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Práticas de governança corporativa: uma investigação no âmbito de empresas do setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)

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Práticas de governança corporativa:

uma investigação no âmbito

de empresas do setor de Tecnologia

da Informação e Comunicação (TIC)

Antônio André Cunha Callado1

Aldo Leonardo Cunha Callado2

Moisés Araújo Almeida3

Resumo

O presente estudo teve como objetivo investigar padrões de relações entre práticas de gover-nança corporativa em empresas do Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) localizadas no Porto Digital da Cidade de Recife/PE. Para a realização dessa pesquisa foram analisadas 30 empresas e investigadas 14 variáveis. Para atingir o objetivo proposto, foram uti-lizadas três abordagens metodológicas multivariadas complementares: a análise de agrupa-mentos, o escalonamento multidimensional e a análise fatorial. Os resultados obtidos demons-traram que apenas nove variáveis analisadas puderam ser consideradas como pertencentes a algum agrupamento de maneira signifi cativa. Foram encontrados três grupos distintos atra-vés da análise de agrupamentos. Os resultados obtidos nesta pesquisa apontam evidências relevantes sobre os padrões de relacionamento entre as práticas de governança investigadas.

Palavras-chave: Governança corporativa. Abordagem multivariada. Setor de tecnologia da

informação e comunicação.

The practice of corporate governance: an investigation in companies of the Information and Communication Technology sector (ICT) Abstract

This study aims to investigate patterns of relationships between corporate governance practices in companies of the Information and Communication Technology (ICT) sector located at Porto Digital (Recife/PE). For the purposes of research, 30 companies were analyzed and 14 variables were investigated. To achieve the objective proposed, three complementary multivariate methodological approaches were used: the analysis of groups,

1 Doutor em Administração pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Doutor em

Adminis-tração pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Professor Associado do Departa-mento de Administração da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. E-mail: andrecallado@yahoo.com.br.

2 Doutor em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Profes-sor Adjunto do Departamento de Finanças e Contabilidade da Universidade Federal da Paraíba – UFPB.

3 Doutorando em Administração na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Professor do

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the multidimensional scaling and factor analysis. The results showed that only nine variables could be considered as belonging to a group in a meaningful way. Three distinct groups were found through cluster analysis. The results in this study point out relevant evidences about patterns of relationships between the governance practices investigated.

Keywords: Corporate Governance. Multivariate approach. Information and communication

technology sector.

Introdução

A governança corporativa tem sido discutida amplamente nas áreas de Direito, Economia, Contabilidade e Finanças e envolve um amplo debate tanto no meio acadêmico quanto no ambiente empresarial. Dessa forma, se torna de fundamental importância verifi car as defi nições que têm sido apresentadas sobre o assunto e os seus diferentes enfoques.

A Organisation for Economic Co-operation and Development – OECD (2008) defi ne governança corporativa como um conjunto de rela-ções entre a gerência corporativa e o conselho diretivo e demais grupos que possuam algum vínculo direto com a empresa. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (2008), a governança cor-porativa é o sistema que permite aos acionistas ou cotistas do governo estratégico de sua empresa e a efetiva monitoração da direção executiva.

Para a Comissão de Valores Mobiliários – CVM (2002), a governan-ça corporativa é o conjunto de práticas que tem por fi nalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao ca-pital. Nesse sentido, a governança corporativa pode ser entendida como um conjunto de mecanismos com a fi nalidade de monitorar a gestão e o desempenho das organizações, de forma que os interesses dos adminis-tradores estejam de acordo com os interesses dos proprietários. Dessa forma, a governança é vista como um sistema equilibrado de decisões e de práticas de gestão que contribui para o bom desempenho dos negócios.

Santos (2005) ressalta que o conceito de governança corporativa não se restringe apenas às empresas que possuem capital aberto e são lis-tadas em bolsa, mas se aplica a todas as empresas que buscam uma rela-ção de transparência e confi ança com as partes com que mantêm algum relacionamento.

A preocupação com os estudos de governança ganhou maior desta-que a partir do trabalho de Berle e Means (1932), desta-que discutiram

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separa-ção entre propriedade e controle das empresas. Mais tarde, Jensen e Meckling (1976) formularam as bases da teoria da agência, mostrando haver uma boa razão para acreditar que o agente não atuará sempre segundo os interesses do principal. Essa falta de empenho por parte do agente é um problema que pode prejudicar a efi cácia da governança corporativa. Tal discussão representa um marco nos estudos sobre o as-sunto, principalmente no que diz respeito à estrutura de propriedade e controle das empresas.

