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Padrões de extração em estruturas factivas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

DEPARTAMENTO DE LINGÜÍSTICA

PADRÕES DE EXTRAÇÃO EM ESTRUTURAS FACTIVAS

Marina R.A. Augusto

Tese apresentada ao Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Lingüística.

Orientador: Prof. Dr. Jairo Morais Nunes

Campinas

2003

ICAMP

(2)

Au45p

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA

BIBLIOTECA IEL - UNICAMP

Augusto, Marina Rosa Ana

Padrões de extração em estruturas factivas I Marina Rosa Ana

Augusto.-- Campinas, SP: [s.n.], 2003.

Orientador: Jairo Morais Nunes

Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.

1. Pressuposição (Lógica). 2. Língua portuguesa - Gramática gerativa. 3. Minimalista (Lingüística). 4. Princípios e parâmetros

(Lingüística) I. Nunes, Jairo Morais. II. Universidade Estadual de

(3)

BANCA EXAMINADORA

I

Prof.

o/·1

Jairo Morais Nunesl{iEL/UNICAMP)

ORIEN\r .;\DOR

v

Profa. Ora. Charlotte Marie Chambelland Galves(IEL/UNICAMP)

Profa. Ora. Esmeralda Vailatti Negrão (USP)

Profa. Ora. Mary Aizawa Kato (IELIUNICAMP)

Profa. Ora. Míriam Lemle (UFRJ)

Profa. Ora. Evani Viotti (USP) Suplente

Profa. Ora. Helena Britto (UNICAMP)

Este exemplar e a :redação fmal da te

(4)

"Não quero faca nem queijo, eu quero fome". Adélia Prado

(5)

Pra eles, com certeza! Mundinho, Camila e Alexandre.

(6)

AGRADECIMENTOS I

A folha de agradecimentos fica lá, por um tempo, no início da tese, marcando espaço, mas sempre relegada para depois. Até que chega o momento em que o cursor precisa ser retido, em que ela precisa ser preenchida e um sentimento misto nos invade: por um lado reconfortante, por outro inquietante. A oportunidade de, por fim, agradecer tão simplesmente; o temor de que a memória nos pregue uma peça e alguém querido seja esquecido ou que as palavras nos fujam e o agradecimento fique aquém do desejado. A única saída, nesse momento, é iniciar ...

Ao meu orientador, Prof. Dr. Jairo Morais Nunes, pela orientação segura, estimulante e paciente. Suas atitudes e posturas diante das vicissitudes da vida acadêmica e da vida em geral me dão a certeza de ter convivido com uma pessoa muito especial. Seu entusiasmo, energia e rigor me instigaram profundamente e devo muito dos acertos deste trabalho a ele. Trabalhar com o Jairo tem sido um grande prazer e deixará saudades.

À Prof'· Dr"· Mary Kato, a quem devo tantos agradecimentos que seria impraticável enumerá-los. Ela sabe o quanto ela é fundamental e insubstituível!

Aos Profs. Drs. Mary Kato, Esmeralda Negrão, Norbert Homstein e Zeljko Boskovié. A Mary e a Esmeralda, pelas sugestões valiosas no exame de qualificação e ao Norbert e Zeljko por discussões iluminadoras nas oportunidades que tive de discutir o trabalho com eles.

Aos Profs. Drs. Jairo Nunes, Mary Kato, Charlotte Galves, Eduardo Raposo, Joseph Aoun, Edson Françoso, Ester Scarpa, Rodolfo llari, Cecília Perroni, Maria Luiza Braga, Miriam Lemle, llza Ribeiro, Rosane Berlinck, Evani Viotti, Helena Britto e a Ana Paula Scher e Fernanda Mussalim pela oportunidade de vários

(7)

encontros, gerativistas ou não, que muito contribuíram para a minha formação e reflexão como lingüista.

Aos colegas de cursos, em diferentes momentos, sempre compartilhando discussões de questões teóricas, referências bibliográficas e também, felizmente, momentos de descontração e amizade: Ana Paula, Helena, Bia, Jorge, Raquel, Max, Teima, Ana Cláudia (a quem devo ajudas preciosas mesmo à distância), Maria Clara, lrê, Helly, Lourdinha, Silvinha, Marcello, Cristina, Cynthia, Érica, Juan.

Aos amigos, que dividem o entusiasmo pela lingüística: especialmente a lngrid, Teima, Bia, Ana Cláudia e Ana Paula (a quem também devo o carinho ao me hospedarem tantas vezes nos últimos semestres), Ricardo, Helena. A Maria Angela e Regina, meu elo com a minha história, e ao meu irmão Carlinhos, e sobrinhos Felipe e Heloísa, pelo carinho e simplesmente por existirem. Minha vida não seria o mesmo sem eles!

A Rosário, Fernanda, Tammy, Susan, Miguel, Mirta, Prof. Alberto, aos meus informantes, nomeados ou não, sempre tão prestativos e pacientes, meu muito obrigada.

Aos funcionários da Unicamp, pela presteza e atenção com que nos atendem e pelo tanto que facilitam nossa vida.

À FAPESP, órgão de incentivo à pesquisa, que financiou em parte este trabalho com uma bolsa de estudos a mim outorgada.

Finalmente, aos meus pequenos, Camila e Alexandre, eu devo descontração, risadas e a compreensão da ausência em vários momentos. Devo mais, devo muito. Por serem minha baliza na vida, devo quase tudo!

(8)

Obrigada, pai, por encarar a vida com tanto otimismo e alegria. Tenho aprendido muito com você! Obrigada, minha mãe com jeito de menina, por se mostrar tão forte sempre que preciso! Vou contar mais uma vez com a compreensão profunda que vocês sempre demonstram em relação aos meus desejos e aspirações: que vocês possam sentir o tamanho do carinho, gratidão e orgulho que eu tenho por vocês!

Não quero deixar de mencionar minha querida vozinha, Ana, a quem eu tomo como exemplo de mulher corajosa.

Por fim, ao Mundinho, por tudo o mais, mas principalmente por me dar o prazer de compartilhar a VIDA comigo!

(9)
(10)

RESUMO

O objetivo desta tese é investigar as propriedades estruturais e semânticas das construções factivas e a relação dessas propriedades com possibilidades de extração. As análises tradicionais acerca da Ilha Factiva classificam-na como ilha fraca, isto é, para um grande número de línguas, considera-se que a extração de argumentos é possível, a partir do complemento factivo, mas não a de adjuntos. Para outras línguas, como o grego moderno, a ilha factiva é considerada uma ilha forte; nenhum tipo de extração resulta gramatical. Esta tese mostra que essa distinção não se sustenta. Uma aparente mobilidade entre comportamento de ilha fraca ou de ilha forte pode ser atestada em uma mesma língua a depender do tipo de complemento factivo presente:

(1) O que o Pedro lamentou que a Maria tenha feito?

(2) *Como o Pedro lamentou que o mecânico tenha consertado o carro? (3) *O que o Pedro lamentou o fato de que a Maria tenha feito?

( 4) *Como o Pedro lamentou o fato de que o mecânico tenha consertado o carro?

A diversidade de complementos poSSIVels e o correspondente comportamento apresentado em relação à extração são aqui abordados. O ponto comum dessas estruturas é o caráter pressuposicional característico da construção factiva e aqui derivado a partir de uma imposição de seleção dos predicados factivos. Assumo que esses predicados selecionam um complemento do tipo [+específico]. A diversificação em relação ao padrão de extração se configura como um reflexo da maneira estrutural como esse requerimento é satisfeito.

(11)

ABSTRACT

The aim of this thesis is to investigate the relationship between structural and semantic properties of factive sentences and the pattern of extraction exhibited. Factive lsland is traditionally classified as a weak island, i.e., argument extraction results grammatical, but not adjunct extraction. In languages like Modem Greek, in which a different pattern of extraction is displayed, Factive lsland is assumed to be a strong island. This thesis shows that such a distinction is unfeasible. In a single language, one finds structures that show a weak island pattern of extraction as well as constructions in which a strong island behavior is attested:

(1) What did Peter regret that Mary did?

