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Direito do trabalho: o contrato do atleta profissional de futebol e suas especificidades

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

LEONARDO PRESTES DEBESAITYS

DIREITO DO TRABALHO: O CONTRATO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL E SUAS ESPECIFICIDADES

Ijuí (RS) 2017

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LEONARDO PRESTES DEBESAITYS

DIREITO DO TRABALHO: O CONTRATO DO ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL E SUAS ESPECIFICIDADES

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais – DCJS.

Orientador: MSc. Paulo Marcelo Scherer

Ijuí (RS) 2017

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Este trabalho é dedicado a todas as pessoas que me apoiaram e acreditaram na minha capacidade no percurso da minha jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais Gedovar e Jaqueline, que sempre estiveram ao meu lado, dando todo o apoio necessário, de forma emocional me incentivando e dando força para eu seguir meus sonhos, de modo a concluir o curso de graduação em direito. Sou muito grato a eles por nunca deixarem de me ajudar e incentivar, principalmente nos momentos difíceis.

Agradeço, também, ao meu orientador, Paulo Marcelo Scherer, pela sua disponibilidade e capacidade, que tornou possível a conclusão desta monografia.

Por último, mas não menos importante, agradeço a Deus, por me ajudar a superar as dificuldades nesta caminhada e abençoar os meus planos e claro a todas as pessoas que participaram da minha jornada e de certa forma contribuíram para que eu chegasse até aqui.

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“Eu quero ver gol eu quero ver gol não precisa ser de placa eu quero ver gol”.

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RESUMO

A presente monografia tem por objetivo analisar o direito do trabalho conjuntamente com sua evolução histórica, fazendo um paralelo com a atividade laboral do atleta profissional de futebol e suas especificidades. O estudo foi realizado com base em leituras bibliográficas e textos que refletem a matéria pesquisada, fazendo assim, um levantamento histórico do direito do trabalho desde sua criação fazendo distinções entre o trabalhador comum e o atleta profissional de futebol, trazendo o surgimento do futebol, sua regulamentação nas leis do país. Outros aspectos específicos abordados sobre o atleta e sua profissionalização são a forma como é remunerado, os direitos e deveres que possuem com a entidade que prestam seus serviços, a duração do contrato de trabalho. Ainda estuda-se casos práticos que tiveram que ser resolvidos tanto na justiça desportiva como na trabalhista, trazendo ainda uma distinção sobre ambas as justiças, a fim de esclarecer em que casos pode se utilizar uma ou outra. Por fim, levantam-se o que representam as instituições CBF e FIFA e seus respectivos deveres a serem cumpridos.

Palavras-chave: Direito do Trabalho. Futebol. Especificidades. Legislação Desportiva. Contrato de Trabalho.

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ABSTRACT

The objective of this monograph is to analyze the labor law in conjunction with its historical evolution, making a parallel with the work activity of the professional soccer athlete and its specificities. The study was carried out based on bibliographical readings and texts that reflect the researched material, thus making a historical survey of the labor law since its creation making distinctions between the common worker and the professional soccer athlete, bringing the emergence of football, its Regulation in the laws of the country. Other specific aspects about the athlete and their professionalization are the way in which they are remunerated, the rights and duties they have with the entity that provides their services, the duration of the employment contract. Practical cases that have had to be solved both in sport and labor courts have yet to be studied, and a distinction has to be made between both cases, in order to clarify in which cases one or the other may be used. Finally, the CBF and FIFA institutions and their respective duties to be fulfilled stand up.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ... 10

1.1 Evolução histórica do direito do trabalho ... 10

1.2 O atletismo amador e profissional no Brasil ... 14

1.3 O surgimento do futebol ... 15

1.3.1 Charles Miller ... 19

1.3.2 Primeiras equipes ... 21

1.4 A legislação do atleta profissional ... 22

2 AS ESPECIFICIDADES DO CONTRATO DE TRABALHO ... 28

2.1 Elementos do contrato de trabalho do jogador de futebol ... 28

2.2 Remuneração, duração, direito de imagem e especificidades do atleta profissional ... 32

2.2.1 Direito de arena e imagem ... 33

2.2.2 Adicional noturno ... 35

2.2.3 Justiça desportiva e justiça do trabalho ... 36

2.3 Atletas e clubes, casos de extinção não amigável ... 38

2.3.1 O caso Leandro Amaral x Vasco da Gama ... 38

2.3.2 Ronaldinho Gaúcho x Grêmio ... 39

2.3.3 Junior Baiano x Internacional ... 40

2.4 O regramento das entidades CBF e FIFA ... 41

CONCLUSÃO ... 45

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INTRODUÇÃO

O trabalho ocorre desde que o homem existe. É inerente a condição humana que se trabalhe para a própria subsistência da humanidade. Em regra este trabalho ocorre no anonimato, sem grande repercussão. A exceção ocorre em algumas atividades nas quais a visibilidade é grande, conferindo aos atores uma condição peculiar de trabalho. A análise de uma destas situações fundamentou este estudo, os atletas de futebol, que devido ao apelo popular e visibilidade conferem aos atletas envolvidos o “status” de figura pública. Portanto a análise das relações de trabalho aos atletas de futebol é o objeto a ser analisado.

O direito do trabalho é um ramo que se utiliza de contratos de trabalho por tempo indeterminado e por tempo determinado. No entanto, sempre há exceções, como é o caso dos atletas profissionais de futebol, que não são dotados de especificidades da CLT e sim por leis esparsas, tornando o mesmo diferente de qualquer contrato individual previsto em nossa consolidação. Assim, torna-se importante fazer uma construção histórica de como se formou o direito do trabalho para fazer a distinção para as leis desportivas.

É também abordado o aspecto de outros esportes como o atletismo amador e profissional, ou seja, tenta-se verificar qual outra modalidade desportiva assemelha-se na forma da profissionalização para a modalidade futebol. Quanto ao futebol, é feito, também, um levantamento histórico desde seu surgimento até os dias atuais, perfazendo o caminho da chegada do esporte ao país, e como se expandiu esta prática desportiva, o surgimento das primeiras equipes no país, quem trouxe o futebol para nossa terra.

Ainda, no primeiro capítulo é abordada a legislação do atleta profissional, trazendo assim os primeiros diplomas utilizados para normatizar os direitos e deveres que cada um tem

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com a entidade desportiva com a prestação de seus serviços. Com isso, são ilustradas as leis esparsas que regulam e dão direitos aos atletas, como a Lei Zico (8.672/93), Lei Pelé (9.615/98), entre outras leis mencionadas.

O segundo capítulo faz uma análise mais específica das especificidades do contrato de trabalho do atleta profissional de futebol, no qual são verificados os elementos que precisam estar previstos no contrato, trazendo o conceito de empregado e empregador, o prazo máximo do contrato, como o primeiro contrato de trabalho dos jogadores aos 16 anos de idade. Ainda, tenta-se verificar como são constituídas as verbas salariais, como suas bonificações e outros títulos que englobam a remuneração, de forma a ser analisada a composição de remuneração dos atletas, com seus adicionais como o direito de imagem entre outros.

Além disso, verifica-se a distinção entre a justiça desportiva e a justiça do trabalho tentando demonstrar quando cada uma é utilizada, assim como casos que precisaram ser resolvidos através do poder judiciário, finalizando com os regramentos da CBF e da FIFA que são analisados, sua estrutura, as transferências de atletas tanto internacionalmente como nacionalmente, ainda uma breve explanação sobre as instâncias judiciárias que cada ente se configura.

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1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A formação histórica do direito do trabalho se constitui de grandes transformações e grandes avanços, perpassando seu desenvolvimento por fatores de grande relevância histórica, os quais veremos a seguir, fazendo com que o direito do trabalho surja para dissolver inúmeras dessas desigualdades que surgem ao longo do tempo entre empregadores e empregados.

