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Detecção, seleção e desenvolvimento de talentos esportivos

Os termos detecção, seleção e desenvolvimento de talentos esportivos fazem parte de um processo no qual uma etapa complementa ou é pré-requisito para a seguinte. Em determinados momentos suas implicações e objetivos podem até se confundir, entretanto, será possível verificar que cada fase carrega consigo direcionamentos específicos, embora possam ocorrer dentro de uma mesma etapa.

Hebbelinck (1989) considera que a busca, identificação, seleção e desenvolvimento de talentos deveriam ser vistos como complementares e inseparáveis, sendo partes de um planejamento estratégico que caminha respeitando todas essas etapas até chegar ao alto nível de rendimento.

Confirmando tal assertiva, Böhme (1995) relata que a detecção, seleção e, consequentemente a promoção do talento esportivo estão balizadas em como é realizada a sua determinação, estando elas inter-relacionadas.

De acordo com Böhme (2000) detecção de talento, que tem como palavras sinônimas, busca, procura, refere-se a todas as medidas e meios utilizados com o objetivo de encontrar um número suficientemente grande de pessoas, normalmente crianças e adolescentes, que estão dispostas e relativamente prontas para serem inseridas em um programa de formação esportiva, que pode ser geral ou específico por modalidade.

Com relação à seleção de talentos esportivos, estariam relacionados os meios utilizados para a determinação dos indivíduos que possuem condições de serem admitidos em níveis mais altos do treinamento a longo prazo.

Já a promoção, que pela sua definição também poderia ser entendida como desenvolvimento de talentos esportivos, englobaria o uso de procedimentos de treinamento e outras medidas para atingir o desempenho esportivo ótimo, ideal a longo prazo.

Para Gagné (2004) o desenvolvimento do talento corresponde à transformação de habilidades naturais marcantes – ou aptidões – dentro de habilidades características de um campo ocupacional particular.

Na busca do talento, de acordo com Matsudo (1999), um ponto fundamental é estabelecer os melhores indicadores, tanto presentes quanto futuros, de desempenho do indivíduo.

A respeito de critérios de desempenho, Böhme (1995) destaca dois quesitos importantes, contudo identificados como problemáticos: o primeiro seria os critérios em si, e o segundo seria o prognóstico de desempenho.

Com relação ao estabelecimento de critérios, como ponto de partida é necessário o conhecimento aprofundado das características que compreendem determinada modalidade esportiva e, diante disso, o perfil que se espera dos atletas, para que assim se estabeleça de maneira fidedigna o que, e como procurar.

Este tópico torna-se problemático a partir do momento em que aqueles que teoricamente deveriam possuir todo o entendimento da modalidade esportiva que dirige, na prática não o tem, e, dessa maneira, acabam por estabelecer critérios de detecção, seleção e de desempenho equivocados, e, consequentemente desperdiçam ou destroem o futuro de atletas em potencial.

Sobre esta contundente influência do treinador sobre a carreira esportiva do atleta, De Rose Junior (2013) ressalta que o treinador de categorias de base tem papel fundamental para o desenvolvimento do jovem atleta na prática de sua modalidade, ao passo que também pode ser o agente desestabilizador de todo o processo. O entendimento do treinador sobre todas as etapas do processo e a aplicabilidade apropriada dos critérios de ação é essencial para o não desperdício de atletas em potencial.

Hebbelinck (1989) já na década de 80 apontava para a questão das particularidades de cada esporte e como estas deveriam ser minuciosamente pensadas no estabelecimento dos critérios para a seleção dos futuros atletas.

A esse respeito, Matsudo (1999) alega que, de forma geral, o perfil do desportista é obtido comparando seus resultados com padrões de referência que estejam mais próximos da média populacional. Entretanto, em referência à busca de talentos, as variáveis que apresentam resultados distantes das médias populacionais, entendendo-se aqui um afastamento para valores positivos que se sobressaem da média, são as consideradas importantes, e a que mais se destaca é declarada a “variável crítica”.

