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A Santa Ceia do Novo Testamento e na prática atual

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Academic year: 2021

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A Santa Ceia do Novo Testamento e na Prática

Atual

Gottfried Brakem eier Introdução

" A IECLB en co n tra -se h o je em c a tiv e iro s a cra m e n ta l se m e ­ lh a n te a o c ritic a d o e s u p e ra d o por L u te ro ." !1) Palavras co m o estas tra d u z e m o m a l-e sta r de m uitos com re la ç ã o à p rá tica sa cra m e n ta l em nossa Ig re ja . A lg o nã o vai bem . A "c o rre ta a d m in is tra ç ã o dos s a c ra m e n to s " (CA V II) está em crise. N ão há necessidade de re p e ­ tir o qu e já outros bem disseram . A in d a assim , será in e v itá v e l le m ­ b ra r a lg u m a s das p re o cu p a çõ e s re la tiv a s à Santa C eia, s a cra m e n to a o q u a l neste estudo c o n ce n tra re m o s a a te n ç ã o .(2)

Encontra-se d ifu n d id a um a co m p re e n sã o m a c iç a m e n te m á ­

g ic a . Pão e v in h o sã o e n te n d id o s c o m o " r e m é d io s

s o b r e n a tu r a is " /3) substâncias m ila g ro sa s qu e por fo rç a in e re n te p e rd o a m os pecados e p ro te g e m de desgraça. Em razão disso ju lg a -se d e v e r p a rtic ip a r da Ceia p e rio d ic a m e n te , a fim de " c o lo ­ car as coisas em o rd e m com D e u s", re ce b e r p e rd o a d o s os pecados e ser m u n id o com a fo rç a d a í d e c o rre n te p a ra e n fre n ta r m ais um a e ta p a da v id a . Da Santa C eia se espera a re c u p e ra ç ã o de m o rib u n ­ dos, re s p e c tiv a m e n te a g a ra n tia de v id a e te rn a . E m esm o qu e p re ­ v a le ç a m d ú v id a s com re la ç ã o à fé , a Santa C eia é p ro c u ra d a em v irtu d e de um in d e fe n id o s e n tim e n to d e c o n v e n iê n c ia : "T a lv e z

(1 ) W . A ltm a n n : S a c ra m e n to s — t ú m u lo o u b e rç o d a c o m u n id a d e c ris tã ? In : Est. T e o l. 20, 1980, p. 137.

(2 ) C o m re s p e ito a o b a tis m o , v e ja nossa s c o n s id e ra ç õ e s e m G . B r a k e m e ie r : Teses r e f e r e n ­ te s à c o m p re e n s ã o e p r á tic a d o b a tis m o . In : E n fo q u e s B íb lic o s , S ã o L e o p o ld o , 1980, p. 4 9 ss.

(3 ) Já f a la v a e m " r e m é d io d a im o r t a l i d a d e " In á c io d a A n t io q u ia , p o r v o lt a d e 110 d .C ., d a n d o in í c io a u m a f a t a l in t e r p r e ta ç ã o . V e ja E. A rn s ( e d .) : C a rta s d e S a n to In á c io d e A n tio q u ia . P e tró p o lis , 1970.

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a ju d e , q u e m s a b e ", É um a c a ric a tu ra q u e a q u i esboçam os, mas e la n ã o d e ix a de re p ro d u z ir a lg o de nossa re a lid a d e .

A p ro b le m á tic a d e tal co n ce p çã o é ó b v ia : Falta o c o m p ro ­ m isso.da fé . O rito s a cra m e n ta l se c o rro m p e u em n e g ó c io e os e le ­ m entos em a lg o d e q u e se d is p õ e p a ra a te n d e r necessidades, sem q u e se sentisse a o b rig a ç ã o de um a re a l v iv ê n c ia cristã. N ão m e ­ nos g ra v e é a supressão da d im e n s ã o c o m u n itá ria . Em bora a Santa C eia costum e ser to m a d a na c o m p a n h ia de irm ãos e irm ãs na fé , e la na p rá tic a não cria c o m u n h ã o . A lim e n ta in d iv íd u o s som ente. T ra n q u iliz a , c o n firm a , consola, mas n ã o re n o v a . Reforça a so cie ­ d a d e de consum o q u e cu ltu a o d e sco m p ro m isso .(4)

In v e rsa m e n te , p o ré m , ta m b é m a ê n fa se excessiva no c o m ­ prom isso h u m a n o p o d e le v a r a um a co m p re e n sã o p ro b le m á tic a , re g is trá v e l em nossa Ig re ja com be m m e n o r fre q ü ê n c ia e, a in d a assim , não de to d o ausente . E n contram o-la sem pre qu e a C eia é e n te n d id a pura e s im p le s m e n te co m o "c e le b ra ç ã o da s o lid a rie d a ­ d e " , re s p e c tiv a m e n te co m o expressão da c o m u n h ã o dos p a rtic i­ pantes. Neste caso, o d e c is iv o não a co n te ce na p ró p ria C eia, mas sim a p re ce d e : S o lid a rie d a d e h u m a n a ou m a tu rid a d e na fé se constituem na prem issa da ce le b ra ç ã o . O s a cra m e n to , e n tã o , se re d u z a um in s tru m e n to p a ra a a u to -re p re s e n ta ç ã o de c o m u n id a d e v e rd a d e ira ou d o g ru p o dos v e rd a d e ira m e n te fié is . É interessante q u e a ê n fase no com p ro m isso da fé pod e ta m b é m c o n d u z ir a um a fla g ra n te d e s v a lo riz a ç ã o do sa cra m e n to , fa z e n d o -o ca ir em desu­ so ou c o n fin a n d o -o a m e ro a p ê n d ic e da p rá tic a e c le s ia l.

M ostra isto qu e os a n tig o s p e rig o s do "s a c ra m e n ta lis m o " de um la d o e d o " s im b o lis m o " de o u tro de m o d o a lg u m estão su p e ra ­ dos. C e rta m e n te é ilíc ito fo rç a r as posições da a tu a lid a d e para d e n tro dos tra d ic io n a is esquem as d o g m á tico s. S egund o estes d is tin g u ia -s e e n tre as posições a ) c a tó lic o -ro m a n a q u e fa la de um a tra nssubstan ciação na e u c a ristia , b) a lu te ra n a , a firm a n d o a p re ­ sença re a l de Cristo nos e le m e n to s , e c) a z w in g lia n a , de a co rd o com a q u a l a C eia n ã o possu iria senão s ig n ific a d o " s im b ó lic o " . Desde a é p o ca da R eform a m u ito esforço fo i in v e stid o na su p e ra ­ ção das b a rre ira s co n fe ssio n a is, tendo-se lo g ra d o nisto a lg u m

su-(4 ) A in d a f a lt a u m e x a m e d a s c a u s a s d o s a c r a m e n ta lis m o e m n ossa s c o m u n id a d e s . P or­ v e n t u r a , re s id e m u n ic a m e n te n o d e s c u id o d a Ig r e ja c o m r e la ç ã o a o a s s u n to ? V e ja a c rític a d e J. L. S e g u n d o : T e o lo g ia A b e rt a p a ra o L e ig o A d u lt o , V o l. 4, S ã o P a u lo , 1977, p. 5 s; 33 s; e tc .

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cesso. Exige-se, pois, c u id a d o na a p lic a ç ã o desses e squem as e de suas v a ria n te s históricas. Os resultados d o d iá lo g o b ila te ra l e v a n g é lic o -lu te ra n o /c a tó lic o -ro m a n o ,(5) a C o n có rd ia de Leuen- b e rg e n tre as Igrejas lu te ra n a s e re fo r m a d a s /6) bem com o o re c e n ­ te d o c u m e n to "B a tis m o , Eucaristia e M in is té rio " d o C onselho M u n ­ d ia l das Igrejas, (7) são alguns im portantes marcos nesta cam inha­ da de g ra d a tiv a a p ro x im a ç ã o .

E to d a v ia , o m e n c io n a d o a n ta g o n is m o co n stitu i a in d a hoje um p a râ m e tro dos p e rig o s a q u e a co m p re e n sã o da C eia c o n tin u a

exposta. Falam os em sacram entalism o, q u a n d o o rito da C eia é

ju lg a d o e fic a z em si, sem q u a lq u e r re la ç ã o com a fé dos co m u n - gantes, a ssu m in d o as características de um ritu a l m á g ico . E um p e ­ rig o quase tã o a n tig o co m o a Ig re ja . Já o a p ó s to lo Paulo era o b ri­ g a d o a re ch a ça r concepçõ es respectivas na c o m u n id a d e de C o rin ­ to. V ia e la na C eia d o S enhor um " m a n ja r e s p iritu a l" , c u jo e fe ito seria a a b so lu ta g a ra n tia da sa lva çã o (cf 1 Co 10. Is). O a p ó s to lo a b a la a segurança dos coríntios, a le rta n d o : " A q u e le , pois, que pensa estar em pé, ve ja qu e nã o c a ia ." (1 Co 10.12)

Enquanto isso, o simbolismo^8) e n te n d e o rito da C eia e os

e le m e n to s a p e n a s co m o ilu stra çã o e fig u ra . Ela n ã o é vista em p ri­ m e iro lu g a r co m o d á d iv a , mas sim co m o d o c u m e n ta ç ã o . Pão e v i­ nh o a p e n a s " s im b o liz a m " o c o rp o e sa ngue de Jesus, e o rito to d o sim b o liz a a c o m u n h ã o dos crentes. A ê n fa se recai sobre a fé e a c o m u n h ã o dos crentes. E e la q u e " f a z " a C eia. M as, pode-se fa la r

neste caso a in d a da C eia d o Senhor? A e m o ç ã o p o r sobre a e x p e ­

riê n c ia da c o m u n h ã o e da p ró p ria fé p ra tic a m e n te substituem a d á d iv a o b je tiv a de Cristo. Assim co m o a te o ria s a c ra m e n ta lis ta tem certa a fin id a d e ao ra c io n a lis m o o b je tiv o , assim a c o m p re e n sã o f i ­ g u ra tiv a ou s im b ó lic a a o e n tu sia sm o s u b je tiv o .

