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Queremos todos livres: a discussão abolicionista em periódicos curitibanos no século XIX 1

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Queremos todos livres:

a discussão abolicionista em periódicos curitibanos no século XIX

1 ZALUSKI, Jorge Luiz/Pós graduação

UNICENTRO/Paraná

RESUMO

As transformações ocorridas na historiografia que tratou do tema da escravidão africana no Brasil, resultaram ao longo das ultimas décadas em discussões teóricas metodológicas importantes nos desdobramentos do tema quanto no âmbito mais amplo da pesquisa histórica do país. Dentre as transformações, aplicou-se significadamente o rol de registros de épocas disponíveis a critica do historiador, um destes são os jornais, o qual serve de fonte principal para esta pesquisa. O presente trabalho tem como objetivo analisar a propaganda abolicionista apresentada ao público nos últimos meses da escravidão em dois jornais, o Dezenove de

dezembro e A Republica, ambos periódicos paranaenses que vinham destacando-se no campo

mais amplo dos movimentos em favor da abolição do cativeiro na província paranaense, propõe-se ainda destacar a importância destes materiais como fonte para pesquisas..

PALAVRAS-CHAVE: periódicos, fontes, historiografia, abolição, República.

Diante das transformações ocorridas na historiografia, destaca-se a aprimoração de novas fontes. O jornal foi um ganho significativo que desperta interesse nas mais diversas faces da construção histórica. Esse tipo de material teve sua relevância tardia, o que ocasionou a perca de muitas edições pela má conservação. Desta forma, muitas das microfilmagens existentes geram dificuldades para a pesquisa, quando vista a necessidade do armazenamento, muitos periódicos com um grande tempo de publicação já encontravam-se deteriorados.

Atribuído a tipografia como fonte, surge outro problema além dos objetivos de uma pesquisa, Jean-François Sirinelli,2 já havia destacado que os jornais são o ponto de de encontro com um objetivo comum, percebido isso é necessário estabelecer alguns critérios para a análise das fontes, como exemplo, identificar o grupo responsável pela edição, quem financiava as publicações, a escolha dos títulos, número de exemplares e público destinado, estes são alguns fatores fundamentais para a compreensão do periódico.

Uma fonte é objeto de criação de um tempo, este deve ser compreendido através de quando foi construído, seus objetivos e significados condizem para a época produzida. Visto a relevância que estas fontes possuem para a pesquisa cabe problematiza-las através do tema proposto para este trabalho, o discurso abolicionista nos impressos

1Trabalho apresentado no GT ____________________, componente do I Encontro Paraná/Santa Catarina de

História da Mídia.

2SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (org). Por uma história política. Rio de

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paranaenses, A república, e Dezenove de Dezembro.

O impresso, Dezenove de Dezembro tinha inicialmente suas publicações semanais, ao

decorrer, passa a ser editado duas vezes por s

emana, ou, em estados oficiais de acordo com os acontecimentos da província. O jornal possui este titulo em homenagem ao dia da emancipação da cidade, por tanto, seus dirigentes eram pessoas ligadas ao governo, criado em 1854 foi o primeiro jornal paranaense.3 O jornal A

República, foi criado em 1886, pelo Clube republicano de Curitiba. Seus editoriais saiam

diariamente, defendiam os interesses do governo Estadual.4

Por questões políticas a abolição também foi discutida pelos parlamentares do império, sendo que, todos esses debates eram expostos nos jornais, seja ele contra ou a favor do abolicionismo, tornava-se também responsável pelo imaginário que se criava em libertar os cativos.5 O jornal tornou-se um grande documento a ser pesquisado, suas publicações estavam fortemente ligadas ao governo, ou então a oposição, sendo necessário identificar o partido político a qual o periódico vinculava-se.

O jornal foi formador do pensamento e opinião da sociedade, pois em finais do século XIX, este era um dos únicos meios de comunicação existentes no Brasil, o vinculo entre editoriais e política poderia ocorrer em imposições à opinião da população. Um dos primeiros autores a identificar e trabalhar com a imprensa brasileira desde sua criação até de 1960, período de publicação da obra, foi Nelson Werneck Sodré.6 Dentre seus estudos constatou que por muitos a escravidão era vista como responsável pelo atraso do desenvolvimento material e cultural do país, além do propósito da derrubada da monarquia, por isso a imprensa que defendia o abolicionismo era republicana, cabendo a ela ligação com defensores da causa.7

Recentemente Ana Luiza Martins8 e Tania Regina de Luca9 em História da Imprensa

no Brasil,10 publicaram um novo estudo sobre a tipografia brasileira, as autoras mostram a

3VIEIRA, Carlos Eduardo. Intelectuais e Modernidade: O discurso sobre a educação na imprensa periódica

paranaense na década de vinte. In: Projeto apoiado pelo CNPq, Processo n. 306010/2004-6, intitulado Intelectuais, Educação e Modernidade: da Escola Moderna ao Movimento pela Escola Nova (1900-1950). Disponível em: http://www.sbhe.org.br/ Acesso em: 08/05/2010

4RANZI, Serlei Maria Fischer & SILVA, Maclovia Corrêa da. A imprensa e a situação do ensino secundário no

Paraná (1891-1925). In. O projeto O ensino secundário no Paraná 1891-1925: a organização e a constituição de um campo pedagógico na rede pública paranaense, financiado pelo PROCAD/CAPES, projeto nº0115/01-0. Disponível em: http://www.sbhe.org.br/ Acesso em 08/05/2010.

