• Nenhum resultado encontrado

IDENTIDADE ÉTNICA E CONFESSIONAL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE NA COMUNIDADE LUTERANA EM IMBITUVA PR

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "IDENTIDADE ÉTNICA E CONFESSIONAL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE NA COMUNIDADE LUTERANA EM IMBITUVA PR"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

IDENTIDADE ÉTNICA E CONFESSIONAL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA DA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE NA COMUNIDADE LUTERANA EM IMBITUVA

PR

Wanderley Maycon Lange – Universidade Estadual de Ponta Grossa/UEPG wmlange@gmail.com

Resumo

Este trabalho busca analisar, interpretar e compreender historicamente a construção de identidade(s) da Comunidade Evangélica Luterana “Ressurreição” de Imbituva-PR, atualmente pertencente à “Igreja Evangélica Luterana do Brasil” (IELB). O foco histórico-temporal é o ano de 1943, que apresenta idiossincrasias identitárias, quando a Comunidade passou a pertencer institucionalmente à IELB. A partir da análise de documentação elencada (e.g., atas, textos, jornais, livros, fotos, memórias, relatos, história oral), busca-se problematizar os elementos que configuraram tal identidade e filiação institucional. Neste processo são investigadas as forças tensionadas de agregação/dispersão de seus elementos étnicos (“Wolgadeutschen” - alemães do Volga) e religiosos (protestantismo luterano) para a construção identitária da Comunidade.

Palavras-Chave: Imbituva; História; Identidade(s); Imigração; Luteranismo.

Introdução

As margens do histórico caminho de Viamão, repleto de tropeiros e marchantes, foram aparecendo, desde o Rio Grande do Sul até São Paulo, os pontos de “pouso”, os beliches, os marcos, origem das cidades dos Campos Gerais. Desde então “Cupim” passou a ter destaque entre os “pousos” preferidos pelos tropeiros.

Em 1871, o bandeirante Antonio Lourenço, natural de Faxina, então capitania de São Paulo, abandonando o comércio de tropas, atraiu companheiros e demandou a Cupim, iniciando a construção da Vila. Aos primeiros habitantes juntaram-se outros, todos da mesma procedência. A nova povoação não tardou a receber a influência de colonos alemães, poloneses e russos, que deram notável contribuição ao seu desenvolvimento.

A freguesia foi criada em 1876, com sede no lugar denominado Campo do Cupim. Em 1881, foi elevada à categoria de vila, com denominação de Santo Antônio do Imbituva no Município de Ponta Grossa. Recebeu foros de cidade, em 1910, passando a denominar-se

(2)

Imbituva, em 1929. O topônimo surgiu em virtude da existência de um rio com igual nome, junto à cidade.

Desenvolvimento

Assim como outros territórios paranaenses, este Estado recebeu, durante várias décadas do século XIX, imigrantes oriundos de distintos países e regiões do continente europeu. Diferentes pesquisadores — em sua maioria diletantes — que se dedicaram ao estudo do processo de povoamento do Estado do Paraná afirmam que essa região foi marcada pelo estabelecimento, a partir do ano de 1876, de colônias de imigrantes alemães originários da região do rio Volga, território da atual Rússia. Tendo em vista que após a verificação dos resultados satisfatórios alcançados na colonização das cercanias de Curitiba houve o estímulo para a expansão dos núcleos colonizatórios para o litoral e para a região dos Campos Gerais.

De acordo com Luiz Fernando Saffraider (2010) o maior contingente desses imigrantes foi alocado em três grandes colônias situadas nos municípios de Ponta Grossa, Palmeira e Lapa. Por diversas razões, o estabelecimento da colônia nos Campos Gerais fracassou, e muitos desses imigrantes acabaram se dirigindo mais ao interior da Província. Localizado na região da cidade de Ponta Grossa, o município de Imbituva (inicialmente conhecido como Cupim) também recebeu um significativo contingente de russos-alemães vindos da região do Volga. De acordo com Cleusi Bobato Stadler (2005, p. 54), “os retirantes da década de oitenta fixaram-se em outras regiões do Estado, muitos deles no município de Imbituva. [...] Os colonos alemães fixaram residência na direção da estrada que mais tarde ligaria Imbituva a Guarapuava. Ao todo eram 50 famílias mais ou menos.”

Os alemães russos que se estabeleceram em Imbituva professavam a religião evangélica luterana. Segundo Wilhelm Fugmann (2008) a organização de uma comunidade evangélica no município só foi efetuada a partir de 1886 em decorrência de um falecimento. Como não era permitido o sepultamento de protestantes em cemitério católico, algumas famílias que professavam as religiões luterana e presbiteriana, uniram-se para a construção de um cemitério protestante na cidade. A partir dessa união, formou-se também a Comunidade Evangélica. Inicialmente, a comunidade não possuía uma identidade confessional definida, sendo atendida durante os dez primeiros anos por pastores presbiterianos.

(3)

Segundo Stadler (2005), de 1886 até 1895 a comunidade foi atendida por ministros presbiterianos, sendo que, somente no final deste período, por pastores luteranos de Curitiba, Ponta Grossa e da Colônia Guaraúna. Somente em 1895 um pastor luterano passou a atender a comunidade, o pastor Johannes Dehmlow – da Igreja Luterana da Rússia – foi o primeiro pastor residente em Imbituva. Este por sua vez foi responsável pela fundação da Escola Paroquial (Gemeinde Schule, na língua alemã) na cidade, hoje denominado Colégio Luterano Rui Barbosa. Dehmlow permaneceu na comunidade até o ano de 1905. Com a saída deste, os luteranos mudaram sua filiação então a um sínodo confessional luterano que tinha seus trabalhos voltados para as regiões do Paraná e Santa Catarina. Neste período a comunidade de Imbituva era atendida por pastores alemães filiados a Associação Evangélica de Comunidades de Santa Catarina e Paraná. Outros pastores atenderam a comunidade.