Em todo o período da história, o homem arcaico é conduzido diretamente pela necessidade de satisfazer a fome e a segurança pessoal. O próprio, caça pesca, luta contra o meio físico, contra os animais e contra seus semelhantes, sendo seu próprio corpo e mão, seu único meio de trabalho.

O direito do trabalho surgiu como consequência da questão social que foi precedida da Revolução Industrial do século XVIII e da reação humanista que se propôs ao garantir ou preservar a dignidade do ser humano ocupado no trabalho das indústrias, que deram uma nova filosofia, um novo modo de desenvolvimento ao processo de produção de bens.

1.1 Evolução histórica do direito do trabalho

A evolução histórica do direito do trabalho tem seu primeiro marco a escravidão, que existia a 4.000 anos antes de Cristo, persistindo por um longo período histórico. Durante a idade Média, entre os séculos X e XV, observou-se três categorias de trabalhadores, os vassalos, que recebiam ordens dos senhores feudais, os servos da gleba, que serviram como moeda de troca e pagamentos de débitos, e os artesãos, que trabalham como comerciantes por conta própria.

Com o passar dos anos, essas três categorias de trabalhadores, transformaram-se em outras categorias, ou seja, o período da idade Média foi deixado para trás, conjuntamente com os trabalhadores da época, vindo assim o período da idade Moderna, entre os séculos de XV à XVIII, trazendo consigo o grande auge dos artistas plásticos com seu renascimento artístico. Ainda, com o desenvolvimento de novas técnicas de trabalho e a exploração de novas áreas de

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trabalho nascem as fábricas, que com a globalização toma grandes proporções, assim como o direito do trabalho.

O Direito do Trabalho se efetiva com a Revolução Industrial, no século XVIII, pois neste período ocorre uma transformação na forma de constituição da mão de obra, com o fim do regime de escravidão esta mão de obra não estava mais disponível, ampliando-se o trabalho assalariado, emergindo a numerosa categoria de empregados, porém com baixa remuneração e poucos direitos, pois os empregadores das fábricas precisavam de mão de obra barata para dar tanto manutenção as máquinas, como pessoas para manusear as mesmas.

Outro ponto bastante relevante foi a Primeira Guerra Mundial, em meados de 1918, pois após seu término houve a inclusão, nas Constituições, de direitos e garantias trabalhistas, assim como à defesa de interesses sociais. Ainda, com o fim da Primeira Guerra Mundial, foi assinado o Tratado de Versalhes que em 1919 criou a OIT, sendo que esta organização adotou convenções, sendo a primeira sobre o fator a jornada de trabalho, impondo um limite para o período de 8 horas diárias e 48 horas semanais de trabalho.

Assim, as diversas leis esparsas e tratados, que legislavam e davam base para seguir as normas, deram origem em 1º de maio de 1943 a nossa CLT, que significam as Consolidações de Leis do Trabalho.

Com isso, tenta-se formular um conceito sobre o que seria o direito do trabalho, ou melhor, o que significa essa magnífica área? Assim, nessa ideologia, cita Nascimento (2009, p. 4):

Aceitando-se como premissa que a lógica é a ciência da estrutura do pensamento e os elementos do pensamento são os conceitos, que, uma vez apreendidos de modo unívoco, permitem ao pensamento científico cumprir a sua finalidade, tem-se como da maior importância o estudo do conceito de direito do trabalho à luz dos impactos que esse fascinante ramo do direito vem sofrendo no período contemporâneo.

Nesse sentido, fica evidente que não existe somente um único conceito de direito do trabalho, e sim uma construção através de uma ampla e significante análise de vários elementos.

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Com o surgimento da industrialização, surgem os grandes avanços tecnológicos, sendo que o progresso do maquinismo foi acompanhado do desenvolvimento da concentração. Sendo assim, o surgimento da máquina trouxe também a troca da mão de obra assalariada, pois essas modificações davam ao empresário possibilidades de interromper a aprendizagem das pessoas, substituindo o trabalhador especializado por uma mão de obra não qualificada e o trabalho dos adultos pelo das mulheres e menores.

Estes processos aprimoram-se, alteram-se conceitos e as modernizações aos trabalhadores e aos empregadores, ocorre o processo da globalização trazendo consigo alterações no mundo do trabalho, com a criação de novos setores produtivos, que surgem das tecnologias modernas e do crescimento dos setores de serviços, assim como também, quanto ao crescimento do trabalho autônomo e o uso de formas de contratação do trabalho, sendo atribuído um olhar diferenciado para trabalhadores que teriam um ensino diferenciado, ou seja, uma requalificação profissional do trabalhador, sendo valorizado seu ensino profissionalizante.

Outro ponto relevante foi a Consolidação das Leis Trabalhistas, que teve seu crescimento primeiro através das leis esparsas, de modo que cada profissão tinha uma forma específica, ou seja, tinha regras, normas específicas para sua categoria, sendo que o primeiro diploma geral relacionado as leis trabalhistas foi a Lei nº 62, de 1935, aplicável a industriários e comerciários. Com isso, a CLT fez uma compilação de todas essas leis esparsas, que tratavam apenas de categorias de trabalhadores específicos, trazendo para seu texto normas que serviriam a todos os trabalhadores comuns.

Sendo assim, restou ao Estado reunir todos os textos legais num só diploma, com tudo foi mais de uma simples compilação porque, embora denominada Consolidação, a publicação acrescentou inovações, aproximando-se de um verdadeiro Código.

Surgiu, portanto, o Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, que segundo Nascimento (2009, p. 72):

A Consolidação representa, portanto, em sua substância normativa e em seu título, neste ano de 1943, não um ponto de partida, nem uma adesão recente a uma doutrina, mas a maturidade de uma ordem social há mais de decênio instituída, que já se consagrou pelos benefícios distribuídos, como também pelo julgamento da opinião pública consciente, e sob cujo espírito de equidade confraternizaram as

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classes na vida econômica, instaurando nesse ambiente, antes instável e incerto, os mesmos sentimentos de humanismo cristão que encheram de generosidade e de nobreza os anais da nossa vida pública e social.

Nota-se assim que a criação e promulgação da CLT, não foi apenas o seu surgimento, pelo contrário, foi muito mais que isso pelo fato de não apenas representar uma segurança ao trabalhador como também elencar todos os seus direitos de forma a dar um norte na vida destes.

Algumas décadas após o surgimento da CLT, com uma melhora no processo político com a democratização do país, em 5 de outubro de 1988, foi aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte, uma nova Constituição Federal, que modificou, em alguns aspectos, o sistema jurídico de relações de trabalho.

A negociação coletiva foi incentivada, como denomina Nascimento (2009, p. 75) “como meio apto para a solução de questões como as novas condições de trabalho resultantes da diminuição da jornada de trabalho [...]”, ou seja, a negociação coletiva visa ajustar regras que estão prejudicando os trabalhadores como exemplificado, a jornada de trabalho.

Assim, a ampliação do direito de greve assumiu dimensão até então desconhecida em nosso direito positivo, combina com uma nova figura, de finalidade limitada de amplitude, o abuso de direito, uma vez que configurado, autoriza a responsabilização daqueles que nele incorrem.

Houveram várias modificações expressivas na nova Constituição, entre elas a redução da jornada semanal de 48 para 44 horas, a generalização do regime do fundo de garantia com a consequente supressão da estabilidade decenal, a criação de uma indenização prevista pra casos de dispensa arbitrária, a elevação do adicional de horas extras para o mínimo de 50% (cinquenta por cento), o aumento de 1/3 da remuneração das férias, a ampliação da licença gestante para 120 dias, entre outros fatores.

Quanto ao impacto das normas internacionais do trabalho no Brasil, ou seja, a recepção das normas da OIT, tem-se que eles dependem de vários fatores, dentre os quais podemos exemplificar: os políticos, os econômicos, as condições sociais, a cultura jurídica e os componentes históricos assim fica evidente que precisam ser analisados vários fatores para

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se recepcionar normas internacionais, sendo que este recepcionamento de normas internacionais serve para preencher lacunas.