As discussões sobre governança se intensifi cam na década de 80, principalmente em alguns países europeus, nos Estados Unidos e no Ja-pão, discutindo os modelos de governança corporativa e os seus impac-tos sobre o desempenho das empresas. Mais recentemente a governança corporativa tem despertado interesse devido às mudanças ocorridas no cenário mundial, em função dos escândalos corporativos ocorridos prin-cipalmente no mercado norte-americano. Além disso, os processos de privatizações, fusões e aquisições, e o crescimento dos fundos de pensão também contribuíram para a preocupação com os estudos da governança das corporações. Todo esse processo tem impactado em mudanças nas legislações dos diversos países, que buscam estabelecer regras mais cla-ras e transparentes, como forma de garantir maior proteção aos investi-dores e criar um ambiente favorável para o alinhamento de interesses.

Além da atenção dos investidores, segundo Silveira (2004), os pro-blemas de governança corporativa têm atraído cada vez mais a atenção das autoridades públicas, haja vista que promovem desajustes sociais no curto prazo (demissões, lacunas no mercado etc.) e problemas potenciais no longo prazo, decorrentes da fuga dos investidores, aumento do custo de capital e redução dos investimentos.

A OECD, em 1998, estabeleceu princípios de governança corpora-tiva, que são reconhecidos internacionalmente, e visam garantir a integri-dade das corporações em seus processos de gestão, de relacionamento com as partes interessadas, e também com o propósito de manter a saúde das organizações e sua estabilidade. Baseado nos princípios de governan-ça, muitos países desenvolveram seu próprio código de suas melhores práticas .

As boas práticas visam criar um ambiente favorável ao alinhamen-to de interesses e abrandar os problemas de agência. A boa governança resultaria da adoção de mecanismos que conduziriam os gestores a prote-ger os interesses dos acionistas. Para o IBGC (2008), as boas práticas

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corporativas têm a fi nalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade.

Visando a melhoria contínua das práticas de governança corporati-va no Brasil, o IBGC lançou em maio de 1999 o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa. Este código apresenta a transparên-cia, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa como princípios básicos, e tem como pilares a propriedade, o Conselho de Ad-ministração, a gestão, a auditoria independente, o Conselho Fiscal, e, a con-duta e confl itos de interesses (IBGC, 2008). A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), no fi nal de 2000, criou os níveis diferenciados de governança corporativa, os quais a empresa pode aderir de forma vo-luntária. A implantação de três segmentos especiais para listagem de ações, denominados Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado, teve por objetivo de proporcionar um ambiente de negociação que estimule o interesse dos investidores e a valorização das companhias. O que distingue cada um deles é o grau de comprometimento com as regras específi cas de go-vernança.

Em junho de 2002, a CVM divulgou uma cartilha com recomen-dações de boas práticas de governança corporativa para as empresas de capital aberto que contém recomendações de regras de transparência no relacionamento da empresa com o mercado. As recomendações estão agrupadas em quatro áreas: transparência na estrutura acionária, equida-de entre acionistas, proteção aos minoritários e clareza nas equida- demonstra-ções fi nanceiras. O objetivo é que estas empresas incluam nas suas in-formações anuais o nível de adesão às recomendações da cartilha, na qual elas poderão indicar se estão adotando ou não as práticas recomendadas.

A governança corporativa tem contribuído para que haja uma dis-cussão do papel do Conselho de Administração, dos executivos e da administração das empresas, com a fi nalidade de estabelecer normas de conduta e defi nição de responsabilidades. Através dos mecanismos de mo-nitoramento e controle, a governança objetiva a proteção dos acionistas e credores, de forma que eles não possam ser expropriados pelos agentes da organização. Ela preza pela transparência da gestão empresarial, pela redução de risco dos investidores, ajuda no fortalecimento do mercado de capitais e serve com um padrão de referência para os investidores.

O presente estudo tem por objetivo investigar padrões de relações entre práticas de governança corporativa em empresas do Setor de Tec-nologia da Informação e Comunicação (TIC) localizadas no Porto Digi-tal da Cidade de Recife/PE. Nesse sentido, este estudo contribui para a

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literatura sobre governança corporativa, visto que ainda são poucas as pesquisas que tratam do nível de adoção de práticas de governança por empresas que não têm capital aberto. A pesquisa proposta será também uma contribuição para a discussão do tema no Brasil, haja vista a impor-tância que a governança vem assumindo no ambiente acadêmico e em-presarial.

1 Referencial teórico 1.1 O problema de agência

Berle e Means (1932) estudaram o mercado de capitais norte-ame-ricano e enfocaram os aspectos relacionais da propriedade e do controle, tendo como cenário a transformação das pequenas empresas privadas, de propriedade individual e não dissociada do controle, em grandes corpo-rações, do tipo sociedade anônima, de propriedade pulverizada, dispersa e total ou parcialmente dissociada do controle. As bases da teoria apre-sentadas por estes autores caracterizam a relação de agência entre um mandatário (principal) e um ou mais agentes, investidos de poderes para representar os interesses e tomar decisões em nome do principal.

