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A INSTRUMENTALIZAÇÃO POLÍTICA DE FRIDA MARIA STRANDBERG VINGREN: DE SILENCIADA À MITO ASSEMBLEIANO

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0519

A “INSTRUMENTALIZAÇÃO” POLÍTICA DE FRIDA MARIA

STRANDBERG VINGREN: DE SILENCIADA À MITO ASSEMBLEIANO

Valdinei Ramos Gandra Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade Faculdade Refidim

gandra@ceeduc.edu.br

ST 05 – PROTESTANTISMO E PENTECOSTALISMO.

Resumo: O presente trabalho objetiva refletir sobre Frida Vingren (1891-1940), esposa de um

dos fundadores da Assembleia de Deus no Brasil, Gunnar Vingren (1879-1933). Tendo em vista suas ações missionárias e as polêmicas envolvendo seu nome, trata-se de uma importante personagem para a compreensão da história assembleiana. A reflexão proposta se delineia a partir de três questões sobre a referida personagem: silenciamento institucional, ressonância acadêmica e mitologização institucional. Para tanto, foram acessados teóricos que trabalham com os conceitos apresentados, também pesquisadores da referida personagem e, por fim, pesquisas realizadas nas principais vias de comunicação institucional assembleiana (sites, jornais, revistas, etc.). Os resultados iniciais dão conta de que houve um processo de silenciamento da personagem, pois sua história poderia encorajar a possibilidade do ministério feminino institucionalizado, possibilidade rechaçada pelo ethos cultural “sueco-nordestino” das lideranças assembleianas. Sendo assim, Frida Vingren sofreu um processo de instrumentalização política. No entanto, no ambiente acadêmico, principalmente por intermédio dos sociólogos, houve uma ruptura em relação ao silêncio imposto à personagem, surgindo assim, uma (re) sonância sem precedentes da voz silenciada de Frida Vingren. Desse modo, vários trabalhos possibilitaram uma melhor compreensão da personagem, para além dos estereótipos institucionais. No entanto, há razões suficientes para afirmar que a perda do controle político sobre a personagem causou mal estar na Assembleia de Deus, particularmente sobre a instituição que melhor controla a cultura assembleiana na contemporaneidade, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus – CPAD. De que modo a CPAD tenta assegurar o controle político sobre Frida Vingren, iniciado na Convenção de 1930 e abalado pelos recentes estudos acadêmicos? A resposta sinaliza para a seguinte questão: tornando-a um mito a altura dos fundadores da Assembleia de Deus, Daniel Berg e Gunnar Vingren, seu esposo. Basta uma olhada nos lançamentos editorias da CPAD envolvendo seu nome e dos recentes artigos escritos sobre ela. O mais significativo, ganhou um endereço eletrônico para “celebrar sua memória”.

Palavras-chave: Frida Vingren, Assembleia de Deus, Instrumentalização, Silenciamento,

Mitologização.

Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade”

ISSN: 2175-9685

Licenciado sob uma Licença Reative Commons

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Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0519

INTRODUÇÃO

A Assembleia de Deus foi implantada no Brasil por dois missionários suecos vindos dos Estados Unidos em 1911, Daniel Berg e Gunnar Vingren. Estabeleceram-se inicialmente em Belém do Pará e posteriormente alcançaram o restante do país. A Assembleia de Deus é a segunda maior denominação cristã do Brasil com 12,3 milhões de fiéis, embora não haja uma Assembleia no singular, pois são várias Assembleias. O trabalho em questão propõe discorrer sobre Frida Vingren, esposa de Gunnar Vingren. Segundo o Dicionário do Movimento Pentecostal (ARAÚJO, 2007), ela nasceu em 9 de junho de 1891, em Själevad, Västernorrlands, região Norte da Suécia. Ainda que tenha sido de tradição luterana, converteu-se ao movimento pentecostal, tornando-se membro da Igreja Filadélfia de Estocolmo. Fez curso superior em enfermagem e exerceu a função de chefe da seção de enfermaria no Hospital onde trabalhava. Por ocasião de tratamento de saúde, Gunnar Vingren esteve na Suécia entre os anos 1915 e 1917, período que conheceu Frida Vingren. No dia 12 de junho embarca para o Brasil e no dia 16 de outubro de 1917 casa-se com Gunnar Vingren. O Dicionário do Movimento