No Brasil, segundo Nascimento (2009, p. 144): “[...] apenas uma das Convenções sobre direitos fundamentais, a n. 87, sobre liberdade sindical, não foi incorporada em nosso ordenamento jurídico. Ao todo, das 178 Convenções da OIT, ratificamos 76”.

Observa-se, neste tópico, que ocorre um processo de construção dos direitos dos trabalhadores no Brasil e no Mundo, em parte deste período ocorre o surgimento do futebol e sua inserção profissional com a incorporação no regramento trabalhista, o que será objeto do tópico a seguir.

1.2 O atletismo amador e profissional no Brasil

Um aspecto introdutório que merece análise versa sobre o atletismo amador e profissional no Brasil, é necessário esclarecer que “desporto profissional” ou “modalidade profissional” são expressões de técnica jurídica discutível. Isso porque “profissional” não é o desporto ou a modalidade, mas sim o atleta, a prática. O futebol, por exemplo, se praticado por atletas profissionais, poderia ser considerado desporto profissional ou modalidade profissional. No entanto, considerando que a modalidade futebol pode ser praticada de modo não profissional, se estivermos diante de uma partida disputada por atletas sub 15, categoria que não admite a participação de atletas profissionais, o futebol, enquanto modalidade, seria “não profissional”. Assim, não se pode dizer que uma determinada modalidade é profissional ou não profissional, pois o que definirá tal característica é a prática, a situação dos atletas que a disputam, e não a modalidade em si.

Como dizer que o tenista, o nadador ou outro atleta que se dedica exclusivamente aos treinos e competições e faz desta prática sua principal atividade, é um desportista não profissional. Perante a isso, não se pode aceitar que um atleta que pratica o esporte como um verdadeiro meio de vida seja considerado pela lei um atleta amador, por, simplesmente, não ter relação empregatícia com um clube.

Surge, então, a figura do atleta profissional autônomo aquele que se dedica à prática desportiva como profissão, mas sem ter um contrato de trabalho com entidade de prática

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desportiva, como seria o caso de atletas que praticam modalidades individuais, onde, na maioria das vezes, sequer existe uma entidade de prática desportiva.

Afinal, não é correto pensar que um jogador de vôlei da Seleção Brasileira, que joga em uma equipe brasileira, recebendo apenas incentivos, sem contrato de trabalho, disputando uma competição profissional com venda de ingressos, transmissão televisiva e um grande público, gerando visibilidade aos patrocinadores e lucros aos clubes, seja considerado um atleta não profissional. Desta forma, não pode o contrato de trabalho ser o elemento central do profissionalismo esportivo.

Esta caracterização de atleta profissional segundo a existência de remuneração ou contrato de trabalho acaba conflitando com a CBO – Classificação Brasileira de Ocupações – que traz no número 3771 os atletas profissionais e dentre eles os atletas de ciclismo, natação, ginástica, windsurfe, etc. Estes dificilmente são trabalhadores assalariados, mas fazem do esporte sua profissão.

A melhor definição de atleta amador e profissional parece ser a do povo, do senso comum, trazida por Mestre (2002). Segundo ele:

O senso comum «dirá» que o desportista amador não trabalha, antes joga – praticando desporto na escola, num grupo de amigos ou num clube amador -, enquanto o desportista profissional não joga, antes trabalha. Ou «dirá» ainda que deve estabelecer-se uma diferença entre o atleta que obtém do desporto o seu principal modus vivendi, daquele atleta que chega mesmo a ter de pagar para poder praticar a sua modalidade.

Assim, a forma mais correta de definir atleta profissional não é segundo o seu vínculo empregatício, ser profissional não depende da existência de um contrato de trabalho. Ser atleta profissional é dedicar-se ao esporte como uma profissão, fazendo dele, senão uma ocupação exclusiva, ao menos uma ocupação habitual, tendo ele como seu principal objetivo de vida.

1.3 O surgimento do futebol

O futebol no Brasil teve seu surgimento após uma partida realizada no país, tripulantes do navio na “Crimeia”, que chegaram ao Rio de Janeiro disputaram uma partida na Rua Paiçandu, em 1878.

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Após esse evento no Brasil, o futebol começou a ser praticado pelos trabalhadores, conforme menciona Martins (2011, p. 4): “No Brasil, o futebol começou a ser praticado pelos trabalhadores das estradas de ferro, dando origem ao futebol de várzea. O segundo fundamento é a introdução do esporte pelos clubes ingleses nos grupos de elite”.

Nota-se, que após a prática dos empregados das fábricas, o esporte era somente praticado pela elite do Brasil, se tornando uma atividade que somente eles poderiam praticar. Assim, elucida Veiga e Sousa (2014, p. 25), “para se ter acesso ao Fluminense tinha que pertencer à ‘boa família’, do contrário, certamente ficaria de fora”.

No início do século XX o futebol era praticado quase que exclusivamente por clubes de engenheiros e técnicos ingleses, além de jovens da elite metropolitana que conviviam neste espaço.

A base dos principais times de futebol era formada por profissionais liberais, servidores públicos, acadêmicos e bacharéis em direito que monopolizavam os campeonatos nos bairros da elite, conforme denomina Zainaghi (2015, p. 39), “o futebol no Brasil no seu início foi praticado entre a alta sociedade, sendo vedada a participação de operários e pessoas mais humildes”.

No entanto, com o passar dos tempos e notando-se que o esporte precisava ser mais popular no país, como demonstram Veiga e Sousa (2014, p. 25): “A quebra deste paradigma ocorreu somente em 1923, com a vitória do Vasco da Gama, que era um clube de origem popular e que abriu novas oportunidades para a nobre prática desportiva”.

Foi-se abrindo espaços para a população mais carente da época, assim, conforme o futebol passou a tomar grandes proporções, tornou-se necessária a sua regulamentação. O crescimento da modalidade era iminente, e para que os atletas, cada vez mais apaixonados pelo esporte, pudessem se dedicar exclusivamente a ele, o futebol foi profissionalizado, tornando essa prática uma atividade laboral que possibilitava o sustento pessoal e familiar do atleta.

Atualmente, o jogador de futebol, assim como os empregados das mais diversas áreas, tem sua carteira assinada e goza de todos os benefícios da legislação trabalhista. Porém,

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mesmo se tratando de uma profissão regulamentada, é possível perceber que existem ainda muitas lacunas a serem preenchidas para que o atleta profissional possa ter todos os seus direitos regulamentados.

Diferente de grande parcela das profissões, ser jogador de futebol não exige diploma, ou curso teórico preparatório, ou anos de dedicação dentro de uma universidade, visto que essa profissão se resume ao talento do atleta com a bola nos pés, e muito trabalho, principalmente físico, na tentativa de aprimorar ainda mais esse talento.

Esta situação associada a alta remuneração e visibilidade dos atletas ocasiona a socialização do desejo, entre as crianças em se tornarem jogadores profissionais de futebol, pois no Brasil é o esporte mais popular, sendo que somos Pentacampeões Mundiais na modalidade, tornando-se o país com maior número de títulos do mundo.

Quanto ao futebol amador, o mesmo está presente no cotidiano da nossa vida, pois a difusão do esporte na cultura do país fez com que as pessoas se apaixonassem pelo esporte, porém não somente assistissem aos jogos, mas também a praticá-lo.

O futebol é atualmente a modalidade esportiva mais praticada no mundo, e, embora não se tenha certeza sobre os seus primórdios, historiadores descobriram vestígios dos jogos de bola em várias culturas antigas, como maias, incas e egípcios. Assim, Martins (2011, p. 1) demonstra que artes rupestres “de aproximadamente 2500 a.C. no Egito antigo e na Grécia mostravam jogos semelhantes ao futebol”.

