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Competitividade da cadeia produtiva da manga para exportação.

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Competitividade da cadeia produtiva

da manga para exportação

José Lincoln Pinheiro Araújo Rebert Coelho Correia Edílson Pinheiro Araújo

Introdução

A cadeia produtiva da manga para exportação está localizada na região do Vale do Submédio São Francisco, que é o principal polo de produção e exportação de manga do País, com uma área plantada de 26 mil hectares, uma produção anual de 531 mil toneladas, e uma exportação anual em torno de 120 mil toneladas, cifra que corresponde a 95% das exportações brasileiras dessa fruta.

O Brasil é o terceiro maior exportador de manga, entretanto as atuais tendências observadas no funcionamento do mercado interna-cional da manga apontam para um aumento da oferta da manga no mercado mundial. Alguns desses fatores são: a redução da sazonal idade da oferta, que é a maior vantagem comparativa do produto brasileiro em dito mercado, consequência de avanços tecnológicos em diversos países exportadores de manga; o crescimento das exportações mundiais em um ritmo superior à demanda; e ainda a existência, tanto no Brasil

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96 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

quanto no Peru e no Equador, que são competidores do Brasil, de milhares de hectares dessa fruta que não entraram na fase de produção plena. Esses fatores combinados apontam para um aumento da oferta da manga no mercado mundial e é necessário realizar estudos que diagnostiquem a real situação da competitividade da manga brasileira para exportação.

Além disso, a manga brasileira sofre outra ameaça no mercado internacional, principalmente na União Europeia, seu mais importante mercado importador no mercado internacional, que é o fato de concentrar suas exportações em uma única variedade: a Tommy Atkins. Isso ocorre porque, em alguns mercados da comunidade Europeia, que cada vez se encontram mais controlados pelas grandes empresas distribuidoras (redes de supermercados), existe uma tendência de redução na compra da variedade Tommy Atkins. Para enfrentar essa situação, e não vir a perder competitividade, visto que a exploração da manga é uma das principais atividades econômicas da zona semiárida do Brasil, notada mente do polo de produção frutícola do Vale do Submédio São Francisco, é fundamental a realização de estudos que identifiquem, em todos os elos da cadeia produtiva da manga para exportação, os pontos que contribuem para diminuir o potencial competitivo do sistema.

A região do Vale do Submédio São Francisco, que é a área geográfica da cadeia produtiva alvo deste estudo, fica localizada no oeste de Pernambuco e norte da Bahia, onde estão assentados mais de uma dezena de perímetros públicos de irrigação, os quais, no conjunto, respondem por cerca de 140 mil hectares de área irrigada, constituindo um dos maiores polos de fruticultura do Hemisfério Sul. esse contexto, a exploração da manga desponta como a principal atividade econômica, gerando em cada hectare explorado um emprego direto (produção) e três indiretos (demais elos da cadeia). Outra prova da pujança da cadeia em análise é a existência de mais de duas dezenas de packing houses (unidades de beneficiamento), que totalizam no conjunto

cerca de 70 mil metros quadrados de área construída e 55 mil metros cúbicos de capacidade frigorífica.

Além dos fatores já citados neste artigo, os quais justificam a realização de estudos que possam contribuir com subsídios para a implantação de políticas públicas que visem ao aumento do potencial competitivo da cadeia da manga brasileira para exportação, é importante

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Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 97

comentar que a manga ocupa o segundo posto na pauta de exportações dos produtos hortifrutícolas do Brasil. Em 2010, foram enviadas ao mercado internacional 125 mil toneladas (IBRAF, 2011). Por sua vez, por estar localizada em pleno semiárido, onde estão concentrados os maiores bolsões de pobreza do País, a fruticultura da região do Vale do Submédio São Francisco atua como polo de atração de emprego, e ainda recebe continuamente trabalhadores oriundos de municípios localizados em áreas de sequeiro, que buscam melhor qualidade de vida. Como a exploração da manga é um dos principais vetores de sua economia, o funcionamento eficiente da cadeia produtiva dessa fruta garante a continuidade de emprego e renda para um expressivo contingente dessa população, livrando-os do subemprego e da dependência de programas assistenciais do governo.

O objetivo deste trabalho é analisar a competitividade da cadeia produtiva da manga brasileira para exportação, bem como os efeitos de políticas governamentais que atuam sobre ela. A hipótese a ser testada é a de que a região do Vale do Submédio São Francisco é competitiva nas exportações de manga, apesar das políticas públicas que afetam negativamente a cadeia, e de outros fatores, como gestão inadequada das atividades de produção e comercialização, os quais também contribuem para reduzir seupotencial competitivo no mercado internacional de produtos hortifrutícolas.

Conte

x

tualização da manga no mundo

Aspectos da produção

De acordo com dados da FAO (2009), a produção mundial de manga em 2009 foi de 35,125 milhões de toneladas, o que representa um incremento de aproximadamente 40% em relação a 200l. A Índia é o maior produtor, seguido pela China. Ambos respondem por mais de 51% da manga colhida no mundo. Em seguida, vem o México, que é o principal exportador da fruta para os grandes mercados interna-cionais: lndonésia, Tailândia, Paquistão, Brasil e Filipinas. Esse ranking de países produtores de manga corresponde a 80% da produção mundial de manga (Figura 1). Com relação à área de manga plantada no mundo, houve um aumento de 31% no período de 2001-2009. Destaca-se a Ásia como o continente que mais ampliou suas áreas de cultivo, registrando um aumento de mais de um milhão de hectares.

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98 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras [J índia • China D México 40,37% [J Indonésia • Tailândia e Pasuistão • Brasil li Filipinas D Resto 5,71% 11,11%

Figura 1. Distribuição percentual da produção mundial de manga, em 2009.

