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ANEURISMA MICOTICO CEREBRAL BILATERAL EM CRIANÇA

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ANEURISMA MICOTICO CEREBRAL B I L A T E R A L

EM CRIANÇA

R E G I S T R O D E U M C A S O E R E V I S Ã O D A L I T E R A T U R A

L l G I A M . B . COUTINHO * MARIO F . COUTINHO * *

Luiz CARLOS TEIXEIRA ***

CLÁUDIO A . SEIBERT * * * * APIO C . M . A N T U N E S * * * *

Apesar da origem congênita dos aneurismas intracranianos, a ocorrência

dos mesmos na infância é considerada excepcional

1 9

>

i 3 2

.

3 5

, pois as

hemorra-gias espontâneas em crianças são geralmente secundárias à rotura de

angio-mas artério-venosos

3 6

. De 2.951 aneurismas intracranianos encontrados no

"Cooperative Study"

2 0

, apenas 41 se romperam antes das duas primeiras

décadas da vida (1,4%). Apesar da- baixa freqüência de aneurismas na

in-fância, tem se acumulado na literatura, nos últimos anos, numerosas

publi-cações a respeito

2

>

3

.

9

.

1 0

.

u

,

1 3

,

1 4

,

1 6

,

1 9

.

2 2

.

3 2

,

3 3

,

3 6

,

4 0

,

4 2

,

4 7

,

4 8

, confirmando a

predição de L a i t i n e n

1 8

de que a percentagem de 1.3% por ele encontrada

para aneurismas nos primeiros anos de vida tenderia a aumentar com o

incremento das investigações angiográficas em crianças com hemorragia

subaracnóide.

Os aneurismas intracranianos são geralmente de origem congênita

n

,

porém outras causas devem ser consideradas na sua gênese, como

trauma-tismos

3 8

e infecções. Estas últimas dão origem aos chamados aneurismas

micóticos, termo primeiramente utilizado por Osler, em 1885, para denominar

aneurismas produzidos por processos inflamatórios da parede arterial, em

associação com embolismo.

As inflamações da parede arterial dos vasos intracranianos com ulterior

dilatação ocorrem, em geral, por septicemias causadas por endocardites

bac-terianas subagudas

4

.

5

>

1 5

>

3 1

«

3 4

.

3 7

>

4 1

, podendo, entretanto, serem secundárias

a septicemias de outras origens

4 6

, a meningites

1 2

>

4 4

>

4 5

ou a tromboflebite

de seios venosos intracranianos

1 0

.

4 4

.

* A u x i l i a r de Ensino no D e p a r t a m e n t o de P a t o l o g i a da F u n d a ç ã o F a c u l d a d e C a -tólica de Medicina de Porto A l e g r e ; ** Professor de N e u r o c i r u r g i a da F u n d a ç ã o F a c u l d a d e Católica de Medicina de Porto A l e g r e e Professor de N e u r o l o g i a d a F a -culdade de Medicina da Universidade F e d e r a l de Pelotas; *** N e u r o c i r u r g i ã o do Hospital d a Criança Santo Antonio de P o r t o A l e g r e ; **** Residentes do Serviço de N e u r o l o g i a e N e u r o c i r u r g i a do Prof. M á r i o Coutinho.

(2)

A freqüência dos aneurismas micóticos varia de 2 , 6

3 7

a 4,5%

7

nas séries

clínicas e é de 6,2% na série patológica de McDonald e K o r b

2 3

: de 44

pacientes com aneurismas intracranianos, com menos de 17 anos, 34% eram

de origem micótica. De 22 crianças com aneurismas intracranianos

estu-dados por Thompson e c o l .4 7

, 9% eram secundários a processos

inflama-tórios.

