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Parâmetros norteadores da detecção e seleção de talentos no voleibol feminino do Estado de São Paulo

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CAROLINE TOSINI FELICISSIMO

PARÂMETROS NORTEADORES DA

DETECÇÃO E SELEÇÃO DE TALENTOS NO

VOLEIBOL FEMININO DO ESTADO DE SÃO

PAULO

Campinas

2015

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PARÂMETROS NORTEADORES DA DETECÇÃO E

SELEÇÃO DE TALENTOS NO VOLEIBOL

FEMININO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para o título de Mestra em Educação Física na Área de Concentração: Biodinâmica do Movimento e Esporte.

Orientador: Paulo Cesar Montagner

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA

CAROLINE TOSINI FELICISSIMO E ORIENTADA PELO PROF. DR. PAULO CESAR MONTAGNER.

CAMPINAS 2015

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Prof. Dr. Paulo Cesar Montagner

Orientador

Prof. Dr. Roberto Rodrigues Paes

Membro Titular

Prof. Dr. Hermes Ferreira Balbino

Membro Titular

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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Dedico este trabalho a Deus, meu Senhor

e sustentador; aos meus pais que sempre

me apoiaram durante todo o processo e a

todos os apaixonados por voleibol!

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Seria impossível desenvolver essa pesquisa de mestrado sozinha. Todo o conteúdo produzido somente foi possível ser concretizado porque um número considerável de pessoas estava caminhando comigo, contribuindo, apoiando, suportando, ensinando de diversas formas.

Com o coração imensamente grato ao notar as incontáveis ajudas que obtive ao longo de todo o processo de estruturação e desenvolvimento deste trabalho é que inicio essa sessão de agradecimentos.

Agradeço primeiramente a Deus porque Ele é minha fortaleza, meu refúgio, Aquele que me sustenta, fortalece, direciona e ensina. Agradeço a Deus porque firmada em Sua soberania sobre todas as coisas deste mundo, o que inclui a minha vida, é que consegui prosseguir, sem medo e confiante, alegre, sabendo que Ele estava cuidando de mim em todo o tempo e que me conduziria à conclusão deste trabalho.

Sou imensamente grata aos meus pais que me apoiaram em mais esta importante etapa dos meus estudos e da minha formação. Eles, que humildemente vivem, estiveram comigo, investindo em minha vida, sustentando em todos os sentidos, incentivando e confiando. Meus pais são preciosos, e em todo o tempo deixaram-me segura pois sabia que poderia contar com eles sempre. Palavras não descrevem o tamanho da minha gratidão por tudo o que eles fazem por mim. Amo sem medidas.

Agradeço também aos meus irmãos que, assim como os meus pais, são fontes certas de encorajamento, de apoio, de amor e carinho. Sei que em seus corações existe alegria e torcida sincera por meu sucesso e realização. Amo muito.

Sou grata ao meu orientador Paulo Cesar Montagner que foi um incentivador e alguém que me transmitiu a segurança necessária para prosseguir com esta pesquisa. Seu apoio desde o começo da ideia do projeto e ao longo de todo o processo de desenvolvimento, sua orientação precisa, com o equilíbrio exato entre o dar autonomia e o “podar” nos momentos necessários foram essenciais para o fim positivo, para a conclusão satisfatória desta pesquisa e para o meu desenvolvimento acadêmico e profissional.

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encontros às quintas, ou em outros dias que fossem necessários, o compartilhar de vidas, o aprendizado conjunto foram essenciais para deixar mais leve a carga pesada de tarefas que tive ao longo dos três anos de desenvolvimento desta pesquisa. Sou grata a Deus pela vida delas. Amo muito.

Ser parte da família de Deus é um privilégio, porque o suporte é certo. Sou imensamente grata aos meus demais irmãos e irmãs em Cristo, seja da Joy!, da IBCU, do meu grupo de estudo bíblico, suas orações e incentivo fizeram diferença.

Sou grata aos treinadores que gentilmente se disponibilizaram a participar desta pesquisa, que dispuseram de seu tempo, compartilharam seus conhecimentos e experiências, fornecendo as valiosas informações que compuseram a parte central do trabalho. Os meus sinceros agradecimentos, pois o objetivo desta pesquisa não teria sido cumprido sem a contribuição sincera de cada um.

Agradeço imensamente aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Esportes para Crianças e Jovens (GEPEECJ), principalmente o Leopoldo Hirama, Leandro Benelli e Cássia Joaquim que se mostraram fiéis parceiros, sempre dispostos a ajudar nos momentos em que foram solicitados. Suas correções, contribuições e ensinamentos contribuíram para a lapidação deste trabalho.

Sou grata aos membros da banca examinadora, Hermes Ferreira Balbino e Roberto Rodrigues Paes, que tanto na qualificação quanto na defesa fizeram apontamentos construtivos que contribuíram para uma melhora significativa na pesquisa. Aprendi muito com ambos em suas arguições.

Agradeço às minhas amigas da faculdade, as `Kit Girls´ que desde 2006 caminham comigo. Dos presentes que a faculdade me proporcionou, elas estão entre os mais preciosos, e sou grata pelo apoio e torcida de cada uma.

Agradeço à FEF-UNICAMP pelas inúmeras possibilidades de aprendizado, aos professores e alunos que me ensinaram tanto durante as disciplinas. Agradeço ao pessoal da Pós-Graduação, principalmente a Simone, sempre pronta a responder e solucionar minhas dúvidas.

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O voleibol feminino brasileiro apresenta uma notória posição no cenário mundial, é reconhecido e respeitado em virtude de seus proeminentes resultados, excelente padrão de jogo e habilidade de suas atletas. Estar entre os melhores do mundo já é uma posição difícil de lograr, entretanto, permanecer entre estes é sobremaneira mais complicado e extremamente significante. A eficiência manifestada pelas atletas da modalidade é considerada diferenciada e compreender como se inicia o processo de trabalho que culmina com a revelação dessas atletas talentosas no país mostra-se interessante. Sendo assim, objetivou-se com este trabalho descrever e analisar procedimentos e parâmetros norteadores da detecção e seleção de atletas de voleibol feminino a partir da realidade exposta por técnicos de categorias de base que disputam a Federação Paulista de Voleibol (FPV). Justificativas: 1) Escolheu-se o voleibol feminino apenas como forma de delimitação da população. 2) A opção pelo Estado de São Paulo ocorreu porque é onde estão equipes com reconhecido trabalho nas categorias de base, além de possuir o maior número de equipes atuando na Superliga - aproximadamente 50% delas estão fixadas neste Estado. 3) Optou-se por técnicos de times que disputam a FPV por esta ser uma entidade que concentra equipes renomadas do país, por possuir um campeonato competitivo e de reconhecida visibilidade e ter técnicos com representatividade no cenário do voleibol nacional. Metodologia: Primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica como forma de obtenção de informações disponíveis relacionadas à temática da pesquisa. Uma pesquisa documental também foi feita por meio de informações da FPV e Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), seja in loco ou online. Para a obtenção de informações que contemplavam o objetivo da pesquisa, foram entrevistados (pessoalmente ou por Skype), por meio de uma entrevista semiestruturada, nove técnicos de voleibol feminino de categorias de base, que abrange do sub 14 ao sub 19, e que competem na FPV. Antes da realização das entrevistas os técnicos responderam a um questionário que objetivava verificar as equipes em que atuavam, e um segundo questionário que visava avaliar seu perfil como técnico. Os dados foram analisados através da análise de conteúdo, a qual permitiu a realização de inferências e posterior categorização dos conteúdos convergentes e que surgiam com maior frequência. Das informações obtidas ficaram três predominâncias: a “peneira” ainda é a forma mais usual de selecionar atletas; o biótipo ideal (estatura elevada, longilínea e magra) é a primeira competência observada e o parâmetro subjetivo, caracterizado pelo olhar experiente do técnico é o que impera. Ademais, o papel do treinador mostrou-se sobremaneira relevante uma vez que ele tem a responsabilidade de selecionar meninas altas, mesmo que sem habilidade e coordenação desenvolvidas e trabalhá-las de tal forma que a transforme em uma atleta de renome.