No período em que os trabalhadores prestavam serviços no campo, havia bastante atividade física, no trabalho braçal, entretanto, a partir do momento em que o trabalhador foi prestar serviços na cidade, nas indústrias principalmente, ele passou a se tornar mais sedentário, criando a necessidade de se exercitar, em muitos casos, através da prática desportiva, como questão de saúde.

Das histórias contadas sobre as origens do futebol, são os chineses que estão mais próximos de serem os criadores do esporte. É o que afirmam Veiga e Souza (2014, p. 22):

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Por volta do século XV a.C., os crânios dos inimigos foram substituídos por esferas. Os chineses passaram a praticar o tsu-shu. “Tsu” significa golpear com os pés, enquanto “Chu” é um balão de couro. O objetivo do jogo consistia em passar a esfera, parecida com uma bola, no centro de duas varas fincadas no chão e que geralmente eram de bambu.

A questão das esferas substituírem os crânios se deve ao fato de que na China era comum chutar os crânios dos inimigos dos exércitos derrotados.

De início, essa prática era feita apenas pelas classes mais altas da sociedade em festividades importantes. No Japão ocorreu uma atividade muito similar a essa, porém com repercussão ainda maior, pela extensão às classes mais populares. Lá ela levava o nome de “kemari”, e tinha o objetivo de manter a bola no ar sem que ela tocasse no chão. Porém, essa modalidade era tratada mormente como um ritual religioso do que como um esporte, sendo que no início do jogo havia um ritual para abençoar a bola.

Anos depois, desenvolveu-se na Grécia o episkyros, tendo prática muito semelhante com a chinesa. Logo os romanos incorporaram essa prática grega e introduziram algumas modificações, como o nome. O esporte foi batizado de harpastum. Na idade média, o sucessor do harpastum foi o cálcio, praticado na Itália, onde era permitido aos praticantes o uso dos pés e das mãos.

O esporte em questão tornou-se bem popular para os ingleses, tendo como consequência certa proibição entre uma parte dos governantes.

Diversas teorias convergem em um ponto comum, que seria o momento exato em que nasceu o futebol. Veiga e Sousa (2014, p. 23) afirmam: “O local é Londres, em 1863, quando foi criada a Football Association, entidade que adotou um manual de regras que, com o passar do tempo, foi sendo aperfeiçoado até chegar aos dias atuais [...]”.

Houveram equipes que seguiram a contradição sobre o assunto do uso livre de contato físico, e também pelo uso das mãos e por isso que surgiram as duas associações: a Football Association e a Hugby Association. A primeira baniu o uso de contato de físico de forma livre como também o uso das mãos pelos jogadores, com exceção ao goleiro da equipe, em antemão a segunda liberou o uso das mãos e ainda o contato físico, fundando assim a modalidade esportiva chamada Hugby.

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Atualmente o futebol se utiliza das mesmas regras inicialmente convencionadas para a prática do esporte, e conforme delineia Martins (2011, p. 3):

A partida é disputada por 11 jogadores de cada lado. Há um goleiro, que pode tocar a bola com as mãos e chutá-la, que defenda a meta ou o gol; um lateral direito e outro esquerdo, também chamados de ala direita ou ala esquerda; dois zagueiros, que antigamente se chamavam de beque central e quarto zagueiro. O médio volante atualmente é chamado de volante; antigamente havia o direita e o meia-esquerda; o centroavante e os pontas direita e esquerda. Em cada partida, é possível fazer três substituições de jogadores e mais a do goleiro em relação a cada equipe. A duração da partida é de 90 minutos, sendo dois tempos de 45 minutos, com intervalo de 15 minutos para descanso dos jogadores. A bola tem de 68 a 71 cm de circunferência e de 396 a 453 de peso.

No ano de 1904 foi fundada a Federação Internacional de Futebol (FIFA), em Paris, na França. Foi criada por dirigentes belgas, dinamarqueses, espanhóis, franceses, holandeses, suecos e suíços. Nesse momento o futebol já se tornava uma paixão mundial. Mais tarde, quatorze anos depois, a modalidade foi incluída nos jogos olímpicos.

É em decorrência da forma expansionista da industrialização e sua globalização que o futebol passou a tomar maiores proporções e ser praticado nos demais países, sendo que trabalhadores ingleses iam praticar suas atividades laborativas em outros países europeus e levavam o esporte para aquelas localidades. Mais tarde e dessa forma, o futebol chegou até a América do Sul.

1.3.1 Charles Miller

Apesar de o Brasil ter sido palco de partidas de futebol anos antes, apenas a partir de 1884 que o esporte ganhou maior relevância, sendo introduzido no país por intermédio de Charles Miller, um brasileiro filho de ingleses, que aos nove anos foi morar na Inglaterra e retornou ao Brasil dez anos depois trazendo consigo o futebol.

O jovem Charles Miller retornou ao seu país de origem com a intenção de difundir o esporte que havia conhecido em terras europeias, porém, não imaginou que o futebol se tornaria o esporte mais prestigiado pelo povo brasileiro. Nesse sentido, elucida Orlando Duarte (apud ZAINAGHI, 2015, p. 35):

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Charles Miller não trouxe só duas bolas. Trouxe também calções, chuteiras, camisas, bombas de encher a bola e a agulha. Foi o inicio dessa ‘loucura’ que é o futebol entre nós. Charles Miller faleceu em 1953, em São Paulo, na cidade onde nasceu. Foi um ótimo jogador, artilheiro, estimulador da prática do futebol, criador da jogada ‘Charles’, que depois virou ‘chaleira’. Miller foi também um bom árbitro. Era um apaixonado ‘torcedor’ de futebol, e responsável por tudo que aconteceu depois. No inicio tudo era importado da Inglaterra, inclusive os ternos usados e livro de regras.

Charles Miller conheceu o futebol na Inglaterra e logo se apaixonou. Ele tinha dois irmãos que eram grandes jogadores desse esporte, e conforme foram passando os dias, ele também se tornou um excelente jogador, arrancando elogios de todos que o assistiam. Em sua primeira partida oficial ele marcou um gol na vitória do seu time, do placar de três a um, contra uma equipe do exército.

Devido a uma série de fatalidades envolvendo seus familiares, Miller teve que voltar ao Brasil e teve grande preocupação em saber como praticaria o esporte em um país que não o conhecia. Ao deixar a Inglaterra, um dos jornais de lá fez uma nota dizendo que sentia muito pela perda desse atleta tão talentoso e lhe desejavam um ótimo retorno e sucesso.

Introduzir um novo esporte na cultura do povo não foi uma tarefa fácil para Miller, visto que logo no início teria dificuldade de conseguir vinte e um colegas para disputar uma partida, sendo que qualquer um deles, mesmo sendo ingleses na sua grande maioria, tivesse contato com o futebol.

Logo que chegou ao Brasil ele se associou no São Paulo Atlethic Club, que tinha como esporte preferencial o críquete. Todos os finais de semana, após terminar sua jornada de trabalho, ele passou ensinar tudo o que sabia, desde o início, ou seja, os princípios básicos do esporte como: chutes, dribles, cobranças de tiro livre, marcação, entre outros. Em seguida, passou a intensificar os treinamentos para aqueles que ele havia notado que tinham mais facilidade com o esporte.

A primeira partida oficial ocorreu somente no ano de 1895, entre as equipes “São Paulo Railway” e “São Paulo Gaz Company”, compostas por funcionários de empresas inglesas que tinham sede em São Paulo. Nessa ocasião, a primeira equipe saiu vitoriosa, vencendo pelo placar de quatro a dois.

