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O voleibol é uma modalidade esportiva caracterizada por demandar um trabalho físico dinâmico, de intensidade alternada, em que existem períodos de atividade muscular intensa seguidos de períodos de certo relaxamento. (BARBANTI, 1996)

Rocha (1999) refere-se ao voleibol como sendo de característica intermitente, aonde se tem a alternância entre os momentos em que a bola está em jogo, os chamados rallies, com os

6 Dados disponíveis em: http://italy2014.fivb.org/en/competition/teams/BRA-Brazil/players

7 Tal informação pode ser encontrada na Revista oficial do voleibol brasileiro através do site:

momentos de descanso, pois o jogador não atua de forma contínua ao longo da partida, existe o denominado repouso ativo.

Pode-se dizer, portanto, que uma partida de voleibol é formada pela soma de diversos rallies com durações variadas, o que acaba por conduzir a tempos de sets e partidas também variados, embora seja possível estabelecer um tempo médio de duração que costumam ocorrer.

Em consideração a este aspecto alguns autores preocuparam-se em analisá-los de forma aprofundada com o intuito de contribuir para o entendimento das demandas do voleibol.

A respeito do tempo médio de duração de um rally, Hespanhol (2008) constatou que existem maiores incidências para o intervalo de 0 a 10 segundos (s); quanto à duração média de um set, Oliveira (1998) relata que estaria na faixa de 20 minutos (min) e a duração das partidas para jogos de 3, 4 ou 5 sets girariam em torno de 71,6, 74,4 e 105, 2 min, respectivamente (LOPES et al, 2003).

Logicamente essas são apenas estimativas, tendo em vista que variações ocorrem dentro de uma única partida, assim como em jogos de categorias distintas.

Müller (2009) refere-se ao voleibol como um esporte com intensidade de moderada a alta, de características anaeróbicas aláticas, em virtude das exigências de um rally curto e intenso e a recuperação ativa entre eles, e aeróbio devido ao tempo médio de duração de uma partida.

Os movimentos característicos do jogo de voleibol são rápidos, uma vez que o tempo de contato com a bola é pequeno (BARBANTI, 1996), sendo assim, a necessidade de execução do movimento preciso rapidamente exige que a atleta tenha uma excelente velocidade de reação e de deslocamento, boa capacidade de antecipação e de tomada de decisão.

Acerca disso Müller (2009) relata que pelo contato com a bola ser extremamente rápido, quanto maior for a capacidade para os deslocamentos e a agilidade das jogadoras, melhor será a execução dos fundamentos, visto que cada fundamento exige um deslocamento ou uma postura para contato que lhe é característica.

Bizzocchi (2008) descreve os fundamentos como sendo as habilidades motoras executadas por praticantes de voleibol e que o conjunto deles constitui a técnica da modalidade. Os principais fundamentos são: toque, manchete, saque, cortada, bloqueio e defesa, e as variações em sua utilização ocorrerão de acordo com as situações de jogo.

Em um jogo de vôlei, embora existam as ações de fundo de quadra, para que qualquer ponto ocorra, como condição inicial é preciso que a bola passe sobre a rede, logo, as jogadas

acabam sendo, primeiramente, disputadas no alto, o que demanda algumas características físicas importantes, as quais serão tratadas nos próximos parágrafos. A altura da rede varia de acordo com a categoria e também com o gênero, chegando ao ápice de 2,43 metros (m) no adulto masculino e 2,24m no adulto feminino.8

Em virtude das ações de ataque e bloqueio, e até mesmo dos movimentos de saque e levantamento em suspensão, o saltar verticalmente é uma ação bastante exigida em partidas de voleibol, sendo assim, uma boa capacidade de salto aliada a estatura elevada pode ser uma vantagem interessante para a equipe e representar maior facilidade e sucesso nas ações executadas no alto.

Ugrinowitsch (1997) concorda e comprova a importância dessa ação motora reforçando que é preciso que o jogador possua uma combinação de características, como: excelente impulsão associada à estatura elevada favorece a obtenção de resultados satisfatórios, uma vez que quanto maior a altura do jogador, maior o seu alcance e maior a possibilidade de sucesso nas situações de ataque e bloqueio.

Dentro do contexto de uma partida Kraemer e Häkkinen (2004) relatam que acontecem de 250 a 300 ações de intensidade máxima, sendo que mais de 50% dessas são compostas por saltos verticais. Nesse mesmo caminho, Iglesias (1994) destaca que 60% das ações são saltos e aponta o levantador como aquele que executa o maior número deles. Isso pode ser justificado pelo fato de ser comum a execução do levantamento em suspensão.