Palavras-chave: voleibol feminino brasileiro; seleção de atletas; seleção de talentos

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Brazilian women's volleyball presents a striking position on the world stage, and is recognized and respected because of their outstanding results, excellent standard of plays, and for the ability of their athletes. Being among the world's best is already a difficult position to achieve, however to remain as a top team is even more complicated and extremely significant. The efficiency manifested by the athletes is highly considered so understanding the beginning of this working process that leads to the revelation of such talented athletes in Brazil appears to be very interesting. Thus, the aim of this study was to describe and analyze procedures and guiding parameters of the detection and selection of female volleyball players from the reality exposed by coaches of youth teams who dispute the Paulista Volleyball Federation (FPV). Justification: 1) We chose women's volleyball just as a way of delimitation of the population. 2) The option for the State of São Paulo occurred because it is where there are youth teams with recognized works, as well as having the largest number of teams in the Superliga - about 50% of them are in this State. 3) We chose coaches of teams that compete in the competitive championship, FPV because it is an entity with renowned teams and recognized visibility and coaches with representation in the national volleyball scene. Methods: First, a literature search was conducted in order to obtain the available information related with the theme of the research. A documentary research was also done through FPV and the Brazilian Volleyball Confederation (CBV) information, either in loco or online. To obtain information that correlated with the aim of the research, semi-structured interviews were conducted (in person or via Skype) with nine coaches of a variety of women’s volleyball youth teams (teams from sub 14 to sub 19 competing in the FPV.) Before the interviews, the coaches answered a questionnaire that aimed to verify their teams and a second questionnaire that aimed to assess their coaching profile. Data was analyzed through content analysis that allowed inferences and subsequent categorization of the converging content and that appeared most frequently. Three main observations were concluded form the obtained data: a "peneira" is still the most common way to select athletes; the ideal biotype (tall, lean and longilineal) is the first competence observed as a prevailing subjective parameter by the experienced observation of the coach. Moreover, the coaches’ role seems to be greatly significant since it has the responsibility to select tall girls, even without skill and developed coordination, and work them in such a way that turns them into a renowned athlete.

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Figura 1: Lei das Probabilidades. ... 29

Figura 2: Talento em esporte: relação dinâmica entre os níveis de desempenho competitivo do individuo no início, na atualidade e no final. ... 32

Figura 3: Riscos de erros do prognóstico de T.E. ... 38

Figura 4: Fatores influenciadores do talento esportivo.) ... 41

Figura 5: Esquema das condições pessoais de desempenho e sucesso esportivo. ... 42

Figura 6: Modelo de formação esportiva a longo prazo... 44

Figura 7: Competências do jogador de voleibol. ... 58

Figura 8: Características definidoras da análise de conteúdo. ... 70

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Tabela 1: Média das alturas das Seleções do Mundial feminino de voleibol na Itália em 2014

... 55

Tabela 2: Média e desvio padrão das alturas das atletas das Seleções femininas Brasileiras.

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Quadro 1: Histórico de resultados da Seleção Brasileira adulta feminina nos últimos 20 anos

... 51

Quadro 2: Histórico de resultados das Seleções infanto e juvenil feminino nos últimos 20 anos. ... 51

Quadro 3: Dados acerca dos sujeitos. ... 72

Quadro 4: Dados sobre as atividades profissionais dos sujeitos. ... 73

Quadro 5: Dados sobre a formação e capacitação dos sujeitos. ... 75

Quadro 6: Dados sobre as equipes participantes. ... 76

Quadro 7: Formas usuais para detectar, selecionar e recrutar atletas de voleibol em categorias de base ... 125

Quadro 8: Competências esperadas pelos sujeitos em atletas de voleibol nas categorias de base ... 132

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INTRODUÇÃO ... 21

OBJETIVO ... 26

CAPÍTULO 1 ... 27

O TALENTO ESPORTIVO: DIALOGANDO COM A LITERATURA ... 27

1.1 Definições e conceitos ... 27

1.2 Detecção, seleção e desenvolvimento de talentos esportivos ... 34

CAPÍTULO 2 ... 48

CARACTERIZANDO O VOLEIBOL ... 48

2.1 Voleibol no Brasil: contexto histórico ... 48

2.2 Aspectos gerais da modalidade ... 52

2.3 Aspectos antropométricos, cineantropométricos e somatotípicos ... 60

CAPÍTULO 3 ... 64

METODOLOGIA ... 64

3.1 Contextualização do delineamento metodológico ... 64

3.2 Método ... 66

3.3 Análise de conteúdo ... 69

3.4 Caracterização dos sujeitos e suas equipes ... 71

3.5 Aspectos Éticos ... 77

JUSTIFICATIVAS ... 78

CAPÍTULO 4 ... 79

RESULTADOS ... 79

4.1 - Métodos para detecção e seleção das atletas ... 80

4.2 - Competências que uma atleta de voleibol precisa manifestar ... 92

4.3 - Parâmetros adotados no processo de detecção e seleção ... 96

4.4 – Aproximação com escolas ... 99

4.5 - Aspecto genético como fator determinante no momento da escolha das atletas ... 101

4.6 – Locais de onde as meninas que aparecem para disputar vaga nas equipes costumam vir ... 104

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4.9 – Opinião sobre o modelo de seleção de talentos no voleibol brasileiro ... 112

4.10 – Estado de São Paulo como o principal polo formador ou, local onde as atletas encontram melhores condições de despontar no voleibol ... 118

CAPÍTULO 5 ... 122

DISCUSSÃO ... 122

5.1 – Internet e Redes Sociais ... 122

5.2 - Das “peneiras” aos programas de formação esportiva: formas de detecção e seleção de atletas talentosas ... 124

5.3 - Competências esperadas ... 131

5.3.1 Biótipo ideal: antropometria e aspecto genético ... 132

5.3.2 - Do físico ao psicológico: abordando as demais competências ... 142

5.4 O treinador ... 150

5.4.1 - Subjetividade (olhar do técnico) e seu papel: da seleção à promoção das atletas ... 150

5.4.2 - Capacitação dos treinadores: uniformidade ... 155

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 157

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 159

ANEXOS ... 169

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Do coração de uma adolescente sonhadora para as reflexões de uma adulta curiosa.

Peço licença aos leitores para eu ser levemente mais “sentimental” do que acadêmica em minha escrita nesse primeiro item. Não que eu vá abandonar o tratamento formal que a dissertação exige, certamente o desenvolverei, entretanto, abro espaço para que ao menos nesse momento de reflexão nesta pesquisa, cuja motivação para sua realização está enraizada em curiosidades que são frutos de uma paixão pessoal, eu consiga colocar um pouco mais de coração do que simplesmente apresentação de dados e informações, reservo isso para os próximos capítulos.

Minhas experiências com o esporte, mais especificamente o interesse pelo voleibol começou na rua. Em São José do Rio Pardo onde nasci, uma pequena cidade do interior de São Paulo, na minha época de criança (algo em torno de 18 anos atrás), as brincadeiras e o esporte eram fortemente vivenciados na rua.

Terminada a aula na escola, nosso espaço de diversão era muito acessível, bastava sair do portão de casa e pisar naquele que era nosso ambiente de descobrimento, de vivências variadas, de alegria e interação. Não era difícil para sadiamente nos divertirmos, e tampouco era caro, porque tudo que precisávamos estava ali, a um passo do portão de casa. E, dentre o pega-pega, pique-esconde, taco (em certos locais conhecido por bets), mãe da rua, queimada e tantas outras brincadeiras; dentre o futebol, cujo gol era feito com chinelos ou pedaços de tijolos, em um ambiente onde meninas e meninos brincavam juntos e disputavam espaço com os carros que passavam é que surgiu o voleibol.

