PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL
O que você deve saber sobre
Embora não constitua uma escola literária propriamente dita, o período
de transição que antecede o Modernismo brasileiro foi marcado pelo
surgimento de alguns escritores que utilizaram suas obras para
problematizar o Brasil. Abordaremos aqui Euclides da Cunha, Graça
Aranha, Lima Barreto e Monteiro Lobato, além do poeta Augusto dos
Anjos.
Guerra de Canudos (1896-1897)
Marginalização dos negros recém-libertados
Substituição da mão de obra escrava pela de imigrantes
Afonso Pena é eleito presidente em 1906.
Greves operárias em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro
Afonso Pena morre em 1909 e Nilo Peçanha assume o governo.
Marechal Hermes da Fonseca assume, em 1910, o governo e
decreta intervenção em vários estados.
Guerra do Contestado em 1912
Greves operárias em São Paulo
Contexto histórico do Brasil
Primeira Guerra Mundial
(1914-1918)
Posse de Venceslau Brás na
presidência
Política do café com leite
Greve operária em 1917
Fundação do PCB em 1922
Marco inicial: Os sertões, de
Euclides da Cunha, em 1902
Marco final: Semana de Arte
Moderna em 1922
Contexto histórico do Brasil
RE P RO D U Ç Ã O
Grevistas descem a ladeira do
Carmo em São Paulo, em 1917
Euclides da Cunha (1866-1909)
Euclides da Cunha trabalhou como correspondente para o jornal O
Estado de S. Paulo e cobriu o conflito de Canudos, o que resultou,
em 1902, na publicação de Os sertões.
C A S A E U C LI D IA N A , S Ã O J O S É D O RI O P A RD OBatalhão que combateu em Canudos,
entre 1896 e 1897.
A terra: descrição das
características do
sertão nordestino
O homem: perfil do
sertanejo e influência
do meio sobre
o homem
A luta: os conflitos e
destruição do Arraial
de Canudos
PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL
Euclides da Cunha (1866-1909)
Rigorosa análise científica da Guerra de Canudos, situando-se
entre a sociologia, antropologia e a literatura.
Herança de uma visão determinista, que se revelou também no
regionalismo modernista.
Rendição dos conselheiristas
em 2 de outubro de 1897
M U S E U D A RE P Ú BLI C A , RI O D E JA N E IRO
Apresentação de um
mundo desconhecido dos
leitores urbanos
Certa influência barroca
na linguagem
Canudos é um município
brasileiro do estado da
Bahia. Localiza-se a uma
latitude 09º53'48" sul e a
uma longitude 39º01'35"
oeste, estando a uma
altitude de 402 metros. Sua
população estima-se em
mais de 17.177 mil
habitantes, segundo IBGE
2015, dos quais, metade
vive na sede. O município
possui uma área de 2 984
km².
Em 1890, pouco tempo após a Proclamação da
República, a fazenda Canudos, da família de Garcia
d'Ávila, foi abandonada. Ficava no Sertão Baiano, às
margens do rio Vaza-Barris, próximo a Monte Santo, a
410 km de Salvador. O nome Canudos deriva de uma
planta local, com haste oca.
•
Muitos anos antes, em 1861, Antônio Vicente
Mendes Maciel, um professor primário e advogado
prático, passou a vagar pelos sertões, após ser
abandonado pela esposa. Tornou-se conhecido
como Antônio Conselheiro por causa de suas
pregações.
o arraial de Canudos visto da
estrada do Rosário, litografia
de D. Urpia, de 1897. Ao
centro, embaixo, estão as duas
igrejas do Arraial, a de Santo
Antônio (direita) e a nova, com
duas torres e inacabada.
Embaixo, a igreja de Santo
Antônio, em ruínas, e o púlpito
onde pregava Conselheiro,
após o massacre do Arraial,
fotografia de Flávio de Barros,
de 1897.
Lima Barreto (1881-1922)
A linguagem das obras de Lima
Barreto é ágil e simples. A do
preconceito, presente na maioria
delas, reflete experiências pessoais
do autor.