(5 ) V e ja G e m e in s a m e r ö m is c h - k a th o lis c h e / e v a n g e lis c h - lu th e r is c h e K o m m is s io n : D as H e r­ r e n m a h l. P a d e r b o n / F r a n k fu r t, 1982. O fe r e c e u m a b o a s u p e r v is ã o s o b re a d is c u s s ã o e c u m ê n ic a J. R e u m a n n : Th e S u p p e r o f th e L o rd . Th e N e w T e s ta m e n t, E c u m e n ic a l D ia ­ lo g u e s a n d F a ith a n d O r d e r o n E u c h a ris t. P h ila d e lp h ia , 1985.

(6 ) P u b lic a d a (e n tre o u tro s ) e m : L u th e ris c h e R u n d s c h a u 2 3, 1 973, p . 451 ss

(7 ) C o n s e lh o M u n d ia l d e Ig re ja s : B a tis m o , E u c a ris tia , M in is té r io . E d iç ã o d o C O N IC e CEDI, R io d e J a n e ir o , 1983.

(8 ) A p a la v r a " s í m b o l o " te m p a s s a d o p o r tr a n s fo r m a ç ã o d e s ig n ific a d o n a h is tó r ia re c e n ­ te . N ã o m a is e x p re s s a e x a t a m e n te o m e s m o c o m o e m é p o c a s p a s s a d a s . Por a in d a n ã o d is p o rm o s d e p a la v r a m e lh o r , c o n t in u a m o s f a la n d o e m " s im b o li s m o " n a d e f in iç ã o d a d a a c im a . C f, p o r e x e m p lo , W . A ltm a n n : o p . e it. p. 135 (A 2 5 ).

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A in d a q u e , co m o já dissem os, a e s m a g a d o ra m a io ria das posições te o ló g ic a s da a tu a lid a d e nã o possa ser e n q u a d ra d a em e x a ta m e n te os e xtre m o s a c im a esboçados, re g istra m -se te n d ê n ­ cias m ais ou m enos fo rte s p a ra este ou a q u e le la d o , s o b re tu d o em nossa p rá tic a c o m u n itá ria . Em razão disto há u rg ê n c ia em rediscu- tir a p e rg u n ta : C o m o se re la c io n a m na Santa C eia a d á d iv a e o com p ro m isso , a p a la v ra e a fé , Jesus Cristo e sua c o m u n id a d e ? Q ual vem a ser a d á d iv a e q u a l o com p ro m isso em q u e im p lic a ? E fin a lm e n te , a q u e m se de stin a o s a cra m e n to e q u a l é sua fu n ç ã o na Ig re ja ?

P rocurarem os re sp o n d e r estas p e rg u n ta s a p a rtir do N o vo T e stam ento.(9) O recurso à fo n te o rig in a l n a tu ra lm e n te nã o n e u tra ­ liza a p e rsp e ctiva c o n fe ssio n a l. M as e le a re la tiv iz a e a põe à p ro ­ va. D o u trin a cristã, em ú ltim a in stâ n cia , só p o d e ser d o u trin a b íb li­ ca, sendo a Escritura a base em q u e as d iversas tra d içõ e s tem seu lu g a r d e e n c o n tro e seu c rité rio . P retende m o s assim c o n trib u ir para o d e b a te te o ló g ic o , p a ra o e s c la re c im e n to de questões duvid o sa s e para um a p rá tic a e ucarística m ais responsáve l.

I. As origens remotas da Santa Ceia

Jesus, em tem pos de sua v id a terrestre, m a n tin h a c o m u ­ n h ã o de m esa com os p e ca d o re s (M c 2.15; Lc 15.1 s; e tc .).(10) A C eia pós-pascal da c o m u n id a d e cristã tem aí as suas o rig e n s re m o ­ tas, re s p e c tiv a m e n te a lg o co m o seu p re c e d e n te . Isto não s ig n ific a q u e a Santa C eia devesse ser c o m p re e n d id a co m o m era c o n tin u a ­ ção dessa c o m u n h ã o d e Jesus com g e n te p e c a d o ra .^ 1) A pós a S e x ta -fe ira Santa e a Páscoa o cear dos d iscíp u lo s com seu m estre é o u tro , p ro fu n d a m e n te m a rca d o po r a q u e le s a c o n te c im e n to s d e ­

(9) A p e s a r d o e n f o q u e e s c r itu rís íic o d o n o sso e s tu d o , r e c o m e n d a m o s in s is te n te m e n te a le itu r a d a s p a s s a g e n s r e s p e c tiv a s n o s C a te c is m o s M e n o r e M a io r d e L u te ro e d a C o n fis ­ s ã o d e A u g s b u r g o . V e ja L iv ro d e C o n c ó rd ia . A s C o n fis s õ e s d a Ig r e ja E v a n g é lic a L u te ra ­ n a . S ã o L e o p o ld o /P o r to A le g r e , 1980, p. 361 s; 3 8 5 s; 23s. (1 0 ) R e m e te m o s p a ra O . H o fiu s : Je su T is c h g e m e in s c h a ft m it d e n S ü n d e rn . C a lw e r H e fte 8 6, S tu ttg a rt, 1967. (1 1 ) N is to te m a b s o lu ta ra z ã o L. G o p p e lt: T e o lo g ia d o N o v o T e s ta m e n to . V o l. 1, S ão L e o p o ld o /P e tr ó p o lis , 1976, p. 2 30: A S a n ta C e ia n ã o é u m a s im p le s re n o v a ç ã o d a c o ­ m u n h ã o d e m e s a d o s d ia s te rre n o s d e Je su s s o b in f lu ê n c ia d a s a p a r iç õ e s p a s c a is . M a s G o p p e lt n ã o c o n s id e r a s u fic ie n te m e n t e as s e m e lh a n ç a s e x is te n te s . C f J. R o lo ff: N e u e s T e s ta m e n t, N e u k ir c h e n 1979, 2 a e d . p. 2 1 7 s; F. H a h n : Z u m S ta n d d e r E rfo rs c h u n g d es u r c h r is tlic h e n H e r r e n m a h le s . In : Ev. T h e o l. 3 2, 1975, p. 5 5 3 ; W . M a rx s e n : D as A b e n d ­ m a h l a ls c h ris to lo g is c h e s P ro b le m , G ü te r s lo h , 1963, p. 2 0 ; J. J e re m ia s : Isto é o m e u c o rp o , S ã o P a u lo , 1978.

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cisivos e a p re s e n ta n d o a lg u m a s características novas. E, to d a v ia , contém ta m b é m e le m e n to s a n tig o s, id ê n tico s antes e d e p o is da Páscoa. Entre eles, q u a tro são de especial im p o rtâ n c ia :

1. C o m e n d o com pecado re s, Jesus e x p lic ita m e n te os aceita e im p lic ita m e n te lhes p e rd o a . O ju d e u não c o m ia com q u a lq u e r pessoa. C o m u n h ã o de mesa era c o m p re e n d id a com o fo rm a de co­ m u n h ã o fa m ilia r , reservada a pessoas a ch e g a d a s, a m ig a s, e s ig n i­ fic a v a a lto grau de id e n tific a ç ã o dos c o m u n g a n te s /12) E sa b id o q u ã o cru cia l tem sido, nos p rim e iro s te m p o s de Ig re ja , a q uestão da c o m u n h ã o de mesa e n tre ju d a ico -cristã o s e g e n tílic o -c ris tã o s (G1 2.11 s). Tanto m ais n o tá v e l é o d e se m b a ra ço com qu e Jesus co ncede c o m u n h ã o de mesa aos pecado re s, a g e n te in d ig n a , p o r­ ta n to , qu e não o m e re cia e era de sp re za d a pelos justos. R eúnem - se nestas o p o rtu n id a d e s pessoas qu e v iv e m da g raça de Jesus.

Sob esta p e rsp e ctiva , Jesus é sem pre o a n fitriã o , o d o a d o r da ceia, a in d a qu e seja o c o n v id a d o /13) Pois, d a n d o sua c o m u ­ n hão, dá re c o n h e c im e n to , v a lo riz a ç ã o e p e rd ã o dos pecados que tem a c o ra g e m de c o n c c J e r em n om e de Deus (cf M c 2.1 s). Per­ tencem aos seus p re fe rid o s os cu lp a d o s d ia n te de Deus e dos ho­ m ens (Lc 19.1 s),(14) os pobres (Lc 6.20), os p e q u e n o s (Lc 18.15 s), os " q u e n ada s ã o " (cf 1 Co 1.26 s). Pois, "o s sãos não precisam de m é d ico , e, sim , os d o e n te s " (Mc 2.17). E a razão p o rq u e à m esa de Jesus todos tem acesso, desde q u e re c o n h e ça m os seus pecados. A c o m u n h ã o de mesa de Jesus não é fe c h a d a , é a b e rta .

2. C o m e n d o com pecado re s, Jesus de certa fo rm a antecipa

o banquete escatológico do re in o de Deus. Em não poucas o p o r­

tu n id a d e s Jesus fa lo u no b a n q u e te com o fig u ra para a p e rfe iç ã o e spe ra d a do m u n d o fu tu ro (cf M t 8.11; 22.1 s; Lc 12.37; e tc .). Reino de Deus é festa, a le g ria , c o m u n h ã o , p e rd ã o , fa rtu ra , é n o v id a d e de re la c io n a m e n to social. A c o m u n h ã o de m esa qu e Jesus dá a p ecado re s e p u b lica n o s, pobres, a le ija d o s , coxos e cegos (cf Lc 14.13 s; 14.21 s), s ig n ific a a um só te m p o a prom essa de sua p a rti­ cip a çã o na ceia fe s tiv a d o fu tu ro re in o de Deus e a a n te c ip a ç ã o

es-(1 2) D e s c riç ã o d e u m a c e ia ju d a ic a e m P. B ille r b e c k (H. L. S tra c k ): K o m m e n ta r z u m N e u e n T e s ta m e n t a u s T a lm u d u n d M id r a s c h , V o i. IV , M ü n c h e n , 1 922, p. 611 s.