(2) *How did Peter regret that Mary fixed the car? (3) *What did Peter regret the fact that Mary did?

(4) *How did Peter regret the fact that Mary fixed the car?

1 investigate which kinds of structures are allowed as factive complements

and their corresponding behavior concerning extraction. The common feature these structures show is their pressupositional character, which is derived from a selection requirement. I assume that factive predicates select a [+ specific] complement. The differences showed conceming extraction constitute a spontaneous effect from the structural way each construction may satisfy this requirement.

(12)

ÍNDICE

I

TÍTULO ... 1 BANCA EXAMINADORA ... fi AGRADECIMENTOS ... IX RESUMO ... XIII ABSTRACT ... XV ÍNDICE ... XVII 1 ILHA FACTIV A ... 1

1.1 INTRODUÇÃO: INTERFACE SINTAXEISEMÃNTICA ... 1

1.2 ÜRGA.'IIZAÇÃO DOS CAPÍTULOS ... 2

1.3 RESTRlÇÕES DE ILHA ...•... 3

1.3.1 Características da Ilha Factiva ... 6

1.3.1.1 Pressuposição ... 7

1.3.1.2 O sintagma o fato ... 8

1.3.1.3 Gerundivas e infinitivas ... 11

1.3.1.4 Subjuntivo ... 14

1.3.1.5 Seqüência de tempos verbais ... 16

1.3.1.6 Extração de constituintes e os tipos de oraçõesfactivas ... 22

1.3.1. 7 Variação interlingüística ... . 2 7 1.3.1.8 Interpretação do elemento-Qu ... 28 1.4 CONCLUSÃO ... .30 2 ARCABOUÇO TEÓRIC0 ... 33 2.1 lNTRODUÇÃ0 ... 33 2.2 PRlNCÍPIOS E P ARÃMETROS ... .34

2.3 A ORGANIZAÇÃO DA GRAMÁTICA NO PROGRAMA MINIMALISTA ... .36

2.4 AS RESTRlÇÕES DE ILHA E AS A.'IÁLISES EM GB ... .40

2.5 A CONSTRUÇÃO FACTIVA EM GB ... .41

2.6 AS RESTRlÇÕES DE ILHA E AS ANÁLISES MINIMALISTAS ... 50

2.7 NUNES & URlAGEREKA (2000) ... 51

(13)

2.9 A ILHA FACTIV A: PROPOSTAS MINIMALISTAS ... , ... 55

2.9.1 Manzini (1997) ... 55

2.9.2 Ormazabal (1995) ... 57

2.10 CONCLUSÃO ... , ... 59

3 ESTRUTT.JRAÇÃO SINTÁTICA ... 61

3.1 PARA UMA 1\,'<ÁLISE DA ILHA FACTIVA ... 61

3.2 NóDULO DP ... 62

3.3 NÓDULO REFP ... 67

3.4 FACTIVIDADE É SELEÇÃO DE UM NÓDULO? ... 69

3.5 AS RELAÇÕES DE ESCOPO: EXPLORANDO A NOÇÃO DE DICTOIDE RE ... 71

3.6 A IMPLOSÃO DE CP ... 74

3. 7 A CONSTRUÇÃO F ACTIV A E SUAS V ÁRIAS ESTRUTURAS: UM CASO DE TÓPICO SENTENCIAL ... 75

3. 7. I A derivação ... 79

3. 7.2 Complementos nominais e o fato ... 81

3. 7.3 O complementizador no grego moderno ... 87

3.8 0 MAPEAI\IENTO DO TÓPICO SENTENCIAL.. ... 92

3.9 MAPEAMENTO EM LF OU PÕS-LF? ... 99

3 .I 0 CONCLUSÃO ... I 04 4 COMPLETANDO O QUADRO ... lOS 4.1 RETOMANDO AS V ÁRIAS CARACTERÍSTICAS DA ILHA F ACTIV A ... 1 05 4.2 As VÁRIAS CONSTRUÇÕES FACTIVAS ENCONTRADAS ... 106

4.3 V AR!AÇÃO DE POSIÇÃO: INÍCIO OU FIM DE FRASE ... 1 09 4.4 CLÁUSULAS REDUZIDAS ... 111

4.4. I O mapeamento das orações reduzidas factivas .. ... ... I I 6 4.4.2 A questão da seqüência ou correlação de tempos verbais ... ] 18

4.4.2.1 Subjuntivo ... 122

4.4.2.2 Infinitivos ... 124

4.4.3 Modalização ... 125

4.4.4 Ainda sobre a seqüência de tempos verbais ... I 27 4.5 A INTERPRETAÇÃO DO ELEMENTO-QU ... 128

(14)

APÊNDICE 1 ••....•••...•..••...•...•...•.•..•...•...•.•...•...••..•....•...•••.•...•.. 139 APÊNDICE 2 ... 145 REFERÊNCIAS BffiLIOGRÁFICAS •....•...•••.••...•...•....•.. ISl

(15)

1 ILHA FACTIVA

I

1.1 Introdução: interface sintaxe/semântica

O

enfoque Programa Minimalista (Chomsky 1995, 2000) tem dado primordial à questão de se verificar quanto do aparato técnico surgido no arcabouço de Princípios e Parâmetros é efetivamente necessário; ou seja, há uma busca por análises mais simples, elegantes, parcimoniosas. Assim, objetiva-se, entre outras coisas, precisar o aparato técnico efetivamente necessário para as operações do sistema computacional, o que tem se traduzido, principalmente, na idéia de checagem de traços morfológicos.

Por outro lado, embora se julgue que questões funcionais de uso não derivam propriedades do sistema computacional (Reinhart 1995), é fato que as

(16)

sistema de comunicação, traduzidas em relações lógicas de inferência, acarretamento, etc. A saída natural parece ser incorporar ao sistema computacional propriedades relacionadas com o uso. A idéia de foco, tópico, traço referencial e a questão da quantificação são alguns exemplos de codificação sintática de entidades semânticas.

Assim, em consonância com a premissa básica do Programa Minimalista de busca de análises mais simples e elegantes, resta determinar quais são efetivamente as propriedades que devem fazer parte do sistema computacional e como incorporá-las. Duas opções parecem estar disponíveis: a adoção de traços sintáticos ou a sugestão de configurações estruturais específicas.

Esta tese trata justamente dessa relação ao se debruçar sobre uma estrutura específica: a Ilha Factiva.

1.2 Organização dos capítulos

Neste capítulo, são apresentadas as características sintáticas e semânticas particulares desse tipo de estrutura e são levantados vários pontos que uma teoria articulada, que leva em consideração tanto as características sintáticas, quanto as semânticas dessa estrutura, deve ser capaz de resolver. O Capítulo 11 apresenta as questões formais da teoria a serem consideradas na análise oferecida, além de fornecer a revisão bibliográfica de alguns trabalhos realizados acerca da Ilha Factiva. O Capítulo 111 apresenta a proposta de estruturação sintática defendida para a Ilha Factiva, relacionando-se as propriedades estruturais e semânticas dos factivos com as possibilidades de extração exibidos pela construção factiva. As demais características associadas aos predicados factivos e apontadas nesta introdução são abordadas no Capítulo IV, no qual se mostra como a análise adotada dá conta de derivá-las. O último capítulo retoma as questões básicas colocadas nesta tese, concluindo-a.

(17)

1.3 Restrições de ilha

Uma característica das línguas naturais é a de apresentarem estruturas em

que certos elementos são interpretados em posições distintas daquelas em que aparecem fonologicamente. Nas sentenças abaixo, por exemplo, quem em (1) associa-se àquele que a Camila encontrou na festa e o artigo em (2) relaciona-se ao objeto que todos leram atentamente.

( 1) Quem você disse que a Camila encontrou na festa?

(2) Este é o artigo que todos leram_ atentamente.

Esse efeito é capturado adotando-se a visão de que houve movimento do

sintagma relevante a partir da sua posição original. Com esse deslocamento, a posição passa, então, a não mais apresentar material lexical, isto é, o sintagma

deslocado é associado a uma lacuna (um gap).

