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O que é isso, companheiro (Fernando Gabeira)

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Academic year: 2021

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Texto

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O que é isso, companheiro (Fernando Gabeira)

Características

Ano de publicação: 1979 Escrito no exílio (1978-79)

Como relato, o texto se articula de maneira informal e não se constitui como uma obra literária convencional. A obra é uma busca, por parte do autor, ao sentido do que foi vivido no passado, uma tentativa de ressignificá-lo, falando de sua experiência pessoal, sem falar em nome dos outros. A experiência individual é situada historicamente e o tom confessional não exclui a intervenção da experiência do outro.

16 capítulos, sendo que os 14 primeiros ocupam praticamente a metade da narrativa. Os dois últimos capítulos (15 e 16) são o ápice do livro e ocupam a outra metade. Capítulo 15: seqüestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 4 de setembro de 1969,alguns meses após a declaração do Ato Institucional, que suspendeu todos os direitos civis dos brasileiros em 1968.

Capítulo 16: os momentos vividos por Gabeira durante sua prisão.

Temas

Luta armada

Militância numa organização clandestina Prisão

Tortura Exílio.

Um olhar particular (setores oprimidos) x um olhar generalizado (setores de esquerda): cada grupo deveria manter sua identidade e ser capaz de reconhecer a identidade alheia e de estabelecer uma prática coletiva.

Trecho:

“Completamente perdidos naquele enredo estavam as pessoas que viram a agitação na assembleia e se aproximavam para dar sua solidariedade. Muitas chegaram a fazer também o seu pequeno discurso e apresentavam sua perplexidade, inventariam causas as mais diferentes, apontavam os caminhos os mais diversos. Se tivéssemos o poder de voltar atrás e recolher todos os discursos da época, talvez pudéssemos perceber ali que estavam

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sendo faladas duas línguas distintas. Uma, a dos partidos que sabiam o que fazer, que tinham sua tática e sua estratégia, e analisavam o episódio dentro da sua lógica mais geral. A outra das pessoas que iam passando, que não dispunham de nenhum programa global para salvar nenhum país, mas que se sentiam sufocadas por mil problemas cotidianos, pelo medo, pela pobreza; uma gente cheia de vida, capaz de subir nas escadas da Assembleia e dizer que assim não dava mais, que o preço dos alugueis estava muito alto, que o custo de vida tinha de parar de subir”.

Enredo

Começo: Gabeira no Chile, correndo da polícia após o golpe de estado de Pinochet. Lembrança: a divisão do partido Comunista e o surgimento do MR-8. O narrador volta ao Golpe de 64, para contextualizar a situação: início da repressão à oposição.

Lembrança do Movimento Estudantil: passeatas na Avenida Rio Branco, sede do Jornal do Brasil, no qual trabalhava, e de onde acompanhava tudo, da sacada.

Manifestações de 1968, ao lado dos estudantes, mudou a vida de Gabeira.

Adesão ao MR-8, declaração do AI-5, início das ações armadas por parte dos grupos de esquerda.

Sequestro do embaixador americano.

Ida para São Paulo, a fim de encontrar com militantes operários.

Em São Paulo, preso, baleado e torturado: audiência, tribunais, deslocamentos.

Fim da narrativa: trocado pelo embaixador alemão sequestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária, Gabeira viaja à Argélia, exilado.

Personagens

Grupo do qual fazia parte Fernando Gabeira: Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), porém, o narrador não defende irrestritamente as ações tomadas pelo grupo. Objetivo do grupo, com o sequestro: pressionar o governo a liberar 15 políticos esquerdistas que estavam presos por motivos políticos.

Trecho:

“No instante em que Aragão saia no seu carro preto, possivelmente Gregório Bezerra, o líder camponês pernambucano estava sendo atado ao jipe do coronel Ibiapina e seria

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arrastado pelas ruas. O sapateiro Chicão estava tentando escapar, às pressas, de Governador Valadares, onde os fazendeiros fuzilavam sem vacilar.”

Na afirmativa acima, pode-se perceber que o escritor optou por traduzir os problemas da sociedade, substituiu a voz do sujeito (ele, o escritor e jornalista), pela do oprimido (o líder camponês e o sapateiro), o povo, a massa que sempre esteve em desvantagem, excluído pela sociedade dominante.

Nessa perspectiva, a literatura produzida por Fernando Gabeira alia-se aos sujeitos (ele, o escritor e o povo) que manifestavam suas inquietações e necessidade de ganhar visibilidade numa sociedade que lhes era injusta.

Narrador

Narrativa de tom memorialístico e subjetivo: Trecho:

“Tudo era mágoa de quem não se conformava com o desfecho. O melhor talvez fosse tentar o que se passava. Goulart compreendeu que estava perdido e resolveu ir para o Uruguai, certo de que o golpe era temporário, que mais tarde, seria chamado para ocupar seu papel na vida política do país. Quem era eu para entender as coisas profundamente? Estava desarmado teoricamente, ressentido, e não outro caminho na nossa frente, exceto prosperar e esquecer o baque que o país estava sofrendo.”