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O jovem precursor do futebol no Brasil veio a falecer em 1953, de insuficiência renal, conforme afirma Zainaghi (2015, p. 38):

Charles Miller morreu em 30 de junho de 1953, de insuficiência renal, no hospital Samaritano, em São Paulo. Foi sepultado no dia seguinte, às 13 horas, no cemitério protestante da Consolação, no mesmo instante em que se iniciava uma partida do esporte que ele trouxe ao Brasil no Pacaembu, entre São Paulo e o Vasco da Gama, onde, com as bandeiras a meio pau, aos acordes de Ave-Maria, o público de pé junto aos 22 atletas que fizeram um minuto de silêncio e disseram adeus ao pai do futebol no Brasil.

Antes de sua morte, já havia deixado um grande legado para as futuras gerações, que passaram a dar continuidade ao esporte que ele trouxe até o Brasil.

1.3.2 Primeiras equipes

O esporte, futebol, ganhou a simpatia dos brasileiros em pouco tempo, segundo Zainaghi (2015, p. 38), “já em 1899 existiam no Brasil clubes dedicando-se à prática do futebol. O São Paulo Athletic, A. Mackenzie, o S. C. Internacional e S. C. Germânia são alguns exemplos”.

O Mackenzie College tornou-se o primeiro clube criado para a prática do futebol, sua fundação foi em 18 de agosto de 1898, recebendo a denominação de Associação Atlética Mackenzie College. O futebol desenvolveu-se inicialmente em São Paulo, mais tarde passando ao Rio de Janeiro e depois ao Rio Grande do Sul.

Houve, é claro, a influência de nomes e expressões inglesas nos clubes brasileiros, como por exemplo, “Sport Club Corinthians Paulista” e o “Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense”, sendo que os dois clubes mencionados existem até o momento.

Com a evolução do esporte, exigiu a criação de um ente para comandar e trazer regras para dentro do futebol, organizando campeonatos para que desse um seguimento a algo que vinha surgindo com um futuro promissor. Sendo assim, em 1914 surgiu a Federação Brasileira de Sports, e em 1916 a Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

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É nesse universo, movido por paixões, vaidades, ódios e violência, que se fez necessária a atuação do direito do trabalho, tendo em vista a existência de pessoas se dedicando exclusivamente à prática do futebol e tirando dele o seu sustento e o de seus familiares.

Assim, com o passar dos tempos e com o advento do profissionalismo, os jogadores podiam somente se dedicar à prática do futebol. Hoje em dia os destinos do futebol brasileiro estão a cargo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), nos Estados o futebol é dirigido por federações.

1.4 A legislação do atleta profissional

Com o crescimento e popularização do futebol, fez-se com que ocorresse a sua profissionalização, esta condição permite aos atletas desposem do seu tempo a dedicar-se de forma exclusiva a pratica do esporte, fazendo com que a mesma, torna-se uma atividade laborativa podendo tal prática sustentar a família e a pessoa a quem à praticava sem precisar trabalhar em outras profissões. Deste modo, com a profissionalização surge a necessidade de criar normas para a assinatura e confecção dos contratos dos jogadores profissionais de futebol.

O primeiro diploma legal a tratar do futebol de forma profissionalizada foi o Decreto-lei n. 3.199, de 14 de abril de 1941, o qual criou as Confederações, Federações e Associações, além, de tratar de normas genéricas voltadas aos esportes em geral e não somente sobre o futebol.

Após dois anos, em 1º maio 1943, cria-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), sendo que para os jogadores profissionais de futebol sua aplicação seria de forma analógica da mesma forma que são aplicáveis aos artistas.

Em 1964 surgiu um diploma legal específico sobre a profissão de atleta de futebol, sendo este o Decreto n. 53.820, de 24 de março de 1964, que tratava de participações dos atletas nas partidas, do “passe”, das férias, do intervalo entre as partidas, criação de seguro, do contrato de trabalho entre outros.

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Algum tempo depois, surgiu uma lei mais específica que regulava a profissão de atleta profissional de futebol, foi a Lei n. 6.354, de 2 de setembro de 1976, que em 1998 foi revogada parcialmente pela edição da lei n. 9.615, e definitivamente revogada pela alteração da Lei Pelé ocorrida em 2011, Lei n. 12.395.

Esta lei, n. 6.354, possui em seu corpo somente 33 artigos, ou seja, não muito extensa, trazendo em seu artigo 1º e 2º o conceito de empregado e empregador, definindo quem poderia figurar como tais, conforme segue:

Art. 1º. Considera-se empregador a associação desportiva que, mediante qualquer modalidade de remuneração, se utilize dos serviços de atletas profissionais de futebol, na forma definida nesta Lei.

Art. 2º. Considera-se empregado, para os efeitos desta Lei, o atleta que praticar o futebol, sob a subordinação de empregador, como tal definido no art. 1º, mediante remuneração e contrato, na forma do artigo seguinte.

Sendo definido quem figuraria em que polo em um contrato de trabalho. O vínculo empregatício era feito formalizado perante um contrato escrito e formal, segundo o art. 3º da lei, constando os seguintes itens:

I – os nomes das partes contratantes devidamente individualizadas e caracterizadas; II – o prazo de vigência, que, em nenhuma hipótese, poderá ser inferior a 3 (três) meses ou superior a 2 (dois) anos;

III – o modo e a forma de remuneração, especificados o salário, os prêmios, as gratificações e, quando houver, as bonificações, bem como o valor das luvas, se previamente convencionadas;

IV – a menção de conhecerem os contratantes os códigos, os regulamentos e os estatutos técnicos, o estatuto e as normas disciplinares da entidade a que estiverem vinculados e filiados;

V – os direitos e as obrigações dos contratantes, os critérios para a fixação do preço do passe e as condições para dissolução do contrato.

Das informações que surgem conclui-se que o contrato não poderia ter tempo de labor inferior ao período de 03 (três) meses nem superior ao período de 02 (dois) anos. Além disso, o jogador profissional de futebol teria que receber além dos salários fixados, prêmios e gratificações, podendo ainda receber de forma extra, certas bonificações e luvas.

Com a instituição da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, certas medidas referentes aos desportos necessitavam ser tomadas. Além de precisar de um regulamento do desporto profissional, a lei 6.354/76 estava ultrapassada sobre o assunto de direitos fundamentais dos atletas profissionais de futebol, pelo fato da democratização do

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Estado brasileiro. Neste sentido foi instituída a Lei 8.672/93, popularmente conhecida como Lei Zico que fez alterações em alguns dispostos da Lei 6.354/76 e instituiu outros meios que regeram os desportos em geral.

A Lei Zico traz pontos de grande relevância em seu art. 2º, que dispunha o seguinte:

Art. 2º O desporto, como direito individual, tem como base os seguintes princípios: I – soberania, caracterizado pela supremacia nacional na organização da prática desportiva;

II – autonomia, definido pela faculdade de pessoas físicas e jurídicas organizarem-se para a prática desportiva como sujeitos nas decisões que as afetam;

III – democratização, garantido em condições de acesso às atividades desportivas sem distinções e quaisquer formas de discriminação;

IV – liberdade, expresso pela livre prática do desporto, de acordo com a capacidade e interesse de cada um, associando-se ou não a entidades do setor;

V – direito social, caracterizado pelo dever do Estado de fomentar as práticas desportivas formais e não formais;

VI – diferenciação, consubstanciado no tratamento específico dado ao desporto profissional e não profissional;

VII – identidade nacional, refletido na proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional;

VIII – educação, voltado para o desenvolvimento integral do homem como ser autônomo e participante e fomentado através da prioridade dos recursos públicos ao desporto educacional;

IX – qualidade, assegurado pela valorização dos resultados desportivos, educativos e dos relacionados à cidadania e ao desenvolvimento físico e moral;

X – descentralização, consubstanciado na organização e funcionamento harmônicos de sistemas desportivos diferenciados e autônomos para os níveis federal, estadual e municipal;

XI – segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial;

XII – eficiência, obtido através do estímulo à competência desportiva e administrativa.