Fonte: FAO (2009).

Aspectos da comercialização

A manga é a terceira fruta tropical mais comercializada no

mundo. É superada apenas pela banana e pelo abacaxi, ainda que

somente se destine ao mercado externo cerca de 3% da produção

mundial. As variedades de maior importância no âmbito do mercado

internacional agrupam-se em três segmentos: variedades vermelhas

(Haden, Tommy Atkins, Kent, Keitt, Edward, e Zill), variedades verdes

(Alphonse, Julie e Amélie) e variedades amarelas (Ataulfo e Manila).

O consumo mundial de manga vem apresentando um comporta

-mento ascendente diante do incremento da demanda de frutas que

decorre do aceleramento do processo de envelhecimento da população

nos Estados Unidos e na Europa, fato que leva a uma maior preocupação pela saúde. No caso da União Europeia, que é o segundo maior mercado

importador de manga do mundo e o principal destino das exportações

brasileiras, a tendência atual é de uma demanda crescente. Um

importante indicativo desse comportamento pode ser constatado nas

grandes redes de supermercados, nas quais a fruta deixou de ser

comercializada no setor destinado a frutas exóticas e passou para o

bloco das frutas de consumo corrente, tais como maçã, pera, uva,

banana, abacaxi, estando presente nas prateleiras em todos os meses

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Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 99

DEVELOPING COUNTRIES, 2009). Entre o período de 2002 e 2010, as importações extracomunitárias realizadas pela União Europeia apresentaram um crescimento de 66,50%, passando de 139.955 t para

227.977 t (COMISIÓN EUROPEA DEL COMERCIO EXTERIOR,

2011). Entretanto, é importante acrescentar que, na Europa, o consumo per capita da manga é muito baixo. Ainda com relação ao consumo da manga no mercado externo, é importante assinalar que 98% desse produto é consumido na forma de fruta fresca, 1% como polpa e 1% como suco.

Com relação ao processo de sazonalidade da oferta de manga nos grandes mercados internacionais, constata-se que, entre abril e setembro, existe maior oferta do produto. Em decorrência disso, os preços são menores. Nesse período do ano, os países exportadores estão localizados no Hemisfério Norte (México, Paquistão, Índia, Israel,

Filipinas, Costa Rica e Guatemala). A partir de setembro até março existe menor oferta e o produto alcança melhores preços. Nesse horizonte temporal, o comércio internacional de manga é abastecido majoritariamente pelos países do Hemisfério Sul (África do Sul, Equador, Peru e Brasil). Ainda com relação à sazonalidade da oferta, é importante comentar que, como o Brasil desenvolveu tecnologia que possibilita exportar manga durante todo o ano, essa estratégia é utilizada principalmente no mercado da União Europeia, que, como já foi citado, é o maior destino de suas exportações. Nesse mercado, entre janeiro e março as exportações brasileiras do produto ocorrem em

quantidades médias; de abril até julho, as quantidades são reduzidas; de agosto até setembro, são enviadas em quantidades médias e, de outubro até dezembro, são enviadas em grandes quantidades (Tabela 1).

As exportações de manga fresca no ano de 2008 foram equiva-lentes a l.128.629 t, cifra que apresenta um incremento de 85% quando

comparada com as exportações do ano 2000 (FAO, 2009). Os principais países exportadores são: Índia, México, Brasil, Peru e Paquistão

(Figura 2). A Índia, que hoje é o maior país exportador de manga, destina a maioria de suas vendas externas para países vizinhos, embora também envie manga para a comunidade hindu na Europa e para o Médio Oriente. Alphonse é a variedade de manga mais exportada naquele país. O México, cuja sazonalidade da oferta situa-se entre os meses de abril a setembro, é o principal fornecedor dos grandes mer-cados internacionais, destinando 80% de suas exportações para os

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100 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

Tabela 1.Distribuição anual da oferta de manga no mercado da União Europeia. Mês Brasil Peru Israel Costa do Marfim Paquisi.ào

EUA (Porto Rico) Senegal

Costa Rica Mali Equador Burk ina Faso África do Sul

Nota: cor amarela - pequenas quantidades; cor verde - médias quantidades; cor vermelha - grandes quantidades.

Fonte: Cirad (2009). 22% 25% O índia

México O Brasil 3% O Peru 5%

Paquistão O Tailândia

Equador O Resto 12%

Figura 2. Distribuição porcentual da exportação mundial de manga em 2008.

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Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 101

Estados Unidos. As principais variedades que exporta são: Tommy Atkins, Kent, Haden, Ataulfo e Keitt. O Brasil, que é o maior produtor e exportador de manga no âmbito da América do Sul, como desenvolveu tecnologia que possibilita a produção de manga praticamente todo o ano, procura concentrar suas exportações nas épocas em que a oferta é baixa. A variedade Tommy Atkins responde por aproximadamente 90% das exportações brasileiras de manga; entretanto, nos principais polos de produção do País já começou o processo de diversificação com destaque para a variedade Palmer. A manga brasileira é dirigida princi-palmente para os mercados da União Europeia, Estados Unidos e, em menor proporção, para o Japão. O Peru, cujos principais mercados importadores são, em primeiro lugar, os Estados Unidos e, em segundo, a União Europeia, concentra suas exportações na variedade Kent (84%), embora também registre exportações expressivas das variedades Haden e Tommy Atkins (MINISTERIO DEL COMERCIO EXTERIOR Y TURISMO DEL PERÚ, 2009). A manga peruana, que penetra no mercado internacional entre os meses de novembro e março, é atual-mente o produto que registra o maior ritmo de crescimento das exportações da fruta em análise. O Paquistão, que exporta sua manga entre os meses de junho e agosto, tem como principais clientes os países asiáticos e a União Europeia, onde seu produto é comercializado principalmente nos mercados do Reino Unido e da Alemanha, sendo Alphonse e Julie as principais variedades comercializadas. A Tailândia, que envia suas exportações principalmente para o Japão e para os países asiáticos de seu entorno, comercializa principalmente as varie-dades Alphonse e Julie. O Equador também tem o mercado norte-americano como seu principal importador de manga (80% das exportações), seguido do mercado da União Europeia. Esse país, que envia suas exportações de manga entre os meses de outubro e janeiro, comercializa no exterior as variedades Tommy Atkins (65%), Haden (20%) e Kent (15%) (ELHADI, 2009).