(1 3) C f J. R o lo ff: o p . c it., p. 2 1 8 q u e , c o m m u ito a c e rto , s u b lin h a a r e le v â n c ia c ris to ló g ic a d a c o m u n h ã o d e m e s a d e Je sus c o m os p e c a d o re s .

(1 4) V e ja o n osso e s tu d o , G. B r a k e m e ie r : P o b re s e p e c a d o re s n a ó tic a d e Je sus. In : Est. T e o l. 25, 1985, p. 13 s .

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c a to ló g ic a da m esm a. A c o m u n h ã o de mesa com Jesus s ig n ific a a lg o n o vo neste m u n d o . Tem um a d im e n s ã o e s c a to ló g ic a .í15)

3. N ão é por acaso, pois, qu e o p ro c e d e r de Jesus p ro vo ca o protesto por p a rte de fa rise u s e d e m a is piedosos (Lc 15.1 s; etc.).

C o n sid e ra m -n o escandaloso. Isto po r duas razões: Um a vez co n ­

fu n d e m a a c e ita ç ã o d o p e c a d o r com a do p e ca d o . N ão d is tin g u e m e n tre a pessoa e seus atos, in te rp re ta n d o por isto a a titu d e de Jesus e rro n e a m e n te co m o a p o io a o p e ca d o e le g itim a ç ã o . Em seg u n d o lu g a r, p o ré m , critic a m Jesus por se se n tire m por e le a g re d id o s . O p e rd ã o q u e Jesus dá subverte e re la tiv iz a seus p riv ilé g io s de pes­ soas " ju s ta s " . Insistem em castigo, p e n itê n c ia , confissão de cu lp a e n ã o a b re m m ã o d o p rin c íp io q u e a pessoa d e v e re c e b e r rig o ro ­ sam ente c o n fo rm e o m é rito . R evelam assim a sua in c a p a c id a d e de p e rd o a r, sinal in e q u ív o c o de ju s tific a ç ã o pelas obras e de v a n g ló ­ ria h u m a n a . Portanto, ta m b é m na c o m u n h ã o de m esa, c o n ce d id a por Jesus, percebe-se a lg o de e scâ n d a lo d o E vangelh o q u e consis­ te na ru p tu ra da lei do m é rito e na d e m o n stra çã o de g raça (cf M t 20.1 s; Lc 15.25 s; e t c . ) .(’ 6)

4. E xatam ente por não h a ve r id e n tid a d e e n tre a a c e ita ç ã o do p e c a d o r e a do p e ca d o , é q u e a c o m u n h ã o com Jesus im p lic a

um chamado. Jesus nã o se id e n tific a com o p e ca d o r. Torna-se d e ­

le " p r ó x im o " , e a c o m u n h ã o q u e e le dá d e ve ser e n te n d id a com o chance para nova v id a . Diz isto e xp re ssa m e n te a passagem Mc 2.17: " . . . nã o v im c h a m a r justos, e sim , p e c a d o re s ." M e re c e ser e n fa tiz a d o qu e a c o m u n h ã o d a d a por Jesus p re ce d e o ch a m a d o . Este é um a im p lic a ç ã o d a q u e la , não vice -ve rsa . T am bém os f a r i­ seus c h a m a v a m os p e ca d o re s e os c o n v id a v a m a o a rre p e n d im e n ­ to. M as e n te n d ia m ser o a te n d im e n to a este c h a m a d o a prem issa de sua c o m u n h ã o com eles. Isto, em Jesus, é d ife re n te . A ntes de e x ig ir, e le dá. M as, d a n d o nã o d e ix a de e x ig ir. Por isto, q u e m co­ m u n g a na mesa de Jesus está sob o im p e ra tiv o de a n d a r em n o v i­ d a d e de v id a e na trilh a do d is c ip u la d o .

(1 5) C f O . H o fiu s : o p . c í t . , p. 17; F. H a h n : D ie a lt te s ta m e n t lic h e n M o tiv e in d e r u r c h r is tli- c h e n A b e n d m a h ls ü b e r lie f e r u n g . In : Ev. T h e o l. 2 7 , 1967, p . 3 4 5 ss; e tc . A c o m u n h ã o d e m e s a d e Je su s c o m os p e c a d o re s d e v e se r v is ta à lu z d a p r o x im id a d e d o r e in o d e D eu s p r o c la m a d a p o r Je sus. L o g o , te m o s n essa c o m u n h ã o a r e p r e s e n ta ç ã o d e u m a n o v a r e a lid a d e s o c ia l, n a q u a l e s tã o v e n c id a s as b a r r e ir a s d iv is o r a s d a h u m a n id a d e . S u rg e a n o v a c o m u n id a d e d e D eus. J. R o lo ff: o p . c it. ib d . (1 6) S o b re o E v a n g e lh o c o m o e s c â n d a lo v e ja e m e s p e c ia l J. J e re m ia s : T e o lo g ia d o N o v o T e s ta m e n to , 1a p a rte , S ã o P a u lo . 1977, p. 183 s; G . B o r n k a m m : Je sus d e N a z a r é , P e tró - p o lis , 1976, p. 7 8 ; G . B r a k e m e ie r : A p a r á b o la d o s tr a b a lh a d o r e s n a v in h a . In: E n fo q u e s B íb lic o s , S ã o L e o p o ld o , 1980, p. 14 s; e tc.

(7)

Em resum o: Há um a p ro x im id a d e m u ito g ra n d e e n tre a co­ m u n h ã o de mesa q u e o Jesus terrestre m a n tin h a com g e n te p e ca ­ d o ra , p o b re , in d ig n a , e Santa C eia da c o m u n id a d e p o ste rio r. Tam ­ b é m p a ra esta são característicos o p e rd ã o dos pecados, a d im e n ­ são e s c a to ló g ica , o c h a m a d o , e e la possui, se bem c o m p re e n d id a , a lg o de escando loso. V o lta re m o s a o assunto.

II. A última ceia de Jesus

E nquanto a c o m u n h ã o de m esa com os p e ca d o re s p e rte n ce às o rig e n s re m o ta s da Santa C eia, a ú ltim a ceia de Jesus com seus discípulos antes da c ru c ific a ç ã o a d q u ire re le v â n c ia d e cisiva . Tanto os e v a n g e lis ta s sinóticos q u a n to a tra d iç ã o de Paulo, m e d ia n te as p a la vra s " n a n o ite em qu e fo i tra íd o " (1 Co 11.23), in d ic a m para esta ú ltim a ce ia co m o o m o m e n to da in s titu iç ã o da e u c a ris tia . O ca rá te r in s titu in te deste e v e n to se d e d u z c la ra m e n te da o rd e m de re p e tiç ã o : "F a z e i isto em m e m ó ria de m im " (Lc 22.19; 1 Co 11.24 s). Na ú ltim a ceia de Jesus, p o rta n to , tem os a o rig e m h istó rica des­ te sa cra m e n to . C o n s e q u e n te m e n te é d e la q u e d e v e m o s fa la r a n ­ tes de m ais n ada. P e rg u n ta n d o , p o ré m , p e lo q u e e fe tiv a m e n te a seu re sp e ito sabem os, d e ve m o s c o m e ça r com duas constatações n e g a tiva s:

1. Nós não sabem os e x a ta m e n te q u a n d o esta ceia teve lu ­ g a r . (17) C on co rd a m os q u a tro e v a n g e lis ta s em q u e o d ia da c ru c ifi­ cação de Jesus te n h a sido um a s e x ta -fe ira , o d ia a n te rio r a o sá b a ­ do (Mc 15.42; M t 27.62; Lc 23.54; Jo 19.31,42). M as eles d iv e rg e m no q u e d iz re sp e ito a o in íc io da páscoa n a q u e le a n o , festa q u e costum ava estende r-se p o r to d a um a se m a n a : C o n fo rm e os e v a n ­ g e lh o s sinóticos, a n o ite d a q u e la q u in ta -fe ira , na q u a l Jesus p e la ú ltim a vez ce io u com seus d iscípulos, te ria p e rte n c id o a o p rim e iro d ia da páscoa (na a n tig a P alestina os dias c o m e ça va m sem pre às 18 hs). A ú ltim a ceia de Jesus te ria tid o as características de um a ce ia pascal (cf M c 14.12.17; e tc .). De a c o rd o com João, p o ré m , Je­ sus te ria m o rrid o a in d a no d ia da p re p a ra ç ã o . A páscoa, neste ca­ so, n ã o te ria in ic ia d o na véspera de q u in ta -fe ira , mas sim um d ia m ais ta rd e (cf Jo 18.28; 19.14). Nessas co n d içõ e s a ú ltim a ce ia de Jesus não p o d e te r sido um a ceia pascal. Q uem está com a razão?

(1 7 ) V e ja e s p e c ia lm e n te J. J e r e m ia s : D ie A b e n d m a h ls w o r t e J e s u , G ö tt in g e n , 1 967, 4 a e d . p. 9 s; R. F e n e b e rg : C h r is tlic h e P a s s a fe ie r u n d A b e n d m a h l, M ü n c h e n 1971.

