doméstica deve ser entendida no sentido de que a conduta foi praticada em razão dessa unidade da qual a vítima faz parte. A tendência é reconhecer que neste contexto estão incluídas as empregadas domésticas, com algumas distinções: a denominada “diarista”, que trabalha apenas um, dois ou três dias por semana, não está protegida pela lei em razão de sua pouca permanência no local de trabalho. Por fim, a que trabalha e mora na residência da família, desfrutando de uma convivência maior com todos, deve ser considerada um de seus membros, merecendo ser receptora da especial tutela legal. (DIAS, 2010, p. 59).

Não podemos excluir do conceito de unidade familiar a convivência decorrente da tutela ou da curatela. Mesmo que o tutor e o curador não tenham vínculo de parentesco com a tutelada ou curatelada.

De um modo geral, existe alguma verticalização de poder nestas relações, e a ocorrência de violência cabe ser qualificada como doméstica.

(33)

Alerta Nucci (2008, p. 864) a mulher agredida no âmbito da unidade doméstica deve fazer parte da relação familiar. Não seria lógico que qualquer mulher, bastando estar na casa de alguém, onde há relação doméstica entre terceiros, se agredida fosse, gerasse a aplicação da agravante trazida pela lei Maria da Penha.

Importante salientar que o agressor não precisa necessariamente coabitar com a vítima, basta ser demonstrado o nexo causal entre a conduta do agente e a relação íntima de afeto entre ele e a vítima.

Neste sentido é o entendimento Jurisprudencial:

PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXEGESE DO ART. 2º DA RESOLUÇÃO 43/2008-TJ. AMEAÇA E INJÚRIA PROFERIDAS POR EX-NAMORADO (ARTS. 147 E 140 DO CP). NEXO CAUSAL DEMOSTRADO ENTRE A CONDUTA DO AGENTE E A RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO ENTRE ELE E A VÍTIMA. APLICABILIDADE DA LEI 11.340/2006. DESNECESSIDADE DE COABITAÇÃO. CONFLITO PROCEDENTE. - Aplica-se a Lei Maria da Penha quando demonstrado nexo causal entre a conduta do agentee a relação íntima de afeto entre ele e a vítima, independentemente de coabitação. - Inteligência do art. 41 da Lei 11.340/2006, que impossibilita o processamento e julgamento pelos Juizados Especiais de crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher independentemente da pena prevista. - Parecer da PGJ pelo conhecimento e reconhecimento da competência da 1ª Vara Criminal. - Conflito conhecido e julgado procedente para declarar a competência para processar e julgar a ação penal da 1ª Vara Criminal. (TJSC, Conflito de Jurisdição n. 2012.059490-6, de Itajaí, rel. Des. Carlos Alberto Civinski , j. 23-10-2012) (SANTA CATARINA, 23-10-2012)

E ainda:

AÇÃO PENAL. LESÕES CORPORAIS LEVES. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. ARTIGO 129, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. ARTIGOS 5º, III, E 7º, I, AMBOS DA LEI N. 11.340/2006. PRELIMINAR. SUPOSTA INAPLICABILIDADE DA REFERIDA LEI. RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO. ALEGAÇÃO DE

INEXISTÊNCIA. ANÁLISE DO CONJUNTO PROBANTE.

RELACIONAMENTO EVIDENCIADO. LEI MARIA DA PENHA.

APLICABILIDADE RECONHECIDA. PREFACIAL REJEITADA. "Vínculos afetivos que refogem ao conceito de família e de entidade familiar nem por isso deixam de ser marcados pela violência. Assim, namorados e noivos, mesmo que não vivam sob o mesmo teto, mas resultando a situação de violência do relacionamento, faz com que a mulher mereça o abrigo da Lei Maria da Penha. Para a configuração de violência doméstica é necessário um nexo entre a situação que a gerou, ou seja, a relação íntima de afeto deve ser a causa da violência" (DIAS, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça: a efetividade da Lei 11.340/2006 de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 45-46). MÉRITO. PRETENSÃO ABSOLUTÓRIA. ARGUIÇÃO DE LEGÍTIMA DEFESA. ARTIGO 156 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ÔNUS DA PROVA. ATRIBUIÇÃO À DEFESA. LAUDO PERICIAL. CARACTERÍSTICA DAS LESÕES. PROVA ORAL. EXCLUDENTE DE ILICITUDE NÃO DEMONSTRADA. ABSOLVIÇÃO INVIÁVEL. RECURSO NÃO PROVIDO. DESCLASSIFICAÇÃO HAVIDA NA SENTENÇA. APLICAÇÃO EM PRIMEIRO GRAU DO ARTIGO 129, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL. DEFINIÇÃO JURÍDICA DO FATO. INCIDÊNCIA DO § 9º DO REFERIDO DISPOSITIVO. CORREÇÃO DESSA PARTE DA DECISÃO. PROVIDÊNCIA ADOTADA DE OFÍCIO. "O acusador deve provar a realização do fato; o acusado, eventual causa excludente da tipicidade, da antijuridicidade, da culpabilidade ou extintiva da punibilidade" (JESUS, Damásio de. Código de processo penal anotado.

