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O Combate ao racismo no século XXI: a utilização das políticas de ação afirmativa no contexto brasileiro

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Academic year: 2021

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1 O Combate ao racismo no século XXI: a utilização das políticas de ação afirmativa

no contexto brasileiro

Alexsandro E. P. de Souza1 e-mail: alex.eleoterio@gmail.com

Resumo:

Subestimadas por grande parte das elites governantes e intelectuais e também pelas classes populares, os fatores étnico-raciais e de gênero, no que tange às desigualdades socioeconômicas, foram, ao longo do século XX, tenazmente rechaçados e marginalizados. Não obstante, a história nos mostra que a partir da segunda metade do século XX as Políticas Públicas, os Direitos Humanos e uma visão crítica sobre a diversidade humana foram gradativamente se coadunando - em consonância às reinvidicações e à pressão exercida por distintos movimentos sociais. Como resultado dessa pressão as chamadas cotas raciais passam a ser incorporadas às políticas públicas, notadamente no Brasil, no campo das políticas de Educação. Autores como Nancy Fraser têm desenvolvido um campo teórico que articula dimensões fundamentais como a esfera do reconhecimento e a esfera da redistribuição na discussão sobre justiça social e que permite pensarmos os desafios das ações afirmativas. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é discutir as cotas raciais nas universidades a partir da produção de Nancy Fraser sobre reconhecimento e redistribuição.

1 Doutorando no programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – câmpus Marília.

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2 Introdução

Segundo a perspectiva da filósofa Nancy Fraser (2001), em nossa época, “disputas por reconhecimento acontecem em um mundo de desigualdade material exacerbada” (p.245). Assim, para autora, diante desta realidade inequívoca faz-se necessário, ao seu enfrentamento, a utilização de dois “remédios”, um para injustiça econômica e outro para injustiça cultural, a serem, dependendo do arranjo social, manipulados conjuntamente. Ao propor tais remédios, Fraser objetiva “conectar duas problemáticas políticas que são costumeiramente dissociadas, pois só por meio da reintegração do reconhecimento e da redistribuição pode-se chegar a um quadro adequado às demandas de nosso tempo” (Fraser, 2001, p. 246).

Tendo como premissa essa realidade concebida por Fraser (2001), buscamos compreender como as questões de não reconhecimento e má distribuição se coadunaram a passaram a caracterizar o cotidiano de duas coletividades ambivalentes, paradigmáticas para a autora, que ao longo da história brasileira se viram subjulgadas e, por conseguinte, marginalizadas em sua cidadania, a saber: “raça” e gênero.

Relegados a própria sorte, oprimidos e subordinados por ideologias hegemônicas que se engendraram com base na economia política e na cultura, os negros e as mulheres vêm ao longo da história, especificamente no contexto brasileiro, reivindicando seus respectivos espaços a fim da paridade de participação partidária, econômica e cultural (Hasenbalg, 1979; Saffioti, 2004). Assim, diante dos avanços alcançados no que tange ao enfretamento às discriminações de gênero e de raça/etnia, a partir da constituição de 1988, propomos um entendimento da forma com que tal discriminação se engendrou, bem como os impactos que os remédios afirmativos têm tido na sociabilidade das coletividades já citadas.

Outro elemento de caráter teórico importante nesta perspectiva é o que Fraser (2002) denomina uma concepção de gênero bidimensional. Discutindo as questões de igualdade e justiça social, Fraser propõe um olhar de gênero bifocal, “através do visor de uma das lentes gênero tem afinidades com classe, e, através do visor da outra lente, é mais ligado a status”. Nesta concepção gênero e raça aparecem como um eixo de categoria, que alcança duas dimensões do ordenamento social: “a dimensão da distribuição e a dimensão do reconhecimento”.