O B S E R V A Ç Ã O

A . R . D . S . , sexo masculino, branco, 6 anos de idade, hospitalizado em agosto de 1974, no Hospital d a C r i a n ç a Santo Antonio, com história de "gripe" h á mais de 10 dias, e de diagnóstico prévio de meningite p u r u l e n t a r e a l i z a d o q u a n d o internado em outro hospital do interior. O e x a m e do líquido c e f a l o r r a q u e a n o , n a q u e l a ocasião, mostrou pleocitose de 7 2 0 / m m3 com predomínio de polimorfonucleares, 81 mg% de

proteínas, 42 m g % de glicose, 789 mg% de cloretos e ausência de germens. Exame

clinico — C r i a n ç a em coma superficial, taquipnêica, com t i r a g e m intercostal,

hipo-tensão arterial, hipertermia e lesões vesiculosas nas extremidades. Exame

neuroló-gico — H i p o t o n i a g e n e r a l i z a d a , reação em f l e x ã o nos q u a t r o membros q u a n d o

esti-m u l a d o , rigidez de nuca, p u p i l a s isocóricas e esti-mióticas, reflexo c u t â n e o - p l a n t a r eesti-m f l e x ã o bilateralmente. A p u n ç ã o l o m b a r forneceu líquido c e f a l o r r a q u e a n o h e m o r r á -gico e a h e m o c u l t u r a , r e a l i z a d a n a m e s m a ocasião, foi n e g a t i v a . A p e s a r d a anti-bioticoterapia intensiva o q u a d r o neurológico piorou. N o v a punção l o m b a r forneceu liquido c e f a l o r r a q u e a n o hemorrágico, com pressão de 600 m m de á g u a . O e x a m e bacteriológico das lesões cutâneas bolhosas mostrou Stafilococcus aureus. Foi insta-lado t r a t a m e n t o antiedema cerebral e r e a l i z a d a pneumencefalografia que demonstrou processo e x p a n s i v o frontotemporal esquerdo. Angiografia carotídea esquerda: a n e u -r i s m a d a a -r t é -r i a f-rontal ascendente, -r a m o d a a -r t é -r i a c e -r e b -r a l média, com h e m a t o m a circundante ( F i g . 1, A e B ) . Angiografia carotídea direita: a n e u r i s m a n a a r t é r i a temporal posterior, com acentuado espasmo de carótida interna ao nível do sifão ( F i g . 1, C e D ) . Foi feita craniotomia f r o n t o - t e m p o r a l esquerda, tendo sido a s p i r a d o volumoso h e m a t o m a p a r a - c a p s u l a r , com i n u n d a ç ã o ventricular. O a n e u r i s m a foi v i s u a l i z a d o e clipado. A a n g i o g r a f i a de controle mostrou b o a circulação no hemis-fério c e r e b r a l esquerdo e a n e u r i s m a p a r c i a l m e n t e opacificado. O paciente apresen-t a v a - s e em coma mais superficializado, com pupilas isocóricas; r e a ç ã o em f l e x ã o dos q u a t r o m e m b r o s aos estímulos dolorsos; tensão arterial de 160 x 110 m m de H g ; t e m p e r a t u r a de 38°C. À p u n ç ã o l o m b a r , o líquido c e f a l o r r a q u e a n o mostrouse x a n tohemorrágico, com pressão de 420 m m de á g u a . N o dia que se seguiu à a n g i o -g r a f i a de controle, o paciente teve crise hipertensiva (210 x 160 m m de H -g ) , hiper-termia, respiração estertorosa, taquipnéia, vindo a falecer.

Autópsia parcial — O e x a m e do crânio mostrou d u r a - m a t e r com á r e a s u t u r a d a