MacLaren (1997), por sua vez, constatou que o central é quem efetua o maior número de saltos, o que também é possível, tendo em vista que nesta posição é necessária a execução do bloqueio nas posições dois, três e quatro da quadra, assim como os saltos para ataque e eventuais fintas.

No contexto feminino Esper (2003) cita a ocorrência de 78 saltos em média por set, enquanto que Santos (2008) encontrou o número de 132 saltos por set. Berriel et al. (2004), no contexto masculino, menciona uma média de 117 saltos por set.

8 Federação Internacional de Voleibol (FIVB). Regras oficiais de voleibol. Disponível em:

Com os números apresentados nota-se que a natureza vigorosa da modalidade parece estar relacionada principalmente com os saltos repetidos por longo período de tempo, intercalado com breves períodos de descanso. (MACLAREN, 1997)

Em razão dessas demandas físicas o voleibol da atualidade tem depositado suas tendências para aspectos da preparação física, baseado na força muscular. (MÜLLER, 2009) Além das exigências relacionadas às capacidades físicas de força explosiva, resistência aeróbia e anaeróbia, agilidade, velocidade, potência, importantíssimas para a prática da modalidade, tem-se também como aspecto determinante a estatura, que, somada às capacidades anteriormente citadas resultam em um jogador de voleibol melhor capacitado.

Como forma de ilustração da tendência mundial com respeito a aspectos físicos desejáveis para jogadoras de voleibol, segue na Tabela 1 a verificação da estatura média das atletas das 10 principais seleções, por ordem de classificação, no campeonato mundial de voleibol feminino que aconteceu na Itália em 2014.

9 Dados obtidos através do site da Federação Internacional de Voleibol (FIVB):

http://italy2014.fivb.org/en/competition/teams

Tabela 1: Média das alturas das Seleções do

Mundial feminino de voleibol na Itália em 2014

PAÍS MÉDIA DA ALTURA

Estados Unidos 1,85 China 1,86 Brasil 1,82 Itália 1,81 República Dominicana 1,86 Rússia 1,87 Japão 1,73 Sérvia 1,86 Alemanha 1,83 Turquia 1,87 Média 1,83 Fonte: FIVB, 20149

De acordo com o exposto na Tabela 1 nota-se um elevado padrão na altura das atletas das diferentes seleções, o que acaba por exigir que meninas que almejam um lugar de destaque na modalidade estejam dentro deste padrão.

Embora exista a constatação da relevância da estatura, a Tabela 1 traz outros indicativos. A utilização das médias ocorreu com o intuito de obter-se o conhecimento do panorama existente, contudo, o emprego da média para variáveis como impulsão vertical e estatura pode ser complicado e precisa ser avaliado com cuidado, pois existem circunstâncias em que 1cm acima da média pode fazer diferença, por exemplo, em um ataque que passa por cima do bloqueio.

Por outro lado, é também importante salientar que estar no padrão ou acima dele não garante a uma equipe estar entre os primeiros em uma competição.

Segundo os dados da Tabela 1 há três Seleções que se encontram abaixo da média, Brasil, Itália e Japão, essa com uma diferença considerável em relação às demais. Entretanto, se analisarmos, a título de exemplo, a Seleção Brasileira nesse contexto, mesmo possuindo valores abaixo da média terminou a competição em uma posição de destaque. Tal constatação direciona à reflexão de que, embora a altura seja um fator importante, não é o único, pois a inteligência, a habilidade, o domínio dos fundamentos, o controle emocional, dentre outros aspectos inerentes ao jogo também contribuem para a construção de um resultado favorável.

O jogo de voleibol caracteriza-se por exigir ações rápidas, sendo assim, uma equipe com um padrão não tão elevado de estatura, mas que é capaz de “jogar com o bloqueio” com inteligência, que possui uma levantadora habilidosa e que deixa suas companheiras de equipe com o bloqueio simples, que contém uma defesa ágil e consistente, pode conseguir compensar mediante esses aspectos e assim também obter sucesso.

Já é notável no contexto brasileiro, quando se analisa o padrão de estatura de atletas das Seleções das categorias de base, um planejamento que visa agregar atletas que atendam às exigências do voleibol mundial. Na Tabela 2 estão apresentados alguns dados que comprovam a tal afirmação.

Tabela 2: Média e desvio padrão das alturas das atletas das

Seleções femininas Brasileiras.

SELEÇÃO MÉDIA E DESVIO PADRÃO DA ALTURA

Seleção Infantil 1,83 ± 0,05 Seleção Infanto-juvenil 1,80 ± 0,05 Seleção Juvenil 1,82 ± 0,05 Seleção de Novos 1,86 ± 0,03 Média 1,82 Fonte: CBV10

Segundo as informações expostas acerca da média da estatura e os baixos valores de desvio padrão, verifica-se certa uniformidade dessa característica física de atletas de voleibol desde as categorias de base, o que oferece indicativos claros do seguimento da tendência mundial e das especificidades que a modalidade exige.