Fernando Gabeira narra, em 1ª pessoa, em tom informal e com características de texto jornalístico, episódios da luta contra a ditadura militar no Brasil desde 1964 (golpe), passando por 1968 (AI-5), até meados da década de 1970, evitando detalhar cenas pesadas, como de tortura ou violência.

Conversa com o leitor:

“O amigo (a) talvez fosse muito jovem em 64. Eu mesmo achei a morte de Getúlio um barato só porque nos deram um dia livre na escola. Um golpe de Estado, entretanto, mexe com a vida de milhares de pessoas. Gente sendo presa, gente fugindo, gente perdendo o emprego, gente aparecendo para ajudar, novas amizades, ressentimentos...”

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Durante a fuga da polícia no Chile, Gabeira passa a descrever uma passeata estudantil de 68, comparando-a com as manifestações da torcida do Guarani Futebol Clube de Juiz de Fora, time sempre derrotado pelo mesmo adversário, mas que segue cantando “em Juiz de Fora quem manda sou eu”.

Questões Vestibular

1. Em 1998, o filme brasileiro “O que é isso companheiro” foi um sério candidato ao “Oscar” de Melhor Filme Estrangeiro. Esse filme relata um dos momentos mais graves da história recente do Brasil. Podemos afirmar que esse momento histórico foi marcado, EXCETO:

a) pelo “fechamento” da economia brasileira ao capital internacional; *

b) pelo alinhamento com o “mundo ocidental”, e, em particular, com os Estados Unidos; c) pelo desmantelamento das organizações sindicais e pela supressão do direito de greve; d) pela intensificação dos mecanismos de controle político-social e ideológico.

2. (Ufsm 2013) Analise o fragmento a seguir.

Irarrazabal chama-se a rua por onde caminhávamos em setembro. Foi ali, pela primeira vez, que vimos passar um caminhão cheio de cadáveres. Era uma tarde de setembro de 1973, em Santiago do Chile, a apenas alguns minutos antes do toque de recolher. Caminhávamos rumo à Embaixada da Argentina e nossas chances eram estas: ou saltávamos para dentro dos jardins da Embaixada e ganhávamos asilo político, ou ficávamos na rua, em pleno toque de recolher. Se ficássemos na rua, certamente seríamos presos e teríamos, pelo menos, algumas noites de tortura. (Fonte: GABEIRA, Fernando. O que é isso, companheiro? SP: Cia. das Letras, 2009. p. 10-11. ) (adaptado)

O texto acima refere-se

I. à situação dos militantes de esquerda nos países do Cone Sul, nos anos 1960 e 70: a prisão, a tortura e a morte realizadas pelos órgãos de segurança dos regimes militares.

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II. ao modo como os golpes militares se processavam, com eliminação física da oposição política e militar, muitas vezes com uso sistemático da tortura. III. ao contexto político que acompanhou a derrota dos governos

nacional-desenvolvimentistas ou socialistas e à implantação de um modelo que privilegiava a internacionalização econômica.

IV. à dura reação do bloco conservador latino-americano frente ao avanços das organizações de esquerda que pleiteavam a reforma socioeconômica ou, algumas vezes, o socialismo.

Está(ão) correta(s) a) apenas I.

b) apenas II. c) apenas I, II e III. d) apenas III e IV. e) I, II, III e IV. *

3. (UFC-CE) Sobre a cultura no Brasil e no mundo nos anos 1960 e 1970, analise as afirmações abaixo:

I. As instituições mais contestadas no período foram a família tradicional e as igrejas, com exigências como a do controle da natalidade, incluindo o aborto e o direito ao divórcio.

II. Uma peculiaridade da cultura juvenil do período foi o seu intenso nacionalismo, que levava os jovens a recusarem estilos de vida e gostos artísticos de outros países.

III. Os leitores e a crítica da Europa e dos Estados Unidos descobriram a literatura latino-americana, especialmente o chamado realismo fantástico, valorizando autores como o argentino Borges, o colombiano Garcia Márquez e o brasileiro Guimarães Rosa, entre outros.

IV. A identificação política com os valores da esquerda prejudicou a formação de grupos com outras identidades como etnia e gênero, enfraquecendo movimentos como o dos negros e o das mulheres.

V. Os ídolos da juventude no Brasil eram, entre outros, músicos como Roberto Carlos, Chico Buarque, Caetano Veloso e, vindos de fora, os Beatles.

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Agora, identifique a alternativa correta. a) Somente I e IV são verdadeiras. b) Somente I, III e V são verdadeiras. * c) Somente II, III e V são verdadeiras. d) Somente I, II e IV são verdadeiras. e) Somente II, III, IV e V são verdadeiras.

Referências

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