Bastava uma bola, um giz para demarcar o espaço e um longo pedaço de barbante, que era pendurado de uma das grades de casa até a árvore do vizinho no outro lado da rua para termos uma “rede”, e assim criávamos as condições básicas para jogarmos diversas e divertidas partidas de vôlei.

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Lembro que a primeira pessoa a me ensinar a base para se fazer um toque de maneira correta foi um amigo mais velho, na rua. Recordo-me claramente desse momento, e quando tenho que explicar para alguém como faz um toque, a primeira frase que eu digo é a mesma que ele me disse, mas com alguns complementos.

Ao longo das partidas de voleibol na rua comecei a perceber que conseguia jogar com qualidade, meus amigos também apontavam minha facilidade na execução dos fundamentos, assim, diante do feedback positivo que recebia, a motivação e o interesse em querer aprender de forma aprofundada a modalidade foram despertados.

Após um curto período de tempo vivenciando modalidades como ginástica artística, basquetebol, dança, natação, iniciei na escolinha de voleibol da prefeitura de São José do Rio Pardo.

Nessa mesma época encontrava-me no ensino fundamental e, logo ao iniciar meus primeiros passos no voleibol, comecei a jogar também na e pela escola. Digo também pela escola em virtude de campeonatos escolares que passei a participar.

Os jogos escolares eram momentos de expectativa para nós, ficávamos aguardando ansiosamente por sua chegada. Representar a escola tinha algumas facetas: ao mesmo tempo que era divertido, pois nos uníamos para torcer durante as partidas, contribuía na construção e fortalecimento dos laços de amizade entre as pessoas, as atletas passavam a ser conhecidas pelos alunos, adquirindo algumas até mesmo uma “nova identidade”, como, por exemplo, `Carol do vôlei, também era um ambiente de aprendizado, uma vez que passávamos a ter noção da responsabilidade de representar nossa instituição de ensino, aprendíamos a coletividade, a lidar com certo nível de pressão, com a competitividade, com as derrotas e vitórias.

A classificação entre os primeiros colocados nos jogos escolares da cidade nos posicionava diante da possibilidade de posteriormente participarmos do mesmo torneio, mas em nível regional.

Conquistar a vaga para a disputa regional era motivador porque teríamos a chance de viajar e conhecer uma outra cidade, de jogar com equipes diferentes, de vivenciar um

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Dessa forma, do voleibol na rua para o voleibol na escola e, posteriormente, no clube foi que começou a surgir no coração de uma menina do interior a ideia de se tornar, talvez, uma atleta profissional da modalidade.

Impulsionada pelas críticas positivas daqueles que acompanhavam meu desempenho, do talento que diziam que eu possuía e da considerável evolução que apresentava, sonhos começaram a aflorar e metas começaram a ser estabelecidas. Entretanto, o sonho esbarrara em alguns pontos importantes, dos quais destaco dois: 1 – estatura; 2 - dificuldade de pessoas do interior e sem informação ou condição de serem notadas, e, por conseguinte, de terem acesso a uma equipe de renome e com estrutura capaz de oferecer condições favoráveis de desenvolvimento dentro da modalidade.

Coloco como ponto número um a estatura por ser um fator determinante no voleibol, e, desde meus primeiros anos de atleta eu já percebia isso. Os melhores times sempre buscavam atletas altas, de preferência acima de 1,80 m, o que não era o meu caso, pois era apenas uma talentosa menina de 1,70 m.

Com relação ao segundo ponto, o fato de jogar em uma cidade pequena, da falta de direção e informação quanto as “peneiras” 1de equipes melhor estruturadas, dentre outros fatores, fizeram com que eu começasse, já nessa época, a questionar as reais possibilidades de desenvolvimento de talentos esportivos dentro do voleibol brasileiro.

Quando eu tinha 15 anos, olhando sites com reportagens sobre vôlei e pesquisando algumas atletas renomadas na modalidade acabei por encontrar uma coluna da Ana Moser - considerada uma das mais conceituadas jogadoras de voleibol que o Brasil já teve - no site do UOL, e, em virtude do meu sonho e de minhas dúvidas, decidi escrever expressando o seguinte questionamento (figura original encontra-se no Anexo A):

1 O termo “peneira” estará expresso entre aspas ao longo do texto por se tratar de uma expressão

popular para a forma mais tradicional de seleção de atletas no Brasil. Peneira, em seu sentido real, é um utensílio utilizado para separar pequenos fragmentos dos demais, ou seja, há uma separação fina do que passa por ela. Esta ideia do peneirar é difundida para o esporte, isto é, ocorre uma fina separação de quem é ou não selecionado, de quem passa ou não pela “peneira”.

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ser descobertos, ficam apenas no anonimato’.

Ana Moser: “Caroline, antigamente, quando o esporte era amador, havia mais

clubes sociais, e até mesmo clubes ligados a Prefeituras. Com a profissionalização do esporte, a concorrência ficou desigual e a maioria dos clubes do interior não tem condições financeiras nem patrocinadores para manterem a estrutura de equipes competitivas. Isso porque, para um clube, ou atleta, fazer parte do esporte dito “oficial”, precisa estar filiado aos órgãos oficiais: Federações e Confederação Brasileira. O esporte foi, de certa maneira, passou a ser privilégio de alguns. Esta é uma situação difícil de ser resolvida e requer investimento de vários setores, desde o esporte escolar, passando pelas competições regionais. Outra alternativa passam a ser as ligas independentes, que proliferam no interior do Estado de São Paulo. Essas ligas envolvem um número de filiados muito maior do que aqueles filiados à própria Federação Paulista e disputam campeonatos, em todas as categorias, durante o ano todo”.

Honestamente, eu não lembrava que havia enviado esta pergunta, contudo, após vasculhar algumas fotos e reportagens da época em que eu ainda era atleta encontrei o que para mim foi uma relíquia, fiquei pasma, pois percebi que desde os meus 15 anos – essa pergunta foi feita em 2002 – já demonstrava, de alguma maneira, uma curiosidade por essa temática.

Se, nessa época, a intenção da pergunta era somente entender como funcionava o recrutamento de atletas para tentar encontrar meios de acesso a uma equipe de renome, hoje, a intenção é impulsionada por alguém que viveu essa modalidade por longo tempo como atleta (14 anos), que jogou em alto nível, não no Brasil, mas em uma experiência breve no voleibol espanhol, e, que cursou uma faculdade de educação física, na qual o despertar por questões como essa aprofundou-se.

Assim, passados 10 anos, contando que a indagação de 2002 ressurgiu em 2012, mas com ideias melhor desenvolvidas e com um conhecimento maior do fenômeno esportivo, das especificidades da modalidade em destaque, de questões pedagógicas, da composição e do comportamento humano, percebo que de alguma forma isso nunca saiu do meu pensamento.

Embora outras indagações e interesses tivessem conquistado certo espaço, já que depois que se entra em uma faculdade de educação física, com inúmeros aprendizados, tantas

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mestrado, voltei à temática que eu já me preocupava desde a época da adolescência.

Não posso deixar de destacar o importante papel do meu orientador Paulo Cesar Montagner que foi quem me redirecionou para este tema.

Ao apresentar a questão da detecção e seleção do talento esportivo no voleibol feminino brasileiro como algo que também despertava sua curiosidade acabou surgindo o duplo interesse em investigar o panorama, os procedimentos e parâmetros que norteavam os técnicos na busca e escolha de suas futuras atletas.

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INTRODUÇÃO

O esporte comumente ganha espaço na vida do ser humano desde muito cedo, seja por influência dos pais, nas brincadeiras e jogos na rua, pelas propagandas e programas na televisão, no aprendizado da educação física escolar ou em algum outro local, isto é, aonde quer que exista um indivíduo, em determinado momento da vida ele terá contato com alguma modalidade esportiva.