(8)

A m b a s as versões se revestem de p ro fu n d o s ig n ific a d o te o ­ lógico. C o n fo rm e João, Jesus m orre no e x a to m o m e n to em qu e , no te m p lo são a b a tid o s os c o rd e iro s e p re p a ra d o s para a re fe iç ã o pascal à n o ite . Desta fo rm a , o e v a n g e lis ta a p re g o a Jesus com o sendo o v e rd a d e iro c o rd e iro pascal (1 Co 5 .7 ; cf Jo 1.36), com o q u a l in ic ia um n o vo ê x o d o , ou seja um a nova h istó ria . Ele " . . . su­ b lin h a q u e a m orte de Cristo assinala a v ira d a e sca to ló g ica que c o n stitu i, a o m esm o te m p o , o fim do cu lto h e b ra ic o e ve te ro te sta - m e n tá r io ." ( 18) Os e v a n g e lis ta s sinóticos, e n q u a n to isso, e s ta b e le ­ cem o v ín c u lo com a páscoa ju d a ic a m e d ia n te a p ró p ria ceia. Je­ sus, n a q u e la q u in ta -fe ira à n o ite , te ria c e le b ra d o a páscoa com os seus discípulos. Deste m o d o , em c o n tin u id a d e e d e s c o n tin u id a d e , a Santa C eia substitui a v e lh a páscoa po r um a nova. Ela é c e le b ra ­ ção pascal.

A questão histó rica le v a n ta d a p e la d ife re n ç a e n tre os e v a n ­ ge lh o s, é p ra tic a m e n te in s o lú v e l.í19) Há a rg u m e n to s em fa v o r de a m bas as versões. C erto é q u e a Santa C eia e a m orte de Jesus, à q u a l está tão in tim a m e n te lig a d a , d e v e m ser c o m p re e n d id a s no co n te xto da páscoa ju d a ic a . N isto, apesar das d iv e rg ê n c ia s , há u n a n im id a d e e n tre os e va n g e lista s.

2, Da m esm a fo rm a não sabem os e x a ta m e n te , q u a is fo ra m as p a la vra s que Jesus na o p o rtu n id a d e p ro fe riu . A tra d iç ã o a res­ p e ito das p a la vra s da in s titu iç ã o v a ria . Temos três versões:

a. A versão de Marcos. Ela diz:

"T o m a i, isto é o m eu c o rp o ."

"Is to é o m eu sangue da a lia n ç a , d e rra m a d o em fa v o r de m u ito s " (Mc 14.22 s).

(1 8) E. L oh se : A in s t it u iç ã o d a ú lt im a c e ia . In : A h is tó r ia d a p a ix a o e m o rte d e Je sus C ris to , S ã o P a u lo , 1977, p. 71.

(1 9) O g ig a n te s c o e s fo rç o d e J. J e re m ia s : D ie A b e n d m a h ls w o r t e Je s u , o p . c it., p o r d e m o n s ­ tra r a e x a t id ã o d a c r o n o lo g ia d o s e v a n g e lh o s s in ó tic o s , d o q u e r e s u lta r ia a n a tu re z a p a s c a l d a ú lt im a c e ia d e Jesus, n ã o c o n d u z iu a re s u lta d o r e a lm e n te c o n v in c e n te . V e ja a a v a lia ç ã o c rític a d a s te se s d e J. J e re m ia s e m G. B o rn k a m m : H e r r e n m a h l u n d K irc h e b e i P a u lu s. In: S tu d ie n zu A n tik e u n d U r c h ris te n tu m , M ü n c h e n , 1959, p. 149 s; R. F e n e - b e rg : o p . c it., p. 19 ss; e tc . A im p o s s ib ilid a d e d e se o b t e r u m a re s p o s ta c o n c lu s iv a é e n tr e m e n te s a d m it id a p e la m a io r ia d o s e s p e c ia lis ta s . C f F. H a h n : D ie a lt e s t a m e n tli- c h e n A A otive, o p . c it., p . 3 4 3 ; E. S c h w e iz e r: Das H e r r e n m a h l im N e u e n T e s ta m e n t. In: N e o te s ta m e n tic a , Z ü r ic h / S tu tt g a r t, 1963, p. 3 5 3 ; e tc .

(2 0) E. S c h w e iz e r: Das E v a n g e liu m m a c h M a tth ä u s , NTD 2, G ö tt in g e n 1973, p. 3 21 ; H .P a ts c h : A b e n d m a h l u n d h is to ris c h e r Je sus, S tu ttg a rt, 1972, p. 6 9 ; F. L a n g : A b e n d ­ m a h l u n d B u n d e s g e d a n k e im N e u e n T e s ta m e n t. In : Ev. T h e o l. 3 5, 1975, p. 5 2 5 ; e o u ­ tros.

(9)

Está m u ito p ró x im a de M arcos e d e p e n d e n te d e le a versão de M ateus. A crescenta o p rim e iro e v a n g e lis ta após o " t o m a i" um " c o m e i" , tra n s fo rm a a n o tícia de todos te re m b e b id o d o c á lice (Mc 14.23) em im p e ra tiv o " b e b e i d e le to d o s " e e s p e cifica q u e o san­ g u e de Jesus, d e rra m a d o em fa v o r de m uitos, o fo i para a re m is­ são dos pecados (M t 26.26 s). Explicam -se os acréscim os e a a lte ra ­ ção fa c ilm e n te a p a rtir da p rá tic a litú rg ic a da p rim e ira c o m u n id a ­ de. A versão de M ateus, em todos os casos, não re p re se n ta n e n h u ­ ma tra d iç ã o p ró p ria a o la d o de M arcos, no que há a m p lo consenso na pesquisa.

b. Temos a versão de Paulo, d iz e n d o :

"Is to é o m eu c o rp o d a d o por v ó s .''

"Este cá lic e é a nova a lia n ç a em m eu s a n g u e ," sendo qu e a m b a s as p a la vra s estão a c o m p a n h a d a s da assim ch a ­ m ada o rd e m de re p e tiç ã o : "F a ze i isto (sem pre q u e o b e b e rd e s) em m e m ó ria de m im " (1 Co 11.23 s).

Um a a p a re n te te rc e ira v a ria n te é a p re s e n ta d a po r Lucas (cap. 22.15-20), seg u n d ~ a q u a l Jesus to m o u duas vezes o c á lic e , no in ício e no fim da re fe iç ã o . E assim ch a m a d a versão lo n g a do te rc e iro e v a n g e lis ta .(21) A d e s p e ito dessa p e c u lia rid a d e , p o ré m , a fin id a d e s m u ito g ra n d e s com a versão de Paulo saltam aos olhos: D esconsiderando-se dois in s ig n ific a n te s a d e n d o s, as p a la vra s re fe ­ rentes ao pão e a o cá lic e tem p ra tic a m e n te o m esm o teor. R eapa­ rece em Lucas a a firm a ç ã o qu e Jesus to m o u o cá lic e "a p ó s te re m c e a d o " (Lc 22.20; 1 Co 11.25), bem co m o a o rd e m de re p e tiç ã o (Lc 22.19), e m b o ra so m e n te em co n e x ã o com a p a la v ra re la tiv a ao pão. C om o se d e fin e o fla g ra n te pare n te sco e n tre Paulo e Lucas?

Há co n c o rd â n c ia na pesquisa no s e n tid o de não se p o d e r fa la r n um a d e p e n d ê n c ia lite rá ria d ire ta .í22) Lucas qu e escreve em épo ca a lg o m ais a va n ç a d a d ific ilm e n te co n h e ce u o te xto de

Pau-(2 1 ) O a s s im c h a m a d o te x to o c id e n ta l, re p r e s e n ta d o p e lo c ó d ic e D e u m g r a n d e n ú m e r o d e c ó d ic e s la tin o s ( it) e x c lu e m os V 19 e 20, a p r e s e n ta n d o , pois,, u m a v e rs ã o c u rta . E lim i­ n a m a s s im a d if ic u ld a d e d a d u p la m e n ç ã o d o c á lic e e m Lucas ( e m b o r a e lim in e m ta m ­ b é m a p a la v r a in t e r p r e t a t iv a d e Je sus s o b re o m e s m o ). C o n fo r m e o p in iã o u n â n im e d o s e s p e c ia lis ta s a v e rs ã o c u rta n ã o p o d e se r c o n s id e r a d a o r ig in a l. O te x to o r ig in a l d e Lucas a p r e s e n to u , s e m d ú v id a a lg u m a , a v e rs ã o lo n g a . V e ja J. J e re m ia s : D ie A b e n d - m a h ls w o r t e , p. 133 s; id e m : T e o lo g ia d o N o v o T e s ta m e n to , p. 4 3 6 s; G . B o rn k a m m : H e r r e n m a h l, p. 1 52; e tc . (2 2) F. L a n g : A b e n d m a h l, p. 5 2 6 ; J. J e re m ia s : D ie A b e n d m a h ls w o r t e J e su , p. 1 49; W . S c h m ith a ls : D as E v a n g e liu m n a c h L uka s, Z ü ric h , 1980, p. 2 0 7 ; e o u tro s .

(10)

lo. São por d e m a is a ce n tu a d a s as d ife re n ç a s . De o u tro la d o , as se­ m e lh a n ça s nã o p e rm ite m q u e fa le m o s em Lucas num te rc e iro tip o a lé m de M arcos e Paulo. Pelo q u e tu d o in d ic a , as versões de Paulo e Lucas re m o n ta m a um a só tra d iç ã o co m u m . (23) São m u ito p ró x i­ mas um a da o u tra em te rm in o lo g ia e te o lo g ia . Visto q u e Lc 22.18 a c o lh e M c 14.25 deve-se c o n c lu ir qu e Lucas c o m b in o u e le m e n to s da tra d iç ã o de M arcos (que e le c o n h e c ia ) com a tra d iç ã o , da q u a l ta m b é m o a p ó s to lo Paulo é d e v e d o r.(24) De q u a lq u e r m o d o , Paulo e Lucas, no q u e d iz re sp e ito às p a la vra s da in s titu iç ã o , re p re se n ­ tam o m esm o tip o de texto.