Com a separação entre a propriedade e o controle das organizações, surgem os chamados problemas de agência. Jensen e Meckling (1976) defendem que esses problemas surgem devido às diferenças de motiva-ção e objetivos, assimetria de informamotiva-ção e preferências de risco que exis-tem entre os proprietários e os gestores. Para esses autores, os contratos não deveriam se restringir às atividades produtivas, mas serem aplicados à regulação de todos os relacionamentos essenciais para a empresa com os diversos públicos, como empregados, fornecedores, clientes, credores e outros.

Silveira, Barros e Famá (2003) enumeram algumas situações nas quais podem existir problemas de agência: crescimento excessivo; diver-sifi cação excessiva; resistência à liquidação ou fusão vantajosa para os acionistas; resistência à substituição; fi xação de gastos pessoais exces-sivos (salários, benefícios corporativos); roubo dos lucros; defi nição de preço de transferência ou venda de ativos abaixo do preço de mercado; designação de membros da família desqualifi cados para posições geren-ciais; obstrução do acesso ao mercado de capitais; e, empreendimento de projetos de acordo com o gosto pessoal do agente.

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Os principais tipos de confl itos destacados são aqueles que ocor-rem entre acionistas e administradores, e entre acionistas majoritários e minoritários. A literatura aponta que os confl itos existem na relação entre acionistas e administradores, porque esses não conseguem capturar todos os ganhos nas atividades que agregam valor para os acionistas, e acontecem nos sistemas com propriedade difusa, que tem o capital pulverizado entre os vários acionistas.

Já nos sistemas em que há concentração de propriedade, os confl itos de interesse ocorrem entre acionistas controladores e acionistas minori-tários. Neste caso, a concentração de propriedade leva a uma justaposi-ção da propriedade e da gestão. Silveira (2002) comenta que em econo-mias menos desenvolvidas e com grande concentração de capital em mãos de poucos, o confl ito de agência entre acionistas majoritários e mi-noritários se exacerba e contribui para reduzir as projeções de retornos fi nanceiros dos analistas do mercado de capitais e para aumentar o custo de capital das empresas, reduzindo assim seu valor econômico e de mer-cado.

O confl ito entre majoritários (acionistas controladores) e minoritá-rios (acionistas não controladores) ocorre com maior frequência nos paí-ses que têm estrutura de propriedade concentrada, que conta com a pre-sença de empresas familiares, onde o mercado de capitais é incipiente e com pequena expressão em relação às outras formas de captação de ca-pital, há conselhos de administração e assembleia de acionistas pouco independentes, e que possui área de relações com investidores pouco atuantes (BERTRUCCI; BERNARDES; BRANDÃO, 2005; FERREIRA; QUELHAS, 2006). É o caso, por exemplo, do mercado brasileiro em que o confl ito de agência ocorre entre os acionistas majoritários e os acionistas minoritários excluídos do controle, ao contrário dos países em que há uma grande dispersão da propriedade onde os acionistas detêm apenas uma pequena parcela da propriedade.

Um instrumento usado para mitigar o confl ito de agência no Brasil, segundo Brandão e Bernardes (2005), são os acordos de acionistas, utili-zados com maior frequência a partir das privatizações de diversas em-presas. Estas autoras argumentam que tal instrumento tem permitido a inserção de alguns acionistas minoritários nas instâncias de poder de for-ma acordada com os acionistas for-majoritários. Entretanto, elas ressaltam que para os acionistas minoritários dispersos pelo mercado de capitais, o grupo de controle constituído no âmbito de um acordo de acionistas opera, na prática, como um acionista controlador.

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A minimização dos prejuízos causados pelos problemas de agência, para Silveira, Barros e Famá (2003), depende da presença de um con-junto de mecanismos internos (Conselho de Administração, sistema de remuneração e estrutura de propriedade – posse de ações pelos gestores e conselheiros) e externos (mercado de aquisição hostil, mercado de tra-balho competitivo, relatórios contábeis periódicos fi scalizados externa-mente – auditoria e agentes do mercado fi nanceiro) para harmonizar a relação entre acionistas e gestores.

Os mecanismos de governança corporativa podem diminuir a pro-babilidade dos gestores tomarem decisões não maximizadoras da riqueza dos acionistas. Segundo Jensen (1993), tanto os mecanismos externos quan-to os internos são formas de controle que podem resolver problemas cau-sados por divergências entre as decisões tomadas internamente e aquelas que seriam melhores do ponto de vista da sociedade.

