Revista Paulista de Pediatria
ISSN: 0103-0582
rpp@spsp.org.br
Sociedade de Pediatria de São Paulo Brasil
Júnior, Arnaldo Santos; Duarte, Linda de Fátima M.; Taddei, José Augusto de A. C. Dosagem de colesterol e fatores de risco para hiperlipidemia em adolescentes de uma
escola estadual de São Paulo
Revista Paulista de Pediatria, vol. 24, núm. 3, septiembre, 2006, pp. 239-243 Sociedade de Pediatria de São Paulo
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406038917008
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239 RESUMO
Objetivo: Investigar a freqüência e fatores associados à hiper-lipidemia em adolescentes de 15 a 19 anos, de baixa renda.
Métodos: Estudo transversal com 132 adolescentes da Es-cola Estadual Professora Vera Athayde Pereira, em São Paulo (SP), dos quais se coletou sangue para dosagens de colesterol total, lipoproteínas de alta e baixa densidade, triglicérides e determinação dos índices de Castelli. Os fatores de risco para hiperlipidemia foram estudados por meio do teste do qui-quadrado e exato de Fischer e fi xou-se a signifi cância em p≤0,05.
Resultados: Os percentuais de valores alterados para os gêne-ros feminino e masculino foram respectivamente de 20,9 e 12,5 para colesterol total (CT); 13,3 e 10,0 para triglicérides (TG); 6,6 e 2,5 para lipoproteína de baixa densidade (LDL-c); 2,2 e 7,5 para lipoproteína de alta densidade (HDL-c); 12,1 e 10,0 para a razão CT/HDL-c e 7,7 e 7,5 para a razão LDL-c/HDL-c. O estudo revelou 16 adolescentes (12,2%) com sobrepeso e obesidade (IMC P85). A análise bivariada determinou como fatores de risco para alteração do índice de Castelli I: gênero feminino, baixa escolari-dade materna, baixa renda familiar, não-realização de esporte ou atividade física ou menos de 30 minutos de atividade física por dia e hipertrigliceridemia. Não houve associação das alterações lipídicas com história familiar para doença arterial coronariana, hiperlipidemia, etilismo e tabagismo.
Conclusão: A hiperlipidemia na adolescência associada a fatores modifi cáveis, como a inatividade física ou esportiva e a hipertrigliceridemia, justifi ca a realização de ações pre-ventivas, como o incentivo a atividades físicas ou esportivas e o controle dos níveis de triglicérides.
Palavras-chave: Adolescente, hiperlipidemia, fatores de risco.
ABSTRACT
Objective: To investigate the frequency and the risk factors for hyperlipidemia in low-income adolescents with 15-19 years old.
Methods: This cross-sectional study comprised 132 ado-lescents of a public school of São Paulo Municipality. Blood was collected for the following dosages: total cholesterol (TC), high (HDL-c) and low density (LDL-c) lipoprotein, triglycerides (TG) and determinations of Castelli indexes. Risk factors were studied using chi-squares and Fisher tests, being signifi cant p≤0.05.
Results: The percentage of altered blood values for fe-males and fe-males were respectively: 20.9 and 12.5 for TC, 13.3 and 10.0 for TG, 6.6 and 2.5 for LDL-c, 2.2 and 7.5 for HDL-c, 12.1 and 10.0 for TC/HDL-c, and 7.7 e 7.5 for LDL-c/HDL-c. The study showed 16 (12.2%) overweight and obese adolescents (BMI ≥ P85). Bivariate analysis de-termined the following as risk factors for altered Castelli I index: female gender, few years in school, family low income rate, no sports or physical activity or less than 30 minutes of physical activity/day, hypertriglyceridemia. Dislipidemias were not associated to family records of coronary artery disease, hyperlipidemia, alcoholism or smoking habits.
Conclusion: The hyperlipidemia in adolescents found in these adolescents was associated to factors related to phy-sical inactivity and hypertriglyceridemia. These fi ndings justify the promotion of preventive actions, which should focus the practice of sports and physical activities and the control of triglycerides levels.
Key-words: Adolescent, hyperlipidemia, risk factors.