Em meio à grande variedade de possibilidades, uma vez que existe um número incontável de modalidades esportivas capazes de atender aos gostos de cada tipo de indivíduo, pode ser que ele encontre em alguma modalidade específica uma identificação, um prazer maior, de tal forma que vai procurar se envolver de maneira aprofundada. Começará a treinar, a disputar campeonatos, a viver a modalidade mais intensamente. E, ao se envolver assim, certamente se espelhará em seus grandes ídolos, querendo ser igual, desejando chegar onde eles chegaram, conquistar o que conquistaram e, quem sabe, ir além.

Então, o indivíduo começa a sonhar, a criar em sua mente um mundo em que imagina como seria se ele chegasse no auge de representar seu time do coração, sua nação, de disputar um campeonato nacional, de chegar a nível internacional e, ainda mais a fundo, tornar-se um “herói” em seu país.

Essa projeção idealizada de vida acaba por ser, para vários desses (as) sonhadores (as), o combustível que os propulsiona a perseverar no árduo, longo e difícil caminho para o esporte de alto rendimento.

A figura do mito, do herói, do ídolo que aparece frequentemente está enraizada na sociedade, desde tempos antigos, e seu vínculo com o esporte é significativo. Esse “modelo de personalidade” é admirado, respeitado e utilizado como referencial para a projeção do indivíduo, ainda que tenha enfrentado duros desafios e adversários difíceis, mesmo que seus grandiosos feitos e o alto custo para alcançá-los seja considerado por muitos uma atitude insana e sem sentido, o herói carrega consigo a marca da vitória, é o símbolo do sucesso. (RUBIO, 2001)

Ainda, a respeito da identificação do atleta com o herói e das etapas semelhantes pelas quais passam, Rubio (2001, p. 99) averigua que:

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não é apenas os desafios da disputa que faz o atleta identificar-se com o herói. O caminho para o desenvolvimento dessa identidade envolve etapas comuns ao mito: há uma chamada para a prática esportiva, que em muitos casos significa deixar a casa dos pais e enfrentar um mundo desconhecido e, por vezes, cheio de perigos. Sua chegada ao clube representa a iniciação, propriamente dita, um caminho de provas que envolve persistência, determinação, paciência e um pouco de sorte. A coroação dessa etapa é a participação na Seleção Nacional, seja qual for a modalidade, lugar reservado aos verdadeiros heróis, onde há o desfrute dessa condição.

Um aspecto marcante do fenômeno esportivo é poder alcançar o coração das pessoas, fazê-las felizes, transformá-las em certa medida, fazê-las sentir algo tão intensamente bom e desafiador que não vão querer abandonar por nada, mesmo que precisem enfrentar inúmeras barreiras, dificuldades, tendo que conviver com a dor, que renunciar ao descanso, aos finais de semana, as festas com a família e amigos, entre outros.

Giovane Gávio, atleta bicampeão olímpico pela seleção brasileira de voleibol e detentor de várias outras conquistas importantes no cenário nacional e internacional, no auge de sua experiência como atleta elaborou um poema que retrata com propriedade o que foi citado nos parágrafos acima.

“Inverno muito frio, muito trabalho e dor. Uma pedra bruta, aos poucos lapidada por mãos calejadas, O suor, a dor, a saudade e, em certos dias, dentro do mais íntimo sentimento, até lágrimas! A primavera rompe o gelo. O calor aos poucos curte a pele e descongela a alma. O primeiro brilho surge aos poucos Com habilidade de precisão de um mestre. A pedra se torna um brilhante Com brilho próprio, quase azul. Doze faces, Doze pontas. Às vezes parece uma, Outras, um conjunto de luzes ofuscantes, Que como um arco-íris espalha colorido pelo céu. Doze faces, Uma única luz, que com seu brilho corta e quase cega. Olhos fechados, uma única coisa na mente. Doze faces, doze guerreiros, Uma pedra, Um diamante que conquistou o mundo!”2

2 Poema intitulado Diamante de 12 faces, elaborado pelo ex-atleta da Seleção Brasileira masculina de

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Morgan e Giacobbi Jr. (2006) ressaltaram outro ponto que estimula a participação efetiva de tantos jovens na prática esportiva competitiva, o fato de, por meio do esporte terem a oportunidade de viajar, de conhecer pessoas, de receber bolsas de estudo, possibilidades estas que talvez não teriam fora do esporte.

Apropriando-se dessa informação de como o esporte pode influenciar no ideal de vida e planejamento do futuro de muitos indivíduos é que o trabalho com esses (as) jovens se torna importantíssimo, uma vez que a intervenção adquire um sentido que transcende o simplesmente ensinar o jogo, assumindo um papel de preparação para etapas ainda mais específicas e definidoras para a vida.

Para compreender as dimensões do contexto em que o atleta se insere é importante entender as implicações do esporte moderno e contemporâneo, sobretudo para o atleta talentoso, sobre quem as expectativas e investimentos (seja em termos de tempo ou suporte financeiro), acabam sendo direcionados de maneira contundente.

Benelli (2007) entende o esporte moderno, como uma instituição social que teve sua origem na revolução industrial, passou por transformações, uma vez que a sociedade também se transformou, tornou-se um espetáculo por meio da mercantilização e da profissionalização de suas estruturas e dos aspectos que envolvem o fenômeno.

O esporte contemporâneo, ao longo do seu processo de construção, foi marcadamente influenciado pela sociedade industrial moderna e pelas transformações socioculturais consequentemente geradas. (RUBIO, 2001)

DaMatta (1994) em uma comparação interessante ressalta que o esporte é uma indústria e um espetáculo, mas é igualmente um rito e uma arte.

Atletas de alto rendimento em diversas ocasiões são comparados a artistas capazes de realizar façanhas inimagináveis, e apresentam a capacidade de levar um número considerável de espectadores para os ginásios nos momentos em que entram em cena para o espetáculo. O público cria, de certa forma, uma sensação de “proximidade”, em virtude da identificação com os atletas, os quais, seja em momentos de alegria diante das conquistas, ou tristeza perante o fracasso, geram comoção geral.

Assim, no que tange ao esporte de alto rendimento, que é caracteristicamente espetacularizado e tem na mídia seu principal divulgador, ocorre uma mescla de interesses de distintas partes, e, para se manter no auge da aceitação do público consumidor, necessita da figura

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dos “heróis”, ídolos, das “estrelas”, uma vez que são elas que levam o público a se identificar com o evento. (RUBIO, 2001).

É nesse ambiente que o atleta talentoso está inserido, ou seja, em um contexto em que é preciso manter a engrenagem funcionando, os resultados aparecendo e a modalidade permanecendo no auge. A manutenção dos bons resultados representa entrada de investimentos financeiros, reconhecimento nacional e mundial, aumento do interesse da população seja no acompanhamento de partidas ou na prática da modalidade.

Rubio (2001) reforça essa afirmação quando relaciona o esporte como mais um produto de consumo, que para vender o espetáculo desejado precisa criar protagonistas, os quais são mais uma peça numa grande engrenagem.

Tal cenário reflete em implicação para o trabalho que é desenvolvido com atletas talentosos desde as categorias de base, pois estes vão sendo direcionados e preparados, em um movimento que não intenciona esconder seu caráter excludente, uma vez que o caminho para o esporte de alto rendimento é estreito e reservado para poucos.

As especificidades existentes em cada modalidade esportiva contribuem para, em determinado momento do processo, a exclusão daqueles que não se enquadram no perfil destacado como ideal.

No caso específico do voleibol, modalidade que é objeto de estudo desta pesquisa, características marcantes como elevada estatura, um porte físico magro e longilíneo, boa capacidade de saltar verticalmente são aspectos altamente desejáveis, mas excludentes para aqueles que, no momento em que se decide os que terão condições de permanecer na modalidade, não possuem esses atributos.

O voleibol brasileiro adquiriu uma posição de renome e respeito no cenário nacional e mundial em decorrência dos sucessivos títulos expressivos conquistados em todas as categorias, tanto no masculino quanto no feminino.