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gênero aparece como uma diferenciação semelhante à classe, enraizada na própria estrutura econômica da sociedade. Trata-se de um princípio básico para a organização da divisão do trabalho, dá sustentação à divisão fundamental entre trabalho “produtivo” pago e trabalho doméstico “reprodutivo” não pago, sendo este último designado como responsabilidade primária das mulheres. Como consequência, vemos uma estrutura econômica que gera formas especificas de injustiça distributiva baseada no gênero (2002, p. 64).

Na perspectiva do reconhecimento, para Fraser, gênero e podemos acrescentar raça/etnia aparecem como uma diferenciação de status, enraizada na ordem de status da sociedade. A partir de padrões de valores androcêntricos e racistas as mulheres e os negros sofrem formas específicas de subordinação e, como ressaltado por Fraser, a negação de seus plenos direitos e proteção igualitária como cidadãs e cidadãos.

Diante desta constatação de desigualdades na distribuição dos recursos sociais e desequilíbrio de status Fraser (2001) acredita haver duas possibilidades, ou tipos de rémedios, para o enfrentamento das citadas problemáticas. O primeiro busca a redistribuição de tais recursos, assim,

O remédio para insjustiça econômica é reestruturação político-econômica de algum tipo. Isso poderia envolver redistribuição de renda, reorganização da divisão do trabalho, sujeitar investimentos à tomada de decisão democrática ou transformar outras estruturas econômicas básicas (Fraser, 2001, p. 252).

Já o segundo objetiva o reconhecimento de status, com efeito

O remédio para injustiça cultural, em constraste, é algum tipo de mudança cultural ou simbólica. Isso poderia envolver reavaliação positiva de identidades desrespeitadas e dos produtos culturais de grupos marginalizados. Poderia também envolver reconhecimento e valorização positiva da diversidade cultural. Ainda mais radicalmente, poderia envolver a transformação geral dos padrões societais de representação, interpretação e comunicação, a fim de alterar todas as percepções de individualidade (Fraser, 2001, p. 252).

Grosso modo, esses seriam os remédios teorizados por Fraser, a fim do enfretamento político das problemáticas apresentadas. Todavia, de modo mais

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4 específico, a autora redimenciona a “posologia” de tais remédios e os conceitualizam em duas categorias, a saber: rémedios afirmativos e remédios transformativos. Desde modo, aos remédios do primeiro grupo o afronte das mazelas, socioeconômicas e culturais, por meio de medidas paliativas é o que o carateriza. Destarte, tais medidas tendem a uma resolução mais imediata do problema, o que gera uma aparente harmonia nas relações sociais, entretanto, por não revisita-la em seu cerne, permite com que tal problemática, ressurja sob um novo cariz; já aos remédios do segundo grupo, o que o caracteriza é a possibilidade que estes têm em viabilizar uma nova estrutura social, promovendo assim reciprocidade e solidariedade nas relações sociais, contudo, esse não permite a vizualização de seus resultados a curto prazo, necessitando de um longo período a fim do desenvolvimento e amadurecimento societário, o que por sua vez, faz com que no plano individual, o agente o vejo como uma aposta, logo passível do não vislumbramento de sua concretização, daí um dilema na utilização de tais ramédios.

Nessa dimensão propor políticas públicas de enfrentamento das desigualdades de gênero e raça/etnia exige garantir um sentido emancipatório às mudanças que pretendemos; que as desigualdades sejam combatidas no contexto do conjunto das desigualdades sociais, pressupondo práticas de cidadania ativa; garantir que o Estado desenvolva políticas sociais que contemplem as dimensões distributivas e de reconhecimento/status que incidam efetivamente sobre o conjunto de desigualdades de classe, gênero e raça/etnia.

A utilização de remédios afirmativos pelos anti-racistas no Brasil: a política de cotas raciais

Reivindicadas pela primeira vez na década de 1940 quando do Manifesto à Nação Brasileira, resultado da Convenção Nacional do Negro Brasileiro, organizada pelo Teatro Experimental do Negro criado e coordenado pelo militante Abdias do Nascimento, a proposta de políticas específicas para o combate da discriminação negra se ancorava em contundentes argumentos, dentre eles o que se refere ao âmbito educacional:

Enquanto não for tornado gratuito o ensino em todos os graus, sejam admitidos brasileiros negros, como pensionistas do Estado, em todos os estabelecimentos particulares e oficiais de ensino secundário e superior do país, inclusive nos estabelecimentos militares.