Assim têm-se os princípios fundamentais que englobam o direito desportivo brasileiro, que somente ganha enfoque através desta lei.

Outro ponto importante foi a regulamentação da garantia de recursos que viriam a ser destinados para a Política Nacional do Desporto, que passaria a ajudar financeiramente a prática profissional do esporte.

Os recursos necessários estavam inseridos no art. 39 da referida lei, consoante o disposto a seguir:

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Art. 39. Os recursos necessários à execução da Política Nacional do Desporto serão assegurados em programas de trabalho específicos constantes dos Orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além dos provenientes de: I – fundos desportivos;

II – receitas oriundas de concursos de prognósticos; III – doações, patrocínios e legados;

IV – prêmios de concursos de prognósticos da Loteria Esportiva Federal não reclamados nos prazos regulamentares;

V – incentivos fiscais previstos em lei; VI – outras fontes.

Os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Desportivo seriam destinados para diversos fins, tanto para o desporto profissional como para o não profissional. Dentre as finalidades, estão: o desporto educacional; o desporto de rendimento, entre outros diversos desportos destinados para os Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais, Jogos Pan-americanos e Jogos Sul-Americanos.

É válido afirmar que a Lei nº 8.672/93 destinou a organização do desporto nacional, de forma a instituir órgãos administrativos e judiciais, que visam a atividade desportiva, preocupando-se em estimular o esporte utilizando os auxílios do governo para jogadores profissionais e não profissionais, de forma a incentivar a seguir no labor de atleta, podendo se dedicar totalmente ao esporte.

No ano de 1998 foi promulgada a Lei 9.615, mais conhecida como Lei Pelé, ou até mesmo Lei do passe livre. Ela foi criada com o intuito de dar maior transparência e profissionalismo ao esporte nacional.

A Lei Pelé fez uma série de mudanças no ordenamento jurídico desportivo, sendo que uma das mais marcantes foi extinguir o “passe”, um instrumento jurídico que prendia o jogador ao clube além do contrato de trabalho, nos clubes de futebol do Brasil e instituir o direito do consumidor nos esportes. Entre outras mudanças e acréscimos, ela determinou a profissionalização do atleta, com a obrigatoriedade da transformação dos clubes em empresas, ainda, criou verbas para o esporte olímpico e paraolímpico.

Esse dispositivo legal, baseado em princípios constitucionais, revogou a Lei 8.672/93 e teve como principal efeito a mudança da legislação sobre o passe de jogadores de futebol. É popularmente denominada de Lei Pelé pelo fato de ter sido idealizada quando este era Ministro do Esporte e presidente do Conselho do INDESP (Instituto Nacional de

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Desenvolvimento do Desporto), além de ter sido um dos mentores do projeto da lei, que mais tarde veio a ser aprovada na Câmara e no Senado, por unanimidade.

Nesse sentido, pode-se notar que a principal mudança trazida pela Lei Pelé foi o “passe livre”, segundo artigo 92 da lei:

Art. 92. Os atuais atletas profissionais de futebol, de qualquer idade, que, na data de entrada em vigor desta Lei, estiverem com passe livre, permanecerão nesta situação, e a rescisão de seus contratos de trabalho dar-se-á nos termos dos arts. 479 e 480 da CLT.

Podendo ser encarado sob dois diferentes pontos de vista: o do empregado e o do empregador. Para os empregados, isto é, os atletas, o passe livre possibilitou uma maior liberdade, visto que eles não estavam mais vinculados aos seus clubes por mais um fator, podendo ser negociados assim que rescindido o contrato de trabalho.

Mesmo a Lei Pelé trazendo inúmeras modificações trabalhistas, e fazendo revoluções quanto ao vinculo empregatício, a mesma estava ficando ultrapassada e não conseguia acompanhar mais algumas alterações no direito trabalhista. Assim sendo é promulgada a Lei 12.395 de 16 de março de 2011.

Além de alterar inúmeros artigos da Lei Pelé, a Lei 12.395/2011 também modificou a lei 10.891 de 2004. A lei 10.891/2004 dispunha sobre o programa Bolsa Atleta, que se destinava a remuneração de atletas brasileiros profissionais por meio de incentivos. A Lei Pelé alterou alguns conceitos sobre o Bolsa Atleta, incluindo aumento na remuneração percebida pelo atleta assim como, trazendo outras facilidades. Esta fomentou ainda mais o desporto nacional e revogou por completo a Lei 6.354/76.

O Decreto-lei 5.342 de 14 de janeiro de 2005, em seu artigo 2º previa quem poderia ser beneficiado pelo bolsa atleta:

Art. 2º Podem ser beneficiários da Bolsa-Atleta:

I – na categoria Atleta de Base, o atleta de catorze a dezenove anos de idade que: a) tenha participado com destaque das categorias iniciantes, em competições organizadas no ano anterior ao do pleito direta ou indiretamente por entidade nacional de administração do desporto, reconhecidas pelo Ministério do Esporte;

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b) tenha obtido o primeiro, segundo ou terceiro lugar em modalidade individual ou tenha sido considerado um dos dez melhores atletas, por sexo, em modalidade coletiva; e

c) continue treinando para competições nacionais oficiais.

II – na categoria Atleta Estudantil, o atleta de catorze a vinte anos de idade que: a) tenha participado dos jogos estudantis ou universitários nacionais organizados no ano anterior ao do pleito direta ou indiretamente pelo Comitê Olímpico Brasileiro – COB ou pelo Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB, reconhecidos pelo Ministério do Esporte;

b) tenha obtido o primeiro, segundo ou terceiro lugar em modalidade individual ou tenha sido considerado um dos três melhores atletas, por sexo, em modalidade coletiva; e

c) continue treinando para competições nacionais oficiais.

III – na categoria Atleta Nacional, o atleta a partir de catorze anos de idade que: a) tenha obtido na competição máxima da temporada nacional da modalidade, indicada pela entidade nacional de administração do desporto, no ano anterior ao do pleito, o primeiro, segundo ou terceiro lugar, e continue treinando para competições nacionais ou internacionais oficiais; ou

b) esteja em primeiro, segundo ou terceiro lugar no ranking nacional de sua modalidade, indicado pela entidade nacional de administração do desporto, e continuem treinando para competições nacionais ou internacionais oficiais.

IV – na categoria Atleta Internacional, o atleta a partir de catorze anos que:

a) tenha integrado a seleção nacional de sua modalidade, representando o Brasil em campeonatos ou jogos sul-americanos, pan-americanos ou mundiais;

b) tenha obtido primeiro, segundo ou terceiro lugar em competição reconhecida pela confederação da modalidade como um dos principais eventos; e

c) continue treinando para competições internacionais oficiais. V – na categoria Atleta Olímpico ou Paraolímpico, o atleta que:

a) tenha representado o Brasil nos últimos Jogos Olímpicos ou Paraolímpicos adultos organizados pelo Comitê Olímpico Internacional - COI ou Comitê Paralímpico Internacional – IPC, como titular em modalidade individual ou com seu nome presente na súmula de modalidade coletiva;

b) continue treinando para competições internacionais oficiais; e c) cumpra os outros critérios fixados pelo Ministério do Esporte; e

VI – na categoria Atleta Pódio, o atleta de modalidade individual olímpica ou paraolímpica vinculado ao Programa Atleta Pódio.

Pode-se referir que atualmente o desporto brasileiro é regido pela Lei 9.615/98 com breve alteração da Lei 12.395/11. No que diz respeito às relações jus laboral aplicam-se ainda para as lacunas da lei Pelé o que está disposto na Constituição Federal, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e nas outras leis trabalhistas e previdenciárias.

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2 AS ESPECIFICIDADES DO CONTRATO DE TRABALHO

Como já observado o contrato de trabalho é revestido de especificidades e formalidades, no caso do atleta profissional estas normas visam estabelecer as condições de trabalho que se enquadram na rotina desta atividade peculiar, demonstrando a relação que esses atletas possuem com o clube desportivo vinculado e as características que seus contratos de trabalho possuem.