em U , na r e g i ã o frontal esquerda. O cérebro pesou 1.220 g e a p r e s e n t a v a h e m o r -r a g i a suba-racnóide, o c u p a n d o p-rincipalmente as ciste-rnas m a g n a , p-ré-pontina e pré-quiasmática. N a r e g i ã o frontal esquerda observa-se á r e a de atrito cirúrgico. H á assimetria cerebral, com a u m e n t o de v o l u m e mais acentuado à direita. Os cortes vértico-frontais d e m o n s t r a r a m á r e a i r r e g u l a r de aspecto h e m o r r á g i c o n a r e g i ã o fronto-temporal esquerda, que se a b r e no ventrículo l a t e r a l do mesmo lado ( F i g . 2 A ) , n a a l t u r a de u m corte que passa pelo q u i a s m a óptico. À direita, h e m o r r a g i a p a r a - c a p s u l a r , constituída por coágulos recentes n a porção mais volumosa, com á r e a mais periférica de h e m o r r a g i a mais a n t i g a . N o interior dessa á r e a h e m o r r á g i c a , observa-se m a s s a a r r e d o n d a d a , de consistência firme, que a f l o r a à superfície do lobo d a insula, não se conseguindo, entretanto, l i b e r a r a cisterna de Silvius, devido às aderências firmes. Distribuídos difusamente no p a r ê n q u i m a cerebral, f o r a m encontra-dos pequenos focos a m a r e l o s , páliencontra-dos, amoleciencontra-dos, medindo o maior cerca de 0,5 cm de diâmetro. O e x a m e histopatológico dessas lesões evidenciou tratar-se de mi-cro-abscessos ( F i g . 2 D ) . O e x a m e microscópico d a á r e a central d a h e m o r r a g i a m o s t r a r a vasos com paredes destruídas por intenso processo inflamatório s u p u r a t i v o

(3)

C O M E N T Á R I O S

Embora se encontrem registrados na literatura, casos de processos

in-flamatórios das artérias cerebrais causados por fungos, determinando

8

-

2 9

>

4 9

ou n ã o

2 4

a formação de aneurismas, o termo aneurisma micótico não se

restringe a processos da parede arterial daquela etiologia, mas abrange toda

dilatação de artéria, secundária a qualquer processo inflamatório, apesar de

essa terminologia ter sido utilizada por Osler para designar aneurisma em

associação com endocardite bacteriana.

(4)

Para Ritchie e H a y n e s

3 6

o fator infeccioso, como causa de aneurisma

cerebral com hemorragia, teria adquirido papel insignificante após a era da

quimioterapia bacteriostática, mas para outros

1 2

>

3 1

, o tratamento inadequado

determinaria uma infecção "indolente", com maior chance de formação de

aneurisma, pois geralmente o micro-organismo responsável pela formação de

aneurisma micótico apresenta virulência baixa ou atenuada. Os estudos

com-paratvios de Jones e c o l .

1 5

entre as endocardites antes e após o advento

da quimioterapia demonstram que não houve modificação no tipo, freqüência

e severidade das complicações neurológicas.

Os aneurismas micóticos podem ser divididos em quatro classes, de acordo

com M c C a l l u m

2 1

: 1) aqueles devidos à extensão da infecção a partir de

embolo localizado na luz arterial; 2) aneurismas de implantação, nos quais

as bactérias são implantadas a partir de fragmentos de uma valva infectada;

3) aqueles de origem obscura devidos à localização acidental da bactéria

na íntima ou resultantes de embolismo de vasa-vasorum; 4) aneurismas a

(5)

partir de erosão externa da parede do vaso, devido à extensão de um foco

externo.

Entretanto, nem todos os casos de angeíte infecciosa se complicam de

aneurisma, pois pode haver fibrose e até trombose do vaso sem dilatação

arterial

1 2

. Também pode ocorrer a rotura de um vaso, com conseqüente

hemorragia subaracnóide, devido à destruição infecciosa aguda da parede,

sem a formação de aneurisma

2 4

.

2 5

-

2 7

.

4 3

.

Sendo a septicemia uma das condições básicas para a formação de um

aneurisma micótico

4

e sabendo-se que 90% das septicemias são causadas por

endocardite bacteriana, conclui-se que a dilatação inflamatória da parede

arterial ocorre mais comumente em associação com endocardite

1 5

,

2 5

>

: 2 8

.

3 4

>

3 7

>

4 1

>

4 3

. Jones e col.