Dosagem de colesterol e fatores de risco para hiperlipidemia em
adolescentes de uma escola estadual de São Paulo
Dosage of cholesterol and risk factors for hyperlipidemia in adolescents from a public school of São Paulo, Brazil
Arnaldo Santos Júnior1, Linda de Fátima M. Duarte1, José Augusto de A. C. Taddei2
1Professor adjunto I da Universidade Paulista (Unip), biomédico e mestre em Saúde Materno-Infantil pela Universidade de Santo Amaro (Unisa) e em Farmacologia pela Unip
2Professor livre docente, chefe da disciplina de Nutrologia do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Endereço para correspondência: Arnaldo Santos Júnior
Rua Fernandes Moreira, 1.153 CEP 04716-003 – São Paulo/SP E-mail: arnaldojunior45@hotmail.com
Recebido em: 25/11/2005 Aprovado em: 14/7/2006
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Introdução
As doenças cardiovasculares conseqüentes à aterosclero-se, com destaque para a doença arterial coronariana, são a principal causa de morbidade e mortalidade nas sociedades industrializadas, isto é, nos países desenvolvidos(1-6). Há relatos sobre a presença de estrias de gordura em aorta de crianças com três anos de idade ou mais, lesões que chegam a comprometer 15% dessa artéria aos 15 anos(2,7). A concen-tração plasmática de colesterol na infância é preditor do nível lipídico na vida adulta, o que sinaliza para a necessidade de prevenção de doenças cardiovasculares desde a infância(7,8).
Outros fatores contribuem para a formação de placas ateromatosas, tais como: obesidade, dietas inadequadas, se-dentarismo, tabagismo, uso de contraceptivos orais e, ainda, hipertensão arterial, hipertrigliceridemia e história familiar de cardiopatias isquêmicas(2,3,9). Segundo Gerber e Zielinsky (2), os três fatores de maior risco para a aterosclerose são: colesterol elevado, tabagismo e hipertensão arterial. Sabe-se também que, quanto maior o número de fatores de risco, maior a pro-babilidade de incidência de coronariopatias(2,3).
A avaliação do risco de doença aterosclerótica é feita pelas medidas de colesterol total (CT) e das lipoproteínas de baixa densidade (LDL-c), de alta densidade (HDL-c), de muito baixa densidade (VLDL-c) e de triglicérides (TG), além da determi-nação dos índices de Castelli I e II, por meio das relações CT/ HDL-c e LDL-c/HDL-c(8). Estudos prospectivos indicam que as dislipidemias presentes na infância e adolescência persistem na vida adulta(4,7). O II Consenso Brasileiro de Dislipidemias propôs avaliar o perfi l lipídico de crianças e adolescentes diante das seguintes situações: avós, pais, irmãos, tios e primos de primeiro grau com doença arterial manifesta (doença arterial coronariana e/ou cérebro vascular e/ou periférica) antes dos 55 anos para o gênero masculino e 65 anos para o feminino; parentes próximos com níveis de colesterol total superiores ou iguais a 300 mg/dL ou triglicérides ≥400 mg/dL; presença de pancreatite aguda, xantomatose, diabetes melito, obesidade ou outros fatores para doença arterial(10).
Deve-se levar em conta que a adolescência é o período com-preendido entre dez e 19 anos de idade, no qual o indivíduo se desenvolve física, psíquica e culturalmente e ocorre a tran-sição entre a infância e a vida adulta, com intensas mudanças psicossociais que podem contribuir para a obesidade(9,11). A obesidade, por sua vez, é doença multifatorial crônica do me-tabolismo energético, decorrente, na maior parte dos casos, da excessiva ingestão de alimentos e conseqüente depósito na forma de tecido adiposo, além da modifi cação do perfi l lipídico
sanguíneo. É um dos graves problemas de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento e é considerada uma epidemia mundial que atinge todas as faixas etárias, com prevalência aumentada em crianças e produzida por fatores genéticos e ambientais(12,13). A obesidade pode ser avaliada por meio da antropometria, método acessível e amplamente utilizado, por ser de baixo custo, simples e não-invasivo, que inclui medidas de peso e altura e determinação do índice de massa corporal, o mais utilizado e recomendado na adolescência é expresso pela relação entre o peso (kg) e a estatura (m2)(11,12). Outras avaliações incluem as medidas de circunferência de cintura e quadril e da relação entre ambas. Tais medidas têm mostrado associação com o risco para doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diabetes melito em adultos(5,12).
Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi investi-gar a freqüência e os fatores associados à hiperlipidemia em adolescentes de 15 a 19 anos de baixa renda.
Métodos
Este trabalho foi parte do projeto do Curso de Pós-Graduação em Saúde Materno-Infantil da Universidade de Santo Amaro (Unisa), realizado entre outubro de 2003 e abril de 2004, que incluiu estudos de obesidade, hemoglobinemia, ferro sérico, ferritina e comportamento psicológico de 132 adolescentes com 15 a 19 anos matriculados na Escola Estadual Professora Vera Athayde Pereira, localizada na zona sul de São Paulo (SP). Os 132 adolescentes (91 do gênero feminino e 41 do masculino) constituíram o universo de estudo e houve apenas uma perda nas dosagens bioquímicas.