Okimura (2003) ressalta que, ao analisar cada um dos mecanismos individualmente deve ser observado se o mecanismo efetivamente age no intuito de minimizar o desalinhamento entre os interesses dos admi-nistradores e acionistas, e se ele impacta signifi cativamente no valor e/ ou desempenho da empresa.Dessa forma, os mecanismos de governança devem ser empregados no sentido de minimizar os potenciais confl itos de agência estabelecidos na relação entre principal e agentes. Nesse sen-tido, Shleifer e Vishny (1997) argumentam que se um mecanismo parti-cular diminui a probabilidade de que um administrador irá tomar uma atitude que diminua a riqueza do acionista, esse mecanismo pode ser con-siderado como alinhador dos interesses entre os agentes e o principal. 1.2 Mecanismos de governança

Um dos mecanismos internos de governança apresentado pela lite-ratura para amenizar os confl itos entre principal e agente é o fortaleci-mento do Conselho de Administração. Este representa os proprietários do capital e seu principal papel é o de controle. Portanto, tem a função de monitorar os agentes com a fi nalidade de reduzir os custos de agência e alinhar os interesses de ambos. O conselho pode ser composto por pes-soas internas e por pespes-soas externas à organização, que devem atuar de forma independente e transparente. Segundo o IBGC (2008), a missão do Conselho de Administração é proteger e valorizar o patrimônio,

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dis-cutir os temas estratégicos da empresa, bem como maximizar o retorno do investimento.

Martins (2007), analisando a confi guração, papéis e responsabili-dades do Conselho de Administração de 10 grandes empresas mineiras listadas na Bovespa, observou uma tendência do conselho em privilegiar o papel de controle, em detrimento do estratégico e do institucional, além de ter verifi cado uma nítida consciência de que o trabalho dos con-selhos cria valor para a empresa, mas que, na realidade, esta consciência não se traduz em prática e estratégias efetivas.

Outro mecanismo apontado é a política de remuneração dos gesto-res, que considera tanto o nível de remuneração, bem como o seu papel atrelado ao desempenho da empresa. Dessa maneira, a remuneração será composta por um salário fi xo, determinado pelo cargo e pelo mérito do gestor, e por uma remuneração variável, a depender da sua contribuição para o desempenho da organização.

De acordo com Okimura (2003), o nível de remuneração, como mecanismo de governança corporativa, parte da hipótese de que um administrador tende a arriscar menos a perda do emprego quanto maior for sua remuneração proveniente dela, sendo que arriscar menos o em-prego signifi caria agir de acordo com os interesses dos acionistas. Segun-do o autor, atrelanSegun-do a remuneração Segun-dos administraSegun-dores ao desempenho da empresa, estes teriam mais incentivos a maximizar a riqueza dos acion-istas se, agindo dessa maneira, fossem recompensados proporcionalmente. A estrutura de propriedade e controle é também um mecanismo interno de governança. A presença de grandes acionistas em países com baixa proteção legal representa uma tentativa de minimizar os confl i-tos de agência. La Porta et al. (1999) realizaram um estudo em 49 países e observaram que a concentração de propriedade acionária é negativa-mente relacionada à proteção dos direitos dos acionistas. Segundo eles, os países com melhor proteção legal tendem apresentar uma maior dispersão da propriedade das companhias. Em estudo posterior, La Por-ta et al. (2000) Por-também observaram que países com mecanismos menos efi cientes de proteção aos acionistas possuem um grande número de em-presas sob controle familiar ou estatal, e, no caso das emem-presas familia-res, com alto grau de separação entre gestão e propriedade.

Santos (2008) analisaram as relações entre a estrutura de proprie-dade e controle e as práticas de governança corporativa com o desem-penho de uma instituição de ensino superior. Como resultado, o autor ve-rifi cou que as estruturas de governança corporativa contribuem

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direta-mente para o bom desempenho fi nanceiro, e que os investimentos em boas práticas de governança contribuem com a credibilidade da instituição junto ao mercado, e consequentemente, infl uenciam no seu desempenho.

Um dos mecanismos externos de governança é o sistema político--legal e regulatório. Os investidores precisam ter seus direitos protegi-dos, principalmente o direito de voto. Entretanto, em países com fraca proteção legal aos acionistas, o direito de voto é violado e suplantado pelo dever de lealdade dos administradores. De acordo com Shleifer e Vishny (1997), esta é uma das formas de garantir que as decisões sejam tomadas em atenção aos interesses dos investidores, podendo incluir também os demais stakeholders da empresa, e serve de incentivo para que os acionistas decidam investir na companhia.

A proteção aos direitos dos investidores estimula o desenvolvi-mento dos mercados fi nanceiros e evita a expropriação de seus recursos. La Porta et al. (2000) lembram que para os acionistas e credores, a pro-teção a seus direitos não inclui apenas leis e regulamentações, mas tam-bém a efetiva aplicação destes direitos. Segundo eles, uma reforma no sistema de proteção ao investidor tem como objetivo aumentar o nível de proteção aos direitos dos investidores externos à empresa, tanto acio-nistas como credores, tendo como benefícios atrelados à reforma, uma expansão do mercado fi nanceiro, a facilidade do fi nanciamento externo de novas empresas, a diminuição da concentração de propriedade, a melho-ra da efi ciência na alocação de recursos e a facilitação da reestrutumelho-ração fi nanceira privada das empresas em períodos de crise.