1 5

, estudando 385 pacientes com endocardite bacteriana,

encontraram em 29% dos casos envolvimento do sistema nervoso, dos quais

60% apresentavam sintomas neurológicos como queixa principal. Dos 110

pacientes com envolvimento neurológico, 50% apresentavam lesão

cerebrovas-cular, 11 com hemorragia subaracnóide (3 aneurismas) e 44 com lesão

isquê-mica encefálica. A percentagem de aneurismas intracranianos como

com-plicações neurológicas varia de 2%

5

a 4,6%

3 7

. Para Roach e col.

3 7

, o

diag-nóstico de aneurisma intracraniano de origem micótica deve ser suspeitado

em pacientes com hemorragia cerebral espontânea que apresentem sinais

ób-vios de infecção, sopros cardíacos, esplenomegalia, petéquias, hematuria,

hi-pertermia, velocidade de sedimentação elevada, ou a presença de aneurisma

em localização pouco usual ou aneurismas múltiplos. Stengel e W o r f e r t h

4 3

,

em 1923, compilaram 217 casos de aneurismas micóticos, dos quais 187

pa-cientes apresentaram sintomatologia de endocardite bacteriana, tendo sido

os demais casos considerados como complicação de bacteremia secundária

a infecções piogênicas crônicas. Os vasos intracranianos foram acometidos

em 42 casos, colocando-se em 4.° lugar de acometimento após a aorta, vasos

abdominais e vasos das extremidades. Shnider e Cotsonas

4 1

estudaram 59

casos de aneurismas micóticos na literatura inglesa após 1923, aos quais

acrescentaram 3 casos próprios. Desses, apenas 17 apresentavam sintomas

intracranianos, 14 dos quais com sinais de hemorragia subaracnóide. Em 36

casos de aneurismas intracranianos estudados por Mitchell e A n g r i s t

2 6

, 11

eram de origem micótica, sendo 7 secundários a endocardite bacteriana, 3

causados por Stafilococcus aureus e apenas um secundário a meningite por

influenza.

O fator inicial da formação do aneurisma é uma angeíte inflamatória

que progride lentamente ao longo da parede arterial

1 2

, sendo provável que

haja primeiramente um comprometimento da lâmina elástica interna para

que, então, se forme o aneurisma. Quando a angeíte inflamatória se origina

a partir da luz vascular, o processo infeccioso poderá afetar a lâmina elástica

interna mais precocemente, o que explicaria a maior freqüência de dilatação

arterial em casos de embolismo do que em casos de infecção extrínseca

à parede do vaso

1 2

.

3 7

.

4 6

. O aneurisma por processo inflamatório

(6)

artéria não é permeável às bactérias e a lâmina elástica interna poderá

ficar significantemente danificada antes que a infecção se propague às

me-ninges externas ao vaso

1 2

. Nos casos de meningite, há condições para que

ocorra inflamação da parede arterial, pois os vasos intracranianos se localizam

no espaço subaracnóideo

4 1

, mas a lentidão de destruição da parede do vaso,

especialmente da lâmina elástica interna, explicaria a raridade de aneurisma

secundário a m e n i n g i t e

4

.

1 2

.

2 6

.

4 4

,

4 5

>

4 9

, pois a meningite poderá determinar

a morte do paciente ou curar antes que se dê a dilatação da parede

arte-rial

1 2

. Por isso, em casos de infecção com germens de baixa virulência

ou com virulência atenuada pela terapia, pode haver a lesão da parede, com

formação de aneurisma. N o caso por nós estudado, apesar de a autópsia

ter sido parcial, a ausência de sinais de comprometimento cardíaco, e a

sin-tomatologia inicial de uma meningite, nos levou à hipótese de que os

aneu-rismas tenham se originado a partir de um processo inflamatório extrínseco,

no caso uma meningite.

A natureza infecciosa secundária explica a multiplicidade dos

aneuris-mas

1 2

>

2 8

.

3 1

.

