DIFERENCIAÇÃO DE PRODUTOS
ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL
(EAE 508)
Prof. Dr. Eduardo Luzio
eluzio@usp.br
Blog: h:p:/eduardoluzio.wordpress.com
2015
Cabral 12.
Introdução ao Tema
• Nos EUA, há 4 mil empresas de cartões de crédito • O produto é aparentemente homogêneo
• Não há barreiras de entrada significaQvas
• Não há sinais de acordos para fixação de preços
• Há concorrência perfeita na indústria de cartões de crédito nos EUA? • Evidências:
1. Quando a taxa de juros de mercado cai, a dos cartões não caem
2. Entre 1983 /88, a taxas de retorno das empresas de cartões de crédito foram de 3 a 5x maiores que outros Qpos de serviços bancários!
• Possíveis explicações?
• Custos de comutação (switching costs)?
• Cartões de crédito não são produtos homogêneos... São DIFERENCIADOS (serviços, status,...)
• PREMISSAS: PRODUTOS NÃO SÃO HOMOGENEOS E A INFORMAÇÃO É INCOMPLETA!
Tipos de Diferenciação
•
Diferenciação Horizontal: João prefere o presunto Sadia ao Perdigão.
•
Diferenciação VerMcal: João prefere gasolina adiQvada à gasolina comum. Ou seja,
o que esta em jogo é a caracterísQca de um mesmo produto (eficiência)
•
No mundo real, encontramos combinações dos dois Qpos de diferenciação
•
Ex.: João prefere um carro com motor mais potente, mas não se importa com o
tamanho do porta-‐malas. Anete prefere um carro com uma amplo porta-‐malas,
mas não se importa com a potencia do motor.
•
Ou seja, este exemplo reflete a abordagem das caracterísMcas: a demanda não é
pelo produto, mas por caracterísQcas deste produto.
•
A maioria das caracterísQcas são mensuráveis, porém há caracterísQcas dipceis de
se esQmar, por exemplo, a beleza do design do carro
Diferenciação: Abordagem das CaracterísMcas
•
Ex. Demanda por automóveis depende das seguintes caracterísQcas:
–
Razão cavalos de força / peso (proxy para aceleração)
–
Tamanho
–
Extras (ex. AC)
–
Eficiência (milhas / galão, milhas por US$)
–
Etc.
•
GM Geo x Porshe:
Diferenciação: Abordagem das CaracterísMcas
• Dois Qpos de consumidor: A (universitário recém formado) e B (CEO)
• Cada consumidor i associa valores diferentes para cada uma das caracterísQcas j
CaracterísMcas
(cj) CF/P AC M/US$ Tamanho (US$ 10Preço 3)
Geo 0,3 0 64 0,9 4
Porshe 1,0 1 12 1,2 68
• Ex.: tanto A quanto B associam -‐1 ao preço, ou seja, um aumento no preço de $ 1 mil, reduz uQlidade líquida em 1 unidade.
• Ex. A associa 0,5 à AC, o que indica que $ 0,5 mil por um AC
• Ex. B esta disposto a pagar $ 40 mil por uma unidade a mais de aceleração • Em suma, a uQlidade líquida do carro k pelo consumidor i (uik) é:
• Uik = bi1ck1 + ... + bi4ck4 -‐ pk
Valor do Consumidor
(bij) CF/P AC M/US$ Tamanho (US$ 10Preço 3)
A 5 0,5 0,1 1 -‐1
Diferenciação: Abordagem das CaracterísMcas
6
UMlidade
Líquida (uik) Geo Porshe
A 4,8 -‐60,1
B 26 36
•
A uQlidade líquida de A comprar um Geo é 4,8 enquanto o Porshe seria de -‐60,1,
pois a diferença de preço domina todas as outras caracterísQcas
•
Para B, a uQlidade líquida de comprar um Porshe é 36 enquanto o Geo seria de 26,
pois a aceleração e o AC dominam a diferença de preço
•
A abordagem das caracterísQcas englobam diferenciações horizontais e verQcais e
ajuda a esQmar a demanda do consumidor e das elasMcidade cruzadas de preço
para cada caracterísQca.