Correia e Amaral (2008) analisaram se uma maior proteção dos investidores se refl ete em alguns indicadores fi nanceiros de companhias negociadas na Bovespa entre 1997 e 2006e verifi caram que os investido-res percebem e valorizam a proteção mais ampla fornecida pelas compa-nhias, mediante a introdução de cláusulas em seus estatutos conferindo maiores vantagens, e, também, por meio da negociação de suas ações em um ambiente de maior proteção legal.

O mercado de capitais é também um mecanismo externo de gover-nança. De acordo com Ariff, Ibrahim e Othman (2007), além das infor-mações sobre a saúde fi nanceira e o desempenho das companhias, os inves-tidores também precisam saber como essas companhias estão sendo administradas. Segundo eles, o índice de governança corporativa é visto como uma fonte de informação que fornece um critério adicional para a tomada de decisão.

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No caso brasileiro, os níveis diferenciados de governança corpora-tiva criados pela Bovespa possuem critérios de adesão que buscam dimi-nuir a assimetria informacional entre os investidores e as empresas partici-pantes destes grupos, através de maior transparência das informações divulgadas, e reduzir o custo de captação de recursos no mercado.

A pesquisa de Barros et al. (2008), que analisou as características da auditoria interna das empresas listadas no Novo Mercado e nos níveis 1 e 2 de governança corporativa da Bovespa, mostrou que as unidades de auditoria interna, cujo funcionamento é obrigatório, por força de um comando legal/normativo, apresentam maior alinhamento com as boas práticas de governança corporativa, sugerindo que a imposição para as empresas possuírem auditoria interna agrega valor para a empresa.

Outro mecanismo externo de governança é a competitividade. Se-gundo Jensen (1993), o mercado de atuação da empresa como força competitiva é um mecanismo que age lentamente como alinhador dos interesses dos acionistas e dos administradores. Entretanto, o autor apon-ta como uma força inevitável do ponto de visapon-ta dos administradores, pois as empresas que não competem efi cientemente, ou seja, produzindo ou fornecendo os produtos que os clientes desejam a um preço compe-titivo, não sobreviveria por muito tempo, o que levaria a empresa a ser alvo de aquisições ou fusões e à perda dos empregos por parte dos admi-nistradores, além da perda de status moral pelos mesmos.

Dessa forma, o mercado controla as ações do administrador, uma vez que o força a buscar maximizar o valor da fi rma, e, assim, agir de acordo com os interesses dos acionistas em vez de buscar atender aos seus próprios interesses.

O ativismo de acionistas é também considerado um mecanismo ex-terno de governança. Os investidores institucionais têm participado mais ativamente nos mercados de capitais e têm exigido garantias de que os gestores agirão sempre de acordo com os interesses de todos os acionis-tas. Conforme afi rma Carvalhal-da-Silva (2002), as participações acioná-rias maiores e a consequente perda de liquidez obrigam os investidores a acompanhar mais de perto o desempenho das empresas. Okimura (2003) complementa que os investidores institucionais são tradicionalmente res-ponsáveis por um maior monitoramento da administração e da difusão das práticas de governança nos mercados desenvolvidos.

Mota e Ckagnazaroff (2008) investigaram diferentes mecanismos de governança corporativa no seu processo de gestão de uma ONG e as interfaces desses mecanismos com a proposta das melhores práticas

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feita pelo IBGC. Os autores identifi caram que, em linhas gerais, as prá-ticas de governança da ONG estão alinhadas com o que o mercado adota como melhores práticas, demonstrando que ela tem capacidade de ate-nuar os problemas de agência, oferecendo maior garantia aos seus fi nan-ciadores de que os recursos destinados à organização realmente são des-tinados aos objetivos-fi m dela

Portanto, diversos são os fatores que podem interferir na estrutura de governança da empresa. Por esta razão, os investidores têm se torna-do mais seletivos, exigintorna-do melhores resultatorna-dos e buscantorna-do empresas que adotam melhores padrões de governança, de forma a garantir que seus recursos não serão expropriados.

3 Procedimentos metodológicos 3.1 Definição da amostra

O primeiro procedimento metodológico consistiu na delimitação do escopo desta pesquisa. Marconi e Lakatos (1999) consideram que delimitar uma pesquisa consiste em estabelecer limites para ela, bem co-mo ressaltam que se faz necessário defi nir se será possível investigar o universo ou se será necessária a obtenção de uma amostra.

O universo de uma pesquisa (ou sua população) é defi nido por Silva (2006) como sendo o conjunto de elementos que possui pelo me-nos uma característica comum. A utilização de listas especializadas co-mo fonte de consultas é apontada por Silver (2000) coco-mo um procedi-mento pertinente e útil.