No que se refere à importação, os Estados Unidos são os maiores importadores em volume e são responsáveis por aproximadamente 33% do total das importações mundiais de manga. Seus principais fornecedores são: México (março a setembro), Brasil (agosto a dezembro), Peru (dezembro a março) e Equador (novembro ajaneiro). É interessante comentar que, nesse mercado, cujas importações de manga fresca estão crescendo de forma sustentada, o México vem perdendo participação

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102 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

(65% em 2000 e 44% em 2010) para os países da América do Sul. Com relação àforma de organização, o mercado norte-americano de produtos hortifrutícolas está concentrado nas mãos das grandes cadeias de supermercados. Esse grupo, além de possuir maior poder de negociação de preços, tem exigido cada vez mais qualidade no que se refere aos produtos e aos serviços por ele agregado.

O Japão, que é um mercado extremamente exigente em relação aos aspectos fitossanitários, importa mangas (no período de abril a setembro) provenientes principalmente das Filipinas e, em menor medida, do México. os outros meses do ano, opaís encontra-se pouco abastecido havendo espaço para os países exportadores de manga da América do Sul, como é o caso do Brasil e do Peru, que já começaram a penetrar no referido mercado.

A União Europeia (segundo maior mercado importador de manga) é o principal mercado importador da manga brasileira, e o Brasil também éseu principal fornecedor. Com relação a esse mercado, éinteressante observar que, quando se agrega o volume das importações provenientes de fora da nião Europeia ao volume das exportações registradas dentro da UE, esse mercado importador supera o mercado norte-americano. Isso ocorre porque alguns países da União Europeia, como Holanda e Bélgica, são importantes reexportadores de manga. De acordo com dados fornecidos pela Comisión Europea dei Comercio Exterior (2011), a participação dos principais fornecedores de manga para o mercado da União Europeia no ano de 2010 foi a seguinte: Brasil (92.641 t), Peru (60.362 t), Costa do Marfim (1l.303 t), Israel (10.700 t) e Paquistão (10.600 t).Nesse mercado, o principal competidor da manga do Brasil é o Peru e, em menor medida, Equador e África do Sul, que são países localizados no Hemisfério Sul. Israel, em virtude de seu avanço tecnológico, é o único país do Hemisfério lorte que segue comercializando manga na Europa até novembro, ocupando, portanto, uma franja de mercado nesse período de poucos ofertantes. Mesmo sendo um mercado bastante heterogêneo, na maioria dos países que compõem o macromercado da União Europeia, as grandes dis tribui-doras, representadas pelas cadeias de supermercados, dominam a comercialização dos produtos hortifrutícolas. Essa situação favorece o setor tanto no que se refere às negociações de preços quanto às exigê n-cias de qualidade dos produtos e serviços.

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Capítulo 3ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 103

Neste estudo, o produto internacional que se compara com a

manga exportada pelo Brasil é a manga exportada pelo Peru, isso

porque, em todos os importantes mercados internacionais de produtos

hortifrutícolas, trata-se do principal concorrente do produto brasileiro,

sendo pertinente apresentar os dados que revelam o aumento do seu

potencial competitivo no mercado internacional. De acordo com dados

fornecidos pela Comisión Europea del Comercio Exterior (2011), entre

2002 e 2010 as exportações da manga peruana para o mercado da União

Europeia passaram de 10.848 t para 60.362 t. Essas cifras contribuíram

para ampliar de 8% para 27% a participação do produto nesse importante mercado (Figuras 3 e 4). Por sua vez, o Brasil, que é o principal fornecedor

de manga para o mercado europeu, nesse mesmo período reduziu sua

participação de 48% para 41%, mesmo tendo aumentado suas exportações

de 65.049 t para 92.641 t.Esse comportamento de mercado revela que,

no período histórico em análise, o mercado de manga da União Europeia

aumentou, enquanto o Peru foi o país que mais se beneficiou desse

crescimento. Segundo a percepção de operadores comerciais do mercado

de produtos hortifrutícolas europeu, a principal explicação para o

espetacular incremento das exportações de manga do Peru na última

década está associada ao seguinte fato: a variedade Kent, que é o carro

chefe das exportações peruanas de manga, chegou ao continente

europeu tanto de navio quanto de avião, e isso permitiu que o produto

fosse comercializado em todos os segmentos de distribuição, além de ser

um fruto de excelente sabor.

29% 47% oBrasil • Peru O Paquistão OIsrael • Costa do Marfim OResto

Figura 3. Distribuição da participação, no mercado de manga da União Europeia, dos principais paí-ses fornecedores do produto, em 2002.

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Brasil 41% • Peru O Paquistão OIsrael • Costa doMarfim Resto

104 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileira

Figura 4. Distribuição da participação, no mercado da União Europeia, dos principais países forn ecedo-res do produto, em 2010.

Fonte: Comisión Europeu dei Comercio Exterior (2011).