•
Como tal, essa abordagem é uma ferramenta importante na estratégia de
negócios: posição dos produtos, diferenciação da marca...
Diferenciação Horizontal e Oligopólios
Quais são as implicações se introduzirmos diferenciação horizontal no modelo de oligopólio?
Ex.: uma praia de 1 quilômetro de extensão com duas sorveterias nas pontas • Há custos de deslocamento (transporte)
• Consumidores mais próximos de uma sorveteria podem preferi-‐la apesar do produto ser semelhante
• Mas também pode haver um consumidor da ponta norte que prefere o sorvete da ponta sul porque valoriza alguma caracterísQca de maneira diferente
• Ou seja, na essência, podemos considerar distância entre o consumidor e a sorveteria como uma caracterísQca do produto
Modelo Hotelling:
• Suponha um grande números de consumidores • Duas sorveterias distantes 1 km uma da outra
• As sorveterias definem preços simultaneamente a la Bertrand
• O consumidor está há x metros da Sorveteria 1 e seu custo de transporte é R$ t / metro • O custo para comprar na Sorveteria 1 = p'1 + xt, que é função da localização do
Modelo Hotelling: O Custo do Consumidor
• Quando x = 0, o custo total é p’1 • Ao se deslocar até a Sorveteria 1, o
consumidor 2 aumenta seu custo até p’1 + t
• Por analogia, o consumidor localizado em x precisa viajar (1 – x) para comprar na outra sorveteria
• Portanto para este segundo
consumidor o custo de comprar na sorveteria 2 será: p’2+t (1-‐ x’)
• Suponha que todos os consumidores comprem um sorvete, portanto a decisão relevante é aonde comprar • Então a decisão de consumir se resume
em minimizar o custo total (preço mais deslocamento)
• Em x’, os consumidores 1 e 2 são indiferentes sobre qual sorvete consumir 8 p'1 p1
d
1 x' 1 p'1+tx' 0 p2d
2 p'2 p’2+t (1-‐ x’) p'1+tx' p’2+t (1-‐ x’)• Então a demanda pelo sorvete 1 é dada por todos os consumidores à esquerda de x’
• A demanda pelo sorvete 2 é dada por todos os consumidores à direita de x’
• Se os consumidores esQverem distribuídos
uniformemente ao longo da praia, a demanda por 1 é x’ e por 2 é (1-‐x’)
• Note que apesar da sorveteria 1 ter preços mais altos que 2 (p’1 > p’2), ela possui demanda posiMva, ao contrário do resultado de Bertrand, onde 2
Modelo Hotelling: A Demanda do Consumidor
• A diferença ente os modelos de
Bertrand e Hotelling é que os produtos não são os mesmos para o consumidor por causa do custo de transporte
• Se o custo do transporte fosse
pequeno, as inclinações seriam baixas e a sorveria sobrevivente seria aquela com menor preço
• Suponha que a Sorveteria 1 aumentou o preço para p”1. O consumidor que esQver em x = 0 é indiferente, mas a demanda pelo sorvete 1 será menor • Em outro extremo, suponha que a
Sorveteria 1 diminuiu o preço para p’”1. O consumidor que esQver em x = 1 é indiferente, o sorvete 1 dominará todo o mercado p'1 p1 x' 1 p'1+tx' 0 p2 p'2 p’2+t (1-‐ x’) p'1+tx' p’2+t (1-‐ x’)
• Entre p”1 e p”’1 podemos deduzir a curva de
demanda pelo sorvete 1 que depende de p’2: d1 (p1| p’2) p"1+tx' p'"1+tx' P"1 P'"1 d1 (p1|p’2)
Modelo Hotelling: Equilíbrio
Suponha :
• um CM constante igual a c para ambas as sorveterias
• Sorveteria 2 define seu preço em pN 2
• Qual é a decisão óQma para a Sorveteria 1?