No entanto, há configurações sintáticas em que essa associação entre o

antecedente e a lacuna é bloqueada. Esses contextos configuracionais foram

primeiramente caracterizados por Ross (1967) em termos de restrições de ilha, tomando-se, a partir de então, objeto de investigação recorrente na história da gramática gerativa. As restrições de ilha retratam, portanto, determinadas configurações estruturais a partir das quais a extração de elementos, isto é, o movimento, não resulta em estruturas gramaticais. Em relação ao movimento de elementos-Ou para a formação de interrogativas, por exemplo, temos a configuração de uma restrição de ilha nos exemplos abaixo. A partir das

sentenças em (3), não é possível formar as interrogativas correspondentes em (4):

(3) a. O professor encontrou o aluno que perdeu o livro de lingüística.

b. O estudante perdeu a carteira depois de comprar o livro de lingüística.

(18)

(4) a. *O que o professor encontrou o aluno que perdeu?

b. *O que o estudante perdeu a carteira depois de comprar?

Esse fenômeno pode ser subdivido em dois grupos: as denominadas ilhas fortes e as ilhas fracas. As primeiras inviabilizam o movimento quer de argumentos, quer de adjuntos; já as ilhas fracas configuram ambientes sintáticos a partir dos quais a extração de argumentos se faz possível, mas não a de adjuntos (Chomsky 1986a, Rizzi 1990, Cinque 1990, entre outros). Exemplos de ilhas fortes são a Ilha de Sujeito Sentencia! e a Ilha de Adjunto. As denominadas Ilha-OU e Ilha Factiva fazem parte do grupo das ilhas fracas1.

Ilhas fortes

Ilha de sujeito sentencia!

(5) *que livros; [comprar t;] é difícil?

(6) *como; [consertar o carro t;] seria inapropriado?

Ilha de adjunto

(7) *que livro; você perdeu Lavoura Arcaica [depois de comprar t;]? (8) *como; o mecânico foi pago depois de [consertar o carro~]?

Ilhas fracas

llha-QU

(9) ?o que; o Pedro quer saber [quando a Maria comprou t;]? (10) *como; o Pedro quer saber [o que a Maria consertou~]?

1

Vale ressaltar que uma leitura possível para as sentenças com extração de adjunto é interpretá-lo como relacionado à sentença matriz. Nesse contexto, temos uma frase aceitável, mas não faz sentido falar em restrição de ilha, já que o movimento se dá a partir da sentença matriz e não da configuração de ilha, ou seja, não se dá a partir da sentença encaixada. Os vestígios apontam a leitura relevante.

(19)

Ilha factiva2

(11) quem; a Camila lamenta [que o Alexandre tenha encontrado t1]?

(12) *como; você lamenta [que o Pedro tenha consertado o carro t;]?

Esta tese trata especificamente da Ilha Factiva, inserindo-se dentro de uma discussão mais ampla acerca das restrições ao movimento e fazendo-o a partir do arcabouço da Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981, 1986b), sob a ótica do Programa Minimalista (Chomsky 1995, 2000), uma de suas versões mais recentes. A literatura da área já vem apresentando algumas propostas minimalistas para a questão do movimento e das restrições de ilha mais especificamente (cf. dentre outros Boeckx 1999, Nunes e Uriagereka 2000, Stepanov 2001, Hornstein 2001 ), mas as peculiaridades apresentadas pela Ilha Factiva, particularmente, não têm recebido a atenção merecida. Apresento, nesta tese, uma análise para essa construção que leva em conta: (i) a propriedade de predicados do tipo factivo poderem ser seguidos por um DP como o fato, por exemplo, e as conseqüências que essa presença/ausência acarreta em termos de (im)possibilidade de extração; (ii) a característica de os elementos passíveis de extração sofrerem restrições de interpretação; e (iii) a existência de línguas em que a Ilha Factiva se comporta como uma ilha forte, ou seja, não há a possibilidade de extração nem de adjuntos, nem de argumentos, ou mesmo de línguas em que as construções factivas se comportam ora como ilha forte, ora como fraca, dependendo do tipo de complemento utilizado. Uma articulação com a característica semântica diferenciadora da Ilha Factiva, a saber, a peculiaridade de introduzir a pressuposição de que a oração encaixada expressa uma proposição verdadeira, também é oferecida. A descrição desses pontos está nas seções que se seguem.

(20)

1.3.1 Características da Ilha Factiva

O trabalho de Kiparsky e Kiparsky (1971 ), que já se tomou um clássico, foi um dos pioneiros a listar uma classe de verbos denominados factivos, cujas relações semântico-sintáticas foram correlacionadas. Os autores listam para o inglês os predicados factivos (expressões que tomam uma sentença como sujeito)

significant, odd, tragic, exciting, relevant, matters, counts, makes sense, suffices, amuses e bothers e os verbos e expressões verbais regret, be aware (of), grasp, comprehend, take into considerationlaccount, bear in mind, ignore, make c/ear, mind, forget (about), deplore, resent e care (about). Para o português3, Souza

(2000) apresenta a seguinte lista: preocupar, aborrecer, lamentar, compreender,

entender, ignorar, ressentir-se, ofender-se, interessar-se por, saber, perceber, sacar, fazer sentido, ter sentido, fazer rir, estar atento a, estar cônscio/consciente/ciente de, estar a par de, levar em consideração, levar em conta, ter em mente, tomar/deixar claro, ser significante, estranho, curioso, singular, ímpar, trágico, dramático, excitante, relevante, importante, conhecido, claro, evidente, seguro, instrutivo, triste, lamentável, deplorável, lastimável, compreensível, alarmante, fascinante, uma tragédia, um drama, motivo de riso, uma loucura.4 Adicionalmente, chamo a atenção para uma classe de advérbios

3 Embora, na maioria das vezes, as afirmações a serem feitas possam valer tanto para o português brasileiro (PB) quanto para o português europeu (PE). ao usar o termo língua portuguesalportuguês nesta tese. estarei me referindo especificamente ao PB. Quando do contrário, a ressalva será fefta.

4 Souza (2000:nota 90) salienta que:

A respeito dos verbos saber e perceber. os Kiparskys os apontam como exceções pelo fato de terem a propriedade semântica de expressar uma proposição verdadeira de sua oração encaixada ( ... ), mas não se encaixarem, normalmente, em certas construções próprias dos factivos. como:

a) • Eu sei o fato de João estar aqui.

b) ? Eu percebo o fato de que João está aqui.

Observe-se. no entanto. que a sentença em (i). com a presença da preposição de. é possível. mas nem sempre as regências se intercambiam. conforme os exemplos de (ii) a (v) ilustram:

(i) Eu soube do fato de que a Maria viajou para Paris.

(ii) Eu já sabia as providências a tomar./ Eu já sabia das providências a tomar. (iii) Cada um sabe de si./*Cada um se sabe.

(iv) Eu sei a resposta./ Eu sei da resposta. (v) Eu sei de um tesouro./?*Eu sei um tesouro.

(21)

factivos como lamentavelmente, deploravelmente, lastimavelmente, compreensivelmente, os quais serão tratados no Apêndice I.

Nas seções que se seguem, estarei, na maior parte das vezes, tomando para exemplificação o integrante mais prototípico dessa classe de predicados: o verbo lamentai'.

1.3.1.1 Pressuposição

Um dos principais diferenciadores dos factivos diz respeito à sua

característica semântica de introduzirem a pressuposição de que

a

oração

encaixada expressa uma proposição verdadeira. Segundo Kiparsky e Kiparsky (1971 :348): 'The speaker presupposes that the embedded clause expresses a true proposition, and makes some assertion about that proposition."

O teste tradicional para se verificar se a proposição da oração complemento

é pressuposta como verdadeira consiste em negar o predicado matriz como

ilustrado em (13) e (14): 6

e de re.

(13) A população lamenta que o governo tenha agido fisiologicamente.

(pressuposto: o governo agiu fisiologicamente)

(14) A população não lamenta que o governo tenha agido

fisiologicamente.

