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VISTOS. DECISÃO. Juiz(a) de Direito: Dr(a). MARIA FERNANDA BELLI

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Academic year: 2021

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DECISÃO

Processo Digital nº: 0004047-03.2019.8.26.0050

Classe - Assunto Procedimento Investigatório Criminal (pic-mp) - Crimes de "Lavagem"

ou Ocultação de Bens, Direitos ou Valores

Autor: Justiça Pública

Indiciado: MOACIR ROSSETTI e outros

Juiz(a) de Direito: Dr(a). MARIA FERNANDA BELLI

VISTOS.

Trata-se de denúncia oferecida pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, através do Grupo de Atuação Especial de Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de Ativos (GEDEC), em face de MOACIR ROSSETI, incurso nas penas dos artigos 317, “caput”, do Código Penal e 1º, “caput”, da Lei n.º 9.613/98, na forma do artigo 69 do CP, ILSO TAMELINI, incurso nas penas do artigo 1º, §1º, inciso II, da Lei n.º 9.613/98, e ORLANDO LA BELLA FILHO (colaborador), incurso nas penas do artigo 299, “caput”, do Código Penal e 1º, §1º, inciso I, da Lei n.º 9.613/98.

A denúncia tem origem no Procedimento Investigatório Criminal n.º 24/17, instaurado a partir de depoimentos e documentos fornecidos pela empresa CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO CAMARGO CORREIA S/A (CCCC), em acordo de colaboração premiada celebrado entre Eugênio Auler Neto e Alessandro Vieira Martins com o Ministério Público do Estado de São Paulo, distribuído por dependência ao Procedimento Cautelar n.º 0098805-42.2017 (ainda no DIPO, em fase de digitalização), e, segundo consta, em data incerta do primeiro semestre de 2012, o denunciado MOACIR, à época Secretário Adjunto da Secretaria de Logística e Transporte do Governo do Estado de

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São Paulo, solicitou propina ao colaborador Emílio, para custear a secretaria, especialmente complementar o salário de funcionários comissionados, como forma de estreitar as relações comerciais entre a construtora e o governo. Para viabilizar o pagamento, contudo, o denunciado MOACIR indicou o colaborador ORLANDO, pessoa de sua confiança, visando emissão de notas fiscais frias, aptas a dissimular seu recebimento. Na sequência, o colaborador Eugênio repassou o contato de ORLANDO para o colaborador Alessandro, ajustando-se o pagamento através de contrato simulado de prestação de serviços de consultoria, firmado em 16.04.2012 entre a CCCC e a empresa “LBR ENGENHARIA E CONSULTORIA LTDA.”, cujo sócio proprietário é ORLANDO, no valor de R$ 308.495,75.

Consta também que o denunciado ILSO, amigo de ORLANDO há mais de vinte anos, era assessor da mesma secretaria e o indagou sobre a possibilidade de emitir nota fiscal fictícia de prestação de serviços, para dar suporte a uma doação de campanha de candidatos do PSDB pela empresa CCCC, porém, o denunciado ORLANDO informou sobre o estratagema em curso. Consta, por fim, da denúncia que a nota fiscal foi emitida pela empresa “LBR” em 05.07.2012 e o pagamento correspondente ao valor líquido (R$ 289.523,26) foi promovido pela “CCCC” em 01.08.2012, através de transferência bancária, seguindo-se o repasse do dinheiro por ORLANDO para seu amigo ILSO, o qual foi responsável por acondicioná-lo em uma sacola de papel e, por consequência, entregar ao denunciado MOACIR.

Feitas as considerações iniciais, despacho sem prejuízo da remessa do procedimento cautelar, cuja remessa foi cobrada nesta data, mas após análise do Relatório de Informação Final do SIMBA n.º 003-MPSP-000821-26, conforme fls. 307 e 324, e das petições de fls. 310/316 e 317/320.