Diante de uma modalidade prestigiada e que demonstra regularidade e seriedade no trabalho desenvolvido ao longo de tantos anos, em muitas meninas tem sido despertado o interesse de se tornarem jogadoras profissionais de voleibol, uma vez que possibilitaria melhores condições de atingir o almejado status de “estrela”, “heroína nacional”, “ídolo”.

Além disso, não somente a manutenção dos imponentes resultados, como também a de um grupo de atletas de destaque no decorrer das competições gera a curiosidade de muitos que

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gostariam de compreender qual o segredo do voleibol brasileiro, como é desenvolvido o processo de trabalho com as atletas dentro de suas equipes para que atinjam tamanha regularidade, pensando desde o momento em que são selecionadas para as equipes direcionadas especificamente para o treinamento da modalidade. Considerando, assim, o papel essencial das equipes responsáveis pelo desenvolvimento dessas jovens talentosas, as quais acabam exercendo a função de suprimento da demanda das seleções estaduais e nacionais.

Especulações para tal alcance existem e apontam para fatores como a existência de um modelo organizacional de referência, suporte científico, bons treinadores, excelentes equipes nacionais, todos estes contribuindo para que a engrenagem permaneça funcionando positivamente.

Com relação às principais protagonistas da modalidade, as atletas e, posteriormente, técnicos e comissão técnica responsáveis pela escolha e treinamento destas, o entendimento dos parâmetros e da forma de detecção e seleção das atletas talentosas é alvo de interesse. O primeiro passo para se ter uma equipe bem sucedida é a escolha eficaz de suas atletas. E, sabendo do impacto que tal processo tem na história de tantas jovens sonhadoras e também da curiosidade de especialistas do esporte e profissionais do voleibol, o esclarecimento sobre como ele realmente funciona mostra-se importante.

A descrição de como realmente é executado o trabalho de detecção e seleção de atletas no voleibol feminino do Estado de São Paulo contribuiria para revelar se o que tem sido realizado na prática está condizente com o que a literatura considera como processo ideal, ou, por outro lado, se o que se aponta na literatura está longe da realidade aplicável na prática, se os procedimentos e parâmetros adotados pelos técnicos para selecionar as melhores atletas estão apropriados e de acordo com a demanda da modalidade, além de expor as dificuldades ao longo do processo.

As considerações reais oriundas dos técnicos permitem uma discussão interessante e o esclarecimento sobre o que de fato pode ser considerado verdadeiro a respeito do trabalho com as atletas talentosas de voleibol, confirmando ou desconstruindo mitos e especulações populares e reforçando o que há de proximidade ou distância entre teoria e prática.

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OBJETIVO

 Descrever e analisar procedimentos e parâmetros norteadores da detecção e seleção de talentos no voleibol feminino a partir da realidade exposta por técnicos de categorias de base que disputam a Federação Paulista de Voleibol.

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CAPÍTULO 1

O TALENTO ESPORTIVO: DIALOGANDO COM A LITERATURA

1.1 Definições e conceitos

Entendendo o número abundante de considerações acerca dos aspectos que definem e compreendem o talento, e a importância de apresentar conceitos que contemplem de forma satisfatória a representação do indivíduo tratado como tal, ao longo deste item serão expostas distintas definições de diversos autores sobre este tema com o intuito de, ao final, expressar o que os autores deste estudo consideram como talento esportivo.

O conceito de talento aplica-se a muitas áreas, uma vez que indivíduos com habilidades notáveis existem em diversos âmbitos. Sendo assim, as caracterizações apontadas, por possuírem ideias que convergem e se assemelham, podem ser interligadas diretamente ao talento esportivo.

De um ponto de vista etimológico, segundo informação obtida no dicionário Michaelis3, a palavra talento originou-se do latim talentu e tem como significados: 1) antigo peso e moeda dos gregos e romanos; 2) grande e brilhante inteligência; 3) agudeza de espírito, disposição natural ou qualidade superior; 4) espírito ilustrado e inteligente; grande capacidade; 5) força física, vigor.

Com relação às reflexões encontradas na literatura, logo de início é possível verificar a complexidade do assunto a partir do exposto por Drefenstedt (1985) citado por Bento (1989, p. 87):

“talento é um complexo, qualitativa e quantitativamente determinado de disposições individuais para rendimento, comportamento, capacidades várias e interligadas, sistemas de conhecimentos, de atitudes, de qualidades volitivas e psíquicas, que possibilitam à personalidade, num jogo convergente e em face da existência de condições ambientais apropriadas realizar rendimentos correspondentes ao nível e direção do talento”.

3 Michaelis: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Melhoramentos, 2004. Disponível em:

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Essa conceituação já iniciada pela palavra complexo aponta indícios do encadeamento de vários elementos e distintos aspectos que são interdependentes, no caso, evidencia-se a correlação de fatores individuais, disposições internas do indivíduo que submetidas a condições externas apropriadas possibilitam a manifestação do talento.

Hebbelinck (1989) acerca do vínculo entre talento e aptidão no esporte, após análise de investigações com crianças bem dotadas para a prática esportiva nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha assinala dois aspectos interessantes: a) crianças bem dotadas ou talentosas seriam aquelas identificadas por pessoas qualificadas que, devido às suas habilidades, seriam capazes de atingir o alto nível de rendimento; b) grupo de crianças capazes de elevado desempenho contempla aquelas que possuem aquisição comprovada e/ou habilidades em qualquer área, como: capacidade intelectual, criatividade, liderança, artes, esporte, dentre outras.

Marques (1993) descreve que talento é um indivíduo que apresenta características biopsicossociais que, diante de determinadas condições, deixa antever com segurança a possibilidade de adquirir altos desempenhos.

Entende-se, dessa forma, corroborando a definição de Drefenstedt (1985), que o indivíduo possui características biológicas, psicológicas e sociais que, ao serem expostas a uma situação adequada, expressam melhores condições de resposta ao estímulo com um alto desempenho, ou seja, talento é aqui entendido como sendo desenvolvido a partir de aptidões preexistentes.

Barbanti (1996) diz que os indivíduos devem ser considerados talentosos quando apresentarem uma aptidão geral elevada para que a aprendizagem seja otimizada, uma vez que são as atividades motoras que favorecem o desenvolvimento das habilidades motoras. Nesse sentido entende-se que o indivíduo talentoso é aquele que, mediante um contato satisfatório com determinadas atividades tem a possibilidade de desenvolver sua já alta aptidão em habilidades ainda mais destacadas. O que ressalta o importante papel de um ambiente adequado para o aprimoramento do repertório motor.

Matsudo (1999, p. 348) apresenta a seguinte abordagem acerca da caracterização do talento:

São crianças que, identificadas por especialidades qualificadas, são capazes de performance elevada em virtude de suas capacidades excepcionais. São crianças e jovens entre 8 e 18 anos, reconhecidas em suas escolas como portadoras de aptidões intelectuais

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superiores e de estabilidade elevada em níveis diferenciados em performance. A estabilidade de suas aptidões permite, dentro de curtos limites, a precisão, a mais ajustada possível, do seu progresso e da obtenção da excelência em áreas acadêmicas, desportivas. Do ponto de vista estatístico, o talento ocorre com uma frequência muito reduzida.

Considera-se aqui como uma conceituação abrangente e completa em seu conteúdo, visto que aborda de maneira objetiva o que foi proposto pelos autores previamente citados, a de Massa (1999) que ressalta que talento é um complexo de fatores biopsicossociais que depende tanto de constituições herdadas como das disposições motoras, cognitivas e afetivas favoráveis, desenvolvidas em condições sociais e ambientais adequadas.

Em referência a indivíduos que demonstram elevada capacidade, Guenter (2000) relata que uma definição bem aceita é a baseada na ideia do desempenho médio proposto pela lei das probabilidades. Essa declara que a distribuição das características da população, seja em termos de qualidade ou quantidade, ocorre de acordo com uma curva normal e que, em uma determinada característica, seja ela qual for, a maioria dos indivíduos concentra-se na média.