A Comissão de Ética do Conselho de Pós-Graduação e Pesqui-sa da UniPesqui-sa aprovou o protocolo de pesquiPesqui-sa. Para os adolescentes incluídos no projeto, foram obtidos termos de consentimento assinados pelos pais ou responsáveis ou, quando maiores de 18 anos, por eles mesmos. Os resultados foram encaminhados às famílias e os 15 adolescentes com hiperlipidemia foram acompa-nhados no Ambulatório da Faculdade de Medicina da Unisa.
O trabalho incluiu as seguintes fases:
A) Inquérito sociofamiliar, realizado com pais ou responsáveis pelo adolescente, que permitiu analisar a história familiar para doenças cardiovasculares e outras, o nível socioeconômi-co, a escolaridade materna e os antecedentes mórbidos. B) Inquérito individual com o adolescente, que incluiu
questões sobre atividade física, relações sociais e com-portamentais, tabagismo e etilismo.
C) Medidas antropométricas e diagnóstico nutricional, obtidos pela nutricionista do grupo de pesquisa, com determinação
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241 de estatura a partir do estadiômetro (modelo Alturexata),
peso por balança eletrônica (modelo Kratos), medidas de cir-cunferência de cintura e quadril com fi ta métrica distensível (modelo TWA) e determinação do índice de massa corporal (IMC), considerando-se baixo peso quando o IMC era menor ou igual ao percentil 5 (P5), eutrofi a quando P5<IMC<P85 e sobrepeso/obesidade com IMC≥P85, sendo os valores estabelecidos a partir de Must, Dallal e Dietz (14).
D) Análises bioquímicas realizadas no Laboratório Clínico do Hospital Geral do Grajaú, com coleta de sangue feita por punção venosa após jejum de 12 horas e a inclusão das seguintes dosagens: CT, HDL-c e LDL-c e triglicérides por métodos enzimáticos, além dos índices de Castelli I e II. Os resultados foram comparados com valores de referência recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia(15) para crianças e adolescentes segundo Diretriz de 2001 e estudos de Elcarte et al(16). Os pontos de corte estabelecidos foram: colesterol total≥170 mg/dL; LDL-c≥110 mg/dL; HDL-c≤35 mg/dL; triglicérides>130 mg/dL, índice de Castelli I>3,5 mg/dL; índice de Castelli II>2,2 mg/dL. As informações foram armazenadas em banco de dados com dupla digitação após codifi cação, com o uso do software
EpiInfo 2000. O qui-quadrado e o teste exato de Fisher foram
usados para análise de associação entre as variáveis, com nível de signifi cância estatística fi xado em 5% (p≤0,05) e cálculo das razões de chance.
Resultados
Os valores médios das concentrações de lipídios séricos foram (para ambos os gêneros): 148,2±25,8 mg/dL para o colesterol total; 55,1±12,4 mg/dL para o HDL-c; 74,7±22,5 mg/dL para o LDL-c; 91,2±51,8 mg/dL para os triglicérides, 2,77±0,61 mg/dL para o índice de Castelli I e 1,42±0,5 mg/dL
para o índice de Castelli II. Nota-se, na Tabela 1, existir uma prevalência de alteração lipídica maior em adolescentes do gênero feminino, quando comparados aos do masculino, mas sem diferença signifi cante entre ambos.
Em relação ao índice de massa corporal, observou-se 116 (87,9%) adolescentes com P5<IMC<P85 e classifi cados como eutrófi cos e 16 (12,1%) com IMC≥P85, classifi cados como portadores de sobrepeso ou obesidade.
Quanto aos hábitos alimentares, o inquérito individual reve-lou 107 (81,1%) adolescentes com hábito de beliscar entre as re-feições e 25 (18,9%) que não o faziam; 99 (75,0%) com o hábito de lanchar com os amigos, sendo que, para 24 (18,2%) deles, as lanchonetes eram os lugares preferenciais de encontro.