1. Recebo a denúncia ofertada em face dos acusados MOACIR ROSSETI, ILSO TAMELINI e ORLANDO LA BELLA FILHO, qualificados, porque presentes os requisitos previstos no artigo 41 do CPP, uma vez que presentes indícios suficientes de materialidade e autoria, como se observa nos depoimentos colhidos em fase

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inquisitorial.

Os acusados arguiram a incompetência absoluta deste Juízo, requerendo a remessa dos autos à Justiça Eleitoral, ao argumento de que o dinheiro se destinava a doação ilegal de campanha, no entanto, mostra-se precipitada tal conclusão. Trata-se, em verdade, de mera especulação, pois, a despeito de constar tal informação no acordo de colaboração premiada de ORLANDO, os demais colaboradores nada mencionam a esse respeito, ao contrário, os documentos acostados aos autos retratam somente, em tese, o pedido de propina pelo réu MOACIR para ampliar as relações entre a Secretaria e a empresa “CCCC”. Conveniente, portanto, dar início à instrução processual e, caso surjam indícios neste particular, não haverá obstáculo para a redistribuição do feito à justiça especial, tratando-se de matéria de ordem pública.

A denúncia apresentada se reveste dos requisitos do artigo 41 do CPP e permite o livre exercício do direito de defesa, na medida em que descreve as práticas delitivas atribuídas aos acusados, na exata leitura do artigo 41 do CPP. Quaisquer outras considerações esbarram no próprio mérito e, portanto, incabível o debate nesta fase, destacando-se, neste contexto, o conteúdo do artigo 397 do CPP. Sobre o tema, Fernando da Costa Tourinho esclarece: "para a propositura da ação penal‚ preciso haja elementos de

convicção quanto ao fato criminoso e sua autoria. O Juiz jamais receberá uma queixa ou uma denúncia que esteja desacompanhada daqueles elementos de convicção". E prossegue: "pela sistemática do estatuto processual-penal, percebe-se que a exigência‚ clara, tanto mais quando o art. 684, § I, do Cód. de Proc. Penal diz que haverá constrangimento ilegal quando não houver JUSTA CAUSA". Após discorrer sobre o tema, conclui que: "no campo penal, não basta a simples afirmação de que houve um crime e de que fulano ou sicrano foi o seu autor. É preciso, para que o pedido da acusação, consubstanciado na denúncia ou na queixa, seja afinal apreciado, que no limiar da ação veja o Magistrado se o que se pede traz a nota da idoneidade" (in Processo Penal, vol. 1parte,. 4 vol ed., Ed. Javoli, 1978, pp.

443-444).

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ALEGAÇÃO DE INÉPCIA DA DENÚNCIA. DESCRIÇÃO SUFICIENTE DA CONDUTA DELITUOSA. INDÍCIOS DE AUTORIA DEMONSTRADOS. POSSIBILIDADE DO EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA. ATENDIMENTO AOS REQUISITOS DO ART. 41 DO CPP. INDICAÇÃO DE CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANTECEDENTES À LAVAGEM DE DINHEIRO. SUBSUNÇÃO NO ROL TAXATIVO DO ART. 1º DA LEI N. 9.613/1998. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. 1. Em razão da excepcionalidade do trancamento da ação penal, tal medida somente se verifica possível quando ficar demonstrado, de plano e sem necessidade de dilação probatória, a total ausência de indícios de autoria e prova da materialidade delitiva, a atipicidade da conduta ou a existência de alguma causa de extinção da punibilidade. É certa, ainda, a possibilidade do referido trancamento nos casos em que a denúncia for inepta, não atendendo o que dispõe o art. 41 do CPP, o que não impede a propositura de nova ação desde que suprida a irregularidade. 2. A paciente Ana Cristina de Faria Maia foi denunciada juntamente com Carlos Roberto Sena, seu então marido, e Wilma Maria de Faria, sua genitora, pelo delito de lavagem de dinheiro, porquanto, segundo a acusação, nos idos de 2005 e 2006, os acusados teriam, em coautoria, recebido de Anderson Miguel e de Jane Alves valores provenientes de crimes de fraudes a licitações e crimes contra a administração pública apurados na "Operação União" e "Operação Hígia". Conforme denúncia, os acusados teriam, ainda, fracionado referido numerário dissimulando-o como doação para a campanha de reeleição da corré Wilma Maria de Faria ao governo do Estado do Rio Grande do Norte. 3. No caso em análise, o Parquet descreve indícios de autoria aptos a deflagrar a ação penal em face da paciente, quais sejam, a suposta conduta de receber o importe de R$10.000,00 (dez mil reais), entregues por Jane Alves, oriundo de propina, dando-lhe a aparência de dação lícita; bem como a conduta de recolher, diretamente, o montante de R$220.000,00 (duzentos e vinte mil reais) junto às empresas A&G, PÉROLA, AURIMAR CONSTRUÇÕES e RH, a serem empregados na campanha do segundo turno das eleições de 2006, como se fossem doações licitas. 4. Tratando-se de crime praticado por vários agentes, não se exige a descrição individualizada das condutas da acusada, bastando para se assegurar o direito à ampla defesa a descrição do fato