Para a obtenção dos dados relativos ao universo investigado, a fonte referencial utilizada foi o cadastro de empresas localizadas no Porto Di-gital da Cidade de Recife/PE (2008). Das 66 empresas listadas, 22 foram excluídas: 08 empresas por se encontrarem desativadas e 14 por serem administradas pelos mesmos gestores. Dessa forma, o universo efetiva-mente considerado para a realização desta pesquisa foi composto por 44 empresas.

Com o objetivo de atingir a maior representatividade possível da população e, deste modo, atender aos requisitos científi cos necessários pa-ra que os dados coletados fossem válidos, todas as 44 empresas fopa-ram visitadas. Das 44 empresas, 30 aceitaram participar da pesquisa e forne-cer as informações solicitadas.

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3.2 Variáveis investigadas

O segundo aspecto relativo aos procedimentos metodológicos consistiu na defi nição das variáveis a serem consideradas. Para Porton e Beuren (2006), variável é tudo aquilo que pode assumir diferentes valo-res ou atributos necessários para a compreensão de um fato ou fenômeno. Diante do objetivo proposto para esta pesquisa foram consideradas as seguintes práticas de Governança Corporativa:

a) Relatórios fi nanceiros de acordo com a legislação; b) Contratação de auditores independentes;

c) Natureza da sociedade corporativa;

d) Distinção entre o proprietário e o principal executivo; e) Plano de sucessão do principal executivo;

f) Avaliação das atividades do executivo principal; g) Presença de um Conselho de Administração; h) Presença de um Conselho Fiscal;

i) Decisões compartilhadas entre os sócios; j) Acesso igualitário às informações;

k) Mecanismos de proteção aos sócios minoritários; l) Prestação de contas aos sócios;

m) Existência de um código de conduta; n) Calendário de eventos.

3.3 Procedimentos da coleta de dados

Considerando a natureza das variáveis investigadas, os procedi-mentos adotados para a coleta de dados desta pesquisa foram referentes a entrevistas estruturadas. Todas as entrevistas foram realizadas in loco em todas as empresas incluídas na amostra. Gil (1996) considera que uma entrevista estruturada se desenvolve a partir de uma relação fi xa de perguntas. O objetivo da utilização de uma entrevista estruturada é ca-racterizado por Marconi e Lakatos (1999) como sendo relacionado à obtenção de respostas padronizadas de modo que seja possível efetuar comparações entre elas.

Estas entrevistas foram operacionalizadas de maneira direta. Em uma entrevista direta, os entrevistados estão presentes no momento de responder as perguntas contidas em um questionário composto de per-guntas fechadas. Richardson (1999) aponta que este procedimento

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pos-sui algumas vantagens, destacando que as respostas e perguntas fecha-das são fáceis de codifi car, que o entrevistado não precisa escrever e que as perguntas fechadas facilitam o preenchimento total do questionário. Desse modo, pode-se entender que essa técnica consiste na aplicação de um elenco de perguntas a um indivíduo entrevistado. Este elenco de perguntas foi aplicado da mesma forma a todos os informantes investi-gados pela pesquisa.

3.4 Método de análise

Para a identifi cação da estrutura natural de relações entre as diver-sas práticas de Governança Corporativa, esta pesquisa considerou uma abordagem multivariada. Para Hair et al. (2005), a análise de relações de interdependência pode ser executada através das seguintes técnicas: análise de agrupamentos, análise de correspondência, análise fatorial, escalonamento multidimensional. Para esta pesquisa foram consideradas três técnicas, a saber: análise de agrupamentos; escalonamento multidi-mensional; e análise fatorial.

Pohlmann (2007) considera que a análise de agrupamentos (ou conglomerados) se caracteriza por ser descritiva, ateorética e não infe-rencial, não tendo base estatística para formular inferências sobre uma população com base em uma amostra e sendo usada como técnica ex-ploratória.

O escalonamento multidimensional é defi nido por Herdeiro (2007) como sendo uma técnica estatística que analisa posicionamentos, com-parações de padrão, graus de proximidade e classifi cações por afi nidade entre diversos elementos. Bezerra (2007) defi ne análise fatorial como sendo uma técnica estatística que busca identifi car dimensões de variabi-lidade comuns existentes entre um conjunto de fenômenos. Sobre os proce-dimentos referentes à escolha da técnica de rotação de fatores adequada, Hair et al. (2005) afi rmam que não há nenhuma regra específi ca para a defi nição da técnica a ser utilizada, mas informam que a técnica mais utilizada é a VARIMAX, por estar disponível na maioria dos aplicativos estatísticos computacionais.

Esta pesquisa considerou a utilização de mais de uma técnica mul-tivariada em função da intenção de caracterizar a estrutura de relações e padrões de uso referentes aos indicadores de mensuração de desempe-nho no âmbito das empresas investigadas, bem como pode comparar os resultados obtidos.