(34)

24. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 186). Dessa forma, ausente prova de que as agressões perpetradas contra a ofendida decorreram de repulsa à injusta lesão ou ameaça de lesão a direito do acusado, torna-se impossível acolher o pleito absolutório escorado na referida excludente de ilicitude. Ademais, mesmo se tivesse sido demonstrado tratar-se de uma reação a agressões supostamente praticadas pela vítima, não houve moderação na utilização dos meios para repeli-las, razão pela qual igualmente mostra-se incabível o reconhecimento da legitíma defesa. (SANTA CATARINA, 2011)

3.3.3 Família

Com a edição da lei Maria da penha, de forma corajosa o legislador definiu o que é família, artigo 5º, II: “comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa”. (BRASIL, 2006).

“De forma exemplificativa, refere-se ao casamento, à união estável e a família monoparental, sem, no entanto, deixar ao desabrigo outros modelos familiares as usar a expressão “entende-se também como entidade familiar” (CF/88, artigo 226, §4º):” “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.” (BRASIL, 1988)

Assim, as famílias anaparentais (formadas entre irmãos), as homoafetivas (constituída por pessoas do mesmo sexo) e as famílias paralelas (quando o homem mantém duas famílias), igualmente estão albergadas no conceito constitucional de entidade familiar como merecedora da especial tutela do Estado. (DIAS, 2010 p. 61).

O conceito de família trazida pela Maria da Penha enlaça todas as estruturas de convívio marcadas por uma relação íntima de afeto.

3.3.4 Formas da Violência

A violência doméstica não tem correspondência com tipos penais, o rol trazido pela Lei não é exaustivo, tanto que o artigo 7º utiliza a expressão “entre outras”. As ações fora da nominata legal podem gerar a adoção de medidas protetivas no âmbito civil, ainda que, pela falta de tipicidade, não sejam delitos em sede de Direito penal. (DIAS, 2010, p. 64)

A Lei Maria da Penha estabelece expressamente quais as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher:

(35)

O conceito de violência física esta inserido no artigo 7º, I, da Lei Maria da Penha: “a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal.” (BRASIL, 2006)

A violência física ocorre quando alguma pessoa causa ou tenta causar dano por meio de força física, de qualquer tipo de arma ou instrumento que possa causar lesões à vítima.

3.3.6 Violência Psicológica

O conceito de violência psicológica esta inserido no artigo 7º, II, da Lei Maria da Penha:

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;(BRASIL, 2006)

A proteção é da autoestima e da saúde psicológica. A violência psicológica foi incorporada ao conceito contra a mulher na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Doméstica, conhecida como Convenção do Belém do Pará. O comportamento típico se dá quando o agente ameaça, rejeita, humilha ou discrimina a vítima. (DIAS, 2010, p.66)

3.3.7 Violência Sexual

O conceito de violência sexual esta inserido no artigo 7º, III, da Lei Maria da Penha:

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; (BRASIL, 2006)

Houve certa resistência da doutrina e da jurisprudência em admitir a possibilidade da ocorrência de violência sexual nos vínculos familiares. A tendência sempre foi identificar o

Referências

Documentos relacionados

• Pulse este botón cuando el mando a distancia esté encendido; el sistema se revertirá automáticamente al ajuste anterior, incluyendo el modo de funcionamiento, temperatura

Licitação Valor Empenhado Valor Liquidado Valor Pago Movimentação do dia 21 de Setembro de 2015.. 04 - EMPRESA DE DESENVOLVIMENTO URBANO E RURAL 04.01 - EMDURB - EMPRESA

Os vários modelos analisados mostram consistência entre as diferenças de precipitação do experimento do século vinte e os experimentos com cenários futuros, no período de

A indústria farmacêutica pediu hoje ao Governo que inclua a distribuição de medicamentos nos hospitais e farmácias, nos serviços mínimos da greve dos motoristas de matérias

O presente texto pretende fazer uma análise da figura do cardeal Hugolino, bispo de Óstia, e sua relação com os Frades Menores nos primeiros

Guardadas as singularidades das memórias dos entrevistados, é possível inferir sobre o ensino realizado no meio rural à época, compreendendo-se aspectos atinentes às

Com o objetivo de colaborar com os profissionais que estão trabalhando de casa na modalidade home office, e tentar tornar esse momento mais leve e

A elevada salinidade das águas do Aqüífero Barreiras no setor a oeste da lagoa e a montante da mesma esta associado a uma provável contribuição das águas