(pressuposto: o governo agiu fisiologicamente)

Voltarei a falar acerca da presença da preposição de adiante, quando remeter aos conceitos de dícto

5 Pires de Oliveira, Silvério e Figueiredo Silva (1999) sugerem para o PB os predicados alternativos

achar uma pena ou achar maus. Embora a substituição de um por outro nem sempre garanta que nenhuma propriedade seja alterada, o leitor pode lançar mão desses predicados quando achar que essa substituição facilita seu julgamento das sentenças, tomando-as mais naturais.

(22)

Temos aqui o que se denomina pressupos1çao factual. Há nessas sentenças a pressuposição de que o governo agiu fisiologicamente. A negação incide não sobre o pressuposto, mas sobre a avaliação realizada acerca do fato pressuposto. Para além dessa informação ou sobre essa informação, enuncia-se algo; oferece-se uma avaliação. O pressuposto é tomado como um fato. Os verbos factivos são, portanto, verbos que introduzem no discurso a alusão a um fato. Segundo Reichenbach (1947:272):

Facts, therefore, have the physical existence of things, and not the fictitious existence of situations, or properties ... We can therefore regard facts, or events, as being of lhe same type as things.

1.3.1.2 O sintagma o fato

A relação estabelecida acima por Reichenbach (1947) pode ser constatada por uma característica sintática marcante, tradicionalmente associada aos verbos factivos, apontada por Kiparsky e Kiparsky (1971), que é a possibilidade de esses

verbos serem seguidos pelo sintagma o fato. Assim, ao lado da frase (13) acima,

por exemplo, há a possibilidade a seguir:

(15) A população lamenta o fato (de) que o governo tenha agido

fisiologicamente.

No entanto, é preciso chamar a atenção para o fato de que há distinções de gramaticalidade em relação á extração de argumentos quando da presença ou

ausência desse sintagma nominal.7 Deixarei essa questão para ser abordada mais

à frente, na seção 1.3.1.6.

Ainda em relação ao sintagma o fato, deve-se salientar que os verbos

não-factivos resistem à sua presença. Observemos os seguintes exemplos:

7

A opcionalidade da presença da preposição de, acompanhando o sintagma o fato, não altera o comportamento em relação à extração de constituintes, conforme se verá na seção 1.3.1.6.

(23)

(16) *A população disse o fato de que o governo agiu fisiologicamente.

(17) *A população concluiu o fato de que o governo agiu fisiologicamente.

Essa afirmação, no entanto, não pode ser generalizada. A seleção do sintagma o

fato como complemento não é exclusiva dos verbos factivos. Há também verbos

não-factivos que aceitam a presença desse sintagma, como o verbo alegar, apontado por Figueira (1974), e reproduzido no exemplo (18), e verbos de crença, conforme apontam Pires de Oliveira, Silvério e Figueiredo Silva (1999), com o exemplo em (19):

(18) O professor alegou o fato de que os alunos colam.

(19) Eu acredito no fato de você trabalhar muito.

Figueira (1974:136) observa que: "Nestes casos, os enunciados passam a pressupor a verdade da completiva, mas o responsável pela pressuposição não é o verbo, mas o sintagma o fato".

Um ponto importante ainda a salientar em relação à presença desse

sintagma acompanhando os verbos factivos é a obrigatoriedade do seu caráter definido (Kiparsky e Kiparsky 1971 ), haja vista a inaceitabilidade da sentença a seguir:

(20) *A população lamentou um fato de que o governo agira fisiologicamente.

Verifica-se, assim, uma possível aproximação entre a característica semântica deflagrada pela presença dos verbos factivos de pressupor a verdade da sentença encaixada e a obrigatoriedade de definitude do sintagma o fato, quando presente nessas construções. Para que isso fique mais claro, chama-se a

(24)

(21) a. *Pedro lamentou uma briga.

b. Pedro lamentou uma briga que ele teve com seu chefe. (22) a. *Pedro lamentou um fato.

b. Pedro lamentou um fato que ocorreu ontem.

Há uma necessidade de se definir/especificar o sintagma complemento de

lamentar, ou seja, sintagmas nominais indefinidos não são aceitáveis, a menos

que modificados por uma relativa, uma vez que, conforme salientam Fodor e Sag (1982:36): "any relative clause modifying an indefinite adds to its descriptive content and thus tends to favor a referential understanding".

Desse modo, verificamos que a pressuposição deflagrada pelos verbos factivos impõe um caráter de definitude/especificidade ao seu complemento. Em relação a complementos sentenciais, trata-se de pressuposição de valor de verdade; em relação a complementos não-sentenciais, trata-se de pressuposição existencial.

Kiparsky e Kiparsky (1971 :366), no apêndice ao seu artigo, especulam sobre a relação entre os conceitos de especificidade e verdade:

There is a syntactic and semantic correspondence between truth and specific reference. The verbs which presuppose that their sentencia! object expresses a true proposition also presuppose that their non-sentential object refers to a specific thing. ( ... ) Perhaps this indicates that at some sufficiently abstract levei of semantics, truth and specific reference are reducible to the same concept.

(25)

Nessa afirmativa de Kiparsky e Kiparsky (1971 ), pode-se vislumbrar uma aproximação entre a noção de pressuposição factual e o conceito de pressuposição existencial, colocada primeiramente por Frege (1892).8

Enfim, a exposição acima mostrou que a pressuposição deflagrada pelos verbos factivos pode manifestar-se quer factualmente, em sentenças complexas, quer existencialmente, pela presença do artigo definido (ou, mais adequadamente, de um sintagma específico) em seu complemento. Interessa-nos, mais especificamente, verificar nesta tese em que medida noções de especificidade e "pressuposição factual" podem (e talvez devam) ser unificadas no que concerne à

questão do movimento.

1.3.1.3 Gerundivas e infinitivas

Outra característica apontada em Kiparsky e Kiparsky (1971) diz respeito à

possibilidade de verbos factivos em inglês poderem apresentar como complemento uma construção gerundiva como em (23) e (24) e predicados factivos também poderem ter como sujeito construções gerundivas como ilustrado em (25) e (26):

(23) John regrets having arrived late. (24) John regrets Mary· s arriving late. (25) His having arrived late bothers Mary. (26) Mary's arriving late bothers John.

8 Em Frege (1892), pressuposição existencial foi diretamente definida como uma maneira de explicar a relação entre uma descrição definida e o seu referente e, em um paralelo, a pressuposição factual disparada pelos verbos factivos se encaixaria no sistema de Frege, na medida em que o valor de verdade de uma sentença seria a sua referência. Em suma, os fatos arrolados aqui parecem indicar uma correspondência

(26)

Em português, construções factivas com orações reduzidas aparecem no infinitivo, valendo lembrar que, nessa língua, temos a possibilidade do infinitivo flexionado, como exemplificado em (27) e (28) abaixo. A presença fonética de sujeito distinto do da oração matriz também é possível, como ilustra (29):9

(27) Os meninos lamentam ter chegado tarde. (28) O Pedro lamenta terem/termos chegado tarde.

(29) A Camila lamenta os colegas do Alexandre terem quebrado o patinete.

É importante salientar que (29) não é uma estrutura do tipo ECM (exceptional Case marking), estruturas essas não aceitas como complementos de predicados factivos:

9

Vale salientar aqui uma característica peculiar em PE, a saber, a opcionalmente de inversão do auxiliar para os verbos factivos (obrigatória para verbos epistêmicos e declarativos), conforme salienta Raposo ( 1987):

(i) O Pedro lamenta terem os colegas assinado o abaixo-assinado. (ii) O Pedro lamenta os colegas terem assinado o abaixo-assinado. (iii) Eu penso/afirmo terem os deputados trabalhado pouco.

(iv) *Eu penso/afirmo os deputados terem trabalhado pouco.