Neste capítulo observa-se especificidades desta relação laboral, aspectos relacionados a sua remuneração, duração, e alguns casos de extinção não amigável entre clubes e atletas.

2.1 Elementos do contrato de trabalho do jogador de futebol

O primeiro elemento a ser analisado é o empregador, regra geral ele pode ser tanto uma pessoa física como uma pessoa jurídica, que exerce função de forma assalariada a seus empregados pelas suas prestações de serviços. Na análise específica da relação com o atleta a pessoa jurídica, o clube, possui uma natureza privada como uma associação civil, assim denominada por Martins (2011, p. 13), “considera-se empregador a associação desportiva que, mediante qualquer modalidade de remuneração, se utilize dos serviços de atletas profissionais de futebol”.

É necessário que o clube, para sua legalidade enquanto entidade participante dos eventos esportivos esteja inscrito em federações estaduais e na Confederação Brasileira de Futebol. Ainda, sobre a associação desportiva, a regra geral brasileira é de não visar lucros, no entanto esta mesma associação poderá se constituir com a forma de uma sociedade empresarial, conforme estabelecido na lei Pelé em seu artigo 27:

Art. 27. As entidades de prática desportiva participantes de competições profissionais e as entidades de administração de desporto ou ligas em que se organizarem, independentemente da forma jurídica adotada, sujeitam os bens particulares de seus dirigentes ao disposto no art. 50 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, além das sanções e responsabilidades previstas no caput do art. 1.017 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, na hipótese de aplicarem créditos ou bens sociais da entidade desportiva em proveito próprio ou de terceiros (Redação dada pela Lei nº 10.672, de 2003).

§ 1º (parágrafo único original) (Revogado) (Redação dada pela Lei nº 9.981, de 2000).

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§ 2º A entidade a que se refere este artigo não poderá utilizar seus bens patrimoniais, desportivos ou sociais para integralizar sua parcela de capital ou oferecê-los como garantia, salvo com a concordância da maioria absoluta da assembleia geral dos associados ou sócios e na conformidade do respectivo estatuto ou contrato social (Redação dada pela Lei nº 13.155, de 2015).

[...]

§ 9º É facultado às entidades desportivas profissionais constituírem-se regularmente em sociedade empresária, segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003).

§ 10. Considera-se entidade desportiva profissional, para fins desta Lei, as entidades de prática desportiva envolvidas em competições de atletas profissionais, as ligas em que se organizarem e as entidades de administração de desporto profissional (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003).

§ 11. Os administradores de entidades desportivas profissionais respondem solidária e ilimitadamente pelos atos ilícitos praticados, de gestão temerária ou contrários ao previsto no contrato social ou estatuto, nos termos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

§ 12. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 10.672, de 2003).

§ 13. Para os fins de fiscalização e controle do disposto nesta Lei, as atividades profissionais das entidades de que trata o caput deste artigo, independentemente da forma jurídica sob a qual estejam constituídas, equiparam-se às das sociedades empresárias (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

Definido como se representa o clube de futebol em seu âmbito desportivo e empresarial observará agora outros elementos presentes na relação do contrato de trabalho do jogador de futebol. Assim sendo, tem-se a definição do que é empregado no âmbito desportivo por Martins (2011, p. 14), “empregado é o atleta que praticar o futebol, sob a subordinação de empregador, prestando serviços com continuidade e mediante remuneração”.

O contrato do atleta tem características diferentes de qualquer outro empregado, pode o empregador afetar de forma mais significativa elementos além dos normais de uma relação de emprego, pelo fato deste atleta receber orientações de seu empregador que determina que o empregado participe de treinos, concentrações, excursões, e ainda determina ao atleta empregado sua alimentação, controle de peso entre outros fatores.

Outro fator de forma muito relevante que se evidencia é que o contrato de trabalho do atleta profissional de futebol, possui um elemento de exclusividade, que define que este atleta não possa manter contrato com mais de uma entidade desportiva, ou seja, com mais de um clube da mesma forma como jogar por mais de um clube ao mesmo tempo.

O contrato de trabalho possui duas formas, ele pode ser de forma expressa ou tácita, no entanto o contrato de trabalho do atleta profissional de futebol será sempre pela forma expressa. Não é possível este contrato ser elaborado na forma verbal ou tácita, pelo fato que

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tenta-se evitar dúvidas de ambas as partes sobre o que foi acordado, ainda pelo motivo de não permitir nenhuma alteração prejudicial ao trabalhador.

Cita Martins (2011, p. 17), os dados que deverão estar presentes no contrato:

1. os nomes das partes contratantes devidamente individualizadas e caracterizadas; 2. o modo e a forma de remuneração, especificados o salário, os prêmios, as gratificações e, quando houver, as bonificações, bem como o valor das luvas, se previamente convencionadas;

3. o número da CTPS do atleta profissional de futebol, assim como será feita a anotação na CTPS do contrato de trabalho. O objetivo é identificar o atleta;

4. cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta, nas seguintes hipóteses:

a) transferência do atleta para outra entidade, nacional ou estrangeira, durante a vigência do contrato especial de trabalho desportivo; ou

b) por ocasião do retorno às atividades profissionais em outra entidade de prática desportiva, no prazo de até 30 (trinta) meses; e

5. cláusula compensatória desportiva, devida pela entidade de prática desportiva ao atleta, nas hipóteses de rescisão decorrente do inadimplemento salarial, de responsabilidade da entidade de prática desportiva empregadora, de rescisão indireta, nas demais hipóteses previstas na legislação trabalhista; e de dispensa do atleta.

Assim, através da explanação as mínimas cláusulas e termos que devem possuir um contrato de trabalho de um atleta de futebol.

Quanto ao prazo do contrato, o mesmo tinha sua vigência por tempo determinado, assim a Lei nº 8.672/93 em seu art. 23 previa a vigência do mesmo por um período não inferior a três meses e não superior a trinta e seis meses, porém está norma foi revogada pela Lei 9.615/98.

Já para a CLT, este prazo máximo para contratos de prazo determinado de dois anos, ou seja, vinte e quatro meses, segundo seu artigo 445:

Art. 445 - O contrato de trabalho por prazo determinado não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a regra do art. 451.

Houveram ainda, várias alterações por medidas provisórias, até que a Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000, redefiniu a redação do artigo 30 da Lei nº 9.615, estabelecendo o prazo máximo para cinco anos (sessenta meses), tirando a aplicação do artigo 445 da CLT. A definição deste prazo de cinco anos foi justificada para que o clube pudesse ter um retorno

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financeiro ao investimento do atleta que havia contratado, assim o artigo 30 da Lei 9.615, define:

Art. 30. O contrato de trabalho do atleta profissional terá prazo determinado, com vigência nunca inferior a três meses nem superior a cinco anos (Redação dada pela Lei nº 9.981, de 2000).

Ainda cabe ressaltar que o contrato do jogador de futebol profissional poderá ser prorrogado mais de uma vez e sua renovação, diferente do que se apresenta na CLT para os contratos por prazo determinado, não necessita de um período de seis meses entre o término de um contrato e a realização de outro.

Quanto aos casos referentes aos atletas menores de 18 anos, tem-se a definição que somente poderão assinar contratos com a entidade, clube, a partir de terem completado os 16 anos de idade, como prevê Martins (2011, p. 21): “A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito de assinar com esse, a partir de 16 anos de idade, o primeiro contrato de trabalho profissional, cujo prazo não poderá ser superior a cinco anos”.

Da mesma, citam Veiga e Souza (2014, p. 69):

Ainda como incentivo à adoção de práticas impeditivas da exploração de menores, o legislador fixou o direito de preferência do clube formador do atleta em firmar o primeiro contrato de trabalho desportivo profissional, com duração máxima de cinco (5) anos, bem como a renovação respectiva, até três (3) anos.