Os parâmetros de comparação normalmente adotados são: a) perfil da equipe ou da modalidade como um todo; b) perfil de um grupo específico de atletas com determinada função em esportes coletivos (por exemplo: levantadora, central, oposta, no caso do voleibol) e c) perfil individual do atleta. (MATSUDO, 1999)

Sandoval (2005), no tocante aos padrões comparativos no ato e no processo de seleção de talento esportivo, atenta para uma questão relevante ao apontar que se deve caracterizar não apenas o grupo esportista, mas também a população não esportiva, ou seja, avaliar qual o contexto normal da população em que o indivíduo está inserido, uma vez que dependendo das características desta se conseguirá com mais facilidade ou não encontrar atletas com o perfil desejável.

Com relação à problemática do prognóstico do desempenho, a dificuldade em adotar tal critério está no fato de que, como visto anteriormente, o sujeito sofre a influência de inúmeros fatores ao longo do seu desenvolvimento, logo, não é um processo linear. Desse modo, embora exista um conhecimento aprofundado dos aspectos gerais do desenvolvimento do ser humano, assim como de dados sobre resultados do passado e presente do atleta sobre os quais se pode prever a mais alta capacidade de desempenho que um indivíduo poderá chegar, ainda assim não se caracteriza como um critério totalmente seguro, já que não é possível prever adversidades ou desvios ao longo do caminho.

Vale ressaltar que as características visadas na determinação do talento são dependentes de diferentes fatores constitucionais, sociais, físicos, psicológicos e da capacidade de desempenho da idade biológica, logo, todos estes devem ser ponderados. (BÖHME, 1995)

Ainda, segundo Böhme (1995), atenção especial precisa ser destinada ao desempenho referente à idade biológica, pois os resultados de testes executados não podem ser considerados como prognóstico completamente correto, uma vez que os dados representam mais a condição do momento do que realmente as possibilidades potenciais de desenvolvimento do jovem atleta.

Para a avaliação da idade biológica Sandoval (2005) descreve três possíveis métodos: a) idade óssea, obtida através da análise dos ossos do carpo da mão esquerda, considerada a mais exata, contudo de alto custo; b) caracteres sexuais secundários, por meio de avaliação qualificada ou autoavaliação, sendo mais rápido e fácil de ser realizado, porém menos preciso e c) idade morfológica, realizada por antropometria, rápida, efetiva e classificada como o melhor indicador para avaliação da idade biológica nos programas de detecção de talentos.

A análise da maturação biológica se faz importante quando a relação entre idade biológica e cronológica é colocada em pauta. Matsudo (1999) destaca que, como a detecção de talentos é realizada normalmente com crianças ou peripubertários, a maturação deve ser sempre medida, pois os resultados nas variáveis são mais dependentes da idade biológica do que da cronológica.

Inserida nesse contexto está a problemática da relação entre a maturação precoce e tardia e a seleção de atletas, acerca da qual Hebbelinck (1989, p. 53) esboça uma preocupação pertinente:

Podemos estar equivocados quando observamos as capacidades de desempenho de meninas e meninos de maturação precoce, porque eles frequentemente apresentam melhor desempenho que seus correspondentes da mesma faixa etária. Entretanto, esta vantagem em tamanho e força nem sempre permanece quando eles atingem a maturação final. Indivíduos de maturação tardia que não abandonam a prática esportiva devido a desmotivação ou insucessos repetidos, gastam frequentemente uma grande quantidade de tempo na aquisição de habilidades para que possam competir. Em contraste, muitos daqueles com maturação precoce devido ao fato de serem maiores e mais fortes ocupam pouco tempo na melhoria de suas habilidades. Eles frequentemente se contentam em utilizar seu tamanho no lugar de habilidade e infelizmente esta prática é encorajada por muitos técnicos. Consequentemente indivíduos de maturação precoce se tornam menos bem sucedidos quando os de maturação tardia eventualmente alcançam tamanho similar e desenvolvem força e velocidade similares ou mesmo superiores e eventualmente melhor habilidade.

Sandoval (2005) corrobora os autores supracitados ao considerar de igual maneira a relevância do conhecimento da idade biológica em idades precoces, já que tal informação permite avaliar se o talento em questão está adiantado, normal ou atrasado do ponto de vista biológico. Ainda, o autor reforça que um atleta biologicamente atrasado, mas que expressa resultados esportivos consideráveis para seu desenvolvimento é, sem dúvida, um grande talento esportivo, e,

por isso, deverá ser tratado com cuidado para que seu avanço biológico e seu futuro como atleta não sejam comprometidos.