A análise desse autor assume que a presença de Agr no infinitivo flexionado possibilita que o sujeito dessas sentenças receba Caso. Na verdade, para que isso se dê, é necessário que o próprio Agr, presente no nódulo lnfl, seja marcado para Caso a fim de que possa atribuir caso nominativo ao sujeito de sua sentença. Isso implica que, em alguns casos, seja necessário que o verbo suba até Comp para que o mecanismo se efetive. Essa é a diferença que está por trás dos exemplos acima. ·Uma vez que os verbos epistêmicos e declarativos subcategorizam um CP, Agr no lnfl encaixado não é regido e não pode receber Caso, ficando também impossibilitado de atribuir caso ao sujeito, explicando-se a agramaticalidade de (iv). Por outro lado, (iii) é gramatical, uma vez que o verbo, ao subir para C, possibilita a percolação do Caso a Agr em lnfl e este atribui Caso nominativo ao sujeito. Em relação aos verbos factivos, Raposo assume que esses verbos subcategorizam tanto um NP quanto um CP. No caso do infinitivo flexionado, este se constitui como um NP (lnfl = N): "In other words, there is no need to assume the existence of CP in this particular case" (Raposo, 1987:97). Ao se constituir como NP, Agr é diretamente regido pelo V e recebe Caso, podendo atribuir esse caso ao sujeito da sentença; logo a possibilidade de não-inversão como em (ii). Em relação à sentença (i), em que há inversão, Raposo atribui essa segunda possibilidade ao fato de os verbos factivos também poderem subcategorizar um CP e a mesma análise atribuída aos verbos epistêmicos e declarativos é estendida para esses exemplos.

A questão da inversão parece relevante para o PE, já que (ii) foi considerada, por meu informante, melhor que (i):

(i) O que os meninos lamentam terem as meninas descoberto? (ii) ??O que os meninos lamentam as meninas terem descoberto?

Tendo em vista que um maior número de informantes deveria ser consultado e que essa distinção não parece estar presente em PB, optei por não tratar dessa questão nesse momento.

(27)

(30) * John regrets Mary/her to be a poor author. (31) *O Pedro lamenta-os ter chegado tarde.

Zubizarreta (1982a) aponta ainda a sentença do português europeu em (32) abaixo, em que a sentença infinitiva é precedida de um artigo definido.10 Raposo (1987) também apresenta um exemplo semelhante, reproduzido em (33). Voltarei a esses exemplos adiante:

(32) Pedro lamenta o terem-se lançado bombas.

(33) Nós lamentamos o eles terem recebido pouco dinheiro.

Em português, assim como em inglês, as construções reduzidas também podem ser sujeito de expressões factivas:11

(34) Destruir a natureza é lamentável. (35) O Pedro chegar tarde preocupa Maria.

(36) Os meninos terem ganhado o concurso de gritos histéricos é motivo de riso.

Na seção 4.4, trataremos dessas construções especificamente, analisando uma diferença de comportamento observável entre o infinitivo simples e o gerúndio simples, por um lado, em contraste com o infinitivo flexionado e o gerúndio possessivo por outro.

10

Esse tipo de estrutura parece estar se tomando obsoleta, já que alguns informantes que contactei não a consideraram aceitável.

(28)

1.3.1.4 Subjuntivo

É também importante explorar as características peculiares apresentadas pelas construções factivas quando seguidas do subjuntivo. Vários verbos factivos podem ser seguidos do subjuntivo:

(37) Preocupa-me que o Pedro tenha viajado sozinho. (38) Lamento que o Pedro tenha viajado sozinho. (39) Ignorava que o Pedro tivesse viajado sozinho.

O uso do modo subjuntivo imediatamente remete a uma característica que lhe é tradicionalmente associada -o efeito de referência disjunta- efeito-SDR (do inglês subjunctive disjoint reference, termo adotado em Kempchinsky (1985)), isto é, a restrição a sujeitos pronominais da encaixada serem correferentes aos sujeitos da matriz de determinados verbos, como, por exemplo, os verbos volitivos. Nesses casos, a leitura correferencial só é possível se o complemento se apresentar no infinitivo, como ilustrado em ( 40) e ( 41 ):

(40) Maria; quer que ela·iii vá ao cinema. ( 41) Maria; quer PRO; ir ao cinema.

O efeito-SDR diz respeito aos sujeitos da matriz e encaixada com verbos volitivos e factivos como lamentar, e opera em relação à referência entre o sujeito e o objeto indireto, no caso de verbos com experienciadores, como preocupar, por exemplo. Em relação aos complementos de verbos factivos, no entanto, não se atesta esse efeito em todas as línguas românicas. Kempchinsky (1986) salienta que enquanto o espanhol exige complementação no subjuntivo para os verbos factivos 12 e o romeno apresenta complementos no indicativo, o francês e o português, por outro lado, aceitam tanto complementos no indicativo como no subjuntivo. Na presença de complementos no indicativo, o efeito-SDR não se

(29)

aplica. Nas línguas em que se atesta a complementação com o modo subjuntivo, Kempchinsky (1986) observa que, no espanhol, a grande maioria dos falantes requer a referência disjunta, como em (42), enquanto no francês e no português, a correferência é permitida, conforme se pode atestar pelos exemplos (43) e (44) (exemplos da autora):

(42) *[pro]; lamento que [pro]; no hable italiano.

(43) Preocupa-os; que eles/[pro]; não falem português. (44) Je regrette que je ne comprenne pas.

No entanto, em relação ao espanhol, a autora ainda observa que na presença dos elementos opcionais e/ hecho de que ou e/ que, a possibilidade de correferência entre os sujeitos é aceita com mais facilidade (exemplo (182) no original):

(45) *Me; molesta que [pro]; no hable yoruba.

(46) ?*/??Me; molesta el que [pro]; no hable yoruba. (47) ?Me; molesta el hecho de que [pro]; no hable yoruba.

Frente a dados desse tipo, Kempchinsky (1986), além de manter sua análise geral para o subjuntivo, em que um operador em [Spec,C'] amplia o domínio de ligação do sujeito da encaixada para a sentença matriz (o que explica o efeito-SDR), propõe que os complementos subjuntivos de verbos factivos podem receber uma representação alternativa em que o subjuntivo é representado como um elemento moda! em INFL, não havendo assim ampliação do domínio de

(30)

ligação.13 Em outras palavras, o domínio do subjuntivo . é um domínio independente da matriz. No entanto, deve-se ainda explicitar as conseqüências que a correlação de tempos verbais pode trazer para a sentença encaixada.14 Na seção seguinte, essas correlações são exploradas e na seção 4.4.2, retomadas a partir da proposta que advogo para a construção factiva.

1.3.1.5 Seqüência de tempos verbais

Uma outra característica diferenciadora dos verbos factivos que quero apontar diz respeito às restrições de combinação de tempos verbais. Uma restrição que se observa com alguns verbos não-factivos em inglês diz respeito à seqüência envolvendo tempo passado na matriz e uso de wi// na encaixada (os dados foram extraídos de Ormazabal (1995:268)- exemplos (28a, b) no original):

(48) *Mary believed/considered/thought that Sue will defend her thesis tomorrow.

(49) Mary pointed outlforgotlremembered that Sue will defend her thesis tomorrow.

13

Raposo (1986) também trata da questão da referência disjunta para o PE, assumindo que alguns operadores verbais criam um domínio opaco para os pronomes. O artigo traça uma distinção entre o que o autor denomina predicados-E (verbos epistêmicos e declarativos), cujos complementos são [+ TENSE], e predicados-W (verbos volitivos), caracterizados por um traço [- TENSE] em Comp. A presença do operador[+ TENSE] em Comp determina a sentença encaixada como o domínio mínimo para a ligação do pronome. Por outro lado, quando Comp é preenchido pelo operador [- TENSE], o domínio mínimo é estendido até a sentença matriz. Embora os factivos não sejam tratados no artigo, em nota, o autor observa que eles não parecem impugnar a análise proposta.

14

Nesta tese, focalizo especificamente a questão da relação temporal independente do subjuntivo, mas como aponta Negrão (1986), a questão da independência temporal e a complementação é bem mais complexa. A autora focaliza dados do PB que confirmam a independência do subjuntivo quanto a correlação de tempos verbais, mas aponta para dados de estruturas de controle em que a correferência do sujeito com o objeto é obrigatória, questionando por que o sujeito do subjuntivo (e do infinitivo flexionado, ambos apresentando [+ Agr]) não poderia correferir livremente fora de sua categoria governante. A autora conclui que controle está acima de relações a senem eXPressas com referência a [+/- TENSE, +/- AGR] e opta por um tratamento semântico dessa noção no arcabouço da Sítuation Semantics (Barwise & Perry, 1983).