Esta determinação legal, estabelecida para resguardar o menor, e acordada conforme a legislação pátria que proíbe o trabalho dos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, gera, na prática a impossibilidade de resguardo dos clubes quanto a permanência destes jogadores. Assim, somente poderá assinar o contrato com a presença de seu responsável ou se for no caso emancipado o atleta de 16 anos de idade.

Assim a capacidade do atleta adquire-se aos 16 anos de idade para celebração do primeiro contrato de trabalho. Esta idade é vista como o limite mínimo para a prática do esporte pelo fato da pessoa ter o desenvolvimento adequado quanto a questão para poder desempenhar a atividade da melhor forma possível.

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Ao atleta estrangeiro que deseja desempenhar sua atividade esportiva profissional no Brasil, é necessário visto temporário para poder exercer sua atividade, sendo que o prazo para este visto não excederá a cinco anos que é o mesmo tempo da duração máxima que será fixada no contrato especial de trabalho. Segundo artigo 46 da Lei 9.615:

Art. 46. Ao estrangeiro atleta profissional de modalidade desportiva, referido no inciso V do art. 13 da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, poderá ser concedido visto, observadas as exigências da legislação específica, por prazo não excedente a 5 (cinco) anos e correspondente à duração fixada no respectivo contrato especial de trabalho desportivo, permitida uma única renovação (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

§ 1º É vedada a participação de atleta de nacionalidade estrangeira como integrante de equipe de competição de entidade de prática desportiva nacional nos campeonatos oficiais quando o visto de trabalho temporário recair na hipótese do inciso III do art. 13 da Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

§ 2º A entidade de administração do desporto será obrigada a exigir da entidade de prática desportiva o comprovante do visto de trabalho do atleta de nacionalidade estrangeira fornecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego, sob pena de cancelamento da inscrição desportiva (Redação dada pela Lei nº 12.395, de 2011).

Ocasionando uma renovação do contrato de trabalho do atleta estrangeiro, tem que ser expedido um novo visto de trabalho temporário, que precisamente terá o mesmo prazo de validade do contrato renovado.

2.2 Remuneração, duração, direito de imagem e especificidades do atleta profissional

A remuneração é distinta ao salário, pelo fato da remuneração englobar o salário, ou seja, ela é um conjunto de prestações que o empregado recebe habitualmente conforme exerce o serviço prestado, podendo ser em espécie (dinheiro) ou em utilidade, todas decorrentes do contrato de trabalho devidamente assinado, em favor de satisfazer as necessidades básicas do empregado.

Já o salário é uma prestação que o trabalhador recebe do empregador em consonância do seu contrato de trabalho. Como uma forma de esclarecer os conceitos de Veiga e Sousa (2014, p. 125):

Em que pese a origem comum, remuneração e salário, em hipótese alguma, são sinônimos, na medida em que o primeiro pode ser considerado como gênero de contraprestações devidas e pagas ao empregado em razão da relação de emprego existente, enquanto que o salário é espécie, paga pelo empregador e traduzindo-se na mais importante parcela contraprestativa.

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As regras gerais acerca do salário também se aplicam ao atleta profissional, como o sistema de garantias salariais, salário mínimo, a proteção quanto a possíveis abusos do empregador no prazo e lugar de pagamento, na proibição da retenção e descontos indevidos ressalvados o desconto por punição, a multa salarial.

Quanto ao fator disciplinar, temos que é irredutível o salário, salvo os dispostos nas convenções coletivas ou acordos, assim afirma o artigo 462 da CLT tornando lícito o ato. Assim é possível que ao atleta profissional de futebol seja aplicada multa como prevê o artigo 48 da Lei 9.615/98:

Art. 48. Com o objetivo de manter a ordem desportiva, o respeito aos atos emanados de seus poderes internos, poderão ser aplicadas, pelas entidades de administração do desporto e de prática desportiva, as seguintes sanções:

I – advertência; II – censura escrita; III – multa; IV – suspensão;

V – desfiliação ou desvinculação.

§ 1º A aplicação das sanções previstas neste artigo não prescinde do processo administrativo no qual sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa.

§ 2º As penalidades de que tratam os incisos IV e V deste artigo somente poderão ser aplicadas após decisão definitiva da Justiça Desportiva.

A remuneração do jogador de futebol é formada através de uma parte fixa, ou seja, um salário mensal, e por uma parte variável, esta englobada pelas gratificações, prêmios entre outras que são colocadas nesse contrato especial do atleta, inclusive os direitos de arena e de imagem.

2.2.1 Direito de arena e imagem

O direito de arena se apresenta como uma remuneração do atleta, basicamente vinculado a sua participação em uma partida de futebol que é veiculada em alguma mídia. Esta remuneração existe pelo fato da entidade, pessoa jurídica, não jogar futebol e sim o atleta, funcionário da entidade e pessoa física, prestar esta atividade ao clube.

O direito de arena pode ser apreciado pelo valor que se estabelece no contrato entre o clube e a emissora da televisão que transmite os jogos. O clube é pertencente do direito, contudo a entidade deve fazer o repasse aos atletas através de uma percentagem que incide no valor arrecado do jogador pela partida que foi transmitida.

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Essa divisão de recebimento é disciplinada através do art. 42 da Lei 9.615/98, expressa:

Art. 42. Pertence às entidades de prática desportiva o direito de arena, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo desportivo de que participem.

§ 1º Salvo convenção coletiva de trabalho em contrário, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da exploração de direitos desportivos audiovisuais serão repassados aos sindicatos de atletas profissionais, e estes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais participantes do espetáculo, como parcela de natureza civil.

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica à exibição de flagrantes de espetáculo ou evento desportivo para fins exclusivamente jornalísticos, desportivos ou educativos, respeitadas as seguintes condições:

I – a captação das imagens para a exibição de flagrante de espetáculo ou evento desportivo dar-se-á em locais reservados, nos estádios e ginásios, para não detentores de direitos ou, caso não disponíveis, mediante o fornecimento das imagens pelo detentor de direitos locais para a respectiva mídia;

II – a duração de todas as imagens do flagrante do espetáculo ou evento desportivo exibidas não poderá exceder 3% (três por cento) do total do tempo de espetáculo ou evento;

III – é proibida a associação das imagens exibidas com base neste artigo a qualquer forma de patrocínio, propaganda ou promoção comercial.

§ 3º O espectador pagante, por qualquer meio, de espetáculo ou evento desportivo equipara-se, para todos os efeitos legais, ao consumidor, nos termos do art. 2º da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

Quando o jogo é transmitido através da emissora de televisão e os torcedores do clube preferem assistir ao mesmo em sua casa, ou seja, não quer comparecer ao estádio naquela partida, o clube deixa de ganhar pelo ingresso não vendido, no entanto, passa a ganhar o direito de arena pela transmissão da partida.

Quanto ao direito de imagem, o mesmo possui um diferencial quanto aos demais direitos envolvendo a personalidade que é o seu conteúdo patrimonial, que é uma forma de exploração do mesmo. Em que pese, Veiga e Sousa (2014, p. 129):

Trata-se de direito personalíssimo e intransferível, podendo haver permissão, autorização ou concessão de seu uso, previamente estabelecidos, em contrato, como, por exemplo: finalidade de uso, abrangência territorial, meios de divulgação, quantidade de publicação, etc. O direito à imagem não pode ser transferido, mas tão somente licenciado para determinado fim e por tempo certo. Portanto é válida e lícita a cessão do direito de explorar comercialmente o uso da imagem, pois tal fato se configura em cessão da faculdade de aproveitamento econômico e exploração comercial da imagem. Entretanto, a referida cessão não representa a transmissão da titularidade do direito de imagem.

Referências

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