Pentecostal a descreve inicialmente como: “Missionária sueca, esposa de Gunnar

Vingren, enfermeira, poetisa, compositora, musicista, redatora, pesquisadora, pregadora e ensinadora” (ARAUJO, 2007, p. 903). No entanto, morreu em 30 de setembro de 1940 no ostracismo. Não ganhou nem uma homenagem no Jornal Mensageiro da Paz, principal órgão de imprensa da Assembleia de Deus.

A INSTRUMENTALIZAÇÃO POLÍTICA DE FRIDA VINGREN: SILENCIAMENTO

Em 2004, Silas Daniel1 escreveu o livro História da Convenção Geral das

Assembleias de Deus no Brasil. Embora o livro apresente uma visão parcial dos fatos, pois representa os interesses do grupo que ainda está no poder, traz contribuições históricas importantes. Gedeon Alencar (2012, p.27), por exemplo, reconhece sua

importância quando diz que “[...] em se tratando de livro histórico oficial de uma

denominação, tem um mérito: expõem as tensões, reproduzindo, pela primeira vez,

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cartas e posições nada amistosas entre os suecos (mesmo que esconda os problemas atuais)”. De fato isto está correto, tendo em vista que é por intermédio da referida obra que Frida Vingren emerge do anonimato institucional, sendo também apresentada como pivô da tensão entre dois personagens importantes da historiografia assembleiana, Gunnar Vingren e Samuel Nyström. O motivo da discórdia se deu pelo fato de que o primeiro era favorável ao ministério feminino e o segundo radicalmente contra. O livro informa inclusive que Gunnar Vingren causou polêmica entre a liderança assembleiana ao consagrar uma diaconisa no Brasil. Apresenta ainda vários trechos escritos na agenda de Gunnar Vingren entre 1929 e 1930 que relatam o embate entre os dois sobre o ministério feminino. Assim, percebe-se, que havia uma divisão entre a liderança assembleiana sobre o assunto este assunto.

Frida Vingren estava no centro da questão, visto que exercia um profícuo trabalho missionário nesta época na cidade do Rio de Janeiro. Silas Daniel (2004, p.34) descreve suas muitas ocupações:

A lavra da irmã Frida foi uma das mais profícuas da história das Assembleias de Deus. Ela é autora de hinos belíssimos da Harpa Cristã e foi a única mulher a escrever comentários da revista de Escola Dominical Lições Bíblicas. Foi também uma colaboradora efetiva do jornal Mensageiro da Paz em seus primeiros anos, com artigos e poesias edificantes. Mesmo aqueles que criticam a sua presença no jornal (seu marido a incentivava, não por nepotismo, mas por Frida ser notoriamente talentosa) eram unânimes em reconhecer que ela era vocacionada para aquele trabalho e uma das mais bem preparadas missionárias evangélicas que já pisaram em solo brasileiro. Porém, apesar de sua presença parecer estar ligada mais à questão dos jornais, sabe-se que a irmã Frida Vingren também se destacava muito na obra pela sua atuação em várias outras áreas. Ela era extremamente atuante. Quando Gunnar Vingren não podia dirigir os cultos na igreja de São Cristóvão devido às suas muitas enfermidades, quem os dirigia era sua esposa. Os cultos ao ar livre no Rio de Janeiro, promovidos no Largo da Lapa, na Praça da Bandeira, na Praça Onze e na Estação Central, eram dirigidos pela irmã Frida. Era costume também ela ministrar estudos bíblicos.

Do mesmo modo, Isael de Araújo2 (2007, p.904) diz que Frida Vingren “[...]

substituía o marido na direção dos cultos quando este se ausentava em visita ao campo ou devido às enfermidades. Foi dirigente oficial dos cultos na Casa de Detenção, realizados aos domingos. [...] possuindo muita facilidade para expressar-se diante dos ouvintes”.