Assim sendo, a tra d iç ã o das p a la v ra s p ro fe rid a s por Jesus, em ú ltim a in stâ n cia , se re d u z a dois tipos n ã o e x a ta m e n te co n ­ gruentes, o de M a rc o s /M a te u s e o de P aulo/Lucas. Q ual das duas versões será a m ais a n tig a e, sob o p o n to de vista histó rico , a m ais fid e d ig n a ? A pesquisa não consegu iu ch e g a r a um re su lta d o se g u ­ ro. (25) A m b a s as tra d içõ e s a p re se n ta m vestígios ling ü ístico s m u ito a n tig o s, p ro v e n ie n te s de um a m b ie n te de fa la a ra m a ic a . M as a m ­ bas a p re se n ta m ta m b é m traços m ais recentes, traços do lin g u a ja r h e le n is ta .(26) Em razão d isto, a p e rg u n ta p e la versão o rig in a l d e ve p e rm a n e c e r a b e rta . In fe liz m e n te não estam os em co n d içõ e s de d i­ zer com precisão, q u a is fo ra m as p a la v ra s qu e Jesus na ocasião de sua ú ltim a ceia p ro fe riu .

C o n tu d o , e n q u a n to nestas questões d e v e m o s confessar o nosso d e s c o n h e c im e n to , há certeza no se g u in te :

1. Jesus c e le b ro u a ú ltim a ceia com os seus discípulos na

cla ra co n sciê n cia de sua m orte im in e n te . Ela traz n itid a m e n te as características d e um a ceia de d e s p e d id a . E o qu e está em e v id ê n ­ cia na p a la v ra M c 14.25, d iz e n d o : "Em v e rd a d e vos d ig o qu e ja ­ m ais b e b e re i do fru to da v id e ira até a q u e le d ia em qu e o hei de

(2 3 ) F. L a n g : o p . c ií. ib d . ; e tc .

(2 4 ) A s s im R. P esch: Das A b e n d m a h l u n d Jesu T o d e s v e rs tä n d n is . F r e ib u r g /B a s e l/ W ie n , 1978. D if e r e n te H. S c h ü rm a n n : D e r P a s c h a m a h lb e ric h t, Lk 2 2 .(7 -1 4 ) 1 5-18, M ü n s te r, 1973, p . 123 e p a s s im . O a s s u n to é c o n t r o v e r t id o , s e n d o q u e a p o s iç ã o d e Pesch n o s p a ­ re c e se r m a is p r o v á v e l d o q u e a d e S c h ü rm a n n .

(2 5 ) J. J e re m ia s : D ie A b e n d m a h ls w o r t e , p. 178 a f ir m a a p r io r id a d e d e M a r c o s / M a t e u s , G. B o rn k a m m : H e r r e n m a h l, p. 153 s a d e P a u lo /L u c a s . E m b o ra s e ja p ro v á v e l q u e e sta ú l­ tim a r e a lm e n te m e re ç a a p r e f e r ê n c ia (c f F. L a n g : o p . c it., p. 5 2 7 ; J. B e tz : E u c a ris tia — M is té r io C e n tra l. In : M y s te r iu m S a lu tis , V o l. IV / 5 , P e tró p o lis , 1977, p. 12 s), é n e c e s s á ­ r io a d m it ir s e r im p o s s ív e l a re c o n s tru ç ã o e x a t a d a v e rs ã o o r ig in a l. C f F. H a h n : Z u m S ta n d d e r E rfo rs c h u n g , o p . c it., p . 5 58.

(11)

b e b e r, n o vo , no re in o de D e u s ."(27) A ú ltim a ceia de Jesus é des­ p e d id a e, s im u lta n e a m e n te , lança os o lh a re s ao fu tu ro . Portanto,

p e rte n ce in s e p a ra v e lm e n te à q u e le m o m e n to a perspectiva esca-

tológica. Ela é a lg o típ ic o da c o m u n h ã o de mesa de Jesus com os

p ecado re s, com o tem os m ostrado a c im a . M as a situ a çã o de d e sp e ­ d id a acrescenta um n o vo aspecto: A ntes de o re in o de Deus v ir em p le n itu d e , d e v e rá ser v e n c id o um te m p o de separação . A m o rte se a p ro x im a de Jesus. E, to d a v ia , a esperança do re in o de Deus de certa fo rm a já a g o ra a supera.

A o rie n ta ç ã o e s c a to ló g ic a da ú ltim a ceia de Jesus é teste­ m u n h a d a não só por M arcos (14.25) e M a te u s (26.29). T am bém o é po r Lucas (22.16,18). E m esm o em Paulo e la se conservou nas p a la ­ vras: "P o rq u e todas as vezes qu e com e rd e s este p ã o e b e b e rd e s o c á lic e , a n u n c ia is a m o rte do S enhor, a té qu e e le v e n h a " (1 Co

11.26). Em bora a s itu a çã o pressuposta neste ve rsícu lo seja a da co­ m u n id a d e pós-pascal, fic a c la ro ta m b é m a q u i q u e a Santa C eia co­ loca os c o m u n g a n te s na esperança de p o d e re m v o lta r a c e le b ra r a ceia na c o m u n h ã o p le n a com o seu S enhor. Isto c o rre sp o n d e às circunstâncias da ú ltim a ce ia de Jesus q u e , a um só te m p o , é des­ p e d id a e prom essa d o re e n c o n tro e sca to ló g ico .

2. Da m esm a fo rm a não a d m ite d ú v id a q u e Jesus nesta

o p o rtu n id a d e se tem p ro n u n c ia d o a re s p e ito do significado de sua

morte. Caso c o n trá rio não h a v e ria co m o e x p lic a r a o rig e m das

" p a la v ra s da in s titu iç ã o ". Pois estas nã o se d e d u z e m , sem m ais sem m enos, d o ritu a l pascal ju d a ic o .(28) R epresentam a lg o in é d ito . Trata-se, e nisto há consenso e n tre os e specialista s, de um a tra d i­ ção m u ito a n tig a , com o o atesta n ã o po r ú ltim o o a p ó s to lo Paulo. Faz q uestão de ressaltar te r re c e b id o a tra d iç ã o da C eia do p ró p rio S enhor (1 Co 11.23). Nesta passagem , a p a la v ra " k y r io s " c e rta ­ m e n te não d e sig n a s im p le s m e n te o Jesus terrestre a q u e m Paulo nunca co n h e ce u , mas sim o ressuscitado.(29) A in d a assim , não há

(2 7 ) Se e s ta p a la v r a re p r o d u z e x a t a m e n te os te rm o s p r o f e r id o s p o r Je sus o u n ã o , p e r m a n e ­ ce ig u a lm e n te u m a q u e s tã o a b e r t a . In d is c u tív e l m e p a re c e s e r q u e a ú lt im a c e ia d e Je sus se r e a liz o u s o b a p e r s p e c tiv a d o f u tu r o r e in o d e D eu s. Por q u e e s ta p e rs p e c tiv a , c a ra c te rís tic a d a p re g a ç ã o d e Je sus_e d e su a c o m u n h ã o d e m e s a c o m os p e c a d o re s , r e p e n tin a m e n te , f a lt a r ia ? C f H. P a tsch : A b e n d m a h l, p. 8 9 s (e sp . p. 9 4 ); J. R o lo ff: Das N e u e T e s ta m e n t, p. 219.

(2 8) V e ja e n tr e o u tro s H. P a stch : o p . c i t . , p . 3 9 s; F. H a h n : D ie a lt te s ta m e n t lic h e n M o tiv e , p. 3 5 5 e p a s s im .

(12)

so m b ra de d ú v id a de q u e Paulo e steja a lu d in d o ao a u to r da C e ia .(30) E este não é n e n h u m o u tro do qu e a q u e le qu e to m o u o pã o " n a n o ite em qu e fo i tra íd o ". Paulo, pois, a trib u i as p a la vra s da C eia ao p ró p rio Jesus.

De fa to , estas, desde o in íc io , fa z ia m p a rte da litu rg ia e u c a ­ rística da p rim e ira c rista n d a d e . In te rp re ta m a m orte de Jesus com o a c o n te c id o em fa v o r das pessoas. Em bora não h a ja senão c o n je tu - ras q u a n to a o te o r e x a to das p a la v ra s ditas por Jesus n a q u e la o p o rtu n id a d e ,(31) d e ve m o s c o n c lu ir q u e a tra d iç ã o , tal co m o p re ­ se rva d a , re m o n ta em sua essência ao p ró p rio Jesus.

Em resum o constatam os: A ú ltim a C eia de Jesus com seus d iscíp u lo s é o a c o n te c im e n to d e cisivo para a o rig e m d o p o ste rio r sa cra m e n to do a lta r. Fazem-se presentes e le m e n to s característicos da c o m u n h ã o de mesa qu e Jesus m a n tin h a com os pecado re s, co­ m o a d im e n s ã o e s c a to ló g ic a e a a c e ita ç ã o im p líc ita o n d e Jesus co­ me com as pessoas. M as na ú ltim a ceia a c o m u n h ã o de m esa com Jesus recebe novos aspectos p e la situ a çã o de d e s p e d id a , p e la im i­ n ê n c ia da cruz e p e la esperança de e le , Jesus, v o lta r a to m a r a ceia som ente no fu tu ro re in o de Deus. Tudo isto, à luz do a c o n te c i­ m e n to de páscoa vai ser reassum ido na c e le b ra ç ã o eucarística da c o m u n id a d e p o s te rio r o qu e dá a o sa cra m e n to tão p ro fu n d o s ig n i­ fic a d o e co n te ú d o .

III. A Ceia na reflexão e prática da primeira comunidade

Seria im a g in á v e l qu e os discípulos, após a m orte de Jesus, não m ais te ria m re fle tid o sobre a ceia e a g u a rd a d o a nova c o m u ­ n hão de mesa do fu tu ro tra n sce n d e n te , em a te n d im e n to lite ra l da prom essa de Jesus. É n o tá v e l qu e isto não a co n te ce u . A c o m u n id a ­ de se re ú n e , re p a rtin d o o pão (At 2.42; 20.7; 1 Co 10.16; e tc .) e ce­ le b ra n d o , já a g o ra , a c o m u n h ã o de mesa com o seu S enhor. Sabe que a in d a não lhe é c o n c e d id o o ver fa ce a fa ce . A in d a não é p e r­ fe ita a c o m u n h ã o com seu Senhor. E, to d a v ia , e la não p ode p ro te ­ lar a ceia até a consum ação de todas as coisas.