(31)

Em relação ao português, a mesma situação é atestada. Verifica-se a restrição para o mesmo tipo de verbos não-factivos, mas não para os factivos. Em português, no entanto, temos a possibilidade de uso do modo subjuntivo 15 conforme ilustrado em (50) a (53), ou do indicativo, como em (54) a (57):

(50) *Maria pensou que eu vá estagiar na Bélgica. (51) Maria pensou que eu fosse estagiar na Bélgica. (52) Maria lamentou que eu vá estagiar na Bélgica. (53) Maria lamentou que eu fosse estagiar na Bélgica.

(54) *Maria pensou que eu vou estagiar/estagiarei na Bélgica. (55) Maria pensou que eu ia estagiar/estagiaria na Bélgica. (56) Maria lamentou que eu vou estagiar/estagiarei na Bélgica. (57) Maria lamentou que eu ia estagiar/estagiaria na Bélgica.

Em suma, a combinação de seqüência de tempos verbais (Enç 1987, Hornstein 1990, entre outros) é obrigatória com alguns verbos não-factivos, mas não com os factivos. Essa característica dos verbos factivos traz algumas implicações para a questão da factividade. Pires de Oliveira, Silvério e Figueiredo Silva (1999) asteriscam a sentença em (58), com verbo matriz no presente, apontando para o que seria uma incompatibilidade entre a leitura factiva e a interpretação modalizada do futuro do pretérito, que funcionaria como um operador de irrealidade. Embora, para mim, assim como para mais alguns informantes consultados, a combinação de tempos em (58) seja possível, a incompatibilidade com uma leitura factiva é de fato atestada.

Adotando uma extensão da análise de Diesing (1992), Santos (1996) analisa o subjuntivo como um indefinido que precisa ser ligado por algum operador, assumindo diferentes complementizadores, que se constituem como operadores capazes ou não de ligar o subjuntivo. Havendo um COMP intermediário capaz de ligar o subjuntivo, a sentença encaixada apresenta comportamento de oração independente, não se mostrando transparente a elementos da principal e atestando-se a impossibilidade de extração a partir do complemento. Isso é assumido para os verbos factivos. Conforme as seções a seguir mostrarão e o Capítulo

(32)

(58) %0 João acha uma pena que a Maria ia descascar/descascaria batata.

Perini ( 1977) e Souza (2000), que o retoma e amplia, tratam da questão da factividade ou não-factividade dos complementos de verbos ditos factivos do

português em relação à escolha do tempo/modo. A seguir apresento os exemplos

fornecidos em Souza (2000: 136 e seguintes):16

VERBO PRINCIPAL= "PODE" + INFINITIVO

I

(59)

I

(a) Ir ao casamento (NF)

(b) Que Maria vai ao casamento (F)

(c) Que Maria irá ao casamento (?F)

(d) Que Maria foi ao casamento pode incomodar Geralda. (?F)

(e) Que Maria vá ao casamento (NF)

(f) Que Maria fosse ao casamento (*)

VERBO PRINCIPAL =CONDICIONAL

(60)

16

Os quatro primeiros paradigmas são retomados de Perini (1977) e os demais apresentados em Souza (2000). ·p· corresponde a factividade e "NP' a não-factividade; o sinal "?' diz respeito à estranheza quanto à formação da sentença, não quanto à sua factividade.

(33)

(a) Ir ao casamento (NF)

(b)

Que Maria vai ao casamento (F)

i

(c) Que Maria irá ao casamento (F)

(d) Que Maria foi ao casamento incomodaria Geralda. (F)

(e) Que Maria vá ao casamento (F)

(f) Que Maria fosse ao casamento (NF)

VERBO PRINCIPAL= PRETÉRITO PERFEITO DO INDICATIVO

(61)

(a) Ir ao casamento i (F)

(b)

1 Que Maria vai ao casamento (F)

(c) Que Maria irá ao casamento (?F)

(d) Que Maria foi ao casamento incomodou Geralda. (?F)

(e) Que Maria vá ao casamento

I

(?F)

I

(f) Que Maria fosse ao casamento (F)

VERBO PRINCIPAL= FUTURO DO INDICATIVO

(62)

(a) Ir ao casamento (F)

(b)

Que Maria vai ao casamento (F)

(34)

(d)

I

Que Maria foi ao casamento incomodará Geralda. (F)

(e) 1 Que Maria vá ao casamento

I

(F)

'

(f) Que Maria fosse ao casamento

I

(*)

VERBO PRINCIPAL = "PRECISA (DE)", "TEM DE/QUE'', "HÁ DE' +

INFINITIVO

(63)

(a) Ir ao casamento (NF)

(b) Que Maria vai ao casamento (F)

(c) Que Maria irá ao casamento (F)

(d) Que Maria foi ao casamento há de incomodar Geralda. (F)

(e) Que Maria vá ao casamento

I

(NF)

I

(f) Que Maria fosse ao casamento

I

(?NF)

VERBO PRINCIPAL = "ESTÁ", "ANDA", "VEM', "CONTINUA" + GERÚNDIO

(64)

(a) Ir ao casamento (F)

(b) Que Maria vai ao casamento (F)

(c) Que Maria irá ao casamento (F)

(d) Que Maria foi ao casamento está incomodando Geralda. (F)

(35)

(f) Que Maria fosse ao casamento (NF)

VERBO PRINCIPAL= "DEVE'' + INFINITIVO

(65) i

(a) Ir ao casamento (NF)

(b) Que Maria vai ao casamento (F)

I

(c) Que Maria irá ao casamento (F)

(d) Que Maria foi ao casamento deve incomodar Geralda. (F)

(e) Que Maria vá ao casamento (NF)

(f) Que Maria fosse ao casamento (?NF)

VERBO PRINCIPAL= PRESENTE DO INDICATIVO

(66)

(a) Ir ao casamento (F)

(b) Que Maria vai ao casamento (F)

(c) Que Maria irá ao casamento (F)

(d) Que Maria foi ao casamento incomoda Geralda. (F)

(e) Que Maria vá ao casamento (F)

(f) Que Maria fosse ao casamento (F)

Pondo de lado o fato de que pode haver discordância em relação a algumas sentenças do quadro acima, a afirmativa de que predicados factivos pressupõem a

(36)

expressões factivas podem funcionar como não-factivas em algumas estruturas. A factividade parece ser atestada em todas as combinações (possíveis) quando o predicado factivo está no presente, no passado ou no futuro. Na presença de modais, do condicional e do presente progressivo, a leitura de não-factividade parece se restringir às combinações com o infinitivo ou com o presente ou imperfeito do subjuntivo. Assim, é crucial levar em consideração a questão da seqüência de tempos verbais ao nos debruçarmos sobre essas combinações, independentemente da acuidade de todas as células do quadro, o que será feito mais adiante na seção 4.4.2.

1.3.1.6 Extração de constituintes e os tipos de orações factivas

A fim de traçar um quadro mais completo em relação à extração de constituintes na Ilha Factiva é necessário ainda lembrar a possibilidade de o sintagma nominal o fato ser pronominalizado em certas línguas como o inglês, por exemplo, em oposição ao português. Também a possibilidade de complementos com formas não-finitas é atestada, conforme discutido na seção 1.3.1.3. Assim, temos as seguintes possibilidades de variação de uma sentença complemento de verbos factivos.17

Inglês

(67) I regret that Mary bought an expensive vase on her trip to China. (68) I regret the fact that Mary bought an expensive vase on her trip to

China.

(69) I regret it that Mary bought an expensive vase on her trip to China. (70) John regrets having bought that book.

(71) John regrets Mary· s buying that book.

17

Contribuíram com julgamentos para as sentenças em inglês, Tammy llich, Susan Klein, Marcello Rosa e Norbert Homstein; para o espanhol, Mirta Groppi e Miguel Rodriguez; para o português europeu Fernanda Gonçalves e Rosário Pedreira e para o português brasileiro, inúmeros colegas. Agradeço a todos.