5 MENDONÇA, Joseli Nunes. Cenas da abolição: Escravos e senhores no Parlamento e na justiça; São Paulo:

2º Edição. Fundação Perseu Abramo. 2007

6SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966. 7SODRÉ, op. cit., p.234.

8Martins, Ana Luiza. O Despertar da Republica, São Paulo, Editora Contexto, 2003. 9LUCA, T. R.. Indústria e trabalho na História do Brasil. 1ª. ed. São Paulo: Contexto, 2001.

10MARTINS, Ana. Luiza. & DE LUCA, Tania. Regina. (Org.) História da Imprensa no Brasil. São Paulo:

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trajetória do jornal observando diferentes fatores, como a linguagem que cada um possuía como também o vinculo entre periódicos e a política. A circulação dos impressos não só testemunham como registram e vinculam-se a história, desta forma a história do Brasil e da imprensa caminham juntas.11 Um dos problemas em trabalhar com os jornais é “o risco de ir buscar aquilo que queremos confirmar”,12 imprensa e história do Brasil estão entrelaçadas e dão relevância a pesquisa periódica.

O recorte temporal é de janeiro a junho de 1888, notado que é nesse período que o movimento se intensifica cada vez mais, fazendo com que chegue a população a discussão sobre a abolição.

Os periódicos adquiridos para a pesquisa, encontram-se microfilmados na Biblioteca Municipal de Curitiba, vista a necessidade de verificar se os jornais locais seguiam algum partido político, manchetes ou formato. Adotou-se também para o trabalho o jornal A

Província de são Paulo, a qual possuía circulação nacional, feita as comparações foi possível

destacar que após a publicação do dia 08 de março de 1888 referente a 400$000 de imposto cobrado sobre cada escravo matriculado na província, tendo resultado de tal debate estes fizeram parte dos noticiários do dia seguinte, o qual informava o seguinte:

[...] De modo porque correu o debate e das opiniões manifestadas pelas tres bancadas, deduz-se claramente que o projecto teria sido approvado por unanimidade, se no fora o Sr. Duarte de Azevedo ter-se esforçado extraordinariamente para conseguir dos seus corriligionarios voto contrario do projecto.[...]13

Por mais que não assinado nenhum termo acabando definitivamente com a abolição, esta vinha sendo debatida na Assembléia, caberia aos participantes a posição de dar continuidade ou acabar com a escravidão, posição que não se restringia apenas ao governo, mas também a aliados, Clubes Republicanos e Abolicionistas, dentre demais representantes da população.

Decorrente disso cresceu nas publicações paranaenses debates e propagandas abolicionistas, os noticiários foram invadidos por nomes de participantes da sociedade, como também de seus ex-escravos, que tomavam conta das paginas publicadas, conforme pode ser percebido no seguinte impresso:

Liberdades

11LUCA, MARTINS, op. cit., p. 8.

12DE LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.).

Fontes Históricas. 2a ed. São Paulo: Contexto, 2006.

13CURITIBA, Biblioteca Municipal. A Província de São Paulo, 08 de março de 1888. Gaveta número 04,

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O sr. Theophilo Moreira Garcez, solennisando o terceiro anniversario de seu interessante filhinho João, concedeu liberdade incondicional á sua escravisada Andreza, de 20 anos de idade.

Não pode haver meio mais digno e mais nobre de manifestarmos os nossos regosijos n´este tempo do que este de que valeu-se o distincto cidadao a

quem cummprimentamos cordialmente.14

O noticiário pode soar estranho ao verificar os motivos que levaram a abolição da escrava, mas este continha um significado maior, como ocorreu em São Paulo em que Lilia Moritz Schwarcz15 identificou ao analisar a sociedade de São Paulo, as abolições ocorriam como status social, representando um perfil das elites da época. Antes os escravos estampavam as paginas em anúncios voltados as fugas, venda ou troca, com as propagandas abolicionistas eles ganharam mais espaço, porém a pretensão era em expor as pessoas que os libertavam.

Diante do pensamento progressista como já apontado anteriormente, aplicava-se a sociedade de que o atraso que o Brasil pertencia decorria do braço servil. Porém cabe ressaltar que os defensores da causa continham ligações com os movimentos republicanos, sendo a abolição uma das maiores causas atribuída pela discussão da Republica.