3 7

, embora a presença de mais de um aneurisma em criança

seja rara, variando de 3 a 5%, contrastando com a freqüência de 10 a 20%

de casos múltiplos em adultos

3

-

4 2

. De 58 pacientes com aneurismas

intra-cranianos rotos, nas duas primeiras décadas da vida, estudados por Patel

e col.

3 2

, apenas 3 casos apresentavam aneurismas múltiplos. Mitchell e

An-grist

2 6

encontraram 3 casos de multiplicidade em seus 11 casos de aneurismas

micóticos.

O sítio mais freqüente de localização intracraniana dos aneurismas

mi-cóticos é a artéria cerebral média e seus ramos

6

>

7

>

2 5

.

3 4

>

37

>

4 3

, sendo raro

o envolvimento da artéria comunicante anterior e da artéria carótida

in-terna, que são locais comuns de localização dos aneurismas congênitos.

Stengel e W o l f e r t h

4 3

encontraram 14 casos de aneurismas micóticos

locali-zados na artéria cerebral média, no total de 42 casos de localização

intra-craniana, muitos dos quais eram múltiplos, perfazendo um total de 23

aneu-rismas.

Característica dos aneurismas micóticos é a sua distribuição mais

peri-férica

4

.

6

.

2 5

>

3 1

>

3 7

.

4 2

que a dos aneurismas congênitos, que geralmente se

lo-calizam nos vasos do polígono de Willis. Este fato pode ser considerado

como de grande importância no diagnóstico radiológico de aneurismas de

origem inflamatória. N o presente caso, os aneurismas se localizavam em

ramos mais periféricos da artéria cerebral média, fato que permitiu o

diag-nóstico de sua provável origem micótica, pois a localização não era a habitual

dos aneurismas congênitos, estando associado, no lado esquerdo, com

hema-toma intracerebral.

O diagnóstico de aneurisma intracraniano roto é feito pelo quadro

clí-nico de hemorragia subaracnóide e/ou hematoma intracerebral, sendo estes

últimos mais freqüentes em casos de aneurismas micóticos, devido à sua

localização mais periférica

2 8

. A angiografia carotídea é de grande valor

(7)

nesses casos

5

>

1 7

>

2 5

>

3 0

.

3 7

.

5 0

, pois demonstra a sua exata localização, podendo

indicar, no caso de aneurismas múltiplos, o aneurisma que sangrou,

mos-trando eventuais hematomas associados, a presença de espamos e o tamanho

do aneurisma, sendo aquele que sangrou, geralmente, de maior v o l u m e

4 2

.

No caso aqui relatado, os sinais de hematoma à esquerda determinaram

a intervenção cirúrgica para evacuação do hematoma e clipagem do

aneu-risma que também apresentava maior volume que o do lado direito, embora

este último apresentasse espasmo de carótida interna, como provável sinal

de sangramento.

A literatura registra alguns casos comprovados angiograficamente em que

houve involução do aneurisma apenas com tratamento c l í n i c o

1 0

.

2 5

.

4 1

, sendo,

portanto, discutida a indicação cirúrgica em caso de aneurisma micótico,

em-bora diversos casos tenham sido operados com sucesso

1 7

-

3 7

, pois estando as

paredes vasculares friáveis devido ao processo inflamatório, a colocação de

um clip poderia determinar a rotura do vaso. Shucart e W o l p e r t

4 2

acon-selhagem a clipagem em todos os casos de aneurisma em criança, pois estas

permanecem por um período maior que o adulto em risco de rotura do

aneu-risma. Quando localizados perifericamente, em vasos de pequeno calibre, os

aneurismas micóticos podem ser excisados, pois a área de infarto é

insignifi-cante, mas quando localizados em ramos mais importantes, a cirurgia deverá

ser retardada para depois da antibioticoterapia, para que haja destruição dos

germens e fibrose da parede do aneurisma e vasos adjacentes, podendo, então,

ser colocado um clip com maior segurança

3 7

. Entretanto, se for observado

crescimento do aneurisma

6

.