Entretanto, quando se trata de talentos esportivos com características físicas e cognitivas que se afastam do padrão, estes se enquadram no intervalo de 3 a 5% da população acima da média populacional, como é possível ver na Figura 1.

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Gaya et al (2003) consideram que o talento esportivo é um indivíduo atípico dentre a população e o enquadra em duas categorias: a) o desempenho superior e atípico e b) a elevada estabilidade do desempenho.

A respeito de seus apontamentos Matsudo (1999) e Gaya et al (2003) corroboram com o que foi estabelecido por Guenter (2000) acerca da lei das probabilidades, uma vez que um indivíduo acima da média estatisticamente é atípico, raro.

Em uma abordagem interessante e, em certo ponto, diferenciada quando comparada com o que foi retratado até então, tendo em vista que ao final não chega a concluir o pensamento com uma definição de talento, Araújo (2004, p. 46) opina que:

talento é um conceito que tem servido para justificar tudo aquilo que não se sabe bem explicar e que tem a ver com o bom desempenho dos praticantes: ele é um jogador cheio de talento, ele tem talento para corrida, ela é uma ginasta promissora, é uma nadadora com futuro, muito talentosa. Se tentarmos definir o que é talento, a tarefa torna-se mais difícil. Curiosamente, parece ser mais fácil para um treinador “ver” o talento que defini-lo.

Ainda, Araújo (2004) ressalta a opinião recorrente de que talento se traduz em um atributo que se tem, e não algo que se aprende. O termo talentoso ou dotado remete a alguém que possui determinado dom, demonstrando uma visão totalmente de origem inata.

Outro termo frequentemente utilizado para se referir a excepcionalidades manifestadas é o superdotado. Gagné (2004) preocupou-se em fazer uma relação entre esse termo e o talento como forma de esclarecer que, embora apresentem semelhanças, não se tratam da mesma coisa.

Superdotado designa a posse e uso de habilidades naturais espontâneas, ou seja, que não foram treinadas (entendidas como aptidão ou dom), em pelo menos um domínio, em um nível que coloca o indivíduo ao menos a 10% de pessoas da sua idade. Enquanto que talento seria o domínio excepcional de habilidades sistematicamente desenvolvidas, ao menos em um campo de atividade humana, em um grau que posiciona o sujeito a um nível de 10% acima das pessoas de sua idade. (GAGNÉ, 2004)

Na perspectiva do autor talento é um construto do desenvolvimento, pois, ao passo que para ele superdotado é o indivíduo com excepcionalidades inatas, que demonstra habilidades destacáveis sem terem sido treinadas, o talento seria aquele que foi desenvolvendo aos poucos suas capacidades e habilidades, vindo a tornar-se excepcional em consequência do treinamento.

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De acordo com Kiss et al (2004, p. 91) “talento esportivo é utilizado para designar pessoas que possuem aptidão (condição em determinado instante) especial, grande aptidão ou potencial para o desempenho esportivo”.

É válido destacar a expressão “condição em determinado instante” usada pelos autores porque revela a noção de que é um estado no qual o indivíduo se encontra, um potencial capaz de ser trabalhado e lapidado até atingir o ponto de manifestar determinado nível de desempenho notável.

A respeito do desempenho esportivo, que é o fim principal do treinamento de um atleta, Kiss et al (2004) mencionam sua complexidade, posto que sofre a ação de processos internos e externos ao indivíduo, e que, nas palavras dos autores, deve ser compreendido como um sistema aberto.

Ainda, Kiss et al (2004, p. 89) revelam que:

o atleta, ou genericamente o indivíduo, é um estado físico no espaço-tempo, resultante de seu embasamento genético expresso através das condições física e psicoemocional, o qual é modulado na sua expressão por diferentes variáveis ambientais, das quais o treinamento físico é uma delas, outras sendo: condição de saúde, entendida como ausência de lesão, de fadiga crônica e de drogas, nutrição adequada, além de condições socioculturais favoráveis.

Na Figura 2 tem-se uma representação da dinâmica relação entre fatores e potenciais para o desempenho em um talento esportivo.

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Diante do modelo esboçado pode-se notar ao centro o potencial de desempenho do indivíduo que recebe influência de seus pressupostos pessoais, os quais originam o chamado potencial de desenvolvimento, assim como das condições do contexto em que está inserido e que determinam o seu potencial de promoção.

Tal modelo, ao trazer a concepção do estado de desempenho corrobora o exposto por Kiss et al (2004) a respeito da condição do sujeito em determinado instante, sendo esta sujeita a todo um conjunto de influências que atuam para elevar o potencial de desempenho ao nível desejado.

Para Sandoval (2005) um talento em potencial é uma criança ou adolescente que apresenta rendimento esportivo e/ou capacidades morfológicas e funcionais acima da média, principalmente em um percentual de 75% para a faixa etária e sexo de seus pares.

Joch (2005) sobre a problemática de como se pode reconhecer um talento, responde que se baseia no desempenho acima da média, o que também vai ao encontro do exposto por Guenter (2000) acerca da lei das probabilidades.

Figura 2: Talento em esporte: relação dinâmica entre os níveis de desempenho

competitivo do individuo no início, na atualidade e no final. (modificado de HOHMANN, WICK e CARL, 2001).

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Quando um sujeito destaca-se precocemente, superando em seu desempenho aos demais da mesma idade, ele passa a ser intitulado como talentoso.

Além disso, um aspecto relevante é que alguns desses que exibem desempenhos precoces podem continuar com sua excepcionalidade na vida ou não. Isto é, resultados precoces não necessariamente permanecerão ao longo do tempo.

Böhme e Ré (2009) referem-se ao talento como o indivíduo que possui uma aptidão acima da média em determinado campo de ação, sendo esta possível de ser detectada, treinada e consequentemente melhor desenvolvida. O talento depende e está relacionado com aspectos genéticos e do ambiente, ou seja, da constituição herdada, das aptidões motoras, cognitivas e afetivas favoráveis, assim como de condições sociais, culturais e geográficas propícias para o seu desenvolvimento.

Na atualidade, Calvo (2003) observa que o termo talento tem sido substituído por experto ou expert e a detecção tem sido entendida mais como um processo de desenvolvimento e posterior promoção. Esta nova orientação, em certa medida, tenta superar as dificuldades de uma detecção baseada em um conceito atitudinal.

Bolonhini e Daolio (2010) diferentemente dos demais autores refletem o talento a partir do ponto de vista sociocultural. Apontam para o agravante de tomar-se como base para a concepção do talento somente o aspecto natural desconsiderando que a questão é também cultural. Nota-se essa influência cultural, por exemplo, quando a crença da posse de um dom natural se faz presente na fala de grandes atletas talentosos.

Perante as concepções mencionadas, embora os autores destaquem a relação de variáveis atuantes na caracterização do talento esportivo como sendo um conjunto de fatores biológicos, psicológico e sociais, estas tendem a valorizar mais o ponto de vista biológico em detrimento dos demais. Tal afirmação pode ser constatada quando, ao procurar pesquisas referentes ao tema talento esportivo, nota-se a predominância de estudos aprofundando-se no aspecto biológico.

Diante do conteúdo das conceituações elaboradas pelos estudiosos supracitados, do entendimento que os autores da atual pesquisa possuem sobre o assunto, a abordagem de talento esportivo que será aqui considerada está associada à perspectiva de um sujeito capaz de ser desenvolvido ou aprimorado em suas habilidades ao longo do tempo, considerando o aspecto inato como componente essencial na base de tudo.

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Exposto de outra forma, tem-se um indivíduo dotado de aptidões herdadas, as quais podem ser características físicas ou habilidades vistas como interessantes e acima da média da população, dependendo do padrão de comparação do que é considerado a média, e que é desenvolvida, aprimorada através de condições adequadas de treinamento. Sendo assim, tem-se a transformação do que antes era considerado um potencial para um concreto atleta talentoso.