(3 0) A s s im R. P esch: Das A b e n d m a h l, p. 53 s. M a s v e ja ta m b é m H. C o n z e lm a n n : D er e rs te B r ie f a n d ie K o rin th e r , G ö tt in g e n , 1968, p. 2 3 0 s; G . B o rn k a m m : o p . c i t . ; E. S c h w e iz e r: Das H e r r e n m a h l, p. 3 5 7 s e o u tro s .

(3 1) J. R o lo ff: N e u e s T e s ta m e n t, p, 2 1 8 s p re s u m e q u e Je sus p r o v a v e lm e n te d is s e : " Is to é o m e u c o r p o " , e : "E s te c á lic e é o m e u s a n g u e d e r r a m a d o p o r m u it o s " . N ã o e s c o n d e Ro­ lo f f a n a tu re z a h ip o té tic a d e su a re c o n s tru ç ã o .

(13)

Isto em v irtu d e da ressurreição de Jesus dos m ortos. Páscoa é o te rc e iro fa to r e x p lic a tiv o da g ê nese da Santa C e ia .(32) Esta, sem a ressurreição de Jesus é in c o n c e b ív e l. Os d iscíp u lo s fa z e m a e x p e riê n c ia q u e Jesus, o c ru c ific a d o , está v iv o e presente e n tre eles. Já a g o ra , pois, é possível te r com e le c o m u n h ã o de mesa.

Um a série de fa to re s , c o n tu d o , fa z com q u e a s itu a çã o seja d ife re n te do qu e na ú ltim a ceia com Jesus, n a q u e la q u in ta -fe ira à n o ite :

1. A c o m u n id a d e d e ve d e fin ir em q u e term os e la im a g in a a

presença de Jesus. Na ú ltim a ce ia Jesus a in d a estava fis ic a m e n te

e n tre os discípulos. C om o está presente em sua c o m u n id a d e após a cruz e a ressurreição? E sa b id o qu e a c rista n d a d e v ia a presença de Jesus assegurada p e lo Espírito Santo. Diz o a p ó s to lo Paulo: " O ra o S enhor é o Espírito; e o n d e está o Espírito d o S enhor a í há li­ b e rd a d e " (2 Co 3.17; cf A t 10.14,19; 16.7; etc. ).(33) M as o qu e s ig n i­ fic a ria isto? C om o im a g in a r, por sua vez, a presença d o Espírito? E e x tre m a m e n te im p o rta n te p e rc e b e r q u e , a o d iz e r "E sp írito S a n to ", a c o m u n id a d e cristã não se re fe ria a nad a e n ig m á tic o , in e x p lic á ­ vel ou irra c io n a l. O Espírito é o p o d e r d o p ró p rio Cristo, m a n ife s to n ão e xclu siva , mas p rin c ip a lm e n te na p a la v ra da p ré d ic a e no sa­ cra m e n to .

Isto s ig n ific a q u e Jesus se fa z presente com e m e d ia n te a sua d á d iv a .(34) Na Santa C eia e le é o d o a d o r e a d á d iv a .í35) Assim com o o tin h a fe ito " n a n o ite em qu e fo i tra íd o " , assim o c o n tin u a fa z e n d o na C eia da c o m u n id a d e . Ele re p a rte o p ã o e fa z c irc u la r o

cá lice , e, ju n ta m e n te com am bos, a si m esm o se dá. E o seu pã o e

o seu cá lice qu e os c o m u n g a n te s re c e b e m , e são as suas p a la v ra s

q u e escutam . Em sua d á d iv a , pois, o Jesus c ru c ific a d o e ressurreto

(3 2) C f F. H a h n : Z u m S ta n d d e r E rfo rs c h u n g , p. 5 54 . A S a n ta C e ia p o s s u i u m a d im e n s ã o p a s c a l.

(3 3 ) V e ja E. S c h w e iz e r: .A rt. " p n e ü m a " . In : T h e o lo g is c h e s W ö rte r b u c h z u m N e u e n T e s ta ­ m e n t, V o l. V I, p. 4 0 3 ; 431 s. O N o v o T e s ta m e n to , d e u m la d o , p o d e id e n t if ic a r Je su s e o E s p írito e , d e o u tr o , ta m b é m d is t in g u ir . Je sus é o E s p írito e ta m b é m o d á . D e q u a l ­ q u e r m a n e ir a é im p o s s ív e l s e p a ra r. N o E s p írito n ã o se fa z p re s e n te n e n h u m o u tr o s e ­ n ã o D eu s o Pai e o S e n h o r Je su s. A p re s e n ç a d e Je su s e m su a c o m u n id a d e é " e s p i r i ­ t u a l" .

(3 4) C o n fo r m e E. K ä s e m a n n : A n lie g e n u n d E ig e n a r td e r p a u lin is c h e n A b e n d m a h ls le h r e . In: EVB I, G ö tt in g e n , I9 6 0 , p. 19 é p e n s a m e n to d e P a u lo q u e " a d á d iv a d á o p r ó p r io d o a ­ d o r " . C f ta m b é m F. H a u c k : A rt. " k o i n ó s " , T h W III, p. 806.

(3 5) R a c io c ín io a n á lo g o p o d e s e r o b s e r v a d o n a c a rta a o s H e b re u s , d e a c o r d o c o m a q u a l Je sus C ris to é s im u lta n e a m e n te o s u m o -s a c e rd o te e o s a c r ifíc io p o r e le o fe r ta d o .

(14)

se fa z pre se n te e se o fe re c e aos co m u n g a n te s. Neste c o n te x to , a l­ gum as observaçõe s e x p lic a tiv a s e c o m p le m e n ta re s se fa z e m n e ­ cessárias:

a. Um a vez q u e a presença de Jesus está lig a d a às suas d á ­ divas, é e rrô n e o d iz e r q u e p ã o e v in h o tão so m e n te " s im b o liz a m " o c o rp o e sangue de Cristo. Eles n ã o " s im b o liz a m " , mas re p re se n ­

ta m . N ão são m eras fig u ra s nem sím iles, mas sim sin a is.(36) A tra ­

vés d e le s Cristo tem presença re a l e n tre os c o m u n g a n te s .(37) b. A in d a assim , esta presença não d e p e n d e da substância d o p ã o e da substância d o v in h o . Jesus não está preso aos e le m e n ­ tos. Q u ã o pou co o N o vo T estam ento pensa em ca te g o ria s de subs­ tâ n cia é c o n firm a d o não por ú ltim o p e la a fa m a d a in c o n g ru ê n c ia das duas p a la v ra s da in s titu iç ã o em Paulo. (58) Á p rim e ira p a la v ra , "Is to é o m eu c o rp o " , não co rre sp o n d e a a firm a ç ã o p a ra le la "Is to é o m eu s a n g u e ", mas sim "Este c á lice é a nova a lia n ç a no m eu s a n g u e ". Se, de fa to , a substância fosse c o n s titu tiv a , a c o m u n id a ­ de (re s p e c tiv a m e n te Jesus) assim não p o d e ria m fa la r.

A liá s , nem m esm o " c o r p o " ( = sõm a) e " s a n g u e " (h a ím a ) são term os re a lm e n te p a ra le lo s .(39) Sua ju staposiçã o na versão de M arcos (e in d ire ta m e n te ta m b é m na de P aulo) é s in g u la r, fu g in d o ao tra d ic io n a l p a ra le lis m o de "c a rn e e s a n g u e " (sárx kai ha ím a — cf 1 Co 15.50; G1 1.16; e tc.). T am bém M arcos, pois, nã o c o rro b o ra

um a in te rp re ta ç ã o qu e v in c u la a presença de Jesus à

su sb tâ n cia .í40) Na Santa C eia o pã o p e rm a n e c e sendo pã o , o v in h o

(3 6 ) J. J e re m ia s : D ie A b e n d m a h ls w o r t e , p. 2 1 5 q u e r ia e n t e n d e r as p a la v r a s d a in s titu iç ã o c o m o " s í m i le d u p l o " . M a s ta m b é m e le p e rc e b e q u e s ã o m a is d o q u e is to , v is to q u e c o n c e d e m p a r t ic ip a ç ã o n a m o rte e x p ia tó r ia d e Je sus. C f ib d . p. 2 2 3 ; 2 2 9 ; e tc . (3 7) P a re c e e n c a m in h a r - s e a lg o c o m o u m c o n s e n s o n e s te to c a n te n a p e s q u is a n e o te s ta - m e n t á ria r e c e n te . C f E. K ä s e m a n n : A n lie g e n , p. 2 8 ; E. S c h w e iz e r: A r t. " s o m a " , T h W V II, p. 1 056; H. A lp e r s : H e r r e n m a h l u n d K o m m u n io n . In : Est. T e o l. 9 , 1969, p. 21 s; J. R o lo ff: N e u e s T e s ta m e n t, p. 2 1 9 ; P. N e u e n z e it: D as H e r r e n m a h l, M ü n c h e n 1960, p. 174; 183; e o u tro s . (3 8) V e ja H. C o n z e lm a n n : D e r e rs te B r ie f a n d ie K o rin th e r , p. 2 3 4 ; G . B o rn k a m m : H e r r e n ­ m a h l, p. 1 54; e tc . P e lo q u e tu d o in d ic a , a v e rs ã o in c o n g r u e n te d e P a u lo é a m a is a n t i­ g a . C f E. S c h w e iz e r: A r t. " s õ m a " , o p . c it. p. 1056. D if e r e n te J. J e re m ia s : D ie A b e n d ­ m a h ls w o r t e , p. 191 s. S u s te n ta e s te e s p e c ia lis ta q u e " s õ m a " ( c o r p o ) s e ria a p e n a s a tra d u ç ã o m a is liv r e d e u m s u p o s to o r ig in a l s e m ític o " b i s r á " ( = c a rn e ), d e m o d o q u e Je sus d e f a t o t e r ia f a la d o e m su a c a rn e e e m se u s a n g u e . P e lo q u e v e m o s , p o r é m , a te s e d e J. J e r e m ia s a c h o u p o u c o a p o io .