Referir-se ao prognóstico da capacidade de um indivíduo alcançar o alto desempenho encaminha a discussão para a necessidade de se ponderar os riscos de erros. Com relação a esse aspecto, Böhme (1995) apresenta uma figura esquemática representativa da realidade da adoção de tal critério.

A partir de informações extraídas da Figura 3, Böhme (1995) relata que a forma oval representa a correlação entre os valores de testes de aptidão, intitulados previsores e os critérios estabelecidos na determinação da aptidão. Os riscos de erros são considerados e determinados na dependência da quota básica hipotética e da selecionada de potenciais talentos.

Figura 3: Riscos de erros do prognóstico de T.E. Böhme (1995) adaptado de Baur (1988) e

Enquadrados como “prognóstico errado” ou “decisão falsa” estão:

- Campo D: definido como o espaço dos “negativos errados”, o qual refere-se aos indivíduos que demonstraram resultados irrelevantes nos testes e por isso foram excluídos do programa de promoção de talento esportivo, embora tenham sido classificados como aptos e terem chances futuras de sucesso.

- Campo B: estão situados aqui os “positivos errados”, aqueles que por apresentarem altos resultados nos testes foram integrados aos programas de promoção de talento esportivo, mesmo estando na zona de inaptos e com tendência ao fracasso.

Nos campos A e C estão, respectivamente, os “positivos certos” e os “negativos certos”, os primeiros são os que manifestaram alto desempenho nos testes e elevada aptidão, portanto, incluídos no programa e os segundos, são os que apresentaram resultados irrisórios nos testes, sendo considerados inaptos, logo, foram excluídos. Essas são as chamadas “decisões corretas” ou “prognósticos corretos”.

As características úteis para um prognóstico são aquelas que no momento da determinação já disponham de certa estabilidade de desenvolvimento, o que significa ter alta correlação com o valor definitivo para o melhor momento futuro do atleta. Características antropométricas possuem desenvolvimento relativamente estável, sendo que a altura pode ser prevista com boa margem de acerto. (BAUR ,1988, citado por BOHME, 1995)

Matsudo (1999) relata que para se estabelecer o grau de estabilidade, a determinação de coeficientes é a maneira mais prática de realizar o tracking (monitorização). Tracking é utilizado em um contexto de predição e estabilidade, e geralmente é observado por meio de autocorrelações, por isso requer dados longitudinais.

Para uma variável que possui alta estabilidade, a probabilidade de o ambiente influenciar seu comportamento é baixa, logo, seu valor preditivo é elevado. Dentre as medidas antropométricas, a altura corporal apresenta valores entre 0,65 e 0,80 de tracking a partir dos três anos de idade, revelando significativa estabilidade. Portanto, para modalidades em que a estatura é fator decisivo, essa é a variável predominantemente analisada. (MATSUDO, 1999)

A possibilidade de predizer o físico de atletas a partir de uma idade pré-adulta é um assunto complicado, porém intrigante. Características como estatura podem ser bem previstas, entretanto, outras qualidades físicas como aspectos musculares e adiposidade são difíceis de prever.

Além disso, mudanças dramáticas na composição corporal podem ocorrer durante o processo de crescimento. (HEBBELINCK, 1989)

Embora alguns testes e perfis proporcionem pistas para prognósticos precoces de futuros atletas, Guenter (2000) alerta que a precocidade pode não ser um fator confiável na predição do talento, uma vez que estudos apontam que menos de um terço das pessoas talentosas foram crianças precoces.

A possibilidade de predição do desempenho de um adulto com base em seus resultados quando criança é remota segundo Böhme e Ré (2009). Os autores, assim como Marques (1993) reforçam a concepção de que quanto mais cedo a seleção do atleta for realizada, maior a probabilidade de erro.

Araújo (2004) alega que nunca foram encontrados preditores seguros capazes de garantir prematuramente o desempenho futuro no alto nível, tendo em vista que existe um número variado de possibilidades de interação entre distintos componentes ao longo do tempo de desenvolvimento de um atleta.