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delituoso e a indicação da participação da ré na empreitada criminosa, condição atendida no caso concreto. Precedentes. 5. A denúncia ofertada pelo Parquet federal não ofende o direito à ampla defesa e ao contraditório e permite o livre exercício do direito de defesa, na medida em que descreve a prática delitiva imputada à acusada, demostrando indícios suficientes de autoria, prova da materialidade e a existência de nexo causal entre a conduta apontada e o tipo penal imputado, exatamente nos termos do que dispõe o art. 41 do CPP. 6. A exordial acusatória afirma que a lavagem de dinheiro foi praticada para dar aparência de licitude ao proveito dos crimes apurados na Operação Hígia, que originou a Ação Penal 2009.84.00.003314-0, na qual Jane Alves foi condenada pela prática de corrupção ativa e Lauro Maia pela prática de corrupção passiva e tráfico de influência. Tais delitos tipificados nos artigos 317 e332 do CP estão inseridos no Título IX do Código Penal que trata dos Crimes contra a Administração Pública. Ainda que se considere o rol exaustivo dos crimes elencados no art. 1º da Lei n. 9.613/1998 não há que se falar em inépcia da denúncia, porquanto os crimes contra a administração pública sempre foram contemplados como delitos antecedentes do crime de lavagem de dinheiro. Precedentes, Habeas corpus não conhecido.” (STJ, HC 375723/RN, 5ª

Turma, rel. Min. Joel Ilan Paciornik, data do julgamento 09.03.2017).

2. Nos termos do artigo 396 do Código de Processo Penal, citem-se os acusados para oferecerem resposta à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias, oportunidade em que poderão arguir preliminares e alegar tudo que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificando as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação quando necessário, sob pena de preclusão. Consigne-se que as provas requeridas devem ser relevantes e pertinentes, sob pena de indeferimento (art. 400, § 1º, do CPP). Apresentada a Defesa, venham os autos conclusos.

3. Requisitem-se folhas de antecedentes e eventuais certidões dos feitos nelas constantes.

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do acusado ORLANDO. Intime-se o acusado para pagamento em dez dias, nos termos do item 3.2 do acordo.

5. Fls. 237/238: indefiro o requerimento, porque o ACP foi homologado judicialmente, tratando-se de decisão única, cujos termos permanecem íntegros.

6. Indefiro os requerimentos formulados pelo MP no item 8 de fls. 293/294, os quais se revelam desarrazoados, ao menos nesta fase. Com efeito, a fiança consiste em caução destinada a resguardar o cumprimento das obrigações processuais, mas não há qualquer indício de provável descumprimento dos chamamentos judiciais, ao contrário, embora não citados, os réus estão representados por seus advogados, relembrando-se que os fatos ocorreram, em tese, em 2012. O mesmo se estende às demais medidas acautelatórias, à míngua de suporte fático consistente, ressaltando-se que os acusados mantem vínculos com o distrito da culpa.

Int.

São Paulo, 26 de fevereiro de 2019.

MARIA FERNANDA BELLI Juíza de Direito

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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