(3 9) E. S c h w e iz e r: o p . c it. ib d .

(4 0) T a m b é m a te o lo g ia c a tó lic o - r o m a n a m a is re c e n te p r e f e r e f a l a r d a p re s e n ç a d e Jesus n a e u c a r is tia a n te s e m te rm o s d e p e s s o a d o q u e d e s u b s tâ n c ia . V e ja T. S c h n e id e r: D ie n e u e r e k a th o lis c h e D is k u s s io n ü b e r d ie E u c h a ris tie . In : Ev. T h e o l. 3 5, 1975, p. 5 1 7 s; J. B e tz: o p . c it. p. 19 s; e tc.

(15)

v in h o e o c á lic e cá lice . Justam ente co m o tais são os sinais da p re ­ sença re a l d e Jesus. Portanto, na Santa C eia Jesus nã o se tra n s fo r­ ma em pã o e v in h o para ser o b je to de a d m in is tra ç ã o do pastor, mas p e rm a n e c e o a n fitriã o q u e , através de sua p a la v ra , do p ã o e do v in h o se co m u n ica e se tra n sm ite às pessoas.

c. E o qu e se p ode d e d u z ir ta m b é m d a q u e le c o m e n tá rio so­ bre a Santa C eia q u e o a p ó s to lo Paulo o fe re c e em 1 Co 10.14 s. N ã o é à sua concepçã o p a rtic u la r a q u e a q u i re co rre . Os co rín tio s a c o m p a rtilh a m com o o m ostra a fo rm a in te rro g a tiv a das frases. Te­ mos boas razões para supor q u e Paulo tra n s m ite n ada m ais d o qu e a co n ce p çã o g e ra l da cris ta n d a d e de seu te m p o .(41) "P o rv e n tu ra o c á lic e da bênção qu e a b e n ç o a m o s ,(42) n ã o é a c o m u n h ã o d o san­ g u e de Cristo? O p ã o q u e p a rtim o s, não é a c o m u n h ã o d o c o rp o de C ris to ? " Isto s ig n ific a q u e to d a a C eia é co lo c a d a sob a p e rsp e ctiva da " c o m u n h ã o " (k o in o n ía ) com Cristo. A C eia co ncede p a rtic ip a ­ ção em Jesus Cristo m esm o, em seu c o rp o e em seu sangue.

d. E xatam ente por isto a Santa C eia é um " m a n ja r e s p iri­ tu a l" . Visto que Cristo m esm o a q u i se tra n sm ite , tra n sm ite -se ta m ­ bé m o Espírito S a n to .í43) Isto se to rn a e v id e n te em 1 Co 10.1 s. O m a n á no deserto e a á g u a da rocha (Ex 16.4,35; 17.6: Nu 20.7 s), d a q u a l Israel se a lim e n ta v a em sua p e re g rin a ç ã o , são e n te n d id o s po r Paulo com o p re fig u ra ç õ e s da c o m id a e b e b id a e s p iritu a l q u e é a Santa C e ia .(44) A p rim e ira crista n d a d e , pois, da q u a l o a p ó s to lo é e x p o e n te , e n x e rg a n e la o e x c e le n te v e íc u lo d o Espírito Santo.

e. Q uão po u co a presença de Cristo se p re n d e e x a ta m e n te aos e le m e n to s, e m b o ra lhes c a ib a a e m in e n te fu n ç ã o de sinais, é a s sin a la d o ta m b é m e s o b re tu d o p e la presença im p re s c in d ív e l da p a la v ra . As p a la vra s in te rp re ta tiv a s de Jesus q u a lific a m pão e c á li­ ce co m o sendo o seu c o rp o e a nova a lia n ç a em seu sangue. A

co-(4 1 ) G . B o rn k a m m : H e r r e n m a h l, p. 156 s. (4 2 ) " A b e n ç o a r ( e u lo g e in ) s ig n ific a , n o c a s o , 'a g r a d e c e r lo u v a n d o '" (L. G o p p e lt: T e o lo g ia d o N o v o T e s ta m e n to , p. 4 1 3 ). Em si P a u lo p r e f e r e o te r m o " e u c h a r is t e í n " ( = a g r a d e ­ c e r — c f 1 C o 1 1.2 4). N a C e ia , os c o m u n g a n te s a g r a d e c e m c o m lo u v o r p e la d á d iv a d o p ã o e d o c á lic e , d o n d e re s u lto u s u a d e s ig n a ç ã o d e " e u c a r is t ia " . (4 3 ) Este a s p e c to re c e b e f o r t e ê n fa s e e m E. K ä s e m a n n : A n lie g e n , p. 15 s. A d á d iv a d o s a ­ c ra m e n to é p o r e x c e lê n c ia o " p n e ü m a " , o E s p írito S a n to . D e f a t o n ã o h á p re s e n ç a d e C ris to q u e n ã o fo s s e ta m b é m p re s e n ç a d o E sp írito . (4 4 ) C o m r e la ç ã o a 1 C o 10.1 s v e ja H. v o n S o d e n : S a k r a m e n t u n d E th ik b e i P a u lu s . In : Das P a u lu s b ild in d e r n e u e r e n d e u ts c h e n F o rs c h u n g , W e g e d e r F o rs c h u n g , V o l. X X IV . D a rm s ta d t, 1964, p. 3 4 5 e p a s s im ; L. G o p p e lt: T e o lo g ia d o N o v o T e s ta m e n to , p. 4 1 4 s; H. C o n z e lm a n n : D er e rs te K o r in th e r b r ie f, p . 193 s.

(16)

m u n id a d e re sp o n d e com a sua a çã o de graças, e tu d o isto é a n ú n ­ cio da m o rte d e Jesus a té a sua v o lta (1 Co 11.26). O sa cra m e n to do a lta r, à s e m e lh a n ç a do b atism o, é " p a la v r a v is ív e l" , e v id e n c ia n d o qu e a p a la v ra de Jesus não p e rm a n e c e na e sfe ra a b stra ta , mas torna-se co n cre ta e q u e r " m a te ria liz a r-s e " (45) sa cia n d o s im u lta ­ n e a m e n te e sp írito e corpo.

f. Há necessidade de e n fa tiz a r, e n fim , q u e as duas p a la vra s

in te rp re ta tiv a s re fe re n te s a o pã o e a o v in h o não d e v e m ser e n te n ­ d id a s no se n tid o d e a p e n a s e m c o n ju n to d a re m p a rtic ip a ç ã o no Cristo todo. C orpo e sangue nã o são as duas partes de Jesus Cristo. Já a p a la v ra sobre o pã o c o n fe re p a rtic ip a ç ã o in te g ra l na sa lva çã o q u e está im p líc ita na a u to -d o a ç ã o do c ru c ific a d o . O m esm o v a le com re sp e ito à p a la v ra sobre o cá lice . C o m p ro v a -o , nã o po r ú lti­ m o, o a n tig o rito da C eia, s e g u n d o o q u a l as duas p a la v ra s m o ld u - ra va m to d a um a re fe iç ã o . O a p ó s to lo Paulo tra n s m ite a n o tícia que Jesus to m o u o c á lic e " d e p o is de h a ve r c e a d o " (1 Co 11.25). Pelo q u e tu d o in d ic a , ce le b ra -se a C eia em C o rin to a in d a em fo rm a de um a re fe iç ã o c o m p le ta . Leva a esta conclusão ta m b é m o V 21. Paulo c ritic a q u e "c a d a u m " (p ro v a v e lm e n te a p e n a s um g ru p o ) a n te c ip a a sua p ró p ria ceia. Há q u e m n ã o espere p e lo in íc io co­ m um d a re fe iç ã o .(46) De q u a lq u e r m a n e ira , este a n tig o rito m ostra q u e as p a la vra s de Jesus na C eia não são c u m u la tiv a s .(47> Dão e x ­

pressão a aspectos d ife re n te s da m esm a sa lva çã o em Cristo. Em resum o constatam os q u e a c o m u n id a d e pós-pascal e x ­ p e rim e n ta a presença de seu m estre e S enhor na d á d iv a da Ceia. N e la o Jesus c ru c ific a d o e ressuscitado o fe re c e c o m u n h ã o de m e ­ sa co n sig o m esm o e c o n tin u a d is trib u in d o p ã o e v in h o .

(4 5) S o b re a r e la ç ã o e n tr e p a la v r a e s a c ra m e n to v e ja E. L oh se : T a u fe u n d R e c h tfe r tig u n g b e i P a u lu s . In : D ie E in h e it d e s N e u e n T e s ta m e n ts , G ö tt in g e n , 1 973, p . 2 24. C f ta m b é m G . B r a k e m e ie r : Teses r e fe r e n t e s à c o m p r e e n s ã o e à p r á tic a d o b a tis m o . In: E n fo q u e s B íb lic o s , S ã o L e o p o ld o , 1980, p. 53 s. B á s ic o é o q u e e s c re v e M . L u te ro e m se u " P e q u e ­ n o C a t e c is m o " (S ã o L e o p o ld o , 1979, 9 a e d . p. 2 1). A s p a la v r a s " d a d o e d e r r a m a d o e m f a v o r d e vó s p a ra a re m is s ã o d o s p e c a d o s " , ju n ta m e n te c o m o c o m e r e b e b e r, s ã o o e s s e n c ia l n o s a c ra m e n to d o a lta r . (4 6 ) A s s im G . T h e is s e n : S o z ia le In te g r a tio n u n d s a k r a m e n ta le s H a n d e ln . In : N o v . Test. X V I, 1974, p. 188 s; d if e r e n t e G . B o r n k a m m ; H e rre n m a h l, p. 160 s; H. C o n z e lm a n n : D e r e rs ­ te B r ie f a n d ie K o rin th e r, p. 2 3 4 ; e tc . (4 7 ) V e ja G . B o r n k a m m : ib d . D e a c o r d o c o m J. R o lo ff: N e u e s T e s ta m e n t, p. 2 1 9 o s e n tid o d a p a la v r a s o b re o p ã o s e ria : " I s t o s o u e u e m p e s s o a " , e o d a p a la v r a s o b re o c á lic e : " I s t o é a m in h a v id a d e s tin a d a a m o r r e r p a ra o g r a n d e g r u p o d o s m u it o s " (a tra d u ç ã o é n o ssa ).