(37)

Espanhol

(72) Juan lamenta que Maria haya comprado aquel cuadro en su viaje a China.

(73) Juan lamenta el hecho de que Maria haya comprado aquel cuadro en su viaje a China.

(74) Juan lamenta el que Maria haya comprado aquel cuadro en su viaje a China.

(75) Juan lamentó arreglar el auto.

Em relação ao português brasileiro, é preciso lembrar que já perdemos o clítico acusativo proposicional de terceira pessoa, totalmente em desuso no PB (Cyrino 1994), que seria o correspondente do it. Assim, sentenças como (76) abaixo, com a presença do pronome, são inaceitáveis,18 sendo atestadas as combinações entre (77) e (80). Vale, ainda, lembrar as sentenças do PE em (81) e (82), exemplos fornecidos por Zubizarreta (1982a) e Raposo (1987), conforme

mencionado anteriormente:

(76) *Eu o lamento imensamente que a Maria tenha comprado um vaso caro na sua viagem à China.

(77) Eu lamento que a Maria tenha comprado um vaso caro na sua viagem à China.

(78) Eu lamento o fato de que a Maria tenha comprado um vaso caro na sua viagem à China.

(79) Os rapazes lamentam ter comprado o carro. (80) Pedro lamenta terem/termos comprado o carro. (81) Pedro lamenta o terem-se lançado bombas.

(82) Nós lamentamos o eles terem recebido pouco dinheiro.

18 Mesmo em PE, tais sentenças foram consideradas inaceitáveis pelos informantes que contactei.

(38)

É importante salientar, em relação às sentenças (81) e (82), que o é um artigo definido e não um pronome átono acusativo de terceira pessoa, como em (76). Isso pode ser evidenciado pela construção passiva, conforme se vê nos exemplos a seguir:

(83) O terem-se lançado bombas foi lamentado por Pedro.

(84) O eles terem recebido pouco dinheiro foi lamentado por todos nós.

O mesmo deve ser dito em relação à sentença (74) do espanhol.

Em suma, para sentenças finitas, temos três variações, a saber, a presença exclusiva do verbo factivo, a presença do elemento o fato ou a presença do pronome/artigo. Para sentenças não-finitas, temos no inglês o gerúndio e a presença de genitivos; no português, o infinitivo.

Podemos agora verificar, para cada tipo de oração, as possibilidades de extração de constituintes. 19 Comecemos pelas sentenças finitas:

Inglês

(85) What; do you regret [that Mary bought t1 on hertrip to China]?

(86) *What; do you regret the fact [that Mary bought t; on her trip to China]? (87) *?What; do you regret it [that Mary bought 1on her trip to China]?

(88) *How;/Why; do you regret [that Mary fixed the broken vase t1]?

(89) *?Where/When, do you regret [that Mary bought the vase t1]?

(90) *What the hell; do you regret [that Mary bought t; on her trip to China]?

19

A observação dos dados abaixo mostra que não estarei fazendo referência à extração de sujeito. Essa é uma questão mais geral em que se tem freqüentemente apontado o fato de que as línguas românicas pennitem extração com maior facilidade. Em relação ao português, há uma distinção entre português brasileiro, que pennite qualquer tipo de extração, e português europeu, para o qual se encontram algumas restrições (Zubizarreta 1982b ). Essa distinção não será enfocada neste momento.

(39)

Espanhol20

(91) Qué; lamentas [que Maria haya comprado t; en su viaje a China]?

(92) *Qué; lamentas el hecho de [que Maria haya comprado t; en su viaje

a China]?

(93) *Qué; lamentas el (que Maria haya comprado t; en su viaje a China]?

(94) *Cómo;/Por qué; lamentas [que Maria haya arreglado el auto t;]?

(95) *?Dónde;/Cuándo; lamentas [que Maria haya comprado el auto t;]?

(96) *Qué demonios; lamentas [que Maria haya comprado t; em su viaje a

China]?

Português

(97) O que; você lamenta (que a Maria tenha comprado t; na viagem à

China]?

(98) *O que; você lamenta o fato de (que a Maria tenha comprado t; na

viagem à China]?

(99) *Como;/Por que; você lamenta [que a Maria tenha quebrado o vaso

chinês~]?

(100) *?Onde;/Quando; você lamenta (que a Maria tenha quebrado o vaso chinês t;]?

(101) *Que diabos; você lamenta (que a Maria tenha comprado~ na viagem

à China]?

Em relação às cláusulas reduzidas, o quadro apresentado é o seguinte:

Inglês

(1 02) What; does John regret (having bought t;]? (103) *What; does John regret (Mary·s buying t;]?

(40)

(104) How; does John regret [having fixed the car ~]?

(105) *How; does John regret [Mary's fixing the car t;]?

Espanhol 21

(106) Qué; lamentó Juan [haber comprado t;]? (107) *Como; Juan lamentó [arreglar el auto t;]?

Português

(108) O que; os meninos lamentam [ter comprado t;]?

(109) O que; Pedro lamenta [os meninos terem comprado t;]? (110) Como; os meninos lamentam [ter consertado o carro t;]?

(111) *Como; os meninos lamentam [o mecânico ter consertado o carro t;]?

Os dados mostram que a questão da extração está longe de se conformar ao geralmente assumido em relação às ilhas fracas, isto é, extração de argumentos resultando gramatical, enquanto a extração de adjuntos é desautorizada. Em relação aos dados de sentenças finitas, é necessário, além de distinguir entre extração de argumentos e adjuntos, também explicar as distinções de gramaticalidade quando da presença explícita/lexical do NP o fatolthe factlel

hecho, ou do pronome it, como no caso do inglês (87), ou ainda do artigo, como

por exemplo no espanhol (93). Em geral, podemos afirmar que a presença do sintagma nominal o fato induz a agramaticalidade mesmo para a extração de argumentos, ou seja, nesse contexto, a Ilha Factiva comporta-se como uma ilha forte, conforme atestam os exemplos (86), (92) e (98). Nos contextos em que a extração é possível, verifica-se possível melhora de aceitabilidade (variável entre falantes) para a extração dos denominados adjuntos referenciais (exemplos (89), (95) e (100)): uma questão já debatida na literatura (Aoun, Homstein, Lightfoot e

21

Gostaria de chamar a atenção para o fato de que não tratarei das sentenças reduzidas do espanhol. Além de ter me deparado com julgamentos distintos entre os informantes, variações de ordem (sujeito-verbo) também foram fornecidas a depender da origem do falante - Espanha ou país da América Latina. Somente um estudo mais detalhado da língua e definição de uma variante especifica permitirá abordar adequadamente essas cláusulas.

(41)

Weinberg 1987, Rizzi, 1990, Cinque 1990) e intimamente ligada à noção de leitura

0-/inked de Pesetsky ( 1987). Os exemplos com o elemento interrogativo que

diabos ((90), (96) e (1 01 )), fundamentalmente não 0-/inked, atesta a pertinência

da relação. As sentenças reduzidas, por outro lado, trazem uma série de peculiaridades a depender da língua observada. Conforme já mencionado, pretendo traçar um paralelo entre as sentenças de infinitivo e gerúndio simples e as sentenças de infinitivo flexionado e gerúndio possessivo do português e do inglês. No entanto, o paralelo, em termos de extração, se estabelece em relação ao infinitivo e gerúndio simples, que permitem inclusive extração de adjuntos, conforme atestam (104) e (110), mas não se estende ao infinitivo flexionado e ao gerúndio possessivo, em que se percebe a assimetria argumento/adjunto para o português (exemplos (109) e (111)), e uma total impossibilidade de extração no inglês (exemplos (103) e (105)). Essas questões serão mais detalhadamente exploradas na seção 4.4, depois de se oferecer a análise geral proposta para a construção factiva no Capítulo 111.