Descrição da cadeia

Amanga brasileira para exportação, produzida e beneficiada na

região do Vale do Submédio São Francisco, é cultivada basicamente

nos perímetros públicos de irrigação, tanto pelos empresários agrícolas

de pequeno, médio e grande porte como pelos produtores familiares. A Tommy Atkins é a variedade predominante nesse polo de produção

e exportação de manga por se tratar de um fruto que resiste bem ao

transporte por via marítima, além de ter longa vida de prateleira.

A exploração da manga alcança a produção plena no 60 ano, e a

produtividade média da região é de 25 mil quilogramas por hectare. Com relação ao manejo do cultivo, trata-se de uma exploração alta

-mente tecnificada e de custo de produção elevado. Em seu pacote

tecnológico, que começa com autilização de mudas selecionadas, estão também incluídos: a fertirrigação, o monitoramento de pragas edoen -ças, a utilização da indução floral e dos reguladores de crescimento.

No Anexo 1 deste capítulo, estão expostos os coeficientes técnicos

correspondentes à implantação e manutenção da exploração de um hectare de manga cultivada nos perímetros irrigadas da região do Vale do Submédio São Francisco.

O sistema de produção de manga utilizado como unidade de

análise para o primeiro elo da cadeia corresponde a explorações

agrícolas localizadas nas unidades produtivas destinadas a pequenas e

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Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 105

Vale do Submédio São Francisco. Essas unidades de produção possuem em média 15 ha irrigados (lotes empresariais pequenos) e de 15 ha a 50 ha (lotes empresariais médios) destinados basicamente à fruticultura, e a mangicultura é a atividade principal. Há também aproximadamente 10 ha com vegetação nativa, que funcionam como área de preservação

do bioma Caatinga, embora a maioria dos agricultores já tenha

começado a utilizar esse espaço para a ampliação dos cultivos irrigados, mesmo não sendo um procedimento adequado.

No tocante ao transporte da manga das áreas de cultivo para as plantas de beneficiamento (segundo elo da cadeia), os percursos são curtos já que, na região do Vale do Submédio São Francisco, tais instala-ções estão localizadas dentro dos perímetros irrigados onde ficam também as áreas de cultivos. Em geral, esse transporte é realizado por motoristas particulares, que já se especializaram nesse tipo de carga, ou por motoristas dospacking houses (unidades beneficiadoras).

Com relação ao elo do beneficiamento, é importante comentar que a maioria das médias e grandes empresas agrícolas possui packing houselocalizado na própria área de produção. Tais estabelecimentos -que estão aparelhados para atender todos os requisitos contidos nos

protocolos de controle de qualidade exigidos tanto pelos governos dos países importadores quanto pelos clientes, os quais, em sua maioria, são as grandes redes de supermercados da União Europeia e dos Estados Unidos - também realizam o beneficiamento das mangas

produzidas pelos pequenos empresários agrícolas e pelos produtores familiares, as quais são comercializadas com a marca da empresa que executa o processamento.

Ao ingressarem nopacking house,asmangas passam pelos seguintes

processos: lavagem, classificação, etiquetagem, embalagem, paletização,

pré-resfriamento (em túnel de refrigeração) e armazenamento (em câmara fria).

A manga para exportação produzida na região do Vale do

Submédio São Francisco é escoada basicamente por três corredores,

quais sejam: o porto de Salvador, que dista aproximadamente 530 km

daárea de produção; o porto de Suape, situado na região metropolitana

deRecife e distante cerca de 750 km da região alvo do estudo; e o

porto de Pecém, localizado no litoral cearense e situado a uma distância aproximada de 830 km das cidades de Petrolina, PE, e]uazeiro, BA,

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Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

106

os três corredores de exportação o produto é acomodado em contêiner

climatizado e transportado em caminhões que alcançam os portos de

destinos pelas diversas rodovias federais que cruzam a região do Vale

do Submédio São Francisco. Nessa análise da competitividade da

cadeia produtiva da manga, foi escolhido o porto de Pecém como

corredor de exportação (quarto elo da cadeia) por tratar-se do mais

aparelhado para exportações de frutas. Nesse corredor (Figura 5), a

manga sai dos packing houses, localizados nos perímetros irrigados de

Petrolina e ]uazeiro, transita inicialmente pela BR-428, no trecho de

Petrolina até Salgueiro, município pernambucano que fica localizado

próximo à divisa com o Estado do Ceará. Em seguida, passa a circular

pela BR-1l6 até as imediações do porto de Pecém, que fica localizado

próximo a Fortaleza.

No porto de Pecém, a manga embarca nos navios nos mesmos

contêineres refrigerados que realizaram o percurso em terra, visto que,

em Petrolina, há um terminal de contêiner dos armadores que realizam

o translado da fruta para o mercado externo. A manga da região do

Vale do Submédio São Francisco é destinada principalmente para os

mercados da União Europeia e norte-americano. Entretanto, como o

principal mercado externo da manga brasileira é a União Europeia,

considerou-se Rotterdam como o porto de destino da cadeia produtiva

em análise e o centro formador de preço da cadeia.

r--- ---1 I I I I I I I Sistema de I produção na : região de : Petrolina/Juazeiro I I I I ___________ 01 r--- ---1 I I I I I I I Transporte da I : fazenda até a : : unidade de : : beneficiamento : I I I I 1 01 i--Ünid-;d;;;; --: : beneficiamento : : (local para: I I lavagem, : : classificação, : I embalagem, I : anmazenamento, : I etc.) I 1 01 r-- -- - - - ---I I I I I I I I I : Transporte do : I packing house I : até o porto : I I I I I I , 01

Figura 5. Organograma da cadeia produtiva da manga brasileira destinada ao mercado externo.