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5 Diante do malogro de tais propostas, o mesmo Abdias do Nascimento, agora deputado federal pelo Rio de Janeiro, apresenta 40 anos depois, em 1983, o Projeto de Lei nº1.332 de 1983 que:

Dispõe sobre ação compensatória visando à implementação do princípio da isonomia social do negro, em relação aos demais segmentos étnicos da população brasileira, conforme direito assegurado pelo art. 153, 1º da Constituição da República.

O projeto abrange as áreas do emprego, público e privado, e da educação, estabelecendo cotas de 20% para homens negros e de 20% para mulheres negras em todos os “órgãos da administração pública, direta e indireta, de níveis federal, estadual e municipal”, incluindo as Forças Armadas, “em todos os escalões de trabalho e de direção” (art. 2º), assim como nas “empresas, firmas e estabelecimentos, de comércio, indústria, serviços, mercado financeiro e do setor agropecuário” (art. 3º). Reserva também a estudantes negros 40% das bolsas de estudos concedidas pelo Ministério e Secretarias de Educação, estaduais e municipais, assim como 40% das vagas do Instituto Rio Branco, estas últimas igualmente divididas entre homens e mulheres (art. 7º). Não se restringe, contudo, a medidas numéricas, pois obriga o Ministério e as Secretarias de Educação a estudar e implementar “modificações nos currículos escolares e acadêmicos, em todos os níveis (primário, secundário, superior e de pós-graduação)”, com vistas a incorporar ao conteúdo dos cursos de História do Brasil e de História Geral “o ensino das contribuições positivas dos africanos e seus descendentes” e também das civilizações africanas, “particularmente seus avanços tecnológicos e culturais antes da invasão européia [...]” (art. 8º) (Nascimento, 1983).

O projeto não chegou sequer a ser apreciado, mas é interessante observar, como nos lembra Carlos Alberto Medeiros (2007) que:

algumas das medidas nele contidas acabaram sendo implementadas, embora muito mais tarde, como é o caso das bolsas de estudos para negros no Instituto Rio Branco, criadas no Governo Fernando Henrique, e das modificações curriculares recentemente instituídas pelo Governo Lula, por meio da Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que, alterando o art. 1º da Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº. 9.394 , de 20 de dezembro de 1996), torna obrigatório, nos

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estabelecimentos de ensino fundamental e médio, o ensino de história e cultura afro-brasileiras (Medeiros, 2007, p. 125).

Discriminação positiva, políticas compensatórias e políticas de inclusão, são as expressões utilizadas para as políticas especiais, mormente reunidas sob a chancela de ações afirmativas no Brasil. “Formalmente, é possível ver na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, o primeiro passo do longo percurso que leva à idéia, atualmente consensual em certos meios da necessidade das ações afirmativas” (Osório, 2006; 21). É diante da falta de efetividade no cumprimento dos artigos – sobretudo nos dois primeiros – da Carta dos direitos humanos – civis, políticos, econômicos, sociais e culturais – que se legitima o uso das políticas de ação afirmativa, que visa a inclusão de grupos sociais minoritários. Desta feita, Joaquim Gomes, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, explica que:

As ações afirmativas se definem como políticas públicas (e privadas) voltadas à concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. Na sua compreensão, a igualdade deixa de ser simplesmente um princípio jurídico a ser respeitado por todos, e passa a ser um objetivo constitucional a ser alcançado pelo Estado e pela sociedade (Gomes, 2007; p.51).