Entre elas, destacam-se
1
o
Recordações do escrivão Isaías
Caminha (1909)
2
o
Triste fim de Policarpo Quaresma
(em 1911, publicado em folhetim e,
em 1915, em livro)
3
o
Clara dos Anjos (1948)
A C E RV O I C O N O G RAP HI A
Lima Barreto
PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL
Graça Aranha - Canaã
Tem uma significativa abrangência,
pois trata de etnia, relacionamento
humano, culturas, colonização e
progresso. Desenvolve alguns
aspectos sociológicos e fisiológicos.
Publicado em 1902, é, ao lado de
Os
sertões
, um dos marcos do início
do
Pré-Modernismo
.
Milkau e Lentz
•
Retrata a imigração alemã com esses dois
protagonistas, um que adota o Brasil como
segunda pátria e o outro conservador, que espera
somente a hora da Alemanha tomar esta terra
para si.
•
Maria aparece para demonstrar o sofrimento
feminino e mais tarde torna-se protegida por
Milkau, que resgata-a da cadeia e foge com ela
para Canaã, a terra prometida.
Lima Barreto (1881-1922)
A obra Triste fim de Policarpo Quaresma se divide em três partes,
ligadas aos projetos do protagonista.
Projeto nacionalista: estudo de Quaresma das tradições do Brasil
Projeto agrícola: Quaresma adquire uma propriedade rural e
fracassa na tentativa de aplicar nas terras o que aprendeu nos livros.
Projeto político: ao fim de seu projeto agrícola, engaja-se como
voluntário nas tropas lideradas pelo marechal Floriano Peixoto para
lutar pelos ideais republicanos.
Linguagem simples e marcada pela oralidade, denunciando
problemas nacionais, como a decadência das cidades do vale do
Paraíba após o deslocamento da produção de café.
Em 1917, crítica a Anita Malfatti em
“Paranoia ou mistificação”
Monteiro Lobato (1882-1948)
RE P RO D U Ç Ã OCartaz de filme que imortalizou a personagem de
Monteiro Lobato, Jeca Tatu, símbolo do atraso
econômico e cultural do caboclo do interior.
Entre suas obras destacam-se Urupês (1918),
Cidades mortas (1919), Negrinha (1920) e
Reinações de Narizinho (1931).
Augusto dos Anjos (1884-1914)
Autor de um único livro, Eu (1912), Augusto dos Anjos teve
influência simbolista, naturalista e parnasiana.
Seus principais temas foram
a decomposição, o sofrimento, a morte,
a podridão e a metafísica.
Influenciado pelo biólogo alemão Ernst
Haeckel, utilizou termos científicos e
escatológicos, o que o fez conhecido como
o “poeta do mau gosto”.
F A BI O C O LO M BI N I
Escultura de Augusto dos Anjos na
praça Pedro Américo, João Pessoa (PB)
(PUC-RS)
Para responder à questão, leia o texto de autoria de Augusto dos Anjos, intitulado “Debaixo do tamarindo”, e as afirmativas, preenchendo os parênteses com V para verdadeiro e F para falso.
No tempo de meu Pai, sob estes galhos, Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira De inexorabilíssimos trabalhos!
Hoje, esta árvore de amplos agasalhos Guarda, como uma caixa derradeira, O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos! Quando pararem todos os relógios De minha vida, e a voz dos necrológios Gritar nos noticiários que eu morri, Voltando à pátria da homogeneidade, Abraçada com a própria Eternidade, A minha sombra há de ficar aqui!
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Pela leitura do texto, conclui-se que:
( ) O eu lírico recorda os tempos em que, à sombra da árvore, expressava o sofrimento proveniente do árduo trabalho. ( ) A imagem da vela fúnebre na primeira estrofe está associada à ideia da passagem do tempo.
( ) O poeta atribui à árvore a capacidade de guardar a memória da flora brasileira. ( ) O tom funesto do poema sustenta-se na saudade da figura paterna.
( ) O poeta prevê que, após a morte, sua existência, representada pela própria sombra, estará em harmonia com a natureza.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é:
a) V – V – F – V – F
b) F – V – F – F – V
c) V – F – V – F – V
d) F – F – V – F – F
e) V – F – V – V – F
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ÍC
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RESPOSTA: C
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EXERC
ÍC
IO
S
ESS
ENC
IA
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PRÉ-MODERNISMO NO BRASIL
— NO VESTIBULAR
(Unesp)
As questões de 10 a 15 tomam por base o mesmo texto a seguir, Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909).