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Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 107

Com base nas situações já apontadas nesse artigo, considerando -se que o mercado internacional da manga tende a ficar ainda mais competitivo, é fundamental a realização de estudo cuja hipótese procure testar a influência de políticas públicas na determinação do potencial competitivo da cadeia da manga brasileira destinada à exportação. Nesse contexto, a Matriz de Analise de Política (MAP), desponta como um instrumento adequado para a operacionalização desse estudo, visto que analisa de forma simples e objetiva os impactos de políticas sobre a cadeia estudada, bem como propicia condições para determinar os efeitos dessas políticas na lucratividade privada, além de estimar os coeficientes de proteção (nominal e efetiva) da atividade econômica alvo do estudo.

Metodolog

i

a

o

presente estudo fundamenta suas análises nos conceitos econô-micos relacionados à lucratividade e aos custos sociais e privados de fatores de competitividade de cadeias produtivas e de política comercial.

Os princípios analíticos desses conceitos foram baseados na teoria neoclássica da firma e na teoria do comércio internacional. O i nstru-mental utilizado para esta analise foi a Matriz de Análise de Política (MAP) desenvolvida por Monke e Pearson (1989).

A MAP como instrumento de análise de cadeias produtivas já foi utilizada por diversos autores, tanto no exterior, com os estudos de Fang e Beghin (1999) e Kannapiran e Fleming (1999), quanto no Brasil, nas análises de Almeida et al. (2001), Marra et aI. (2001) e Cardoso et al. (2001), entre outros. Esse método permite a mensuração dos efeitos das políticas sobre arenda do produtor, bem como a identificação de transferências entre agentes do mercado, produtores e consumidores (a sociedade). Os resultados podem ser desagregados para enfocar regiões particulares, tipos de unidades de produção ou tecnologias, que podem se constituir em informações relevantes para avaliação de política agrícola.

Quando comparada com a análise tradicional de custo-benefício, a análise de competitividade que emprega a MAP apresenta vantagem, pois permite a separação dos efeitos de políticas de natureza micro, como os impostos, e de natureza macro, como as falhas de mercado e

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108 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

outras distorções, possibilitando a avaliação dos impactos desses fatores nos diferentes níveis da cadeia produtiva (MONKE; PEARSON, 1989).

A montagem da MAP, exposta nos resultados deste estudo, éum produto de duas identidades contábeis: uma que expressa alucratividade que é definida como a diferença entre receitas e custos e outra que mensura o efeito das divergências (políticas com distorções e falhas de mercados), obtida por meio da diferença entre os valores privados e os valores sociais. Ao completar o conjunto de planilhas da MAP para um sistema agrícola, um analista pode simultaneamente medir a extensão de transferências ocasionadas pelo conjunto inteiro das políticas que atuam no sistema e o grau de eficiência econômica do sistema.

Neste estudo, os quatro elos considerados para a análise foram: a produção, o transporte até o packing house (unidade de beneficiamento), o beneficiamento propriamente dito e otransporte do packing houseaté o porto de Pecém.

Os coeficientes técnicos correspondentes ao elo de produção foram obtidos nas áreas de exploração de manga dos perímetros irriga-dos da região do Vale do Submédio São Francisco, em lotes agrícolas empresariais de pequeno e médio porte. Nessas unidades de produção, onde érealizado um manejo agronômico que assegura a qualidade e a produtividade da manga dentro de uma base de sustentabilidade ambi-ental, é alto o nível tecnológico dos cultivos.

As informações correspondentes aos custos do segundo eloforam colhidas com motoristas especializados neste tipo de translado (área de produção-packing house). Nesse trajeto, que é relativamente curto, as frutas vêm acondicionadas em caixas de plástico, que comportam cerca de 20 kg do produto. É importante acrescentar que, na discriminação dos gastos contidos nas planilhas de custos, tanto desse elo como do quarto, que também diz respeito ao transporte da manga, utilizou-se o padrão de custos para transporte rodoviário no País.

Os dados referentes ao elo do beneficiamento do produto foram coletados em dois packing houses típicos de unidades beneficiadoras de manga para exportação da região alvo deste estudo. Tais unidades, que estão funcionando dentro dos padrões exigidos pelos clientes internacionais, beneficiam em média 3 t de manga por hora e funcio-nam em torno de 4 meses por ano.

Os custos relacionados ao transporte do packing house aoporto de Pecém, localizado no Estado do Ceará, que o foi o corredor escolhido

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Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 109

para a análise de competitividade da cadeia da manga exportada, foram obtidos por meio de fontes primárias (empresas beneficiadoras que realizam exportações e as empresas de transporte). A manga desti-nada para exportação é embalada em caixas de papelão, que comportam 4 kg do produto, e desde o packing house é armazenada em contêiner refrigerado que a manterá acondicionada nesse ambiente durante todo o trajeto até o porto de destino (trechos rodoviário e marítimo).

Para os cálculos dos preços sociais dos insumos, utilizou-se o fator de conversão que transforma os preços privados em sociais. Para isso, foram coletados preços no mercado interno e preços praticados no Peru, que é o principal país concorrente do Brasil no mercado interna-cional de manga. Os preços peruanos foram internalizados no Brasil da seguinte forma: tomou-se o preço na moeda corrente do Peru, dividiu-se pela taxa de câmbio, depois foram incorporadas as despesas de importação. Finalmente determina-se o fator de conversão divi-dindo-se o preço obtido após internalização pelo preço do insumo no Brasil. É importante ressaltar que, para os cálculos dos fatores de conversão, utilizam-se somente os itens de maior peso na estrutura dos custos da cadeia.