Muitos dos movimentos republicanos criaram seus Clubs Abolicionistas, em Curitiba este foi responsável pela quase obrigação de todos realizarem a abolição. Decorrente de o Clube Militar realizar reuniões em prol da causa, envolvendo autoridades locais, como resultado a criação de uma Confederação Abolicionista, que propunha uma mobilização maciça, com encontros todas as noites no salão do clube militar.

[...]No dia do corrente effectuou-se no Club Militar d´esta cidade uma reunião a que foram convidadas todas as corporações de cuja existencia aquelle Club teve noticia, afim de se fazerem representar n´aquella assembléia realisada para tratar-se da questão abolicionista.[...] Depois d ´isto, por meio de proclamações ficou composto a Directoria da Confederação de um presidente, um vice-presidente, dois secretários e um orador.[...]16

É explicito que o movimento tinha ganhado a causa do governo local, diante disso as propagandas ganharam força, atingindo os jornais de forma que aumentassem suas paginas com noticias de destaque sobre a causa. Até a década de 1980 não havia nenhum

14Curitiba, Biblioteca Municipal. A Republica, 20 de março de 1888. Gaveta número 33, armário número 39, rolo

número 40, periódicos do dia 02 de janeiro a 29 de dezembro de 1888.

15 SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e Negro: jornais, escravos e cidadãos em São Paulo no final

do século XIX; São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

16 Curitiba, Biblioteca Municipal. A Republica, 27de março de 1888. Gaveta número 33, armário número 39, rolo

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estudo preocupado com a publicação periódica paranaense, destacou-se o trabalho de Márcia Elisa de Campos Graf,17 encontrado mais de 70 jornais publicados no Paraná entre 1854 e 1888, dos mais singelos anúncios de recompensa por informações na busca de um cativo, como paginas de festejos e comemorações sobre a conquista da libertação.

O jornal foi espaço de debate sobre a construção de um ideal abolicionista, seus representantes eram pessoas ligadas ao governo, a pretensão era de formar um estado onde todos poderiam viver em igualdade, apagar a “mancha negra” deixada com a escravidão. Desta forma o periódico tornou-se um instrumento fundamental para a pesquisa, um objeto que percorreu sobre os propósitos e conquistas de uma sociedade atrelada no ideário republicano.

FONTES

Jornal A Província de São Paulo: 08 de março de 1888. Jornal A Republica: 27 de março de 1888.

Jornal A Republica: 09 de abril de 1888. Jornal A Republica: 27 de abril de 1888. Jornal A Republica: 10 de maio de 1888.

Jornal Dezenove de dezembro, 29 de março de 1888. Jornal Dezenove de dezembro, 14 de abril de 1888.

REFERÊNCIAS

DE LUCA, Tania Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). Fontes Históricas. 2a ed. São Paulo: Contexto, 2006.

GRAF, Márcia Elisa de Campos. Imprensa periódica e escravidão no Paraná. Curitiba, Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, 1981.

LEAL, Carlos Eduardo. & SAUL, Vicente. O Estado de São Paulo. Fundação Getulio Vargas. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm/. Acesso em: 08/05/2010.

Martins, Ana Luiza. O Despertar da Republica, São Paulo, Editora Contexto, 2003.

_______________& DE LUCA, Tania. Regina. (Org.) História da Imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008.

MENDONÇA, Joseli Nunes. Cenas da abolição: Escravos e senhores no Parlamento e na

justiça; São Paulo: 2º Edição. Fundação Perseu Abramo. 2007

17 GRAF, Márcia Elisa de Campos. Imprensa periódica e escravidão no Paraná; Curitiba, Secretaria de Estado da

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NABUCO, Joaquim. Abolicionismo; Companhia Edição Nacional e Civilização Brasileira, 1883.

RANZI, Serlei Maria Fischer & SILVA, Maclovia Corrêa da. A imprensa e a situação do

ensino secundário no Paraná (1891-1925). In. O projeto O ensino secundário no Paraná 1891-1925: a organização e a constituição de um campo pedagógico na rede pública paranaense. Financiado pelo PROCAD/CAPES, projeto nº0115/01-0. Disponível em:

http://www.sbhe.org.br/ Acesso em 08/05/2010.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Retrato em Branco e Negro: jornais, escravos e cidadãos em São

Paulo no final do século XIX; São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

_______________ O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (org). Por uma história política. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 1996.

SODRÉ, Werneck Nelson. História da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966.

VIEIRA, Carlos Eduardo. Intelectuais e Modernidade: O discurso sobre a educação na

imprensa periódica paranaense na década de vinte. In: Projeto apoiado pelo CNPq, Processo

n. 306010/2004-6, intitulado Intelectuais, Educação e Modernidade: da Escola Moderna ao

Movimento pela Escola Nova (1900-1950). Disponível em : http://www.sbhe.org.br/ Acesso em:

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