Quanto à atividade física, 65 (49,2%) adolescentes não prati-cavam regularmente qualquer atividade, dos quais 58 (89,2%) eram mulheres, e 114 (86,5%) fi cavam sentados por períodos superiores a quatro horas por dia. Na Tabela 2, observa-se que 11 (73,3%) dislipidêmicos não praticavam qualquer atividade física. Quanto à escolaridade materna ou da responsável do gê-nero feminino, 101 (76,5%) mães relataram baixa escolaridade (período inferior a oito anos de estudo). Apenas um (6,7%) adolescente dislipidêmico contava com mãe ou responsável do gênero feminino com alta escolaridade (superior a oito anos de estudo). Quanto ao nível socioeconômico, 107 (81,1%) adoles-centes pertenciam a famílias cuja renda total era inferior a cinco salários mínimos e 5 (3,8%) a famílias sem nenhuma renda.
A análise bivariada, apresentada na Tabela 2, descreve os fatores associados à presença de dislipidemia, defi nida como índice de Castelli I superior a 3,5 mg/dL, que ocorreu em 15 adolescentes. Houve tendência da associação da dislipidemia com renda familiar inferior a cinco salários mínimos e falta de atividade física ou esporte ou prática por tempo inferior a 30 minutos por dia. A associação mostrou-se estatisticamente signifi cante na presença de obesidade na visão da mãe e na presença de hipertrigliceridemia.
Tabela 1 – Prevalência dos valores indesejáveis de lipídios séricos*
Avaliação lipídica Gênero feminino número (%)
Gênero masculino número (%)
p
Fem x Masc Total (%)
Colesterol total (≥170 mg/dL) 19 (20,9) 5 (12,5) 0,25 24 (18,3) LDL-c (≥110 mg/dL) 6 (6,6) 1 (2,5) 0,33 7 (5,3) HDL-c (≤35 mg/dL) 2 (2,2) 3 (7,5) 0,14 5 (3,8) Triglicérides (>130 mg/dL) 12 (13,3) 4 (10,0) 0,60 16 (12,2) Índice de Castelli I (>3,5 mg/dL) 11 (12,1) 4 (10,0) 0,73 15 (11,5) Índice de Castelli II (>2,2 mg/dL) 7 (7,7) 3 (7,5) 0,96 10 (7,6)
*Valores de referência recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia(15) para crianças e adolescentes segundo Diretriz de 2001 e
estudos de Elcarte et al(16)
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Discussão
Os valores médios encontrados para colesterol total, HDL-c, LDL-c e triglicérides foram mais baixos ou próximos dos encontrados em estudo com 981 adolescentes entre 10 a 18 anos de escolas públicas e privadas de Belo Horizonte (MG)(17). Ger-ber e Zielinsky(2) encontraram valores maiores para o colesterol sérico em crianças gaúchas (167±31 mg/dL) do que o observado no presente estudo (148,2±25,8 mg/dL) e na investigação de Moura et al(8) (160±3mg/dL) com 1.600 escolares com idades entre 7 e 14 anos na cidade de Campinas (SP).
A avaliação de 624 crianças e adolescentes de três a 19 anos em Londrina (PR) revelou (segundo valores de referência estabe-lecidos pelo II Consenso Brasileiro de Dislipidemias) alterações de TG, LDL-c, HDL-c e CT em 22,5%, 14,0%, 19,2% e 13,1% dos casos, para ambos os gêneros(4). As porcentagens de alterações em nosso trabalho se mostraram inferiores a essas: 12,2%, 5,3%, 3,8% e18,3%, para os mesmos lipídios, respectivamente.
O estado nutricional de adolescentes pode ser infl uencia-do por uma rede complexa de riscos que incluem: ingestão
inadequada de alimentos comercializados e incentivados pela mídia, confl itos psicossociais e familiares manifestados durante as refeições, ausência de pais ou responsáveis durante o preparo das refeições, hábitos de “beliscar” entre as refeições e lanchar com amigos e comportamentos comuns de adolescentes res-ponsáveis pela “epidemia” da obesidade e da aterosclerose, citados por Eiseinstein et al(11) e também encontrados no pre-sente trabalho, o que pode contribuir para elevação do IMC. Coronelli e Moura(3) relatam que crianças com IMC superior a 21 kg/m2 têm 18% de risco para aumento do colesterol sanguíneo, enquanto aquelas com IMC maior que 30 kg/m2 mostraram risco de 32%, o que comprova que o IMC é um ótimo preditor da hipercolesterolemia. Giugliano e Melo(18) relatam que o uso do IMC por idade, segundo o padrão in-ternacional, foi adequado para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade em um estudo com 528 crianças e pré-adolescentes (seis a dez anos) do Centro Educacional Católica de Brasília e que o IMC mostrou concordância com a adiposidade.