Por fim, apresentadas as diversificadas, mas congruentes definições acerca do que se entende por talento, e exposto o ponto de vista dos autores sobre o que será levado em consideração como talento esportivo nesta pesquisa, já é possível ter uma base considerável de informações que contribuirão na reflexão e entendimento do processo de detecção e seleção de talentos esportivos.

1.2 Detecção, seleção e desenvolvimento de talentos esportivos

Os termos detecção, seleção e desenvolvimento de talentos esportivos fazem parte de um processo no qual uma etapa complementa ou é pré-requisito para a seguinte. Em determinados momentos suas implicações e objetivos podem até se confundir, entretanto, será possível verificar que cada fase carrega consigo direcionamentos específicos, embora possam ocorrer dentro de uma mesma etapa.

Hebbelinck (1989) considera que a busca, identificação, seleção e desenvolvimento de talentos deveriam ser vistos como complementares e inseparáveis, sendo partes de um planejamento estratégico que caminha respeitando todas essas etapas até chegar ao alto nível de rendimento.

Confirmando tal assertiva, Böhme (1995) relata que a detecção, seleção e, consequentemente a promoção do talento esportivo estão balizadas em como é realizada a sua determinação, estando elas inter-relacionadas.

De acordo com Böhme (2000) detecção de talento, que tem como palavras sinônimas, busca, procura, refere-se a todas as medidas e meios utilizados com o objetivo de encontrar um número suficientemente grande de pessoas, normalmente crianças e adolescentes, que estão dispostas e relativamente prontas para serem inseridas em um programa de formação esportiva, que pode ser geral ou específico por modalidade.

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Com relação à seleção de talentos esportivos, estariam relacionados os meios utilizados para a determinação dos indivíduos que possuem condições de serem admitidos em níveis mais altos do treinamento a longo prazo.

Já a promoção, que pela sua definição também poderia ser entendida como desenvolvimento de talentos esportivos, englobaria o uso de procedimentos de treinamento e outras medidas para atingir o desempenho esportivo ótimo, ideal a longo prazo.

Para Gagné (2004) o desenvolvimento do talento corresponde à transformação de habilidades naturais marcantes – ou aptidões – dentro de habilidades características de um campo ocupacional particular.

Na busca do talento, de acordo com Matsudo (1999), um ponto fundamental é estabelecer os melhores indicadores, tanto presentes quanto futuros, de desempenho do indivíduo.

A respeito de critérios de desempenho, Böhme (1995) destaca dois quesitos importantes, contudo identificados como problemáticos: o primeiro seria os critérios em si, e o segundo seria o prognóstico de desempenho.

Com relação ao estabelecimento de critérios, como ponto de partida é necessário o conhecimento aprofundado das características que compreendem determinada modalidade esportiva e, diante disso, o perfil que se espera dos atletas, para que assim se estabeleça de maneira fidedigna o que, e como procurar.

Este tópico torna-se problemático a partir do momento em que aqueles que teoricamente deveriam possuir todo o entendimento da modalidade esportiva que dirige, na prática não o tem, e, dessa maneira, acabam por estabelecer critérios de detecção, seleção e de desempenho equivocados, e, consequentemente desperdiçam ou destroem o futuro de atletas em potencial.

Sobre esta contundente influência do treinador sobre a carreira esportiva do atleta, De Rose Junior (2013) ressalta que o treinador de categorias de base tem papel fundamental para o desenvolvimento do jovem atleta na prática de sua modalidade, ao passo que também pode ser o agente desestabilizador de todo o processo. O entendimento do treinador sobre todas as etapas do processo e a aplicabilidade apropriada dos critérios de ação é essencial para o não desperdício de atletas em potencial.

Hebbelinck (1989) já na década de 80 apontava para a questão das particularidades de cada esporte e como estas deveriam ser minuciosamente pensadas no estabelecimento dos critérios para a seleção dos futuros atletas.

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A esse respeito, Matsudo (1999) alega que, de forma geral, o perfil do desportista é obtido comparando seus resultados com padrões de referência que estejam mais próximos da média populacional. Entretanto, em referência à busca de talentos, as variáveis que apresentam resultados distantes das médias populacionais, entendendo-se aqui um afastamento para valores positivos que se sobressaem da média, são as consideradas importantes, e a que mais se destaca é declarada a “variável crítica”.

Os parâmetros de comparação normalmente adotados são: a) perfil da equipe ou da modalidade como um todo; b) perfil de um grupo específico de atletas com determinada função em esportes coletivos (por exemplo: levantadora, central, oposta, no caso do voleibol) e c) perfil individual do atleta. (MATSUDO, 1999)

Sandoval (2005), no tocante aos padrões comparativos no ato e no processo de seleção de talento esportivo, atenta para uma questão relevante ao apontar que se deve caracterizar não apenas o grupo esportista, mas também a população não esportiva, ou seja, avaliar qual o contexto normal da população em que o indivíduo está inserido, uma vez que dependendo das características desta se conseguirá com mais facilidade ou não encontrar atletas com o perfil desejável.

Com relação à problemática do prognóstico do desempenho, a dificuldade em adotar tal critério está no fato de que, como visto anteriormente, o sujeito sofre a influência de inúmeros fatores ao longo do seu desenvolvimento, logo, não é um processo linear. Desse modo, embora exista um conhecimento aprofundado dos aspectos gerais do desenvolvimento do ser humano, assim como de dados sobre resultados do passado e presente do atleta sobre os quais se pode prever a mais alta capacidade de desempenho que um indivíduo poderá chegar, ainda assim não se caracteriza como um critério totalmente seguro, já que não é possível prever adversidades ou desvios ao longo do caminho.

Vale ressaltar que as características visadas na determinação do talento são dependentes de diferentes fatores constitucionais, sociais, físicos, psicológicos e da capacidade de desempenho da idade biológica, logo, todos estes devem ser ponderados. (BÖHME, 1995)

Ainda, segundo Böhme (1995), atenção especial precisa ser destinada ao desempenho referente à idade biológica, pois os resultados de testes executados não podem ser considerados como prognóstico completamente correto, uma vez que os dados representam mais a condição do momento do que realmente as possibilidades potenciais de desenvolvimento do jovem atleta.

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Para a avaliação da idade biológica Sandoval (2005) descreve três possíveis métodos: a) idade óssea, obtida através da análise dos ossos do carpo da mão esquerda, considerada a mais exata, contudo de alto custo; b) caracteres sexuais secundários, por meio de avaliação qualificada ou autoavaliação, sendo mais rápido e fácil de ser realizado, porém menos preciso e c) idade morfológica, realizada por antropometria, rápida, efetiva e classificada como o melhor indicador para avaliação da idade biológica nos programas de detecção de talentos.

A análise da maturação biológica se faz importante quando a relação entre idade biológica e cronológica é colocada em pauta. Matsudo (1999) destaca que, como a detecção de talentos é realizada normalmente com crianças ou peripubertários, a maturação deve ser sempre medida, pois os resultados nas variáveis são mais dependentes da idade biológica do que da cronológica.

Inserida nesse contexto está a problemática da relação entre a maturação precoce e tardia e a seleção de atletas, acerca da qual Hebbelinck (1989, p. 53) esboça uma preocupação pertinente:

Podemos estar equivocados quando observamos as capacidades de desempenho de meninas e meninos de maturação precoce, porque eles frequentemente apresentam melhor desempenho que seus correspondentes da mesma faixa etária. Entretanto, esta vantagem em tamanho e força nem sempre permanece quando eles atingem a maturação final. Indivíduos de maturação tardia que não abandonam a prática esportiva devido a desmotivação ou insucessos repetidos, gastam frequentemente uma grande quantidade de tempo na aquisição de habilidades para que possam competir. Em contraste, muitos daqueles com maturação precoce devido ao fato de serem maiores e mais fortes ocupam pouco tempo na melhoria de suas habilidades. Eles frequentemente se contentam em utilizar seu tamanho no lugar de habilidade e infelizmente esta prática é encorajada por muitos técnicos. Consequentemente indivíduos de maturação precoce se tornam menos bem sucedidos quando os de maturação tardia eventualmente alcançam tamanho similar e desenvolvem força e velocidade similares ou mesmo superiores e eventualmente melhor habilidade.