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4 Análise dos resultados

Dentro dos procedimentos metodológicos propostos para investigar os principais aspectos inerentes aos padrões de relacionamento entre práticas de Governança Corporativa entre as empresas do Porto Digital, a execução da análise de agrupamento foi primeiramente utilizada para caracterizar a hierarquia de interações dinâmicas existentes entre eles. Para a operacionalização deste procedimento estatístico, a regra de amal-gamação adotada foi referenciada por elos simples e as distâncias foram calculadas a partir do procedimento City-Block (Manhattan). O Gráfi co 1 representa os agrupamentos obtidos a partir das variáveis inseridas nesta pesquisa. A árvore de agrupamentos destaca a presença de três grupos distintos signifi cativos.

Gráfi co 1 – Relação entre as variáveis através da análise de agrupamentos Árvore de Agrupamentos

Elos simples Método City-block (Manhattan)

Número de variáveis: 14 Número de casos: 30

Regra de amalgamação: Elos simples Mensuração das distâncias: Distâncias City-block (Manhattan) Fonte: Cálculos próprios.

Relatórios fi nanceiros Natureza da sociedade Decisões compartilhadas Plano de sucessão Distinção entre proprietário e excutivo Código de conduta Avaliação do principal executivo Conselho fi scal Conselho de administração Auditores independentes Acesso às informações Proteção a sócios minoritários Prestação de contas Calendário de eventos

0 2 4 6 8 10 12 14

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O primeiro agrupamento identifi cado é composto pelas práticas de governança referentes à distinção entre proprietários e executivos prin-cipais, pela adoção de um código de condutas e pela avaliação do executi-vo principal. Este agrupamento indica um perfi l institucionalizado para a Governança Corporativa, sugerindo que a formalização de códigos de conduta esteja proximamente associada à distinção entre proprietários e principais executivos, bem como à adoção de instrumentos de avaliação desses executivos.

O segundo agrupamento identifi cado é composto pelo acesso igualitá-rio às informações e os mecanismos de proteção aos sócios minoritáigualitá-rios. Práticas inerentes à prestação de contas também podem ser consideradas como integrantes deste agrupamento, embora de maneira indireta. Este agrupamento contém um perfi l típico de equidade, tanto em relação às informações quanto em relação aos diversos sócios.

O terceiro agrupamento é formado pela natureza da sociedade, pelo compartilhamento de decisões e pela existência de planos de sucessão do principal executivo. Esse agrupamento indica uma relação estreita entre o tipo de sociedade (sociedade entre membros de uma mesma família, por exemplo), a socialização de decisões e a impessoalidade de planos de su-cessão, dando a esse agrupamento uma conotação mais organizacional.

A segunda etapa dos procedimentos de análise dos resultados con-sistiu na verifi cação da distribuição espacial das variáveis através do es-calonamento multidimensional. A representação espacial da disposição das variáveis foi importante para identifi car sua disposição espacial e ve-rifi car se há similaridade com a composição do agrupamento obtido. Os resultados estão dispostos no Gráfi co 2.

Pode-se observar que, excetuando o posicionamento da natureza da sociedade, todos os resultados confi rmam a distribuição de padrões de re-lacionamento entre as diversas práticas de Governança Corporativa que se enquadraram em algum agrupamento signifi cativo.

Mais uma vez, as variáveis referentes à distinção entre proprietários e executivos principais, pela adoção de um código de condutas e pela ava-liação do executivo principal apresentaram fortes relações entre si, bem como entre o compartilhamento de decisões e a existência de planos de sucessão do principal executivo e entre o acesso igualitário às informa-ções e os mecanismos de proteção aos sócios minoritários.

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Gráfi co 2 – Agrupamento das variáveis através do escalonamento bidimensional

Número de variáveis: 9 Número de dimensões: 2 Última interação computada: 229 Melhor iteração: 100 Alienação: 0,0067 Estresse: 0,0038

Fonte: Cálculos próprios.

Os resultados apresentados pelo escalonamento bidimensional não obtiveram valores estatisticamente signifi cativos. Os níveis de alienação e estresse fi caram, respectivamente, próximos a 0,006 e 0,003. Com a fi -nalidade de melhorar o nível de signifi cância e dar maior precisão à repre-sentação gráfi ca do escalonamento multidimensional, os cálculos foram executados novamente para gerar um gráfi co tridimensional.

O escalonamento tridimensional apresenta com maior nitidez as proximidades e distâncias entre as diversas práticas de Governança Cor-porativa consideradas nesta pesquisa que obtiveram relações signifi cati-vas a partir da árvore de agrupamentos. Percebe-se a proximidade entre as variáveis inseridas dentro dos três grupos identifi cados. O distancia-mento apresentado pelas demais variáveis se mostrou dentro da expecta-tiva gerada a partir do escalonamento bidimensional. Esses resultados estão dispostos no Gráfi co 3.