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Desta forma, Gunnar Vingren, ao defender o ministério feminino, estava defendendo também o direito de sua esposa em realizar com legitimidade todo o trabalho que já vinha desenvolvendo. Daí a importância do reconhecimento dos demais líderes suecos e brasileiros em relação ao ministério feminino. Silas Daniel (2004, p. 35) cita um encontro crítico entre Samuel Nyström e Gunnar Vingren em 13 de novembro de 1929: “Chegaram Samuel, Simon e Daniel. Samuel não se humilhou. Separamo-nos em paz, mas para não trabalhar mais juntos, nem com jornal ou nas escolas bíblicas, até o Senhor nos unir. Simon disse que ficava de fora e Daniel tinha convidado Samuel a trabalhar em São Paulo. Assim, disse para ele ‘estamos separados’”. Percebe-se a seriedade da discordância.

No entanto, seria na 1º Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, realizada na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, entre os dias 5 a 10 de setembro de 1930, que a liderança assembleiana, tanto nacional quanto sueca, instrumentalizaria Frida Vingren, impondo-lhe o silêncio institucional. Este evento foi um marco na história assembleiana, já que teria sido realizado por iniciativa da liderança nacional com o intuito de exigir mais autonomia em relação à liderança sueca. Desse modo, os missionários suecos lhes entregaram a Região Norte e Nordeste. Neste encontro também foi criado o Jornal Mensageiro da Paz, órgão oficial das Assembleias de Deus. Em relação ao ministério feminino ficou determinado que:

As irmãs tem todo o direito de participar na obra evangélica, testificando de Jesus e a sua salvação, e também ensinando quando for necessário. Mas não se considera justo que uma irmã tenha a função de pastora de uma igreja ou de ensinadora, salvo em casos excepcionais mencionados em Mateus 12. 3-8 [uma referência ao princípio do estado de necessidade]. Isso deve acontecer somente quando não existam na igreja irmãos capacitados para pastorear ou ensinar (DANIEL, 2004, p. 40).

É frustrante não ter o testemunho de Frida Vingren, mas certamente a situação lhe era desconfortável, algo que transparece nas imagens fotográficas da época, principalmente na foto oficial dos missionários suecos por ocasião da 1º Convenção Geral das Assembleias de Deus realizada em Natal, Rio Grande do Norte. Curiosamente ela é a única mulher a aparecer na fotografia e ainda está sentada entre seu esposo e Samuel Nyström, como já dito, principal opositor do ministério feminino (Cf. DANIEL, 2004, p. 22). A partir de então, a liderança assembleiana sinaliza, por intermédio de suas ações claramente direcionadas a Frida Vingren, sua postura frente à

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presença da mulher nos principais fóruns decisórios da instituição, algo que permanece

até os dias atuais. Além disso, o “ethos sueco-nordestino” (FRESTON, 1993) silenciou

uma das principais personagens da história das Assembleias de Deus, apagando seu legado histórico. A historiografia assembleiana criou então um estereotipo de Frida Vingren que não lhe fazia justiça. Silenciada e descaracterizada.

A INSTRUMENTALIZAÇÃO POLÍTICA DE FRIDA VINGREN: MITO ASSEMBLEIANO

Pode-se dizer que Silas Daniel (2004) tem seus méritos em romper com o silêncio historiográfico oficial imposto a Frida Vingren ao revelar facetas até então desconhecidas sobre ela, ainda que seja conivente com outros silenciamentos. Entretanto, o merecimento cabe aos pesquisadores acadêmicos, pois são eles que fazem com que a voz silenciada de Frida encontre ressonância. Destaque para os trabalhos de Gedeon Freire de Alencar (2000, 2009, 2012), particularmente sua Dissertação de Mestrado: “Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, e todo louvor a Deus. Assembleia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946)” e sua Tese de Doutorado: Assembleias Brasileiras de Deus: Teorização, história e tipologia – 1911-2011. Não é possível discorrer sobre as referidas obras neste trabalho, mas em relação ao tema de discussão, a grande contribuição de Gedeon Alencar é devolver os aspectos humanos de Frida Vingren, evidentemente com todos os riscos que a tarefa impõe, como por exemplo, quando discute em sua pesquisa de doutorado rumores de um suposto caso de adultério de Frida Vingren. Em síntese, se não é possível reconstituir a personagem, pois historicamente é uma tarefa impossível, temos pelo menos uma Frida Vingren mais próxima da realidade contemporânea, particularmente das questões de gênero. O que não deixa de ser também uma “instrumentalização”.