Embora testes e variáveis possam existir para contribuir na identificação do talento, este não pode ser detectado com base em um único teste de mensuração, uma vez que ele apenas é parte de um processo de desenvolvimento. (HEBBELINCK, 1989)

A formação do talento esportivo é um processo no qual diversos agentes intervém, como: o próprio esportista, o treinador, comissão técnica, a família, o clube ou equipe que o indivíduo representa, dirigentes, exercendo cada um destes um papel diferente. (INÚRTIA; IGLESIAS, 2010)

No tocante aos numerosos fatores que podem exercer influência sobre o talento esportivo, Rigolin (2006) propõe na Figura 4 uma representação daqueles que considera como sendo intervenientes ao longo do processo.

Diante do exposto na Figura 4 nota-se claramente a variedade dos fatores influenciadores no desenvolvimento do talento esportivo, compreendendo tanto aspectos intrínsecos quanto extrínsecos ao seu contexto de vida.

Um indivíduo talentoso sujeito a uma rede de influências como esta não tem um desenvolvimento estático, ou seja, não nasce, cresce e morre com os mesmos atributos, pois estes se modificam de acordo com os estímulos que recebe ou com os que deixa de receber.

Segundo Araújo (2004) o talento é epigenético, isto é, começa em um estado relativamente indiferenciado, e, com o passar do tempo, os diversos componentes inatos vão surgindo e diferenciando-se.

Distintos também são os atributos que constituem o talento em uma dada modalidade esportiva, sendo alguns destes mais aparentes e predominantes que outros. Determinadas características já proporcionam ao indivíduo melhores condições para a prática de um esporte em específico, entretanto, é válido enfatizar que as estruturas físicas, neurológicas, fisiológicas não estão diretamente ligadas desde o nascimento a uma modalidade esportiva, estas estruturas emergem gradativamente durante a interação do indivíduo com a prática, e este vai se desenvolvendo dentro de um processo altamente dinâmico. (ARAÚJO, 2004)

Acerca da dinamicidade do processo e das variáveis intervenientes, Sandoval (2005, p. 459) de forma acertada diz que:

Os fatores determinantes na condução de um talento ao alto rendimento estão relacionados às suas reais condições biológicas e psicológicas, a uma boa saúde e a uma nutrição adequada, a ótimas condições de treinamento esportivo (treinador, instalação esportiva e implementos, roupa e calçado esportivo) e ao sistema de competições, considerando sempre as etapas de crescimento e desenvolvimento do talento, o conhecimento da idade biológica, bem como a situação socioeconômica do talento e da família.

A capacidade de desempenho do indivíduo, sendo este um dos fatores que o conduz e o mantém no seleto meio dos atletas talentosos, é dependente da maneira como são desenvolvidos os pressupostos individuais de desempenho. Tais pressupostos se referem ao potencial de adaptação genética e fenotípica disponível no indivíduo e que lhe permite expressar determinado nível de desempenho. (BOHME; RÉ, 2009)

As condições pessoais diversas às quais os atletas podem estar sujeitos e que refletem diretamente em seu desempenho esportivo e, consequentemente, em sucesso ou não, estão demonstradas na Figura 5.

Figura 5: Esquema das condições pessoais de desempenho e sucesso esportivo (modificado por

Ao que foi ilustrado na Figura 5 tem-se o indivíduo com todos os sistemas que o compreende e que estão sujeitos a alterações no decorrer do processo de crescimento e maturação. Modificações tornam-se visíveis na medida em que o sujeito cresce fisicamente e se desenvolve em seus sistemas orgânicos. Concomitantemente a esse processo, as condições de aptidão física e de capacidade de execução das técnicas e habilidades específicas de determinada modalidade esportiva também estão sendo aprimoradas, assim como aspectos atitudinais referentes à forma como o indivíduo reage diante das dificuldades durante seu processo de formação, tudo isso encaminhando para o nível de desempenho e sucesso que alcança.