1.3.1.7 Variação interlingüística

A questão da impossibilidade de extração de argumentos em ilhas factivas remete a um outro ponto relevante nessa discussão, que diz respeito à variação interlingüística. Embora a Ilha Factiva seja geralmente tratada como uma ilha fraca, em que a extração de argumentos é possível, mas não a de adjuntos, seu comportamento é de ilha forte em algumas línguas, como, por exemplo, o grego moderno (Varlokosta 1994)22 e o russo (Stepanov 2000b):

(42)

Grego Modemo

(112) *Pjon lípase pou sinandise o Yanis?

Russo

Who regret-2.SG that met-3.SG John-NOM Who do you regret that John met?

(113) *Kak vy zabyli, kogo ljubit Ivan? How you forgot whom loves John Who did you forget that John loves?

O comportamento de ilha forte apresentado pela Ilha Factiva em grego modemo tem sido enfocado em alguns trabalhos (Roussou 1994, Varlokosta 1994) que serão retomados na seção 2.5. A questão da extração em russo será também abordada na seção 3.2.

1.3.1.8 Interpretação do elemento-Qu

Outro ponto importante a ser considerado diz respeito às possibilidades de leitura permitidas para o elemento que sofre extração a partir da Ilha Factiva. Apenas a leitura referencial, isto é, a leitura de variável individual está disponível na extração a partir de ilhas em geral (Frampton 1991, Heycock 1995, Rizzi 2000). A interpretação não-referenciallintensional, disponível em extrações a partir de sentenças encaixadas de verbos não-factivos como dizer ou achar, por exemplo, não é possível. Para efeito de ilustração, vamos comparar as duas sentenças a seguir:

(114) Quantos filmes o Pedro acha que a Maria viu nas férias? A: Três.

B: Estes três: Lavoura Arcaica, Copo de Cólera e Abril Despedaçado.

(43)

(115) Quantos filmes o Pedro lamenta que a Maria tenha visto nas férias? A: *Três.

8: Estes três: Lavoura Arcaica, Copo de Cólera e Abril Despedaçado.

A sentença (114) é ambígua. Há duas respostas possíveis: uma de quantidade (não-referencial) e outra referencial. Na primeira possibilidade, não se estará falando de quaisquer filmes específicos. Já para ( 115), há necessariamente um conjunto específico de filmes pressuposto. A interpretação de quantidade está excluída como resposta possível.

Outra distinção comumente reportada em relação a ilhas fracas diz respeito à possibilidade de leitura de lista de pares ou leitura individual (Kiss 1993, Szabolcsi e Zwarts 1992-3, Aoun e Li 1993, Hornstein 1995). Essa distinção também se faz notar em sentenças com verbos factivos. Apenas a leitura individual é obtida, excluindo-se a leitura de lista de pares, possível com verbos não-factivos, como em (116):

(116) Quem os entrevistados disseram que o acusado matou?

A: Os entrevistados disseram que ele matou X e Y.

8: K disse que ele matou X. L que ele matou Y eM que ele matou Z.

(117) Quem os entrevistados lamentaram que o acusado tenha matado? A: Os entrevistados lamentaram que ele tenha matado X e Y.

B: *K lamentou que ele tivesse matado X. L que ele tivesse matado Y

e M que ele tivesse matado Z.

Embora não se ofereça uma análise que contemple essa questão como um fenômeno que diz respeito às ilhas fracas em geral, a explicação oferecida no contexto da Ilha Factiva pode ser tomada como um indício forte da direção que a análise geral (se factível) deve tomar.

(44)

1.4 Conclusão

Neste capítulo, apontei as principais características da Ilha Factiva. Em termos semânticos, a propriedade de introduzir a pressuposição de que a sentença encaixada expressa uma proposição verdadeira é tomada como um de seus traços definidores. Em termos sintáticos, a Ilha Factiva faz parte do grupo das ilhas fracas, definidas como contextos estruturais a partir dos quais a extração de argumentos é possível, mas não a de adjuntos.

Explorando cada um desses aspectos, detive-me na questão da presença de o fato, um elemento geralmente associado a esses predicados, constatando que, na verdade, os predicados factivos impõem uma restrição de definitude/especificidade a seus complementos.

Em relação à questão da extração, salientei vários aspectos que precisam ser contemplados pela análise. Além de apontar línguas em que o comportamento da Ilha Factiva não se conforma ao defendido para as ilhas fracas, verificou-se também a existência de estruturas que escapam à tradicional divisão caracterizadora do grupo das ilhas fracas.

Em suma, três principais características foram apontadas: (i) o caráter de pressuposto que a sentença complemento de predicados factivos apresenta; (ii) as peculiaridades de extração e as variações encontradas intra- e inter-lingüisticamente e (iii) a restrição de leitura que os elementos passíveis de extração sofrem.

A fim de conciliar a questão da característica semântica definidora dos predicados factivos e o quadro de extração apresentado, que se mostrou bem mais complexo do que o geralmente assumido em relação ao grupo das ilhas fracas, defendo que a ilha factiva não se caracteriza por uma estruturação sintática única, mas que diferentes estruturas se mostram adequadas para garantir a interpretação de pressuposto, sendo a diversidade de resultados obtidos em relação às possibilidades de extração um reflexo das restrições impostas por cada estrutura particular. A diversidade de estruturas se configura como

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possibilidades distintas de instanciação de uma imposição seleciona! dos predicados factivos, a saber, a imposição de que seu complemento seja [+ específico]. A análise é desenvolvida nos capítulos que se seguem.

No próximo capítulo, abordo o quadro teórico assumido. Também são enfocados alguns dos trabalhos já realizados acerca da Ilha Factiva. A análise assumida é defendida no Capítulo 111, relacionando-se as propriedades estruturais e semânticas dos factivos com as possibilidades de extração exibidos pela construção factiva. As demais características associadas aos predicados factivos e apontadas nesta introdução são abordadas no Capítulo IV.

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2 ARCABOUÇO TEÓRICO

2.1 Introdução

E

anterior, isto m relação aos três pontos mencionados no final do capítulo é, (i) o caráter de pressuposto que a sentença complemento de predicados factivos apresenta; (ii) as peculiaridades de extração e as variações encontradas intra- e inter-lingüisticamente e (iii) a restrição de leitura que os elementos passíveis de extração sofrem, devo mencionar que questões como a da pressuposição têm toda uma tradição em estudos semânticos, ora mais lógicos, ora mais

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pragmaticistas, desde Frege (1892), passando por Russell (1905) e Strawson (1950), e ainda Ducrot (1984).23

No entanto, conforme a exposição feita deixa claro, não focalizo o fenômeno da pressuposição em si, mas uma atualização dessa noção em uma dada construção. Em outras palavras, abordo especificamente um tipo de pressuposição sintática, aquela disparada pelos predicados factivos, partindo do trabalho pioneiro de Kiparsky e Kiparsky ( 1971 ). Não trato aqui, portanto, de outros tipos de pressuposição sintática como foco marcado, clivagem, nem me refiro a itens lexicais que introduzem pressuposição (como só, até, e outros) nem pretendo dar conta da questão da pressuposição existencial, embora em alguns momentos, algumas correlações possam ser invocadas.

Dada a opção pela escolha de uma construção específica, outros pontos são enfocados como a questão da extração e a restrição de leitura dos elementos passíveis de extração, conforme salientado anteriormente. A questão da extração tem merecido estudos sintáticos a partir de uma abordagem gerativista, enquanto a restrição de leitura de elementos do tipo-Ou é enfocada como uma questão de interface sintaxe-semântica.

Saliento também que o trabalho de Kiparsky e Kiparsky (1971) teve como objetivo correlacionar as características sintático-semânticas das construções factivas. Essa intenção manteve-se nos trabalhos de linha gerativista seguintes. Vamos abordar alguns desses trabalhos a seguir e explicitar o arcabouço teórico sobre o qual se constrói a análise aqui proposta.

2.2 Princípios e Parâmetros

A teoria de Princípios e Parâmetros ( Chomsky 1981 , 1986b) tem se revelado uma proposta atraente no que concerne ao objetivo primordial da teoria

23

Para a visão lógica, ver Gazdar (1979a,b). Pagani (1996) e Souza (2000) fornecem boas retrospectivas da bibliografia relevante.

Referências

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