O percentual de sobrepeso e obesidade de 12,2% observado no presente estudo foi superior ao valor de 8,9% relatado por Tabela 2 – Análise Bivariada do Índice de Castelli I, com os respectivos fatores de risco
CT/HDL-c Fatores de risco Dislipidêmico* n=15 Não-dislipidêmico** n=116 OR Bruto IC-95% p N % N % Gênero Feminino 11 73,3 80 69,9 1,24 0,33-50,40 0,729 Nível socioeconômico
Escolaridade materna > 8 anos 1 6,7 30 25,9 0,20 0,01-1,63 0,099
Renda familiar > 5 SM 0 – 20 17,2 0,00 0,00-1,81 0,080
Atividade física
Pratica esporte ou atividade física (tempo superior a 30 min)
4 26,7 62 53,4 0,32 0,08-1,18 0,051
Não faz ou faz menos que 30 min de atividade física por dia
11 73,3 57 49,1 2,85 0,77-11,46 0,077
Anda menos que 1 hora por dia 3 20,0 37 31,9 0,53 0,11-2,24 0,346
Assiste mais que 5 horas de TV por dia
5 33,3 44 37,9 0,82 0,22-2,87 0,729
Obesidade
Menos que 2.500 g ao nascer 5 41,7 27 25,7 2,06 0,51-8,19 0,240
Obeso hoje segundo a mãe 4 26,7 8 6,0 4,91 1,03-22,77 0,012
Razão cintura-quadril alta 2 13,3 6 5,2 2,82 0,35-18,53 0,216
Triglicérides
>130 mg/dL 8 53,3 8 6,9 15,4 3,79-65,92 <0,001
*Índice de Castelli I >3,5 mg/dL; **Índice de Castelli I ≤3,5 mg/dL; SM: Salários Mínimos Obs: em 1 adolescente da casuística, não foram obtidas as dosagens bioquímicas
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243 Escrivão(19) em pesquisa com 316 estudantes de 10 a 20 anos
classe média alta de uma escola particular de São Paulo. Dos 15 dislipidêmicos aqui encontrados, 11 (73,3%) eram do gênero feminino e 4 (26,7%) do masculino. Embora não tenha existido diferença signifi cativa entre os sexos, houve maior ocorrência de alterações de gordura no sexo feminino, o que também se confi rmou no estudo de Campinas (SP), no qual essa prevalência foi 9,4% para as meninas e 7,5% para os meninos(8).
Os fatores de risco associados às alterações do índice de Cas-telli I foram: baixa escolaridade materna, não fazer ou realizar atividade física por períodos inferiores a 30 minutos por dia e alta taxa de triglicérides. Como fatores de proteção para a mesma alteração, observaram-se alta renda familiar e prática de esporte ou de atividade física por tempo superior a 30 minutos por dia. A infl uência da atividade física sobre as dislipidemias na faixa etária estudada não é ainda totalmente esclarecida por não se saber se o seu efeito pode ou não ser avaliado por meio da perda de peso ou pelo gasto de energia com a atividade física. Segundo Escrivão et al(12), a ingestão excessiva de nutrientes associada ao sedentarismo colabora com a obesidade na infância e adoles-cência. Entre os 15 adolescentes dislipidêmicos, 11 (73,3%) não praticavam atividade física ou faziam atividade por período inferior a 30 minutos.
A relação da escolaridade materna com a morbimorta-lidade infantil tem sido discutida e há indicação de que crianças com mães ou responsáveis do gênero feminino com maior escolaridade têm melhores chances de sobrevida e maior acesso à assistência médica, o que se confi rmou em nosso trabalho, no qual a mãe de apenas um (6,7%) dos 15 adolescentes dislipidêmicos tinha escolaridade superior a oito anos e, em 14 (93,3%) dislipidêmicos, a escolaridade materna era baixa. No Brasil, as crianças mais atingidas pela obesidade pertencem às classes sociais mais privilegiadas, porém com tendência recente à mudança desse perfi l, o que se confi rmou em nossa pesquisa, na qual a maioria dos adolescentes (84,9%) pertencia a famílias com renda total inferior a cinco salários mínimos(18).
Pode-se concluir que indivíduos pertencentes a famílias de baixa renda, jovens com mães ou responsáveis do gênero femi-nino com baixa escolaridade, adolescentes que não realizam atividade física e aqueles com alta concentração de triglicérides apresentaram maior risco de dislipidemias (alteração do índice de Castelli I). Todos esses fatores são modifi cáveis, o que jus-tifi ca instituir medidas precocemente, especialmente durante a puberdade, para prevenir a doença arterial coronariana na vida adulta e suas repercussões.
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