De 1938 a 1942 o pastor Bachimont trabalhou nesta comunidade e, em consequência da Segunda Guerra Mundial teve que deixar a comunidade luterana. “Por dois anos o grande rebanho ficou sem pastor”(STADLER, 2005). Foram atendidos pelo Pastor Nilo Strelow da Paróquia vizinha de Bom Jardim do Sul. A Comunidade foi visitada pelo presidente da IELB, Dr. Rodolpho Hasse, e assim se filiou à Igreja Evangélica Luterana do Brasil – IELB conforme o livro de ata nº 1, ata nº 7, com data de 18 de junho de 1943.

Devido às imposições ocasionadas pela deflagração da Segunda Guerra Mundial e às então novas políticas do Estado Novo de Getúlio Vargas, filiou-se a outra vertente do luteranismo, neste ano de 1943, o Sínodo Evangélico Luterano do Brasil, atual IELB. Este último, criado a partir de uma opção missionária do luteranismo desenvolvida nos Estados Unidos da América, a Deutsche Evangelische Luterische Synode von Missouri, Ohio und

anderen Staaten que, a partir de 1947, passou a denominar-se The Luteran Church-Missouri Synod (Igreja Evangélica Luterana – Sínodo de Missouri) (STEYER, 1999, p. 19). De acordo

com Stadler (2005, p. 93),

Por causa da Guerra, os alemães passaram a ser perseguidos e os papéis da paróquia foram quase todos extraviados. A língua russo-alemã foi proibida na época, a Igreja fechada e o pastor Adolph Bachimont, desde 1938 em Imbituva, teve que deixar a Comunidade.

A autora aponta ainda que a solução encontrada pela comunidade, após perder seu pastor, foi a filiação ao Sínodo Evangélico Brasileiro, pois este “tinha seminário próprio e pastores nascidos e formados no Brasil” (STADLER, 2005, p. 92). Todavia, esses novos

(4)

pastores, bem como todos os outros que vieram posteriormente, eram de origem germânica, ou seja, podemos inferir que não houve uma mudança muito significativa, do ponto de vista étnico, na comunidade, uma vez que os novos pastores tinham, em tese, a mesma origem dos membros. Várias são as razões para tais mudanças de identidade confessional que se constituem a base de investigação histórica crítica.

Considerações Finais

Assim sendo, a Comunidade Luterana em Imbituva torna-se uma possibilidade interpretativa que permite empreender estudos sobre cultura e identidades. Entre as forças tensionadas de agregação e dispersão, vários elementos (históricos) étnicos e religiosos constituíram a identidade da Comunidade Luterana em Imbituva PR.

Referências

ANDREAZZA, M. L.; NADALIN, S. O. Imigrantes no Brasil: colonos e povoadores. Curitiba: Nova Didática, 2000.

BALHANA, A.; P.; MACHADO, B. P.; WESTPHALEN, C. M. História do Paraná. 1 vol. Curitiba: Grafipar, 1969.

CAPELLARI, M. A. História do povo luterano. São Leopoldo: Sinodal, 2005.

DREHER, M. N. (Org.). Imigrações e história da igreja no Brasil. Aparecida, SP: Editora Santuário, 1993.

DURKHEIM, É. As Formas Elementares da vida religiosa: o sistema totêmico na Austrália. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

FUGMANN, W. Os alemães no Paraná. Trad. Francisco L. Paulo Lange. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2008.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. 1 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

GERTZ, R. E. Os luteranos no Brasil. Revista de História Regional. UEPG. v. 6, n. 12, p. 9-33, Inverno 2001.

(5)

HELFENSTEIN, J. As artes de casar: o matrimônio entre os luteranos da cidade de Imbituva, Paraná (1942-1959). In: Congresso Internacional de História, VI, 2013. Maringá PR. 11 p. REHFELDT, M. L. Um grão de mostarda: a história da igreja evangélica Luterana do Brasil. 1 vol. Porto Alegre: Concórdia, 2003.

SAFFRAIDER, L. F. A saga dos alemães do Volga. Curitiba, Juruá, 2010.

STADLER, C. T. B. Imbituva: uma cidade dos campos gerais. 2 ed. Imbituva: Prudentópolis, 2005.

Referências

Documentos relacionados

1) Embora o Vietnã tenha registrado um crescimento econômico elevado, existe uma lacuna significativa entre as áreas de desenvolvimento local/rural e urbano.

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

A necessidade de ampliar a investigação a respeito da continuidade de experiências entre os Sem Teto de hoje e os das décadas passadas que construíram

novo medicamento, tendo como base para escolha as necessidades de cada segmento do mercado farmacêutico; e c) licenciamento do produto, o processo mais demorado

modo favorável; porem uma contusão mais forte pode terminar-se não só pela resolução da infiltração ou do derramamento sanguíneo no meio dos. tecidos orgânicos, como até

Na primeira, pesquisa teórica, apresentamos de modo sistematizado a teoria e normas sobre os meios não adversarias de solução de conflitos enfocados pela pesquisa, as características

Folheando as páginas dos documentos enviados pelo governador Hugo Carneiro ao Ministro de Justiça e Negócios Interiores Augusto Vianna de Castello, percebi a tentativa de

Como um meio de suavizar essa transição, tem-se avaliado os efeitos da mudança na forma tradicional de ensino, com a inclusão de atividades voltadas para o trabalho, sobre a inserção