Sandoval (2005) corrobora os autores supracitados ao considerar de igual maneira a relevância do conhecimento da idade biológica em idades precoces, já que tal informação permite avaliar se o talento em questão está adiantado, normal ou atrasado do ponto de vista biológico. Ainda, o autor reforça que um atleta biologicamente atrasado, mas que expressa resultados esportivos consideráveis para seu desenvolvimento é, sem dúvida, um grande talento esportivo, e,

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por isso, deverá ser tratado com cuidado para que seu avanço biológico e seu futuro como atleta não sejam comprometidos.

Referir-se ao prognóstico da capacidade de um indivíduo alcançar o alto desempenho encaminha a discussão para a necessidade de se ponderar os riscos de erros. Com relação a esse aspecto, Böhme (1995) apresenta uma figura esquemática representativa da realidade da adoção de tal critério.

A partir de informações extraídas da Figura 3, Böhme (1995) relata que a forma oval representa a correlação entre os valores de testes de aptidão, intitulados previsores e os critérios estabelecidos na determinação da aptidão. Os riscos de erros são considerados e determinados na dependência da quota básica hipotética e da selecionada de potenciais talentos.

Figura 3: Riscos de erros do prognóstico de T.E. Böhme (1995) adaptado de Baur (1988) e

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Enquadrados como “prognóstico errado” ou “decisão falsa” estão:

- Campo D: definido como o espaço dos “negativos errados”, o qual refere-se aos indivíduos que demonstraram resultados irrelevantes nos testes e por isso foram excluídos do programa de promoção de talento esportivo, embora tenham sido classificados como aptos e terem chances futuras de sucesso.

- Campo B: estão situados aqui os “positivos errados”, aqueles que por apresentarem altos resultados nos testes foram integrados aos programas de promoção de talento esportivo, mesmo estando na zona de inaptos e com tendência ao fracasso.

Nos campos A e C estão, respectivamente, os “positivos certos” e os “negativos certos”, os primeiros são os que manifestaram alto desempenho nos testes e elevada aptidão, portanto, incluídos no programa e os segundos, são os que apresentaram resultados irrisórios nos testes, sendo considerados inaptos, logo, foram excluídos. Essas são as chamadas “decisões corretas” ou “prognósticos corretos”.

As características úteis para um prognóstico são aquelas que no momento da determinação já disponham de certa estabilidade de desenvolvimento, o que significa ter alta correlação com o valor definitivo para o melhor momento futuro do atleta. Características antropométricas possuem desenvolvimento relativamente estável, sendo que a altura pode ser prevista com boa margem de acerto. (BAUR ,1988, citado por BOHME, 1995)

Matsudo (1999) relata que para se estabelecer o grau de estabilidade, a determinação de coeficientes é a maneira mais prática de realizar o tracking (monitorização). Tracking é utilizado em um contexto de predição e estabilidade, e geralmente é observado por meio de autocorrelações, por isso requer dados longitudinais.

Para uma variável que possui alta estabilidade, a probabilidade de o ambiente influenciar seu comportamento é baixa, logo, seu valor preditivo é elevado. Dentre as medidas antropométricas, a altura corporal apresenta valores entre 0,65 e 0,80 de tracking a partir dos três anos de idade, revelando significativa estabilidade. Portanto, para modalidades em que a estatura é fator decisivo, essa é a variável predominantemente analisada. (MATSUDO, 1999)

A possibilidade de predizer o físico de atletas a partir de uma idade pré-adulta é um assunto complicado, porém intrigante. Características como estatura podem ser bem previstas, entretanto, outras qualidades físicas como aspectos musculares e adiposidade são difíceis de prever.

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Além disso, mudanças dramáticas na composição corporal podem ocorrer durante o processo de crescimento. (HEBBELINCK, 1989)

Embora alguns testes e perfis proporcionem pistas para prognósticos precoces de futuros atletas, Guenter (2000) alerta que a precocidade pode não ser um fator confiável na predição do talento, uma vez que estudos apontam que menos de um terço das pessoas talentosas foram crianças precoces.

A possibilidade de predição do desempenho de um adulto com base em seus resultados quando criança é remota segundo Böhme e Ré (2009). Os autores, assim como Marques (1993) reforçam a concepção de que quanto mais cedo a seleção do atleta for realizada, maior a probabilidade de erro.

Araújo (2004) alega que nunca foram encontrados preditores seguros capazes de garantir prematuramente o desempenho futuro no alto nível, tendo em vista que existe um número variado de possibilidades de interação entre distintos componentes ao longo do tempo de desenvolvimento de um atleta.

Embora testes e variáveis possam existir para contribuir na identificação do talento, este não pode ser detectado com base em um único teste de mensuração, uma vez que ele apenas é parte de um processo de desenvolvimento. (HEBBELINCK, 1989)

A formação do talento esportivo é um processo no qual diversos agentes intervém, como: o próprio esportista, o treinador, comissão técnica, a família, o clube ou equipe que o indivíduo representa, dirigentes, exercendo cada um destes um papel diferente. (INÚRTIA; IGLESIAS, 2010)

No tocante aos numerosos fatores que podem exercer influência sobre o talento esportivo, Rigolin (2006) propõe na Figura 4 uma representação daqueles que considera como sendo intervenientes ao longo do processo.

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Diante do exposto na Figura 4 nota-se claramente a variedade dos fatores influenciadores no desenvolvimento do talento esportivo, compreendendo tanto aspectos intrínsecos quanto extrínsecos ao seu contexto de vida.

Um indivíduo talentoso sujeito a uma rede de influências como esta não tem um desenvolvimento estático, ou seja, não nasce, cresce e morre com os mesmos atributos, pois estes se modificam de acordo com os estímulos que recebe ou com os que deixa de receber.

Segundo Araújo (2004) o talento é epigenético, isto é, começa em um estado relativamente indiferenciado, e, com o passar do tempo, os diversos componentes inatos vão surgindo e diferenciando-se.

Distintos também são os atributos que constituem o talento em uma dada modalidade esportiva, sendo alguns destes mais aparentes e predominantes que outros. Determinadas características já proporcionam ao indivíduo melhores condições para a prática de um esporte em específico, entretanto, é válido enfatizar que as estruturas físicas, neurológicas, fisiológicas não estão diretamente ligadas desde o nascimento a uma modalidade esportiva, estas estruturas emergem gradativamente durante a interação do indivíduo com a prática, e este vai se desenvolvendo dentro de um processo altamente dinâmico. (ARAÚJO, 2004)

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Acerca da dinamicidade do processo e das variáveis intervenientes, Sandoval (2005, p. 459) de forma acertada diz que:

Os fatores determinantes na condução de um talento ao alto rendimento estão relacionados às suas reais condições biológicas e psicológicas, a uma boa saúde e a uma nutrição adequada, a ótimas condições de treinamento esportivo (treinador, instalação esportiva e implementos, roupa e calçado esportivo) e ao sistema de competições, considerando sempre as etapas de crescimento e desenvolvimento do talento, o conhecimento da idade biológica, bem como a situação socioeconômica do talento e da família.

A capacidade de desempenho do indivíduo, sendo este um dos fatores que o conduz e o mantém no seleto meio dos atletas talentosos, é dependente da maneira como são desenvolvidos os pressupostos individuais de desempenho. Tais pressupostos se referem ao potencial de adaptação genética e fenotípica disponível no indivíduo e que lhe permite expressar determinado nível de desempenho. (BOHME; RÉ, 2009)

As condições pessoais diversas às quais os atletas podem estar sujeitos e que refletem diretamente em seu desempenho esportivo e, consequentemente, em sucesso ou não, estão demonstradas na Figura 5.

Figura 5: Esquema das condições pessoais de desempenho e sucesso esportivo (modificado por

Referências

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