Com relação ao preço do produto, utilizou-se a cotação da manga no porto de Rotterdam como o valor base para se proceder à decom-posição FOB. A partir desse valor, são deduzidos os custos de frete marítimo e de seguro, a comissão do importador, as despesas no porto de embarque no Brasil, o frete rodoviário até a unidade de beneficia-mento, os custos do beneficiabeneficia-mento, o frete da unidade de beneficia-mento até a área de produção até chegar ao preço da manga para o produtor.

Finalmente, foi estruturada a matriz de contabilidade do sistema,

na qual as colunas representam as receitas totais, o custo dos insumos transacionáveis e dos fatores de produção e o lucro. Nas linhas, têm-se a contabilidade privada, social e os efeitos de divergência, que corres-pondem à diferença entre os valores privado e sociais (Tabela 2).

A partir dessa matriz, são calculados os seguintes indicadores: • Lucro privado (D = A - B - C) - aponta a soma do lucro de

todos os elos da cadeia.

• Razão do custo privado [PCR = C/(A - B)] - expressa o quanto o sistema é capaz de remunerar os recursos domésticos (terra,

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110 Competitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

Tabela 2. Matriz de contabilidade do sistema MAP.

Custode Custo dos

Item Receita insumos fatores de Lucro

transacionáveis produção

Valores privados A B C D

Valores sociais E F G H

Efeitos de divergências G K L Fonte: Monke ePearson (1989).

trabalho e capital), mantendo-se competitivo. Quanto menor

esse indicador, maior será a competitividade da cadeia. Quando

o fator for menor do que um, o valor adicionado (A - B)

remunera os fatores domésticos acima do seu retorno normal. • Lucro social (H =E-F - G)- revela o lucro da cadeia produtiva,

considerando os preços sociais dos insumos e dos produtos. • Custos dos recursos domésticos [DCR

=

G/(E-F)] - corresponde

à relação entre o gasto com os recursos domésticos e o valor

adicionado. Tem interpretação semelhante ao PCR, só que é

calculado utilizando-se os valores sociais. Se o DRC é maior

que um, a atividade existe por causa de subsídios, se émenor

que um, a atividade é capaz de utilizar os recursos domésticos

e ainda gerar excedentes.

• Transferência líquida das políticas (TLP = I -

J -

K)- indica se

todo o sistema está sendo subsidiado (valor negativo) ou taxado

(valor positivo).

• Coeficiente de proteção nominal (CPN = A/E) -corresponde

à relação entre a receita privada e a receita social e demonstra

o quanto as políticas estão protegendo ou não o produto.

Valores maiores do que um apontam que o preço do produto é

protegido da competição externa. Valores menores do que um

indicam que o produto está sendo taxado.

• Coeficiente de proteção efetiva [CPE = (A - B)/(E - F)]

-corresponde à relação entre valor adicionado privado e social, expressa o grau de interferência das políticas em toda a cadeia

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io-Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação III

res que um indicam que a cadeia em análise é protegida da competição externa.

• Coeficiente de lucratividade (CL = D/H) - mede a relação entre a lucratividade privada e social e mostra o lucro que poderia ser obtido se não houvesse políticas distorcidas.

• Razão de subsídios aos produtores (RSP = LlE) - respeito à relação entre a divergência do lucro e a receita total a preços sociais da cadeia. Valores positivos apontam que o sistema é subsidiado.

Resultados da Matriz de Análise de Política

No primeiro elo da cadeia, os custos correspondentes aos gastos com insumos intermediários, como defensivos agrícolas, adubos e regulador de crescimento, entre outros, respondem por mais dametade do custo total do elo da produção, na visão tanto dos custos privados como dos custos sociais. O estudo revelou que ocusto total de produção de Itde manga da região do Vale do Submédio São Francisco, destina -da ao mercado externo, sob o ponto de vista privado, foi de R$ 539,62, e sob o ponto de vista social foi de R$ 489,63. Essa diferença de quase 10% entre os dois valores indica uma considerável taxação sobre insumos intermediários e trabalho (Tabela 3). Essa é uma primeira indicação de que está havendo taxação já no primeiro elo de produção.

Tabela 3. Custos privados e SOCIalSdo primeiro elo da cadeia de

produção da manga da região do Vale do Submédio São Francisco destinada à exportação, em 2010.

Custo privado Custo social

Item R$ ha" R$ tI R$ ha" R$r! Custos fixos 2.978,32 119,13 2.978,32 119,13 Custo do trabalho 2.905,42 116,22 2.425,41 97,02 Insumos 6.853,49 274,14 6.837,02 273,48 intermediários Impostos diretos 753,20 30,12 0,00 0,00 Total 13.490,43 539,62 12.240,75 489,63

(18)

114 Compeutividade de cadeias agroindustriais brasileiras

Tabela 6. Matriz de Análise de Política (MAP) da cadeia produtiva da

manga da região do Vale do Submédio São Francisco destinada ao

mercado externo, em 2010 (valores em reais por toneladas de manga

comercializada).

Custo de Custo dos

Item Receita insumos fatores de Lucro transacionáveis produção Valores privados A B C D 1.987,70 826,13 525,01 638,56 Valores sociais E F G H 2.066,84 820,41 485,82 760,50 Efeitos de J G K L divergências -79,14 5,68 37,19 -122,01

Em seguida, expõem-se os indicadores privados e sociais da MAP

para a cadeia produtiva alvo deste estudo:

• Lucro privado = R$ 638,56 por tonelada de manga come rcia-lizada. Essa cifra indica que a cadeia produtiva da manga

brasileira exportada é competitiva em todos os seus elos. • Razão do custo privado - Private Cost Ratio (CPR)

=

0,45.Esse

valor revela que a cadeia em análise gasta R$ 0,45 de recursos

domésticos por R$ 1,00 de valor adicionado gerado. Como

esse valor está bem abaixo de um, pode-se aferir que a atividade

tem capacidade de manter os fatores de produção domésticos

nela empregados, visto que os estão sendo remunerados em

55%acima da remuneração considerada normal.