• Da curva de demanda d1 (p1|p’2)
derivamos a curva da receita marginal da Sorveteria 1: r1 (p1|p’2)
• Para a Sorveteria 1 seria óQmo seria definir o preço onde r1 = c que será igual a pN
1
• Como o custo marginal é o mesmo, o equilíbrio de Nash será em pN
1 = pN2 10 pN 1 p1 xN = 1/2 1 0 p2 pN 2 p’2+t (1-‐ x’)
• A figura mostra que no equilíbrio de Hotelling, ao contrário de Bertrand, os preços estão acima do custo marginal c.
• O modelo de Hotelling é uma solução para o Paradoxo de Bertrand!
• Quando há custo de deslocamento, a compeMção não leva os preços ao nível do custo marginal!
c
d1 (p1|pN
2)
r1 (p1|pN 2)
Posicionamento de Produtos
•
Na seção anterior supusemos que a localização dos produtos era dada.
•
Mas, e se o fabricante puder escolher onde posicionar seus produtos?
•
A “distância” entre os produtos é parte importante da estratégia compeQQva:
–
Distância espacial (ex. restaurantes nos Jardins x Mocotó na Vila Guilherme)
–
Distância qualitaQva (ex. panetones com chocolate e/ou nozes e/ou frutas
secas e/ou doce de leite....)
•
Definir a “distância” é uma decisão impacto de longo prazo, enquanto preços são
decisões de impacto de curto prazo
•
Suponha duas empresas e um jogo de dois estágios
•
Se a empresa 2 decide se localizar no meio de um segmento, para 1 é melhor se
localizar próximo ou distante de 1?
•
Há dois efeitos a serem considerados
•
1) Efeito Direto
Posicionamento de Produtos
• 1) Efeito Direto
• Para um dado preço, quanto mais próximo 1 for de 2, maior será sua demanda (e lucros) • Mas, os preços são decididos em um segundo momento, onde entra o efeito estratégico... • 2) Efeito estratégico
• Quanto mais próximo 1 for de 2, maior será a concorrência de preços • Diferenciação de produtos aumenta o poder de mercado
• O efeito direto induz os compeQdores a se localizarem próximos uns dos ouros • O efeito estratégico induz a diferenciação do produto
• O balanço entre estes dois efeitos depende do custo de transporte e da distribuição dos consumidores
• Ex. Mocotó original x Mocotó “chique”
• h:ps://eduardoluzio.wordpress.com/2010/12/09/estudo-‐de-‐caso-‐mocoto/
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Se a compeQção por preço é intensa, as empresas buscarão se diferenciar. Caso
contrário, as empresas tenderão a se localizar próximas ao centro (pouca
Informação Imperfeita e Custos de Comutação
• Diferenças entre produtos são geralmente objeQvas (ex. Porshe x Geo)
• Mas e quando as diferenças forem subjeQvas (iPhone x Samsung, remédios de referência x genéricos)?
• Não importa se os produtos são realmente diferentes, mas sim como os consumidores os percebem
• Suponha que os consumidores tenham informação imperfeita sobre preços ou tem de pagar um custo de comutação ao trocar de fabricante
• Suponha que para conhecer os preços, o consumidor tenha de visitar todas as lojas, ou seja incorre em um custo de pesquisa (search cost)
• Se não há custos de pesquisa, temos a solução de Bertrand (p = MC)
• Se há custos de pesquisa, então um possível equilíbrio é a empresa fixar seu preço ao nível do monopólio. Se todas as empresas fizerem isso, então nenhuma empresa terá o incenQvo a reduzir preços, pois ao fazê-‐lo não atrairá consumidores adicionais
• Custos de pesquisa podem levar a um equilíbrio de monopólio, mesmo com várias empresas e produtos homogêneos