Dada a abrangência das dimensões materiais e imateriais que busca alcançar, as políticas específicas denominadas no país como ações afirmativas têm sido utilizadas nos mais diversos paises em todo o mundo, recebendo, de acordo com a gramática e/ou particularidades do contexto social no qual se insere, diferentes denominações, sendo a tradução das utilizadas nos Estados Unidos e na Europa as que mais se disseminaram - respectivamente, affirmative action (ação afirmativa) e discrimination positive (discriminação posítiva) ou action positive (ação positiva).

Empregadas no Brasil desde a década de 1940, a fim da inclusão social de grupos que por fatores sócio-históricos se viram à margem do processo produtivo e dos benefícios do progresso, as ações afirmativas já foram utilizados em prol dos trabalhadores nacionais (lei dos 2/3 de 1943); dos filhos de proprietários e trabalhadores rurais (lei do boi de 1968); dos deficientes físicos, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991;

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7 do pluralismo político no tocante a questão de gênero, Lei nº 9.504, de setembro de 1997; e por fim, em prol dos negros, Lei 7.824, de 11 de outubro de 2012 e 6738/2013. Vemos deste modo que as políticas de ação afirmativa,

por sua vez, abrangem programas sociais que remedeiam problemas gerados em larga medida por ineficientes políticas preventivas anteriores ou devido à permanência de mecanismos sociais de exclusão. Uma outra característica das políticas compensatórias é que elas têm uma duração definida, isto é, elas podem deixar de ter vigência desde que inexistam os mecanismos de exclusão social que lhes deram origem (Silvério, 2007, p. 21).

Verifica-se, portanto, os motivos pelos quais se engendraram as políticas de ação afirmativa, ou na concepção de Fraser (2001), remédios afirmativos, no contexto brasileiro. Todavia, a autora nos lembra de que tais remédios são “voltados para a correção de resultados indesejáveis de arranjos sociais sem perturbar o arcabouço que os gera” (Fraser, 2001, p. 266). Daí a necessidade do entendimento de que as ações afirmativas utilizadas, sobretudo, no campo educacional “podem deixar de ter vigência desde que inexistam os mecanismos de exclusão social que lhes deram origem”, como nos explica Silvério (2007).

Outorgada como lei federal em 2012, as cotas raciais, em particular, no âmbito educacional vêm sendo utilizadas desde o ano de 2002 pelas mais diversas Instituições de Ensino Superior público do país. Ao longo desse período, o que se vê é o aumento considerável de estudantes negros aos bancos universitários, espaço histórcamente reservado às elites (Paixão, 2011). Contrário ao argumentado orquestrado por intelectuais como Peter Fry (2007, Yvonne Maggie (2007) e Demétrio Magnoli (2007), explito no livro Divisões perigosas: políticas raciais no Brasil contemporâneo, de

que a política de cotas suscitaria um conflito racial no país, após 13 anos de sua implementação o que se tem, é uma melhor sociabilidade entre brancos e negros no âmbito nacional e, que se vê, mesmo a passos lentos, em franca e positiva transformação. Tal realidade se torna explicita por meio da leitura das analises realizadas por autores e grupos de pesquisa que têm se dedicado ao acompanhamento do desenvolvimento da políticas de cotas no âmbito universitário, tais como os trabalhos elaborados por Jocélio Teles dos Santos (2013) e pelo Grupo de Estudos Multidiciplinares da Ação Afirmativa (gemaa) do

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Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, bem como pela experiência empírica, que se pode vivenciar no cotidiana das universidades que utilizam o mecanismo de cotas em seus respectivos processos seleção de estudantes.

A vivência empírica e de modo mais específico às análises teóricas nos levam ao entendimento de que ao longo da história, a luta por cidadania tem sido uma constante para os negros brasileiros. Todavia, esta tem se mostrado árdua e perversa. Tal resistência social causa, de forma singular em cada individuo negro, emoções e sensações diversas (Souza, 1983; Bento & Carone, 2012). Com efeito, a cognição (forma de perceber/conhecer o mundo); identidade (forma de se reconhecer no mundo) e sociabilidade (forma de interagir com os pares no mundo), formas subjetivas e objetivas de ver, compreender, se inserir e intervir no social, tomam caminhos distintos na constituição das idiossincrasias de cada indivíduo, que agem de acordo com a articulação entre realidade social e mundo simbólico.