Os sertões
A Serra do Mar tem um notável perfil em nossa história. A prumo sobre o Atlântico desdobra-se como a cortina de baluarte desmedido. De encontro às suas escarpas embatia, fragílima, a ânsia guerreira dos Cavendish e dos Fenton. No alto, volvendo o olhar em cheio para os chapadões, o forasteiro sentia-se em segurança. Estava sobre ameias intransponíveis que o punham do mesmo passo a cavaleiro do invasor e da metrópole. Transposta a montanha – arqueada como a precinta de pedra de um continente – era um isolador étnico e um isolador histórico. Anulava o apego irreprimível ao litoral, que se exercia ao norte; reduzia-o a estreita faixa de mangues e restingas, ante a qual se amorteciam todas as cobiças, e alteava, sobranceira às frotas, intangível no recesso das matas, a atração misteriosa das minas...
Ainda mais – o seu relevo especial torna-a um condensador de primeira ordem, no precipitar a evaporação oceânica. Os rios que se derivam pelas suas vertentes nascem de algum modo no mar. Rolam as águas num sentido oposto à costa. Entranham-se no interior, correndo em cheio para os sertões. Dão ao forasteiro a sugestão irresistível das entradas.
A terra atrai o homem; chama-o para o seio fecundo; encanta-o pelo aspecto formosíssimo; arrebata-o, afinal, irresistivelmente, na correnteza dos rios.
Daí o traçado eloquentíssimo do Tietê, diretriz preponderante nesse domínio do solo. Enquanto no S. Francisco, no Parnaíba, no Amazonas, e em todos os cursos d’água da borda oriental, o acesso para o interior seguia ao arrepio das correntes, ou embatia nas cachoeiras que tombam dos socalcos dos planaltos, ele levava os sertanistas, sem uma remada, para o rio Grande e daí ao Paraná e ao Paranaíba. Era a penetração em Minas, em Goiás, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso,
no Brasil inteiro. Segundo estas linhas de menor resistência, que definem os lineamentos mais claros da expansão colonial, não se opunham, como ao norte, renteando o passo às bandeiras, a esterilidade da terra, a barreira intangível dos descampados brutos. Assim é fácil mostrar como esta distinção de ordem física esclarece as anomalias e contrastes entre os sucessos nos dous pontos do país, sobretudo no período agudo da crise colonial, no século XVII.
Enquanto o domínio holandês, centralizando-se em Pernambuco, reagia por toda a costa oriental, da Bahia ao Maranhão, e se travavam recontros memoráveis em que, solidárias, enterreiravam o inimigo comum as nossas três raças formadoras, o sulista, absolutamente alheio àquela agitação, revelava, na rebeldia aos decretos da metrópole, completo divórcio com aqueles lutadores. Era quase um inimigo tão perigoso quanto o batavo. Um povo estranho de mestiços levantadiços, expandindo outras tendências, norteado por outros destinos, pisando, resoluto, em demanda de outros rumos, bulas e alvarás entibiadores.
Volvia-se em luta aberta com a corte portuguesa, numa reação tenaz contra os jesuítas. Estes, olvidando o holandês e dirigindo-se, com Ruiz de Montoya a Madri e Díaz Taño a Roma, apontavam-no como inimigo mais sério.
De feito, enquanto em Pernambuco as tropas de van Schkoppe preparavam o governo de Nassau, em São Paulo se arquitetava o drama sombrio de Guaíra. E quando a restauração em Portugal veio alentar em toda a linha a repulsa ao invasor, congregando de novo os combatentes exaustos, os sulistas frisaram ainda mais esta separação de destinos, aproveitando-se do mesmo fato para estadearem a autonomia franca, no reinado de um minuto de Amador Bueno. Não temos contraste maior na nossa história. Está nele a sua feição verdadeiramente nacional. Fora disto mal a vislumbramos nas cortes espetaculosas dos governadores, na Bahia, onde imperava a Companhia de Jesus com o privilégio da conquista das almas, eufemismo casuístico disfarçando o monopólio do braço indígena.