Böhme (2000) destaca que todo o processo de desenvolvimento do talento esportivo deve estar associado ao treinamento a longo prazo e ser dependente de distintos aspectos, partindo desde o micro sistema social do jovem atleta em potencial, dentro do qual está a escola, a família e sua disponibilidade para participar de um programa de formação esportiva; o meio sócio-político- cultural, no qual se enquadra o contexto em que vive e o valor que a modalidade esportiva que pratica recebe, fatores estes que oportunizarão ou não condições para a prática (materiais esportivos, instalações, local, profissionais capacitados)

Sandoval (2005) sobre a detecção do talento esportivo ressalta que é um processo dinâmico e de longo prazo que se consolida com o treinamento esportivo, com o planejamento e controle individualizados e cuidadosos. Aqui a detecção é entendida como um processo e não somente como uma etapa única realizada em certo momento. Diferentemente do que acontece em outras circunstancias em que a detecção e seleção são realizadas em um dia ou uma semana de “peneira”.

Ruiz (2010), seguindo a perspectiva do processo, reforça que para a existência de atletas de sucesso, que sejam capazes de atingir a elite esportiva é necessário que estes passem por um caminho em que existe a correta detecção dos candidatos “potencialmente agraciado”, um eficiente sistema de seleção e inclusão ao programa e o desenvolvimento de um processo de treinamento adequado que permita aos sujeitos selecionados evoluir com o tempo de prática e torna-los aptos ao alto nível de performance.

O treinamento a longo prazo é declarado como uma estratégia mais efetiva para a formação de atletas do que uma eventual detecção e seleção precoces. (BOHME; RÉ, 2009)

As gerações de futuros atletas formadas para o esporte de rendimento em diversas modalidades e níveis de competição são profundamente dependentes do treinamento a longo prazo.

Nesse contexto de exposição a um programa planejado e sistemático deve ser estimado o período de vida que o ser humano se encontra, ou seja, em uma fase ativa de mudanças biopsicossociais decorrentes de seu desenvolvimento (crescimento e maturação). Soma-se a isso a importância de considerar-se os aspectos pedagógicos adequados, uma vez que todo o processo influencia de forma direta na formação do jovem atleta. (BOHME, 2000)

Fortalecendo esse enfoque, Böhme e Ré (2009, p. 175) apresentam a seguinte perspectiva:

A formação de talentos esportivos visa desenvolver todo o potencial esportivo dos jovens por meio do treinamento a longo prazo. Para isso, são necessários paciência e esforço por parte do praticante, métodos pedagógicos de treinamento adequados e também apresentação de sucessos competitivos no decorrer do processo, de forma gradativa e, principalmente, sem “queimar” etapas do processo de treinamento.

Em trabalhos que visam um planejamento a longo prazo, a evolução por etapas é o caminho julgado ideal, contudo a realidade encontrada na prática é costumeiramente diferente, pois a sobreposição de etapas é a ação mais comum.

O modelo apresentado na Figura 6 contribui para uma visão clara sobre este assunto.

De maneira sucinta, a formação básica geral corresponde ao primeiro nível do treinamento a longo prazo, no qual estariam inseridas crianças no período da grande infância. Nessa

Figura 6: Modelo de formação esportiva a longo prazo de Böhme (2000) adaptado de

fase a criança deveria ser estimulada a expandir seu repertório motor através de vivências simples e combinadas, enfatizando o desenvolvimento da coordenação motora. A escola, por meio da educação física curricular e extracurricular, exerce papel fundamental nesse estágio.

Na sequência estaria o período de treinamento básico, apto a ser desenvolvido em escolas, clubes ou outros locais de prática esportiva. Nessa fase o indivíduo começa a dar seus primeiros passos em determinada modalidade esportiva, criando as condições básicas para a etapa seguinte de formação específica, voltada já para o aprimoramento e especialização na modalidade escolhida. Após muitos anos de prática e passadas todas as fases o atleta atinge o alto nível, onde considera-se o ápice de seu rendimento. (BOHME, 2000)

Como apresentado, o ideal seria que essas etapas ocorressem de maneira equilibrada, respeitando-se os tempos destinados a cada uma, entretanto, na realidade que se tem, e que está exposta na Figura 6, normalmente as crianças começam a ter contato com vivências de atividade física em idades avançadas, dessa forma, os responsáveis pelo treinamento precisam buscar estratégias para compensar a diminuição do tempo agora destinado para cada etapa da formação esportiva e, por isso, acabam sobrepondo etapas.

Müller (2009) propõe uma metáfora em que relaciona a carreira esportiva de um atleta