Por outro lado, parece que a maneira como a academia se apropriou da personagem incomodou os produtores e reprodutores da cultura assembleiana,

principalmente os “novos historiadores oficiais”. Se Frida Vingren foi em 1930

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passando por um processo de silenciamento e descaracterização, atualmente ela é ressignificada como mito assembleiano quase a altura dos fundadores da Assembleia de Deus, algo que tem início com Silas Daniel (2004) e Isael de Araújo (2007).

No entanto, o processo de mitologização de Frida Vingren começa a ganhar força nas celebrações do centenário das Assembleias de Deus no Brasil em 2011, já que nesta ocasião foi lançado o livro “100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus no Brasil”, de autoria de Isael de Araújo. A personagem destaque da obra não poderia deixar de ser Frida Vingren. O livro é uma resposta clara a acusação dos acadêmicos em relação à ausência das mulheres na historiografia assembleiana.

Mas o processo de torná-la mito chega a seu ápice com a publicação de sua bibliografia em 2014, escrita por Isael de Araújo, obtendo, inclusive, o segundo lugar em vendas da CPAD, no ano de lançamento da obra. E se ela não pôde ganhar lugar de destaque no Memorial Gunnar Vingren, que fica na CPAD, foi lhe dado um lugar de memória virtual, já que em 2015 foi criado um site institucional dedicado a ela

(www.fridavingren.com.br). Frida Vingren passa a ser instrumentalizada como o modelo

de mulher assembleiana ideal: mulher devotada ao marido e aos filhos e que ainda assim consegue ser dinâmica nos departamentos da igreja. Nas Convenções, enquanto os homens discutem o futuro da denominação, elas se concentram em eventos paralelos, cujas palestrantes discorrem, entre outros temas, sobre a importância da submissão ao marido, não é incomum acessar Frida Vingren, ressignificada pelos produtores e reprodutores da cultura assembleiana, como exemplo desse modelo.

CONCLUSÃO

A relevância do presente trabalho consiste em apontar a maneira pela qual na atualidade Frida Vingren tem sido instrumentalizada pela CPAD, tornando-se um mito assembleiano. A retomada da personagem não tem como objetivo discutir o ministério feminino, ao contrário disso, reforça ainda mais o distanciamento da mulher assembleiana das decisões mais importantes da instituição. Desperta atenção a posição da CPAD em tentar controlar as produções acadêmicas sobre a Assembleia de

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Deus, por um lado, abrindo seus arquivos para os pesquisadores com a criação do

Centro de Estudos do Movimento Pentecostal – CEMP, e por outro, respondendo-as

rapidamente.

Referenciais

ARAUJO, Isael. Dicionário do Movimento pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. ______. 100 mulheres que fizeram a história das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.

______. Frida Vingren. Rio de Janeiro: CPAD, 2014.

ALENCAR, Gedeon Freire. Todo poder aos pastores, todo trabalho ao povo, e todo louvor a Deus. Assembleia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946).

2000. 161 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Metodista de São Paulo, São

Bernardo do Campo, 2000.

______. Frida Vingren (1891-1940): quando uma missão vale mais que a via. In: OROZCO, Yuri Puello (Org.) Religiões em diálogo: violência contra as mulheres. São Paulo: Católicas pelo direito de decidir, 2009. p.69-85.

______. Assembleias Brasileiras de Deus: teorização, história e tipologia

1911-2011. 2012. 285 p. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo,

2012.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral da Assembléia de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FRESTON, Paul. Protestantes e política no Brasil: da constituinte ao impeachment.

1993. 303 p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia,

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