2 5

.

2 7

ou hematoma associado, a cirurgia deverá

ser realizada imediatamente. Tal aconteceu no nosso caso, pois a presença

de hematoma intracerebral determinou a realização da cirurgia, durante a

qual se observou que o sangue havia invadido o ventrículo lateral do lado

correspondente.

O diagnóstico de aneurisma micótico, no presente caso, apesar da

hemo-cultura ter sido negativa, foi baseado nas características clínico-radiológicas

do caso, tendo sido comprovado pelo exame histopatológico da parede do

aneurisma que apresentava destruição inflamatória de todas as capas

arte-riais, inclusive da lâmina elástica interna, com comprometimento secundário

do parênquima nervoso e formação de micro-abscessos.

O presente caso nos leva às seguintes conclusões: 1) todos os casos de

hemorragia subaracnóide em crianças devem ser submetidos a exames

neu-rorradiológicos cuidadosos; 2) deve-se pensar em rotura de aneurisma

mi-cótico quando a dilatação arterial estiver localizada em sede não habitual

dos aneurismas congênitos e quando houver hematoma associado ou sinais

de infecção; 3) em casos de meningite, ter em mente a possibilidade de

ar-terite e ulterior dilatação arterial, embora seja de ocorrência rara; 4) na

suspeita de aneurisma de origem inflamatória, instituir a terapêutica

anti-biótica o mais precocemente possível e somente tratar cirurgicamente quando

existirem hematomas associados e/ou crescimento do saco aneurismático,

observado pela angiografia carotídea.

(8)

R E S U M O

Os autores relatam caso de paciente masculino, de 6 anos de idade,

hospitalizado com diagnóstico de meningite purulenta. A pneumencefalogra¬

fia mostrou processo expansivo fronto-temporal esquerdo. A arteriografia

carotídea bilateral demonstrou presença de aneurisma da artéria frontal

as-cendente, com hematoma circundante, à esquerda e, aneurisma da artéria

temporal posterior, à direita. Cirurgia para evacuação do hematoma e

cli-pagem do aneurisma foi realizada. O paciente piorou no pós-operatório e

faleceu. A autópsia demonstrou a presença de hemorragia subaracnóide,

he-matoma fronto-temporal esquerdo e para-capsular direito. No interior do

hematoma, à direita, evidencia-se massa arredondada, cujo exame histopato¬

lógico demonstrou tratar-se de paredes arteriais dilatadas, com intenso

pro-cesso inflamatório supurativo.

Os autores tecem considerações a respeito da freqüência de aneurismas

micóticos na infância, a multiplicidade dos mesmos, a sua etiopatogenia,

a localização dos mesmos na árvore arterial intracraniana, do valor

diagnós-tico da angiografia carotídea e da indicação cirúrgica.

S U M M A R Y

Bilateral cerebral mycotic aneurysm in a child: case report

and review of the literature

The case of a 6 year-old boy, who was hospitalized with the diagnosis

of purulent meningitis is reported. The CSF examination disclosed pleocy¬

tosis and the antibioticotherapy was instituded. The bilateral carotid

angio-graphy demonstrated an arterial aneurysm of the frontal ascendent artery

with hematoma in the left side, and another in the posterior temporal

artery, in the right side. The patient was operated on because of the

he-matoma, in the left side. The condition of the patient in the post-operatory

period deteriorated and the death ocurred. The post-mortem examination

disclosed a sub-arachnoidal hemorrhage, fronto-temporal hematoma in the

left side and a para-capsular hematoma in the right side. The histological

examination of the central part of the hematoma revealed a dilated arterial

walls with a supurative inflammatory process.

The authors took in consideration the frequency of mycotic aneurysms

in children, especially the multiplicity of them, the etiopathogeny and their

localization in the intracranial arterial tree.

R E F E R E N C I A S

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Departamento de Patologia — Fundação Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre — Rua Sarmento Leite 245 — 90000 Porto Alegre, RS — Brasil.

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