(17)

2. M as a p rim e ira c rista n d a d e e n c o n tra na Santa C eia não só o p r iv ile g ia d o m e io da presença de seu S enhor, d escobre-a

ta m b é m co m o um dos p ro e m in e n te s lu g a re s de a n ú n c io da m orte de Jesus (1 Co 11.26). Para q u e isto acontecesse tem sido de cisiva já a ú ltim a ceia de Jesus com seus discípulos, na im in ê n c ia da cruz e sob o im p a cto das p a la v ra s ditas na o p o rtu n id a d e . S obretud o, p o ré m , é a Páscoa qu e assegura não ser p e rm itid o in te rp re ta r a m o rte de Jesus co m o fracasso. A cruz possui q u a lid a d e s a lv ífic a . A firm a -o e n fa tic a m e n te a tra d iç ã o da Santa C eia. In te rp re ta a m o rte de Jesus, d e sta ca n d o dois aspectos:

a. A m orte de Jesus é e n te n d id a co m o m orte v ic á ria e e x ­ p ia tó ria . Em Paulo, este p e n sa m e n to está im p líc ito na p a la v ra : " Is ­

to é o m eu corpo, que é dado por vós" e em M arcos na fo rm u la ­

ção: "Is to é o m eu sangue da a lia n ç a , derramado em favor de

muitos ( = to d o s).(48) R ecebendo p a rtic ip a ç ã o no c o rp o de Jesus e

em seu sangue , os co m u n g a n te s re ce b e m o p e rd ã o de seus p e ca ­ dos. Jesus, pois, substitui os sa crifício s do c u lto ju d a ic o . Ele m esm o é a e x p ia ç ã o de Deus para os pecado s da h u m a n id a d e , um a co n ­ cepção m u ito a n tig a na c ris ta n d a d e .(49) Está em d e sta q u e especial na carta aos Hebreus.

b. A m o rte d e Jesus é o rig e m de um a nova aliança. C o n fo r­

m e a tra d iç ã o de M arcos, Jesus diz: "Is to é o m eu sa ngue da a lia n ­ ç a " (Mc 14.24). Essas p a la v ra s fa z e m re fe rê n c ia a Ex 24.8. Teste­ m u n h a m qu e a m o rte de Jesus dá in íc io a um n o vo pacto, firm a d o por Deus com os hom ens. Isto fic a a in d a m ais e x p líc ito em Paulo. As p a la vra s: "Este cá lic e é a nova a lia n ç a em m eu s a n g u e " (1 Co 11.25) re to m a m Jr 31.31. C um pre-se, pois, a p ro fe c ia .(50) Deus, p e rd o a n d o os pecados (cf Jr 31.34!), e sta b e le ce um a n o va o rd e m das coisas, d ife re n te da a n tig a . C oncede a seu p o vo um n o vo in í­

(4 8) T ra ta -s e d e u m s e m itis m o c o m s ig n ific a d o in c lu s iv o a b r a n g e n te : M u ito s = to d o s . V e ja E. S c h w e iz e r: Das E v a n g e liu m n a c h M a rk u s . D as N e u e T e s ta m e n t D e u ts c h 1, G ö ttin g e n 1967, I I a e d . , p. 126; H. P a tsch : A b e n d m a h l, p. 1 81; e o u tro s . (4 9 ) P o s s iv e lm e n te s e ja o r ig in a l d o p r ó p r io Je sus. A s s im J. J e re m ia s : A b e n d m a h ls w o r t e , p. 2 1 6 s; H. P esch: D as A b e n d m a h l, p. 107 s; J. J e re m ia s : A m o rte d e Je su s c o m o s a c r if í­ c io . In : A m e n s a g e m c e n tr a l d o N o v o T e s ta m e n to , S ã o P a u lo , 1 977, p. 62 (e p a s s im ). De q u a lq u e r m a n e ir a , tra ta -s e d e u m a c o n c e p ç ã o m u it o a n t ig a . C f. L. G o p p e lt: T e o lo ­ g ia d o N o v o T e s ta m e n to , p. 3 6 6 s; W . S c h rä g e : R ö m e r 3 .2 1 -2 6 u n d d ie B e d e u tu n g d e s T o d e s Je su b e i P a u lu s . In : D as K re u z Je s u , G ö tt in g e n , 1969, p. 6 5 s. (5 0 ) E stava m u ito v iv a a e s p e ra n ç a p e lo c u m p r im e n t o d e s s a p r o f e c ia (c f ta m b é m Ez 3 6 .2 5 s) n o te m p o d o N o v o T e s ta m e n to , p o r e x e m p lo e m Q u m rõ . V e ja F. L a n g : A b e n d m a h l u n d B u n d e s g e d a n k e im N e u e n T e s ta m e n t. In : Ev. T h e o l. 3 5 , 1975, p. 5 2 4 s.

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cio a lic e rç a d o na graça, na fé e no a m o r. A nova a lia n ç a traz as características d o s e n h o rio de Jesus Cristo e da re a lid a d e q u e com e le se fe z .í51)

Em síntese isto s ig n ific a : Com a m o rte de Jesus na cruz co­ m eça um a nova h istó ria de Deus com os hom ens. C om eça a possi­ b ilid a d e de nova v id a . N isto há u n a n im id a d e e n tre Paulo e M a r­ cos, re s p e c tiv a m e n te e n tre as tra d içõ e s em q u e se a p ó ia m . A San­ ta C eia é a p ro c la m a ç ã o deste s ig n ific a d o s a lv ífic o da m o rte de Je­ sus, com a q u a l se c u m p re a esp e ra n ça e s c a to ló g ic a . Tornam -se re a lid a d e o p e rd ã o dos pecados e um a nova o rd e m , com novas es­ truturas de re la c io n a m e n to e n tre Deus e os h o m e n s e por isto ta m ­ bém destes e n tre si.

3. Por ser v e íc u lo de c o m u n ic a ç ã o d o Cristo c ru c ific a d o e

ressuscitado, a Santa C eia é m ais d o q u e a c o m e m o ra ç ã o de um e v e n to passado. Traz p a ra o pre se n te os fru to s da v id a e m orte de Jesus. R e a firm a a nova a lia n ç a , co ncede n o v id a d e de v id a . Isto,

p o ré m , im p lic a n e ce ssa ria m e n te a edificação de comunidade.

D ando c o m u n h ã o co n sig o m esm o, Jesus cria n ã o só novas pes­ soas, cria a c o m u n h ã o dos c o m u n g a n te s e n tre si.(52)

A passage m qu e m ais e n fa tic a m e n te o expressa é 1 Co 10.17: "P o rq u e nós, e m b o ra m uitos, som os u n ic a m e n te um pão, um só c o rp o ; p o rq u e todos p a rtic ip a m o s d o ú n ic o p ã o ." Frente ao in d iv id u a lis m o dos coríntios, Paulo insiste na d im e n s ã o c o m u n itá ­ ria da C e i a . (53) q s co m u n g a n te s fo rm a m um só corpo. Isto n ã o d e ­

v id o a se n tim e n to s, caracteres ou interesses c o n ve rg e n te s, nem m esm o d e v id o a um a confissão c o n ju n ta , mas sim p o rq u e p a rtic i­ pam d o ú n ico pão. A c o m u n h ã o de Jesus se tra d u z na c o m u n h ã o dos hóspedes de sua mesa.

A Santa C eia, pois, constitui a c o m u n id a d e . E o a to consti­ tu in te de Ig re ja . Transform a in d iv íd u o s em c o m u n id a d e de Deus. N ão q u e a Santa C eia seja o a to in a u g u ra l ou fu n d a d o r da o rg a n i­

(5 1 ) V e ja E. K ä s e m a n n : A n lie g e n , p. 28. O n o v o p a c to n ã o a n u la o a n t ig o , e le o e x c e d e . M o s tr a m - n o e s p e c ia lm e n te P a u lo (c f 2 C o 3.1 s) e o a u t o r d a c a rta a o s H e b re u s (8 .8 s; 9 .1 8 s; e tc .). Ele te m o u tra e s tru tu ra , u m a v e z q u e é " e t e r n o " , n ã o se b a s e ia n a le i e te m e m Je sus C ris to q u e m o s u s te n ta . R e m e te m o s m a is u m a v e z p a ra F. L a n g : o p . c it. (5 2) A S a n ta C e ia é c o m u n h ã o com C ris to . A s s im m u ito b e m J. J. v o n A llm e n : E studo s o b re

a C e ia d o S e n h o r. S ã o P a u lo , 1968, p . 72.

(5 3 ) V e ja s o b r e tu d o G . B o r n k a m m : H e r r e n m a h l, p. 166 s. O s a c r a m e n ta lis m o c o s tu m a in d i­ v id u a liz a r a d á d iv a d a C e ia e , n a v e r d a d e n ã o c o n s tró i lg r e |a . P o d e -s e o b s e r v á - lo já e m C o r in to , o n d e as d iv is õ e s s o c ia is c o r r o m p e m a C e ia . V e ja G . T h e is s e n : o p . c it. p. 179 s.

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