Finalmente, foi operacionalizada a da análise fatorial. A confi gura-ção do cálculo considerou a busca por três fatores, bem como um mínimo

eigenvalue equivalente a 1. Os resultados estão apresentados na Tabela 1. Escalonamento Bi-Dimensional Dimensão 1 D imensão 2 -0,2 -0,3 -0,1 0,0 0,2 0,3 0,1 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8

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Gráfi co 3 – Agrupamento das variáveis através do escalonamento tridimensional Escalonamento Tridimensional

Número de variáveis: 9 Número de dimensões: 3 Última interação computada: 300 Melhor iteração: 99 Alienação: 0,0040 Estresse: 0,0024

Fonte: Cálculos próprios.

Tabela 1 – Resultados da análise fatorial (não-rotacionada)

Variáveis Fator 1 Fator 2

Natureza da sociedade 0,829759 -0,457215

Distinção entre proprietários e executivo 0,951129 -0,015904

Plano de sucessão 0,732456 -0,539480

Avaliação do principal executivo 0,962728 0,001716

Decisões compartilhadas 0,902924 -0,323450

Acesso à informações -0,298008 -0,929126

Proteção a sócios minoritários -0,399118 -0,880796

Prestação de contas -0,519822 -0,798841

Código de conduta 0,974028 0,037335

Capacidade explicativa 0,593201 0,320398

Número de variáveis: Método: Componentes principais Log (10) Determinante da matriz de correlação: -8,7723 Número de fatores extraídos: 2 Eigenvalues: Fator 1: 5,33880 Fator 2: 2,88358

(18)

Nesta pesquisa foram identifi cados dois fatores distintos. O primeiro fator é composto pelas práticas de Governança pertencentes ao primeiro e ao terceiro agrupamento, enquanto o segundo fator é composto pelas práticas pertencentes ao segundo agrupamento. O primeiro fator apre-senta uma elevada capacidade explicativa (0,59). Os resultados obtidos através da análise fatorial sugerem que, ao invés de considerar a presença de três agrupamentos signifi cativos, devem ser corroborados apenas dois. Através destes resultados, fi ca evidente que estes fatores são complementares entre si. Estes resultados apresentam evidências empíricas signifi -cativas para a compreensão da relação dinâmica entre práticas de Gover-nança Corporativa entre empresas do Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) localizadas no Porto Digital.

Considerações finais

O presente estudo tem por objetivo investigar padrões de relações entre as práticas de governança corporativa em empresas do Setor de Tec-nologia da Informação e Comunicação (TIC) localizadas no Porto Digital da Cidade de Recife/PE. Para atingir o objetivo proposto, foi utilizada uma abordagem metodológica multivariada composta pela análise de agrupa-mento, pelo escalonamento multidimensional e pela análise fatorial.

Estas técnicas foram consideradas dentro de uma perspectiva com-parativa na qual os resultados iguais obtidos teriam maior robustez ao ilustrar as relações entre as diversas práticas de governança analisadas. Os resultados obtidos demonstraram que apenas nove delas puderam ser considerados como pertencentes a algum agrupamento de maneira signi-fi cativa.

Através da árvore de agrupamentos foi observada a presença de três agrupamentos signifi cativos de indicadores de mensuração de desempe-nho, cada um deles contendo distinto perfi l. O que obteve o mais acentua-do grau de relacionamento foi composto pela distinção entre proprietários e executivo, pelo código de conduta e pela avaliação do principal executi-vo, caracterizando a face institucional atribuída à governança corporativa. O agrupamento que obteve o segundo maior grau de relacionamento re-presenta a equidade dentro da ótica da governança corporativa, enquanto o terceiro apresenta um perfi l organizacional. Resultados semelhantes foram obtidos pelo escalonamento multidimensional.

(19)

No entanto, a análise fatorial revelou que os agrupamentos institu-cional e organizainstitu-cional não podem ser considerados como distintos en-tre si. Deste modo, as práticas de governança corporativa que obtiveram relações estatisticamente signifi cativas referem-se a duas dimensões dis-tintas: a dimensão institucional e a dimensão de equidade. Estes resulta-dos revelam indícios particulares referentes à caracterização da dinâmica das relações entre as práticas consideradas. Ao longo da apresentação dos resultados, fi cou clara a presença de dimensões distintas associadas às relações encontradas.

Embora os resultados obtidos nesta pesquisa não possam ser gene-ralizados para todas as empresas que atuam no Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) localizadas no Porto Digital da Ci-dade de Recife/PE, os resultados obtidos apontam evidências relevantes sobre os padrões de relacionamento entre algumas das práticas de gover-nança investigadas.

Estudos mais aprofundados poderão gerar informações mais deta-lhadas sobre a natureza das relações dinâmicas encontradas nesta pesqui-sa e contribuir para o aprimoramento da base de conhecimento existente sobre este setor de atividade econômica.

Recebido em junho de 2013. Aprovado em agosto de 2013.

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