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PARADOXO DO (IM)POSSÍVEL Antonio Carlos Santoro Filho

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Academic year: 2021

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PARADOXO DO (IM)POSSÍVEL

Antonio Carlos Santoro Filho

As redes sociais, apesar de todos os seus problemas e críticas sofridas, especialmente no que toca ao excesso de exposição pessoal, possibilitam um crescimento exponencial, tanto dos contatos, dos relacionamentos intersubjetivos, como das mais diversas discussões, algumas delas bastante interessantes e profundas. Dependendo do modo como são utilizadas, podem proporcionar aos seus participantes um crescimento pessoal e intelectual. Faço este intróito para esclarecer que este pequeno texto é fruto de debate levantado em uma

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dessas redes, na qual recentemente recebi o seguinte questionamento: se tudo é possível, o impossível é a única impossibilidade?

Eu não sei se estou preparado para oferecer uma resposta crível ou convincente sobre a matéria, mas não me furtarei a analisá-la e nem a responderei com outra pergunta, procedimento comumente utilizado por aqueles que não querem se comprometer.

A questão é de “entortar os neurônios” e apresenta, como veremos, um – aparente – paradoxo, que, como tal, seria insuperável.

De fato, se tudo é possível, nada é impossível; e, neste caso, o impossível seria impossível, o que revelaria que nem tudo é impossível - paradoxo. Antes de nos determos especificamente sobre a questão, todavia, cabe-nos definir, ainda que em linhas gerais, de que se trata o impossível.

Impossível é aquilo que não pode ser, existir, acontecer ou ser realizado; o impossível, pois, em síntese, envolve um conceito negativo, na medida em que é o inexistente em absoluto.

Formulado um conceito de impossível, devemos, para analisar a pergunta formulada, apreciar se a afirmação que contém está correta. Tudo é realmente possível?

Entendemos incabível uma única resposta. Para o mundo natural e humano nem tudo é possível, o que, por si só, já invalida a questão.

Realmente, um rato não pode voar, um mosquito não pode amar e o homem, sem acessórios,

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Todos esses fatos são – realmente - impossíveis, de modo que, dependendo do sujeito ou do evento, não é correto afirmar que tudo é possível.

Logo, tanto para o mundo natural, como para o humano, a questão carece de validade, pois a sua premissa está incorreta; ao contrário do afirmado, nem tudo é possível no mundo material e/ou à pessoa humana. Mesmo no mundo sobre-humano – sobrenatural -, reservado aos anjos, espíritos superiores ou de luz, nem tudo seria possível.

De fato, apesar da inegável superioridade desses seres – cuja existência, aqui, não cabe discutir, mas apenas aceitar e pressupor para o desenvolvimento do tema – em relação ao mundo humano, sua capacidade – ou possibilidades - não seria infinita, pois encontraria limites, por um lado, na vontade Divina e, por outro, no respeito ao livre-arbítrio das pessoas.

O questionamento, portanto, somente guardaria pertinência em relação a um Ser onipotente, isto é, que tudo pode e para Quem nada é impossível. Com efeito, Deus não foi e nem será, Ele simplesmente é; Sua vontade concretiza-se instantaneamente, sendo portanto correto afirmar que para o Criador tudo é possível e nada é impossível.

Mas então se a Deus nada é impossível, o impossível não seria a Ele uma impossibilidade? E, se assim é, se algo, ainda que o impossível, é impossível a Deus, poder-se-ia dizer que Ele é onipotente? Não estaríamos diante de um paradoxo apto a revelar o caráter ilógico da pretendida onipotência Divina?

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Embora bem construída, a questão está embasada em um jogo de linguagem ou de palavras por meio do qual a verdade acaba sendo escamoteada, ou melhor, colocada do avesso, na medida em que afirma um negativo mediante a negação do próprio negativo.

Elaboremos um raciocínio semelhante, envolvendo o ser.

Podemos afirmar que tudo tem um ser, inclusive os valores, cujo ser é valer.

Se tudo tem um ser, o não-ser também deve, seguindo-se o raciocínio da questão apresentada, ter um ser. Mas se o que caracteriza o não-ser é exatamente a ausência de ser, conclui-se que ou o não-ser não integra o todo – e aí o todo já não mais não-seria o todo -, ou que não é tudo que tem um ser. O não-ser, pois, seria a prova de que nem tudo tem um ser. Mas o que é o não-ser? Trata-se apenas de uma abstração, de um conceito a respeito também do inexistente em absoluto, da radical ausência. O não-ser não existe e, por isso, ele não integra o todo, de forma que, sendo em si ausência, a sua ausência não afeta a totalidade do todo. A ausência da ausência não é ausência, mas presença.

Seguindo o mesmo caminho, podemos afirmar que negar o negativo é afirmar o positivo, e não o próprio negativo. A impossibilidade de uma impossibilidade não afirma o impossível, mas o possível.

Assim, se é impossível que eu não possa, conclui-se que eu posso, não havendo, em verdade,

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A Deus, portanto, que tudo pode, nada é impossível, constituindo a impossibilidade do impossível, em verdade, não uma real impossibilidade, mas mera constatação ou revelação da possibilidade absoluta.

Referências

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