• Lucro social = R$ 760,56 por tonelada de manga comercia

-lizada. Esse valor indica que a cadeia produtiva é eficiente,

gerando excedentes ao se considerarem custos e receitas pela

abordagem social.

• Razão dos custos dos recursos domésticos - Domestic Resources

Cost (DRC) = 0,39. Essa cifra indica que a cadeia produtiva

demanda R$ 0,39 de recursos domésticos para cada R$ 1,00

gerado de fator adicionado. Esse valor indica que a cadeia

pode exportar ou economizar divisas equivalentes a R$ 1,00,

(19)

mpor-Capítulo S I Compct ili\ idade da cadeia produt iva elamanga para cxport açáo ll5

tamento desse indicador demonstra que acadeia de exportação

da manga é sustentável e possui vantagem comparativa.

• Transferência líquida das políticas (TLP) = -122,04. Essa cifra, com um expressivo valor negativo, aponta que está ocorrendo,

por meio de políticas públicas, transferência de renda da

cadeia da manga para outros setores da sociedade.

• Coeficiente de proteção nominal (CP ) = 0,96. Esse valor

revela que a manga exportada pelo Brasil é taxada e não é

protegida em relação aos correntes internacionais. Ataxação é

equivalente a 49é.

• Coeficiente de proteção efetiva (CPE)

=

0,93. Essa cifra revela

a mesma tendência observada no indicador anteriormente

analisado, a diferença éque esse indicador leva em consideração

o produto e os insumos transacionáveis, O CPE mostra que a

cadeia está sofrendo desproteção ou taxação na ordem de 7%. • Coeficiente de lucratividade (CL) = 0,84. Esse valor revela que a cadeia analisada está sendo liquidamente taxada, acusando

uma taxa de desproteção de 16%, visto que a lucratividade

privada corresponde a 849é- da lucratividade social.

• Subsídios aos produtores (SP) = -0,06. Aponta que a cadeia produtiva da manga brasileira para exportação está

liquida-mente tributada em decorrência das políticas de distorções dos

preços dos fatores, dos insumos e do produto. Essa situação

explicita que os efeitos de divergência negativos correspondem a 67c da receita social (Tabela 7).

Tabela 7. Indicadores privados e sociais da Matriz de Análise de Política

(MAP) da cadeia produtiva da manga da região do Vale do Submédio

São Francisco destinada ao mercado externo, em 2010.

Indicadores privados e sociais para a manga exportada via porto dePecém

Lucros privados Razão do custo privado Lucros sociais LI' D=A-B-C [C/(A -B)J H=E-F-G lG/(E -F)J 638,56 0,-1-5 760,56 0,39 Custos dos recursos domésticos

PCP

LS DCR

(20)

116 Cornpeut ividade elecadeias agroindustriais brasileiras

Tabela 7. Continuação.

Indicadores privados e sociais para a manga exportada via porto de Pecém

Transferência líquida das políticas TLP L=I-J-K 122,01

Coeficiente de proteção nominal CPN A/E 0,96

Coeficiente de proteção efetiva CPE [(A - B)/(E - F)] 0,93

Coeficiente de lucratividade CL D/H 0,84

Subsídios aos produtores SP L/E -0,06

C

onclu

s

õe

s

e

consi

d

erações

Os valores da lucratividade privada e social da cadeia da manga

brasileira para exportação demonstraram que, mesmo com a ocorrência

de políticas públicas que penalizem a cadeia em análise, ela continua

sendo competitiva e com possibilidades de crescimento, caso haja

mudanças das políticas públicas e ajustes de gestão no setor. Oexpressivo

valor negativo das transferências líquidas espelha bem essa situação de

taxação sofrida pela cadeia, situação que também é bem evidenciada

em outros indicadores de competitividade e eficiência econômica como

é o caso do CPN, CPE e IL.

Entretanto, durante a execução deste estudo, que possibilitou

uma visão ampla e aprofundada de todos os elos da cadeia produtiva

da manga elo Vale do Submédio São Francisco, polo de produção que

responde pela quase totalidade elas exportações brasileiras dessa fruta, ficou evidente a necessidade de implantação de medidas urgente para

que essa cadeia continue competitiva na atual conjuntura do mercado

internacional de manga. Entre essas medidas, destacam-se:

• A prioridade número um para produtores e exportadores da

manga do Vale do Submédio São Francisco é a diversificação

de suas carteiras de produtos. A variedade Tommy Atkins, que

é responsável por cerca de 90% das exportações brasileiras,

está perdendo a preferência dos consumidores internacionais

para outras variedades que apresentam melhores qualidades sensoriais, como é o caso da Kent, que é a variedade mais

comercializada pelo Peru, nosso principal concorrente nesse

(21)

Capítulo 3 ICompetitividade da cadeia produtiva da manga para exportação 117

começou a ser executado com o cultivo das variedades Palmer,

Kent, Haden e Keitt; entretanto, as exportações ainda

conti-nuam bastante concentradas na variedade Tommy Atkins.

• Outra medida necessária para o fortalecimento do potencial

competitivo da cadeia produtiva em análise é uma melhor

organização da oferta a ser exportada. Esse procedimento

poderia ser feito via associação de produtores e exportadores,

a fim de evitar a concentração dos envios, que tantos malefícios

causam ao setor, promovendo a saturação do mercado e a

consequente baixa no preço do produto.