Por si só, o espaço acadêmico se mostra um fértil território para novas percepções individuais e sociais. Meio historicamente elitizado, o aumento de estudantes negros neste ambiente, sobretudo nos últimos dez anos, tem gerado uma expressiva mudança no habitus social, especificamente na sociabilidade dos estudantes do ensino superior e também no cariz das profissões que exigem maior especialização teórica. Para além destas mudanças que dizem respeito às categorias de sociabilidade e de classes, o vertiginoso aumento na produção de trabalhos teóricos sobre a situação da população negra e também o maior engajamento de universitários negros em movimentos sociais que demandam o reconhecimento das diferenças, retoma a histórica discussão de identidade racial e especificidades de gênero, medida salutar para uma guinada no perverso status quo brasileiro (Munanga, 2008; Crenshaw, 2002).

Coletividades ambivalentes no século XXI: se preparando para a utilização de remédios transformativos

O impedimento político-econômico e sociocultural que restringiu uma contundente ação política, sobretudo, por parte das coletividades de raça e de gênero ao longo da história brasileira permitiu que o racismo, o machismo e as desigualdades de renda viessem na vida cotidiana a se coadnunar. Destarte, o que se tem hoje é uma “questão social” que atinge a toda classe trabalhadora, de forma inexorável, e questões étnico-raciais, de gênero e de outras coletividades que causam sérias restrições para

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9 além das impostas pelos fatores econômicos a um grupo expressível da população, o que por sua vez tende a fragilizar, sobremaneira, uma realidade social por vezes já fragilizada.

Não obstante, a história nos mostra que a partir da segunda metade do século XX as Políticas Públicas, os Direitos Humanos e uma visão crítica sobre a diversidade humana foram gradativamente se coadunando - em consonância às reinvidicações e à pressão exercida por distintos movimentos sociais - e o resultado dessa junção tem sido, em maior ou menor grau, um desenvolvimento social que, mesmo não possibilitando ainda uma igualdade social de fato entre os indivíduos, diferencia-se da desigualdade de outrora, quando, sobretudo, as mulheres e aos negros não eram reconhecidos em seus direitos a cidadania (Saffioti, 1992; Fernandes, 2008). Assim, ao buscar uma maior inserção dessas coletividades historicamente marginalizadas, sobretudo, pelo maior acesso ao campo educacional – políticas de cotas – pretende-se dispobilizar um melhor entendimento sobre a realidade socio-histórica destas coletividades e também empoderamento de seus agentes, propiciando assim, num futuro quem sabe próximo, a utilização de remédios transformartivos que na concepção de Fraser (2001) são, em contraste aos afirmativos, “orientados para a correção de resultados indesejáveis precisamente pela reestruturação do arcabouço generico que os produz” (p. 266).

Considerações Finais

Ao lado das políticas sociais, as de ação afirmativa são medidas paliativas cuja necessidade se faz salutar na medida em que o enfrentamento da distribuição de renda e das discriminações étnico-raciais e de gênero têm sido historicamente tergiversado e marginalizado pela elite dirigente. Daí a necessidade atentar-se para as problemáticas tidas como culturais, dentre elas as de “raça” e gênero.

Ao longo da história das políticas de ações afirmativas no país, o que se vê é a possibilidade que essas têm em disponibilizar um novo modelo de sociabilidade ao “juntar” diferentes grupos sociais em espaços sociais mormente ocupados por aqueles privilegiados pelas maiores possibilidades materiais e/ou simbólicas acumuladas de forma complexa ao longo da história socioeconômica do país. Sabemos que este pode ser tido como apenas um começo, mas já é um começo.

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10 Referencia bibliográfica

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