No entanto, esta não é uma tarefa simples para a realidade do Brasil, uma vez que a altura média da população feminina no país, segundo dados do IBGE11, encontra-se em torno de

1,60m, ou seja, valor consideravelmente inferior ao desejável. Dessa forma, para o voleibol a busca é pelos extremos populacionais, menos frequentes.

Müller (2009) organizou um esquema, o qual está representado na Figura 7, no qual sintetiza competências que, em seu ponto de vista, uma atleta de voleibol precisa apresentar.

10 Dados obtidos no ano de 2014 através do site da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV):

www.cbv.com.br

11Informação obtida através do site do IBGE:

De acordo com a Figura 7 um jogador de voleibol deve possuir uma formação baseada no relacionamento entre quatro competências: técnicas, táticas, físicas e psicológicas, sendo que cada uma dessas produz algum tipo de influência no aprendizado, desenvolvimento e, consequentemente, na performance.

Seria plausível acrescentar competência cognitiva, sendo esta direcionada para a questão da inteligência da atleta, de seu entendimento do jogo, de como é capaz de estruturar suas percepções e criatividade de forma a produzir resultados favoráveis. Tendo esta certa proximidade com a dimensão psicológica.

Dentre os aspectos físicos assinalados a coordenação também poderia estar presente, já que esta é uma capacidade de extrema importância para a execução das ações do voleibol que exigem precisão.

Bizzocchi (2008), a respeito dos elementos técnicos, além dos já mencionados por Müller (2009) adiciona os denominados recursos. Recursos são ações variáveis empregadas quando a execução dos fundamentos básicos do jogo não é possível de ser realizada de maneira eficaz.

Em uma partida estão disponíveis os recursos de ataque, que são: “explorada”, que é quando o jogador ataca no bloqueio adversário de tal forma que a bola vai para fora; “largada”, que consiste em um gesto sutil que rapidamente transforma uma cortada em um leve toque com a ponta dos dedos; “meia-força”, semelhante ao ataque, porém caracteriza-se como o movimento de ataque desacelerado. Além destes existem os recursos do levantador, que compreendem a largada de segunda, o ataque de segunda e a simulação de ataque (levantador gira o corpo como se fosse atacar, mas efetua o levantamento para o atacante que está ao seu lado). (BIZZOCCHI, 2008)

Em referência aos aspectos táticos, Bizzocchi (2008) expõe um quadro ainda mais amplo, pois além dos sistemas de jogo (6x0, 4x2, 5x1) enquadra os sistemas de recepção (recepção realizada por cinco, quatro, três ou dois jogadores), as formações ofensivas, as fintas (individuais e coletivas), a proteção de ataque (cobertura de bloqueio), uso tático do saque e as formações defensivas.

Perante o exposto acerca das particularidades do voleibol, de suas demandas e exigências e se considerarmos a expressão “tornar o vôlei uma modalidade viável” utilizada por Marchi Junior (2003), mesmo que direcionada ao contexto brasileiro, mas sendo aplicável a outros, veremos que as inúmeras mudanças ocorridas na regra ao longo dos anos tornaram o voleibol um esporte diferente do criado em 1985.

Dentre tantas modificações ocorridas, algumas das mais visíveis são: a alteração do sistema de pontuação que deixou de ser até 15 pontos com vantagem e passou a ser por pontos a cada rally (Rally-Point System) com sets de 25 pontos e tie-break de 15 pontos; a inclusão do líbero, sendo hoje permitida a escalação de até dois líberos na partida, contudo somente um atua e quando substituído, não pode regressar; o fato de não ter dois toques na primeira bola; permissão para invadir a quadra adversária com qualquer parte do corpo, desde que uma parte dos pés esteja sobre a linha central ou em sua quadra e desde que não interfira na ação do adversário.

Essas alterações foram importantes porque transformaram o voleibol em um jogo com menos interrupções, mais imprevisível, mais rápido, dinâmico, exigindo do jogador maior rapidez e eficiência em sua leitura do jogo e tomada de decisão. Além disso, contribuíram para o aumento do volume do jogo, tornando-o, dessa forma, mais atrativo e televisivo.

Diante de tantas mudanças a necessidade da construção de táticas de jogo inteligentes e imprevisíveis, capazes de explorar o máximo do potencial da equipe e superar o plano de ação adversário se torna ainda mais aparente e determinante. Dessa maneira, a equipe que consegue aliar

atletas com o biótipo ideal, com habilidade e domínio dos fundamentos e com inteligência tática, possui em suas mãos boas condições de sucesso na modalidade.