• O incremento de ações que visam ofertar nos mercados de

destino frutos saudáveis, isentos de resíduos químicos,

transpa-rentes (rastreados desde o processo de produção até o mercado

de destino) e produzidos de forma respeitosa para com o meio

ambiente. Para tal, o selo de denominação geográfica desponta

como a melhor alternativa para a efetivação dessas ações.

• O fortalecimento dos programas de pesquisa agrícola que

possibilitem o aperfeiçoamento das atividades de colheita e

pós-colheita e o surgimento de variedades com atributos que

atendam plenamente aos gostos e preferências dos

consumi-dores e apresentem adequada resistência com relação ao trans

-porte e ao tempo de prateleira.

Finalmente, é importante acrescentar que a ferramenta MAP,

que revelou vários aspectos importantes da cadeia estudada, como

competitividade, eficiência econômica e efeitos de políticas públicas,

além de possibilitar a realização de algumas considerações, pode ainda

ser utilizada em futuros estudos relacionados à cadeia produtiva da

manga produzida e exportada pela região do Vale do Submédio São

Francisco. Por exemplo, quando as novas variedades de manga,

principalmente a Kent, que, como a Tommy Atkins, também pode ser

exportada via marítima,já estiverem sendo produzidas e comercializadas

em um volume significativo, pode-se avaliar o potencial competitivo

dos sistemas de produção das diversas variedades.

Referências

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(22)

118 Cornpetitividade de cadeias agroindustriais brasileiras

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Capítulo ':) \ Compeúúvldade da cadela produúva da manga para exportação \19

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MONKE, A. E.; PEARSON, S. R. The policy ana1ysis matrix for agricultural

(24)

Anexo 1. Coeficientes técnicos para implantação e manutenção de 1 ha de mangueira, explorado na ~•...•

região do Vale do Submédio São Francisco. o

Quantidade

Discriminação Unidade Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 (e seguintes)

Serviços

Desmatamento mecânico hm 3

Enleiramento mecânico hm 1,5 Desenleiramento mecânico hm 1,5 Queima dh 2 Gradagem pesada hm 2 o o Aração convencional hm 3 -o:3 "

Gradagem convencional hm 1,5 M

<.

Distribuição decalcá rio hm 2 2 2 2 2 2

a:

se

o

-Carrego para a distribuição dh 2 2 2 2 2 2 "o

-dh " Marcação de covas 2 r. Ol o -Coveamento dh 10 ~. :;; Adubação de fundação dh 4 (Jq

"

..

'

, Plantio e replantio dh 4 o

s

o -Tutoramento dh 5

ª

-t

Transporte interno de insumos hm 2

~:

Capina mecânica hm 3 3 4 4 4 4 cr...,

~.

Capina manual dh 8 8 10 12 14 14 ~

(25)

Anexo 1.Continuação.

{

c

Quantidade ol.>O

Discriminação Unidade Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 (e seguintes)

~

Pulverizações mecânicas (inseticida, e hm 3 '-I 5 6 7 8 u

füngicidas) :! Apl icação de Ior m icida dh I I I I I 1 õ: dh '" Adubação de cobertura 3 ti 8 10 12 12 CL

"

Poda de formação dh 5 10 10 :) 4 3 CLo;

Poda de Irut iIicaçâo dh 2,:) 3,5 4 ~

~ Limpeza de panículas dh 2,5 3 3 "~ Indução nora I dh 2,5 2,5 2,5 cCL c Proteção do fruto contra o sol dh 3 4 6 o;::: CL Regulador de crescimento dh 3 3 3

-Irrigação dh 4 4 4 4 4 4 :l Transporte interno de insumos hm 3 3 3 3 3 3 ~u :; Colheita das frutas dh 12 15 17 ~

"

Transporte da produção hm

s

3,:) 4

"

3

Insumos .;=,

~I Calcário dolorn ítico kg 500 !í00 !í00 500 500 500 o

Adubo orgânico (esterco) 111:\ 15 15 15 15 15 15

Mudas para plantio Unidade 250

Mudas para replantio U11idade 25 ,...

~ Continua ...

(26)

Anexo 1.Conti nuação. ~

"

"

Quantidade

Discriminação Unidade Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 (e seguintes)

Tutores Unidade 250

Adubo 1(superfosfaio simples) kg 400 400 400 450 450 450

Adubo 2(cloreto de potássio) kg 100 120 120 120 150 150

Adubo 3(sulfato de magnésio) kg so ~)O 35 3:) 35 35

Adubo Ioliar (Fertamin CAB) L 4 8 10 12 16 18

Fungicida I (mancozeb) kg 2 4 5 6 6 8

Fungicida 2(mancozeb +oxicloreto kg 1,5 2,5 3,5 4,5 5 6 oo

de cobre) -o3

Fungicida 3(oxicloreto de cobre) kg 3,0 5,0 6 8 9 10 ~

Inseticida I(óleo mineral) L 2,0 3,:~J 4,5 5,5 6,5 7,5 :;'a

"'

Inseticida 2 (Ienthion) L 1,5 3 3 4 5 6 c, '" CL Espalhante adesivo L 1,5 2,5 3,5 4,5 5 5 ',".., ~ Formicida kg 2 2 2 2 2 2 ;;; -~. Regulador de crescimento L " (fq (paclobutrazol)

ª

Indutor floral 1(nitrato de cálcio) kg ê:::l"

~

Indutor floral 2(nitrato de potássio) kg ..,

Água (que corresponde ao custo da 1.000rn" 4 7 10 12 14 14

~:

o

-energia) ..~,.

i> :;.

Referências

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